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ÓRGÃO OFICIAL PAN-AFRICANO DEDICADO AOS POVOS PRETOS DO MUNDO INTEIRO

Ano II - Nº 05cccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccc ccccccc ,, cccccccccccccccccccccccccc 28 de fevereiro de 2021

N o s s a B a n d e i r a

Ayiti –
t a m b é m é V e r d e
U f e k o w o W i ñ g i


face ao dilema
da aniquilação e a
reconquista da soberania
Página 2 – Editorial ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,28 de fevereiro de 2021 ,,,,,,,,,, ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, Yanda PanAfrikanu

EDITORIAL
Ayiti face ao dilema da aniquilação e a reconquista da soberania

A bandeira soberana do Ayiti tremula em 2021 ao odor amargo de um de terror psicológico, continuam motivadas em minimizar, distorcer e si-
vento estrangeiro provocado por furacões e terremotos, helicópteros das lenciar a revolução Ayitiana.
Nações Unidas e jatinhos de ONG’s. Nas últimas duas décadas do século Essa forma de aniquilação tem sido orquestrada de várias maneiras e
20, terremotos e furacões devastaram o Ayiti. Esses desastres naturais com as mais diversas intensidades. A demonização da prática do Vudu é
têm sido acompanhados de uma política de pacificação das Nações o exemplo paradigmático de uma violência secular perpetrada contra
Unidas e um humanitarismo oportunista de ONG’s. Mais do que uma essa forma de espiritualidade Africana libertadora. Algo que indica, na-
simples metáfora do neocolonialismo, a abertura deste quinto editorial turalmente, uma tentativa contínua de vingança pelo papel que o Vudu
do YANDA PANAFRIKANU faz parte de uma chamada de alerta para a desempenhou, principalmente, no preparo e no desencadeamento do
urgência de um entendimento: há 220 anos que o Ayiti está sendo processo revolucionário.
sistematicamente atacado pelo ocidente, e os movimentos sociais de ca- Por estes motivos, há um trabalho indispensável a ser desenvolvido no
ráter Pan-Africano terão que agir antes de uma possível aniquilação, sentido de resgate epistêmico do Ayiti, ao serviço da causa do Pan-Afri-
tanto material quanto imaterial. Essa sentença pode parecer catastrófica, canismo e da Renascença Africana. Contudo, esse trabalho só será con-
mas não é. sequente e vitorioso se for devidamente articulado com as vozes dos
Localizado no Caribe, o Ayiti foi invadido em 1496 por espanhóis e na militantes que, no passado, assumiram essa batalha intelectual de ma-
sequência de dois séculos foi transformado em uma das mais rendosas neira firme.
colônias dentro do sistema racial capitalista europeu. Nesse processo de Joseph-Anténor Firmin (1850-1911), grande intelectual Ayitiano, torna-
dominação geopolítica e exploração humana, a primeira soberania do se um protagonista no contexto atual de confronto à aniquilação epis-
Ayiti foi destruída às custas do massacre da população Arawake, originá- temológica do Ayiti. Firmin deve representar para nós um pensador clás-
ria da região. A partir do século 17, o tráfico de Africanos escravizados, sico por aquilo que a sua obra oferece e pelo alcance da mesma, prin-
principalmente da costa ocidental Africana, possibilitou que o Ayiti se cipalmente em relação a seu livro Ensaios sobre a igualdade das raças
transformasse na alavanca central para o acúmulo de bens materiais do humanas (1885). Esse trabalho foi uma resposta contundente, radical e
ocidente. fundamentada ao pensamento racista do francês Arthur de Gobineau.
Foram esses Africanos escravizados que travaram dois séculos de com- Cabe salientar que o livro Ensaios foi publicado, pela primeira vez, no
bates para a libertação do Ayiti. A experiência milenar de organização mesmo ano que decorria a Conferência de Berlim, em 1885. Deste
social e especialmente as práticas cosmogônicas do Vudu foram os ele- modo, vê-se que a militância e a produção intelectual de Firmin estavam
mentos culturais decisivos nas batalhas anticoloniais do Ayiti sobre es- inseridas num contexto marcado tanto pelo racismo “cientificamente”
panhóis, franceses e ingleses. Muito mais do que um caso isolado, o elaborado na barriga da besta (França), quanto pelos preparativos da
Ayiti estava inserido em um alto contexto de resistências travadas por formalização do sistema colonial no continente Africano.
palenques, quilombos e maroons, que incendiaram toda a diáspora Afri- Outro intelectual e organizador político ímpar no sentido de resistência
cana nas Américas. Essa longa marcha cultural, espiritual e política cul- à aniquilação epistemológica é o historiador C. L. R. James (1901-1989)
minou com o processo de libertação do Ayiti na virada do século 18 para pelo seu trabalho pioneiro sobre a revolução Ayitiana, Os jacobinos ne-
o século 19. gros – Toussaint L’Ouverture e a revolução de São Domingos (1938).
Após anos de enfrentamentos sangrentos, o povo Africano no Ayiti con- Relativamente aos estudos sobre essa matéria, trata-se de uma obra
seguiu derrotar britânicos e franceses, as bases da dominação colonial incontornável. Entretanto, a teoria marxista utilizada por James foi in-
na ilha. Em 1801, os revolucionários, sob comando do general Toussaint capaz de dar conta da profundidade daquele estrondoso momento
Louverture, proclamaram a primeira constituinte, e em 1804, a indepen- político e revolucionário, especialmente em relação ao caráter comu-
dência de fato para todo o território, inserindo o Ayiti no seu segundo nitário, o lugar do Vudu e o agenciamento das mulheres na luta antico-
ciclo de soberania nacional. Politicamente, a denominação católico-colo- lonial.
nial de São Domingos, imposta pelos espanhóis aos Arawakes, foi des- Outra referência intelectual e política, muito mais atual, é Bayyinah Bel-
cartada e o território libertado renomeado Ayiti, tal como foi conhecido lo, historiadora Africana nascida no Ayiti. Essa pesquisadora militante
por sua população original. tem assumido uma posição forte ao serviço da divulgação do papel das
Essa soberania conquistada pela guerra abriu caminho para uma outra mulheres Africanas no processo revolucionário. Bayynah Bello destaca
guerra: a do neocolonialismo na diáspora. Agora, seria necessário não aqueles nomes de mulheres que, infelizmente, a aniquilação epistemo-
somente destruir a segunda soberania Ayitiana, mas aplicar uma puni- lógica tem buscado apagar, tais como: Cecile Fatimah (especialista em
ção exemplar e duradoura para qualquer colônia que intentasse uma organização), Aunt Tòya (militar de alta patente, nascida no Reino do
libertação revolucionária tal qual a do Ayiti. Os franceses derrotados e Daomé), Sanite Bélair (oficial do exército revolucionário Ayitiano), en-
seus aliados europeus reuniram inúmeros recursos para reinstalar a de- tre outros. Neste sentido, o seu livro Sheroes of the Haitian Revolution
sordem colonial no Ayiti. (2019) é um trabalho urgente para a restituição da consciência histórica
Em 1802, forças militares comandadas por Napoleão Bonaparte (Fran- Africana.
ça) fracassaram na tentativa para a reinstalação do sistema escravista no Esta quinta edição do YANDA PANAFRIKANU traz à tona a emergência
Ayiti. A quebra do segundo ciclo de soberania Ayitiana começa a ser de ações voltadas à recuperação da soberania Ayitiana. Desde a procla-
construída logo após a proclamação da independência em 1804, através mação da constituição em 1801, o Ayiti enfrenta problemas que se
de chantagens econômicas. Esse impulso neocolonial para minar as agravam com o passar do tempo. Esses problemas vão desde embargos
fundações da independência do Ayiti foi internacionalmente respaldado econômicos, ocupações militares internacionais, golpes de estado, altos
pelos seus antigos colonizadores com apoios do Canadá, do Vaticano índices de desnutrição, alienação cultural e uma devastadora miséria
(Itália) e posteriormente dos Estados Unidos. A cultura e espiritualidade material, condicionada por grandes conglomerados internacionais. As
Africanas na ilha seriam sistematicamente atacadas desde então, confi- ações de recuperação da soberania, devem envolver entidades e projetos
gurando uma forma de aniquilação imaterial sem precedentes. Pan-Africanos genuinamente comprometidos a servir o povo do Ayiti.
A aniquilação do Ayiti sempre teve uma forte dimensão epistemológica. É imperativo que entidades Pan-Africanas na diáspora e no continente
A supremacia branca tem exercido um poder brutal de modo a fazer Africano se comuniquem com os movimentos sociais endógenos do
com que a revolução Ayitiana seja definitivamente “apagada” da história Ayiti. Essa comunicação deve visar um único fim, a recuperação total e
do mundo. Esse apagamento deve garantir que a história revolucionária inequívoca da soberania Ayitiana. Somente a unidade de ação técnica,
do Ayiti não faça parte da memória coletiva do povo Africano e, por programada e autônoma será capaz de impedir a aniquilação do Ayiti. E
conseguinte, não venha a ser fonte de inspiração para lutas posteriores. será que as organizações políticas da diáspora e do continente africano
Por isso, as “ciências” sociais ocidentais, na sua versão propagandística e se encontram preparadas para esse desafio?
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O Ayiti no Negro World


“Mãos através do mar”
Hubert Henry Harrison, Negro World
10 de setembro de 1921

A fase mais perigosa do capitalis- Assim, as terras dos povos “atrasa- laram um fantoche na pessoa de Fanouil Hall, Madison Square
mo desenvolvido é a do imperia- dos” são trazidas para a influência Monsieur D'Artiguenave para Garden e nas igrejas Negras; po-
lismo – ao ter subjugado seus tra- central do sistema econômico ca- cumprir sua vontade; os corpos le- deríamos, em nossos jornais e re-
balhadores e explorado seus re- pitalista e a sujeição dos traba- gislativos da antiga república fo- vistas, agitar pela retirada das for-
cursos naturais em casa, ele se lhadores pretos, marrons e outros ram suprimidos ou degradados; ças da ocupação americana, como
volta com determinação para ra- de cor aos rigores do “fardo do cidadãos pretos inofensivos foram fizeram os irlandeses em nome da
ças e terras “subdesenvolvidas” homem branco” vêm como conse- cruelmente massacrados a sangue Irlanda, poderíamos, pelo menos,
para renovar o mesmo processo quência da exploração bem-suce- frio e milhares foram forçados à levantar uma petição gigantesca
lá. Esta é a fase em que o milita- dida dos trabalhadores brancos escravidão para trabalhar nas es- com um milhão de assinaturas e
rismo e o navalismo se desenvol- em casa, e os cegam em uma opo- tradas militares sem remunera- levá-la ao Congresso. Mesmo uma
vem com velocidade vertiginosa, sição internacional à continuação ção. Aqui está o imperialismo “parada de protesto silenciosa”
com o acúmulo de carga tributária do regime capitalista. A maioria americano em sua nudez absoluta nos tornaria melhores do que essa
para a “preparação” do dia em dos americanos que são capazes e repulsiva. E o que vamos fazer a apatia servil e com essa aquies-
que a classe capitalista da nação de ver esse processo mais ou me- respeito? cência servil em que agora esta-
deve usar o argumento final da nos claramente no caso de outras A luta que em breve será travada mos mergulhados.
força contra seus concorrentes es- nações não consegue ver o mesmo no Congresso pela restauração Acredite ou não, o Negro america-
trangeiros pelos mercados. Esses processo implícito e explícito em dos direitos haitianos não está re- no está agora no banco dos réus
mercados mudam de caráter sob o suas próprias carreiras. cebendo ajuda dos milhões de Ne- diante dos olhos do mundo, e se
impacto do comércio internacio- O caso do Haiti e a situação atual gros que estão supostamente inte- ele deixar de agir, ele ainda pode-
nal, e não são mais meros merca- do povo haitiano nos ajuda a ver ressados no movimento interna- rá ouvir o Deus da oportunidade
dos de absorção de produtos aca- os objetivos de nossos próprios cional para o avanço prático do proferir aquelas palavras fatídicas
bados, mas passam a ser merca- imperialistas americanos sob a luz povo de sangue Negro. Já é tempo registradas no terceiro capítulo do
dos de investimento de lucros ex- branca da publicidade impiedosa. de que o façamos. Esta é uma Apocalipse sobre o anjo da igreja
cedentes acumulados, processo no Um povo de ascendência Africana, oportunidade que está à nossa dos laodicenses. Pois podemos ter
qual são transformados em fontes a cerca de setecentas milhas de disposição. E se usarmos nossos certeza de que o imperialismo
originais para a produção de lu- nossa costa, com governo próprio, votos aqui de uma forma inteli- francês, britânico e belga é um
cros excedentes pela abertura de teve seu governo suprimido e suas gente e proposital, poderíamos galho da mesma árvore da domi-
minas, ferrovias e outros empre- liberdades destruídas pelo Depar- pelo menos fazer nossas vozes se- nação branca na qual nosso galho
endimentos capitalistas de grande tamento da Marinha dos Estados rem ouvidas e atendidas em Wa- caseiro cresce.
escala. Torna-se necessário assu- Unidos, sem a menor formalidade shington, em nome de nossos ir-
mir o governo das áreas selecio- de uma declaração de guerra do mãos pretos que estão sofrendo a
nadas para que os lucros sejam Congresso dos Estados Unidos, 1.100 quilômetros de distância.
efetivamente garantidos, e consti- conforme exigido pela Constitui- Pensando assim, poderíamos
tuam “esferas de influência”, “pro- ção. Na cadeira presidencial nos- inaugurar reuniões gigantescas de
tetorados” e “mandatos”. sos fuzileiros navais caipiras insta- propaganda em lugares como o

“A captura do Haiti”
Editorial Negro World, 6 de maio de 1922

Embora nunca tenha sido declarada “tornando o mundo seguro para a ferido pessoalmente ou em proprie- rou que, se fosse eleito, não “autori-
guerra contra o que uma vez foi a democracia”, os fuzileiros navais dade por haitianos, e os estrangeiros zaria um secretário adjunto do Te-
República do Haiti pelo Governo dos americanos estavam abatendo impie- estavam mais seguros lá do que em souro a redigir uma Constituição pa-
Estados Unidos, esse país infeliz foi dosamente haitianos comparativa- muitas cidades americanas. ra nossos vizinhos indefesos nas Ín-
tomado e durante a maior parte dos mente indefesos, cuja única ofensa Ele cumpriu suas obrigações interna- dias Ocidentais para enfiá-la por
sete anos governado com mão de fer- era a defesa de seus direitos à auto- cionais de maneira livre de críticas suas gargantas na ponta de baione-
ro pelo Departamento de Marinha determinação. adversas e nunca deu motivos para a tas carregadas pelos Fuzileiros na-
dos Estados Unidos, aparentemente Por mais de um século, o Haiti, lu- intervenção dos Estados Unidos em vais dos Estados Unidos”.
por e com o consentimento do Natio- tando contra tremendas adversida- seus assuntos. A maneira arrogante Parece que o Sr. Harding já esqueceu
nal City Bank de Nova York. des, cercado, por todos os lados, por com que os Estados Unidos ganha- aquelas declarações de campanha e
Esta tomada do Haiti pelos Estados nações hostis, preconceituosas e im- ram o controle de seu território chei- decidiu, uma vez que a “constitui-
Unidos constitui um dos capítulos perialistas, conseguiu manter sua in- ra ao novo imperialismo americano e ção” já foi enfiada na garganta dos
mais sombrios da história americana tegridade como um Estado soberano faz de nossos protestos contra a de- haitianos na ponta das baionetas,
e deixará para sempre uma curva com uma forma republicana de go- mocracia uma paródia vazia. que ele manterá os fuzileiros navais
sinistra em seu escudo militar. Mais verno. Sua independência não foi en- A Alemanha pelo menos alegou ne- dos Estados Unidos lá para forçar os
do que isso, na opinião de vinte e tregue em uma bandeja de prata; cessidade militar para invadir a Bél- haitianos a digeri-la.
quatro ilustres advogados america- seus filhos lutaram, sangraram e gica e não fez nenhuma pretensão de O secretário Hughes é citado como
nos que assinaram um relatório mui- morreram para obtê-la, misturando democracia. Existe alguma diferença tendo dito que os Estados Unidos
to competente sobre “A Captura do seu sangue livremente com o próprio de princípio entre a ação da Alema- não têm intenção de se retirar do
Haiti”, apresentado ao Secretário de solo do Haiti, tornando aquela ilha nha na Bélgica e dos Estados Unidos Haiti no momento. Sem dúvida, os
Estado, que aparece em outra parte sagrada e inviolável para seus filhos, no Haiti? Em seis ocasiões durante secretários da Marinha e de Estado e
desta edição, “a ação de nosso gover- assim como os Estados Unidos para 1914 e 1915, os Estados Unidos fize- do National City Bank de Nova York
no violou nossa Constituição e redu- seus filhos. ram esforços para garantir o controle e o presidente e os fuzileiros navais
ziu nossas obrigações de tratado a Durante a luta do Haiti para se man- do Haiti, sem sucesso. Aqui temos o dos Estados Unidos se unirão para
um pedaço de papel”. ter na família das nações, assediado grande valentão levando à força o forçar o processo de digestão dos po-
Em uma época em que Woodrow como foi por conflitos internos en- que não poderia ser assegurado por bres e indefesos haitianos com o ím-
Wilson estava dando expressão a gendrados por capitalistas nos Es- meio de aberturas diplomáticas. peto adicional das baionetas.
ideais elevados, proclamando auto- tados Unidos e de outros lugares, ne- Durante a última campanha presi- Aqui está o imperialismo americano
determinação para povos menores e nhum cidadão americano jamais foi dencial, o presidente Harding decla- nu e sem vergonha.
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AMÍLCAR CABRAL:
APONTAMENTOS
SOBRE ORGANIZAÇÃO
SOCIOCOMUNITÁRIA
E SEGURANÇA –
PARTE 2

Kwesi M. H. Ta Fari *

Amílcar Cabral em seu escritório durante a luta de libertação nacional de Guiné e Cabo Verde. Na imagem ao seu lado, o logotipo da
Societé Amílcar Cabral – entidade criada pela juventude Ayitiana.

