Sociologia I: Imaginação Sociológica

Nº do aluno:82108
Nome do aluno: Sónia Isabel Soares Rodrigues Silvestre
Data: 08-11-2023

Ficha de Leitura

1. Nº do texto__4____

2. Referência Bibliográfica Completa:

Javeau, C. (1998) O Trabalho do Sociólogo, in Lições de Sociologia, Oeiras, Celta Editora, 69-104.

3. Palavras-chave:

Trabalho sociológico; métodos; técnicas; sociólogo

4. Enquadramento do capítulo no âmbito da obra teórica/Breve nota biográfica do autor (es)

O livro "Lições de Sociologia" de Claude Javeau, publicado em 1998 e traduzido por Miguel Pereira, é
composto por nove capítulos, iniciando com um prefácio e terminando com uma tentativa de síntese. Nesta
ficha de leitura será desenvolvido o capítulo V, intitulado "O trabalho sociológico".
Claude Javeau (1940-2021) foi um sociólogo e professor belga. Estudou na Escola de Economia e Gestão
Solvay Bruxelas e lecionou Sociologia na Universidade Livre de Bruxelas, no Canadá e noutros países
daEuropa, incluindo Portugal. Dirigiu a Revue de l'Institut de Sociologie e publicou várias obras sobre a
realização de inquéritos por questionário, a sociologia da vida quotidiana e a morte.

5. Objetivos/preocupações centrais do (s) autor (es):

O autor procura esclarecer de maneira clara a diferença entre problema social e problema sociológico.
Além disso, pretende destacar a diferença e a importância entre método e técnica; demonstrar o papel
fundamental da teoria no trabalho metodológico; identificar os diversos tipos de observações; explicar a
relevância dos inquéritos, assim como a análise documental, entrevista e abordagem biográfica. Menciona
ainda, os principais erros cometidos pelos sociólogos e apresenta as críticas em relação às sondagens de
opinião.

