Você está na página 1de 136

ACONSELHAMENTO

CRISTÃO

Professor Me. Rubem Almeida Mariano

GRADUAÇÃO

Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Diretoria Executiva
Chrystiano Mincoff
James Prestes
Tiago Stachon
Diretoria de Graduação e Pós-graduação
Kátia Coelho
Diretoria de Permanência
Leonardo Spaine
Diretoria de Design Educacional
Débora Leite
Head de Produção de Conteúdos
Celso Luiz Braga de Souza Filho
Head de Curadoria e Inovação
Jorge Luiz Vargas Prudencio de Barros Pires
Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo Ribeiro Garcia
Gerência de Projetos Especiais
Daniel Fuverki Hey
Gerência de Processos Acadêmicos
Taessa Penha Shiraishi Vieira
Gerência de Curadoria
Giovana Costa Alfredo
Supervisão do Núcleo de Produção
de Materiais
Nádila Toledo
Supervisão Operacional de Ensino
Luiz Arthur Sanglard
Coordenador de Conteúdo
Roney de Carvalho Luiz
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Design Educacional
Distância; MARIANO, Rubem Almeida.
Fernando Henrique Mendes
Rossana Costa Giani
Aconselhamento Cristão. Rubem Almeida Mariano.
Projeto Gráfico
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. Reimpresso em 2019. Jaime de Marchi Junior
134 p. José Jhonny Coelho
“Graduação em Teologia - EaD”.
Editoração

José Jhonny Coelho
1. Teologia. 2. Capelania cristã. 3. Aconselhamento. 4. EaD.
I. Título. Revisão Textual
Jaquelina Kutsunugi, Keren Pardini, Maria Fernanda
ISBN 978-85-8084-271-5 Canova Vasconcelos, Nayara Valenciano, Rhaysa Ricci
CDD - 22 ed. 230 Correa e Susana Inácio
CIP - NBR 12899 - AACR/2

Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário


João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um
grande desafio para todos os cidadãos. A busca
por tecnologia, informação, conhecimento de
qualidade, novas habilidades para liderança e so-
lução de problemas com eficiência tornou-se uma
questão de sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilida-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos-
sos fará grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar –
assume o compromisso de democratizar o conhe-
cimento por meio de alta tecnologia e contribuir
para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a
educação de qualidade nas diferentes áreas do
conhecimento, formando profissionais cidadãos
que contribuam para o desenvolvimento de uma
sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi-
tário Cesumar busca a integração do ensino-pes-
quisa-extensão com as demandas institucionais
e sociais; a realização de uma prática acadêmica
que contribua para o desenvolvimento da consci-
ência social e política e, por fim, a democratização
do conhecimento acadêmico com a articulação e
a integração com a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al-
meja ser reconhecida como uma instituição uni-
versitária de referência regional e nacional pela
qualidade e compromisso do corpo docente;
aquisição de competências institucionais para
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con-
solidação da extensão universitária; qualidade
da oferta dos ensinos presencial e a distância;
bem-estar e satisfação da comunidade interna;
qualidade da gestão acadêmica e administrati-
va; compromisso social de inclusão; processos de
cooperação e parceria com o mundo do trabalho,
como também pelo compromisso e relaciona-
mento permanente com os egressos, incentivan-
do a educação continuada.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quan-
do investimos em nossa formação, seja ela pessoal
ou profissional, nos transformamos e, consequente-
mente, transformamos também a sociedade na qual
estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capa-
zes de alcançar um nível de desenvolvimento compa-
tível com os desafios que surgem no mundo contem-
porâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialó-
gica e encontram-se integrados à proposta pedagó-
gica, contribuindo no processo educacional, comple-
mentando sua formação profissional, desenvolvendo
competências e habilidades, e aplicando conceitos
teóricos em situação de realidade, de maneira a inse-
ri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais
têm como principal objetivo “provocar uma aproxi-
mação entre você e o conteúdo”, desta forma possi-
bilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos
conhecimentos necessários para a sua formação pes-
soal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cres-
cimento e construção do conhecimento deve ser
apenas geográfica. Utilize os diversos recursos peda-
gógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possi-
bilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente
Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e en-
quetes, assista às aulas ao vivo e participe das discus-
sões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de
professores e tutores que se encontra disponível para
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
AUTOR

Professor Me. Rubem Almeida Mariano


Possui graduação em Teologia - Seminário Teológico de Londrina da
Igreja Presbiteriana Independente (1990), graduação em Filosofia pela
Universidade do Sagrado Coração (1999) e graduação em Psicologia pelo
Centro Universitário de Maringá (2009). Mestrado em Ciências da Religião
pela Universidade Metodista de São Paulo (1997). Tem experiência nas áreas
de Metodologia de Ensino e Científica, Filosofia e Ética Profissional, Educação
e Ensino Religioso, Psicologia Aplicada as organizações, à Saúde, à Educação
e ao Direito. Ministra palestra sobre os seguintes temas: sociedade, filosofia,
ética profissional, religião, Assédio Moral. Psicólogo Clinico, Organizacional e
Perito - Assistente Técnico.
APRESENTAÇÃO

ACONSELHAMENTO CRISTÃO

SEJA BEM-VINDO(A)!
“Jesus era absolutamente honesto, profundamente compassivo, altamente sensível e espi-
ritualmente maduro”.
Collys, G. R. em Aconselhamento Cristão.

Os estudos teológicos classicamente estão subdivididos em Teologia Bíblica, Teologia


Sistemática e Teologia Prática. O primeiro volta-se para os fundamentos e os rudimentos
dos textos bíblicos do Antigo testamento (AT) e Novo Testamento (NT); o segundo abor-
da as elaborações filosófico-teológicas enquanto sistema de interpretação e compreen-
são de doutrinas cristãs sistematicamente construídas, bem como dialoga com outros
saberes como é o caso da Filosofia, Sociologia, Antropologia, Psicologia dentre outros
e, por fim, a Teologia Prática, que tem como objetivo fundamentar construções teóri-
cas e práticas da ação evangélica. Nesse particular, em nossos dias, há uma significativa
demanda para a Teologia Prática, haja vista que vivemos tempos de novos paradigmas,
por que não dizer, os quais exigem maior rigor e necessidades de atuação da Teologia.
A disciplina “Aconselhamento Cristão” é uma disciplina que se coloca no eixo da Teologia
Prática. É importante ressaltar que Teologia Prática, conforme Silva (2010), designaria
a reflexão crítica sobre a ação eclesial. No contexto da Teologia Prática, todas as ações
implicam no agir da Igreja como liturgia, ensino, diaconia, aconselhamento e capelania
dentre outras. Para Szenmártony (1999), deve-se compreender a Teologia Prática como
uma reflexão teológica sobre o conjunto das atividades nas quais a Igreja se encarna,
tendo presente a natureza da Igreja e a situação atual desta no mundo.
Os referenciais teóricos utilizados foram de literatura, devidamente sustentados na
visão clássica da Teologia, sem nunca perder o tom crítico; assim como, também, nos
estudos sobre aconselhamento e capelania. Faz-se necessário sublinhar que as fontes
bibliográficas publicadas sobre capelania são deveras escassas, diferentemente das so-
bre aconselhamento.
A lógica desta disciplina prima pelo diálogo e respeito entre os conhecimentos que
fazem interface com a Teologia Prática, o qual não poderia ser diferente, contudo, foi
opção respeitar as especificidades dos conhecimentos para a constituição do estudo
desta disciplina, ou seja, referente ao aconselhamento cristão, primou-se em estudá-lo
de forma muito peculiar junto com os conhecimentos de aconselhamento advindo do
universo psicológico. Tal opção não tira em nada o brilho e a riqueza das elaborações e
contribuições da Teologia Prática para a ação evangélica nessa área. Acredita-se sim que
esse procedimento, na verdade, marca de forma indelével o respeito e o entendimento
que os conhecimentos devem realmente exercitar, no contexto acadêmico, para a me-
lhor compreensão do objeto de estudo em comum entre esses dois saberes.
Quanto aos objetivos a serem alcançados nesta disciplina, procurou-se atender as três áre-
as enfatizadas pela didática, a saber: cognitiva, afetiva e motora. Nesta sequência e sentido,
foram sendo elaborados os estudos tema a tema para que o aluno ou a aluna, ao final desta
disciplina, tenha condições de conhecer e de refletir sobre os conhecimentos necessários
para o exercício da Teologia, em especial, nas áreas do Aconselhamento e Capelania Cristã.
APRESENTAÇÃO

Por fim, a disciplina “Teologia, Aconselhamento e Capelania Cristã” está divida em 5


unidades: UNIDADE I – Aconselhamento e Capelania Cristã: Marco Bíblico-Teológi-
co; UNIDADE II – Os Fundamentos do Aconselhamento e da Capelania Cristã; UNI-
DADE III – Teologia e Práticas em Aconselhamento Cristão; UNIDADE IV – O Perfil e
Papel do Conselheiro e do Capelão Cristão e UNIDADE V – Temas e Procedimentos
em Aconselhamento e Capelania Cristã.
8-9

SUMÁRIO

UNIDADE I

ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ: MARCO


BÍBLICO-TEOLÓGICO

13 Introdução

14 Diaconia, Ministério, Aconselhamento e Capelania Cristã

16 Poimênica, Aconselhamento e Capelania Cristã

21 Cuidado, Aconselhamento e Capelania Cristã

26 Considerações Finais

UNIDADE II

OS FUNDAMENTOS DO ACONSELHAMENTO E DA
CAPELANIA CRISTÃ

33 Introdução

34 Aconselhamento e Capelania Cristã: Apontamentos Históricos

35 Fundamentos e Teorias em Aconselhamento Cristão

44 Os Fundamentos da Capelania Cristã 

47 Considerações Finais
SUMÁRIO

UNIDADE III

TEOLOGIA E PRÁTICAS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO

59 Introdução

60 Propostas, Técnicas e Comportamentos em Aconselhamento Cristão

66 Promovendo o Diálogo com o Aconselhando

70 Considerações Finais

UNIDADE IV

O PERFIL E O PAPEL
DO CONSELHEIRO E DO CAPELÃO CRISTÃO

81 Introdução

81 Perfil e Atitudes do Conselheiro Cristão

92 Perfil e Papel do Capelão Hospitalar

98 Considerações Finais

UNIDADE V

TEMAS E PROCEDIMENTOS EM ACONSELHAMENTO


E CAPELANIA CRISTÃ

107 Introdução

108 Aconselhamento de Apoio

112 Aconselhamento em Casos de Perda Pessoal

116 Aconselhamento em Casos de Crise Matrimonial

124 Considerações Finais

131 CONCLUSÃO
133 REFERÊNCIAS
Professor Me. Rubem Almeida Mariano

I
ACONSELHAMENTO E

UNIDADE
CAPELANIA CRISTÃ: MARCO
BÍBLICO-TEOLÓGICO

Objetivos de Aprendizagem
■■ Ressaltar os fundamentos bíblico-teológicos do Ministério, Cuidado,
Poimênica, Aconselhamento e Capelania Cristã.
■■ Assinalar os aspectos fundamentais do Aconselhamento e da
Capelania Cristã.
■■ Identificar os significados do termo “diaconia”, na Bíblia.
■■ Conscientizar que o fazer Aconselhamento e Capelania Cristã são
atos próprios do serviço cristão.
■■ Conhecer os fundamentos bíblico-teológicos da poimênica.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Diaconia, Ministério, Aconselhamento e Capelania Cristã
■■ Poimênica, Aconselhamento e Capelania Cristã
■■ Cuidado, Aconselhamento e Capelania Cristã
13

INTRODUÇÃO

“Os ensinos do Senhor são certos e alegram o coração. Os seus ensina-


mentos são claros e iluminam a nossa mente”. (Salmo 19: 8)
“A tua palavra é lâmpada para guiar os meus passos e luz para o meu
caminho”. (Salmo 119:105)
“A Palavra era a fonte da vida e essa vida trouxe a luz para todas as pes-
soas”. (Evangelho de João 1: 4)

A boa tradição cristã, de corte Protestante, ressalta a Bíblia como uma das fon-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

tes necessárias para o desenvolvimento da Fé Cristã. Nesse sentido, a presente


unidade busca evidenciar os fundamentos para a prática do aconselhamento e
da capelania cristã que assinalem, por um lado, uma genuína tradição cristã e,
por outro, dialogue com as necessidades de nosso tempo.
Por isso, nos voltamos para os fundamentos bíblicos e teológicos do pró-
prio ministério cristão em que se destacaram os seguintes temas: diaconia,
ministério, poimênica e cuidado. Nossa fundamentação teórica parte do latino
Gattinoni (apud CASTRO, 1973) sobre “As bases do ministério pastoral no Novo
Testamento” e do americano Clinebell (2000) sobre “O aconselhamento pasto-
ral modelo centrado em libertação e crescimento no universo bíblico” dentre
outros. Em ambos os autores citados, bem como nos outros, temos o objetivo
maior de fundamentar biblicamente o aconselhamento e capelania cristã, como
expressão mesma da ação cristã, ou seja, do próprio Cristo hoje.
Como se observou na apresentação, os estudos teológicos classicamente
estão subdivididos em Teologia Bíblica, Teologia Sistemática e Teologia Prática.
Esta última, a Teologia Prática, tem como objetivo fundamentar construções
teóricas e práticas da ação evangélica. Nesse particular, em nossos dias, há uma
significativa demanda para a Teologia Prática haja vista as necessidades do nosso
tempo, as quais diferem de outros; há a necessidades de novos paradigmas, por
que não dizer os quais exigem maiores, novas elaborações e ações da Teologia
na sua modalidade prática.
Nesse sentido, nota-se uma demanda significativa para dois ministérios em
especial da igreja hoje: aconselhamento e capelania cristã. Eles apontam para as
necessidades individuais, grupais, comunitárias, familiares, conjugais, sociais

Introdução
14 UNIDADE I

dentre outras. Essas necessidades cobram respostas da igreja. Contudo, essas


repostas precisam de fundamentação também Teológica, para que esses minis-
térios, ações e vocações da igreja estejam em consonância com a Palavra de Deus
e, assim, sejam eficazes, do ponto de vista bíblico, teológico e prático.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DIACONIA, MINISTÉRIO, ACONSELHAMENTO E
CAPELANIA CRISTÃ

O exercício do aconselhamento e da capelania cristã está na mesma perspectiva


do ministério cristão, uma vez que o ato de servir e o diaconato é o ponto de
partida e de chegada de toda e qualquer ação cristã. Isso pode ser evidenciado
quando voltamos nosso olhar para o universo neotestamentário, o qual ressalta
como fundamento essencial do ministério cristão, o serviço. Portanto, servir se
constitui fundamentalmente no próprio ser e agir do ministério cristão, que tem
no ato de cuidar, uma de suas facetas indeléveis.
Inicialmente, Gattinoni (apud CASTRO, 1973) informa que o sentido eti-
mológico do termo “diákonos” indica uma tarefa de condutor de camelos no pó
(poeira): diá = através kónos = pó, portanto diácono é um servente, um servidor.
Exemplo maior é o próprio Jesus quando lava os pés dos discípulos (Jo. 13:1-17);
o serviço é a definição própria da missão de Jesus, portanto ele veio para servir,
pois é um servo (Lc. 22:27 e Mc. 10:45).

ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ: MARCO BÍBLICO-TEOLÓGICO


15

Compreende Gattinoni (apud CASTRO, 1973) que o ministério pastoral não


pode deixar de evidenciar essa atitude serviçal. Tal atitude é imprescindível, con-
forme Mt. 20.25-28; 25.31-46; 10.24. Nesse perspectivo, tanto o aconselhamento
quanto a capelania devem estar inseridos nessa visão bíblica: servir.
Gattinoni (apud CASTRO, 1973) apresenta outro significado para a palavra
diaconia, a palavra grega “doulos”, no sentido “escravo”, que serve. A ideia fun-
damental desse vocábulo é ressaltar o espírito serviçal como sendo inerente ao
ministério e a todo e qualquer cristão (intra e extracomunidade). O próprio Jesus
Cristo recebeu esse título como sendo “O servo por excelência” (Fm. 2.5-11; At.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

3.13,26; 4.27). Esse título é também conferido aos autores dos livros bíblicos: At.
16.17, 2Co. 4.5; em, o ministro como sendo servo; todos os cristãos assim o são:
servos (At. 2.18; At. 4.29). Esse significado é designado universalmente e válido
a todo o corpo de Cristo (1Co. 7.22; 1Pe. 2.16).
Portanto, os cristãos são chamados a servir a Cristo e ao seu Reino (Rm.
7.6; Cl. 3.24; 1Ts. 1:9); nesse sentido, o serviço aos homens é entendido como
servir ao Senhor Jesus Cristo (Rm. 14.18; Gl. 5.13); a ideia de servir dos seres
humanos como parte do serviço a Cristo (At. 20.28, 34, 35) ou ainda, o servir às
pessoas como sendo uma ação ao próprio Cristo. Diaconia, nesse sentido, por
fim, evoca de forma categórica que todo e qualquer ministério da Igreja, com
destaque para o aconselhamento e capelania cristã, é um ato de serviço ao pró-
ximo no mundo. Uma ação missionária que nasce do ministério de Jesus Cristo
como identidade da Igreja.
Por fim, outro sentido para “diaconia” é uma expressão, conforme Gattinoni
(apud CASTRO, 1973), “Diaconia como um ministério da Igreja, a serviço da obra de
Deus, no mundo”. Diaconia como ministério de toda a Igreja e de toda a comunidade
cristã, bem como de cada comunidade em particular – Ef. 4:7-12; Ap. 2.19; 1Co.12
e Rm. 12.1-8; ou seja, toda e qualquer comunidade que se diz cristã tem uma iden-
tidade em comum: ser sinal de Deus por meio do serviço da igreja às pessoas. Essa
expressão coroa e assinala a riqueza dos sentidos para “diaconia” já observados acima.
Compreende-se, sem dúvida, que os sentidos de “diaconia” abordados até
o presente ressaltam biblicamente o serviço como fundamento para o exercício
do ministério cristão, ou os mais diversos ministérios da igreja, com destaque
para o aconselhamento e a capelania cristã.

Diaconia, Ministério, Aconselhamento e Capelania Cristã


16 UNIDADE I

POIMÊNICA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA


CRISTÃ

Do ponto de vista bíblico-teológico, uma das imagens mais marcantes é o teste-


munho do cuidado de Deus pela humanidade.
Assim, no Antigo Testamento, surge a imagem e a memória do Deus-Pastor
como Aquele que conduz o povo, como faz um bom pastor ao conduzir suas
ovelhas. Tal tradição faz parte da própria experiência existencial e de subsistên-
cia de todo um povo.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A vida do povo hebreu dependia do cultivo do rebanho de ovelhas. Este ani-
mal era a principal fonte de subsistência. Nesse sentido, a experiência pastoril
e a subsistência humana que girava ao redor do rebanho não eram exclusivas
de Israel, mas contemplavam todos os povos do mundo bíblico; assim como,
também, para os povos mesopotâmicos. Por sinal, foram estes os primeiros a
metaforizar a imagem do “pastor”.
Javé, portanto, é compreendido como o único e verdadeiro Pastor de Israel.
Essa alegoria é celebrada no AT, especificamente, no Sl 23: 1-6: “O Senhor é
meu pastor, nada me faltará”. Ao lado Dele não há outro! Este Salmo revela a
poimênica, pois ele refere-se ao
centro vital do ser humano, que
é sua relação com Deus. Uma
relação concretizada a partir da
fé humana em Deus, enquanto
Criador e Pastor da vida. Então,
a poimênica, nesse contexto,
remete para aquilo que permite
e ajuda o ser humano a conti-
nuar a respirar, a manter a sua
vida saudável, afinal a morte
para o semita é a falta da rela-
ção com Deus.
Nesse sentido, Hoepfner
(2008), comenta:

ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ: MARCO BÍBLICO-TEOLÓGICO


17

Assim a poimênica, no mundo semita, está muito próxima da luta cons-


tante do ser humano para manter ou resgatar a sua relação com Deus
por meio das diferentes articulações da vida em comunidade, como o
culto e o sacrifício a Deus. Entretanto, compreende igualmente a busca
por uma plena e justa integração social do indivíduo que cai no abismo
do isolamento, que negligencia a sua relação com Deus e, conseqüen-
temente, não mais se considera parte integrante do povo de Deus. Ali
onde o ser humano petrifica o seu coração, onde vive exclusivamente
a partir do seu próprio ar, da sua exclusiva respiração, - isto é, vive ao
redor do seu próprio ser -, a nefesh sucumbe, já não encontrará fôlego
de vida e, por fim, clamará: “Como suspira a corça pelas correntes de
água, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma” (Sl. 42.1). A tradução
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

de Lutero é mais enfática, pois translada “suspira” por “gritar” (schreit).


Quer dizer, em meio ao abandono de Deus, o ser humano grita, geme, se
desespera, pois enxerga com profundidade a dor e o abismo em que sua
auto-suficiência o levou. “No culto se articulavam o grito, a lamentação
e a prece por ajuda da pessoa que se encontrava fora da relação com
Deus, que não conseguia mais enxergar o seu rosto” (p. 55).

Nessa perspectiva, a poimênica tem a ver com o clamor e o louvor da criatura


perante o seu Criador. O ser humano clama pelo hálito de vida que provém de
Deus e o louva por este hálito que o mantém, como afirma o último salmo: “Todo
ser que respira louve ao Senhor. Aleluia!” (Sl. 150.6).
Hoepfner (2008) afirma ainda que:
Os principais agentes da poimênica eram, sobretudo, os Sacerdotes os
anciãos e juízes que tomam decisões em casos de conflito os profetas
que desenvolvem na sua prática a admoestação e a consolação individual
e coletiva (2Sm. 12.) e, em primeiro lugar, os sábios, homens do povo
que transmitiam como pais de família os conselhos da sabedoria popular
para os filhos (Pv. 4ss.) (p. 56).

Nota-se que a poimênica está no coração do Antigo Testamento, pois ressalta e


afirma categoricamente que tudo aquilo que torna plena a vida é concedida pelo
Bom Pastor, Javé, o Deus que cuida de suas ovelhas, conforme o Salmo 23: “O
Senhor é o meu Pastor e nada me faltará”.
Hoepfner (2008) observa que no Novo Testamento a poimênica tem nas ações e
atitudes libertadoras de Jesus Cristo a expressão perfeita do que significa pasto-
rear. Ele sim é o verdadeiro Pastor que dá a sua vida por suas ovelhas, ressalta o
Novo Testamento de forma vigorosa. Nesse sentido, tem-se nas ações e atitudes
de Jesus Cristo a prática da poimênica como um modelo de ação.

Poimênica, Aconselhamento e Capelania Cristã


18 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Hoepfner (2008), nesse sentido, faz a seguinte observação sobre esse termo
“poimênica” à luz do Novo Testamento:
A poimênica neotestamentária encontra no termo grego “paraclein”,
“paraclesis”, o seu conceito-chave que aponta para a oferta de salvação
e de vida em abundância oferecida por Cristo em sua vida e cruz. A
“paraclesis” remete ao consolo da salvação que Cristo oferece por meio
de sua graça (2 Ts 2.16); entretanto, igualmente admoesta às pessoas
a transformarem suas vidas cotidianas, desafiando-as a realizar uma
identificação com Jesus Cristo também no decurso de um sofrimento
(2 Co 1.5-7). Após a reflexão acima, acerca do ministério de Cristo,
viu-se que Ele guiou, vigiou, providenciou a vida e sentiu profunda afe-
tividade pelo povo do seu Pai (p. 65).

Por fim, Hoepfner (2008) define poimênica a partir de quatro funções pastorais
a partir do ministério de Jesus Cristo:
■■ Poimênica é vigiar, em um sentido de observar atentamente o outro em
uma relação de cuidado constante em que a solidariedade se dá viven-
ciando as dores do seu irmão e irmã. Um bom exemplo é de Zaqueu em
Lc 19.1-10, Jesus demonstra o amor que sente por Zaqueu ao visitá-lo.
■■ A poimênica consiste em constituir relacionamentos afetivos entre iguais.
Nesse sentido Jesus foi um grande mestre que ensinou, pois apesar de ser
o filho de Deus sempre se relacionou como sendo igual. Ele não agia com
desdém, mas acolhia e ouvia pacientemente.

ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ: MARCO BÍBLICO-TEOLÓGICO


19

■■ Poimênica é guiar. Mas não no sentido de se colocar como maioral ou


superior; Jesus se colocou com um irmão, em conjunto pelos novos cami-
nhos que podem surgir, novas trilhas diante da adversidade, pois Ele é a
própria esperança viva. Conforme Hoepfner (2008), Ele é o novo cami-
nho que possibilita a vida; Ele é o guia que leva a novas esperanças, a um
novo caminho.
■■ Não por último, poimênica é a afirmação de uma vida cheia de dignidade.
Ali, onde a vida corre perigo com suas contradições sociais, por exemplo,
essa vida se faz presente. É impossível desassociar a ajuda psicológica e
espiritual da ação social. Nesse sentido, a poimênica em Cristo é anúncio
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

de um evangelho integral. (p. 65-66)


Portanto, podemos concluir por ora, que tanto a teoria quanto a prática da poimê-
nica está sustentada na tradição do Bom Pastor que dá a sua vida por suas ovelhas,
como o Bom Pastor do Antigo Testamento, Javé. Jesus Cristo, sem dúvida, tes-
temunhou de maneira viva ao fazer poimênica como porta voz do Evangelho
de Deus. Hoepfner (2008) nesse particular afirma: “É o Evangelho o esteio da
poimênica cristã e Cristo o seu paradigma” (p. 66)
Ainda sobre os fundamentos bíblico-teológicos da poimênica, Clinebell
(2000) afirma reiteradamente as notáveis potencialidades dos seres humanos:
a. O ser humano é um pouco menor que Deus (Sl 8.5).
b. O ser humano foi criado a imagem e semelhança de Deus, imago Dei,
(Gn 1:27).
c. Jesus veio para conceder vida e vida, em abundância (Jo. 10:10), O ser
humano tem condições de desenvolver seus potenciais de sabedoria e
de vida, segundo a parábola dos talentos (Mt. 25:14-30) e as admoesta-
ções de Paulo a Timóteo, para “acender a chama do dom de Deus que há
em ti(...), pois o espírito que Deus deu é (...) para inspirar poder, amor e
autodisciplina”.

É importante ressaltar, por fim, que a concepção bíblica nessa perspectiva


deixa claro que os seres humanos, apesar de terem potencialidades, não são oni-
potentes. Somos seres finitos, limitados e marcados pelas condições efêmeras
da nossa humanidade.

Poimênica, Aconselhamento e Capelania Cristã


20 UNIDADE I

Outra ideia bíblica que Clinebell (2000) observa é a compreensão hebraica


das pessoas. Era essencialmente não dualista, ou seja, a Bíblia assinala que a vida
humana deve ser entendida de forma integral, em unidade de dimensões, den-
tro de uma visão holística, em uma visão comunitária:
a. É assim que a Bíblia reafirma o sentido de glorificar a Deus no corpo, e
não fora dele ou desconsiderando-o.
b. Que se deve amar a Deus com todas as dimensões humanas (Mc. 12:30).
c. Que se deve viver a vida alimentando os relacionamentos em paz, sha-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
lom, do Antigo Testamento, ou em comunhão, koinonia, na perspectiva
do Novo Testamento.
d. O respeito à Criação (ecologia) como ato único da vida. “E viu Deus que
tudo era bom”.
e. A libertação é tanto pessoal quanto social. Tanto o pecado quanto a salvação
são comunitários e sociais, assim como individuais, onde o Novo Testa-
mento afirma “Conheceres a liberdade e a verdade vos libertará” (Jo. 8:32).

