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As Formações Do Inconsciente
As Formações Do Inconsciente
Rio de Janeiro
2019
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA
Rio de Janeiro
2019
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Entre as ideias que a análise traz á luz, há muitas que estão relativamente
afastadas do núcleo do sonho e que parecem interpolações artificiais feitas
para algum fim específico. [...] São precisamente elas que constituem uma
ligação [...] entre o conteúdo do sonho e os pensamentos do sonho.
Esta foi a frase que originou o chiste. A seguir, Freud dá a seguinte explicação:
Ocorre que foi extraída da segunda frase apenas o essencial, a palavra “milionário”, que se
fundiu com um elemento da primeira frase muito parecido com este, “familiar”, sendo
submetido à censura o restante dos elementos da segunda frase. “É sem dúvida nesta
combinação de palavras que residem o caráter chistoso e o efeito de riso do chiste”. (FREUD,
1905/2017, p. 30)
Freud cita ao longo do trabalho sobre a técnica do chiste, vários outros exemplos de
como este ocorre por meio da condensação. Lacan afirma no Seminário 5 (1957-1958/1999)
que para que ocorra um chiste, ou tirada espirituosa conforme sua leitura, é preciso que o
Outro o codifique como tal, que ele seja inscrito no código através da intervenção desse
Outro.
Em A instância da letra no inconsciente e a razão desde Freud (1957/1998), Lacan
afirma que “é toda a estrutura da linguagem que a experiência psicanalítica descobre do
inconsciente”. Com sua estrutura, a linguagem preexiste à entrada do sujeito num momento de
seu desenvolvimento mental. “O sujeito, se pode parecer servo da linguagem, o é ainda mais
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de um discurso em cujo movimento universal seu lugar já está inscrito em seu nascimento,
nem que seja sob a forma de seu nome próprio” (LACAN, 1957/1998, p. 498). Ainda, de
acordo com Lacan, possivelmente a cultura se reduziu à linguagem, aquilo que distingue a
sociedade humana das sociedades naturais.
Com seu estudo da topologia do significante, Lacan afirma que este não deve atender
à função de representar o significado. Para Lacan (1957/1998, p. 505), “o significante, por sua
natureza, sempre se antecipa ao sentido, desdobrando como que adiante dele sua dimensão”.
A estrutura do significante está em ele ser articulado e sua estrutura essencialmente localizada
é denominada letra.
Lacan utiliza a figura de linguagem metonímia, função propriamente significante que
se desenha na linguagem, para designar “a primeira vertente do campo efetivo que o
significante constitui, para que nele tenha lugar o sentido” (LACAN, 1957/1998, p. 510). A
metonímia pode ser resumida na fórmula “a parte tomada pelo todo” e é no de palavra em
palavra dessa conexão com o significante que ela se apoia (LACAN, 1957/1998, p. 509). A
segunda vertente é a metáfora, cuja fórmula se resume em tomar “uma palavra por outra”.
Conforme Lacan (1957/1998, p. 510), a centelha criadora da metáfora “brota entre dois
significantes dos quais um substituiu o outro, assumindo seu lugar na cadeia significante,
enquanto o significante oculto permanece presente em sua conexão (metonímica) com o resto
da cadeia”. A metáfora aparece exatamente no momento em que o sentido surge do não-
senso. Seu recurso criador reside na relação de substituição.
Em relação ao sonho, Lacan, retomando a leitura feita por Freud, afirma que este é
um rébus que é preciso entendê-lo ao pé da letra. Assim, prossegue Lacan (1957/1998), a
condensação, em que ganha campo a metáfora, é a estrutura de superposição dos
significantes; e o deslocamento é “o transporte da significação que a metonímia demonstra
[...] e que é apresentado como o meio mais adequado do inconsciente para despistar a
censura” (LACAN, 1957/1998, p. 515). Metáfora e metonímia são as funções essenciais do
significante, “na medida em que é por elas que o arado do significante sulca no real do
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREUD, S. (1900). A Interpretação dos Sonhos. In: Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. IV.
______. (1905). O Chiste e sua Relação com o Inconsciente. Obras completas. Trad.
Fernando Costa Mattos e Paulo César de Souza. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras,
2017. v. 7.