Após o movimento revolucionário vam as ações práticas do PAIGC. máticas que assolam o Ayiti. A So- 5. Emergência da poesia em Amílcar
Nesse sentido, havia no movimen- cieté Amílcar Cabral é apoiada pe- Cabral – 30 poemas (2018)
Ayitiano no início do século 19, a
6. A luta criou raízes – Intervenções,
luta anticolonial de Cabo Verde e to de libertação nacional uma lo Haitian Institute, também loca-
entrevistas, reflexões, artigos 1964-
Guiné na década de 1960 foi a perspectiva da cultura como um lizado em Atlanta. 1973 (2018)
marcha de libertação nacional meio de transformação psíquica e A jornada revolucionária de Amíl-
social, denominada por Amílcar car Cabral é incontornável para o Duzentos e vinte anos após Tous-
mais importante no mundo africa-
Cabral de “reafricanização dos es- trabalho de movimentos engaja- saint L'Ouverture comandar a
no. Esse grande acontecimento
píritos e das mentalidades”. Nas dos na organização sociocomuni- derrota dos britânicos no Ayiti
histórico ocorreu na África Oci-
suas próprias palavras: tária. O conhecimento sobre essa (1798), um grupo de jovens Ayi-
dental e foi guiado pelas estraté-
jornada exige um discernimento tianos optou pelo estudo de Amíl-
gias de Amílcar Cabral, Secretá- “Revela-se assim indispensável uma
sobre as ideias de Amílcar Cabral, car Cabral como base para a cons-
rio-Geral do Partido Africano para reconversão dos espíritos – das men-
talidades – para a sua verdadeira in- que possibilitará adaptações das trução de um novo amanhã. Essa
a Independência da Guiné e Cabo
tegração no movimento de liberta- experiências do PAIGC aos nossos é uma demonstração cabal da
Verde (PAIGC).
ção. Essa reconversão – reafricaniza- desafios contemporâneos. Foi isso atemporalidade das mensagens de
Na primeira parte da série de ma-
ção, no nosso caso – pode verificar-se
que os estudantes Ayitianos fize- Amílcar Cabral! A Revolução Ayi-
térias intitulada Amílcar Cabral: antes da luta, mas só se completa no
ram em 2018. Portanto, a literatu- tiana e a luta de libertação nacio-
apontamentos sobre organização decurso desta, no contato cotidiano
ra é uma primeira via de acesso às nal do PAIGC fazem parte de um
sociocomunitária e segurança com as massas populares e na comu-
nhão de sacrifícios que a luta exige”. estratégias de guerra, à pedagogia conjunto de experiências patrimo-
(YANDAPANAFRIKANU – Ano I/
e à filosofia que guiaram o PAIGC niais inalienáveis.
Nº 03), nós apresentamos uma Dentro da convocatória à reafrica-
durante a luta de libertação nacio- Vida longa ao Ayiti!
breve introdução à jornada revo- nização dos espíritos e das menta-
nal. Aproveitamos essa entrada li- Viva o PAIGC!
lucionária de Amílcar Cabral, fri- lidades, Amílcar Cabral entendia
terária para listar seis compilações Nô Pintcha Societé Amílcar Ca-
samos a importância da Escola que o estudante africano deveria
de textos escritos por Amílcar Ca- bral! …Unidade e Luta!
Piloto (iniciativa educacional do se empenhar na busca por conhe-
PAIGC durante a luta de liberta- bral:
cimentos “úteis às massas africa- *Kwesi M. H. Ta Fari: Historiador, mem-
ção) e comentamos o pensamento bro de iniciativas Pan-Africanistas e do
nas”. Consciente do poder que 1. Unidade e Luta: arma da teoria – 1
Movimento Rastafari.
avançado de Amílcar Cabral sobre pulsa no conteúdo dessa mensa- (2013)
a mulher no processo de organiza- 2. Unidade e Luta: a prática revolu- Referências:
gem, um grupo de estudantes da
cionária – 2 (2013) CABRAL, Amílcar. Unidade e Luta: arma
ção sociocomunitária. comunidade Ayitina em Atlanta da teoria – 1. Praia: Fundação Amílcar Ca-
3. Pensar para melhor agir – Inter-
Todo esse primeiro raciocínio a (EUA) criou em 2018 a Societé bral, 2013.
venções no Seminário de Quadros,
respeito de Amílcar Cabral foi pa- Imagens retiradas de: http://amilcar-
Amílcar Cabral, com o objetivo 1969 (2014) cabral.com e https://haitianinstitute.org/
ra sublinhar a pertinência de algu- central de preparar a juventude 4. Cabo Verde – Reflexões e Mensa- Website consultado:
mas das ideias centrais que guia- gens (2015) https://haitianinstitute.org/
para o enfrentamento das proble-

A Ancestralidade da Revolução
INMUNE*

O tempo e a história, o passado, o presente e o resistência que se vê como impreterível e necessá- devastadora do ponto de vista físico e psicológico,
futuro, são elementos circulares que parecem ria. ainda que necessária numa lógica de mudança de
andar de mãos dadas. Negros e Negras, Africanos e Afrodescendentes, lu- paradigma para todo um grupo historicamente
Por mais que antes de nós muitas lutas tenham tam no seu tempo e no seu espaço, de forma quase marginalizado, violentado e instrumentalizado. Es-
sido travadas, sob o chapéu da conquista de direi- diária, pelos ideais que matriarcas e patriarcas ta é também uma herança deixada pela história, a
tos, liberdades e garantias, persiste uma contínua transmitiram de geração em geração. Ideais estes de que a dominação dos nossos corpos, seres, al-
condição de precariedade, subalternização e sub- de emancipação, liberdade, valorização da nossa mas e energia pode e deve ser combatida com os
missão de determinados grupos em relação a ou- cultura e da nossa história. meios necessários até a total libertação das amar-
tros. Este contexto, exaustivo e repetitivo obriga a Este estar e agir é fruto de uma herança inscrita ras que, há tanto, nos são impostas.
que indivíduos e grupos organizados deem conti- por homens e mulheres, na genética da negritude,
nuidade, sob novas capas, nomes e formas, à luta e uma herança revolucionária e ativa, para uma luta
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A constante emergência de grupos organizados Este é um caminho que ainda vai para longo, mas *O INMUNE – Instituto da Mulher Negra em Portugal
preparados para conquistar espaços, direitos e “lu- é um caminho que será feito. Será sempre um ca- –, é uma associação feminista negra interseccional que
gares de fala” é uma realidade e continuará a ser. minho de luta e resistência, será sempre um cami- surge no sentido de combater a invizibilização a que a
Temos hoje movimentos e grupos de feministas nho de confronto com fantasmas do passado, mas mulher negra se encontra sujeita no contexto português
será também um percurso abençoado pelos nossos através de um trabalho que se quer multidisciplinar. O
negras que, em interação nacional e internacional,
ancestrais, que rejubilam por ver a prossecução INMUNE tem contribuído para a criação de respostas
consolidam discursos, descolonizam e decolonizam
das suas contendas levadas a cabo pelas gerações próprias para a luta através da:
conceitos, intervêm nas artes, na educação, na -Promoção do empoderamento;
cultura, na política, na comunicação e mudam to- seguintes.
-Promoção da participação social e política das mulhe-
Movimentos e revoluções como a dos irmãos e
dos os dias a forma como a mulher negra se en- res, jovens e meninas negras;
irmãs haitianos/as e tantos irmãos e irmãs negros
tende, percepciona e posiciona na sociedade. Te- -Intervenção comunitária – fortalecer as comunidades
e negras pelo mundo, percorrem séculos nas nos-
mos hoje, e cada vez mais, uma mobilização inte- negras e racializadas;
sas memórias e são, ainda, uma das forças motri-
lectual para os conceitos de identidade e negritude -Produção de conteúdos (que possam trabalhar ques-
zes para a mobilização, luta e resistência negra nos
e para a amplitude e carga histórica que estes car- tões de linguagem, disseminação de informação, e acer-
dias de hoje. vo nacional nestas matérias);
regam. Dos mais jovens aos mais velhos olhamos Que a atuação dos de ontem possa servir de moti- -Estabelecimento de parcerias nacionais e internacio-
hoje, no contexto nacional e internacional, para vação e força para os de hoje e que os de hoje pos- nais;
um progressivo aumento do orgulho em relação às sam continuar a trilhar esta estrada para que os de -Afirmação e valorização da herança e cultura negra e
nossas ancestralidades e identidades. amanhã tenham por onde se guiar. africana em Portugal.

