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Arte Naval - Cap. 06
Arte Naval - Cap. 06
Fig. 6-2 – Ligação soldada típica das sicordas, nas passagens por anteparas ou vaus
dos, e haviam sido testados antes de Isherwood. O sucesso deste consistiu em ter
criado um sistema prático longitudinal em que foi prevista também a resistência
transversal, obtendo a aprovação das Sociedades Classificadoras.
Os sistemas longitudinais, além de resistirem melhor aos esforços longitudi-
nais, prestam-se bem ao uso da solda e aos métodos modernos de pré-fabricação.
Têm ainda a vantagem de usar menos peças curvas (cavernas) e mais peças apro-
ximadamente retas (longarinas e sicordas), o que facilita a construção. Também
são mais convenientes para a subdivisão de navios como os petroleiros e carguei-
ros, os quais necessitam porões grandes e livres para a movimentação da carga.
6.4. Sistemas mistos – A maioria dos navios é construída num sistema mis-
to, em que há predominância, ora das peças longitudinais, ora das transversais.
Além dos esforços a que o navio está submetido como uma viga, o
chapeamento imerso do casco está sujeito a deformações das chapas causadas
pela pressão hidrostática. Para resistir melhor a este esforço é necessário suportar
as chapas com cavernas e longarinas de modo a formar painéis retangulares.
Esta estrutura retangular em forma de um quadriculado, recebendo um forro
inferior no fundo do porão além do forro exterior do fundo da carena, dá lugar a um
duplo-fundo (DF). Este duplo-fundo fica subdividido em inúmeros pequenos compar-
timentos chamados células, formando um compartimento estanque do duplo-fundo.
Daí o nome de duplo-fundo celular (DFC), dado a esta estrutura que aumenta a
resistência do casco precisamente na parte mais exposta às pressões da água.
Este sistema celular, que é sempre associado à estrutura do duplo-fundo, represen-
ta uma combinação dos dois sistemas, o longitudinal e o transversal, em que há
predominância de um ou de outro quanto à continuidade, sendo as vigas em ambos
os sentidos igualmente importantes.
Como sistema misto, mas não celular, há todos os tipos em que uma parte
do navio contém estrutura definitivamente longitudinal e em outra há predominância
da estrutura transversal.
PAR TE S D O C AS C O P R IN C IPAIS FU N Ç ÕE S S IS TE MA IN D IC AD O
elipse para acesso, a fim de ser feita limpeza e conservação; também são feitos
furos pequenos na parte de baixo, para serviço de esgoto (bueiros).
COSTADO CANTONEIRA
TRINCANIZ (CHAPA)
EXTERNA
CANTONEIRA INTERNA
(CONTÍNUA)
PERFIL L
6.11. Cavernas
a. Funções – Além de dar forma ao casco e de sustentar o chapeamento
exterior, as cavernas constituem, juntamente com os vaus, os elementos estruturais
transversais da estrutura do casco, destinados a resistir aos esforços nesse sentido.
b. Estrutura – As cavernas acima do bojo são constituídas por seções
laminadas "L", "C", "Z" quando rebitadas, e de perfis "T" quando soldadas, ou então
são seções fabricadas (soldadas).
No fundo do navio e nos extremos, as cavernas são feitas de seções fabricadas
(fig. 6-6a).
CANTONEIRA INVERTIDA
CANT. DE REFORÇO
CANT. INVERTIDA
HASTILHA
CANT. PRINCIPAL
As partes das cavernas entre a quilha e o bojo do navio levam chapas chama-
das hastilhas. As hastilhas são, na sua forma mais simples, constituídas por uma
chapa vertical estendendo-se desde a quilha até a curvatura do bojo do casco,
recebendo reforços, em geral constituídos por duas cantoneiras dispostas nas suas
bainhas superior e inferior.
A cantoneira inferior da hastilha, que em uma das abas recebe o chapeamento
exterior do casco, chama-se cantoneira principal e pode prolongar-se em ramos
verticais que vão constituir os braços da caverna até o convés.
A cantoneira invertida, que contorna a bainha superior da hastilha, recebe
este nome em virtude de sua posição em relação à cantoneira principal, pois elas
são colocadas simetricamente uma à outra (fig. 6-6a).
As cantoneiras principais são colocadas simetricamente em relação à seção
mestra do navio, de modo que a aba que está soldada ao chapeamento exterior
esteja voltada para aquela seção (fig. 6-6b). Evita-se assim o escantilhão fechado
(fig. 5-6).
6.12. Gigantes (figs. 1-4, 6-8a e 6-8b) – São cavernas reforçadas contínuas,
formando anéis com os vaus reforçados do convés e das cobertas. Um gigante é
essencialmente constituído por uma chapa disposta em todo o contorno da seção
transversal do casco; esta chapa é soldada ao chapeamento exterior do casco. Os
gigantes têm geralmente uma largura três ou quatro vezes maior que a largura de
uma caverna ordinária e podem ter furos de alívio.
No sistema longitudinal, os gigantes são de maior altura que as longarinas e
são atravessados por estas. Os gigantes e as longarinas são ligados entre si por
meio de borboletas, colar, ou por cantoneiras de ligação (figs. 6-8a e 6-8b).
SEÇÃO SEÇÃO NA
NA PROA PROA
L.A. L.A.
ÂNCORA ÂNCORA
CONVÉS CONVÉS
-
LINHA-D'ÁGUA -
LINHA-D'ÁGUA
E - SALSA PROA
C - PROA EM CONCHA D - PROA LANÇADA
SEÇÃO
NA PROA
F - PROA BULBOSA
L.A.
LINHA-D'ÁGUA
CONVÉS
DELGADOS
BULBO PERFIL
-
LINHA-D'ÁGUA
Quando a roda é muito grande, ela pode ser feita em duas ou mais seções,
as quais devem ser rigidamente ligadas entre si; usualmente, entretanto, a roda é
fundida ou forjada em uma só peça.
O pé da roda é arranjado de modo a poder receber as diversas chapas e
cantoneiras que formam a quilha; a ligação da quilha à roda é feita por cravação,
com rebites ou prisioneiros.
