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Introdução

As reflexões sobre a educação comparada possibilitam subsídios teóricos para conhecer e experienciar
diferentes sistemas de ensino e realidades educativas. Este artigo procura abordar alguns aspectos dos
estudos educacionais comparados em contexto de globalização, tendo como objetivo perceber as
mudanças que ocorreram e estão ocorrendo em diferentes realidades nacionais, como é o caso das
mudanças relativas às políticas educacionais.A Educação tem sido responsabilizada por não solucionar
problemas tidos como desafios do momento. Isso incentiva investimentos urgentes em projetos de ação
imediata, cujo fundamento são experiências advindas de práticas bem-sucedidas, evidentemente
respeitando a especificidade de cada realidade educativa. Como referiu Santos (2002), por serem muito
amplas, as experiências sociais do mundo não podem ser desperdiçadas.

Pesquisa educacional da educação comparada


Trata-se de esquivar-se dos procedimentos generalistas em relação a investigação comparada e operar
com categorias que permitam pensar os fenômenos educativos como processos dinâmicos e complexos.
A atenção se volta para as práticas de apropriação de modelos educacionais pelos diversos sujeitos
envolvidos no processo educativo no âmbito de um determinado contexto histórico, social e cultural.
Tais questões remetem a uma problematização intensa dos modos de produção da pesquisa comparada
para ampliar a compreensão dos processos nos quais se configuram e reconfiguram as concepções e
práticas educativas contemporâneas.
A capacidade de olhar os processos sociais por outras lentes a partir dodiálogo com diferentes áreas do
conhecimento supõe a problematização da própria noção de comparação enfatizando a diferenciação, a
diversidade e a alteridade como categorias analíticas dos processos comparativos. Nessa ótica,
O princípio da comparação é a questão do outro, o reconhecimento do outro e de si mesmo através do
outro. A comparação é um processo de perceber as diferenças e as semelhanças e de assumir valores
nessa relação de reconhecimento de si próprio e do outro. Trata-se de compreender o outro a partir
dele próprio e, por exclusão, reconhecer-se na diferença (FRANCO, 2000, p. 200).
Ao analisar, numa perspectiva comparativa, as políticas de formação profissional em diferentes países, a
autora ainda ressalta que a utilização do método histórico permite operar com as diferenças e não
somente com as semelhanças, enfatizando as peculiaridades próprias de cada realidade, resultantes das
condições nas quais se desenvolvem os processos educativos.Desta forma, é possível ‚preservar a
singularidade de cada país na an{lise de seus temas, sem uniformizar a coleta de dados, nem forçar a
existência das mesmas vari{veis‛ (idem, p. 199).
Essa matriz interpretativa não pode prescindir da operação teórica e metodológica da construção de
uma rede de sentidos das práticas educacionais identificando, desse modo, a maneira como os
diferentes grupos sociais percebem o processo educativo no qual estão inseridos. Nessa acepção, o
fenômeno educacional não pode ser compreendido como algo homogêneo visto que diferentes grupos
sociais atribuem significados de acordo com seus interesses particulares.

Uma característica ímpar das novas perspectivas de estudos comparados consiste na utilização do
conceito de mediação que se sobrepõe ao conceito de variável, uma vez que a mediação envolve uma
perspectiva de análise a partir da própria definição do objeto:
A perspectiva das mediações implica incluir, na construção de um objeto, as relações que o determinam
(delimitam) em situação de espaço e tempo. A mediação é o campo da particularidade, do
conhecimento dos objetos singulares à luz dos conceitos mais gerais ou universais, passando pelo tempo
e o espaço onde ocorrem. A mediação é o campo da historicidade do objeto, do conhecimento dos
processos sociais que o produzem sob ação de sujeitos sociais, é o campo da história (FRANCO, 2000,
219).
Teoria sistêmica

Essa teoria é um estudo interdisciplinar de vários sistemas de maneira geral. Tem como objetivo
descobrir padrões, identificando regras que podem ser aplicadas em inúmeros campos distintos. Nela,
se entende por sistema qualquer organismo que possui partes interligadas e interdependentes.

Inclusive, é essa amplitude do conceito que o torna passível de ser aplicado a diferentes áreas do
conhecimento. A teoria dos sistemas tem base no conceito de homem funcional, considerando o
relacionamento interpessoal como um sistema aberto. Segundo ela, as organizações são como um
sistema de papéis e as pessoas são os atores que desempenham esses papéis.

CONHEÇA A TEORIA DOS SISTEMAS

A teoria dos sistemas consiste em um conjunto de elementos que interagem entre si, operando sobre
entradas e fornecendo saídas processadas. Assim é possível atingir um objetivo em comum. O método
foi desenvolvido pelo cientista alemão Ludwig von Bertalanffy em 1960, com base em três premissas.

A primeira é a de que todos os sistemas existem dentro de outros sistemas.

segunda é que os sistemas são abertos.

terceira é a de que as funções de um sistema dependem de sua estrutura.