6. Literatura revista (perspetivas teóricas, conceitos, estudos empíricos)

Neste capítulo, o autor explora o trabalho sociológico, explicando no que consiste e como é
desenvolvido; salienta que a atividade dos sociólogos vai além da simples reflexão sobre fenómenos
sociais ou à interrogação sobre a possibilidade de uma ciência desses fenómenos. O foco está em encontrar
soluções para problemas sociológicos, que não podem ser confundidos com problemas sociais que a
sociedade enfrenta.
A explicação de Berger (1977), citada por Javeau (1998), esclarece bem essa ideia. O problema
sociológico é entender como ocorre a interação social. Não se trata apenas de descobrir porque é que as
coisas não correm bem segundo o ponto de vista das autoridades […], mas sim de compreender como
funciona todo o sistema. O problema sociológico fundamental não é o crime, mas sim a justiça. O
sociólogo vê para além das evidências imediatas.
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Nesse processo, é importante ter um plano de pesquisa, que envolve a elaboração de métodos
específicos e a aplicação de técnicas para obter uma melhor compreensão do problema. O método pode ser
definido como um dispositivo ordenado, um procedimento sistemático ou um plano normal. A técnica, por
sua vez, é a forma específica de executar o plano metodológico. Usando uma analogia, o método é para a
técnica como a estratégia é para a tática, ou seja, a técnica está "subordinada" ao método.
A metodologia da sociologia difere da maioria das metodologias das ciências sociais, pois a mesma
é resultado de especulações filosóficas, procurando o melhor caminho para uma sociedade harmoniosa.
Auguste Comte introduziu o positivismo, que procura fazer um inventário de todas as leis científicas e
orientar a sociedade pelo espírito positivo.
Perante estas premissas, surgem duas perguntas importantes: como garantir que o discurso
sociológico esteja protegido contra ideias do senso comum ou juízos de valor e como tratar os objetos de
estudo de forma a produzir um resultado mais próximo da verdade. O autor responde à primeira pergunta
dizendo que o conhecimento científico é obtido através da superação de preconceitos, utilizando a razão e
verificando os factos. No entanto, outros sociólogos têm expressado o desejo de propor uma alternativa a
esse método, sem sucesso até agora. A segunda pergunta é respondida com o esquema "teoria-hipótese-
verificação experimental", ou seja, na ciência, uma teoria é construída e hipóteses são formuladas para
resolver os problemas da pesquisa.
A sociologia utiliza a observação, recolha e comparação de informações confiáveis, bem como
raciocínio lógico para comprovar a sua validade. A comparação é essencial nesta ciência e pode ser
implícita, quando se descreve a vida de uma sociedade diferente, ou explícita, como o uso de dados
estatísticos de questionários.
O trabalho sociológico é caracterizado pela diversidade de métodos, o que pode tornar sua
abordagem complicada e causar suspeitas ou desvalorizações. É importante destacar que existem dois
métodos com natureza quantitativa e qualitativa. O primeiro envolve a medição, contagem e operações
estatísticas (inquéritos); o segundo envolve a coleta de discursos para análise. Isso inclui observação,
análise documental, entrevistas e abordagem biográfica, que serão estudadas com detalhe posteriormente.
A técnica quantitativa é geralmente utilizada através de inquéritos, enquanto a técnica qualitativa
envolve a observação. A observação é a técnica mais importante de investigação e pode ser dividida em
três etapas: abordar (leitura prévia para se familiarizar com o tema), olhar (distinguir o importante do
secundário, focando-se no relevante) e transcrever ou traduzir (comunicar aos outros cientistas o que foi
observado). Existem diferentes modos de observação, como a clandestina, em que o observador não é
visto ou reconhecido pelos observados, ou a declarada, em que o observador se apresenta como tal.
Também há a observação participante, em que o observador participa nas atividades do grupo observado, e
a observação distanciada, em que o observador não participa nas atividades do grupo mas pode ser
clandestino ou declarado.
Em seguida aborda-se a análise documental como segunda técnica. Nessa abordagem é necessário
realizar uma leitura correta e compreensiva do documento, respondendo a uma série de questões propostas
por Laswell: “Quem fala?”; “Para dizer o quê?”, “Como?” e “Com que resultados?”.
A prática sociológica pode ser dividida em dois níveis: o macrossociológico e o microssociológico.
O nível macrossociológico estuda sistemas sociais de grande escala, nomeadamente política e economia,
focando-se nas mudanças sociais importantes; por outro lado, o nível microssociológico analisa contextos
de ação específicos e pequenos grupos (Giddens, 2004: 83).
O autor descreve um esquema ideal-tipo do trabalho sociológico, que começa com a identificação
de uma situação problemática, seguida pela exploração de elementos teóricos, construção do objeto de
estudo, formulação de teorias e verificação empírica.
Existem duas técnicas principais utilizadas na pesquisa sociológica: a técnica quantitativa, que
envolve a realização de inquéritos, e a técnica qualitativa, que envolve a observação. A observação é
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considerada a técnica mais importante e pode ser dividida em três etapas: abordagem (leitura prévia para