Na aresta de ré a roda de proa possui um rebaixo a fim de receber os topos
das chapas do forro exterior, de modo que a superfície externa se apresenta lisa;
este rebaixo chama-se alefriz, e nele as chapas do casco são ligadas por meio de
rebites, prisioneiros ou solda.
O convés na parte superior, a quilha na parte inferior, e as cobertas, longarinas
e buçardas nos pontos intermediários suportam a roda de proa. Buçardas são as
chapas, ou as estruturas de chapa, colocadas no bico de proa, horizontalmente,
entre os pavimentos.
As cavernas, e especialmente as hastilhas altas, formam os reforços verti-
cais da proa (fig. 6-11b).
Alguns navios têm talhamar, que é uma barra forjada ou laminada e trabalha-
da na máquina, ou então são chapas curvas em "U" (chapas de contorno), coloca-
das na parte externa da roda de proa. A ligação do talhamar à quilha, ou da roda à
quilha, chama-se patilhão.
FÊMEAS
DO LEME
(3) sistema em trincado simples (fig. 6-13c) – Neste sistema as fiadas são
colocadas uma sobre as outras como telhas em um telhado. Entre as chapas e as
cavernas são colocadas calços em cunha, ou então a junta é rebaixada na chapa,
encarecendo qualquer dos dois tipos a mão-de-obra. Este tipo não é mais usado.
6.19. Anteparas
a. Funções
(1) subdivisão – A função original das anteparas é a de subdividir o espaço
interno de cada pavimento, em compartimentos, paióis e tanques;
(2) estanqueidade – Algumas anteparas adquirem maior importância na es-
trutura do navio. São as anteparas estanques, que têm por fim dividir o volume
interior do casco em certo número de compartimentos estanques à água, para que
possa ser mais facilmente localizado qualquer veio d’água e reduzidos os seus
efeitos;
(3) resistência estrutural – As anteparas estanques concorrem para a robustez
do casco, auxiliando as cavernas a manter a sua forma contra a pressão da água, e
ligam entre si o fundo, os costados e os pavimentos. Elas suportam o convés e as
cargas concentradas, como canhões, cabrestantes etc., distribuindo os esforços
locais por uma região maior do casco, e desempenham, portanto, uma função im-
portante na estrutura;
(4) proteção – As anteparas servem como proteção contra incêndio, permi-
tindo localizá-lo, limitá-lo e ainda alagar o compartimento para a extinção do mes-
mo. Em alguns casos servem também como proteção balística contra a penetração
de projéteis e contra explosões submarinas; e
(5) redução das superfícies líquidas livres – Nos grandes tanques de óleo e de
água há anteparas leves e com diversos furos de passagem; são destinadas apenas
a reduzir o movimento livre do líquido, impedindo os seus efeitos dinâmicos contra
as anteparas dos próprios tanques e a estabilidade do navio. São chamadas ante-
paras de choque ou diafragmas (fig. 6-14a), e geralmente são longitudinais.
(6) ligação das anteparas – A ligação das anteparas estanques com o costado,
pavimentos, fundo do porão etc. varia conforme se trate de anteparas longitudinais ou
transversais e segundo o navio possua ou não duplo-fundo.
Não havendo duplo-fundo, as chapas das anteparas transversais são ligadas
diretamente às cavernas, tanto no fundo do porão como nas amuradas. Neste caso é
suprimida a chapa-caverna e a antepara é ligada, na parte inferior, à cantoneira princi-
pal da caverna. Se o navio tem duplo-fundo, as anteparas transversais são ligadas ao
teto do duplo-fundo (fig. 6.14b).
A estanqueidade do contorno das anteparas é obtida, nas anteparas cravadas,
pela cantoneira de contorno e, nas anteparas soldadas, por solda.
d. Prumos e travessas – São os reforços das anteparas, já definidos no item
c (1). As anteparas não devem trabalhar com grandes flexões, não só porque concor-
rem para a resistência estrutural, como porque quase sempre elas dão passagem a
canalizações, cabos elétricos e eixos de manobra, ou suportam cabides para eixos e
aparelhos diversos. Uma deformação excessiva tiraria do alinhamento esses eixos e
aparelhos e arruinaria a estanqueidade das juntas de passagem.
Tal como os chapeamentos dos conveses e o exterior do casco, as anteparas
recebem um sistema de reforços, para limitar a flexão. Estes reforços devem correr
numa só direção, isto é, ou são verticais (prumos) ou são horizontais (travessas);
excetuam-se as anteparas de tanques fundos como veremos adiante.
O melhor tipo de reforço, quanto à simetria e eficiência, é um perfil "T" soldado
(fig. 6.14c); todos os reforços devem estar de um só lado da antepara.
Os reforços devem correr na menor direção da antepara. Assim, a meia-nau
devem-se usar prumos e na proa são usadas travessas. O espaçamento deles deve
ser, sempre que possível, igual ao espaçamento nominal das cavernas.
Nas anteparas dos tanques fundos (mais de uma altura de coberta), usam-se
geralmente prumos e travessas combinados, para reduzir ao mínimo as deflexões;
neste caso, os prumos serão contínuos e as travessas intercostais.
Sempre que possível, os prumos devem estar em linha com uma sicorda ou
uma longitudinal do fundo. Do mesmo modo, as travessas devem estar em linha com
as longitudinais dos lados. Isto permite que eles sejam adequadamente engastados
nos extremos.
A ligação dos prumos e travessas nas extremidades e em cada pavimento é
feita por meio de borboletas (fig. 6.14b).
e. Disposição e número das anteparas estanques
(1) generalidades – A disposição e o número das anteparas estanques depen-
dem do comprimento do navio, e para um dado comprimento variam com a natureza
do serviço a que o navio é destinado.