cravo, como motor para o trabalho nesse contexto que Toussaint Breda, homens livres os responsáveis pela
A Independência ou assalariado generalizado, aurora do posteriormente L’Ouverture, juntou- defesa ocidental da França revolucio-
Capitalismo. se a Jean-François e Biassou, já nos nária.
a Morte! Essas tarefas não são abstratas nem seus 43 anos, Toussaint era assisten- Os negros revolucionários regressam
A titânica Revolução correspondem à ideia de um qual- te do seu senhor, uma posição ao às plantações e as cidades, como ho-
quer intelectual, como já disse Frantz alcance de pouquíssimos negros. Foi mens e mulheres livres sob a bandei-
Haitiana Fanon o oprimido sonhou libertar-se o grande organizador das forças ne- ra da República francesa, Toussaint,
todas as noites, até cumprir o seu gras. primeiro como Comandante-Em-Che-
Consciência Negra*
anseio de ação contra as condições Perante as forças revolucionárias ne- fe e posteriormente como cônsul, go-
materiais que o subjugam, assim a gras, a gestão girondina apressa-se a vernou como um déspota esclareci-
sublevação. reconhecer plenos direitos aos mula- do, e com mão firme e disciplinadora
Começamos pelo fim, as palavras de
Cyril Lionel Robert James, um bri- tos, em Abril de 1792, na tentativa recuperou a economia devastada em
Dessalines, primeiro líder do Haiti
lhante ideólogo da libertação negra, de salvar o monopólio escravocrata 2/3 do volume de exportações. Po-
independente, as insígnias nacionais,
apresenta-nos à luz de uma interpre- da grande burguesia marítima de rém Toussaint, ainda que um bri-
estão vivas, dizem-nos que algo defi-
tação marxista o peso da Revolução Bordéus e Nantes. lhante estratego, falhou em concre-
nitivo aconteceu naquela época da
Haitiana para a emancipação negra e Quando parecia que a França Giron- tizar a única garantia da liberdade
história. Naquele país tão pequeno
o quanto essa luta culminou dois sé- dina iria reestabelecer a normalidade dos negros em São Domingos, a In-
em dimensão, mas tão central na ex-
culos de resistência permanente dos da escravatura, e os líderes negros dependência.
ploração agrícola no mundo, os ho-
africanos escravizados, ao tráfico preparados para entregar os seus ho- O trabalho compulsório foi instituído
mens e mulheres que eram vergados
em menos de 18 meses, despedaça- transatlântico. mens de volta à Escravatura, a Revo- para garantir produção do açúcar de
ram os seus senhores, tomaram para James aborda a centralidade da ilha lução avança em Paris, as massas re- cana, sob supervisão dos anteriores
si os seus destinos, e enfrentaram vi- de São Domingos para o comércio do volucionárias fartam-se de esperar senhores brancos, essa postura de
toriosamente a ira que só aqueles açúcar e do café, dados revelam que pela igualdade prometida e decidem Toussaint levou a um descontenta-
que ousam virar a sociedade do aves- São Domingos representava 40 e depor a monarquia dos Bourbons. A mento generalizado, o que levou o
so experimentam. 60% das importações europeias des- aurora da República francesa era seu sobrinho, e General Moise, a li-
Naquele momento específico e sole- ses produtos. Das 17 milhões de li- uma ameaça a todos os poderes colo- derar uma rebelião, Toussaint, foi
ne da história, a história acelerou co- bras anuais que representavam o to- niais da altura, a coroa espanhola impiedoso executando Moise, e vi-
mo nunca tinha acelerado, combi- tal anual comércio colonial francês ofereceu apoio militar ao exército rando o curso da Revolução Negra
nou-se, mutou-se. Na montanha 12 vinham da colônia de São Domin- dos líderes negros, que combatem contra si.
figurativa gritou-se por Toussaint e gos, estimava-se que à colônia che- por Espanha, enquanto que paralela- Paralelamente Bonaporte, ascende
Biassot como se libertasse uma faz- gavam cerca de 40 mil escravizados mente, o clima de guerra entre bran- ao poder em França procurando re-
enda, e nas montanhas reais gritava- por ano, com uma elevadíssima taxa cos republicanos e monárquicos re- estabelecer a escravatura, Toussaint
se e guerrilhava-se por liberdade e de mortalidade devido ao ritmo inu- gressa, Inglaterra junta-se a Espanha vacila inicialmente, mas resiste sen-
igualdade como se estivesses nas mano de trabalho, num território na declaração de Guerra a França. do posteriormente capturado. Morre
ruas de Paris com as massas famintas onde viviam 500.000 negros, e so- Em todo esse período turbulento, no exílio em França.
ombro a ombro. mente 30.000 mulatos e um inúmero Toussaint, os seus homens e mulhe- A Revolução Francesa encerrava-se
As Revoluções são assim. Como um equivalente de brancos. res combateram e conspiraram, ten- ante o despotismo de Napoleão, po-
poder de tomada de consciência sú- A Revolução Haitiana, começa com a do em conta a sua sobrevivência en- rém a sua Revolução gêmea já não
bito como se algo de adormecido se Revolução Francesa de 1789, os tre 3 potências opressoras até que, poderia mais recuar ao seu estágio
apoderasse das pessoas e as fizesse franceses pobres e de classe média, no final de 1793, o clube dos jaco- inicial.
de instrumento vivo das tarefas dos disputam com os grandes proprie- binos toma o poder em França, a A Revolução Haitiana não morre
povos e da humanidade. A Revolu- tários os rumos de uma colônia de Montanha, liderou a revolução con- com Toussaint, negros e boa parte
ção Haitiana foi isso, e sobretudo foi uma nação em plena revolução, por tra todos os inimigos internos e ex- dos mulatos incendeiam o país intei-
uma revolução internacional. outro lado os mulatos pretendiam ternos, o que culminou, a 4 de Feve- ro recusando-se a ver a escravatura
Esses processos emancipatórios, cor- direitos plenos visto cumprirem im- reiro de 1794 na Abolição da Escra- restaurada, Dessalines, outro dos he-
respondem a uma determinada tare- portantes funções administrativas, e vatura, Paris em apoteose, perante a roicos generais de Toussaint, encara
fa, ou seja, uma determinada neces- tornaram-se alvo de linchamentos elevação da Grande Revolução. Os o espírito da libertação Negra.
sidade histórica que um grupo de in- pelas suas reivindicações. negros saltaram para as fileiras fran- Haiti, o nome indígena da Ilha.
divíduos precisa cumprir para avan- O fervor da França em ebulição trou- cesas e Toussaint e a sua tropa tam- A Independência ou a Morte, nunca
çar no seu estágio de construção po- xe um clima de radicalidade que vol- bém, lançando-se sobre os seus anti- a mensagem dos nossos antepassa-
lítica, econômica e social, daqui per- vidos dois anos culminou na revolta gos aliados espanhóis e o rema- dos saiu tão clara, ou libertação ple-
cebemos a dimensão que enuncia- de escravos incendiados pelos mais nescente das tropas negras que não na ou a Morte.
mos no início a Revolução Haitiana avançados prodígios dos direitos hu- avançaram para o lado francês. Es-
correspondia à necessidade dos afri- manos em França. Boukman iniciou panha capitula. 1º de Janeiro de 1804, Gonaives,
canos nas Índias Ocidentais, mas em 91 uma campanha sangrenta de Até 1799 os britânicos haviam perdi- Haiti.
também em todas as Américas e Áfri- libertação e queima de plantações. do 100 mil homens nas suas guerras
*Consciência Negra (Portugal) é um coletivo
ca, na verdade a Revolução Haitiana Em meras semanas o que eram pe- contra as Índias Ocidentais France- criado em 2015 com o objetivo de lutar con-
correspondeu também a necessidade quenos bandos revoltosos cresceram sas. Foram os negros que defende- tra o racismo, a xenofobia e a violência poli-
histórica de destruir o trabalho es- até a cifra de 100 mil lutadores, foi ram a República francesa enquanto cial.
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Haiti, 1 de Janeiro de 1804 porcional à abjecta violência impressa nos lientar que os homens e mulheres escraviza- ção da sua Independência, demonstra-nos
corpos do proletariado negro (11) – desdo- dos em Santo Domingo não esperaram que que a tensão entre as categorias classe e
Classe, Raça e brou-se numa Revolução Independentista e a Convenção pós-Revolução Francesa deli- raça, já naquela época, tinham um potencial
que, durante 12 anos fez face aos exércitos berasse sobre a sua libertação, mas sim, a revolucionário de conquistas civilizacionais
Independência! belicamente mais poderosos da época, pois sua revolta de 1791 impulsionou decisiva- mesmo perante ataques das potências políti-
Yussef* secundados pelas potências marítimas e im- mente a Convenção a ser coerente para com cas, económicas e bélicas de então. Como
périos coloniais da época – britânico, espa- os novos ideais da Revolução francesa e internacionalistas revolucionários, reivindi-
nhol e francês. Não obstante tal, saiu final- assim, abolindo a escravatura em 1794. camos a Revolução haitiana como todos os
“Sempre que um homem fez triunfar a
dignidade do espírito, cada vez que um
mente vitoriosa na épica batalha de Viertè- No período que medeia a abolição da escra- levantes onde o Homem “disse não a uma
homem disse não a uma tentativa de res, em 1803, proclamando a sua indepen- vatura em 1794 pela Convenção nacional e tentativa de escravização do seu seme-
escravização do seu semelhante, senti-me dência a 1 de Janeiro de 1804 com a desig- a decisão de Napoleão de promulgar o de- lhante”. Não existe forma mais honrosa de
solidário do seu acto.” nação de Haiti, tornando-se a 1ª nação inde- creto para retomar a escravatura nos territó- reivindicá-la do que estudá-la, entender as
pendente da América Latina e do Caribe e a rios do outre-mer em 20 de Maio de 1802 suas contradições seja como classe-nação
Frantz Fanon in Pele negra, Máscaras 1ª de toda a América onde a escravatura fo- (13) – cerca de 8 anos – a colônia de Santo revolucionária em acção sejam as contradi-
Brancas (1) ra abolida. Domingo, com a relativa autonomia con- ções internas de classe da sociedade colo-
quistada, permite a Toussaint L’Ouverture nial haitiana de então, vulgarizar o seu co-
posicionar-se tacticamente perante as potên- nhecimento, retirar ensinamentos para que o
cias, segundo o interesse de preservar o es- proletariado internacional, nomeadamente o
tatuto de região livre da escravatura, e con- africano e afrodescendente, crie vários
segue repelir o ataque dos impérios britâni- “Haitis” onde não exista opressão e explora-
co e espanhol. ção do Homem pelo Homem.
Depois da entrada do “Termidor” na Revo-
lução Francesa (14) – o golpe do 18 Bru- *Yussef, do Movimento Africano de Traba-
mário do ano VIII pelo calendário da Revo- lhadores e Estudantes – RGB
lução Francesa ou de 9 de novembro de
1799 no calendário gregoriano – com todo o 1)http://classiques.uqac.ca/classiques/fanon_fran
retrocesso para as conquistas revolucioná- z/peau_noire_masques_blancs/peau_noire_masq
rias que tal representou, e a reboque da bur- ues_blancs.pdf; consultado em 26 de Janeiro de
guesia marítima como cônsul dos seus inte- 2020; pg.,224; tradução livre
2)Sobre a ditadura do proletariado in Cadernos
resses, Napoleão quis restabelecer a escra-
Ulmeiro, nº4
vatura nas colônias das Índias Ocidentais 3)Cabral, Amílcar in Unidade e Luta, a Arma da
francesas. A tentativa foi gorada em Santo Teoria – Unidade e Luta, Lisboa, Seara Nova,
Domingo – na histórica batalha de Viertè- 1976, pg.,203
res, em 1803. Perdida a colônia mais prós- 4)https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k84479z/f
pera aos olhos do colonialismo em geral, 93.item.r=Code+Noir.langFR ( art., XLIV)
mas nomeadamente do colonialismo fran- 5)Mandel, Ernest. Introdução ao Marxismo,
cês, a região da Louisiana que deveria servir 2ªed.Lisboa, Antídoto, 1978, pg.19
como região de comércio dos produtos da 6)N’diaye, Tidiane. Le génocide voilé,
Gallimard, 2008, pg.,154
colônia de Santo Domingo, será alienada
7)https://historystack.com/Year_1526
por Napoleão. À época era composta pela 8)https://www.pbs.org/wnet/african-americans-
actual Louisiana mas igualmente toda a many-rivers-to-cross/history/did-african-
vasta região à qual corresponde todo o cor- american-slaves-rebel/
redor territorial entre uma parte sul do 9)https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes
actual Canadá até ao Texas e do Mississippi /?temas=palmares-um-reino-africano-no-brasil
às Montanhas Rochosas dos presentes dias 10)https://yaqeeninstitute.org/margarita-
(15). rosa/duas-of-the-enslaved-the-male-slave-
Já com a colônia de Santo Domingo trans- rebellion-in-bahia-brazil
11)La vie quotidienne des esclaves sur
formada no Haiti independente, o seu 1º
l’habitation dans la Saint-Domingue française au
Presidente, Alexandre Pétion (16), em 1815,
A História da humanidade é a História da O proletariado negro escravizado de Santo XVIIIe siècle: regards de planteurs, de
acolhe Simon Bolívar enquanto refugiado voyageurs et d’auteurs européens
Domingo, liderado em diferentes períodos
luta de classes (2) – a partir de um de- político e proporciona-lhe todas as condi- 12)James, C.R.L., The Black Jacobins –
por Dutty Boukman, Toussaint L’Ouverture
terminado estágio de desenvolvimento das ções econômicas e logísticas bélicas para Toussaint L’Ouverture and the San Domingo
e Jean Jacques Dessalines, deu um contri-
forças produtivas conjugado com um deter- que voltasse a empreender a campanha de Revolution, 2ªed.,New York, Vintage
minado tipo de regime de propriedade, buto fundamental para o processo da Revo-
libertação da América dominada pelo impé- Books,1963,pg.,141
acrescentou Amílcar Cabral no discurso de lução francesa – num processo dialéctico de 13)https://www.herodote.net/20_mai_1802-
rio espanhol, colocando a este uma única
1966 na Tricontinental em Havana (3). influências recíprocas – e pela sua acção evenement-18020520.php
condição para esse apoio: com a vitória de
A luta pela Independência do Haiti insere-se independentista e enquanto como conse- 14)O Termidor foi o golpe que derrubou
Bolívar, que ele proclamasse a libertação de
nos anais da História como um dos momen- quência colateral, forjou a História do con- Robespierre, os jacobinos e a pequena
todos os escravos (17)!
tos em que as condições objectivas de ex- tinente Americano, tanto no norte como no burguesia, marcando o regresso da alta
A geopolítica mundial assente na força béli- burguesia ao poder. Ocorreu a 27 de julho de
ploração econômica catapultaram o proleta- sul. Aqui exaltamos e enfatizamos o impac-
ca e umbilicalmente impregnada da necessi- 1794 (9 Termidor no calendário revolucionário)
riado da colônia de Santo Domingo para to geoestratégico que a luta revolucionária
dade de “remettre les négres a leurs places”, representando o fim do jacobinismo, o princípio
uma luta de classes revolucionária modifi- teve.
A Revolução francesa, no seu período entre i.e., a necessidade do colonialismo obliterar do Diretório (1795-1799) e entreabrindo o
cadora do seu estatuto jurídico, outrora de o exemplo haitiano, o apartheid e embargos período de Napoleão Bonaparte (1799 a 1815).
homens e mulheres escravizados i.,e., bens Março de 1793 e Julho de 1794, mergulha-
colectivos impostos ao Haiti, obriga este a Representou o princípio do fim da revolução
móveis, para cidadãos (4). da na vontade do seu povo revolucionário – francesa. Como analogia, termo retomado por
servos, camponeses e artesãos –, juntamente aceitar as condições da França para o seu
A História já nos demonstrou que a tradição reconhecimento oficial. Compensações e re- Leon Trotsky no livro “A Revolução traída” para
de resistência contra a opressão e a explo- com os radicais jacobinos, em acabar com a designar a burocracia estalinista como carrasco
tirania e opressão próprias da época – quer parações pela perda das propriedades e es- da Revolução russa.
ração, seja explícita ou implícita, é intrín- cravos libertos são impingidos ao Haiti – a
seca aos Homens, em todas as épocas. A fossem os privilégios da “aristocracia de 15)https://history.state.gov/milestones/1801-
sangue ou religiosa”, quer fossem os “da par com a forte pressão militar “atracada” às 1829/louisiana-purchase
Revolução haitiana é herdeira, em diferen-
aristocracia de cor”, onde quer que se costas haitianas que nos remetem para a “di- 16)Jean-Jacques Dessalines corou-se imperador
tes dimensões, impactos e réplicas, na An-
encontrassem arraigados – e instigada fun- plomacia de guerra”. O Haiti teve, literal- e não Presidente.
tiguidade, da revolta de Spartacus contra o https://www.britannica.com/biography/Jean-
damentalmente pela revolta em massa de mente, que comprar o seu reconhecimento
império romano (5), a Revolta dos Zendjs Jacques-Dessalines
escravos nas apelidadas Índias Ocidentais, internacional (18).
no império Abássida (6) e, na era Moderna, 17)Bolivar, Simão. Escritos políticos, Lisboa,
concretizou uma espécie de solidariedade No século XX, a ilha vizinha de Cuba – 3
a primeira revolta de africanos escravizados Editorial Estampa,1977.
internacionalista avant la lettre, consubstan- anos após a Revolução de 1959 – mutatis
e índios nativos na América do Norte datada 18)https://theconversation.com/when-france-
ciada, aquando da Convenção nacional de mutandis, sofreu o mesmo tratamento dos extorted-haiti-the-greatest-heist-in-history-
de 1526 e conhecida como a revolta de San
Janeiro de 1794, na firme exigência da Estados Unidos com um embargo econômi- 137949
Miguel de Gualdape (7). Ainda, herdeira da
revolta que originou o Quilombo dos Pal- efectivação da abolição da escravatura (12), co (19). O conceito de dívida impagável, 19)https://time.com/4076438/us-cuba-embargo-
mares (9), ou a “Stono Rebellion” (8), etc., não obstante a recalcitrância da burguesia porque imoral como dizia Thomas Sankara, 1960/
– bem como de tantas outras que a História marítima. Esta mesma revolução francesa – não pertence somente à segunda metade do 20)Sankara, Thomas. Venceremos!, Lisboa,
século XX (20) e as dívidas artificiais de Falas Afrikanas,2020,pg.,95
Contemporânea ainda não resgatou – e seria possibilitada pela brutal acumulação de ca-
ontem impostas ao Haiti, ainda hoje se re- 21)https://www.aaihs.org/frederick-douglass-
percursora, a título de exemplo, da revolta pital que a burguesia francesa pôde fazer haiti-and-diplomacy/
dos Malês (10), e demais lutas com a eterna com a exploração do trabalho escravo na flectem na realidade concreta da sua classe
22)http://basefut.pt/institucional/a-comuna-de-
bandeira do humanismo revolucionário. então chamada colônia de Santo Domingo – trabalhadora… Ditas em 1893, as palavras
paris-o-assalto-aos-ceus/
A diferença qualitativa é que a revolta na actual Haiti – e demais colônias, fortale- de Frederick Douglas ainda ecoam: “Did “Lançaram-se ao assalto do céu”, foi a imagem
colônia outrora designada Santo Domingo – cendo a burguesia para a “sua revolução” – the USA and the other nations ever forgive encontrada por Karl Marx ao referir-se a esse
em que a imensa riqueza produzida pelo deu impulso a uma outra: a Revolução hai- Haiti for being black?(21)”. feito audacioso realizado pelo proletariado fran-
trabalho escravo, fazendo dela a colônia tiana magistralmente descrita na obra “Ja- A Revolução no Haiti, atingido o seu “assal- cês de proclamação da Comuna de Paris em 28
mais próspera do hemisfério Norte, era pro- cobinos negros” de C.L.R. James. De sa- to aos céus (22)” em 1804 com a proclama- de Março de 1971.
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As mulheres e suas contribuições na Revolução do Haiti


