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SIMMEL.O Estrangeiro - Trad.koury - Rbsedez05
SIMMEL.O Estrangeiro - Trad.koury - Rbsedez05
O ESTRANGEIRO∗
Georg Simmel
∗
Este texto foi retirado do livro de Georg Simmel: Soziologie. Untersuchungen über die Formen
der Vergesellschaftung (Sociologia. Estudos sobre as formas de sociação). Berlim, Duncker e
Humblot Editores, 1908, pp. 509 a 512. Tradução de Mauro Guilherme Pinheiro KOURY.
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pode ser sugerida pelas regulações societárias, não obstante e de maneira nenhuma
com um significado único. Na história inteira da economia aparecem os
estrangeiros, por toda parte, como comerciantes, ou os comerciantes como
estrangeiros.
Enquanto economia essencial para as necessidades puras de troca, um
círculo espacial próximo parece reinar essencialmente sobre os produtos, e não há
necessidade de um intermediário. O comerciante entra em linha, apenas, para os
produtos que são lançados completamente fora deste círculo.
Quando, por exemplo, se deslocam no estrangeiro, ou em um ambiente a
eles estranho, para comprar suas necessidades, eles não se consideram diferentes
dos comerciantes "estrangeiros". O comerciante, então, não precisa ser visto como
um estrangeiro, mas sim, o comércio é visto, apenas, como uma ocasião de
existência.
A posição de estrangeiro, no entanto, se intensifica fixamente na
consciência, se alguém liga o estranho a sua atividade. A atividade, desta forma, se
fixa nele. Em inumeráveis casos, também, isto só será possível, se o estranho viver
no comércio como intermediário.
Em um meio econômico fechado, de uma maneira ou de outra, com o
terreno e o solo repartidos, é o artesanato que atribuirá agora, também, a
possibilidade do comerciante vir a ser suficiente, dando ao comerciante em
particular uma dada existência. Isto porque apenas o comércio permite
combinações ilimitadas, nele se encontram, ainda, os caminhos para a sua extensão
e para novas fixações que possuiriam um difícil êxito junto aos primeiros
produtores, quer por sua menor mobilidade, quer por sua apreensão sobre uma
única clientela, que cresce lenta e pesadamente.
O comércio, por seu turno, pode acolher sempre mais homem do que a
produção primária, e é o setor indicado para o estrangeiro que penetra, até certo
ponto, como um extra em um círculo determinado. Círculo este, onde as posições
econômicas já se encontram plenamente ocupadas. O exemplo clássico deste
processo nos é dado através da história dos judeus europeus.
O estrangeiro por sua natureza não é proprietário do solo, e o solo não é
somente compreendido no sentido físico, neste caso, mas, também, como uma
substância delongada da vida, que não se fixa em um espaço específico, ou em um
lugar ideal do perímetro social. Nas relações mais íntimas de pessoa a pessoa,
também, todas as atrações e significâncias possíveis no cotidiano das experiências
simbolizadas podem revelar o estrangeiro. O estrangeiro é sentido, então,
precisamente, como um estranho, isto é, como um outro não "proprietário do solo".
Esta informação dá o caráter simbólico da mobilidade do estrangeiro no
processo de intermediação comercial e, freqüentemente, o encasula em uma espécie
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Observação, contudo, em que o que é afirmado por erro, por parte dos enfastiados, desce até as
mais profundas e mais estreitas relações uniformes no que diz respeito ao que se tem admitido até
agora, mas ainda com demasiada digressão.
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sensação da eventualidade direta que estas relações inumam, e onde as forças que
conectam detêm o caráter específico e centrífugo perdido.
Esta constelação de sentidos em relação ao estrangeiro, me parece, agora,
possuir uma predominância de princípio extraordinária sobre os indivíduos para ser
possuidora, apenas, de relacionamento na questão concernente a um campo comum
referenciado. O estrangeiro parece próximo, na medida em que a ele o outro da
relação se iguala em termos de cidadania, ou em termos mais social, em função da
profissão, criando laços internos entre as partes inter-relacionadas. O estrangeiro
parece mais distante, por outro lado, na medida em que esta igualdade conecta
apenas os dois da relação de forma abstrata e geral, não havendo assim laços de
pertença.
Também nas relações mais estreitas, uma acepção de estranhamento vem
também facilmente. Vários aspectos gerais das relações eróticas rejeitam
resolutamente este pensamento de generalização face ao estágio da primeira
paixão: um tipo de amor como este certamente não produziu, ainda, o sentimento
de unicidade em relação à pessoa querida, que o levasse a uma possibilidade de
comparação.
Uma alienação mantém-se, assim, como causa, ou como conseqüência, e é
duramente categórico: no momento do começar, as relações de unicidade
desaparecem. Um ceticismo contra o valor individual em si e em relação ao nós
parece unir-se à experiência presente no pensamento, efetuando, por último, apenas
um destino humano no geral com o outro da relação, ou ainda, se um, por azar, não
tivesse encontrado precisamente esta outra pessoa da relação erótica, uma outra
qualquer teria ganho de forma diferente a mesma importância para esse eu à
procura de relação e conhecimento.
O que parece levar a uma aproximação de relações que, ainda, não podem
falsear, porque não diz respeito apenas a eles, e nunca é unicamente o comum dos
dois, mas uma noção geral. Uma noção ainda muito próxima do que escutam, e
assentada em possibilidades múltiplas do mesmo. Pouco podendo realizar, deste
modo, em suas ações. Esquecidas, freqüentemente, as partes em relação empurram-
se ou são incitadas, aqui e lá, através das máscaras que fazem movimentar o jogo
dos homens, sendo chamadas por palavras características das nebulosas que levam
a uma decisão, e que deveriam solidificar, apenas, com respeito ao unilateralismo
apontado como ciúme.
Talvez, em alguns casos mais gerais, por um lado, o mais irredutível
estranhamento não seja aquele que se faz por diferenças e incompreensividade:
onde, certamente, uma igualdade, uma harmonia, uma proximidade existem,
porém, com sentimentos de possessão exclusiva das relações. Mais por um mais
abstrato, que aplique o potencial existente entre as partes em relação e indetermine
infinitamente as muitas diferenças, com o resultado de que o relacionamento
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