Sob o ponto de vista de proteção, o número de anteparas estanques deve ser o
maior possível, uma vez que elas limitam o alagamento. Há, entretanto, outros fatores
a considerar, tendo em vista os inconvenientes que as anteparas estanques apresen-
tam, a saber: (a) dificultam a comunicação entre os vários compartimentos; (b) permi-
tem uma elevação de temperatura, uma vez que dificultam a ventilação interna; (c)
sua estrutura representa peso que pode ser aproveitado em benefício de outros requi-
sitos; e (d) nos navios mercantes dificultam a estiva das mercadorias e o movimento
de certas cargas de maior tamanho, tal como madeira em toras, trilhos etc.
256 ARTE NAVAL
dois hélices há usualmente duas praças de máquinas divididas por uma antepara
estanque diametral. Esta antepara visa impedir que fiquem fora de ação as duas
máquinas motoras por motivo de estar um compartimento alagado. Os inconvenien-
tes para o caso de o navio tomar banda são considerados menos importantes que o
fato de ficar ele à deriva e, além disto, a banda pode ser compensada pela admissão
de água em um tanque lateral do bordo oposto. Os petroleiros têm anteparas longi-
tudinais estanques, para subdividir seus tanques.
6.21. Superestruturas
a. Esforços a que estão sujeitas – Além dos esforços que suportam
como parte da estrutura do navio, as superestruturas estão sujeitas a:
(1) inércia devida ao jogo transversal e longitudinal do navio;
(2) pressão do vento;
(3) efeitos do armamento de bordo; e
(4) golpes do mar.
Todos os fatos acima causam esforços tendentes a romper a ligação en-
tre a superestrutura e o convés. Quando a superestrutura não vai de um bordo a
outro, a ligação é feita diretamente ao convés por cantoneiras de contorno (na
construção cravada) ou por solda entre o chapeamento da superestrutura e seus
prumos, de encontro ao convés. Para soldar uma chapa de aço médio ou de aço
de alta tensão da superestrutura a um convés de aço balístico, crava-se uma tira
de aço mais resistente no convés e solda-se a chapa a esta tira.
b. Construção – As superestruturas podem ser estruturais e leves. Uma
superestrutura estrutural é parte integrante da estrutura do navio, e é destinada
a concorrer com sua parte para a resistência do mesmo; exemplo, castelo e
tombadilho.
Como as superestruturas são muito afastadas do eixo neutro do navio,
estão submetidas a esforços grandes e, portanto, como peças estruturais, pre-
cisariam ser muito pesadas. Sabemos que pesos altos são prejudiciais à esta-
bilidade do navio. Além disto, as superestruturas são as partes do navio mais
sujeitas à destruição por ação inimiga, naval ou aérea, e portanto não se deve
contar com elas como parte essencial da estrutura dos navios de guerra.
Pelas razões acima, as superestruturas dos navios de guerra são em ge-
ral do tipo leve, construídas com chapas de 6 a 10 libras de peso nominal,
havendo uma boa ligação com o convés. Quando as superestruturas leves são
260 ARTE NAVAL
6.22. Bolinas
a. Função – As bolinas são apêndices de chapa dispostas perpendicular-
mente ao chapeamento exterior do casco, na curvatura do bojo, de um e de
outro bordo. Têm como finalidade a redução da amplitude e da velocidade do
balanço.
As bolinas são empregadas nos navios modernos de qualquer classe.
Elas são mais efetivas nos navios que têm pequena amplitude de balanço, mas,
de modo geral, pode-se dizer que diminuem pela metade a amplitude das oscila-
ções do navio. Isto é de grande importância para os navios de guerra, não so-
mente por dar uma melhor plataforma de tiro, como por diminuir a possibilidade
de um tiro inimigo atingir a parte não protegida da carena. Para os navios mer-
cantes melhora as condições de estabilidade, e a conservação e segurança da
carga.
b. Estrutura (fig. 6-16) – Nos navios pequenos as bolinas são constituí-
das por barras com ou sem nervura, ou por pedaços de chapa, ligadas ao
chapeamento exterior do casco por duas ou por uma só cantoneira. Elas se
estendem em cerca de 1/3 a 3/4 do comprimento o navio; a altura varia de 0,30
a 0,90 metro.
Em algumas classes de contratorpedeiros as bolinas são constituídas por
perfis “T”, cujas abas são cravadas às fiadas de chapas dos bojos (fig. 6-16).
Nos navios grandes as bolinas são constituídas por duas chapas crava-
das ao chapeamento do casco por cantoneira, formando uma estrutura triangu-
lar (fig. 6-16). A fim de evitar que a água penetre na bolina através de uma junta
mal calafetada, o que causaria uma sobrecarga de peso e a corrosão interior das
chapas, costuma-se encher o espaço interior com madeira leve; outras vezes,
os espaços são mantidos vazios, mas fazem-se portas de visita a fim de que se
possa inspecionar e pintar interiormente.
A bolina não deve projetar-se além da boca máxima do navio, nem abaixo
da linha da quilha.
Em alguns encouraçados havia quatro bolinas, de cerca de 20 metros de
comprimento, instaladas nas curvaturas do bojo, duas a vante, na região das
torres de vante, e duas a ré, na região das torres de ré, e nos navios modernos
depende do tipo de navio ou se existem estabilizadores ou não.
ESTRUTURA DO CASCO DOS NAVIOS METÁLICOS 261
1' 8''
2' 3''
Nos navios de guerra, quase sempre, e nos navios mercantes, algumas ve-
zes, há necessidade de ser a balaustrada desmontável, ou de rebater, para deixar
safo o armamento ou para permitir qualquer manobra. Para isto os balaústres são
ligados a castanhas fixas no convés, por meio de um pino ou travessão, que permi-
tem serem eles rebatidos sobre o convés ou retirados.
Em alguns navios a ligação dos balaústres é feita somente por correntes ou
cabos de aço, estendidos horizontalmente, normalmente em 3 fiadas.
c. Redes e cabos de vaivém
(1) redes – Alguns navios de guerra são guarnecidos com redes de cabo de
fibra fixadas às balaustradas, a fim de evitar que o jogo do navio e o sopro das
explosões causem a queda ao mar de pessoas feridas ou caídas no convés; e
(2) cabos de vaivém – São passados em balaústres próprios ao longo de
lugares expostos do convés de navios pequenos, como segurança para o pessoal,
que se segura neles em caso de mau tempo ou como guia à noite.