T a t i N e f e r t a r i *

A Revolução Haitiana como ficou mens e mulheres, em conjunto, a tos mais importantes, conhecido co- selhou e ensinou o seu povo a ler e
conhecida foi um levante feito por história branca “apagou” as mesmas, mo a batalha de Creta a Pierrot que escrever. Durante 1804 a 1806 ela
africanos escravizados que culminou que em grande medida foram tão ocorreu entre 4 de março a 24 de foi a Imperatriz do Haiti ao lado de
no processo de independência e abo- importantes como Toussaint e Dessa- março de 1802, onde combateram o seu marido Dessalines.
lição da escravidão no oeste da ilha lines, e tiveram um papel fundamen- exército francês que contava com Ela é homenageada com a Fondation
de São Domingos (Saint-Domingue), tal na revolução desde seu início. mais de 12.000 homens, suas armas Marie Claire Heureuse Félicité Bo-
que na época era uma colônia fran- eram sua espada e um rifle, foi assim nheur Dessalines – FONDATION FE-
MAS, QUEM FORAM ESSAS
cesa. Apesar de a revolução ser data- MULHERES? que no momento crucial da batalha, LICITE (FF), fundação que atua a
da durante os anos de 1791 a 1804, Marie Jeanne toma a frente e conduz mais de 13 anos no Haiti desen-
Cécile Fatiman era uma Mambo, que a vitória. Após esse confronto, ela volvendo vários programas envol-
com 12 anos de luta intensa, é im-
significa uma sacerdotisa ancestral passa a ser a chefia da segurança de vendo a luta de Felicité, como a al-
portante destacar que os africanos
do culto aos Lwa – ou Loa –, mais Dessalines e segundo relatos, a única fabetização de adultos e crianças.
escravizados nunca aceitaram a con-
conhecido como voduns. Vudu era a vez que Dessalines correu risco de Catherine Flon foi mais uma das he-
dição de escravo e muito parecido
religião dos Africanos levados para o morte foi quando ela não estava no roínas da revolução Hatiana e assim
com o processo aqui no Brasil, eles
Haiti, ou como costumavam chamar comando. Ela é tida como mais uma como Marie Claire também prestou
resistiam e através da fuga forma-
“religião ancestral do Haiti”, Cécile heroína da revolução Haitiana e é serviço de saúde, sendo enfermeira
vam comunidades pretas-livres, co-
ao lado de Dutty Boukman foi res- homenageada no selo postal do ano dos guerrilheiros, mas é lembrada
mo os quilombos, esses foram os Ma-
ponsável pela cerimônia mais impor- de 1954. por todos por ter costurado e dado
roons, termo utilizado em países ca-
tante do Vodu na história do Haiti, Marie Sainte Dédée Bazile, conheci- vida a primeira bandeira do Haiti, a
ribenhos para designar os africanos e
que foi a cerimônia Bwa Kayiman ou da também como Défilée-La-Folle, bandeira do Haiti teve um significa-
seus descendentes que conseguiram
Bois Caiman de agosto de 1791, na foi uma africana escravizada que ao do racializado, onde o vermelho +
fugir da escravidão nas Américas e
qual todas as pessoas presentes se ser estuprada pelo seu senhor desen- azul representava a união do povo
criar comunidades independentes. É
comprometeram com a luta pela li- volveu um transtorno mental aos 18 preto, entre os ainda escravizados e
através dessa resistência que um es-
berdade, e todos ali tinham a missão anos e esse foi um dos motivos que os que já eram “libertos”, tido com
cravizado liberto conhecido como Vi-
de se vingarem de seus opressores ela apresentou para se juntar a revo- um símbolo da revolução, abolindo
cent Ogé lidera um levante armado
franceses dando início assim a revo- lução, ela passou a servir ao exército implicitamente escravidão e repres-
contra os brancos na ilha que teve
lução do Haiti, que após uma sema- de Dessalines, onde marchava ao la- são.
muita adesão:
na 1.800 plantações já tinham sido do dos soldados os fornecendo arma- Catherine Flon é homenageada em
“Numa primeira série de operações que destruídas e 1.000 proprietários de mentos e munições, ao decorrer de uma nota 10 Gourdes e também em
durara um mês, os escravos destroem escravos mortos. Cecile Fatiman não suas funções na luta viu seus filhos muitas escolas do Haiti.
tudo. Como labaredas sobre a palha se- participou ativamente da revolução
ca, as palavras de ordem ‘morte aos serem mortos pelos franceses o que As mulheres pretas estiveram lado a
brancos’ ganham as planícies. Chegara
ou lutou na batalha, mas foi sua agravou ainda mais o seu transtorno. lado de seus homens e crianças na
o momento há muito esperado. Nas fa- orientação espiritual e poder ances- Ela é lembrada como uma “mulher luta pela libertação de seu povo, e a
zendas, as senzalas sabem o que fazer. tral que levou outros africanos escra- da guerra, coração indomável que ti- história do Haiti é repleta de mu-
Em poucas semanas de luta, os insur- vizados a lutar, tendo assim um nha um gosto pela aventura (…) lheres que como em África (a popu-
gentes chegam a mobilizar mais de cem enorme impacto na revolução, e é amava convulsões revolucionárias e lação escravizada do Haiti era majo-
mil combatentes.”[1] altamente respeitada pelo seu povo. mostrou aos soldados de indepen- ritariamente nascida em África e não
Esse levante antecede a revolução do Os Haitianos ainda hoje prestam ho- dência benevolência de uma heroí- na diáspora Africana, o que fez com
Haiti, e entre esses combatentes de menagem a ela e a outras pessoas na”.(4) Dédée é tida como mais uma que culturas, a maneira de se organi-
Vicent Ogé estava Toussaint Louver- revolucionárias participando da tra- heroína da revolução Haitiana e lem- zarem e a construção de sociedades
ture, que lidera a revolução que co- dição de comer Soup Joumou (sopa brada por todos por ter recuperado africanas estivessem mais vivas) as-
meça após a morte de Ogé, a captura de abóbora) no dia do Ano Novo co- os pedaços do corpo de Dessalines sumiram a linha de frente do com-
e morte do líder do levante serviu mo uma homenagem aos escraviza- que foi esquartejado. bate como podemos notar nas guer-
para inflamar a luta dos pretos pela dos recém-libertados que comeram a Henriette Saint Marc foi uma espiã e reiras Ahosi ou Mino, conhecidas co-
liberdade. Toussaint ao assumir o sopa proibida anteriormente no pri- traficante de armas para o Exército mo as guerreiras de Daomé, as Can-
posto de líder dá início a revolução meiro dia da independência. de Toussaint durante a revolução, daces, entre outras que destaca o
em 1791: Suzanne Sanité Bélair descrita como por ser considerada uma mulher bo- legado do matriarcado africano.
a Tigresa da Revolução era uma nita e muito atraente, a qual os sol- Assim, as mulheres do Haiti surgem
“Irmãos e amigos. Eu sou Toussaint afranchi (pessoa preta livre) que par-
Louverture; talvez meu nome seja co- dados franceses não resistiam, ela dessa linhagem e mantém presente a
nhecido de vós. Eu empreendi a vin- ticipou ativamente na luta contra a usava dessa sua estratégica de sedu- luta ancestral das mulheres africa-
gança de minha raça. Eu quero que a escravidão, ela serviu ao exército de zir tendo a missão não somente vi- nas, que já existiam e estavam em
liberdade e a igualdade reinem em São Toussaint L’Ouverture como sargen- giar os soldados franceses como tam- movimento muito antes de qualquer
Domingos. Eu trabalho para que isso to e devido a suas habilidades e con- bém roubar suas armas e suas mu- ideologia criada pelo ocidente. Que
aconteça. Uni-vos irmãos e combateis quistas tornou-se uma tenente lide- nições. Ela foi fundamental para a possamos conhecer, exaltar e honrar
comigo pela mesma causa. Arranque- rando a maioria das batalhas em revolução haitiana, não somente por o legado de todas essas mulheres, e
mos pela raiz a árvore da escravidão.
L'Artibonite, sua cidade natal. Foi suas informações e fornecimento de construir nosso movimento a partir
Vosso muito humilde e obediente ser-
vo. Toussaint Louverture, General do responsável pelo levante de quase armas, mas também por ser respon- de nossas referências.
exército do rei, pelo bem do povo.”[2] toda a população escravizada contra sável pelas emboscadas feitas para Assim como Cécile Fatiman, Suzanne
seus senhores de escravos e ganhou matar os soldados franceses. Ela foi Sanité, Marie-Jeanne Lamartiniere,
A partir desse momento, liderados ainda mais destaque ao participar do presa e imediatamente condenada a Dédée Bazile, Henriette Saint Marc,
por Toussaint L’Ouverture, os Haitia- confronto com o exército de Napo- pena de morte, o que causou uma Félicité, Catherine Flon, a história do
nos continuam bravamente sua luta leão. Infelizmente Bélair é capturada revolta ainda maior entre os escravi- Haiti é composta por grandes mulhe-
pelo fim da escravidão e por sua li- pelos franceses e em 5 de outubro de zados. res como Brigitte, Concubina de Ro-
berdade, derrotando os senhores de 1802 é condenada à morte por deca- Ela é homenageada com a Ecole det e todo o movimento de mulheres
escravos da ilha, 60 mil soldados en- pitação e mesmo diante a morte ela Henriette Saint-Marc – Escola Hen- envenenadoras, que foram, como co-
viados pela força inglesa e também manteve sua bravura e se recusou a riette Saint-Marc, sendo também nhecemos “escravas da casa” que ao
derrotaram os 43 mil soldados do pôr a venda e em seu último ato re- mais uma das heroínas da revolução alimentar seus senhores os envene-
exército francês de Napoleão Bona- volucionário ela gritou para o seu Haitiana. navam e possibilitaram a fuga de ou-
parte, que era tido como o melhor povo “Viv Libète anba esklavaj!” – Marie Claire Heureuse Felicité Bo- tros escravizados.
exército, o invencível. Toussaint é (Liberdade, não para a escravidão!). nheur durante a revolução atuou co-
preso e morto em 1803 pelos france- [3] *Tati Nefertari – pan-africanista, mem-
mo enfermeira, cuidando dos feridos
ses e seu guerrilheiro Jean Jacques Suzanne Sanité Bélair é tida como bra da Ujima Povo Preto e coordenadora
e salvando muitas vidas, ela foi res-
Dessalines assume a liderança e con- uma heroína da revolução Haitiana e da Biblioteca Comunitária Assata Sha-
ponsável por liderar uma procissão
duz o povo a vitória, e em primeiro em 2004, apareceu na nota de 10 kur.
de mulheres e crianças com comidas,
de janeiro de 1804 declara a Inde- gourde para a série comemorativa roupas e remédios para atender ci- Referências:
pendência da Ilha de São Domingos, do “Bicentenário do Haiti”. dades sitiadas, como aconteceu com [1] Dossiê Haiti – Ailton Benedito de Sousa
que passa a se chamar AYITI (em Marie Jeanne Lamartiniere foi uma [2] Discurso de Toussaint, livro: La colonie
Jacmel em 1800 (Cerco de Jacmel)
português: Haiti) a primeira Repúbli- soldada durante a revolução haitia- française de Saint-Domingue: de l'esclavage à
para além de suas ações como en- l'indépendance
ca-Nação Preta fora da África. na, uma mulher forte e feroz que foi fermeira, Félicité também trabalhou [3] Livro: Os Jacobinos Negros – C.L.R. James
Apesar da revolução do Haiti ter sido responsável por conduzir e inspirar no campo da educação onde acon- [4] Memória Mulheres. Port-au-Prince:
uma revolução composta por ho- outros soldados em um dos confron- UNICEF HAITI
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Entre Cabo ção com colônias americanas, britâ- pela liberdade, dando início a revo- Nós mulheres surgimos dessa linha-
V e r d e e Ay i t i , nicas e espanholas. Mas depois de lução do Haiti. Podemos dizer que a gem e temos que manter presente a
século de escravidão e vivendo sob orientação espiritual de Cecile atra- luta ancestral das nossas irmãs afri-
o papel das
decreto “Code Noir”, em 1791 insta- vés do poder ancestral levou outros canas, que existiram e estiveram em
mulheres
lou a revolução dos escravizados le- Africanos escravizados a lutar pelo movimento muito antes de qualquer
africanas na vando à eliminação da escravidão e fim da escravidão e o colonialismo. ideologia criada e imposta pelo oci-
luta pela à independência em primeiro de ja- Marie Jeanne foi uma mulher guer- dente. Que possamos conhecer, exal-
emancipação neiro de 1804, a primeira Republica- reira, responsável por conduzir e ins- tar e honrar o legado de todas he-
Kuletivu Panafrikanu di Mudjer* Nação negra fora da África. pirar outros soldados em um dos roínas africanas dentro e fora do
Apesar da revolução do Haiti ter sido confrontos mais importantes – Bata- continente, e (Re)construir nossa
uma revolução composta por ho- lha de Creta a Pierrot –, que ocorreu história a partir de nossas referên-
Todos nós que iniciamos no mundo
mens e mulheres, a história pouco em 1802 contra o exército francês, e cias. A Revolução Haitiana represen-
do ativismo, passamos por várias
menciona que as participações da levou a vitória. Ela passa a ser a ta um marco importante para o povo
etapas e processos. O que nos motiva
mulher foram tão importantes quan- chefia da segurança de Dessalines. Africano assim como, um ponto de
é a revolta, o trauma e o cansaço da
to a Toussaint Louverture, que lide- Existiram várias outras mulheres co- reflexão e questionamento sobre o
mesma história que se repete. Nosso
rou a revolução, e Jean-Jacques Des- mo Marie Sainte Dédée Bazile; Hen- real objetivo da nossa luta. Qual é o
trauma do passado que caminha de
salines que assume a liderança após riette Saint Marc; Catherine Flon; sentido da luta anticolonial? Por que
mãos dadas com o presente é uma
a morte de Toussaint em 1803 e con- Marie Claire Heureuse Felicité Haiti segue subdesenvolvido? Todas
chama para atear o desejo de fazer
duz vitória da Independência da Ilha (Memória Mulheres. Port-au-Prince: ex-colônias apesar de possuírem um
mudanças.
de São Domingos, que passa a se UNICEF HAITI), que estiveram lado governo (de)independente, a socie-
A história do nosso povo dentro e
chamar AYITI (Haiti). As mulheres a lado dos homens, assumindo a li- dade continua profundamente afeta-
fora do continente está repleta de
desenvolveram um papel fundamen- nha de frente do combate na luta da pelos padrões estabelecidos pelos
atos e atitudes heroicos protagoniza-
tal de liderança e articulação na re- pela libertação de seu povo haitiano. colonizadores. Muitos dos que fize-
dos por mulheres fortes, guerreiras e
volução Haitiana (1791-1804)… À semelhança do Haiti, Cabo Verde ram parte da luta pela libertação se
inteligentes, destemidas e decididas, Mas, quem foram essas mulheres? também conheceu mulheres revolu- tornaram elite usando seu capital so-
espiritualmente seguras e racional- Sanité Bélair, soldado do exército de cionárias como Nhanhã Bongolon cial para adquirir e acumular rique-
mente convictas. Da antiguidade Toussaint Louverture (1743-1803), (Ana da Veiga) célebre líder da Re- za. Hoje muitos dos nossos gover-
clássica até a atualidade não faltam liderou rebelião de escravos em volta de Ribeirão Manuel contra os nantes se identificam mais com os
exemplos de heroínas, líderes, gover- L’Artibonite. Lutou bravamente con- rendeiros das terras agrícolas em opressores do que com seu próprio
nadoras, rainhas negras que marca- tra o exército de Napoleão (Pinquiè- Santa Catarina, em novembro de povo. É sério isso!!!! É urgente tratar
ram positivamente a história. Entre- re, 2020). Bélair é capturada pelos 1910. Igualmente, conheceu mulhe- a Síndrome de Estocolmo dos nossos
tanto, não podemos esquecer que franceses e condenada à morte por res envolvidas na luta de libertação governantes.
muitas dessas histórias ficaram enco- decapitação em 1802 e mesmo dian- nacional como Lilica Boal, Paula For-
bertas. te a morte ela manteve sua coragem tes, Amélia Araújo entre outras tan-
1 de Janeiro, início do ano, marcado e valentia gritando para o povo – tas mulheres. Segundo Diop, as mu-
por uma grande vitória! A indepen- “Viv Libète anbaesklavaj!” [Liberda- lheres africanas já eram rainhas e
dência do povo Haitiano, em 1804. de, não para a escravidão] (James, guerreiras, com participação na vida
A história colonial de Haiti, antiga- 2003). Hoje é reconhecida como he- pública e política desde antiguidade.
mente chamada de Hispaniola, inicia roína no Haiti, a sua bravura ultra- Cita exemplos de nomes como Can-
com a ocupação dos espanhóis ao fi- passa fronteiras e inspira mulheres dace (Rainha de Sabá) na Etiópia e
nal do século XV e depois pela ocu- negras em todo o mundo. Hatshepsut, rainha no Egito entre
pação dos franceses no século XVI. Cécile Fatiman era uma sacerdotisa outras. Esses são alguns exemplos de
Após esvaziar as riquezas e extermi- ancestral do culto aos Lwa, conheci- figuras femininas negras que a his-
nar a população originária, iniciou- do como voduns, Voduns é uma prá- tória reporta. Historicamente o berço
se a escravatura dos africanos, com o tica ancestral dos africanos levados Sul, como define Diop, de cultura
regime de plantação e produção do para o Haiti. Cécile foi responsável matriarcal, o poder da mulher é ba-
açúcar, do qual em três séculos a Eu- pela cerimônia mais importante do seado no seu importante papel eco- *Baseada em Cabo Verde, o Kuletivu
Panafrikanu di Mudjer é uma comu-
ropa recebeu milhões com esta práti- Voduns na história do Haiti – Ceri- nômico, na sacralidade da mãe e na
nidade de mulheres africanas interessa-
ca. No final do século XVII, Haiti se mônia Bwa Kayiman em agosto de sua autoridade ilimitada, e as mulhe- da na valorização e reconhecimento da
transformou em uma das colônias 1791, na qual todas as pessoas pre- res eram emancipadas na vida do- família negra e estriba os seus valores
mais ricas do mundo, em compara- sentes se comprometeram com a luta méstica (Amadiume, 1989). no matriarcado do berço sul.