Nota-se que o ser humano é compreendido pelas escrituras em uma dimen-


são holística e integral para o crescimento, conforme Clinebell (2000).
Essa visão deve demonstrar positivamente o fazer do aconselhamento e da cape-
lania cristã, pois ressalta tanto as condições existenciais da humanidade, suas
potencialidade advindas do Criador, quanto os propósitos cristãos para essa huma-
nidade, ou seja, em Cristo, essa humanidade tem vida, e vida em abundância!

ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ: MARCO BÍBLICO-TEOLÓGICO


21

Pode-se concluir, por enquanto, que o marco bíblico-teológico aponta


tanto o termo “diaconia” quanto “poimênica” como palavras-chave da ação
cristã da própria Igreja no mundo, ou seja, como expressão própria do mis-
tério cristão. Podemos assinalar, portanto, que todo e qualquer ministério da
igreja, como o aconselhamento e a capelania, é ação da Missão de anúncio da
Boa Nova, do cuidado que Deus tem pelo ser humano e, por outro lado, evi-
dencia também as potencialidades do ser humano, criadas pelo próprio Deus,
as quais revelam as suas possibilidades para um desenvolvimento de forma
integral em Cristo.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

CUIDADO, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ

Inicialmente, a palavra que melhor expressa bíblica e teologicamente tanto acon-


selhamento quanto capelania é o termo “cuidado”, ou o verbo “cuidar”.
A seguir, vejamos o trabalho realizado por Hoepfner (2008) sobre a análise
do termo “cuidar”, em que o referido autor faz um estudo sobre o termo em seu
sentido etimológico e bíblico; bem como o trabalho de Oliveira (2004).
Para Hoepfner (2008), o termo cuidar provém do latim cura, que assinala
uma relação de amor e amizade, uma atitude de cuidado, de desvelo, de preo-
cupação e de inquietação em relação a alguém ou a algo estimado. Portanto, o
sentido aqui deve ressaltar, conforme observa Hoepfner (2008), uma relação
pessoal, existencial, e, por consequência, estabelecer uma preocupação frente
à vida de outra pessoa ou de algo, como o cuidado com os enfermos ou com o
meio ambiente.
Hoepfner (2008), baseado em Boff, faz a seguinte observação sobre o cuidado:
[...]é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um
momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de
ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afeti-
vo com o outro, pois uma atitude perfaz uma fonte, pela qual descen-
dem muitos atos. (p.14-15)

Cuidado, Aconselhamento e Capelania Cristã


22 UNIDADE I

Nesse sentido ainda, Hoepfner (2008) exemplifica e comenta da seguinte maneira


essa questão:
Quando uma mãe afirma: “Estou cuidando do meu filho adoentado!”,
subentendem-se, nesta afirmação, múltiplos atos. Atos como: estar
preocupado com seu filho; levá-lo ao médico; dar a ele, não apenas
remédios, mas, igualmente carinho; orar com e por ele, enfim, estar
próximo dele por meio de ações diversas que compreendem uma ati-
tude de cuidado. Nesse sentido, pode-se afirmar que uma atitude de
cuidado abarca o ser humano em sua totalidade de vida. No que tange
ao relacionamento humano, tanto a pessoa que toma uma atitude de
cuidar de alguém, quanto o indivíduo para o qual é dirigida tal atitude,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
há um contato não meramente físico, mas também afetivo-emocional,
concretizando uma relação de sujeito para sujeito e não de sujeito para
sujeito-objeto, ou seja, o cuidado possibilita a dignidade, pois abre mão
do poder dominador e afirma uma comunhão entre seres reais. “A rela-
ção não é de domínio sobre, mas de com-vivência. Não é pura interven-
ção, mas interação” Por conseguinte, pode-se reiterar que só recebemos
zelo se cuidarmos de outras pessoas; portanto, nessa dimensão, apenas
nos tornamos pessoa no encontro com outra. Percebe-se, então, que a
categoria cuidado tem conotações que superam as noções comuns que
lhe são aplicadas. (p.15)

Nota-se que o sentido ora ressaltado assinala vigorosamente uma atitude de cui-
dado total, não com o que é particular ou pontual, mas sim com o ser humano
em sua integralidade, em suas mais diversas áreas e dimensões: física, afetivo-e-
mocional, social, ecológica, cultural e espiritual.
Outra questão importantíssima ressaltada ainda por Hoepfner (2008) é a
relação entre os seres humanos que deve ser pautada não pelo domínio sobre,
mas pela convivência. Pode-se compreender nessa perspectiva que só recebemos
cuidado se cuidarmos também de outras pessoas; portanto, nessa dimensão ou
relação, apenas nos tornamos pessoa efetivamente quando estamos no encontro
com outra, ou seja, nos relacionamos respeitosamente como iguais.
Diante do exposto, Hoepfner (2008) conclui as seguintes considerações:
Explicitando, o cuidado vê os contornos concretos dos problemas, da
realidade, enxerga e abraça o ser em sua integralidade vital e, portanto,
não se resume a apenas fidelidade, a princípios profissionais e a deveres
morais impostos por uma sociedade deveras injusta. Perceptivelmente
esclarecedor é o vocábulo alemão Sorge, comumente traduzido ao ver-
náculo pátrio como “cuidado”, “preocupação”, “aflição”. Se por um lado,

ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ: MARCO BÍBLICO-TEOLÓGICO


23

a Sorge remete para o cuidado de si, por alguém ou por algo (Fürsorge),
por outro, remete, igualmente, para uma situação existencial de aflição,
ou seja, o de estar preocupado consigo mesmo, por alguém ou com algo
(sich sorgen um). O termo inglês care, da mesma forma, traz consigo a
idéia de um cuidar solícito, bem como o de um cuidar ansioso e aflito
junto a alguém ou a algo. Conclui-se que, uma atitude de cuidado fren-
te a pessoas, requer envolvimento, pois “o cuidado é aquela relação que
se preocupa e se responsabiliza pelo outro, que se envolve e se deixa
envolver com a vida e o destino do outro, que mostra solidariedade e
compaixão”. Tal atitude é a condição prévia para o eclodir da amorosi-
dade humana, afinal, quem cuida, ama e, quem ama, cuida (p. 16)
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Hoepfner (2008) faz ainda um estudo sobre expressões correlatas ao termo “cui-
dar” no Antigo Testamento e Novo Testamento:
O principal correlato do termo cuidar no Antigo Testamento (AT) é
o verbete shãmar. Ao longo do testamento hebraico ele aparece 420
vezes. A ideia básica da raiz deste termo, conforme o Dicionário Inter-
nacional do Antigo Testamento, é a de “exercer grande poder sobre”,
significado que permeia as várias alterações semânticas sofridas pelo
verbo. Combinado com outros verbos, o sentido expresso é o de “fazer
com cuidado”, “fazer diligentemente”, por exemplo, como aparece em
Nm 23.12: “(...) Porventura, não terei cuidado de falar o que o Senhor
pôs na minha boca”. O verbo pode vir a exprimir também a atenção cui-
dadosa que se deve ter com as obrigações contidas em leis e na própria
aliança de Deus com o seu povo, como expresso em Gn 18.19 ou Êx
20.6. Frequentemente, o verbo ainda é utilizado para designar a neces-
sidade de ser cuidadoso frente às próprias ações; frente à própria vida
(Sl 39.1; Pv 13.3), ou ainda, designar a atitude de alguém de dar aten-
ção ou reverenciar Deus, outras pessoas ou ídolos (Os 4.10; Sl 31.6). O
verbo shãmar abrange ainda os sentidos de “preservar”, “armazenar” e
“acumular” a ira (Am 1.11), o conhecimento (Ml 2.7), o alimento (Gn
41.35) ou qualquer coisa de valor (Êx 22.7). Um último desdobramento
da raiz exprime a ideia de “tomar conta de” ou “guardar”, ou seja, en-
volve manter ou cuidar de um jardim (Gn 2.15), de um rebanho (Gn
30.31) ou de uma casa (2 Sm 15.16). É nessa ótica que Davi admoesta
Joabe a cuidar de Absalão: “Guardai-me o jovem Absalão” (2 Sm 18.12),
ou quando Davi, nos Salmos 34.20; 86.2; 121.3-4 e 7, utiliza o termo
para falar do cuidado e da proteção divina.

Cuidado, Aconselhamento e Capelania Cristã


24 UNIDADE I

No que tange ao Novo Testamento, o principal correlato de cuidar é o


verbete grego merimna. Assim como o termo alemão sorge e o inglês
care, merimna pode remeter a dois significados. Num sentido negativo,
é traduzido por “preocupação” ou “ansiedade” do ser humano. É nesse
parâmetro que merimna é empregado no Sermão do Monte (Mt 6.25-
34). Jesus, nessa homilia, critica a demasiada preocupação do ser hu-
mano em torno de questões materiais que o afastam de Deus. Paralela-
mente, a passagem de adverte para as fúteis preocupações concernentes
à vida diária. Já o sentido positivo de merimna, remete ao “ter cuidado
de” ou “preocupar-se com” alguém ou algo. Em 2 Co 11.28, o apóstolo
Paulo se vê como aquele que deve preocupar-se com as igrejas. Já em
1 Co 12.25, a Igreja é vista como “corpo de Cristo”, no qual todos os

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
membros cuidem e cooperem uns a favor dos outros. Em 1 Pd 5.7, o
ser humano é chamado a lançar toda a sua ansiedade aos cuidados de
Deus.

Outras tantas passagens bíblicas poderiam ser aqui arroladas. Períco-


pes, que dependendo do testamento, utilizam os termos shãmar ou
merimna, para expressarem a ampla ideia do cuidado humano ou de
Deus por sua criação. Entretanto, ressalta-se, a partir dessa breve inves-
tigação acerca dos correlatos bíblicos do termo cuidar, que em muitas
passagens nas quais os termos shãmar e merimna são empregados, eles
compreendem, ao menos indiretamente, uma atitude que lida com a
própria condição de vida do ser humano. Atitude esta, profundamente
arraigada na fé dos inspirados escritores bíblicos em Deus (p. 17-18).

Ainda nessa direção, Oliveira (2004) afirma, a partir das elaborações teológicas
de Leonardo Boff sobre o cuidado com o ser humano no contexto maior que é
o cuidado com a natureza, o seguinte: “cuidar da alma implica cuidados senti-
mentos dos sonhos, dos desejos, das paixões contraditórias, do imaginário, das
visões e utopias que guar-
damos dentro do coração”
(p.17). Tal elaboração aponta
o cuidar como um ato inte-
gral da existência humana.
Oliveira (2004), tomando
afirmação de Brakemeier,
destaca que o cuidado com
o ser humano está justamente
na afirmação doutrinaria da

ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ: MARCO BÍBLICO-TEOLÓGICO


25

Imago Dei, ou seja, que o ser humano é imagem e semelhança de Deus. Portanto,
há uma dignidade no ser humano que lhe é atribuída, concedida sem mereci-
mento que provém de Deus e que se manifesta em si mesmo.
Teologicamente, observa Oliveira (2004) que os atos de misericórdia e com-
paixão testemunhados por Jesus Cristo, em sua prática, revelam o próprio amor
de Deus dispensado ao ser humano. Enquanto os atos de poder coisificavam o
ser humano, escravizando-o, Jesus testemunhava o amor de Deus que transforma
a dor e a escravidão em amor, saúde e vida, vida em abundância.
Oliveira (2004) assinala que a desesperança e o pessimismo podem ser
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

revestidos pela ressurreição de Cristo, pois ela apresenta uma nova condição
antropológica para a existência humana; bem como pela cruz que não nega o
sofrimento, mas assinala que todos estão suscetíveis nesta condição humana,
pois Jesus também recebeu cuidados quando de sua morte.
Por fim, o aconselhamento e a capelania cristã também são experiências
construídas e contextualizadas pela riqueza do serviço cristão que se explicita
no ato de cuidar do ser humano numa perspectiva bíblica. E essa tradição bíblica
tem como eixo fundante e articulador o Cristo da Fé e o Jesus Histórico. No pri-
meiro, se evidencia a celebração da Vida e no segundo se ressalta as contradições
existenciais da Vida. Nessa dinâmica é que se encontram relacionadas funda-
mentalmente o aconselhamento e a capelania cristã.