Fixado às anteparas de algumas superestruturas há um vergalhão que serve
de corrimão para o mesmo fim; é chamado de corrimão da antepara.
d. Escoamento de águas
(1) água embarcada – O escoamento rápido de grandes massas de água
embarcada em convés aberto guarnecido com balaustrada não oferece dificuldade.
Quando o convés tem borda, nela são feitas aberturas chamadas saídas de água
(fig. 1-26); estas saídas podem ser abertas ou têm portinhola que se abre apenas de
dentro para fora. A ferragem das portinholas, os gonzos e os pinos devem ser de
latão para não ficarem emperrados por oxidação. A aresta inferior da saída de água
deve ser bem baixa no nível do convés e, se a abertura é grande, deve ser guarnecida
com vergalhões de aço.
A dificuldade de saída de água embarcada é maior quando o navio tem poço
(art. 1.41); neste caso há possibilidade de as águas ficarem represadas. Nestes
navios deve ser usada uma saída de água de 4 pés quadrados (0,372 metro quadra-
do), por cada 10 pés (3 metros) de borda, e 2/3 da área total de saída devem ficar na
metade do convés próxima de meia-nau. A razão disto é que, devido ao tosamento
do navio, as águas tendem a correr para meia-nau.
(2) águas de baldeação e chuvas – Para evitar que as águas de baldeação ou
chuvas corram do convés para os costados e sujem estes, quando o convés tem
balaustrada, coloca-se uma calha, formada por uma barra de aço galvanizado de
cerca de 3 x 1/4 da polegada, a cerca de 12 polegadas (30 centímetros) da borda.
Quando o convés tem revestimento de madeira, o tabuado termina na calha do
trincaniz. De 12 em 12 metros mais ou menos, coloca-se um embornal, para dar
saída à água. Em alguns navios os embornais descarregam através de tubos cha-
mados dalas. Nos navios antigos estas dalas corriam por fora do costado.
e. Toldos – Toldos são coberturas de lona colocadas sobre os conveses
expostos ao tempo, a fim de proteger o pessoal contra o sol e a chuva. Nos navios
de guerra é necessário que os toldos possam ser retirados ou colocados com faci-
lidade e rapidez. Em tempo de guerra, os navios devem conservar o mínimo de
toldos a bordo, devido ao perigo de incêndio e à conseqüente fumaça sufocante
desprendida pela lona queimada.
264 ARTE NAVAL
sobre o assunto; cada Marinha tem suas preferências e não divulga suas experiên-
cias e observações. Os exemplos a seguir mostram os jazentes típicos.
(1) jazente sobre tubulação – A base do canhão é suportada diretamente por
uma tubulação de chapa de aço, cujo diâmetro é um pouco menor ou um pouco
maior que o diâmetro do círculo de parafusos do pedestal. O tubulão tem a altura de
uma coberta e é suportado em baixo por uma antepara com prumos reforçados, ou
por pés-de-carneiro.Este tipo é simples e torna o suporte do canhão pouco depen-
dente da estrutura do navio; isto é vantajoso em navio velho, ou quando se tem
pouca confiança na sua estrutura. Por outro lado são introduzidos a bordo maiores
pesos e é ocupado um grande espaço na coberta imediatamente abaixo do canhão;
(2) jazente sobre vigas – A base do canhão é suportada por uma rede de
vigas, sendo duas longitudinais e duas transversais, apoiando o círculo de parafu-
sos do reparo em oito pontos eqüidistantes, espaçados de 45°. Para estas vigas
podem-se empregar as próprias sicordas e vaus do convés, reforçadas no local. As
vigas são engastadas ou apoiadas em anteparas ou pés-de-carneiro nos quatro
pontos de cruzamento. Este tipo introduz um mínimo de pesos adicionais no navio
e causa um mínimo de obstrução na coberta abaixo do canhão.
Para canhões de 3 polegadas (76,2 milímetros) ou menores, pode-se simpli-
ficar o jazente, usando três vigas em triângulo, em vez de quatro;
(3) jazente sobre anteparas – Em vez de uma rede de quatro vigas como
acima, o jazente pode ser constituído por quatro anteparas formando uma caixa que
suporta diretamente a base do canhão. Isto equivale a usar vigas cuja altura seja
igual a uma altura de coberta. Também são usadas duas anteparas em uma direção
e duas vigas na perpendicular.
Em alguns casos, as quatro anteparas formam uma praça de manobra em
baixo do canhão, e a base é suportada por meio de prumos internos e borboletas;
(4) jazente acima do convés – Nos três tipos de jazentes acima indicados, a
base do canhão assenta em um convés do navio e o chapeamento do convés e do
reforço ajudam a resistir à componente horizontal de recuo. Em certos casos é
necessário colocar o canhão em posição elevada sobre o convés, como por exem-
plo no castelo de navios mercantes, a fim de poder atirar por cima do cabrestante e
de ficar mais seco (livre de borrifos d’água). Para alterar a posição do canhão, pode-
se colocar um tubulão no convés, e constrói-se uma plataforma leve para manobra
do canhão. Este tubulão é suportado abaixo do convés por um dos tipos de jazentes
acima indicados.
Uma solução, quando não convém obstruir espaço abaixo do convés, é apro-
veitar uma antepara. Neste caso o jazente é todo ele acima do convés, exceto os
prumos reforçados das anteparas;
(5) jazentes diversos – Os jazentes de metralhadoras e morteiros são simpli-
ficações dos tipos acima referidos. Em geral, o peso adicionado é mínimo quando
se aproveita, por exemplo, uma antepara convenientemente reforçada para servir de
jazente; e
(6) jazentes de torres – Os jazentes das torres modernas consistem em um
cilindro de aço balístico ou aço-níquel, com duas a quatro alturas de convés (fig. 6-
19b). O topo do cilindro recebe um anel de aço fundido, o qual forma a base da torre,
e cuja superfície superior é perfeitamente plana e paralela ao plano de flutuação
projetado do navio. Entre a base da torre e a torre trabalha um jogo de rodetes, a fim
ESTRUTURA DO CASCO DOS NAVIOS METÁLICOS 271
SAPATA CÔNICA
SAPATA PIVOTADA
6.31. Tubo telescópico do eixo (fig. 6-22) – O eixo propulsor sai do casco do
navio dentro de um tubo chamado tubo telescópico. Há tubos longos e curtos; isto
depende do espaço que ele tenha de atravessar no compartimento de colisão AR.