Os principais fundamentos da teoria dos sistemas são:

Legado

– Integração das ciências naturais e sociais;

– Construção de um modelo mais abrangente para estudar os campos do conhecimento científico;

– Desenvolvimento de princípios de unificação que atravessem os universos particulares das diversas


ciências envolvidas.

Mudanças de perspectiva

Algo muito interessante a respeito da teoria dos sistemas é que ela propõe uma mudança de
perspectiva sob diferentes vieses:

Das partes para o todo

Essa teoria propõe tirar o foco do objeto de estudo de cada área, levando-o para investigar as relações
entre essas áreas diferentes.

Mapeamento

A teoria também possibilita sair da medição para o mapeamento das relações.

Análises

Há a migração das análises quantitativas para análises qualitativas.

Conhecimento epistemológico

Sai do conhecimento objetivo para o conhecimento epistemológico (conhecimento sobre o


conhecimento).
Teoria dos sistemas: os conceitos mais importantes

Para ter uma compreensão mais profunda do tema é interessante conhecer alguns conceitos chave. A
seguir listamos os principais, acompanhe:

Sistema – Organismo formado por partes independentes e interligadas.

Fronteiras – Que definem um sistema separando-os de outros.

Entropia – Essa grandeza tem como objetivo mensurar o nível de irreversibilidade das alterações que um
sistema físico sofre.

Ambiente – Contexto externo em que o sistema se encontra.

Entrada, importação ou input – Fenômeno ou causa que dá início ao funcionamento do sistema.

Saída, exportação ou output – Trata-se da consequência final que é gerada pelo funcionamento do
sistema.

Processamento ou throughput – Processo de conversão utilizado para as exportações e importações.

Retroalimentação (ou feedback) – Pode ter viés positivo ou negativo. No caso do feedback positivo, o
sistema age conforme a entrada recebida. Já o feedback negativo força o funcionamento contrário, ou
seja, resistente.

Características dos sistemas

De acordo com os estudos de Bertanlanffy, os sistemas são constituídos por partes diversas
independentes. Contudo, têm características e atributos únicos que não podem ser encontrados em
suas partes isoladas.

Propósito

Sistemas sempre objetivam realizar uma finalidade. Essa finalidade não pode ser realizada pelas partes
isoladas do sistema.

Totalidade

Uma vez que os sistemas são organismos, qualquer alteração ocorrida em uma das partes levará a
consequências nas demais.

Teoria dos sistemas e tipos de sistemas

A natureza e a constituição dos sistemas permitem a sua classificação. De acordo com a constituição,
sistemas podem ser dos seguintes tipos:

Físicos
Nesta categoria estão os sistemas formados por coisas reais e palpáveis, como equipamentos, objetos,
computadores, maquinários, entre outros.

Abstratos

Esses sistemas são constituídos por ideias e conceitos formados por várias partes. São exemplos: teorias,
áreas do conhecimento e argumentos.

No tocante à sua natureza, os sistemas podem ser:

Abertos

Aqueles que se encontram suscetíveis a influências do ambiente do seu entorno.

Fechados

Aqueles que não interagem com o ambiente no seu entorno.

Educação como sistema aberto

A Educação Aberta é o nome dado ao conjunto de práticas de ensino-aprendizagem com a característica


principal de utilizar tecnologias para compartilhar conhecimentos, promover a educação para diferentes
públicos, facilitando o acesso ao ensino gratuito com recursos de licenças abertas (livre de direitos
autorais).

Os adjetivos que ajudam a descrever as práticas de educação aberta são: gratuidade e liberdade.
Gratuidade, porque os cursos e ensino oferecidos são abertos ao público de forma gratuita, e liberdade,
pois a grande maioria dos cursos abertos é disponibilizada em plataformas on line, o que promove a
mobilidade através do uso de tecnologia e ensino a distancia.

Este tipo de prática assumiu um novo significado na era digital. A expansão do uso da internet abriu o
caminho para que diversas estratégias de educação, como as plataformas de cursos abertos em que os
professores e até universitários compartilham seus materiais de ensino on-line, gratuitamente.

Os alunos que se interessam pelos temas dos cursos abertos ofertados pelas universidades(e outras
instituições de ensino) podem com autonomia construir um currículo que se adapta aos seus objetivos
profissionais utilizando diferentes tipos de recursos educacionais abertos (REA). Entenda o que é REA e
os conceitos envolvidos em Educação Aberta.

Entenda os termos e conceitos – Educação Aberta

· Recursos Educacionais Abertos (REA)

Os recursos educacionais abertos (REA) podem ser qualquer conteúdo educacional, desde cursos
completos até palestras gravadas, fórum e tópicos de discussão ou listas de leitura. Vale frisar que os
materiais que são disponibilizados de forma gratuita e possuem licença aberta (veja o conceito abaixo) e
visam promover o ensino-aprendizagem de uma disciplina ou tema.
Práticas Educacionais Abertas (PEA)

As práticas educacionais abertas se referem os métodos utilizados pelas instituições de ensino para
aplicar os REA, isto é, como estas instituições criam e promovem estes recursos.

