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Vale finalizar essa introdução com o argumento de Silviano Santigado: “Eu acho
que o compromisso do escritor, pelo menos do grande escritor, é com a liberdade
absoluta. É isso que torna um livro uma obra de arte. Os textos que nós escrevemos nos
últimos trinta anos são textos por demais solicitados pelos fatos e pelos acontecimentos
e isso de certa maneira que é ao mesmo tempo bom, ao mesmo tempo positivo, porque
você está respondendo, você está de certa maneira combatendo, você está tornando a
literatura útil, socialmente, politicamente, etc, por outro lado retira da literatura esta
capacidade que ela tem de transcender o seu próprio tempo”.<BR><BR>
POESIAS DO PÂNTANO<BR><BR>
Contra esses “poemas sociais”, o livro tem a virtude de produzir poemas como
“uma víscera”, esse sim, que trata de um drama profundo da alma humana, chegando às
suas vísceras, sem ser um poema raivoso que corre o risco de ser uma narrativa de um
<I>faits-divers</I>. Os <I>faits divers</I> contribuem como uma forma de estruturar o
mundo, pois apelam para o imaginário da sociedade, que busca um sentido maior nestes,
como se dá nos romances, em que as conexões carregam um sentido mais amplo,
gradualmente revelado na narrativa. A poesia, ao contrário, deve buscar a
desestruturação da mente “narrativa”, vivendo numa espécie de entrelugar entre o
reconhecível e o irreconhecível, sentimento produzido pela vertigem da linguagem.
<BR><BR>
QUASE NADA<BR><BR><BR><BR>
um vislumbre apenas<BR>
talvez<BR>
da beleza<BR><BR><BR><BR>
“no fim, o que conta/ é a parte boa/ como numa fruta/ da qual se corta/ um
pedaço apodrecido// se o que resta tem matéria densa/ seja doce ou seca/ e mesmo
amarga/ o estrago do estragado é anulado// só o que resta é a matéria densa (...)”.