Cuidado, Aconselhamento e Capelania Cristã


26 UNIDADE I

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), esta nossa primeira unidade nos lançou no universo bíblico-
-teológico. Nela visitamos e revisitamos textos clássicos e fundamentais da Fé
Cristã que são imprescindíveis não só para os nossos intentos, como para todo
e qualquer objetivo que queira fundamentar o testemunho cristão.
Em nosso caso, olhamos firmemente para o campo da Teologia Prática,
ou mais especificamente, para as áreas do Aconselhamento e da Capelania
Cristã. Nesse sentido, quando estudamos a palavra “diaconia”, vimos como este

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
termo é rico e diverso, bem como aponta indelevelmente para o ser próprio do
Cristianismo: servir ao mundo. Destacou o nome e o sobrenome dessa essência
diaconal: Jesus Cristo, o servo por excelência. Assim, ficou límpido que o minis-
tério cristão, guarda-chuva maior que abarca o Aconselhamento e a Capelania
Cristã, é um instrumento de serviço no mundo, quer intra ou extraigreja.
Vimos ainda, juntos, o termo poimênica. Termo que deve ser entendido como
ponto de partida e de chegada do aconselhamento cristão, e por que não dizer
da Capelania Cristã também? Claro que sim. Esse termo alimenta essas duas
atividades que, do ponto de vista bíblico-teológico, são instrumentos para pos-
sibilitar ajuda e crescimento a todo aquele que se encontra necessitado. Contudo,
esse termo guarda também as potencialidades inerentes ao ser humano; isso não
pode ser esquecido quando se faz Aconselhamento e Capelania nessa perspec-
tiva, pois o aconselhando não é um objeto, mas um sujeito em crescimento. Isso
deve ser compreendido como um mote da ética da ajuda cristã.
Por fim, vimos cuidadosamente o verbo “cuidar”, ou o substantivo “cuidado”.
Brincadeiras à parte. “Cuidar” e “cuidado” são as palavras, sem dúvida, que melhor
interpretam, em última instância, toda e qualquer ação cristã. Nesse sentido, o
oxigênio afetivo do Aconselhamento e da Capelania Cristã é justamente a boa
nova de Salvação a todo aquele que crê: “Porque Deus amou (cuidou) do mundo
de tal maneira que enviou o seu Filho unigênito para que todo o que nele crê
não pereça, mas tenha vida eterna” (João 3.16).

ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ: MARCO BÍBLICO-TEOLÓGICO


26 - 27

COMUNIDADE DE FÉ: ACONSELHAMENTO – MISSÃO E DIACONIA

“Enviou-os a pregar o Reino de Deus e a irremediavelmente – quando se preocupa


curar os enfermos” (Lc 9.2). No afã de anun- com estas questões - com a necessidade
ciar o Evangelho até aos confins da Terra, de Deus.
a Igreja centra-se muitas vezes na primeira
parte deste mandato divino e esquece sua É na comunidade de fé que a pessoa deve
missão de “curar os enfermos”. O ser mis- encontrar apoio e arrimo na busca por res-
sionário se dá de forma plena quando postas existenciais. Profissionais da área
assumidas todas as dimensões do Reino. de Saúde Mental feriram por anos de sua
Anunciar o Reino implica, na sua essência, história um direito fundamental do por-
a ajuda ao próximo, pois o ensinamento pri- tador de transtornos mentais ao ignorar
mordial de Jesus é o da caridade. Avaliando sua dimensão espiritual. Dada a dificuldade
a ação da Igreja através da história, reco- de delimitar fé sincera e coerente como
nhece-se hoje a necessidade de retomar direito fundamental e a confusão mental
as características primeiras da comunidade relativa a elementos religiosos, optou-se
de fé cristã, ou seja, a recuperação de sua não tocar neste aspecto da vida. Por outro
ação de diaconia. lado, constata-se a dificuldade de institui-
ções denominacionais para tratar questões
As crises na vida do ser humano suscitam religiosas abertamente de forma a respeitar
questionamentos existenciais. É bom que o direito à liberdade religiosa. Subestimar
eu exista? Por que eu existo? São pergun- as capacidades mentais e cognitivas dos
tas que requerem respostas consistentes pacientes em instituições psiquiátricas
e efetivas para a vida da pessoa em crise. constituiu-se em um entrave para avançar
Estas perguntas podem ser resumidas na nas reflexões sobre a experiência religiosa
questão central: Como posso aceitar a vida no campo da Saúde Mental.
passada e futura?
Por parte das comunidades de fé cristãs
Esta pergunta primária, essência da busca coexistem os bons propósitos a partir do
de sentido do ser humano, aponta para Evangelho que ensina a não fazer acep-
além do mundo imamente. Ela expressa ção de pessoas nas relações e cuidados e
o desejo ilimitado do ser humano por a crença milenar preconceituosa que vê as
felicidade, integridade, aceitação e paz patologias mentais como possível castigo
consigo mesmo e com os outros. Os cris- divino ou possessão demoníaca.
tãos acreditam que neste desejo pelo céu
Deus mesmo permanece na lembrança Para anunciar o Reino a todos – indiscri-
da humanidade. As crises na vida levam, minadamente – é preciso superar tais
como nenhuma outra experiência biográ- paradigmas e construir um novo modo de
fica, a este desejo humano primário por integrar portadores de transtornos men-
Deus. A pessoa afetada por crises se depara tais nas comunidades. A comunidade de
fé é o espaço privilegiado para a concreti- não haja uma sistematização e compre-
zação do Reino aqui e agora. É nela que o ensão da relação com a Transcendência.
portador de transtornos mentais faz a expe- Antes da Palavra está a experiência. Se há
riência de um Deus de amor e ternura. O limites para acolher a Palavra falada e sis-
encontro de cristãos comprometidos com tematizada, o mesmo não acontece com a
os valores do Evangelho permite uma Palavra encarnada, pois esta remete direta-
aproximação real com Deus, mesmo que, mente à experiência do sagrado, portanto,
dependendo do grau de transtorno mental, acessível a todos.
Geni Hoss
Fonte: <http://tede.est.edu.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=191 >.
Acesso em: 09 dez. de 2015..
28 - 29

1. Como vimos nesta unidade, o termo “diákonos” é muito rico e diverso em sua
significação. Aponte em que sentido Jesus é entendido como exemplo maior
enquanto “diákonos”.
2. O estudo do termo “diákonos”, na perspectiva bíblica que vimos, é essencial para
direcionar o Ministério Cristão, o qual também orienta o aconselhamento e a
capelania cristã. Diante disso, interprete a seguinte afirmação: “Diaconia como
um ministério da Igreja, a serviço da obra de Deus, no mundo”.
3. Fundamentar, bíblica e teologicamente, é indispensável para toda e qualquer
teoria ou prática cristã. Nesse sentido, elabore um texto, entre 4 e 8 linhas, que
ressalte o sentido de poimênica, no que concerne às potencialidades próprias
dos seres humanos.
4. A partir da elaboração teológica do cuidado como fundamento para o aconse-
lhamento e capelania, aponte e argumente o porquê desse tema: “cuidado” é
essencial para o exercício do aconselhamento e da capelania cristã.
5. Nesta unidade foram vistos os termos “Diaconia”, “Ministério Cristão” e “Cuidado”.
Vimos que esses três termos são importantes para uma compreensão bíblico-
teológica do fazer aconselhamento e capelania cristã. Construa um texto argu-
mentativo entre 5 e 10 linhas, a partir desta unidade, que expresse a importância
desses termos para a atividade de aconselhamento e capelania cristã.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Luz da Poimênica
Neste link, você encontrará mais informações sobre o cuidado à luz da poimênica.
Especificamente, o texto enfoca a questão do cuidado de pastores e pastoras.
http://www3.est.edu.br/biblioteca/btd/Textos/Mestre/Oliveira_rmk_tm105.pdf

ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ: MARCO BÍBLICO-TEOLÓGICO


Professor Me. Rubem Almeida Mariano

II
OS FUNDAMENTOS DO

UNIDADE
ACONSELHAMENTO E DA
CAPELANIA CRISTÃ

Objetivos de Aprendizagem
■■ Conhecer as origens históricas do Aconselhamento e Capelania Cristã.
■■ Assinalar os aspectos fundamentais das teorias em Aconselhamento
e em Capelania Cristã.
■■ Apontar atitudes em Aconselhamento e Capelania Cristã.
■■ Identificar os objetivos principais do Aconselhamento e Capelania
Cristã.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Aconselhamento e Capelania Cristã: Apontamentos Históricos
■■ Fundamentos e Teorias em Aconselhamento Cristão
■■ Os Fundamentos da Capelania Cristã
■■ Capelania Hospitalar
33

INTRODUÇÃO

“Assim como o corpo precisa do médico, a vida espiritual da pessoa


precisa do capelão”.
Jung, G. In: Silva – Capelania Hospitalar e terapia
da enfermidade: uma visão pastoral.

No contexto religioso de corte cristã, são duas as práticas, em especial, o


Aconselhamento e a Capelania, que são marcadas pelo termo “ajuda”. Ambas
se encontram no campo da Teologia Prática, bem como a liturgia, a educação, a
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

pastoral e o cuidado (diaconia).


Especificamente, como bem ressalta Barrientos (1991), o tema do aconselha-
mento é bastante amplo e delicado, enquanto o tema da capelania ainda é pouco
conhecido. Nessa área há questões polêmicas, como a utilização ou não de téc-
nicas e procedimentos do aconselhamento psicológico para o aconselhamento
ou a capelania cristã. Contudo, este livro tem o objetivo de ser didático, ou seja,
ser uma introdução aos temas do aconselhamento e da capelania para a forma-
ção universitária em Teologia. Não obstante, o leitor atento e interessado deve
buscar na literatura especializada seu aprofundamento. É verdade, até então,
que há bem mais material disponível em aconselhamento do que em capelania.
Diante disso, esta unidade desenvolve estudos nos campos da história e das teo-
rias puras, bem como das teorias sobre as práticas
do Aconselhamento e da Capelania Cristã. É
importante ressaltar que focamos na área
Hospitalar em Capelania e, ainda, que
os conceitos, a natureza, os objetivos, o
intento, as dimensões, os procedimentos,
as atitudes, os instrumentos e os com-
portamentos em Aconselhamento e
Capelania Cristã foram observa-
dos e abordados à luz de diferentes
autores, uns bem conhecidos e
outros menos pelo público
especializado.

Introdução
34 UNIDADE II

ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ:


APONTAMENTOS HISTÓRICOS

Acompanhar, ajudar e fortalecer na fé sempre foi uma atividade própria da Igreja


de Cristo. Flor (2010) observa três modelos básicos de aconselhamento cristão
durante o período Antigo e Medieval:
a) poimênica como instrumento a serviço da disciplina eclesiástica” (cuidado
com a fé para que ninguém se afastasse do caminho reto);

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
b) “poimênica como caminho de aperfeiçoamento da vida monástica” (cuidado
com a vida interior e experiência mística de união com Deus);
c) “poimênica como função terapêutica” (na visão de luta entre poderes, era
comum a busca de cura de males atribuídos aos espíritos imundos).

Outras referências históricas dessa atividade podem ser encontradas logo nos
primeiros cem anos da Igreja Cristã. A história registra textos cuidadosos como,
por exemplo, a Carta a uma Jovem Viúva, escrita por João Crisóstomo em 380;
o “Livro de Cuidado Pastoral”, de Gregório, o Grande, no final do século VI ou a
carta “Catorze Consolos Para os Exaustos e Sobrecarregados”, escrita por Martinho
Lutero em 1520. Em cada um destes há a demonstração de um tempo na Igreja
Cristã em que o cuidado era parte integrante do ensino e da vivência pastoral
(FLOR, 2010).
Como é bom estar localizado ou contextualizado. Isso não é diferente quando
estudamos o tema da capelania. Saber nossas origens, e, principalmente, os fun-
damentos da nossa forma de pensar, bem como os motivos que estão na base
de uma determinada ação ou atitude é sempre importante. Conforme Gentil,
Guia e Sanna (2011):
Historicamente o termo “capelania” foi criado na França, em 1700
porque, em tempos de guerra, o rei costumava mandar para os acam-
pamentos militares, uma relíquia dentro de um oratório, que recebia
o nome de “Capela”. Essa capela ficava sob a responsabilidade do sa-
cerdote, conselheiro dos militares. Em tempos de paz, a capela voltava
para o reino, ainda sob a responsabilidade do sacerdote, que continuava
como líder espiritual do rei, e assim ficou conhecido por capelão. Com
o tempo, o serviço de capelania se estendeu aos parlamentos, colégios,
cemitérios e prisões (p.1).

OS FUNDAMENTOS DO ACONSELHAMENTO E DA CAPELANIA CRISTÃ


35

Silva (2010), ao tratar sobre a conceituação de capelania, observa que o termo


aponta para o cargo, a dignidade e o ofício de capelão. Tal atividade é exercida
por um religioso, católico ou protestante, responsável em prestar assistência reli-
giosa e/ou realizar culto ou missa nas instituições que serve. É comum ter um
local denominado capela em repartições públicas ou privadas, escolas, hospitais,
quartéis, presídios, universidades etc., onde o capelão atende às pessoas e essas
podem também exercitar a sua fé. Observa ainda, Silva (2010), que é comum
haver instituições que só têm capelão católico ou protestante, mas há também
instituições que comportam as duas ramificações do cristianismo, bem como
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

fora do país há outras religiões que também têm exercido essa mesma função.
Silva (2010) destaca em seu texto a importância do papel do capelão enquanto
facilitador. Ele observa que Jung atribuía ao capelão o papel de sujeito facilita-
dor do encontro do homem com a sua dimensão espiritual; assim como o corpo
precisa do médico, a vida espiritual da pessoa precisa do capelão, compreendia
Jung, conforme Silva (2010).

FUNDAMENTOS E TEORIAS
EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO

A compreensão tradicional de aconselhamento cristão pode ser identificada nas


palavras de Cunha (2004) ao tratar sobre o tema citando Mack:
O aconselhamento para ser chamado cristão precisa possuir quatro ca-
racterísticas: 1. Ser realizado por um cristão; 2. Ser centrado em Cristo
(Cristo não é um adendo ao aconselhamento, mas é a alma e o coração
do aconselhamento, a solução para os problemas. Isto contrata com o
caráter antropocêntrico das psicologias modernas); 3. Ser alicerçado na
Igreja (a Igreja é meio principal pelo qual Deus trás às pessoas ao seu
convívio e as conforma ao caráter de Cristo); 4. Ser centrado na Escri-
tura Sagrada (a Bíblia ajuda a compreender os problemas das pessoas e
prover solução para os mesmos)” (p. 1).

