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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM TEORIA PSICANALÍTICA E PRÁTICA


CLÍNICO-INSTITUCIONAL

CLÁUDIA FERREIRA MELO

OS MECANISMOS DO INCONSCIENTE: DE FREUD A


LACAN

Rio de Janeiro
2019
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM TEORIA PSICANALÍTICA E PRÁTICA


CLÍNICO-INSTITUCIONAL

CLÁUDIA FERREIRA MELO – 20170200788

OS MECANISMOS DO INCONSCIENTE: DE FREUD A


LACAN

Trabalho apresentado à disciplina As Formações


do Inconsciente, do curso de pós-graduação – lato-
sensu – em Teoria Psicanalítica e Prática Clínico-
Institucional, como pré-requisito para obtenção de
nota final na mesma.

Professora: Ana Paula Marques Lettiere Fulco

Rio de Janeiro
2019
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Este trabalho, referente à disciplina As Formações do Inconsciente, visa investigar


brevemente as leis que regem os mecanismos psíquicos do inconsciente, presentes em todas
as suas formações – sintomas, sonhos, atos falhos, chistes, lapsos. Será feita uma breve
investigação em alguns dos artigos de Freud e Lacan, em que abordam e aprofundam os
conceitos destas leis denominadas condensação e deslocamento em Freud e que, com Lacan,
ganham novas denominações a partir do empréstimo de termos da linguística, por meio das
figuras de linguagem metáfora e metonímia, articulando-os com as noções saussurianas de
significante e significado.
Freud em seu trabalho intitulado A interpretação dos sonhos (1900/1996), investiga
as relações existentes entre o conteúdo manifesto dos sonhos e os pensamentos oníricos
latentes, bem como o processo pelo qual leva estes últimos a se transformarem naquele. A
este processo, Freud denominou condensação, que consiste numa desproporção entre o
conteúdo e os pensamentos do sonho. O conteúdo do sonho normalmente é bastante curto,
enquanto a análise que expõe os pensamentos oníricos é mais extensa. Esta desproporção
“implica que o material psíquico passou por um extenso processo de condensação no curso da
formação do sonho” (FREUD, 1900/1996). O processo de condensação, pelo que se pode
perceber, consiste em um engavetamento do significante, por conta da ambiguidade que há no
inconsciente, é um mecanismo inconsciente pelo qual ocorre uma compressão de palavras ou
imagens referente aos conteúdos latentes, formando uma nova ideia das coisas, conforme os
exemplos do chiste e do sonho.
Na constituição do inconsciente, o segundo processo que atua na sua formação é o
deslocamento, pelo qual os afetos – usados aqui com um sentido diferente de emoção – se
ligam a diferentes ideias, sem serem aquelas que lhes originaram, mas que, de alguma forma,
estão a elas associadas. De acordo com Freud (1900/1996):

Entre as ideias que a análise traz á luz, há muitas que estão relativamente
afastadas do núcleo do sonho e que parecem interpolações artificiais feitas
para algum fim específico. [...] São precisamente elas que constituem uma
ligação [...] entre o conteúdo do sonho e os pensamentos do sonho.

Com o processo de deslocamento o conteúdo do sonho deixa de ser semelhante ao


núcleo dos pensamentos do sonho, se constituindo como uma distorção do desejo do sonho
que existe no inconsciente. Esta distorção tem origem na censura exercida por uma instância
psíquica sobre outra, sendo obtida por meio do deslocamento. “Podemos presumir, portanto,
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que o deslocamento do sonho se dá por influência da mesma censura – ou seja, a censura da


defesa endopsíquica”. (FREUD, 1900/1996)
Freud se deteve em sua investigação sobre a técnica do chiste, que se trata da técnica
verbal, segundo Lacan, a qual ele denominou técnica do significante. Em seu excelente
trabalho que tem por título O chiste e sua relação com o inconsciente (1905/2017), Freud nos
apresenta o famoso exemplo do chiste do familionário, mais tarde aprofundado por Lacan no
Seminário, Livro 5: As formações do inconsciente (1957-1958/1999). Para Freud este chiste
ocorre pelo processo de condensação, isto é, houve uma junção das duas palavras familiar +
milionário = familionário, ele mostra mais detalhadamente por meio do seguinte esquema
como ocorreu este processo que converteu o pensamento em chiste:

“R. me tratou de modo bem familiar,


isto é, até onde um milionário é capaz de fazê-lo”.