Imigrantes e as Forças de Ordem na Capital Paulista

Jean Wilnick Cadet

Se para os brasileiros o Brasil é bom, para os Um lado concorda em ir para o Exército para a morte porque não queria deixar os agentes
não depender de alguém. Outros esperam que da prefeitura levarem seus bens.
imigrantes é um pouco diferente. A polícia
algumas transferências sobrevivam – em um Poder-se-ia registrar muitos atos bárbaros
continua a evacuar os pequenos comerciantes
país onde um dólar vale 5,70 reais. desses agentes que não precisam saber como
nas ruas de São Paulo.
Apesar da brutalidade da polícia e dos agentes vivem esses imigrantes. O que eles fazem com
Antes da pandemia o número de desemprega- da prefeitura, pequenos comerciantes e imi- essas mercadorias? Por que a prefeitura de
dos era alto. Segundo o IBGE (Instituto Bra- grantes se aglomeraram na região em busca de São Paulo não tenta regularizar as ambulan-
sileiro de Geografia e Estatística), um total de algo para viver. tes?
12 milhões de pessoas estavam desemprega- Todos os dias os policiais maltratam comercian- Trabalhar no braço é a única maneira de en-
das, mas durante a pandemia este número tes nas, mas eles são obrigados a continuar contrar um emprego digno, pois com a bar-
está aumentando. Os mais confrontados com suas atividades. Vender no Brás, região central reira da comunicação muitos deles não conse-
esta crise são os imigrantes, que não têm da cidade, é sua única esperança. guem encontrar um emprego digno.
membros da família para apoiá-los nos mo- Casos não faltam, como o caso da morte de Afinal, a polícia não sabe como vive um imi-
mentos mais difíceis. uma mulher senegalesa, que foi espancada até grante?
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Haïti, le premier souffle du de 150 millions de francs or pour dédomma-ger tendu par les Français qui disaient vouloir né-
les anciens propriétaires «victimes» de l’es- gocier la paix, est déporté dans le Jura où il
panafricanisme révolutionnaire clavage. Haïti pose ainsi la naissance de la det- meurt dix mois plus tard. Il part en laissant un
te mais aussi du néocolonialisme. message qui continue de résonner jusqu’à nos
Amzat Boukari-Yabara* jours: «En me renversant, on n’a abattu que le
tronc de l’arbre de la liberté des Noirs. Il re-
L’histoire d’Haïti est exceptionnelle. Les habi- poussera par les racines parce qu’elles sont
tants originels de ce territoire insulaire sont nombreuses et profondes.» Immédiatement,
soumis à partir de la fin du XVe siècle à la Dessalines prend la tête de la résistance, fédè-
brutalité coloniale européenne, qui déporte en re les troupes et remporte la victoire finale à
parallèle des millions d’Africains réduits en es- Vertières le 18 novembre 1803. Le 1er janvier
clavage. Au XVIIIe siècle, l’île qui porte alors le 1804, Dessalines peut proclamer l’indépendan-
nom de Saint-Domingue est partagée entre les ce de la République noire d’Haïti.
Français et les Espagnols. Saint-Domingue est La révolution haïtienne montre que l’usage de
alors la colonie la plus riche des Amériques. la force est parfois bien plus efficace que de
Pour produire le sucre, le café, le coton et tous longs discours sur la liberté, l’égalité ou les
les produits tropicaux qui permettent le fonc- droits de l’homme. Les premiers concernés se
tionnement des sociétés européennes, des cen- sont levés, ont pris en mains leur destin pour
taines de milliers d’esclaves travaillent dans arracher leur indépendance. «Koupé Têt, Bou-
des plantations qui ressemblent à des camps lé Kay» devient un cri de rassemblement. Ils
de concentration. Ils travaillent jusqu’à la mort ont coupé la tête du colon, brûlé son habi-
pour le profit d’une petite minorité de colons tation et détruit l’appareil de production capi-
blancs, à peine trente mille, qui fait face à une taliste. Là où le révolutionnaire français hési-
autre minorité d’environ trente mille libres de tait à rompre avec ses privilèges de colon, les
couleurs. Ces derniers cherchent à obtenir plus Africains ont décidé pour de bon d’en finir
de droits et de libertés, à se rapprocher du avec l’esclavage. Deuxième État à prendre son
statut des blancs quitte à devoir marcher sur indépendance dans les Amériques après les
les cinq cent mille esclaves noirs. Et africains, États-Unis, première décolonisation de l’histoi-
car pour la très grande majorité, nés en Afri- re de France, et surtout première victoire des
que. dominés qui renversent l’ordre établi et créent
À l’été 1789, alors que la révolution éclate en un État qui ose tenir tête aux grandes puissan-
France, les colons de Saint Domingue refusent ces de l’époque.
de renoncer à leurs privilèges. Patriotes, ils Ainsi est né le panafricanisme politique. Dans
sont prêts à prendre leur indépendance si ja- l’adversité, dans un chaos constructif, porteur
mais leur droit à la propriété était menacé par Un autre avis répandu dans les milieux haïtiens de nombreuses création culturelles. Haïti, pre-
la métropole. Ce sont les esclaves qui vont di- et panafricains est que Toussaint Louverture mière et unique victoire d’un peuple réduit en
rectement régler le problème. Dans la nuit du aurait bénéficié d’une meilleure représentation esclavage sur ses colons. Victoire totale car
14 août 1791, les Africains de Saint-Domingue dans l’histoire car il aurait été plus conciliant l’esclavage et le colonialisme sont abattus en
font serment, lors d’une cérémonie vaudoue, avec les blancs que Dessalines. Toussaint a même temps. Haïti, premier État hors du con-
d’arracher leur liberté. Dans les semaines qui néanmoins sorti Saint-Domingue de l’orbite co- tinent africain, directement administré par des
suivent les insurgés s’attaquent aux planta- loniale en s’appuyant sur les masses, en dé- Africains et leurs descendants. Anti-esclava-
tions et obligent les propriétaires à fuir. jouant les intrigues des Anglais et des Français, giste, anti-raciste, anti-colonialiste et anti-capi-
Face à la crainte de voir les Espagnols et les ainsi que des colons et des mulâtres. Stratège taliste, Haïti pose les critères du panafricanis-
Britanniques en profiter pour s’emparer de militaire mais aussi fin diplomate, il contrôle me politique. Et solidaire car la jeune nation
l’île, les commissaires envoyés par Paris pour Saint-Domingue pour la France à partir de vient en aide à Simon Bolivar dans sa quête
reprendre le contrôle de la colonie ne peuvent 1797, avec les fonctions de commandant en pour libérer les colonies espagnoles de Grande
que reconnaître la libération des esclaves dès chef et gouverneur. Autoritaire, il refuse de Colombie. Le panafricanisme enfante ainsi une
le 29 août 1793. Cette abolition n’est officiel- réorganiser fondamentalement l’activité écono- partie du bolivarisme.
lement entérinée au Parlement français que le mique fondé sur le régime de la plantation ce Solidarité bien plus tard avec l’Ethiopie de Mé-
4 février 1794. Entre temps, Toussaint Louver- qui amène ses compatriotes à s’interroger sur nélik II, qui nomme pour aide de camp l’écri-
ture, entouré de quelques centaines d’hommes sa volonté d’aller jusqu’au bout de la liberté. vain haïtien Bénito Sylvain. Solidarité avec
dévoués et entraînés à l’art militaire, est deve- Là où les Africains s’inquiètent de voir Tous- l’œuvre magistrale d’Anténor Firmin, De l’éga-
nu l’homme fort de Saint-Domingue en re- saint faire le jeu des colons, les colons et le lité des races humaines, publié en 1885, au
poussant les Espagnols et en infligeant aux gouvernement français estiment au contraire, moment même où l’Europe se jettait littérale-
Britanniques leur plus grande défaite militaire avec une grande inquiétude, que Toussaint pré- ment sur l’Afrique et qui faisait déjà la dé-
à l’époque. pare en réalité l’indépendance de Saint-Domin- monstration de l’existence de grandes civilisa-
Comme le souligne l’historien panafricain et gue. En 1801, il établit une Constitution qui tions africaines dans la vallée du Nil pouvant
militant marxiste CLR James, les Africains ont témoigne effectivement d’une préparation pour servir à forger une renaissance africaine. Plus
compris qu’il fallait attaquer le système escla- aller à l’indépendance. En France, Napoléon est que jamais, la révolution haïtienne a allumé le
vagiste à la racine car l’oppresseur ne renonce de plus en plus agacé par le comportement de feu de la stratégie de libération panafricaniste.
jamais, ne reconnaît sa défaite que pour trou- Toussaint qui refuse de faire allégeance. Et Il est maintenant temps de redonner à Haïti ce
ver un temps de répit afin de «comploter en surtout, Toussaint refuse d’attaquer la Jamaï- qu’elle a donné au panafricanisme, avec les in-
essayant de reconquérir la puissance et les pri- que comme Napoléon le lui demande. L’indé- térêts.
vilèges perdus.» C’est parce que la leçon de la pendance d’un pays n’est-elle pas justement *Amzat Boukari-Yabara – Historien et secrétaire
révolution haïtienne n’a pas été assez bien re- visible dans le refus de mener les guerres déci- général de la Ligue Panafricaine – UMOJA*
tenue que plus tard, Frantz Fanon aura une dées par d’autres, et dans la fermeté à choisir [amboya2000@yahoo.fr]
formule similaire, reprochant aux «Africains nos amis comme nos ennemis?
*A Liga Panafricana-Umoja (LP-UMOJA) define-se co-
d’avoir oublié que l’ennemi ne recule jamais Finalement, Napoléon envoye l’expédition la mo uma organização política federal estruturada em
sincèrement. Il ne comprend jamais. Il capitu- plus importante de l’histoire militaire française seções territoriais presentes em todo o continente afri-
le, mais ne se convertit pas.» pour tenter de rétablir l’esclavage d’abord en cano e na Diáspora.
C’est parce qu’elle est profondément corrom- O objetivo da LP-UMOJA é unir os pan-africanistas e
Guadeloupe, où ce sera fait en matant une todos os africanos na conquista da Unidade, Indepen-
pue que la société esclavagiste renversée à résistance, puis à Saint-Domingue, dans le cas dência e Renascimento do Continente através de uma
Saint-Domingue tentera de revenir par la cor- d’une guerre visant à exterminer toute résis- perspectiva política voltada para a construção de um
ruption néocoloniale, notamment la France Estado Federal Africano (Os Estados Unidos da África)
tance africaine. Menant la résistance à cette re-
por meio da conquista popular dos poderes políticos e
qui impose en 1825 le paiement d’une dette colonisation, Toussaint, capturé dans un piège econômicos africanos.
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LA RÉVOLUTION HAÏTIENNE alors encore plus frappés par la pro-


vidence.
ET SES LÈGUES
La révolution haïtienne fut porteuse
CONTEMPORAINS POUR LA d’un certain élan révolutionnaire en
LIBÉRATION DE L’AFRIQUE Amérique latine, rappelant ainsi que
lorsque l’homme noir se lève et joue
ET DE LA DIASPORA
son rôle de porte étendard de valeurs
Hery Djehuty* authentiquement humaniste, c’est
l’humanité tout entière qui suit.
«L’indépendance oui mais si c’est Concernant cette révolution haïtien-
pour finir comme Haïti à quoi ne, nous pouvons la résumer de la
bon?!?!», un constat hélas érigé au façon suivante: rôle pivot de la trans-
rang de quasi vérité révélée par un cendance spirituelle au service de
nombre non négligeable d’afrodes- l’unité, jusqu’au-boutisme pour la dé-
cendants évoluant dans les caraïbes. jours s’attribuer le meilleur rôle dans égard, il convient de ne pas omettre fense de la liberté. Ne pas transiger
Dit autrement, Haïti serait donc de- son récit historique de la chasse. Une l’indemnité colossale de 150 millions sur l’essentiel, prendre conscience de
venu pour certains un territoire mar- Histoire revisitée qui fera passer de francs or pour «dédommagement son rôle messianique, tels sont les
qué du sceau de la pauvreté, pour l’oppresseur pour le libérateur tout des anciens colons» (même si cette ingrédients à partir desquels l’ensem-
avoir simplement souhaité prendre en attribuant aux principaux acteurs dernière aura par la suite été rené- ble de la galaxie activiste gagnerait
sa destinée en main de façon un peu de ce processus de libération le rôle gociée à la baisse). Soit l’équivalent fort à s'inspirer.
trop hâtive. Certains allant même, insignifiant d’accompagnateur et mê- de près de 17 milliards d’euro (va-
dans cette analyse tronquée des faits, me dans le pire des cas de simple fi- leurs de l’année 2012) versé jusqu’en
jusqu’à développer l’infâme thèse qui gurant. 1883. De quoi vous plomber définiti-
sous-entendrait que l’expérience des C’est donc fort de ces contre-vérités vement une économie embryonnaire:
noirs qui s’administrent par eux-mê- factuelles que s’amorce le processus un peu comme si vous débutez à 18
mes, par médiocrité congénitale, ne de minoration de la grandeur histori- ans, dans la vie active, avec un crédit
pouvait que logiquement aboutir à que qui est nôtre et donc par ricochet de 500.000 euros à rembourser en
une impasse. l’absence de prégnance de ces hauts touchant le salaire minimum… Diffi-
Le constat est excessif et surtout ré- faits dans l’imaginaires de tout afro- cile d’imaginer entame plus difficile
vélateur du triomphe d’une ingénie- descendant. dans la vie, ce sont donc ces débuts
rie sociale (autrement dit de condi- Le passé étant nié, il nous est alors qui expliquent les difficultés actuelles
tionnement mental) mise en place impossible de lire de façon limpide la d’Haïti.
par l’État colonial français en direc- réalité de nos conditions de vie pré- On ne peut alors dénoncer la situa-
tion de ses «sujets» d’Outremer. Pour sentes. La pauvreté actuelle d'Haïti? tion économique d’Haïti sans remon- *Coordenador internacional da ONG Urgen-
mieux déconstruire la supercherie Pour le citoyen lambda, la faute aux ter aux racines du mal. ces Panafricanistes Hery Djehuty é compa-
impérialiste, il importe alors de met- haïtiens et à une classe politique cor- Il ne saurait y avoir de mauvais sort nheiro de luta de Kemi Seba há mais de
tre en lumière les principaux enseig- rompue au possible, incapable de vis-à-vis d’une nation qui a su faire quinze anos.
nements de la révolte haïtienne et bien gouverner et de prendre à cœur d’une cérémonie œcuménique spiri- Urgences Panafricanistes é um movimento
surtout d’y puiser une source doc- la notion de bien commun. tuelle à travers le rituel de Bois- continental de cidadãos africanos, fundado
trinale pour l’émancipation à venir por ativistas políticos, médicos, farmacêu-
Un jugement qui, s'il peut dans une caïman, le point de départ d’une co-
du continent africain. ticos e jornalistas para oferecer uma alter-
certaine mesure se justifier, ne peut hésion nationale. Il faut donc y voir nativa forte ao silêncio sistémico da União
Les mythes falsificateurs ont la peau que partiellement expliquer tous les le signe d’une bénédiction, et d’une Africana diante dos múltiplos conflitos em
dure dans la mesure où ils pros- ressorts de l’actuelle crise. Car il con- responsabilité particulière qui incom- que vivem os povos de África e sua diás-
pèrent principalement sur le terreau vient de prendre en compte les fac- berait à cette nation. Un peu comme pora. Espalhada por vários países do conti-
de notre propre ignorance. Une mé- teurs exogènes également à l’origine si chaque fois que ses habitants se nente e da diáspora, a organização presidida
connaissance de notre Histoire en de la situation. Tout est interaction, détournaient de cette responsabilité por Kemi Seba, tem sido uma das vozes po-
grande partie dû au négationnisme tentes na denúncia contra a corrupção dos
et ne peut exclusivement se com- historique, ces derniers se verraient
historique du chasseur sachant tou- países africanos, contra a zona franco-CFA e
prendre de façon endogène. A cet pela soberania popular.