Fundamentos e Teorias em Aconselhamento Cristão


36 UNIDADE II

Contudo, tomemos em ter-


mos o conceito advogado
por Clinebell (2000), que vê
o aconselhamento, o qual
constitui uma dimensão da
poimênica, como a “utilização
de uma variedade de métodos
de cura (terapêuticos) para
ajudar as pessoas a lidar com

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
seus problemas e crises de uma
forma mais conducente ao crescimento e, assim, a experimentar a cura de seu
quebrantamento” (p. 25). Nesse sentido, o aconselhamento tem função repara-
dora quanto ao crescimento de uma pessoa.
É importante, inicialmente, nos localizarmos sobre qual modalidade de
aconselhamento nós estamos nos referindo ou tratando aqui. Barrientos (1991)
apresenta quatro tipos de aconselhamento:

1. Aconselhamento popular

É o que ocorre nos relacionamentos diários das pessoas que trocam problemas
e conselhos entre si.

2. Aconselhamento comunitário

Em muitos grupos latino-americanos, especialmente os de cultura indígena, existe


essa prática de aconselhamento em grupo. Se uma pessoa tem dificuldades em
seu lar recorre aos líderes da tribo, então eles, em grupo, escutam e aconselham.

3. Aconselhamento pastoral

É uma prática exercida por um pastor junto a sua comunidade. Precisa de pre-
paro e muita competência para tratar os mais diversos temas, como: problemas
matrimoniais, relacionamentos entre pais e filhos, disputas entre irmãos na fé,

OS FUNDAMENTOS DO ACONSELHAMENTO E DA CAPELANIA CRISTÃ


37

dificuldades econômicas, dificuldades sobre a fé, falta de sentido na vida, homos-


sexualidade, alcoolismo, vício de drogas, prostituição e problemas emocionais
mais profundos.

4. Aconselhamento profissional

Esse tipo de aconselhamento é exercido por conselheiros, psicólogos e psiquiatras.


Esses são profissionais que o pastor pode e deve trabalhar junto, pois há proble-
mas mais profundas na comunidade e por isso necessitam de um cuidado maior.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Nossos estudos assinalam o aconselhamento pastoral primeiramente, bem


como o profissional, com destaque para o aconselhamento psicológico. Nossa
perspectiva é o diálogo. Esse diálogo está imbuído pelo respeito e consideração
entre os conhecimentos da Teologia e da Psicologia.
Avançando um pouco mais, Barrientos (1991) apresenta as cinco objetivos
do aconselhamento, e ainda destaca que o mesmo não está indicado somente
para os momentos de crise, mas é também um meio de ajuda, com isso corro-
borando com a ideia acima de Clinebell (2000). Vejamos os cinco objetivos:
1. Relatar a situação que está enfrentando.
2. Obter uma visão global do problema, e não reparar apenas em detalhes.
3. Descobrir as causas.
4. Tomar decisões.
5. Amadurecer para que, em situações futuras, possa resolvê-los por si
mesmo.

Mannóia (1985) também corrobora ao apresentar os seguintes objetivos:


a. Auxiliar o indivíduo a alcançar o conhecimento e a aceitação de si mesmo.
b. Auxiliar o indivíduo a analisar rumos de ação alternativos.
c. Oferecer oportunidades ao indivíduo de escolher um modo de proce-
der que seja viável.
d. Oferecer ao indivíduo uma situação na qual tome iniciativa e aceite se
responsabilizar por ela.

Fundamentos e Teoriasem Aconselhamento Cristão


38 UNIDADE II

Para Collins (1995), o aconselhamento tem os seguintes objetivos:


a. Estimular o desenvolvimento da personalidade.
b. Enfrentar mais eficazmente os problemas da vida, os conflitos íntimos e
as emoções prejudiciais.
c. Promover encorajamento e orientação para aqueles que perderam alguém
querido ou que estejam sofrendo uma decepção.
d. Assistir as pessoas cujo padrão de vida lhes cause frustração e infelicidades.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e. Levar o indivíduo a uma relação pessoal com Jesus Cristo.

Collins (1995) ressalta, ainda, os seguintes alvos do aconselhamento:


a. Autocompreensão – compreender a si mesmo é o primeiro passo para
a cura.
b. Comunicação – é essencial para a pessoa. Isso envolve a expressão da
pessoa e a capacidade de receber mensagens corretas por parte de outras.
c. Aprendizagem e Modificação de comportamento – desenvolver com-
portamentos adequados e abandonar os inadequados é essencial para o
aconselhando.
d. Autorrelização – desenvolver uma vida realizada em Cristo, na força do
Espírito Santo, em que nota-se o amadurecimento espiritual do aconse-
lhando.
e. Apoio – o aconselhando em situações de crise pode necessitar de apoio
para enfrentá-las.
Já Clinebell (2000) apresenta o seguinte quadro de áreas funcionais onde há opor-
tunidades dentre as quais o aconselhamento se desenvolve de maneira efetiva:

FUNÇÃO EXPRESSÕES EXPRESSÕES ATUAIS EM POIMÊNICA


POIMÊNICA HISTÓRICAS E ACONSELHAMENTO

Unção, exorcismo, san- Psicoterapia pastoral, cura espiritual,


Cura tos e relíquiasm curan- aconselhamento e terapia matrimo-
deiros carismáticos. nial.

OS FUNDAMENTOS DO ACONSELHAMENTO E DA CAPELANIA CRISTÃ


39

FUNÇÃO EXPRESSÕES EXPRESSÕES ATUAIS EM POIMÊNICA


POIMÊNICA HISTÓRICAS E ACONSELHAMENTO

Preservar, consolar e Poimênica e aconselhamento de


consolidar. apoio, aconselhamento em casos de
Sustentação
crise, poimênica e aconselhamento
em casos de luto ou perda.

Dar conselhos, exorcís- Aconselhamento educativo, tomada


mo, escutar. de decisões em curto prazo, aconse-
Orientação
lhamento de confrontação, orienta-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ção espíritual.

Confissão, perdão, disci- Aconselhamento matrimonial. Acon-


Reconciliação plinamento. selhamento existencial (Reconcilia-
ção com Deus).

Treinamento de mem- Aconselhamento educativo, grupos


bros, novos na vida cris- de crescimento, enriquecimento do
Nutrição tã, educação religiosa. matrimônio e da famíliam assistência
para a possibilidade de crescimento
através de crises desenvolvimentais.

Clinebell (2000) observa que o fim último do aconselhamento é o crescimento


espiritual integral das pessoas. Para isso, o conselheiro deve utilizar os instru-
mentos que são próprios ao cristianismo, como:
■■ A bíblia.
■■ A oração.
■■ A visitação.
■■ A meditação.
■■ A exortação.
■■ O perdão.
■■ A comunhão, dentre outros.

Fundamentos e Teoriasem Aconselhamento Cristão


40 UNIDADE II

Se assim podemos nos referir,


esses instrumentos têm o objetivo
de potencializar esse crescimento
espiritual integral à luz da ação do
Espírito Santo.
Nessa perspectiva, Clinebell
(2000) observa, ainda, seis dimen-
sões da integralidade da vida de uma
pessoa:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
1. Avivamento da sua mente.
2. Revitalização de seu corpo.
3. Renovação e enriquecimento de seus relacionamentos íntimos.
4. Aprofundar sua relação com a natureza e a biosfera.
5. Crescimento em relação às instituições significativas em sua vida.
6. Aprofundamento e vitalização de seu relacionamento com Deus.

Castro (1974) faz a seguinte pergunta: qual será a meta da atividade pastoral? Ele
mesmo responde assim “logicamente como todo conselheiro, procura ajudar a
recuperar a saúde plena da personalidade do aconselhando” (p. 182). Nessa dire-
ção, Castro (1974) destaca as seguintes questões do aconselhamento:
a) A capacidade de uma pessoa de ter o controle sobre seu próprio destino.
b) Fazer suas próprias escolhas.
c) Ser responsável tanto no desenvolvimento de suas ações como nos resul-
tados das mesmas.
É fundamental ressaltar que Castro (1974) assevera que tais questões do acon-
selhamento, que se apresentam como objetivos que devem ser tomados dentro
da seguinte perspectiva: “vão acompanhados normalmente por uma militân-
cia serviçal, uma atitude vicária em relação com o mundo, com o exemplo de
Zaqueu” (p. 183), ou seja, servir ao Senhor Jesus Cristo.

OS FUNDAMENTOS DO ACONSELHAMENTO E DA CAPELANIA CRISTÃ


41

Schipani (2004) parte dessa mesma direção quando observa que:


[...] o aconselhamento pastoral é um ofício e uma forma especial do
ministério do cuidado pastoral na Igreja. No aconselhamento pasto-
ral, o emergir humano é promovido de maneira especial por meio de
uma forma distinta de caminhar com as pessoas, casais e membros de
famílias ou pequenos grupos, no momento em que enfrentam desafios
e dificuldades na vida. O objetivo maior, termos simples, é que vivam
sabiamente à luz do Deus (p. 97).

Por isso, para Schipani (2004) aconselhamento pastoral deve ser entendido teo-
logicamente como:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

a) Adoção da sabedoria à luz de Deus como a metáfora fundamental que


reconstrói a estrutura teórica e os fundamentos teológicos do aconselha-
mento pastoral em solo firme.
b) Integração das perspectivas psicológicas e teológicas à luz da sabedoria
de Deus como o princípio digno para orientar, compreender e realizar
um tipo de aconselhamento pastoral ao mesmo tempo plenamente acon-
selhador e plenamente pastoral.
c) A luz de Deus que define a natureza e a orientação de forma do ministé-
rio cristão, de modo que prontamente reconhecemos as dimensões éticas
e o contexto moral do aconselhamento.
d) A luz de Deus que orienta os aconselhadores pastorais a caminharem com
os outros na esperança de construir uma sociedade de liberdade, justiça,
paz, amor e integridade e os chama, de forma singular, a se tornar em
terapeutas para um mundo melhor.
Schipani (2011) observa ainda que em aconselhamento pastoral é imprescindível
que se tenha claro que cada situação requer formulação de objetivos específicos,
bem como, em cada situação, que se apliquem estratégias próprias. Contudo, há
também de se reconhecer que há muitas ocorrências em comum que apontam
para um propósito geral ou fundamental, o qual, nesse caso, é a sabedoria à luz
de Deus. Portanto, o propósito mais amplo de crescer em sabedoria inclui três
aspectos inseparáveis para se buscar alívio e resolução, advoga Schipani (2011):

Fundamentos e Teoriasem Aconselhamento Cristão


42 UNIDADE II

5. Crescimento na visão

A experiência do aconselhamento pastoral tem de ser orientada para ajudar o


aconselhando a encontrar novas e melhores formas de conhecer e compreender
a realidade, incluindo as dimensões da sua própria pessoa, o mundo social, as
ameaças do vazio e a realidade da graça do Sagrado.

6. Crescimento em virtude

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A experiência do aconselhamento deve convidar o aconselhando a descobrir
maneiras de ser e amar mais satisfatoriamente, com particular ênfase na sua
relação com outras pessoas - especialmente amigos, familiares e colegas de tra-
balho - com o Espírito de Deus e consigo mesmo.

7. Crescimento em vocação

A experiência de aconselhamento pastoral procura capacitar o aconselhando a


tomar boas decisões e investir energias novas em relacionamentos interpesso-
ais, profissionais, nas horas de descanso, lazer, alimentação espiritual, serviço,
e encontrar formas de apoiar essas decisões com integridade. É fundamental
encontrar uma orientação para a vida que seja mais livre e esperançosa, em meio
à situação social que vivemos.
Portanto, Schipani (2011) entende que o propósito geral do aconselhamento
pastoral é ajudar o aconselhando a descobrir como viver uma vida mais ínte-
gra, moral e plena.
Brister (1980), ao tratar da natureza do aconselhamento pastoral, observa
que há muitos problemas, dos mais diversos possíveis, entre as pessoas hoje. Tal
realidade assinala a necessidade de um melhor preparo por parte de pastores e
pastoras, bem como liderança religiosa como um todo, incluindo entendimento
técnico e busca por resultados efetivos. Deve-se reconhecer que o aconselhamento
pastoral não é uma atividade nova, por mais que tenha ganhado visibilidade
atualmente, como nos cursos de formação teológica e na própria comunidade
cristã, ele é muito antigo.

OS FUNDAMENTOS DO ACONSELHAMENTO E DA CAPELANIA CRISTÃ


43

Em seu estudo pela compreensão da natureza do aconselhamento pastoral,


Brister (1980) destaca os seguintes elementos:
a) O aconselhamento pastoral pressupõe um diálogo entre Deus e o ser
humano, na perspectiva da Fé Cristã. Seja em que situação for, Deus sem-
pre se fará presente nessa relação (Mt. 18:20), por isso em certo sentido,
do ponto de vista teológico, a experiência do aconselhamento deve ser
compreendida como uma oração, uma conversa com Deus na presença
de outra pessoa. Que responsabilidade nossa, você não acha?
b) O aconselhamento pastoral tem como contexto o ambiente cristão e recur-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

sos ou fontes únicas. Ou seja, sempre está relacionado à igreja e ao contexto


tipicamente comunitário. Como, por exemplo, na visão dos membros da
comunidade um conselheiro pastor é um guia espiritual. Ele pode até
não usar desse poder, mas tal realidade
é difícil de desvencilhar. Por isso, cabe ao
conselheiro possibilitar ajuda adequada à
pessoa, oportunizando para que ela tenha
um melhor entendimento da sua situa-
ção e das condições proporcionadas por
essa relação de ajuda.
c) O aconselhamento pastoral é distinto das
outras modalidades de aconselhamento
profissional, por exemplo, pois ele é um
processo de conversação entre um pastor
responsável e um indivíduo preocupado
ou grupo íntimo, com a intenção de per-
mitir que tais indivíduos resolvam as suas
preocupações, e assim, possam atingir
uma ação construtiva. Nesse sentido, é fundamental a criação de víncu-
los antes mesmo de qualquer utilização de técnica.

