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ROMANTISMO

Pré-romantismo e Romantismo

Por volta de 1770, surge na Alemanha um movimento denominado Sturm Und Drang (Tempestade
e Ímpeto), nome que batizou o Pré-Romantismo Alemão, tirado de uma peça escrita por Maximilian
von Klinger. Sturm Und Drang foi considerada a primeira corrente ampla romântica da Europa. Para
os adeptos do movimento a arte representava uma necessidade interior do artista e, por esse
motivo, deveria obedecer apenas às leis do impulso, livre de regras impostas e rígidas. O modelo
estético do movimento era a obra de Shakespeare. Combatendo as regras clássicas herdadas do
teatro francês, achando que os valores da antiguidade não poderiam sobreviver em uma sociedade
totalmente diversa da greco-romana, o romantismo foi o responsável pela recuperação do teatro
do dramaturgo inglês. A revolta dos pré-românticos contra a literatura tradicional ligava-se
basicamente em protestar contra o Absolutismo, um sistema político que concentra o poder nas
mãos de uma pessoa ou de um grupo de pessoas. A História está repleta de tiranos e ditadores,
mas a ideia de Absolutismo tornou-se proeminente na Europa durante os séculos XVI, XVII e XVIII,
quando monarcas estavam lutando para arrancar o poder de grupos, tais como a Igreja e senhores
feudais, para criar o estado nacional. O mais famoso absolutista foi Luís XIV da França, por ter
declarado que ele próprio era o estado: “L’etat, c’est moi”. As ideias centrais do Pré-Romantismo
eram de que os conflitos entre o indivíduo e a sociedade, em vez de serem analisados como um
fenômeno histórico, deveriam ser julgados inevitáveis, fatais. Assim, em vez de lutarem em favor de
uma ordem mais justa, passam a exaltar a emancipação anárquica do indivíduo. Este choque
permanente entre sociedade e indivíduo foi um tema típico do Pré-Romantismo, tornando- -se o
motivo central do Weltschermz (dor do mundo), dando início ao pensamento niilista, uma perda
total da fé e de quaisquer coisas, pregando que a sociedade só poderia ser consertada por meio de
sua completa destruição. Outras marcas deste momento dramático são os heróis rebeldes, a luta
contra o Absolutismo, contra a Igreja e pela liberdade política. Friedrich Schiller escreve em 1781 Os
Bandoleiros, em que é glorificada a imagem do criminoso nobre, o subversivo que lidera um grupo
de bandidos que, na verdade, são guerrilheiros lutando contra as normas da sociedade.

Neste mesmo período surge um movimento denominado Neoclassicismo, que objetiva opor-se ao
Pré-Romantismo. Não se trata de uma volta aos conceitos clássicos, mas apenas uma tentativa de
disciplinar a fúria desperta pelo Sturm Und Drang. Este movimento era encabeçado por Goethe e
Schiller, os dois principais nomes do Pré-Romantismo. Em outras palavras, o Neoclassicismo foi a
entrada do Sturm Und Drang na maturidade. Os estilos se misturam, se interpenetram e é difícil
saber onde um começa e onde o outro termina. Nessa época, surge o pensamento idealista que vai
tornar a Alemanha no início do século XIX o centro universal do pensamento por meio de Kant,
Hegel, Schelling e outros. A grande expressão cênica deste momento é encontrada no Teatro da
Corte de Weimar, dirigido por Johann Wolfgang Goethe. Uma das mais gratas heranças de Goethe,
além de sua obra, é a valorização do ator perante a sociedade, o que em grande parte se deve ao
trabalho por ele desenvolvido na Corte de Weimar, em que o ator era exigido em todas as suas
potencialidades. Segundo o filósofo idealista alemão Hegel

Chamam-se agora os atores de artistas e tributa-se-lhes toda a honra de uma profissão artística;
ser ator deixou de ser mácula social ou moral. E isso com toda razão; pois esta arte exige muito
talento, inteligência, perseverança, disciplina, exercício e conhecimento. No seu ápice ela exige
mesmo um gênio ricamente dotado.