sion» a, par orgueil, simplement refusé de perdre la


L’indépendance d’Haïti et face, c’est devenu une nécessité.
nous: révolution et histoire Cela ne fait pas encore de cela trois quarts de siècle
qu’une grande part de l’humanité vivait en effet
Ludovic Pountougnigni* sous l’oppression coloniale; cette situation où les
colons avaient pris l’habitude de se livrer à un
La liberté est un bien dont aucun peuple ne peut «franchissement délibéré d’un seuil de violence et
de cruauté qui s’abat sur ceux qui, au préalable, ont
s’aliéner. Elle est constitutive de la définition que
été privé de tout droit» (Mbembe, 2016: 32). Ils
nous donnons à nous-mêmes et à l’humanité. Elle
étaient en Afrique, en Asie, en Amérique latine et
est au cœur de nos luttes. Elle est l’objet de nos
dans les Antilles –le Sud global– ceux et celles qui
espérances, le motif de nos engagements et de nos
enduraient un tel joug. Dans ce monde enveloppé
sacrifices. Et lorsque dans le cours des événe-
dans la «grande nuit» (Mbembe, 2010) –non pas la
ments, la liberté de tout un peuple lui est dérobée,
nuit de «l’enfance» dont parlait Hegel (1965), mais
l’indocilité est la principale chose que la raison
celle du non-droit et de la violence à la fois gratuite
puisse cautionner. La convocation des usages de la et aveugle–, la révolution qui aboutit à la pro-
raison face à l’oppression se fait avec une certaine clamation de l’indépendance de la République d’
pertinence dans ce sens. Car l’arbitraire et la pri- Haïti le 1er janvier 1804 demeure dans le firma-
vation forment un étang boueux dans lequel il n’y ment de la lutte comme une étoile qui a tracé les
a point d’honneur pour l’oppresseur qui prive l’op- repères d’un retournement du signe noir. Sur cette
primé de dignité, ni pour ce dernier qui s’y ré- île battue par les flots du l’océan Atlantique, sym-
signe. Faut-il alors toujours que la raison de la li- bole parmi tant d’autres bastions antillais de l’es-
berté se fasse entendre à coups de canons? À la clavage, Haïti était la toute première république
vérité, nul n’est friand de la guerre. Mais l’histoire noire à se défaire du double joug de l’esclavage et
enseigne que partout où la «raison de l’oppres- de la colonisation (Fick, 2016; Roupert, 2011).
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Le Noir, figure de la chose et du bien monnayable plus grandes tempêtes. Les inégalités ne cessent de da Universidade de Dschang, vive em Yaoundé
et domesticable, articule le langage de la liberté s’accroîtrent, la richesse produite dans le mon-de (Camarões).
et défend sa dignité corps et âme. Toussaint- est concentrée dans quelques mains» (Vergès,
Louverture, héraut et martyr de la cause, Jean- 2017: 246). Références:
Jacques Dessalines et tous les marrons, héros de Un peu plus que l’acte de se soustraire de l’oppres-
FICK, Carolyn (2016), Haïti, naissance d’une nation: la
cette lutte, en sont les principaux artisans. Treize sion, le marronnage constitue pour l’époque con-
révolution de Saint-Domingue vue d’en bas, Floride:
ans de révolution haïtienne (22 août 1791 – 1er temporaine un héritage et une métaphore de la Educa Vision Inc.
janvier 1804), le 250.000 avoisinant de morts au lutte pour la souveraineté des peuples dominés et HEGEL, Georg Friedrich Wilhelm (1965), La raison dans
total dans les deux camps (révolutionnaires ver- réprimés. Peu sont en effet les dominateurs qui se l’histoire: introduction à la Philosophie de l’Histoire,
sus pourfendeurs du statut quo), 217 ans plus ravisent de renoncer aux prérogatives que leur Paris: Plon.
tard, cela semble étrangement loin. Pourtant, mê- procure leur position. On est donc obligée de l’ad- MBEMBE, Achille (2010), Sortir de la grande nuit: essai
me si l’oppression dans sa forme de l’époque s’est mettre en fin de compte: la liberté se conquiert. La sur l’Afrique décolonisée, Paris: La Découverte.
décomposée, infectée par son propre poison, elle lutte pour la souveraineté structure l’histoire des MBEMBE, Achille (2016), Politiques de l’inimitié, Paris:
a trouvé le moyen de se perpétuer sous de nou- peuples. Il n’y a pas d’oppression sans injustice ni La Découverte.
velles formes. Car « les temps que nous vivons, de peuple sans liberté. Il n’y a pas d’humanité non ROUPERT, Catherine Ève (2011), Histoire d’Haïti, la
première république noire du Nouveau Monde, Paris:
sans céder à un catastrophisme alarmiste, sont plus sans liberté.
Perrin.
caractérisés par des crises multiformes […] La
SARR, Felwine (2017), Habiter le monde: essai de
qualité des relations que nous produisons entre *Ludovic Pountougnigni é historiador, autor de várias politique relationnelle, Montréal: Mémoire d’Encrier.
individus, sociétés et avec le vivant qui nous publicações sobre a África e o lugar do Sul global na VERGÈS, Françoise (2017), «Utopies émancipatrices», in
accueille, demeure médiocre» (Sarr, 2017: 11). Et história contemporânea, publicadas em vários países da Achille Mbembe et Felwine Sarr (dir.), Écrire l’Afrique-
oui, en ce début du XXIe siècle, «les nuages con- África e da Europa. Pesquisador associado da Unidade de Monde, Paris/Dakar: Philippe Rey/Jimsaan, 2017, pp.
tinuent à s’accumuler à l’horizon annonçant de investigação Política, Estratégica e Social (URPOS-SOC) 243-260.

A R E VO L U Ç ÃO H A I T I A N A , U M A U T O P I A Q U E O M U N D O P R E C I SA CO N H E C E R
Ernesto El Ché

O Haiti divide a ilha Hispaniola com tes da revolução dos escravizados de uma genialidade militar e estratégias dos, Holanda e Suécia. Porque todas
a República Dominicana, uma das São Domingos, tal ocorrência teria incríveis para conseguir a liberdade essas Nações não queriam ver uma
maiores ilhas das Antilhas, localiza- como produto final a proclamação para todos. A França até tentou divi- Nação Negra independente e seus
da na América Central. Provavel- da independência da primeira Repú- dir o movimento revolucionário ofe- negócios ameaçados com as ideias
mente você nunca ouviu falar das blica Negra do mundo em 1804, de- recendo alguns dias de descanso pa- revolucionárias dos haitianos. Era
façanhas da Revolução Haitiana, po- safiando todas as potências coloniais ra os cativos e a liberdade somente um péssimo exemplo a ser banido e
rém essa história deveria ser conhe- da época. Naquela cerimônia de ri- para os líderes rebeldes. Mas essa aniquilado.
cida pelo mundo. Vamos mergulhar tual Vodu, comumente chamada de estratégia de dividir para reinar na- Após a Independência, as reações
nessa história fascinante que deveria “Bois Caïman” os escravizados fize- quela altura não deu resultado satis- vieram de todas as entidades da so-
ser fonte de inspiração para todos os ram um juramento secreto em criou- fatório para a Metrópole. ciedade escravocrata da época. As
negros do planeta Terra. lo haitiano para não viver mais sob a Há um general de quem se fala pou- potências coloniais não reconhece-
Antes do tratado de Ryswick, acordo dominação dos colonos brancos. Co- co na história, mas ele teve um papel ram a Independência da jovem Re-
firmado em 1697, quando Espanha mo eles eram de tribos e países dife- fundamental na última batalha onde pública, que foi obrigada a pagar
cedeu a parte ocidental à França, a rentes, o Crioulo haitiano foi a lín- derrotou o maior exército do mundo uma forte indenização em dinheiro à
Ilha era um só país. A partir de en- gua de conciliação de várias crenças naquela época: François Capois La França em troca do reconhecimento
tão, a ilha está dividida em 2 colô- e idiomas em torno de um objetivo Mort. Ele lutou arduamente desa- da liberdade adquirida a preço de
nias: a parte Oriental dirigida pela comum que era de derrubar o sis- fiando a morte para derrotar o pode- sangue. Também ela sofreu blo-
Coroa Espanhola e a famosa colônia tema escravocrata. O sacerdote Vodu roso exército de Napoleão Bonapar- queios comerciais do sindicato dos
Francesa que se tornou a pérola das Dutty Bookman e a sacerdotisa Cé- te, conduzido pelo general Jean Bap- impérios coloniais, uma das conse-
cile Fátima sacrificaram um porco e tiste Donatien de Vimeur, Comte de quências desse ato, não conseguiu
Antilhas pelas riquezas que ela pro-
o sangue foi servido a todos os par- Rochambeau que se chamava vulgar- entrar na estrada do desenvolvimen-
duzia. As condições de vida dos es-
ticipantes que depois fizeram o jura- mente Rochambeau. A batalha de to.
cravos nessa parte da colônia eram
mento de não seguir na escravidão. “Vertières” que teve como slogan, No mundo literário a situação não
muito rígidas e repletas de cruelda-
Os dias que seguiram a cerimônia de “koupe tèt, boule kay” que significa foi diferente, os intelectuais do Sécu-
de. Um dos motivos era porque a
“Bois Caïman” foram muito amargos “corta as cabeças, queima as casas”, lo das Luzes e os revolucionários da
população dos colonos era muito in-
para os colonos franceses, muitas foi vencida pelos escravos que expul- Metrópole não queriam liberdade
ferior comparada aos escravos Afri-
plantações foram incendiadas e fa- saram os franceses com o general para os negros, e a Independência
canos, isso gerou um medo constan-
mílias inteiras dos colonos foram Rochambeau. Haitiana não fez parte dos grandes
te de uma provável rebelião e por
envenenadas. Logo os escravos fugi- Em 1º de Janeiro 1804 nasceu o Hai- escritos teóricos e filosóficos dos au-
isso eram mantidos sob forte repres-
ram para as montanhas para formar ti, a primeira República negra do tores da época. Em outras palavras, a
são.
os quilombos da resistência. Esses mundo, segundo país independente Independência Haitiana foi sempre
Os juízos de valores que os colonos
grupos faziam inquisições de noite do continente, contra os interesses uma vergonha, um entrave para o
tinham dos escravos não correspon-
para atacar plantações e semear o das potências coloniais. O objetivo mundo Ocidental embasado na ex-
diam exatamente à realidade. Vindo
terror na colônia. Quando a próspera da nova República era libertar todos ploração da mão de obra dos cativos.
de vários países do continente africa- Colônia de São Domingos estava em os países da escravidão, era uma fi- Uma pequena análise da obra fictícia
no, eles eram considerados seres inú- fogo e a revolta dos escravos tinha nalidade perigosa. O Haiti através do de Victor Hugo “Bug-Jargal” mostra
teis que só serviam para executar os sido expandida para várias cidades, acordo do Pan-Americanismo assina- claramente a sua tendência de valo-
serviços braçais. Poucos sabem que a França tentou, em vão, tomar o do entre Alexandre Pétion e Simon rizar as bondades dos colonos bran-
muitos deles, antes de serem captu- controle da Colônia enviando várias Bolivar, ajudou muitos países da cos e minimizar suas crueldades. A
rados na África, eram grandes guer- missões civis. Mas a determinação e América Latina a se livrar da escra- historiografia Ocidental e quase a to-
reiros, outros faziam parte da Corte a coragem dos antigos guerreiros fei- vidão, tais como Venezuela, Repúbli- talidade das obras literárias tais co-
Real destruída pelos colonos. Vendi- tos escravos venceram a arrogância ca Dominicana, Grécia… Uma coisa mo Ouruka de Claire de Duras, Tous-
dos como escravos, estavam esperan- dos Europeus. Nessa vitória o vodu que quase não se fala nos livros de saint Louverture de Alphonse de La-
do o momento certo para mostrar teve um papel fundamental, não é História, quando Grécia foi tomada martine minimizaram a importância
toda a sua bravura e a sua nobreza. um acaso que até hoje ele é diabo- pelos Otomano na metade do Século da Revolução Haitiana, tentaram es-
A vitória do exército indígena sobre lizado a favor das outras religiões XIX, foram os Haitianos sob a pre- conder ela e também banalizaram
os Europeus provou que eles esta- dos antigos colonos. sidência de Boyer quem libertaram a esse feito histórico sem precedente, a
vam totalmente errados com seus Os líderes Toussaint Louverture e Grécia. Por isso Haiti foi vítima do única Revolução Negra bem-sucedi-
preconceitos. Jean Jacques Dessalines, este último sindicato dos impérios coloniais que da do mundo.
A noite de 14 de agosto 1791 mar- que será coroado como o primeiro era constituído por Dinamarca, Espa-
cou um dos eventos mais importan- Imperador do Haiti, lutaram com nha, França, Inglaterra, Estados Uni-
Página 12 ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,28 de fevereiro de 2021 ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, Yanda PanAfrikanu

A Revolução Haitiana é um dos ser uma fonte de inspiração para outros países do Caribe que preten- seria bem melhor mergulhar na his-
maiores acontecimentos históricos todos os povos negros do mundo. dem ser independentes. O mundo tória gloriosa desse povo, assim seus
do Século XIX. O Haiti deveria ser Essa Nação deveria ser parte da esqueceu por completo as façanhas cidadãos serão vistos sob outra ótica.
objeto de estudo e admiração do União Africana pois é o pequeno dos guerreiros haitianos que ajuda- Pois o Haiti é o espelho da liberdade
mundo inteiro. Os líderes da Revo- reino Africano do Caribe. Imaginem ram muitos países da América Latina do mundo, ele está pagando até hoje
lução Haitiana antecederam à Decla- um exército de escravizados com ar- a se libertar da escravidão. Hoje se- a ousadia de se libertar e ter quebra-
ração Universal dos Direitos Huma- mas rudimentares vencer um exérci- ria um momento para recompensá- do os negócios das potências colo-
nos, até porque os revolucionários to motorizado, o maior do mundo lo, talvez com um outro tipo de niais.
franceses queriam liberdade e direi- naquela época! abordagem dos seus cidadãos. Nos
tos para algumas classes sociais, os Hoje o mundo Ocidental vende Haiti meios de comunicação no Brasil por Como seria o mundo hoje se o Haiti
haitianos queriam a liberdade para como uma vitrina de pobreza, um exemplo, o Haiti é sempre associado não tivesse conquistado a sua Inde-
todos. Sendo assim, o Haiti deveria péssimo exemplo a ser seguido pelos com o desastroso terremoto de 2010, pendência em 1804?