Fundamentos e Teoriasem Aconselhamento Cristão


44 UNIDADE II

OS FUNDAMENTOS DA CAPELANIA CRISTÃ

No que se refere à capelania deve-se observar, inicialmente, que é uma ação que
nasce a partir da interação e da relação de ajuda, de auxílio, de cooperação e de
cuidado humanizado, onde a marca principal é a da solidariedade e da fraterni-
dade, conforme Souza (2006).
Segundo Barros (2008), Capelania é uma atividade cuja missão é colaborar na
formação integral do ser humano, oferecendo oportunidades de conhecimento,
reflexão, desenvolvimento e aplicação dos valores e princípios ético-cristãos e

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
da revelação de Deus para o exercício saudável da cidadania.
Na atualidade há diversas modalidades de Capelania, contudo se destacam
entre as mais conhecidas:
■■ Educacional.
■■ Carcerária.
■■ Hospitalar.
■■ Militar.
■■ Empresarial.

Essas modalidades já estão em todo Brasil, devidamente reconhecidas por lei


com uma longafolha de serviços prestados à sociedade, como é o caso da cape-
lania militar.
O capelão, seja qual for o contexto em que os tiver inserido, tem a missão
de ajudar a pessoa em seu crescimento utilizando os instrumentos próprios da
ajuda cristã ou pastoral, os quais já foram citados acima a bíblia, a oração, a visi-
tação, a meditação, a exortação, o perdão, a comunhão, dentre outros.
Nesse sentido, cabe ao capelão desenvolver procedimentos contextualiza-
dos à sua área de ação, ou seja, escola, universidade, quartel, presídio, hospital
buscando sempre uma atuação em equipe, mas que ressalte as contribuições
específicas e próprias do trabalho espiritual; sempre ciente de que a pessoa é
um ser de várias dimensões, e por isso ele deve exercer seu trabalho à luz da
interdisciplinaridade.

OS FUNDAMENTOS DO ACONSELHAMENTO E DA CAPELANIA CRISTÃ


45

CAPELANIA HOSPITALAR

Um bom exemplo é a atuação do capelão


no hospital. Esse contexto tem suas especi-
ficidades, sendo muitas vezes marcado por
contradições que lhe são próprias, como:
a) De um lado, o adoecer, a doença, o
morrer e a morte.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

b) De outro, a convivência com diver-


sos profissionais da área da saúde
e áreas afins que, independente de
suas possíveis crenças, têm uma formação profissional específica que pauta
a sua atuação, como é o caso da enfermagem, da medicina, da fisiotera-
pia, da psicologia, da assistência social, da administração dentre outras.

A capelania hospitalar é uma atividade que remonta a datas longínquas da nossa


história, por volta dos cem primeiros anos da Era Cristã, conforme Silva (2010). Hoje
ela já é respeitada e presente positivamente nos hospitais. Quem faz uma exposi-
ção muito interessante sobre a capelania hospitalar em nossos dias é Silva (2010). A
seguir, transcrevemos algumas de suas principais ideias sobre essa questão. Vejamos:
Silva (2010) localiza a capelania hospitalar no contexto da teologia pastoral,
mais especificamente na tradição da Teologia Prática, que tem sua origem nos
estudos de Schleiermacher (1768-1834). Este Teólogo foi responsável por chamar
a atenção dos estudos teológicos para a prática pastoral como uma área autô-
noma, pois compreendia que a riqueza da teologia está justamente em sua ação
ou aplicabilidade. Nesse sentido, o teólogo brasileiro Zabatieiro (2005) observa
que toda teologia é prática, no sentido de finalidade mais premente.
Silva (2010) faz o seguinte comentário sobre a localização da capelania hos-
pitalar no contexto da Teologia Prática:
A capelania hospitalar se insere na chamada ‘’teologia prática’’ como o
serviço cristão da Igreja ao mundo dos doentes, nas casas, nos hospi-
tais. Com o objetivo de ajudá-los a partir da fé, da esperança e da cari-
dade, em sua luta pela recuperação de sua saúde ou pela cura integral
da aceitação e da humanização dos últimos momentos da existência
mediante o diálogo...
Os Fundamentos da Capelania Cristã
46 UNIDADE II

O serviço de capelania hospitalar consiste num ministério de apoio,


fortalecimento, aconselhamento e consolação, desenvolvidos junto aos
enfermos e seus familiares, funcionários e médicos do hospital... É um
serviço de dimensão holística, que considera o enfermo uma unidade
pluridimensional. Consiste em levar conforto em horas de angústia, in-
certeza, aflição, desespero e compartilhar o amor de Deus por meio de
atitudes concretas: presença; gestos; palavras; orações; textos bíblicos;
música e silêncio. A capelania hospitalar é uma organização religiosa
interdenominacional com a finalidade principal de prestar assistência
espiritual em instituições hospitalares...

A capelania colabora na formação integral do ser humano, oferecendo


oportunidade de conhecimento, reflexão, desenvolvimento e aplicação

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dos valores e princípios éticos, na revelação de Deus para o exercício
da cidadania. A capelania realiza também a assistência espiritual, social
e emocional às famílias de enfermos, equipes de saúde dos hospitais e
estudantes de medicina.
De acordo com Bautista, a capelania hospitalar tem como característi-
ca ser um serviço sanativo, porque pretende a apropriação da realidade
pessoal até o último instante de vida. Esse serviço (diaconia) exige, em
primeiro lugar, a colaboração dos cristãos próximos ao mundo do enfer-
mo, especialmente os agentes mais idôneos, desde os pastores, diáconos
e os leigos que vivem e conhecem o contexto hospitalar e podem ajudar
nas atividades no hospital. Esse trabalho é baseado no conceito de “aten-
dimento integral” em que o paciente tem uma aceitação melhor da hos-
pitalização e tem mais chances de um rápido reestabelecimento por ter
também contemplados os aspectos espirituais e emocionais. (p.p 26-27)

Teologicamente, Silva (2010) lembra que como toda ação pastoral, a capelania
hospitalar está fundamentada na própria prática de Jesus, pois Ele atendeu e
cuidou dos enfermos e doentes de sua época, em um contexto bem peculiar de
pobreza e de contradições socioeconômicas. O próprio testemunho bíblico do
Novo Testamento assinala que Ele atendia os que sofriam, curando-os e anun-
ciando o Reino de Deus, de vida e paz.
Silva (2010) observa o papel imprescindível do capelão ao afirmar:
O profissional da saúde nem sempre está preparado para trazer rela-
ções saudáveis de ajuda. Depois de esgotadas todas as possibilidades
técnicas e feito todo o possível do ponto de vista clínico, justamen-
te, então, estaremos diante do momento de maior vulnerabilidade e
de maior necessidade do enfermo. E quase sempre nessa situação, os
profissionais da saúde deixam o doente sozinho e desamparado. Por

OS FUNDAMENTOS DO ACONSELHAMENTO E DA CAPELANIA CRISTÃ


47

diversos fatores alheios a nossa vontade, não se leva a sério com a de-
vida frequência, intensidade e consideração, a máxima de que o doente
deve ser protagonista da visita do médico, da enfermeira e do visitador.
Deve, portanto, ser o centro do hospital e de todo o sistema de saúde.
Por isso, precisamos fortalecer a redescoberta da capelania hospitalar,
uma capelania da humanização e da vida para com os doentes, espe-
cialmente os marginalizados, esquecidos e abandonados. (p.p. 27-28)

Portanto, a Capelania Cristã é uma atividade legitima do ambiente teológico,


especificamente do ambiente pastoral, o qual tem no universo bíblico sua prin-
cipal inspiração, na própria ação e atitude de Jesus Cristo diante dos enfermos,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

os quais em estado de vulnerabilidade encontravam alento e esperança de cura.


E, assim, hoje a Capelania Cristã é uma realidade que continua seguindo essa
boa tradição de Jesus Cristo, como uma atividade parceira, em especial, dos pro-
fissionais da saúde no contexto hospitalar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nossos estudos nos revelaram que tanto o Aconselhamento quanto a Capelania


Cristã remonta de uma datação longínqua, contudo, ambas foram mais recen-
temente tomando a forma que temos nos estudos clássicos modernos. Ambas
seguem a mais pura tradição cristã de ajuda aos necessitados e aos que sofrem.
Vimos conceitos, objetivos e finalidades, bem como teorias sobre Aconselhamento
Cristão. Vimos também que algumas teorias ora enfatizaram os fundamentos, ora
enfatizaram as finalidades. Observamos ainda a riqueza de argumentos puramente
teóricos e teorias sobre a prática, bem como argumentações ricas teologicamente.
Sobre a Capelania Cristã foi dado um tom apenas introdutório e panorâmico.
Focou-se mais especificamente na capelania hospitalar. É importante ressaltar
que essa área será mais bem desenvolvida quando forem tratados o perfil e o
papel do capelão, na Unidade IV desta disciplina.
Por fim, esta unidade teve como objetivo tornar mais evidente ao leitor os fun-
damentos teóricos e práticos do Aconselhamento e da Capelania Cristã, e assim
possibilitar informações básicas, fundamentais e técnicas sem as quais essas áreas
ficam apenas no campo do voluntarismo desprovido de toda sorte de competências.

Considerações Finais
CAPELANIA HOSPITALAR
Levando o amor de Cristo aos enfermos e necessitados
Atuar nos hospitais levando o amor de Deus, Seu consolo e alívio num momento de dor.
Esta é a principal missão da Capelania Hospitalar, que, através de gestos de solidarieda-
de e compaixão, tem levado a Palavra de Deus não só aos pacientes, mas também aos
seus familiares, sem esquecer ainda dos profissionais de saúde, tantas vezes vivendo
situações de estresse ou mesmo passando por momentos difíceis. Os capelães respei-
tam a religião de cada paciente sem impor nada, apenas levando a Palavra àqueles que
desejarem.
O que faz um capelão?
O capelão, integrante da equipe multidisciplinar de saúde, é uma pessoa capacitada
e sensível às necessidades humanas, dispondo-se a dar ouvidos, confortar e encorajar,
ajudando o enfermo a lutar pela vida com esperança em Deus e na medicina. Oferece
aconselhamento espiritual e apoio emocional tanto ao paciente e seus familiares, como
aos profissionais da saúde. É importante elo com a comunidade local.

REAÇÕES DO ENFERMO PERANTE A DOENÇA


Diante da enfermidade a pessoa se vê tolhida de sua liberdade de ser ela mesma, não
pode desempenhar suas atividades e sente-se ameaçada quanto a seu viver ou futuro.
A reação diante de tudo isso é uma atitude psicológica chamada de MECANISMO DE
DEFESA, classificada como inconsciente.
Eis algumas reações dessa natureza:
■■ REGRESSÃO – O paciente se torna dependente dos outros, sem autonomia, adotando
atitudes infantis, exagerando desproporcionalmente a gravidade do seu caso; recla-
ma sem fundamento e constantemente do atendimento e da alimentação; queixa-se
que os parentes ou conhecidos não o visitam.
■■ FORMAÇÃO REATIVA – Os impulsos e as emoções censuradas como impróprias as-
sumem uma forma de expressão contrária, aceitável para o consciente. No caso de
doenças longas ou piora gradativa, o paciente afirma que está sendo perseguido pe-
los funcionários do hospital, adotando uma atitude defensiva e agressiva, pois estes
representam sofrimento para ele. Pragueja, xinga, acusa os familiares de falta de inte-
resse, que os médicos são irresponsáveis.
■■ NEGAÇÃO – Ao tomar conhecimento do diagnóstico, o paciente se recusa a aceitar
que esse problema de saúde é dele. A negação funciona como uma proteção contra a
angústia. Ele acha que o resultado está errado, que outro médico deve ser procurado
48 - 49

e continua tentando viver como se a enfermidade não existisse, evitando falar sobre
o assunto. A negação pode ocorrer em crentes que adotam uma atitude triunfalista
ao afirmarem: “Em nome de Jesus já estou curado, Deus não permitirá que eu seja
operado”.

REAÇÕES DOS FAMILIARES DO ENFERMO


A família acaba sendo afetada e as reações negativas podem ser a de estresse psíquico,
ocorrendo desgaste físico e até depressão. A família se organiza nas suas funções, ocor-
rendo sobrecarga para alguns membros familiares e até a omissão de cuidados. A vida
sócio-econômica também pode mudar radicalmente devido as perdas. Os familiares
prejudicam o tratamento se forem excessivamente desconfiados em relação à equipe
do hospital, com muitos questionamentos ou palpites. Alguns familiares se sentem cul-
pados ou transferem a culpa ao paciente. Também podem se sentir vítimas do destino,
castigo de Deus ou retaliação do inimigo. O enfermo muitas vezes precisa se esforçar
para acalmar a família. Conforme a enfermidade, alguns familiares entram em crise de
desespero, tirando a tranqüilidade do paciente.