Em oposição ao Teatro da Corte de Weimar estava o Teatro de Manhein, que mantinha-se próximo
da selvageria do Sturm Und Drang, em que se discutia com grande seriedade o problema do
desempenho do ator, exigindo deste uma forte identificação com a personagem, em que a vivência
e a emoção do ator tinham que ser totalmente canalizadas para dar vida ao que estava
representando. Embora preconizando de certa forma o pensamento de Stanislavaski, a escola de
Manhein exigia que o ator tivesse um estilo forte de representação. Em sua concepção, se o ator
desejava convencer a plateia, ele deveria representar em uma medida maior que o mundo real. De
modo geral, o tipo de representação deste período era o esboço de um novo estilo de
interpretação, mas ainda sob forte influência francesa, predominando uma movimentação
ondulante e um andar extremamente convencional, quase coreografado. Uma das características
mais importantes do Romantismo é o subjetivismo. É deste subjetivismo, da exaltação da fantasia
(fantasia esta, às vezes, bizarra), do seu autismo que coloca o Eu acima de tudo, que decorre o
desprezo pela composição dramática rigorosa, pela verossimilhança e pelo encadeamento lógico
que se exige geralmente da peça teatral. Os românticos já começavam a brincar com o absurdo,
com o jogo da ilusão teatral e a sua negação, com a forma aberta, solta, elementos estes que
penetraram na dramaturgia moderna. A visão teórica romântica se dirige contra o gênero
dramático e, particularmente, a tragédia, como atesta a seguinte declaração de Jacob Michael
Reinhold Lenz, poeta e dramaturgo alemão, autor de peças as quais precederam e influenciaram o
drama naturalista e expressionista:

Nossos autores devem escrever ao mesmo tempo de modo cômico e trágico, já que a comédia não
pode ser apenas ridente quando a sociedade tornar-se um quadro sério (M.R. Lenz).

