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O Teatro Expressionista

A postura do movimento Expressionista nas artes visuais vinha em


contradição às demais posturas dos outros movimentos, que na visão dos
expressionistas eram absolutamente inertes às condições sociais e conflitos
que surgiam por toda parte no mundo e de tal forma que esses movimentos
artísticos não cumpriam com sua função social. O Expressionismo aparecerá
como uma das mais importantes tendências estéticas, do início do século XX,
conduzindo uma cena teatral e literária na Alemanha, entre os anos de 1906 e
1923, e que, pelo seu poder de expor as questões humanas em cena, refletirá
também na cena contemporânea.

A Alemanha se vê em profunda crise tanto moral quanto econômica que


atingia, sobretudo, a casta burguesia formalista, retrógada e conservadora, a
qual não se posicionava diante do severo quadro que se apresentava. A
juventude alemã, filhos dessa mesma burguesia, começavam a se impor e a
questionar a inércia social e parte para uma postura de repúdio à vergonhosa
hipocrisia que domina a sociedade conduzida pela geração de seus pais.

Com uma literatura já fortalecida muito antes da Primeira Guerra


Mundial, esses novos cidadãos alemães mergulhavam nas discussões e temas
dessa literatura que combatia a decadência do homem e a insistência nas
ideias do fim dos tempos. Esses jovens se inspiravam na vontade de ver surgir
um novo despertar desse homem e ansiavam pela revolução social. Todo
esse engajamento se encontrará acolhido pela cena teatral que expressará a
vontade de se ver surgir um Novo- homem.

O surgimento do Expressionismo está de forma direta ligado ao


momento de conturbação política e de contradições espirituais da Alemanha e
que se emana também por toda Europa. Encontramos nas discussões dos
argumentos expressionistas uma ânsia em expor, de modo pessimista, as
angústias do homem do início do século XX e representá-lo em sua forma
reduzida a nada, indefesa e esquecida pelos grandes e incontroláveis poderes.

De caráter anti-realista, o teatro Expressionista promove a cena sem a


imitação da fala coloquial e seu espaço de ação não repete os ambientes
familiares no palco, de tal modo que seus cenários não serão mais como meros
fundos de palco, mas participarão da ação dramática de modo direto e
significativo. O termo Expressionismo aparece pela primeira vez em uma
publicação de jornal, no ano de 1850, em que um crítico, ao mencionar uma
exposição de obras de arte visual, empregou o termo “ Escola
Expressionista”para se referir a uma linha de trabalho moderna, para a época,
que tinha uma temática e uma intenção de exprimir em suas telas as paixões
humanas. Entretanto, o termo só será usado para designar o movimento
artístico algumas décadas depois.
Sua postura não é mais individualista, e tampouco sua criação é poética.
O teatro expressionista é propagandista e socialista em sua proposta e
execução, apesar de encontrarmos alguns autores que se refugiam em uma
literatura direitista. Os conflitos comuns, em todas as ordens sociais, ganharam
espaço na cena, a luta dos sexos e das gerações, os filhos em revolta contra
os pais, a batalha entre o novo e o velho. Todo esse antagonismo, em uma
veia radical e agressiva, será nutriente para a poesia expressionista. Um teatro
revolucionário.

Sua necessidade de “expressividade” máxima de atingir o público,


de modo direto e sem piedade, procurou fazer com que cada elemento cênico
inserido na cena desde o ator, o cenário, a luz e a música fossem um elemento
de choque, um golpe que atinge o espectador e faz o grito de sua alma berrar.
Êxtase, protesto, subversão. A busca pela desnaturalização da cena é uma
reação violenta e precisa contra o realismo e o naturalismo e um abandono do
caráter descritivo da ação dramática utilizando-se da cor, da iluminação e do
símbolo estriado do objeto.

Os jogos de luz, como as pinceladas marcadas de um quadro de Edvard


Munch, pintam a cena com feixes luminosos que riscam o tablado que ora está
em penumbra ora é violentado por fortes incidências de luzes em jogos de
cores. Por muito provocam a nostalgia do claro-escuro.