Esta foi a frase que originou o chiste. A seguir, Freud dá a seguinte explicação:

Consideremos agora uma força de compressão atuando sobre essas frases, e


suponhamos que a segunda é, por alguma razão, a menos resistente. Esta é
então forçada a desaparecer, e seu componente mais significativo, a palavra
“milionário”, conseguindo resistir à pressão, é como que espremido na
primeira frase e fundido com o elemento desta que lhe é tão parecido, a
palavra “familiar”. (FREUD, 1905/2017, p. 31)

Ocorre que foi extraída da segunda frase apenas o essencial, a palavra “milionário”, que se
fundiu com um elemento da primeira frase muito parecido com este, “familiar”, sendo
submetido à censura o restante dos elementos da segunda frase. “É sem dúvida nesta
combinação de palavras que residem o caráter chistoso e o efeito de riso do chiste”. (FREUD,
1905/2017, p. 30)
Freud cita ao longo do trabalho sobre a técnica do chiste, vários outros exemplos de
como este ocorre por meio da condensação. Lacan afirma no Seminário 5 (1957-1958/1999)
que para que ocorra um chiste, ou tirada espirituosa conforme sua leitura, é preciso que o
Outro o codifique como tal, que ele seja inscrito no código através da intervenção desse
Outro.
Em A instância da letra no inconsciente e a razão desde Freud (1957/1998), Lacan
afirma que “é toda a estrutura da linguagem que a experiência psicanalítica descobre do
inconsciente”. Com sua estrutura, a linguagem preexiste à entrada do sujeito num momento de
seu desenvolvimento mental. “O sujeito, se pode parecer servo da linguagem, o é ainda mais
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de um discurso em cujo movimento universal seu lugar já está inscrito em seu nascimento,
nem que seja sob a forma de seu nome próprio” (LACAN, 1957/1998, p. 498). Ainda, de
acordo com Lacan, possivelmente a cultura se reduziu à linguagem, aquilo que distingue a
sociedade humana das sociedades naturais.
Com seu estudo da topologia do significante, Lacan afirma que este não deve atender
à função de representar o significado. Para Lacan (1957/1998, p. 505), “o significante, por sua
natureza, sempre se antecipa ao sentido, desdobrando como que adiante dele sua dimensão”.
A estrutura do significante está em ele ser articulado e sua estrutura essencialmente localizada
é denominada letra.
Lacan utiliza a figura de linguagem metonímia, função propriamente significante que
se desenha na linguagem, para designar “a primeira vertente do campo efetivo que o
significante constitui, para que nele tenha lugar o sentido” (LACAN, 1957/1998, p. 510). A
metonímia pode ser resumida na fórmula “a parte tomada pelo todo” e é no de palavra em
palavra dessa conexão com o significante que ela se apoia (LACAN, 1957/1998, p. 509). A
segunda vertente é a metáfora, cuja fórmula se resume em tomar “uma palavra por outra”.
Conforme Lacan (1957/1998, p. 510), a centelha criadora da metáfora “brota entre dois
significantes dos quais um substituiu o outro, assumindo seu lugar na cadeia significante,
enquanto o significante oculto permanece presente em sua conexão (metonímica) com o resto
da cadeia”. A metáfora aparece exatamente no momento em que o sentido surge do não-
senso. Seu recurso criador reside na relação de substituição.

É por intermédio da metáfora, pelo jogo da substituição de um significante


por outro num lugar determinado, que se cria a possibilidade não apenas de
desenvolvimentos do significante, mas também de surgimentos de sentido
sempre novos, que vêm sempre contribuir para aprimorar, complicar,
aprofundar, dar sentido de profundidade àquilo que, no real, não passa de
pura opacidade. (LACAN, 1957-1958/1999, p. 35)

Em relação ao sonho, Lacan, retomando a leitura feita por Freud, afirma que este é
um rébus que é preciso entendê-lo ao pé da letra. Assim, prossegue Lacan (1957/1998), a
condensação, em que ganha campo a metáfora, é a estrutura de superposição dos
significantes; e o deslocamento é “o transporte da significação que a metonímia demonstra
[...] e que é apresentado como o meio mais adequado do inconsciente para despistar a
censura” (LACAN, 1957/1998, p. 515). Metáfora e metonímia são as funções essenciais do
significante, “na medida em que é por elas que o arado do significante sulca no real do
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significado, literalmente o evoca, o faz surgir, maneja-o, engendra-o”. (LACAN, 1957-


