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Silo - Tips Epistemologia Do Ensino Religioso A Inconveniencia Politica de Uma Area de Conhecimento Joao Decio Passos 1
Silo - Tips Epistemologia Do Ensino Religioso A Inconveniencia Politica de Uma Area de Conhecimento Joao Decio Passos 1
a inconveniência política de
uma área de conhecimento
João Décio Passos1
1
Doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP e mestre em Teologia pelo Instituto Teológico São Paulo
(Itesp). Livre-docente em Teologia pela PUC-SP, onde é professor associado no Departamento de
Ciência da Religião. Ex-diretor da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (Soter). Publicou
pela Ed. Paulinas, entre outros: Ensino Religioso: construção de uma proposta (col. Temas do
ensino religioso).
2
Cf. JAPIASSU, H. Introdução ao pensamento epistemológico. Rio de Janeiro: Francisco Alves,
1979. p. 15-16.
3
Cf. LENOIR, T. Instituindo a ciência; a produção cultural das disciplinas científicas. São Leopoldo:
Unisinos, 2004. p. 36-99.
A politização da questão
O objeto religião, tomado genericamente, tem a idade do ser humano. No sentido
específico, como significados sobrenaturais objetivados, tem a idade das civilizações, e
como prática burocrática estrutura-se no processo de racionalização pelo qual passou a
humanidade a partir do Ocidente. O estudo da religião nasce, por sua vez, juntamente com
outros estudos, ou seja, torna-se um objeto de investigação quando a realidade é assumida
como logos, primeiro como mito-logos, depois como teo-logos no contexto da antiga
Grécia. Falar em epistemologia do estudo da religião é inscrever-se em um panorama
temporal paradoxal, marcado por continuidades e rupturas e, sobretudo, disposto na longa
duração que coincide com a formação do que chamamos Ocidente, com suas raízes greco-
latinas e judaico-cristãs e com sua consolidação a partir da Modernidade. Como bem
exprime Max Weber, a religião não escapou da racionalização produzida pelo Ocidente.
Juntamente com outras expressões culturais, passou do espontâneo para o racional.4 Nesse
processo, não haveria nenhuma exceção à religião, não fosse a sua expressão política na
forma de poder instituído: estruturação institucional com papéis e funções com missão
estabelecida, em termos proselitistas e expansionistas. A razão de ser de todas as
instituições é autopreservar-se em seu ideal fundante, expandindo, para tanto, seus serviços.
4
Cf. A ética protestante e o espírito do capitalismo. Lisboa: Presença, 1996. Introdução.
5
Cf. FRANCA, Leonel. Ensino religioso e ensino leigo; aspectos pedagógicos, sociais e jurídicos.
Rio de Janeiro: Schmidt Editor, 1931.
6
Cf. MENEGHETTI, R. G. K. Comentários ao documento. In: SENA, L. Ensino religioso e
formação docente. São Paulo: Paulinas, 2006. p. 138-140.
A questão epistemológica
A discussão sobre os fundamentos teóricos e metodológicos do ER, fora dos
interesses do Estado e das Igrejas, situa-se, portanto, em outro campo: o da comunidade
científico-acadêmica, concretamente nas abordagens da filosofia da educação e das ciências
da religião. No entanto, os postuladores dessa causa se resumem numericamente a poucos
sujeitos. A discussão epistemológica, embora fundada em uma tradição sólida, carece, de
fato, de espaço dentro da própria comunidade científica, ainda marcada por concepções
científicas racionalistas, positivistas e tecnicistas. Eis o limite político e epistemológico real
que desafia a abnegação, a crítica e a criatividade dos estudiosos e militantes do assunto. A
sustentação exclusivamente política do ER o coloca em uma posição de exceção em relação
a outras disciplinas e, por conseguinte, em um lugar vulnerável, até mesmo do ponto de
vista legal, que acaba vigorando ao sabor das conjunturas políticas.
Sugerimos um encaminhamento da questão da epistemologia do ER a partir de três
afirmações:
8
Cf. PASSOS, J. D. Ensino religioso; construção de uma proposta. São Paulo: Paulinas, 2008. p.
113-132.
9
Cf. HANNOUN, H. Educação; certezas e apostas. São Paulo: Unesp, 1998. passim.
10
Cf. CABANAS, J. M. Q. Las creencias y la educación; pedagogía cosmovisional. Barcelona:
Herder, 2001. p. 77-148.
11
SOARES, A. M. L. Educação & religião; da ciência da religião ao ensino religioso. São Paulo:
Paulinas, 2010. passim.
12
Cf. LENOIR, Instituindo a ciência; a produção cultural das disciplinas científicas, p. 62-78.
Bibliografia
CABANAS, José Maria Q. Las creencias y la educación; pedagogía cosmovisional. Barcelona:
Herder, 2001.
FRANCA, Leonel. Ensino religioso e ensino leigo; aspectos pedagógicos, sociais e jurídicos. Rio
de Janeiro: Schmidt Editor, 1931.
HANNOUN, Hubert. Educação; certezas e apostas. São Paulo: Unesp, 1998.
JAPIASSU, Hilton. Introdução ao pensamento epistemológico. Rio de Janeiro: Francisco Alves,
1979.
KÜNG, Hans. Projeto de ética mundial. São Paulo: Paulus, 1992.
LENOIR, Timothy. Instituindo a ciência; a produção cultural das disciplinas científicas. São
Leopoldo: Unisinos, 2004.
PASSOS, J. Décio. Ensino religioso; construção de uma proposta. São Paulo: Paulinas, 2008.
SOARES, Afonso M. L. Religião & educação; da ciência da religião ao ensino religioso. São
Paulo: Paulinas, 2010.
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. Lisboa: Presença, 1996.