Educação a Distancia (EAD)

Entenda que há uma diferença entre educação à distância (EAD) e educação aberta (EA); a EAD é a
forma como o ensino é disponibilizado os materiais e recursos de ensino ao aluno utilizando tecnologias
que conectem os alunos por meio de internet por exemplo. Já na Educação Aberta os alunos podem ter
acesso a aulas presenciais em laboratórios e oficinas de ensino e também pela internet, a distancia,
neste caso a Educação Aberta utiliza-se do ensino à distancia como um recurso de forma gratuita.

· Licença aberta ou Open Licence

É a licença jurídica de uso gratuito para conteúdos educacionais, como por exemplo, Creative Commons
(CC).

· Código aberto ou Open source

São programas informatizados livres de licença, conhecidos como software livre ou software de código
aberto, como por exemplo, o sistema de código aberto Moodle (Modular Object Oriented Distance
Learning).

· Curso aberto ou Open Courseware

É um recurso de educação aberta (REA) no formato de curso.

· MOOC (Massive Open Online Course)

É um recurso de educação aberta (REA) no formato de curso on line.

Exemplos de Educação Aberta no Brasil

A educação aberta vem ganhando espaço no país tanto em instituições públicas como também em
privadas, oferecendo acesso a cursos e ensino para vários públicos, infantil, jovens e adultos com ofertas
para o ensino médio, técnico e ensino superior (tecnológico e graduação).

Na prática as instituições estão investindo em novas tecnologias educacionais, principalmente as


instituições de ensino de grandes centros urbanos e nos centros universitários, visto que há maiores
recursos econômicos disponíveis. Nas regiões e cidades mais afastadas de grandes centros urbanos as
práticas de educação aberta são muito tímidas, principalmente nas cidades onde não há uma
universidade instalada.

As principais tendências de Recursos Educacionais Abertos que estão sendo colocadas em prática nas
salas de aula ou em cursos a distancia são:
Uso de tablets e celulares com aplicativos

Produção de textos, áudios, vídeo-aulas

Produção, programação e uso de games

Uso de mídias sociais, blogs e plataformas de interação com chats e fóruns

Elaboração de plataformas educacionais em ambiente web

No Blog da UNICAMP com foco em discutir sobre as práticas de Educação Aberta e o uso dos REA
http://educacaoaberta.org/rea há várias ideias de inovações e projetos.

Conclusão

A nova concepção de mundo e de valores, nas sociedades em que as transformações são aceleradas,
não nos possibilita a sua gerência ou assimilação, em virtude da velocidade com que ocorrem. As
referências, como Estado, lei, cultura, experiências coletivas, religião e língua nacional, indicam
potencialidades geradoras e amplificadoras de desvios que dão lugar, historicamente, a configurações
socioculturais sempre novas e constituem contribuições duradouras de investigação social comparada.A
influência da globalização no campo educacional e suas conseqüências sobre a educação comparada
geraram, para alguns autores, a substituição da educação comparada pela educação internacional,
entendida esta como o campo da atividade intelectual e de interconexão internacional na educação, um
eixo histórico capaz de aceitar o desafio proposto pela perspectiva macro-histórica, que tem adquirido
forma em resposta aos processos de globalização e aos enfoques do sistema mundial. Sair em busca
desse desafio significa, a parte de identificar relações específicas entre variáveis e complementar a
reconstrução holística de configurações sócio-culturais, incorporar ambos os procedimentos
metodológicos a análise cada vez mais amplos da modernização social em grande escala e dos processos
de difusão e recepção transcultural. (SCHRIEWER, 1996, p. 40-41).
Nesse cenário, é importante que a educação comparada não seja vista como uma teoria científica
produzida de acordo com o compromisso da “ciência pura”, com critérios absolutos de “verdade”, mas
como teoria da reflexão formulada dentro dos subsistemas especializados de cada sociedade, com o
propósito de fomentar as capacidades de autocompreensão e autodireção dos sistemas. Nessa
perspectiva teórica, as análises comparadas podem possibilitar a reflexão reformadora sobre a
Educação. Luhmann e Schorr (apud SCHRIEWER, 1996) argumentam que a teoria da reflexão do sistema
educativo conta com três grandes pautas de “externalização”: princípios gerais de racionalidade
científica, valores e organização. Do ponto de vista interno de um sistema nacional de Educação,
comprometido com as preocupações práticas desse sistema, as referências aos exemplos externos, as
experiências mundiais e as situações do mundo devem ser compreendidas como algo mais que
histórico, que sirvam de lições que apostem em inovações estimuladoras, ofereçam novos ímpetos à
definição de políticas educativas e sejam um marco de referência para a especificação das reformas – é
o olhar mais além das próprias fronteiras em face dos países comparáveis.

Referências bibliográficas

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CHARTIER, R. A História Cultural: Entre Práticas e Representações. Lisboa: Difel.1990.

FRANCO, M. C. Quando nós somos o outro: questões teórico-metodológicas sobre os estudos


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