No interior do tubo coloca-se um mancal de sustentação chamado mancal ou
bucha do tubo telescópico. As extremidades do tubo são ligadas à estrutura do
navio por espelhos (flanges) de aço fundido. A superfície de trabalho do mancal do
tubo telescópico é formada por taliscas de pau de peso ou resina, e é invadida
livremente pela água do mar, com a finalidade de lubrificar e refrigerar a mesma. Na
extremidade do tubo que fica no interior no navio há uma caixa de gaxetas, ou selo
mecânico, para vedar a entrada da água do mar. O compartimento em que fica
ESTRUTURA DO CASCO DOS NAVIOS METÁLICOS
273
Fig. 6-21 – Esquema típico de uma linha de eixo utilizada atualmente
274 ARTE NAVAL
6.33. Hélices (fig. 6-24) – Praticamente todos os navios são movidos por
meio de hélices instalados em posição submersa na popa, com eixo na posição
horizontal ou com pequena inclinação (mais usado).
276 ARTE NAVAL
a. Definições:
(1) superfície helicoidal – É a superfície gerada por uma linha inclinada sobre
um eixo, girando em torno deste eixo sob velocidade constante e avançando ao longo
dele sob velocidade constante;
(2) pá do hélice – É uma peça em forma de pá, tendo por superfície uma porção
de superfície helicoidal;
(3) bosso do hélice – Peça de forma geralmente troncônica que sustenta as
pás do hélice e se liga ao eixo de rotação;
(4) hélice – É o conjunto do bosso e um determinado número de pás do hélice
(geralmente 2, 3 ou 4), sendo estas pás iguais e espaçadas de ângulos iguais em
torno do eixo;
(5) olhando-se de ré para vante para um hélice, diz-se que este é direito ou
esquerdo conforme a pá de cima se desloca para a direita ou para a esquerda, em
marcha a vante;
(6) aresta de ataque – É a aresta que corta primeiro a água, na marcha a vante;
(7) aresta de saída – É a aresta oposta à aresta de ataque;
(8) face – É a superfície de ré da pá;
(9) dorso – É a superfície oposta à face;
(10) ponta – É o ponto da pá mais afastado do eixo;
(11) diâmetro do hélice – É o diâmetro da circunferência gerada pelas pontas
das pás. Os hélices de maior velocidade caracterizam-se pelo menor diâmetro;
(12) passo – É o avanço ao longo do eixo durante uma rotação, se, como um
parafuso, o hélice trabalhasse numa porca. A face pode ter o mesmo passo em cada
ponto, ou o passo pode variar de diferentes modos. O hélice tem passo constante
ESTRUTURA DO CASCO DOS NAVIOS METÁLICOS 277
pulsores. Os contratorpedeiros têm 2 propulsores, com 15.000 a 20.000 SHP por eixo.
Os grandes porta-aviões têm geralmente 4 propulsores, com 20.000 a 50.000 SHP por
eixo;
(2) número de pás por hélice – De modo geral, quanto menor o número de pás,
maior o rendimento. Usualmente empregam-se de 3 ou 4 pás. Os hélices de 3 pás são
preferidos, por serem mais leves e mais eficientes que os de 4 pás. Os hélices de 4 pás
são usados quando o de 3 pás causa muita vibração em mar grosso, ou quando precisa
ter o diâmetro grande demais para o local.
Hélices de 2 pás não são empregados porque precisam ter um diâmetro grande
demais e também porque o desequilíbrio será grande no caso eventual de avaria em
uma pá. Hélices de 5 pás são muito empregados nos navios de grande potência, como
navios-aeródromos, cruzadores, superpetroleiros e nos submarinos de propulsão nucle-
ar;
(3) sentido de rotação – Nos navios de um só hélice o sentido de rotação é
indiferente, mas são mais empregados hélices direitos. Nos hélices laterais dos navios
de 3 propulsores, e nos navios de 2 ou 4 propulsores, estes giram para fora em marcha
a vante, isto é, os de BE são hélices direitos e os de BB são esquerdos. A disposição
dos hélices para fora dá maior propulsão e facilidade de manobra ao navio;
(4) forma da pá – Elítica ou oval, com as pontas devendo ser bem arredondadas;
(5) espessura das pás – Para os hélices de baixa velocidade são preferidas as
pás de grande espessura; nos hélices de alta velocidade, onde é provável a cavitação,
as pás devem ser tão finas quanto o permitam as especificações de resistência;
(6) bosso – A melhor forma do bosso é a esférica; admite-se na prática que o
bosso deve ter um diâmetro igual a 15 a 23% do diâmetro do hélice. O bosso é fixado ao
eixo com chaveta e porca, esta sendo coberta por uma tampa – o cone;
(7) posição – Os hélices devem ser colocados a ré, tanto quanto for praticável.
Deve-se ter o hélice tão submerso quanto possível, a fim de diminuir a possibilidade de
ele disparar, isto é, as pás girarem fora da água com mar de vagas, o que se dá princi-
palmente com o navio em deslocamento leve.
A folga entre o tope da pá e o casco do navio é de cerca de 25% do diâmetro do
hélice para os navios de um só propulsor. Uma folga menor entre os topes das pás e o
casco poderá ocasionar vibrações na popa.
É desejável que os topes dos propulsores não se projetem abaixo da linha base,
nem para fora da boca da seção transversal onde estão localizados. Nos navios mer-
cantes isto é geralmente possível. Nos cruzadores e nos contratorpedeiros nem sem-
pre se consegue esse posicionamento, e os hélices estão mais sujeitos a avarias em
caso de encalhe e a pancadas no cais, e tornam as docagens e atracações mais
perigosas.