se familiarizar com o tema), observação (distinguir o que é importante e focar-se no relevante) e
comunicação (transcrever ou traduzir o que foi observado para outros cientistas). Existem diferentes
formas de observação, tais como a clandestina (em que o observador não é visto ou reconhecido pelos
observados); a declarada (em que o observador se apresenta como tal) a observação participante (em que o
observador participa nas atividades do grupo observado) e a observação distanciada (em que o observador
não participa nas atividades do grupo, mas pode ser clandestino ou declarado).
Em seguida são apresentadas técnicas agrupadas em forma de entrevista. Essas técnicas consistem
em questionar pessoas que possuem conhecimento sobre o problema estudado; a seleção dos entrevistados
é feita com base no critério de representatividade, ou seja, escolhendo pessoas ou instituições que
representem um grupo maior.
O critério de neutralidade está relacionado ao facto de que os entrevistados não deverem ser
influenciados pelo comportamento dos entrevistadores; este tipo de entrevista é denominada de
compreensiva, ao contrário da entrevista impessoal; o objetivo é, de forma ativa, procurar o
comprometimento do entrevistado através de perguntas e não evitar a interpretação do material.
O uso de procedimentos quantitativos pelo investigador, contribui para a criação de variáveis, ou
seja, atribuir um valor sintético que situa um indivíduo ou grupo numa “classe” específica. Paul Lazarsfeld
descreve quatro etapas essenciais para a construção das variáveis: representação figurada dos conceitos,
especificação do conceito, escolha dos indicadores do conceito e formulação de índices.
Um dos principais erros cometidos pelos sociólogos são os erros quantofrénicos, que podem ser
denunciados por três categorias: formalização excessiva de conceitos; quantificação excessiva de
operações de avaliação e uso excessivo de estatísticas; no entanto, Javeau salienta que o papel do
sociólogo deve manter a coerência e não basear-se apenas em modelos intangíveis, por mais elaborados
que sejam.
Quanto aos questionários em si, nas técnicas quantitativas, os questionários são amplamente
utilizados em muitos centros de investigação. Eles têm o objetivo de verificar suposições teóricas através
de perguntas apropriadas, elaboradas de acordo com os objetivos da investigação e as suposições em
questão; essas perguntas são dadas a uma amostra representativa da população em estudo e as perguntas
do questionário têm como objetivo registar factos, opiniões, atitudes e conhecimentos.
Uma amostra representativa é uma parte da população em estudo que possui uma distribuição
semelhante de variáveis ou características em relação à população como um todo; as pessoas selecionadas
para fazer parte da amostra devem ser escolhidas aleatoriamente da população em questão. No contexto
dos questionários, especialmente em pesquisas de opinião, os entrevistadores constroem um modelo
reduzido da população pesquisada à medida que avançam (técnica de amostragem por quotas).
Os utilizadores de questionários enfrentam quatro problemas principais em relação à competência,
sinceridade, fidelidade e compreensão semântica. As perguntas do questionário podem ser fechadas (com
opções de escolha), abertas (que exigem respostas desenvolvidas) ou semiabertas, que combinam os dois
tipos anteriores.
O sociólogo reconhece que sua descrição do questionário é normativa e destaca que muitos
questionários são derivados de pesquisas de opinião; estas pesquisas pretendem auscultar as opiniões de
diferentes grupos de cidadãos sobre problemas que geralmente dizem respeito a questões públicas.
Neste processo, o sociólogo faz três críticas; a primeira é de ordem epistemológica e questiona a
ideia de que os cidadãos realmente possuem opiniões, muitas vezes reproduzindo opiniões recebidas de
várias fontes de média; a segunda crítica é de ordem cognitiva e ressalta que o que importa não são apenas
os resultados das pesquisas acumuladas, mas também como esses resultados são divulgados pela imprensa
ou pelos meios de comunicação, o que pode distorcer a visão das opiniões com base em categorias de
respostas e percentagens atribuídas às mesmas. Por fim, a terceira crítica é de ordem política e argumenta
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que as pesquisas desempenham um papel na forma como a política é conduzida, transferindo o poder de
representação pública dos agentes tradicionais para especialistas anónimos e irresponsáveis perante os
cidadãos.

7. Conclusões:

O capítulo V do livro Lições de Sociologia é uma leitura importante para quem deseja compreender o
trabalho do sociólogo. Christian Javeau apresenta de forma clara e objetiva os principais aspetos do
trabalho sociológico, destacando a importância da teoria, da metodologia e da ética na investigação
sociológica. O autor, faz, ainda, uma reflexão sobre a objetividade e a imparcialidade do sociólogo,
fundamental para a construção de conhecimento científico. No entanto, seria interessante se o autor tivesse
apresentado exemplos práticos de investigação sociológica para ilustrar os conceitos apresentados no
capítulo.

8. Bibliografia complementar:

Giddens, A. (2004) Sociologia, O que é a Sociologia, Sociologia, 6ª edição, Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 0-20. (74)

NOTA: Colocar, entre parêntesis curvos, o número da página onde a informação se encontra no texto original.