Bonaparte e Louverture, Traição e Revolução obra intitulada “Toussaint Louverture: La Ré-


Quando a Revolução volution française et le problème colonial” publica-
Porém, quando a escravatura é finalmente abolida em
Aytiana foi traída pela fevereiro de 1794 (em algumas colônias apenas) o
da em 1960 onde afirma:

Revolução Francesa e a golpe de 18 de Brumário que marca o fim da “Re-


volução Francesa” com a chegada triunfante de Na-
Quando Toussaint Louverture veio, foi para interpretar
literalmente a Declaração dos Direitos do Homem, foi
Revolução Francesa foi poleão Bonaparte, desmoronaria tudo o que até então para mostrar que não há raça pária; que não existe país
marginal; que não existem povos de excepção… deixa-
tinha sido conseguido. Em maio de 1802, através de
traída por Napoleão um decreto-lei, Bonaparte restabelece de novo ‘a
ram-lhe um bando e ele transformou-o num exército.
Deixaram-lhe um motim e ele fez uma revolução; uma
ordem do antigo regime escravocrata’ em todas as co-
Bonaparte lônias onde tinha sido abolida, reforçando ainda mais
população, ele fez um povo. Uma colônia e ele trans-
formou-a num estado, melhor do que isso, numa nação
Apolo de Carvalho* o racismo presente no Código Negro. (Césaire, 1960).
O papel de Toussaint Louverture, um estratega nato, Contudo, por ter desafiado, humilhado e colocado a
As pessoas que habitam a ilha anteriormente líder visionário e carismático dotado de uma inteli- nu o crime hediondo perpetrado pela França, Ayiti
chamada Saint-Domingues, concordam aqui, gência que assombrava os arrogantes franceses, foi foi vítima de uma retaliação coletiva do mundo
formar-se enquanto um Estado livre, soberano e determinante para mudar o rumo da história na ocidental. O país foi o primeiro alvo de uma aliança
independente de qualquer outro poder do universo, medida em que Toussaint, conduz à independência
sob o nome de Império do Ayiti. (Constituição de
racista a nível estatal com sanções e embargos, que
aquela que seria a PRIMEIRA REPÚBLICA NEGRA tentou passar aos negros do mundo inteiro, a men-
1805, artigo 1)
do mundo pós expansão marítima europeia, e fora sagem de que haverá sempre punição contra quem
continente africano.
Todos os princípios proclamados pela Revolução
Lutando contra franceses, britânicos e espanhóis,
ousar enfrentar e derrotar um país ocidental. Ayiti
Francesa de 1789 que elaborou a Declaração Uni- pagou o preço. O mesmo que outros países e revo-
Louverture deu início a uma revolução inédita que lucionários africanos e do sul global viriam a pagar
versal dos Direitos do Homem e do Cidadão na qual,
culminaria na derrota de Napoleão, e na proclamação e pagam a cada vez que desafiam os “pretensos do-
a “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” se tornaram
da República Ayitiana. Esta proclamação seria feita nos deste mundo”.
motes de “anunciação” da República, que decapitou
alguns anos mais tarde por Jean-Jacques Dessalines,
a monarquia absolutista, foram negados ou parcial- Dever de memória, reparação universal
uma vez que Toussaint teria sido emboscado e cap-
mente acordados, aos escravizados das colônias,
turado covardemente pelas tropas de Leclerc, durante A África, a sua Diáspora e o próprio mundo que luta
mormente o povo ayitiano.
um período de trégua acordado entre ambas as partes. pela liberdade de todas as criaturas vivas, têm uma
Dizer isto é de suma importância para compreen-
Isto nos informa bastante sobre as consequências de dívida enorme para com este país. A primeira re-
dermos a extensão da hipocrisia histórica do Estado
confiar demasiado na boa-fé do inimigo. paração que Ayiti precisa é a do reconhecimento da
francês. Hipocrisia esta que parece ser congênita ao
A grandeza de Louverture, ultrapassa a sua genialida- sua luta e da influência que esta luta teve por todo o
seu próprio regime republicano permeando ainda
de enquanto estratega e homem de Estado. Num co- mundo. Esta reparação apenas nós poderemos fazer.
hoje as suas políticas, seja ela interna ou externa.
municado endereçado à Louverture, Napoleão dizia Temos que massificar este tipo de conhecimento.
Vejamos que, embora os “revolucionários” franceses
com toda a sua arrogância paternalista o seguinte: Relembrar, ressignificar as lutas deste “Ayiti onde a
tivessem declarado logo no artigo 1 da sua Decla-
“Bravos negros, lembrem-se que o povo francês ape- negritude se pôs de pé pela primeira vez e disse que
ração supostamente universal que: “Os homens nas-
nas reconhece o vosso direito à liberdade e igualdade, acreditava na sua humanidade” (Césaire, 1939).
cem e permanecem livres e iguais em direitos”, tal
e isto será escrito em letras de ouro em todas as Ayiti legou-nos uma noção profundamente africana
direito, não se estendeu automaticamente aos negros
bandeiras dos batalhões da Guarda Nacional da co- de humanidade, uma humanidade em relação. Le-
ayitianos e a questão colonial foi tratada sempre de
lônia de Saint-Domingues” deixando a entender que gou-nos igualmente uma noção radical de luta, uma
forma bastante ambígua e ligeira pela Assembleia
contrariamente a Declaração de 1789 a liberdade não luta universal. Uma luta não só para resgatar a li-
Constituinte. Entre as causas deste descaso pode-se
seria mais um direito natural, mas sim, algo conce- berdade do corpo mas também do espírito. Muito
apontar o calculismo econômico de alguns ricos co-
dido. nos falta ainda para aprender e conhecer sobre a
lonos proprietários de Saint-Domingues que não
Ao que Louverture magistralmente responde: revolução que Ayti fez e espalhou para o mundo.
queriam perder a mais preciosa fonte de rendimento
“Não é uma liberdade de circunstância concedida ex- Procurar conhecer e estabelecer pontes de solida-
na altura. E mesmo entre movimentos abolicionistas
clusivamente a nós, que desejamos. Queremos a ado- riedade como os irmãos e irmãs ayitianos hoje, são
como a sociedade Amis des Noirs fundada em 1788,
ção absoluta do princípio segundo o qual, todo o atos de reparação, de autorreparação, de reparação
a posição era de um fim da escravatura, mas que
homem nascido vermelho, preto ou branco, não po- interna, coletiva. Porque há dois séculos o povo
fosse progressivo de forma a “não prejudicar” a
derá ser nunca, propriedade do seu semelhante. Nós ayitiano já dizia para si mesmo que todas as vidas
economia das colônias. A questão da abolição só
somos livres hoje porque mais fortes”. importam e que, caso as forças opressoras do uni-
passa a ser considerada com maior atenção e serie-
Embora tenha tido um fim inglório para um homem verso atentassem contra as suas, não hesitariam em
dade, quando os ayitianos se revoltam e começam a
que derrotou Napoleão, fez curvar a França e con- pegar em armas para defendê-la até a morte total. A
assassinar os colonos.
tribui imenso para libertar o seu povo, Louverture é morte da opressão.
Na verdade, no meio de todas as tergiversações hu-
uma das figuras insignes da história mundial. Um dos E relembrando Lumumba,
manistas e filantrópicas que animaram os com-
pioneiros do combate pela liberdade contra todas as
panheiros de Robespierre, a questão central para “L’histoire dira un jour son mot, mais ce ne sera pas
forças opressoras do universo como diz a primeira
aqueles “insurrectos” que invadiram a Bastilha era, l’histoire qu’on enseignera à Bruxelles, Washington, Pa-
constituição do país. Toussaint desencadeou um efei-
manter a grandeza da França no mundo e Ayiti, na ris ou aux Nations Unies, mais celle qu’on enseignera
to contágio que instigaria outras revoltas, soube ele- dans les pays affranchis du colonialisme et de ses fan-
altura, era aquela “pérola das Antilhas” que não se
var a um outro estágio as lutas que antecederam Ayiti toches. “Ayti” écrira sa propre histoire et elle sera au
podia desperdiçar porquanto, extremamente rentá-
e neste sentido, se afirma como um dos pioneiros do nord et au sud une histoire de gloire et de dignité”
vel. Uma autodeterminação seria, portanto, inego-
panafricanismo dentro do espaço diaspórico. A sua
ciável considerando que o povo ayitiano não podia
luta inspirou grandes pensadores negros de todo mun- *Estudante na grande universidade da palavra ensinada à
esperar e sua libertação estava mais do que nunca, sombra dos Baobás.
do entre os quais Aimé Cesaire que lhe dedicaria uma
eminente.
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Code Noir: corta as cabeças, queima as casas*


Raquel Lima**

Juramos não seguir na escravidão Pequeno reino Africano do Caribe


Negros defendem brancos quando livres
Bebemos o sangue do porco O princípio do fim colonizado
Co-responsáveis pela aplaudida revolução
Brindamos em crioulo aytiano exemplo a ser banido e aniquilado.
Mas a fraternidade não lhes é reconhecida
Gritamos liberdade antes da revolução
Pagamos o preço da nossa liberdade Igualdade e liberdade são-lhes corrompidas
Esse pacto anuncia a nossa união
Pagamos o preço das nossas plantações Negros ditam morte aos brancos
Independência ou Morte
Preço que não vê prosperidade Que mataram negros
Ritual vodu Bwa Kayiman Sangue que aumenta com sanções Que se vingam dos brancos
Grata François Mackandal Embargados, bloqueados, inundados Que se vingam dos negros
Grata Cécile Fatiman Enterrados, silenciados, amedrontados Que matam negros
Veneno, fogo, gritos e fugas Terramotos e inundações a apagar a história Que se rebelam contra brancos
Montanhas: destino último Crueldades a valorizar a branca memória Que se vingam dos negros
Marronage: salvação e culto E matam negros
Ayiti é o nosso legado, cultura e herança
Medo, sangue, terror, amargura matam negros
atravessamos séculos com essa esperança
São Domingos prospera mas não dura negros
Bebemos o veneno que é sede de vingança
Guerreiros não podem ser escravizados
Da liberdade universal Queimemos a casa
Dividir para reinar já não dá resultados
Da glória e celebração Combatamos pela mesma causa
Só cortar as cabeças, queimar as casas.
Da irmandade sem redenção Cortemos a cabeça
François Mackandal Orientação espiritual é poder ancestral Trabalhemos para que isso aconteça
Catherine Flon Matriarcado africano não-ocidental Arranquemos pela raiz a árvore da escravidão.
Vicent Ogé Guerreiras Ahosi ou Mino Unamo-nos irmã, Unamo-nos irmão
Cécile Fatiman Guerreiras de Daomé
Juramos não seguir na escravidão
Toussaint Louverture Mulheres envenenadoras
Bebemos o sangue do porco
Suzanne Sanité Bélair Uni-vos: Independência ou Morte
Brindamos em crioulo aytiano
Jean Jacques Dessalines
As elites são um cancro mas capitulam Gritamos liberdade antes da revolução
Marie Jeanne Lamartiniere
Espanha capitula Esse pacto anuncia a nossa união
François Capois La Mort
França capitula Independência ou Morte
Marie Sainte Dédée Bazile
Grã-Bretanha capitula
Henriette Saint Marc
No capítulo-próximo: Cité Soleil
Marie Claire Heureuse Felicité Bonheur *Este poema foi inspirado pela leitura de textos da 5.ª edi-
Nas fazendas, senzalas e favelas
Ayiti, primeira república negra Serve-se açúcar, revolta, trauma e café ção do jornal Yanda PanAfrikanu.
**Raquel Lima – Poeta, investigadora de Estudos Pós-Co-
Um planeta a vadear no oceano e o cansaço da mesma história que se repete
loniais e integrante do Núcleo Antirracista de Coimbra.

Conhecem a livraria DEALER DE LIVRES? AYITI


Luc Pinto Barreto Dady Dimon*

La librairie est installée sur le parvis de la gare


de Saint-Denis qui est la 3eme ville d’Ile de
France avec plus de 100 000 habitants. Cet
emplacement a été choisi pour les raisons
suivantes:
Terra mística de rios que curam…
– La ville de Saint-Denis ne compte qu’une
Os seus Mapous gigantes dançam e se
seule librairie pour plus de 100 000
deslocam nas matas encantadoras...
habitants;
Ayiti, terra de sabores exóticos que agradam
– La gare de Saint-Denis fait partie des plus
os paladares dos seus filhos e do mundo...
grosses gares d’Ile de France avec plus de
Ayiti, doce mãe ajoelhada pela derrota do
90 000 voyageurs par jour, 130 000 à
grande Napoleão...
l’horizon 2030;
Ayiti... Terra de pobreza construída para
– Saint-Denis fait partie du département le
enriquecer os mais poderosos
plus pauvre et le plus jeune de France
Ayiti, Grande libertadora do mundo que
hexagonale, la Seine-Saint-Denis.
está tomando banho na lama da opressão e
L’ambition de la librairie Dealer de livres est
do desespero...
de rendre plus accessible la culture à travers la
Ayiti terra dita pobre …onde os poderosos
mise en place de rencontres dans l’espace
do mundo compram um pedaço de terra para
public. Pour cela, elle s’appuie sur une
uma profecia qualquer.
sélection
Ayiti um dia sacudirá o mundo mais uma
La librairie Dealer de livres a pour but de faire vez... Pela consciência e pelo amor de ver
la promotion des livres et de la culture dans d’ouvrages (romans, BDs, essais, livres
todos felizes... a pérola brilhará como era
l’espace public notamment auprès des jeunesse, …) mettant en avant les cultures
antes.
habitants des quartiers populaires. Afro-
Ce projet est né fin 2015 à travers la création diasporiques (Afrique, Caraïbes, Amérique,
d’une chaîne Youtube et s’est matérialisé en Europe, …), traitants de sujets de société ainsi
septembre 2020 avec l’installation d’un *Dady Dimon, poeta e artista plástico ayitiano. Filho
container aménagé en librairie. que des ouvrages communs. da cidade da independência Gonaïves (Ayiti).
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A Coleção Pensamento Preto: Epistemologias tê-lo como contribuição desta coleção, pois, o
do Renascimento Africano chega ao seu IV volu- conceito de renascimento africano proposto por
me, cumprindo com rigor e seriedade duas de Diop dá nome a este projeto editorial e de for-
suas propostas iniciais: apresentar uma diversida- mação intelectual e política.
de de biografias, pensamentos, contextos históri- Sem dúvida alguma, os autores e os pensamentos
cos e epistemologias africanas; e oferecer teorias que compõem estes quatro volumes conseguem
e bases políticas alinhadas ao projeto pan-africa- formar qualquer pessoa preta para lidar com a
nista de renascimento africano. selvageria da supremacia branca, não apenas em
Este volume tem a alegria de trazer em primeira aspectos de teoria, mas de fortalecimento físico,
mão no Brasil o famoso e seminal artigo de psíquico, espiritual e organizacional.
Cheikh Anta Diop, Quando podemos falar de um Passar por estes quatro volumes, principalmente
renascimento africano?, escrito e publicado em pela densidade de sua proposta, e compreender a
1948, no qual o autor apresenta as bases do seu mensagem, equivale, para não dizer que supera,
pensamento político, filosófico e revolucionário, o que é oferecido pelos cursos acadêmicos de
aprofundado nos 40 anos seguintes. É simbólico universidades brancas e eurocêntricas.