A distância dos hélices laterais ao plano diametral do navio não influi na eficiên-
cia, mas um afastamento excessivo é ruim para o leme.
Nos navios de 3 hélices, os propulsores laterais ficam usualmente por ante-a-
vante do hélice central, para que este fique safo da ação daqueles. Nos navios de 4
hélices, os dois propulsores externos ficam a vante e acima dos dois internos;
(8) inclinação – Se a linha AB (fig. 6-24, B) não for perpendicular ao eixo, diz-se
que o hélice tem uma inclinação, que pode ser para vante ou para ré. Dá-se inclinação
a um hélice para aumentar a folga entre os topes das pás e a popa do navio, mas isto
aumenta o esforço sobre as pás; e
280 ARTE NAVAL
(9) largura das pás; área das pás – Tracemos um retângulo, cujo comprimento
seja o comprimento da pá (do tope ao bosso) e sua área, a área desenvolvida da pá do
hélice. A relação entre a largura deste retângulo e o diâmetro do hélice chama-se o
coeficiente da largura média. Este coeficiente exprime a largura da pá do hélice.
Nos hélices de baixa RPM, onde não há probabilidade de cavitação, a prática
indica o coeficiente da largura média igual a 0,25 como o melhor. Nos hélices de maior
RPM, onde há probabilidade de cavitação, aumenta-se este coeficiente até 0,35. Não
são desejáveis as pás muito largas devido às perdas de atrito.
c. Construção – O material dos hélices é geralmente bronze-manganês, um
metal de ótimas propriedades mecânicas, resistente à corrosão em água salgada e
que permite obter uma superfície bem polida. Também se usa muito o bronze-níquel-
alumínio e o bronze-níquel-manganês. Em rebocadores, embarcações de porto e na-
vios fluviais têm sido usados propulsores de ferro fundido ou de aço fundido. O ferro
fundido, além de ser mais barato, tem pequena resistência ao choque e quando en-
contra um obstáculo quebra-se facilmente, sem que o impacto possa afetar o eixo ou
a máquina.
Os hélices, em geral, são fundidos em uma só peça. O furo do bosso é ligeira-
mente cônico, diminuindo de vante para ré. O bosso é enchavetado no eixo propulsor,
e é fixado a este por uma ou mais porcas ou por ajustagem de pressão.
d. Tubo Kort (fig. 6-25) – A eficiência máxima de reboque depende mais do
esforço de tração do que da potência desenvolvida pelo motor. O tubo Kort, que envol-
ve o hélice, controla a direção e a velocidade dos filetes líquidos que passam dentro e
fora dele. Com isto aumenta-se o esforço de tração de um rebocador, especialmente
em águas paradas, podendo este aumento atingir 30%.
caso o número de RPM e a potência não caem, ou diminuem pouco. Isto é possível
porque a caldeira pode rapidamente fornecer mais vapor, aumentando a carga nos cilin-
dros. O tempo de sobrecarga dependerá da capacidade da caldeira em produzir vapor.
Os motores diesel em geral não aceitam sobrecarga; a força desenvolvida po-
derá ser aumentada de uns 5 por cento por um período muito curto, cerca de meia
hora somente. Se tentarmos exceder esses limites o motor pára.
Numa instalação diesel-elétrica, contudo, o motor elétrico que é montado dire-
tamente no eixo do hélice assegura a máxima força de reação ou, se isto for deseja-
do, a máxima velocidade do hélice, absorvendo a potência total desenvolvida.
Outro sistema usado em rebocadores é a propulsão diesel com transmissão
hidráulica. Neste caso, o motor diesel impulsiona uma bomba hidráulica que fornece
óleo sob pressão a um motor hidráulico montado no eixo do hélice. A ajustagem entre
a força de tração e o número de RPM, como for desejado, se faz do mesmo modo que
na instalação diesel-elétrica.
Nos hélices de passo controlado, o passo médio pode ser alterado por meio de
um volante no passadiço ou na praça de máquinas. Deste modo, o hélice trabalha
sempre com a máxima eficiência, absorvendo a potência total do motor em qualquer
número de RPM entre os dois limites – máxima força de tração e máxima velocidade
– como nas instalações diesel acima citadas.
Antigamente, quando se desenhava o hélice para um rebocador, preponderava
a idéia de obter a máxima força de tração possível e ao mesmo tempo não limitar
demasiadamente a velocidade do rebocador navegando livre (escoteiro). Em geral
desenhavam-se os hélices para uma velocidade de reboque em torno de uns 7 nós. O
hélice de passo controlado permite a escolha do passo ótimo para cada velocidade
desejada e, mais, elimina a necessidade de embreagens de qualquer tipo para a
inversão de marcha.
Assim, qualquer velocidade de zero a máxima pode ser obtida com a máquina
trabalhando em seu regime de rotações mais econômico. Com o controle na posição
neutra, ou zero ângulo de passo, o hélice não exerce qualquer força de tração AV ou
AR. Nas instalações usuais, o passo pode variar de 250 de ângulo a toda força AV, a
250 de ângulo AR, em cerca de 10 segundos. Em geral, há um comando elétrico
(remoto) no passadiço e um comando mecânico (local) na praça de máquinas.
O mecanismo de controle do passo do hélice pode ser mecânico ou hidráulico;
em ambos os casos as transmissões necessárias passam por dentro do eixo, que é
oco. No sistema hidráulico há um servomotor hidráulico dentro do bosso do hélice:
um pistão se move para vante ou para ré em resposta à diferença de pressões em
suas duas faces opostas. O óleo entra ou sai do mecanismo do bosso através de um
tubo que corre ao longo do eixo, vindo de uma caixa de distribuição de óleo por meio
de um mecanismo comandado pela mesa de controle no passadiço (ou na praça de
máquinas).