A sua experiência de fragmentação e alienação, que os românticos atribuem a uma civilização que
perdera a unidade e se dilacerava em antagonismos e especializações, contrapunham o grande
ideal de integração e síntese que desejavam introduzir nos gêneros literários, cuja especialização e
divergência deveria ser superada pela fusão da narração, poesia lírica e dramática. Assim, a
dramaturgia romântica mostra um forte cunho épico-lírico. O fato é que o desejo de conciliação
para superar o conflito entre o mundo e o indivíduo, que era o pensamento do homem romântico,
faz com que suas ideias não se coadunem com o trágico, buscando a fantasia e criando o drama.
Outra grande moda romântica foi a Fatalidade, um estilo dramatúrgico muito utilizado para mostrar
o homem vivendo sob a determinação férrea de uma fatalidade que o encaminha necessariamente
para um fim sinistro, enfatizando a impossibilidade de se fugir do destino e a impotência do homem
diante da vida, vivendo tal qual um joguete das vontades divinas. Ao mesmo tempo que as
companhias teatrais estáveis e as construções de teatros se alastravam, a censura, manipulada por
uma facção reacionária da sociedade, também se desenvolvia, diante de um movimento tão
transgressor e tão contestador quanto foi o Romantismo. Goethe e Schiller são os principais
dramaturgos do Romantismo Alemão. Goethe era um homem preocupado com a história do povo
alemão, sua cultura e seu folclore. Esse apego às raízes alemãs Goethe misturou com os mitos
gregos e cristãos e com Shakespeare, compondo seus primeiros textos poéticos. Dessa época é a
sua obra-prima Fausto. Goethe desligou-se do Sturm Und Drang quando eclodiu a Revolução
Francesa. Sendo um aristocrata tradicional e elitista, ele não admirava os ideais revolucionários de
liberdade, igualdade e fraternidade, considerando-os abstrações perigosas. Schiller foi amigo de
Goethe, fortemente influenciado pela vivacidade e alegria de viver deste. Goethe abriu novos
horizontes para Schiller, homem voltado para si mesmo e para os livros. Por sua vez, Goethe teve
em Schiller o estímulo contínuo, o ouvido atento, as palavras exatas que lhe sugeriam soluções para
sua obra. Sob a influência de Schiller, Goethe escreveu o Fausto – 2ª parte. Schiller valorizava os
assuntos nacionais em sua peça. Os Bandoleiros traz pela primeira vez um herói alemão, mas sua
obra principal será Maria Stuart. Nesta peça, Schiller acaba com os mitos e escreve o que seria
considerado o primeiro drama com grandiosidade trágica. “O que pensas pertence a todos.
Somente é teu o que sentes”. Esta frase, do próprio Schiller, é, talvez, a que melhor o defina. Outro
autor importante do Romantismo na Alemanha foi Georg Buchner. Já em seu primeiro drama, A
Morte de Danton, o autor revelava o seu imenso poder intuitivo e sua força dramática. São
surpreendentes a clareza e concisão da obra, que, no entanto, comparada às posteriores, Leonce e
Lena e Woyzeck, não possui nem a fluência nem a segurança das outras. Leonce e Lena é uma
comédia que foi comparada à música de Mozart. Em alusões bem-humoradas, Buchner refere-se
aos males sociais, zomba do governo e escarnece da educação preconizada pela aristocracia. A
linguagem de Buchner mistura lirismo, sentenças de verdadeira sabedoria, frases comuns e
absurdos disparates. Woyzeck é considerada a sua obra-prima, embora a morte tenha impedido-o
de completar a peça, que terminou de ser escrita por seu primo. Nessa peça, Buchner encontrou
um estilo personalíssimo, considerada incomparável a qualquer obra anterior do teatro alemão e
que teve influência decisiva sobre todas as posteriores. Buchner escreveu apenas essas três peças,
tendo sua carreira cortada por uma febre tifóide aos 23 anos, quando ele estava se preparando
para assumir um cargo na Universidade de Zurique. O vigoroso Romantismo Inglês não obeteve
igual êxito no teatro. Lord Byron, destacado poeta do movimento na Inglaterra, escreveu algumas
peças em que a ação se arrasta monotonamente. O Romantismo Italiano se caracteriza pelo seu
forte caráter nacionalista, podendo-se destacar os nomes de Vitório Alfierie e Gabrielle D’Annunzio.
Na França, o Romantismo tem certa demora a ganhar os palcos. Estabeleceu-se somente no século
XIX, com Victor Hugo (1802-1885) por meio de seu manifesto definitivo do teatro romântico, no
prefácio à sua peça histórica Cromwell, em que foram estabelecidas as linhas básicas do
movimento na França. O triunfo do drama romântico nos palcos franceses deu a Victor Hugo as
honras de teórico do movimento. Com Alexandre Dumas – pai –, famoso por romances de capa e
espada (Os Três Mosqueteiros, O Conde de Monte Cristo, O Homem da Máscara de Ferro), o drama
romântico deixou-se influenciar pelo melodrama e retomou contato com o drama burguês do
século anterior. O drama de Dumas – pai – é romântico apenas no que diz respeito ao fantasioso,
ao domínio da emoção sobre a razão. Edmund Rostand será melhor dramaturgo, porém terá um
fato a concorrer-lhe contra: seus dramas cheios de amor e sentimentalismo fazem parte de um
Romantismo tardio, atrasado no tempo, peças escritas no final do século XIX e início do século XX
que já não correspondem ao pensamento da época. Dentre as obras de Rostand, destaca-se Cyrano
de Bergerac. Na primeira metade do século XIX, Alfred de Musset afirmou-se como o melhor
dramaturgo do Romantismo Francês. Foi ele dentre os seus contemporâneos quem melhor soube
compreender e aplicar os conceitos românticos, superando as limitações do Romantismo, ao qual
pertencia de corpo e alma com seus ideais.

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