Pensamento Preto Vol. IV (2020) Pensamento Preto Vol. I (2018) Pensamento Preto Vol. II (2018) Pensamento Preto Vol. III (2019)

Invista no trabalho de pessoas pretas e fortaleça a economia da comunidade africana


Para saber mais sobre o projeto editorial e político da Editora Filhos
da África e da União dos Coletivos Pan-Africanistas, conhecer o catá-
logo da editora e formas de adquirir os títulos, entre em contato pelos
seguintes canais:
Whatsapp: (011) 98608-0247
Instagram: @territorioafrikano
Facebook: @territorioafrikano
E-mail: ucparbg@gmail.com
Yanda PanAfrikanu ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, ,,,,,, ,,,,,,,,,,,,,,, ,,,,,,,,,,,,,,,, ,,,,,,,,28 de fevereiro de 2021 ,,,,,,,,,,,, ,,,,,,,,,,,,,,,Página 15

DI FUNDU D'AYITI, UN DJATU DI RINASIMENTU


*Arlindo Stony e Luis Baessa

Ser!
Ser livre? Ou não Ser? Séculos e séculos de subtração e
Ser livre, ou morrer? soma de uma narrativa vedada
Enviados especiais e comitiva, frades
Qual? Qual é o valor, e o preço da e saque, exploração pesada
morte? Suor e sangue, dignidade do homen,
Quanto? Quanto custa e custou a negro e pardo, o eu e o outro
escravidão? Nação valente que imperou,
Quem? Quem paga? Quem pagou a princípios humanos que implantou…
servidão?
É certo que a história relega para um
Porqué? Porque Ficou, a história,
outro plano toda a verdade e
com mil verdades para contar?
evidência
Mas há vozes que não calam, mil
Ami m-kre Ra-Bida, riba'l tera baxu gritos que soam e rituais que não Titulo: POEZIA 100 FIN
Sol quebram Autor: Luis Manuel Baessa Barros.
Ra-Skrebi nha Si-na-Mentu, dentu Em berros e gritos desmedidos, que Editora: Edesso.
Tenpu paralisam e norteiam os mil sentidos Ano de publicação: 2020.
Dja-m kre bira Béntu m-borka Das nossas almas desenraizadas das
purmeru barku
Numero de paginas: 84.
nossas terras, a porção do nosso
Pilotadu pa katraius pa funda ti Descrição: Es livru foi editadu i produzidu pa konta di PRU-
amparo.
nunka JETU EDESSO, ki e un programa di apoio a edison i pro-
Pa nunka nun alkebulanu ka Do Mackandal, ao Toussaint duson di kontiudus artistikus cultural, audiovisual, litrarius
txomadu di Skravu l'Ouverture i interativus, voltadu pa pessoas ki ten pruejtus konkretu,
Dja-m kre bira Tufon Ra-Bida distinu Salmos e louvores Haiti mas ki ta enfrenta txeu difikuldadi pa pos en pratika.
Poi norti rostu pa norti tra Sul pe di Un hino sóbrio e amarelo
Onde comprar? Amazon.
kaminhu Com os acordes iluminados do sol
Pabia mas ki mitu di mistisu ami e un E as melodias vermelhas dos
Spritu Bíbu térangas
Ki ka mesti krimi di inpiu pa izisti Os zimbus acres, mas sonantes dos
n’es storia miskinhu. Bijagós
Dos Griós, Mandingas, Peul, Karixás.
O sangue que rega a minha alma, Dos mil e tantos gritos silenciados à
nutre e alimenta balas
Da placenta de um povo que gogita, Xius, cordas, ferro; chumbo crivado e
cogita e blasma chibatas
Asfixiado pela sua sorte, maldito Nas pautas de um tempo rasgado à
azar, veneno do seu destino machado
Que na busca do Ser, encontrou a Pás e maretas; machettes, cunhas e
maldição e a morte pelo caminho. picaretas
Nas brigas e banquetes, espanhóis e

Do pavor da sua existência, todas as


franceses. Cahier d'un retour au pays natal
Nas plantações do ódio, da ira, da
armaduras, forças e resistência Aimé Césaire, 1939
raiva e do rancor
No ócio da sua dor, serenidade e Pelos direitos negados, e pelos
resiliência, fortalecem a sua essência caminhos barrados (…) O que me pertence
Entre o grito emudecido da sua graça E ainda hoje minados, pelo simples é um homem só, encarcerado no branco
e o silêncio esforçado da disgraça. facto de ter sido um homem sozinho que desafia os gritos brancos da morte
Nessa benesse; muito anjo virou Uma luta dos negros pelos negros, branca
fantasma e religião sagrada virou sem a autorização (TOUSSAINT, TOUSSAINT LOUVERTURE)
feitiço. Sem nenhuma aprovação e um homem só que fascina o gavião branco da morte branca
benedição dos deuses brancos. um homem sozinho, no mar estéril de areia branca
Os mantos da esperança, guardam um miserável preto velho erguido contra as águas do céu
espinhos da vingança M-sa ta Ra-Nansi na meiu di fumasa a morte traça um círculo brilhante sobre este homem
Dos reis da Inglaterra, principes da sima Haiti a morte estrela suavemente sobre a sua cabeça
Espanha, Portugal e França Na Spritu nhas Gentis, na sinal di a morte sopra, louca, no canavial robusto dos seus braços
Homens embrulhados à ferro e fogo, Tenpu a morte galopa pela prisão como um cavalo branco
nas promessas dos Céus Xintidu di vensi m-ta pidi ses Bénsu
a morte brilha na sombra como olhos de gato
Destinos empedrados ao chão, Ashanti, Bantu, Dinka, Hutu, Dogon
a morte soluça como a água no Cayes
estradas percorridas em vão. o Zulu
a morte é um pássaro ferido
Ra-Inkarna Dutty Boukman Inspira
a morte reduz
Voodu
Dja-m kre bira Fantasma a morte vacila
Multiplika Bois-Kaimuna x milion
Pa-m parsi di runpanti na mé di nada a morte é um Taguá atemorizado
Ra-Bida Storia pa Ra-Finka Direson.
Dogola râis ku infántis ku prisizon a morte expira num branco lamaçal de silêncio.
d’alkatraz intumescências noturnas nos quatro cantos desta alvorada
Inforka i intêra na bála Diogus ku *Arlindo Stony e Luis Baessa – Prujetu Bo- convulsões de morte petrificada
Tchatchás kal Noti. Boka Noti é um projeto centrado destino tenaz
Antis barku atraka antis es ponta na preservação, promoção, divulgação e va-
lorização da língua cabo-verdiana em todas gritos que se erguem desta terra muda
arma
as suas vertentes. O projeto focaliza-se no não se explodirá então, o esplendor deste sangue? (…)
Antis renu dismantxa antis negru
uso consciente e de forma generalizada des-
podu na prasa
ta língua, particularmente nas redes sociais. Aimé Césaire, 1939.
Rabata distinu Ra-bida Kaminhu As emissões acontecem sempre no último
Pa ki nunka m-ka perdeba Xintidu Tradução: Yanda PanAfrikanu
sábado de mês.
Página 16 ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,28 de fevereiro de 2021 ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, Yanda PanAfrikanu

P A G E N PWO B L E M . AY I T I , M W E N BY E N !
Kwesi M. H. Ta Fari *

“Não há problema. Ayiti, eu estou diáspora. Reproduzimos um trecho zentos anos, com exceção de Thabo universalmente aceitável como a
do nono capítulo, intitulado “Que tal Mbeki (África do Sul), nenhum pre- emancipação, os descobridores se
bem!”. Essa frase traduzida do título
reaprender com os ‘descobertos’?”: sidente africano visitou o país. Con- voltarão contra os descobertos. Dois
em Kreyòl Ayitiano é a sequência de
traditoriamente, a celebração do ani- séculos depois desse evento (a Inde-
um diálogo imaginado do Ayiti com “A questão para os historiadores, por- pendência do Ayiti), a resposta viru-
um de seus maiores combatentes versário da Revolução Francesa,
tanto, não pode ser simplesmente re- lenta e a vingança ainda não acaba-
nascidos no continente Africano: Jac- duzida a como respondemos as re- ocorrida na mesma época, reuniu de-
ram. Na verdade, o arsenal tornou-se
ques Depelchin. Natural da Repú- gras da evidência, que foram estabe- zenas de presidentes africanos em
maior, multidirecionado e mais sofis-
blica Democrática do Congo, Dr. De- lecidas pelos cânones dogmáticos das Paris. Dr. Depelchin não poupou crí- ticado. A oposição à erradicação da
pelchin é um intelectual dedicado às histórias dominantes. Ao invés disso, ticas aos presidentes africanos, iden- escravidão continua nas mãos dos
grandes causas nacionais que infla- eles devem descobrir como a aplica- tificando-os como elites tão mesqui- Estados Unidos, guardiões dos tesou-
mam o mundo Africano, nomeada- ção das regras de evidência pode ser nhas quanto as elites do próprio Ayi- ros e dos recursos acumulados por
mente nas searas da justiça e das melhorada ao expandir e aprofundar ti. meio de suas descobertas (…) e não
a capacidade de levantar aqueles fa- No ano de 2011, uma coletânea de são os únicos. O recurso às medidas
batalhas anti(neo)coloniais. O seu
tos que continuam a ser enterrados de punição política e financeira men-
nome é referência para movimentos artigos escritos por Jacques Depel-
porque os silenciados foram ame- cionadas acima, combinadas com a
sociais de relevância política na re- chin foi publicada com o título: Por
drontados e submetidos a uma reli- ortodoxia ideológica religiosa e secu-
cente história do Congo, entre eles o una recuperación de la historia afri-
gião que venera o dinheiro acima de lar, pretendiam dividir o povo Ayitia-
Alliance of Democratic Forces for the tudo.” cana. De África a Haiti a Gaza. Trata-
no.
Liberation of Congo, o Rally for Con- se de um livro envolvente, com forte Como foi observado em inúmeras si-
golese Democracy e o Ota Benga In- Jacques Depelchin é um dos mem- carga de denúncia e animado por tuações pós-coloniais, uma pequena
ternational Alliance for Peace. elite privilegiada se considera a única
Nas décadas de 1990 e de 2000, Jac- digna dos Ayitianos. A síndrome da
ques Depelchin prestou assessoria ao descoberta permaneceu virulenta co-
Dr. Wamba dia Wamba (1942- mo sempre: os escravizados não de-
2020), uma eminente liderança nas vem ser livres; a pobreza não deve
causas nacionais da R.D. Congo, es- desaparecer. Por definição, os pobres
pecialmente engajado no movimento de Cité Soleil, segundo a elite, não
deveriam ter voz, a não ser aquela
Rally for Congolese Democracy. Nes-
filtrada ou reformulada pelos meios
se período, o Dr. Depelchin traba-
de comunicação controlados por essa
lhou de forma hábil na mediação de
mesma elite."
conflitos político-militares muito
complexos, como os de Lusaka Atualmente, o Dr. Depelchin leciona
(2002) e Pretória (2003). Esses dois história da África na Bahia (Brasil),
intelectuais mantiveram uma relação onde divulga o pensamento de
profunda de irmandade e trabalho Cheikh Anta Diop (multicientista
conjunto até a passagem de Wamba Africano nascido no Senegal), os li-
Dr. Jacques Depelchin em Maputo (Moçambique) no ano de 1981, aniversário
dia Wamba em 2020, que mereceu vros da Cooperativa Per Ankh e o
histórico de cento e oitenta anos da Constituição do Ayiti e há exatos quarenta
uma homenagem de Dr. Depelchin anos desta publicação do YANDAPANAFRIKANU (2021). significado milenar de Maat (o prin-
no artigo Ernest Wamba dia Wamba, bros da renomada Per Ankh Publi- uma instigante chamada para orga- cípio universal de organização, justi-
a healer from within. sher (Senegal), uma cooperativa de nização sociocomunitária. No segun- ça, equilíbrio, ordem, verdade e reci-
O ensino de história da África é um editores idealizada pelo Sr. Ayi Kwei do capítulo (En solidariedad com procidade – vivenciado no Kemet pe-
dos centros da atividade professoral Armah (Gana) e especializada na Cité Soleil/Site Soley em Haití), há los Kemetiyu). É no Kreyòl Ayitiano
de Jacques Depelchin, que lecionou tradução multilingue de shesh me- uma crítica ao neocolonialismo inter- que nós agradecemos o trabalho e a
em universidades prestigiadas de dew netjer (a linguagem escrita dos nacional e doméstico que assola o vida desse combatente devotado à
países como R.D. Congo, Tanzânia, Kemetiyu/egípcios antigos). Wamba povo Africano no Ayiti, mais severa- justiça no mundo Africano: Mèsi
Moçambique e EUA. Além de uma dia Wamba também foi um colabo- mente as populações de Cité Soleil, a (Obrigado), Jacques Depelchin.
série de artigos escritos, o Dr. De- rador dessa entidade, especificamen- maior favela do país. Transcrevemos
pelchin publicou os livros: Towards a *Kwesi M. H. Ta Fari: Historiador, mem-
te nas traduções de sesh medew aqui um pequeno trecho dessa críti-
bro de iniciativas Pan-Africanistas e do
Demystification of Economic and netjer para o Kikongo. Na perspec- ca:
Movimento Rastafari.
Political History (1992), From the tiva de Ayi Kwei Armah, a única
“(…) As tentativas militares de rever-
Congo Free State to Zaire 1885-1974 razão para os estudos históricos, filo-
ter as vitórias dos Africanos no Ayiti Referências:
(1994), Silences in African History sóficos e linguísticos sobre o Kemet fracassaram. Os Africanos consegui-
(2000) e Reclaiming African History (Egito Antigo) é a sua aplicabilidade DEPELCHIN, Jaques. Por una
ram repelir os três melhores exércitos
(2011), todos reconhecidos como re- na resolução de problemas concre- do momento: o francês, o espanhol e recuperación de la historia africana. De
ferências para ciências sociais e mo- tos. É esse pragmatismo em relação o inglês. No entanto, em 1825 o go- África a Haiti a Gaza. Barcelona:
vimentos políticos. ao legado do Kemet que tem guiado verno do Ayiti foi forçado pela Fran- Oozepab (2011)
Silences in the African History programas educacionais sérios na ça, com a ajuda dos Estados Unidos, DEPELCHIN, Jaques. Silences in African
(2000) é possivelmente a obra mais Canadá e Vaticano, a pagar uma in- History. Oxford: African Books
diáspora africana, como os da Fon-
conhecida e influente do autor, um denização aos proprietários de escra- Collective (2000).
dasyon Felicitee (FF) no Ayiti.
vizados e de plantações, em troca de Websites consultados:
documento indispensável para a for- A reorganização nacional do Ayiti é
ser reconhecido como um estado. Os africasacountry.com
mação técnico-crítica de historiado- um tema presente na obra escrita e
pagamentos foram feitos até 1938, https://www.chrflagship.uwc.ac.za/
res dispostos a construir uma renova- na militância política de Jacques De-
segundo alguns, e até 1946, segundo http://edition.cnn.com
ção qualificada da historiografia afri- pelchin, que há décadas colabora Imagem: Southern Africa Report –
outros.
cana. Essa obra é um desconforto pa- com iniciativas importantes no cam- Quarter 2000 – Vol. 15 No.4
(…) os descobridores sempre serão
ra o ambiente eurocêntrico das aca- po proativo da crítica. Em 2004, a descobridores, e se os descobertos Tradução/Interpretação livre: Kwesi
demias no continente africano e na Revolução do Ayiti completou du- descobrem algo, especialmente algo M.H. Ta Fari

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