As vantagens dos hélices de passo controlado não se aplicam somente aos
rebocadores. Ao contrário, praticamente todos os navios precisam navegar sob diver-
sos regimes de máquinas, em máxima carga ou em alta velocidade. Quando um
navio-tanque ou um cargueiro estão navegando em lastro, um navio de passageiros
em mar tranqüilo, um navio de pesca, um navio mineiro ou uma embarcação de de-
sembarque dirigindo-se em marcha econômica para as áreas em que devem operar,
ou nos rios a favor da correnteza, em todos os casos semelhantes, do mesmo modo
ESTRUTURA DO CASCO DOS NAVIOS METÁLICOS 283
que o rebocador em marcha livre (sem reboque), somente o hélice de passo controla-
do pode absorver toda a força desenvolvida pela máquina e dar ao navio a melhor
velocidade.
Hélices de passo controlado já se aplicam a navios de porte médio. As obje-
ções principais a seu emprego são o alto custo da instalação e a necessidade de se
pôr o navio em seco para instalações e reparos. Mas se uma das pás bater num
objeto e se partir o mecanismo de controle geralmente nada sofre, e a pá pode ser
substituída com facilidade.
6.34. Lemes
a. Nomenclatura (fig. 6-27):
(1) madre – Eixo do leme, em geral de aço forjado. Sofre grandes esforços de
flexão e de torção. Penetra no casco do navio e por ela é transmitido o movimento ao
leme;
(2) porta ou saia – Conjunto do chapeamento formando a superfície do leme e a
armação que o suporta; é sobre a porta que age a pressão da água para fazer o navio
mudar de rumo;
(3) cana – Barra horizontal encaixada na cabeça da madre, onde atuam os
gualdropes ou a máquina do leme. Algumas vezes, em vez de uma simples cana, usa-
se um setor, composto por duas barras em ângulo e um arco de triângulo. Nas extremi-
dades deste arco são ligados os gualdropes ou as transmissões da máquina do leme;
(4) governaduras – Conjunto de machos e fêmeas. Machos são os pinos e fême-
as, os alojamentos em que eles trabalham a fim de dar apoio ao leme. O eixo geométri-
co das governaduras coincide com o da madre.
Nos lemes dos navios, em geral, o macho e a fêmea do pé do cadaste servem
de apoio vertical ao leme e as demais governaduras servem apenas de apoio lateral
(item h, a seguir). Os lemes suspensos (item b, a seguir) não têm governaduras; e
(5) barra de ligação (tie bar) – Consiste numa haste de comprimento regulável
conectada às canas dos lemes (navios com dois lemes) que sincroniza o movimento
dos mesmos (funciona semelhantemente a uma barra de direção de um automóvel).
b. Tipos (figs. 6-12b e 6-27) – A grande maioria dos navios tinha um único leme,
bem junto à popa. Alguns encouraçados tinham dois lemes, na popa; os navios destina-
dos à navegação em lagos e rios podem ter dois lemes, um a avante e outro a ré. Alguns
rebocadores e embarcações de desembarque podem ter um leme por ante-a-vante e
outro por ante-a-ré do hélice.
Os lemes podem ser compensados ou não-compensados; e quanto ao suporte,
podem ser apoiados ou suspensos; os tipos mais comuns são:
(1) leme ordinário (fig. 6-12b, A) – A porta fica por ante-a-ré da madre; é suporta-
do pelo cadaste, por meio das governaduras e, principalmente, pelo pino mais baixo.
Usava-se nos navios mercantes de popa elíptica;
(2) leme semicompensado (fig. 6-12b, B) – Quando a parte por ante-a-vante da
madre não se estende em toda a altura da porta, o leme toma o nome de
semicompensado;
(3) leme compensado (fig. 6-12b, C) – Uma parte da porta fica por ante-a-vante da
madre; é inteiramente suspenso, isto é, suportado por um ou mais mancais dentro do
casco. A relação entre as áreas a vante e a ré da madre chama-se grau de compensa-
ção e seu valor é cerca de 1/3;
(4) contraleme (fig. 6-25) – Consta de um arranjo do leme em que a metade de
cima da porta é ligeiramente torcida para um bordo e a metade de baixo para outro
bordo. O objetivo desta torção é o endireitamento da corrente espiral que é descarregada
pelo hélice; com isto se consegue melhorar o efeito da tração do propulsor e também se
aumenta o efeito do leme. O sistema foi patenteado em 1920 pela Star Contra-Propeller ;
(5) leme Oertz (fig. 6-28) – Tem a seção transversal hidrodinâmica (em forma de
uma gota d'água) para melhor dirigir a passagem dos filetes líquidos. A porta do leme
trabalha por ante-a-ré de uma peça fixa que lhe completa a forma hidrodinâmica e serve
de cadaste exterior do casco. Foi patenteado em 1925 pelo engenheiro alemão Oertz;
(6) leme Kitchen (fig. 6-29) – O leme que se vê na figura, em diversas posições, tem
sido aplicado com sucesso em embarcações pequenas. Consiste em duas pás semicir-
culares que se movem em torno de um eixo vertical por ação de duas madres concêntri-
cas, como se vê em A. Com este leme governa-se, muda-se a velocidade e inverte-se o
movimento da embarcação sem alterar o regime do motor. A variação da velocidade é
determinada pelas aberturas das lâminas – quando elas vão se fechando, vai aumentando
a resistência oposta à corrente de descarga do hélice; quando se fecham completamente
a embarcação passa a dar atrás. O governo é feito carregando-se o leme para um ou para
outro bordo, como nos lemes ordinários; e
ESTRUTURA DO CASCO DOS NAVIOS METÁLICOS 285
(7) leme ativado – Consiste num pequeno motor elétrico embutido no leme e
acionando um hélice que guina com o leme, apresentando assim uma força propulsiva
na direção da guinada, o que dá uma grande vantagem evolutiva. É muito usado em
navios especiais, como os hidrográficos, permitindo-lhes operar com cerca de 3 nós
de velocidade (com os motores de propulsão principais parados) no serviço de varre-
dura para a determinação de profundidade em zonas de navegação perigosa.
c. Comparação entre os lemes compensados e não-compensados – A
colocação de uma parte da área do leme por ante-a-vante da madre traz o centro de
pressão da água para mais perto do eixo; isto faz diminuir o esforço de torção,
mesmo nas grandes velocidades, tornando o governo do navio mais fácil e exigindo
menor potência da máquina do leme, que pode então ser de menor tamanho.