QUALIFICAÇÕES PARA VISITAÇÃO


■■ Vários requisitos necessários do visitador:
■■ Ter sabedoria e humildade para saber que você não é melhor do que ninguém;
■■ Cultivar uma personalidade amável, agradável, cativante;
■■ Ter habilidade de comunicar-se;
■■ Ter humor estável;
■■ Ter respeito às opiniões religiosas divergentes;
■■ Ter discernimento e sensibilidade na conversação;
■■ Saber guardar as confidências dos pacientes;
■■ Saber usar a linguagem e forma de abordagem a cada pessoa;
■■ Dar tempo e atenção ao paciente visitado;
■■ Ter sensibilidade para com discrição, sentir quando é o momento mais oportuno para
visitar;
■■ Saber evitar a intimidade e não invadir a privacidade alheia;
■■ Saber ouvir.
PRINCÍPIOS A SEREM OBSERVADOS NA VISITAÇÃO A ENFERMOS
■■ Bater à porta.
■■ Pedir licença ou cumprimentar só verbalmente (a menos que o paciente estenda a
mão).
■■ Se apresentar como pastor (a); obreiro (a).
■■ Se oferecer para orar (respeitar as negativas) pedindo o favor de abaixar o volume do
rádio ou TV.
■■ Convidar as pessoas do ambiente pra ouvirem a leitura bíblica e oração.
■■ Caso o enfermo estiver no banho, fazendo curativos ou algum exame,

RETORNE POSTERIORMENTE
■■ Se a enfermeira estiver atendendo o paciente ou o médico estiver presente no quarto,
RETORNAR POSTERIORMENTE.
■■ Se o paciente está com algum mal-estar (vômito, dor, confuso), abreviar a visita.
■■ Às vezes o paciente faz as seguintes solicitações: para ajeitá-lo no leito, pede água
ou algum alimento, solicita medicação. TODAS essas solicitações devem ser atendidas
pelo serviço de enfermagem. Por isso, responda ao paciente que ele deve fazer esse
pedido a enfermeira, ou em alguns casos (queda do paciente, escapou o soro) avisar o
ocorrido no posto de enfermagem.
■■ Em alguns casos quando o paciente apresenta um quadro de contaminação, é colocado
um cartaz de alerta e de instruções na porta do quarto. Na dúvida, perguntar no posto
de enfermagem e que deve fazer para entrar no quarto (utilizar máscara, luva, etc).

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
O objetivo da visita NÃO É doutrinação, mas atender à necessidade do paciente; a visita
deve ter um propósito: conforto, consolo para quem sofre. Muitas vezes, a tentação de
“pregar” e apresentar o seu discurso faz com que muitos se esqueçam de que estão num
hospital, desvirtuando, assim, todo o propósito da visita;
■■ Quando tiver dúvidas sobre a situação do paciente, procure a enfermeira.
■■ Ter discernimento para dosar o tempo da visita;
■■ Não demonstre “pena” do paciente;
■■ Mostre seu interesse pelo paciente, mas sem exageros;
■■ Preste atenção naquilo que o paciente está falando, verificando quais são suas preo-
cupações;
50 - 51

■■ Não conduza a sua conversa de tal maneira que exija do paciente grande concentra-
ção e esforço mental para acompanhar (ele pode estar sob o efeito de medicamentos);
■■ Ao paciente que acha que não será curado, encoraje. Mas, faça-o com prudência, sem
promessas infundadas;
■■ Não fale sobre assuntos pavorosos;
■■ Nunca pratique atos exclusivos de auxiliar de enfermagem, tais como: dar água ou
qualquer alimento, ou locomover o paciente, mesmo que seja a pedido dele;
■■ Nunca discuta sobre a medicação com os pacientes;
■■ Mantenha os segredos profissionais (num leito de hospital o paciente fala muita coisa
de si mesmo e de sua vida pessoal);
■■ Nunca comente nos corredores do hospital, ou fora deles, o tipo de conversa ou enca-
minhamento de sua entrevista mantida com o paciente;
■■ A ética deve ser rigorosamente observada. Tome muito cuidado!
■■ Não cochiche! Pacientes apresentam alto nível de desconfiança;
■■ Aproveite a oportunidade como se fosse a única. Na medida do possível, o ministério
junto ao enfermo, dentro de um hospital deve ser completo, numa “dose única”;
■■ Evite a intimidade excessiva, não invadindo a privacidade alheia (tanto do paciente
quanto do seu acompanhante);
■■ Respeite a liberdade do paciente quando ele não quiser (ou não estiver preparado
para) falar sobre seus problemas;
■■ Nunca tente ministrar o enfermo quando ele está sendo atendido pelo médico ou
pela enfermeira, ou quando estiver em horários de refeições, ou quando a situação im-
possibilite (familiares, telefonando ou algo importante que ele está assistindo na TV);
■■ Não faça promessas de qualquer espécie (cura, conseguir medicação, maior atenção
dos profissionais de saúde, transferências, conseguir entrevista com o diretor). O pró-
prio hospital tem meios de solucionar essas solicitações;
■■ Em caso de possessão demoníaca, elas precisam ser discernidas;
■■ Preste atenção nos cartazes afixados na porta do quarto, pois eles orientam por qual
motivo você não pode entrar naquele momento ou quais os cuidados você deve to-
mar ao entrar no quarto. Talvez seja proibida a entrada por causa de curativo, troca
de bolsa em pacientes renais, proibição de visita por ordem médica. O paciente pode
estar isolado por causa de problemas de contágio e o cartaz estará orientando se for
necessário utilizar máscara, jaleco, luvas ou evitar tocar no paciente. Também pode
estar tomando banho;
■■ Evitar apertar a mão do paciente, a não ser que a iniciativa seja dele;
■■ Nunca sentar-se na cama do paciente, evitando assim contaminar o doente ou ser
contaminado por ele. Quando o paciente está em cirurgia, os lençóis ficam enrolados,
não devendo NINGUÉM sentar ali;
■■ Procurar estar numa posição em que o paciente veja você;
■■ Cuidado se a sua voz for estridente;
■■ Se for insultado, reaja com espírito cristão;
■■ Em suas conversas, orações, leituras de textos, fale em tom normal. Evite a forma dis-
cursiva e com voz estridente, a não ser que seja em ambiente amplo.
■■ Observar se o paciente está com mal-estar (náuseas ou dor), procurando abreviar ao
máximo a visita.

ATITUDES ADOTADAS PERANTE O PACIENTE E O CORPO CLÍNICO:


Para o paciente, o médico é a pessoa mais importante no hospital, em quem ele depo-
sita a sua confiança. É a visita que ele deseja ansiosamente; portanto, quando chegar o
médico, procure encerrar o assunto ou oração ou retirar-se discretamente. Evite dar pal-
pites sobre o tratamento do paciente ou sobre a conduta do médico. Procure trabalhar
em harmonia com o pessoal da enfermagem, pois os pacientes dependem deles.

APLICAÇÃO BÍBLICA
Sabemos que a enfermidade é proveniente da raça humana em pecado. Em muitas si-
tuações a enfermidade surge por culpa direta do próprio indivíduo que não cuida do
seu corpo como deveria, ou por causa da violência urbana. Mesmo que o indivíduo seja
culpado de sua situação, devemos levar-lhe uma mensagem que Jesus deseja lhe dar
saúde total, tanto no corpo como na alma, pois Ele disse: “Eu vim para que tenham vida
e a tenham em abundância“ (João 10:10).
A mensagem que se dve trazer ao enfermo é a mensagem bíblica de esperança e con-
solo. Essa mensagem é verbal através da leitura bíblica, oração e aconselhamento. Tam-
bém, através de expressão corporal, tais como expressão de carinho, sorriso e demons-
tração de empatia.
Encontraremos na Bíblia textos relacionados às mais diversas necessidades do ser hu-
mano. São esses textos que devem ser apresentados aos pacientes na esperança de des-
pertamento de fé nas promessas de vida.
52 - 53

Eis alguns assuntos relacionados ao estado de espírito dos pacientes:


■■ Aflição – Salmos 34:19 – 86:1 – 119:107 – João 14:1,27
■■ Angústia – Naum 1:7 – Salmo 4:1 – 18:6 – 60:11 – 119:50
■■ Ansiedade – Salmos 46:10 – Mateus 6:31-34 – Filipenses 4:6-7 – I Pedro 1:7
■■ Cansaço – Mateus 11:28-30
■■ Choro – Salmos 30:2-5 – Apocalipse 21:4
■■ Desânimo – Salmos 42:11 – Provérbios 18:14 – Filipenses 4:13 – Hebreus 12:3
■■ Deus se compadece – Isaías 38:18 – Lamentações 3:22-26 – 2 Coríntios 1:3-5
■■ Direção divina – Salmos 37:5 – João 3:27
■■ Dor – Salmos 41:3 – Isaías 43:4,5
■■ Fraqueza – Deuteronômio 32:39 – Salmos 31:24 – Isaías 12:2 – 41:10 – Oséias 6:1 – 2
Coríntios 12:7-10
■■ Impaciência – Salmos 27:13-14 – 37:8
■■ Medo – Salmos 34:4
■■ Morte – Ezequiel 18:32 – Salmos 68:20 – Hebreus 2:14-15
■■ Oração – Salmo 5:1-3 – 66:20 – Lucas 11:9-13
■■ Pobreza – Salmos 40:17 – 70:5
■■ Preocupações – Salmos 55:22
■■ Raiva – Salmos 37:8 – I Tessalonicenses 5:16-18.
■■ Sofrimento – Salmos 22:11 – 34:6 – 57:1 – 2 Coríntios 16:18 – Hebreus 12:4-13
■■ Solidão – Salmos 16:1
■■ Presença divina – Deuteronômio 31:8

Fonte: <http://cafebicapelania.blogspot.com.br/2009/10/capelania-hospitalar.html >


Acesso em: 09 dez. de 2015.
1. Quando se trata sobre a conceituação de Aconselhamento e Capelania Cristã, se
sobressai a palavra “cuidado”. Cite dois elementos históricos que localizem essas
atividades ao longo da história.
2. Uma das atividades essenciais da academia é capacitar o educando a construir
entendimentos, bem como precisar conceitos. Diante disso, elabore e explique
os conceitos de aconselhamento e Capelania cristã a partir dos estudos feitos
sobre esses temas nesta unidade.
3. Esta unidade foi rica em demonstrar objetivos e propósitos sobre aconselha-
mento cristão. Desenvolva um texto de 5 a 10 linhas, que tenha como compe-
tência ressaltar os objetivos essenciais do aconselhamento cristão a partir das
concepções de Collins e de Clinebell.
4. Atualmente, há diversas construções teóricas sobre aconselhamento cristão ou
pastoral. Vimos várias nesta unidade, entre elas a de autoria de Schipani. Posto
isso, liste os pontos positivos da concepção de Schipani para a prática do acon-
selhamento pastoral.
5. Capelania cristã é uma atividade que hoje goza de respeito e consideração. Sua
atividade já é reconhecida pelo governo em nosso país, prova disso é a cape-
lania militar. A partir da Leitura Complementar “Capelania Hospitalar –Levando
o amor de Cristo aos enfermos e necessitados” e dos estudos realizados sobre
capelania hospitalar, discuta qual a importância dessa atividade para o atendi-
mento de enfermos no contexto hospitalar.
54 - 55

MATERIAL COMPLEMENTAR

Conselho Federal de Capelania Hospitalar


Este link remete você ao site do Conselho Federal de Capelania Hospitalar. Nele há diversas
informações sobre esse tema, bem como cursos e orientações básicas.
http://confecap.com.br/ Acesso em: 09 dez. de 2015.

Material Complementar



























Professor Me. Rubem Almeida Mariano

III
TEOLOGIA E PRÁTICAS

UNIDADE
EM ACONSELHAMENTO
CRISTÃO

Objetivos de Aprendizagem
■■ Listar procedimentos adequados ao conselheiro em Aconselhamento
Cristão.
■■ Identificar a natureza do Aconselhamento Cristão.
■■ Conhecer técnicas de intervenção em Aconselhamento Cristão.
■■ Descrever as técnicas diretivas e não diretivas.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Propostas, técnicas e comportamentos em Aconselhamento Cristão
■■ Promovendo o diálogo com o aconselhando
59

INTRODUÇÃO

“Não basta dizer-se vocacionado para o ministério pastoral ou para o


ministério do aconselhamento para ser bem-sucedido nestas ativida-
des. Ser vocacionado não é uma garantia de que as coisas darão certas.
Prova disso é o grande número de ministérios que dá errado e de igre-
jas com problemas muitas vezes causados por pastores. E, da mesma
forma, de conselheiros que não conseguem ajudar as pessoas. Há algo
mais além da chamada e da boa vontade em fazer a obra”.

Coelho Filho, em De perfil e Atributos do conselheiro Bíblico.


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Caro aluno, esta unidade tem como objetivo abordar, os procedimentos ade-
quados do conselheiro, bem como refletir sobre a natureza do Aconselhamento
Cristão de forma introdutória.
Esta unidade também tem a missão de desenvolver as técnicas de intervenção
como forma de lembrar a todos os nossos leitores que a arte de aconselhar hoje
necessita muito mais do que boa vontade, como temos frisado; hoje se faz neces-
sário conhecimento, ou como diz um amigo, meu pastor e doutor em Psicologia,
é necessário ter tecnologia para aconselhar. Pois quem está do outro lado são
pessoas que vivem em estado de sofrimento ou que precisam de orientações e
não podem continuar sofrendo mais do que estão. Portanto, cabe àqueles que
se sentem chamados cuidar de sua formação, preparando-se de forma adequada
para essa atividade. Esta unidade quer singelamente contribuir nesse processo.
Fundamentalmente serão abordadas técnicas de intervenção em
Aconselhamento Cristão, com destaque para os métodos diretivos e não diretivos.