1958/1999, p. 33)
Conforme o exposto, conclui-se que as leis que regem o inconsciente freudiano são a
condensação e o deslocamento, presentes em todas as formações do inconsciente, sendo
apresentados aqui como se dão no sonho e no chiste. Onde no primeiro, o processo de
condensação se apresenta por meio de uma desproporção entre o conteúdo do sonho e os
pensamentos do sonho, em que o conteúdo ocuparia apenas algumas linhas de uma página,
enquanto a análise deste ocuparia várias páginas. No chiste apresentado aqui a condensação
ocorreu por meio da junção de duas palavras, ocultando a intenção da ideia. A condensação
pode ser entendida, então, como uma compressão de palavras e imagens que vêm a
representar novas ideias, e o deslocamento, como o próprio nome sugere, vem a ser um
desligamento de afeto de uma ideia que se liga a uma ideia diferente, isto é, se desloca de uma
ideia para outra, sem que seja aquela que deu origem àquele afeto.
Para Lacan, com seu estudo topológico do significante e do significado, o processo
de condensação corresponde à metáfora, que resumidamente pode ser definida como uma
palavra tomada por outra palavra, isto é, um significante em lugar de outro. E o processo de
deslocamento corresponde à metonímia, a parte pelo todo, que vai deslizando na cadeia
significante. Estes mecanismos são, essencialmente, meios que despistam a censura e é
preciso que o analista, devido à ambiguidade que há no inconsciente, literalmente escute-o e
interprete-o ao pé da letra.

Inibição: renúncia da função para evitar a angústia, limitação funcional do Eu. O Eu


renuncia à função para evitar nova repressão, para evitar conflito com o Id. Outras inibições
se encontram a serviço da autopunição, como por exemplo, na realização profissional, em que
o Eu não poderia realizar certas coisas que trariam vantagem e êxito para o sujeito, pois o
Supereu lhe proíbe, então, o Eu renuncia também a essa função para não entrar em conflito
com o Supereu. Limitações das funções do Eu por precaução ou empobrecimento de energia.
Sintoma: substituto de uma satisfação pulsional que não aconteceu, consequência de
uma repressão, procedente do Eu, que por exigência do Supereu não quer colaborar com um
investimento pulsional despertado no Id. A ideia, então, se desprende do afeto e é recalcada
pelo Eu. Esse impulso instintual [pulsional] ativado no Id, que busca satisfação, “mediante a
repressão, o prazer que se espera da satisfação é transformado em desprazer”. A angústia é a
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consequência da retirada pelo Eu do investimento do representante de instinto a ser reprimido.


“O Eu é a genuína sede da angústia”. “O sintoma se origina do impulso instintual prejudicado
pela repressão”.
Formação do sintoma: qual o impulso reprimido, o sintoma substitutivo, onde se acha
o motivo da repressão?
Angústia: renúncia à satisfação, a angústia gera a repressão e não o contrário. Reação à
situação de perigo; dela é poupado o Eu ao fazer algo para evitar a situação ou subtrair-se a
ela. Angústia do nascimento, perda do objeto materno e angústia de castração, perda do objeto
pênis, angústia de consciência, social. Não se sabe o que a angústia teme nessa última. O Eu é
a sede da angústia.
Sintoma: medo de cavalos, substituição do pai pelo cavalo, deslocamento. São criados
para evitar as situações de perigo que é sinalizada pelo desenvolvimento da angústia.
Deslocamento: permite a resolução do conflito de ambivalência sem a ajuda da
formação reativa
Anulação do acontecido: uma das técnicas de recalque, em que o sujeito, em dois
tempos, desenvolve determinados sintomas, o segundo vem para anular o primeiro. A
repetição também é uma forma de anular uma vivência traumática que não ocorreu de acordo
com o desejo.
Inibição: incapacidade de sair à rua, restrição que o Eu impõe a si próprio para não
despertar a angústia. Nas paralisias e contrações a sensação de desprazer está completamente
ausente, o Eu se comporta em relação a eles como se não tivesse nenhum envolvimento.
Fase de latência: dissolução do complexo de Édipo, consolidação do Supereu,
estabelecimento de barreiras éticas e estéticas do Eu. Abandona a masturbação e a libido é
dirigida para outras atividades. Defesa contra a tentação masturbatória.

Considerando a conciliação promovida entre atividade e passividade a resposta possível para


o enigma da feminilidade é que o que a mulher quer é ser desejada.
O desamparo é condição necessária para o amor. A ausência do objeto amado deixa o sujeito
em desamparo. O não sem objeto de Lacan inclui um haver algo, que não se sabe o quê. Essa
afirmação do não é sem ter não quer dizer que saibamos do que se trata
Desamparo: impossibilidade de acesso ao objeto que garante a satisfação, outro nome para a
castração, uma das formas de mal estar na atualidade. A irrupção do gozo lança o sujeito no
desamparo, desvelando a angústia
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREUD, S. (1900). A Interpretação dos Sonhos. In: Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. IV.

______. (1905). O Chiste e sua Relação com o Inconsciente. Obras completas. Trad.
Fernando Costa Mattos e Paulo César de Souza. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras,
2017. v. 7.

LACAN, J. (1957). “A instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud”. In.:


Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

______. (1956-1958). O seminário, livro 5, as formações do inconsciente. Rio de Janeiro:


Jorge Zahar, 1999.

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