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In: Silvia
Zanatta Da Ros; Kátia Maheirie; Andréa Vieira Zanella. (Org.). Relações
estéticas, atividade criadora e imaginação: sujeitos e (em) experiência. 1ed.
Florianópolis: NUP/CED/UFSC, 2006, v. 11, p. 209-220.
gem, devemos nos dar conta de algumas das diferen<;as entre a linguagem
propriamente dita e outras "linguagens" sobre as quais se quer discorrer.
Voltando a leitura de imagens, desde o advento dos diversos estilos
da arte moderna- e rna is ainda na contemporaneidade- a arte rompe com
o compromisso da "representa<;ao" da realidade e assume outras fun<;oes,
como a de questionar valores sociais e, ate mesmo, o proprio sentido da
arte. No que diz respeito as imagens reprodutivas do mundo natural, co-
nhecidas como "figurativas" ou academicas, a impressao e de que e mais
facil "decodifica-las" porque, ao faze-lo, utilizam-se, na maioria dos ca-
sas, referenciais do mundo natural: mesa e mesa, arvore e arvore, gente e
gente. Mas mesmo as imagens que tentam reproduzir o mundo natural,
cuja interpreta<;ao parece obvia, encerram conteudos para alem do seu mero
ser reprodw;iio. Sao as diferen<;as determinadas pelos materiais, por pin-
celadas, dimensoes, transparencias, pelo supo11e ou mesmo pela moldura,
no seu sentido amplo, ou seja, no que esta "em torno" da obra.
A interferencia do ambiente, da "vizinhan<;a" da imagem, do que vern
sendo chamado de "em tomo", na constru<;ao- ou re-constru<;ao- de seus
significados eo fen6meno que passou a exigir, no campo da arte, a necessida-
de da figura do Curador. E urn profissional que, diante de urn paradigma, de
uma tematica ou da inten<;ao pretendida para uma mostra, seleciona as obras
que del a deverao pat1icipar, bern como o modo como elas de vern ser mostra-
das ao publico. Embora pare<;a, para alguns leigos, uma profissao autorita-
ria e, para outros, urn fazer intuitivo, o fato e que uina mesma obra de arte,
por exemplo, urn retrato, pode receber leituras distintas se estiver compondo
uma retrospectiva de urn artista ou se estiver fazendo pm1e de uma rnostra de
retratos de autoria de artistas de diversas epocas e estilos.
Por outro lado, importante se faz lembrar de que a natureza da arte
possibilita que conhecimentos sejam estruturados em formas e cores, en-
tre outros elementos, de urn modo unico em cada ato criador, 0 que e
impossfvel de descrever ou traduzir na totalidade, em linguagern verbal.
E possfvel ensinar sobre arte, pesquisar sobre arte, faze-lo por meio de
palavras- e rnenos apropriadamente, de numeros. 0 conhecimento con-
tido nas estruturas tecidas por elementos esteticos permite analises, leitu-
ras; todavia, nada substituini a propria imagem da arte. Uma imagem
vale mais do que mil palavras: e a sabedoria popular nao deixa de ser
uma categoria do saber.
212 Sandra Regina Ramalho e Oliveira
vitrina, por exemplo, pois cada urn dos !ados pode estar a propor signifi-
cados diferentes, complementares ou nao, entre si.
0 modo simples para elaborar os esquemas visuais, acima referi-
dos, consiste em colocar sabre a imagem em questao urn papel transparen-
te e copiar as linhas principais que contornam as figuras que comp6em a
imagem. Como auxflio do computador esses esquemas sao ainda mais
facilmente executaveis, sabre a propria reproduqao da imagem em estudo.
No entanto o modo mais prosaico e nao e aqui esquecido, tendo
em vista que esta proposta e destinada, em primeiro Iugar, aos professores
de arte e seus alunos de ensino fundamental e media, e nem sempre os
ambientes escolares dis poem de computadores para todos os alunos.
A funqao desses esquemas e a de subtrair as cores e os detalhes, cha-
mando a atenqao do olhar do enunciatario para as fotmas, em detrimento das
cores, sempre sedutoras, bern como para as fmmas macro das figuras, em si.
Quando do processo de analise, sugere-se observar, altemadamente, a ima-
gem propriamente dita e os esquemas visuais, tentando nestes perceber o
que, as vezes, esta como que escondido na imagem em si.
E importante ressaltar que a definiqao tanto da estrutura basica,
quanta dos esquemas visuais guardam algumas propriedades ou caracte-
rfsticas comuns: primeiramente, am bas as etapas nao constituem a anali-
se propriamente dita, mas sao etapas preparat6rias para a leitura; segun-
do, ha liberdade para o lei tor traqar seus pr6prios esboqos, seja da estru-
tura bisica OU dos esquemas visuais; terceiro, e que ambos OS tipos de
esboqos podem ser feitos manualmente, com a ajuda do computador ou
mesmo mentalmente (nao se pode conceber alguem esboqando, de fato,
essas linhas em meio a uma exposiqao!) .
Ultrapassadas as duas primeiras etapas, destinadas a primeira des-
constru{:iio do texto visual, parte-se para a analise, em si, igualmente com
carater des-construtivo . Entao o foco e a observaqao do que, afinal, cons-
titui a imagem; trata-se do processo de identificaqao de seus elementos
constitutivos, como linhas, pontos, cores, pianos, formas, cor, luz, dimen-
sao, volume, textura. Que elementos dao origem ao texto visual? A imagem
pode ser considerada como urn sintagma e, enquanto tal, construfda por
meio de escolhas em detetminados paradigmas: no paradigma linha, quais
foram as escolhidas pelo criador da imagem? E no paradigma cor, quais
foram suas escolhas? E quanta as formas? Quanto as texturas?
214 Sandra Ref}ina Ramalho e 0/iveira
Notas
Referencias
CARNEIRO, Ivane Angelica. N6s que aqui estamos par v6s lamenta-
mos: a do publico com a atte contemporiinea. 2002. Disserta-
(Mestrado em e Cultura)- U niversidade do Estado de
Santa Catarina. Florian6polis, 2002.
FAVERO, Sandra Maria Correia. Arte au niio : uma abordagem de
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