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AMORTECIMENTO LINGUÍSTICO
“Em situações muito tensas e conflituosas, tradutores, intérpretes e mediadores em geral são
algumas vezes levados a suavizar os termos, ou o tom, ou qualquer outro aspecto de uma
mensagem, por vários motivos. Algumas acepções do verbo “amortecer” em português são: tornar
dormente, adormecer, entorpecer; ou ainda reduzir a intensidade de, perder intensidade; afrouxar;
enfraquecer; e também “acalmar moderar (paixão, sentimento, etc.) (Houaiss,2001)
AMORTECIMENTO LINGUÍSTICO
A interpretação é um campo em que esse ato de amortecer acontece com frequência, porque em
situações de interpretação pode haver muitos elementos que contribuem para criar a possibilidade
de um choque iminente. Entretanto, autores de traduções escritas muitas vezes também se veem
por algum motivo levados a suavizar a rudeza de algumas palavras, usar cores menos vibrantes ao
criarem um “quadro típico” de determinada cultura, ou até neutralizarem atitudes exaltadas de uma
ou mais partes.
AMORTECIMENTO LINGUÍSTICO
A interpretação é um campo em que esse ato de amortecer acontece com frequência...Nessas
situações, traduzir adequadamente significa muito mais do que traduzir com precisão ou ser fiel a
um texto original. Em termos bem gerais, uma tradução adequada seria aquela que não agitasse ou
estimulasse sentimentos de intolerância que pudessem levar a algum resultado violento. Também
está em jogo o status profissional do tradutor, que, além de tentar não agravar uma situação tensa,
está sendo julgado por sua competência, imparcialidade, neutralidade e honestidade.
AMORTECIMENTO LINGUÍSTICO
Mas o que realmente significa ser “neutro” nessas situações de conflito? Se a relação entre as
partes é desigual, será que o tradutor deveria de alguma maneira tentar compensar essa
desigualdade ou perpetuá-la? O tradutor tem o direito de interferir diretamente na situação, agindo
como um defensor da parte mais fraca? Será possível para os tradutores não serem guiados por
seus sentimentos, no caso de eles terem opiniões categóricas sobre algum aspecto relacionado
àquela situação específica?
AMORTECIMENTO LINGUÍSTICO
Se as partes envolvidas precisam de um tradutor, isso provavelmente acontece porque elas não
entendem a língua uma da outra, embora esse não seja sempre o caso. Não saber a língua da outra
parte pode muitas vezes significar que uma das pares é um “hóspede” – desejado ou não – na
cultura da outra parte. Em tribunais, por exemplo, um réu pode ocupar uma situação incômoda e
difícil se as nações envolvidas têm uma relação turbulenta. Além de estar longe de casa, esse réu
teria a desvantagem adicional de não saber a língua local, o que atrapalha em grande medida a
comunicação com pessoas e a compreensão do que está acontecendo.
Em vários tipos de interpretação comunitária, as coisas podem ser igualmente complicadas. Na área
de saúde por exemplo, a pessoa que precisa de um tradutor também precisa e assistência média, e
provavelmente está sentindo algum tipo de dor ou desconforto. Além do mais, pode haver grandes
diferenças culturais, relacionadas a padrões morais, religiosos e políticos divergentes.
(...) Em vez de apenas tentar imaginar como se comporta o tradutor nessas situações difíceis, é
mais proveitoso investigar normas, guias de conduta ou códigos de ética que consideram pelo
menos algumas dessas situações e estabelecem modos de lidar com elas. Um exemplo são as
“Normas Nacionais de Práticas para Intérpretes na Área da Saúde”. O propósito das normas é
“fornecer as diretrizes necessárias para melhorar o treinamento de intérpretes na área da saúde,
ajudando a aumentar a qualidade e consistência da interpretação na área de saúde” (2005:2). São
32 normas em nove itens. Os nove itens não causam surpresa a ninguém: Precisão,
Confidencialidade, Imparcialidade, Respeito, Consciência Cultural, Profissionalismo,
Desenvolvimento Profissional. O último item enfatiza o direito de interferir se uma das partes corre
perigo ou sofre abusos. Portanto à primeira vista constatamos que até mesmo nesse código de
comportamento profissional a imparcialidade e o distanciamento ficam restritos.
MODULAÇÃO
“Uma escolha feita em um dado momento de tradução/interpretação não responde apenas a uma
meta ou objetivo, mas reflete inúmeros fatores que se correlacionam em um contexto específico.
Barbosa (2004) definiu tradução como “atividade humana realizada através de estratégias mentais
empregadas na tarefa de transferir significados de um código linguístico para outro”
(BARBOSA,2004, p.11). Sobral (2008, p.40) explica que “as línguas são traduzíveis, ou seja
postas em correspondência, mas não sao traduzíveis, ou seja, postas em equivalência” para ele,
“não há nas línguas um conjunto de signos cujos sentidos estejam determinados [...] mas um
conjunto de possibilidades de produção de sentido” (ibidem). [...] Os procedimentos de tradução
são categorizados a partir da identificação dos elementos linguísticos e das formas linguísticas
que aproximam ou distanciam uma língua e outra.
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MODULAÇÃO
“É essencial reconhecer que aproximar essas duas línguas de estruturas diferentes não se trata
de uma tarefa fácil, pois nas línguas de sinais estão presentes diferentes elementos linguísticos
como “expressões não manuais” (corpo e face) e a “incorporação” que não se apresentam da
mesma forma na modalidade oral-auditiva e que não estão gramaticalmente descritas a ponto de
possibilitar uma perfeita aproximação.
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MODULAÇÃO
O tradutor intérprete deve estar envolvido com a cultura surda conhecendo seus artefatos
culturais, afim de estar apto para realizar o procedimento técnico de modulação
“A literatura surda também envolve as piadas surdas que exploram a expressão facial e corporal, o
domínio da língua de sinais e a maneira de contar piada naturalmente,São consideradas
extraordinárias na comunidade surda. Na maioria das vezes estas piadas e anedotas envolvem a
temática das situações engraçadas sobre a incompreensão das comunidades ouvintes acerca da
cultura surda e vice-versa, como é o caso da popular piada: A árvore surda.
(STROBEL 2004)
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MODULAÇÃO
O tradutor intérprete deve estar envolvido com a cultura surda conhecendo seus artefatos
culturais, afim de estar apto para realizar o procedimento técnico de modulação
“Os sujeitos surdos têm alguns estilos especiais que se desenvolvem para se sair bem em
situações de apuros. [...] Há reações emocionais dos sujeitos surdos que trazem padrões de
comportamentos habituais do povo surdo que pode consistir em contatos íntimos entre os
membros da comunidade surda, tais como as amizades, lealdades e casamento entre eles. Cita
Lane” [...] outra característica notável desta cultura é a sua percentagem de casamento
endógamos: nove em cada dez membros da comunidade americana dos surdos casam-se com
membros pertencentes ao seu grupo cultural” (1992, p.31)