O palco será tomado pelas sombras deformadas e distorcidas em um


clima sobrenatural que, com tudo mais, irão compor o ritmo da cena em uma
mistura frenética com a cor e a música. Seu cenário é reduzido ao espaço
essencial, em um “vazio” que deve ser construído pelo corpo do ator em um
espaço dinâmico e rítmico.

A transfiguração do corpo físico mediante o estado da alma, como em “O


Grito”, de Munch. Assim, veremos o ator expressionista moldando seu corpo
em forma e volume em uma tradução plástica da alma, em uma criação
artística que busca sublinhar as características findas das personagens e que
gera movimentos ásperos e de interrupções acentuadas na ação corporal do
ator em um total abandono da interpretação naturalista e uma expressão
carregada de sentido e de emoção. Dessa forma, encontraremos, nesses
roteiros, personagens que, muitas vezes, são caracterizados de modo
coletivizado, protagonistas coletivos, que não se individualizam representando
categorias como “a mulher”, “o soldado”, “o jovem”.
August Strindberg
O sueco August Strindberg (1849-1912) é considerado o autor da
primeira peça expressionista “A Estrada de Damasco” (1898-1904). Strindberg
teve uma fase de obras naturalistas, mas ao escrever “A Estrada de Damasco”
se coloca em posição oposta e inaugura a dramaturgia expressionista que teve
pequena repercussão na França e na Inglaterra, mas ganhou muitos adeptos
na Rússia e nos Estados Unidos.

Strindberg é o autor alemão mais encenado nesse período que antecede


a Primeira Grande Guerra no qual vinte e quatro peças de seu repertório foram
encenadas mais de mil vezes.

Com um roteiro criado por personagens que destoavam das


características sociais da época, sociedade que Strindberg questionava. Essa
sua postura e seu posicionamento de liderança o eleva a condição de “pai” do
Expressionismo teatral.

O que daí para frente foi chamado de Expressionismo Strindbergniano


caracteriza-se pela divisão de uma personalidade em várias outras em uma
espécie de conjunto ilustrativo dos conflitos presentes na mente humana
expostos nos comportamentos e valores das personagens de suas peças que
como em “Rumo a Damasco” são criadas dentro de uma encenação anti-
ilusionista e uma atmosfera de delírio.

Eugene O’Neill
As novas características geopolíticas e as mudanças que ocorriam no
mundo, como o fracasso alemão e a fase de questionamentos sociais que
tomavam conta de sua juventude; o crescimento da proposta comunista na
então União Soviética e a própria condução dos ideais de uma revolução social
que tomavam conta da Europa emanaram uma atmosfera política que,
rapidamente, alcançou e contaminou profundamente a América e sua classe
trabalhadora. Esse panorama político foi propício para o desembarcar da
proposta teatral que o Expressionismo alemão trazia na bagagem de seus
imigrantes recém-chegados à América, abrindo caminho, mais facilmente para
a chegada de peças dos autores expressionistas alemães com suas
companhias que já excursionavam o mundo. O clima opressor consumado às
classes trabalhadoras, na América, ocasionado pelo crescimento desordenado
da mecanização e industrialização dos setores trabalhistas, levou ao
surgimento dos sindicatos como uma ferramenta para se colocarem dentro dos
embates contra o capitalismo, o que foi terreno fértil para o teatro social
expressionista.
O’Neill (1888-1953), que também permeou os campos do teatro realista,
acaba por desenvolver uma dramaturgia que o coloca como maior
representante desse teatro expressionista dentro dos Estados Unidos da
América, onde irá refletir e expor todo o descontentamento da juventude norte
americana com os rumos materialistas da América. Suas obras são o retrato de
suas próprias opiniões e valores que, diante de tal quadro foi absorvendo e as
materializando em textos por meio da criação de personagens em uma genial
capacidade de adequação aos palcos e obviamente as gosto do público norte
americano.

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