Os lemes não-compensados são de construção mais simples e ficam em
equilíbrio estável na posição a meio. Têm a propriedade de mudar a posição rapida-
mente uma vez acionados. São os mais usados atualmente.
d. Estrutura – Os lemes ordinários podem ser constituídos por uma só cha-
pa reforçada com braçadeiras horizontais que servem de suporte aos pinos de rota-
ção (fig. 6-27, A).
A maioria dos lemes consta de uma armação de aço que é forrada de cada
lado por um chapeamento também de aço. O espaço interno costuma ser preen-
chido com betume ou espuma de poliuretano. Na parte inferior há um pequeno
orifício fechado por bujão, que serve para purgação do leme em caso de vazamen-
to eventual (fig. 6-27, B).
Os lemes são soldados e a armação é constituída por peças longitudinais
(contínuas) e reforços (intercostais); o chapeamento é soldado. Esta estrutura é
ligada diretamente à madre ou então (nos lemes compensados) a um núcleo cen-
tral, forjado ou fundido, onde encaixa o pé da madre.
286 ARTE NAVAL
porta quando eles não estão em uso. O número de atracadores varia de 6, para as
portas pequenas, 8, para as de tamanho médio, e 10 ou 12, para as de grande tama-
nho. Eles devem ser numerados seguidamente a partir de 1, sendo cada número
pintado na antepara a fim de indicar a ordem em que deve ser fechado o atracador
correspondente. Como a porta não é bastante rígida para transmitir a pressão de um
atracador todos eles devem ser fechados, para que haja perfeita vedação.
A borracha das portas pode ser substituída, pois é geralmente colada; é
proibido passar tinta ou graxa nesta borracha.
espiral onde trabalham os ferrolhos. Os ferrolhos têm guias colocadas na direção radial
de modo que, ao girar o disco, eles adquirem somente o movimento radial para fora ou
para dentro; isto permite fechar bem ou abrir a porta, pois cada ferrolho desliza sobre
uma superfície de aço inclinada que é fixa na antepara. O disco é comandado por um
volante em cada face da porta;
(3) porta corrediça vertical – É constituída por uma chapa de aço, reforçada,
tendo em seu contorno uma barra de bronze, e pode correr na direção vertical, em uma
guarnição também de bronze, com ranhura apropriada para lhe servir de guia. As super-
fícies de contato devem ser lisas e bem polidas a fim de se obter uma vedação perfeita.
O movimento é obtido por meio de uma haste cilíndrica vertical de aço, terminan-
do em parafuso sem-fim, que labora numa porca fixada à parte superior da porta. A
haste prolonga-se até a primeira coberta ou ao convés, de onde deve se fazer a manobra
de fechar ou abrir a porta. O parafuso sem-fim pode também ser comandado por máqui-
na hidráulica ou motor elétrico; e
(4) porta corrediça horizontal – Tem a estrutura semelhante à anterior, diferindo
apenas nas disposições relativas à sua direção de movimento. O movimento é dado por
roda dentada e cremalheira, em vez de parafuso sem-fim e porca. O peso é sustentado
por duas pequenas rodas que correm em uma guia especial por baixo da porta. O
movimento é obtido por meio de uma haste, que possui duas rodas dentadas, as quais
engrenam nas cremalheiras fixadas horizontalmente à porta.
As portas de corrediça horizontal são colocadas quando não há espaço na ante-
para que permita o movimento vertical.
d. Luzes indicadoras – Nos navios modernos, no passadiço há um quadro de
luzes indicadoras, pelo qual se pode verificar se as diferentes portas estanques estão
fechadas ou abertas.
6.36. Escotilhas
a. Tipos – Os tipos de escotilha usualmente empregados são:
(1) escotilha comum ou escotilhão – Para acesso contínuo. É fechada por
uma só tampa e coincide com uma escada inclinada que faz a comunicação com a
coberta imediatamente abaixo. As tampas das escotilhas situadas em convés ex-
posto ao tempo abrem-se de ré para vante;
(2) escotilha com saída de emergência (fig. 6-33) – A tampa da escotilha co-
mum é fechada com parafuso e porca de borboleta. Deste modo não pode ser aberta
6.37. Portas de visita (fig. 6-37) – Usadas para acesso ocasional em tan-
ques e duplos-fundos. Abertura em forma de elipse; tamanho mínimo 12 x 18 pole-
gadas (30,5 x 45,7 centímetros), o bastante para a passagem de um homem. Em
geral, constam de uma chapa cortada em elipse tendo diversos furos no seu contor-
no. São fechadas por porcas e estojos, fixando-se estes no contorno da abertura,
ou então por parafusos. A estanqueidade é assegurada por uma junta de borracha,
lona ou papelão.
TAMPA
PARAFUSOS
OU ESTOJOS
6.38. Vigias – São colocadas nos costados e nas anteparas das superestru-
turas para permitir a entrada de ar e luz nos compartimentos habitáveis; fabricadas
normalmente de latão ou aço fundido.
Constam de uma armação circular tendo no contorno uma aresta saliente cha-
mada diamante onde deve apertar-se a guarnição de borracha da tampa. Há duas tam-
pas: (1) tampa de vidro grosso; e (2) tampa de aço estampado ou fundido, chamada
tampa de combate, abrindo-se para cima e fechando-se sobre a tampa de vidro. Ambas
as tampas têm uma guarnição de borracha para fechamento estanque e são apertadas
por parafusos com porcas borboleta. A borracha pode ser substituída. A tampa de
combate quando não está fechada fica suspensa por um gato de ferro em forma de “T”
preso ao teto do compartimento.
Do lado externo do costado (ou antepara), por cima das vigias, há uma pe-
quena calha geralmente circular chamada pestana, para impedir que a água das
baldeações ou das chuvas escorra sobre elas.
Unha é uma calha móvel, em forma de unha, que se coloca numa vigia, de
dentro para fora, a fim de não permitir a entrada da chuva ou para dirigir o vento ao
interior dos camarotes ou alojamentos.