Introdução
60 UNIDADE III

PROPOSTAS, TÉCNICAS E COMPORTAMENTOS


EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO

Quando se pensa na atuação do conselheiro cristão, necessariamente se deve con-


siderar propostas, técnicas e atitudes em aconselhamento. A seguir, estaremos
expondo algumas delas, as quais não são inéditas, mas procuramos identificar
de maneira básica e fundamental quais devem ser os procedimentos e ações do
conselheiro no contexto pastoral.
Veremos ainda que essas propostas, técnicas e atitudes, guardadas as devidas

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
proporções, servem também de base para o trabalho da capelania e suas mais diver-
sas atividades, em especia, quando o capelão atuar na condição de conselheiro.
É importante observar que há muitos escritos sobre o assunto, especifica-
mente com teorias e métodos devidamente elaborados. Há também diversos
textos sobre o aconselhamento cristão e o aconselhamento psicológico, que
observam seus vínculos, contribuições, limites e críticas, como: Mannóia (1985),
Casera (1985), Collins (1995), Barrientos (1991), Szentmartoni (1999), Clinebell
(2000), Schipani (2004), Sathler-Rosa (2004) e Pereira (2007).
Há certo consenso na literatura acadêmica pesquisada por Szentmartoni
(1999), Collins (1995), Barrientos (1991), Casera (1985), Clinebell (2000), Pereira
(2007) dentre outros, que ao tratarem do tema do aconselhamento cristão obser-
vam, de uma maneira ou de outra, as ideias de Carl Rogers, método não diretivo,
principalmente aqueles relacionados à prática do aconselhamento. Por isso,
nessa direção, uma proposta de aconselhamento passa necessariamente pelo
estabelecimento de vínculos entre o conselheiro e o aconselhando, sem os quais
é impossível um bom desenvolvimento do aconselhamento. Mannóia (1985)
coloca como premissa do aconselhamento cristão as relações pessoais e a cen-
tralidade da pessoa no aconselhamento.
Da mesma forma, Szentmartoni (1999) também o faz, contudo ressalta ainda
as marcas da natureza do aconselhamento cristão, de onde se pode inferir:
a) Está contextualizada na missão e na evangelização da Igreja.
b) Na ajuda, desempenha um trabalho bíblico-teológico do anúncio cristão.
c) É uma atividade religiosa (conselheiro e aconselhando) onde deve ser
observada a pessoa e seu relacionamento com Deus.

TEOLOGIA E PRÁTICAS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO


61

d) Observa os limites da atuação e da atividade do aconselhamento cristão


e suas interfaces com outras atividades de aconselhamento.

É imprescindível que o conselheiro tenha atitudes de empatia, autenticidade e


não seja possessivo, segundo Szentmartoni (1999). Tais atitudes são considera-
das, na literatura especializada, como sendo o ponto fundamental para o sucesso
de todo bom aconselhamento que tem um propósito de ajuda genuína.
Barrientos (1991) lista os seguintes aspectos que o conselheiro deve dar aten-
ção durante a entrevista de aconselhamento:
■■ Proporcionar clima de confiança.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

■■ Fazer com que a pessoa se sinta ao nível do conselheiro. Para isto é melhor
usar duas cadeiras ou poltronas, ou uma de frente para a outra em uma mesa.
■■ Em em mente e transmitir à pessoa que é possível enfrentar a situação e
até resolvê-la.
■■ Escutar com muita atenção. Há pessoas que se sentem aliviadas de sua
carga pelo simples fato de que alguém as escuta com interesse e amor.
■■ Ir captando, entre os detalhes do relato, os possíveis assuntos ventrais
relacionados.
■■ Não dar opiniões negativas como: “que mau...” “que horror...”.
■■ Não interromper o relato, a não ser que seja para fazer alguma pergunta
esclarecedora ou que falte para completar o quadro.
■■ Discernir em silêncio aspectos que a pessoa poderia encobrir e que cor-
respondem a seu modo de ver o assunto.
■■ Ao final do relato, ajudar a pessoa a ver o problema como um todo, sem
reparar em detalhes, a menos que seja necessário.
■■ Levá-la a reconhecer os fatores centrais que entram em jogo.
■■ Ajudá-la a encontrar as causas. Aqui é necessário dar oportunidade para
que a pessoa opine e que ambos dialoguem até que concordem.
■■ Ajudar a pessoa a fazer um plano ou propor-lhe um alvo realista que ten-
tará alcançar nos dias seguintes.
■■ Quando necessário, levar a pessoa a colocar seu problema diante do Senhor
em oração, pedir libertação e dar graças por ela.
■■ Caso a pessoa não saiba orar, fazer a oração com a pessoa.
■■ Por fim, fazer uma seleção de textos bíblicos e indicar para a pessoa ler e
meditar sobre eles e relacioná-los aos seus problemas.

Propostas, Técnicas e Comportamentosem Aconselhamento Cristão


62 UNIDADE III

Szentmartoni (1999) apresenta as seguintes técnicas de intervenção no aconse-


lhamento, levando em consideração o princípio da não diretividade:
a) A reformulação – é quando o conselheiro se expressa claramente, verbal
ou não verbal mente ao aconselhando. As principais formas são: a reite-
ração, a resposta-eco, as expressões equivalentes e a recapitulação.
b) O reflexo do sentimento – com o objetivo de criar um ambiente de
emoção genuína, onde possa haver o contato sincero da pessoa com sua
afetividade. Os principais sinais são: pausas, choro, contradições entre
expressões verbais e não verbais etc.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
c) A reestruturação do campo – intervenção com a finalidade de fazer
reestruturações do campo perceptivo da pessoa, referente a sua pessoa
(ego) ou a imagem de si. A partir dos conceitos da Gestalt, as interven-
ções devem ser: ressaltar a “figura” (tema explícito) como é percebida
pela pessoa, esclarecer uma posição entre os vários conteúdos expostos,
poder ampliar o significado do que foi dito ou mudar a ordem de impor-
tância dos elementos pela pessoa.

Por fim, Szentmartoni (1999) observa que o conselheiro tem de ter os devidos
cuidados em sua atividade. Deve evitar colocações ou expressões que não con-
tribuem para o objetivo principal do aconselhamento, que segundo Mannóia
(1985), “é o de facilitar o crescimento da personalidade ao máximo nível de
maturidade” (p.103). São observações que o conselheiro passa ao aconselhando
como sendo as suas conclusões, de forma moralista e sem observar as manifes-
tações do seu aconselhando. Segundo Szentmartoni (1999), isso denota falta de
confiança nos recursos do outro por parte do conselheiro e impede que o obje-
tivo maior do aconselhamento seja atingido.
Para desenvolver uma relação adequada no aconselhamento, Clinebell (1976),
em um texto denominado “Os elementos comuns a todo aconselhamento”, trata
de dois itens fundamentais e necessários para o exercício desse, o qual pode
ser exercido no contexto do gabinete pastoral ou de um leito, no hospital: o
desenvolvimento de uma relação terapêutica e a facilita ção da comunicação do
aconselhando.

TEOLOGIA E PRÁTICAS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO


63

Outro exemplo de procedimento vem de


Collins (1995) em seu texto clássico, o livro: “O
aconselhamento Cristão”. Nessa obra, o referido
autor apresenta as técnicas de aconselhamento,
que considera como sendo as mais básicas em
uma situação de ajuda; antes de apresentá-las ,
porém, ele faz a seguinte ressalva: essa relação
de aconselhamento não é necessariamente de
ajuda, mas de uma relação de ajuda que deve
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ser desenvolvida em um formato profissional.


Vejamos as técnicas:
1. Atenção – O conselheiro deve tentar conceder atenção integral ao
aconselhando:
■■ Contatos visual.
■■ Postura relaxada, não tensa e interessada.
■■ Gestos naturais.
2. Ouvir – Isso significa muito mais do que uma recepção passiva da
mensagem. Ouvir envolve:
■■ Percepção suficiente.
■■ Evitar expressões verbais e não verbais dissimuladas de desprezo ou
juízo antecipadas.
■■ Aguardar pacientemente o funcionamento do aconselhando.
■■ Ouvir não somente o que o aconselhando diz, mas as suas reais
necessidades.
■■ Estar atento à fala e ao comportamento.
■■ Analisar as reações do aconselhando diante das suas intervenções.
■■ Sentar-se imóvel.
■■ Limitar o número de execuções mentais às próprias fantasias.
■■ Não julgar antecipadamente por meio da manifestação de sentimen-
tos em relação ao aconselhando.
■■ Praticar a aceitação da pessoa do aconselhando.

Propostas, Técnicas e Comportamentosem Aconselhamento Cristão


64 UNIDADE III

3. Responder – o bom conselheiro é um bom ouvinte, mas também é de


sua competência agir e responder especificamente ao aconselhando.
Por isso, compete ao conselheiro em suas respostas ao aconselhando:
■■ Orientar ou liderar dialogicamente.
■■ Refletir conjuntamente de maneira presente.
■■ Perguntar com o objetivo único de buscar informações úteis.
■■ Confrontar ideias ou comportamentos que não sejam percebidos.
■■ Informar de maneira abrangente fatos relevantes.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■■ Interpretar comportamentos e eventos.
■■ Apoiar e encorajar sempre.

4. Ensinar – todas essas técnicas acima são verdadeiras formas especia-


lizadas de educação psicológica. Nesse contexto:
■■ O conselheiro é um educador.
■■ O aconselhando é aprendiz.
■■ O aconselhamento é um espaço para a discussão.
■■ O aconselhamento é um espaço para uma relação sincera e honesta.

Diante dessas propostas com suas respectivas técnicas, é importante que o conse-
lheiro desenvolva a capacidade de conversar com vista à criação de vínculo com o
aconselhando. A seguir, veremos algumas ideias de Clinebell sobre essa matéria.
Clinebell (1976) orienta os procedimentos ou atitudes durante a primeira
sessão de aconselhamento:
1. Estabelecer o rapport como base para a relação terapêutica.
2. Escutar de forma disciplinada, bem como refletir sobre os sentimentos
do aconselhando.
3. Adquirir uma compreensão aproximada do “marco de referência interna”
da pessoa do aconselhando a partir do seu mundo pessoal.
4. Fazer um primeiro diagnóstico sobre a natureza do problema do aconse-

TEOLOGIA E PRÁTICAS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO


65

lhando, ou seja, como suas relações estão fracassando para satisfazer as


suas necessidades e quais são os recursos e limitações para fazer frente
a sua situação.
5. Tendo como base esse primeiro diagnóstico, sugerir uma aproximação
para dar ajuda.
6. Se houver a necessidade um aconselhamento continuado, proceder com
a estruturação dessa relação de ajuda.
Para facilitar a expressão dos sentimentos do aconselhando, Clinebell (1976) faz
as seguintes considerações:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

1. Evitar muitas perguntas, mas fazer o mínimo requerido para obter ape-
nas os dados essenciais.
2. Fazer perguntas sobre seus sentimentos, por exemplo: como se sente
quando é ignorado?
3. Responder a sentimentos de conteúdos intelectuais.
4. Observar os caminhos que levam ao nível emocional da comunicação.
5. Estar particularmente alerta para descobrir sentimentos negativos.
6. Evitar tanto a interpretação prematura de como funciona a pessoa ou
suas formas determinadas de sentir, como dar conselhos prematuros.

Propostas, Técnicas e Comportamentosem Aconselhamento Cristão


66 UNIDADE III

PROMOVENDO O DIÁLOGO COM O ACONSELHANDO

No aconselhamento, é fundamental ao conselheiro desenvolver a capacidade de


promover o diálogo com o aconselhando. Portanto, saber ouvir e compreender
é imprescindível para o bom exercício desta função. Clinebell (1976), citando
Portes Filho, descreve cinco atitudes que possibilitam diferentes característi-
cas de respostas do aconselhando para dar mais sensibilidade no trato com o
aconselhando:
1. Evolutiva – uma resposta que indica que o conselheiro tem capacidade

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de fazer um juízo de relativa bondade, apropriação, efetividade e corre-
ção. Tem condição de compreender em certa forma o que o aconselhando
pode e deve fazer; se há consequências grandes ou profundas.
2. Interpretativa – uma resposta que indica o intento do conselheiro por
ensinar, por apresentar ou mostrar um significado ao aconselhando. Tem
compreendido de certa forma o que o aconselhando pode ou deve pensar.
3. De apoio – uma resposta que indica que o conselheiro intenta assegurar,
reduzir a intensidade emotiva do aconselhando (acalmá-lo). Possibilita,
de certa forma, ao aconselhando sentir-se fora dessa situação de dese-
quilíbrio.
4. Indagatória – uma resposta que indica que o conselheiro intenta obter
mais informações, insistir na conversação, sobre uma linha determi-
nada. Isso o faz chegar à conclusão de certa forma que o aconselhando
deve ou pode se desenvolver, beneficiando mais acerca de um ponto
determinado.
5. Compreensão – uma resposta que indica que há a intenção do conse-
lheiro em perguntar ao aconselhando se tem compreendido corretamente
o que “disse”, como “sente” isto, como “impacta” nele, como o “vê”.

Diante disso, temos a firme convicção da importância que é saber ouvir e respon-
der no aconselhamento, pois fazê-los de forma adequada é uma virtude indelével
não só do conselheiro, mas também do capelão. Tamanha é a importância dessas
duas habilidades que existe muita literatura especializada em psicologia, acon-
selhamento e capelania que versa sobre esses assuntos.

TEOLOGIA E PRÁTICAS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO


67

A seguir, apresentamos as ideias e a estrutura de um texto em espanhol de


autoria de Faber e Shoot (1976) denominado “Escuchar y responder em la con-
versación pastoral”, que trabalha essas habilidades.
Para se desenvolver na área do aconselhamento cristão é imprescindível
saber ouvir e responder ao aconselhando. Faber e Shoot (1976) observam inicial-
mente que o conselheiro deve desenvolver uma atitude de aceitação na relação,
na mesma direção de Rogers (apud: FABER; SHOOT, 1976):
A relação conselheiro-aconselhando é um contato no qual a cordialidade
de aceitação e a falta de coerção por parte do conselheiro permite o máxi-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

mo de expressão de sentimentos, atitudes e problemas por parte do aconse-


lhando... nesta experiência única de completa liberdade emocional, dentro
de um marco de referência bem delimitado, o aconselhando está livre para
reconhecer e compreender seus impulsos e padrões de consultas positivas
e negativas como não poderia fazê-lo em nenhuma outra relação (p.199).

Nota-se que a própria relação entre o aconselhando e conselheiro é ponto impor-


tantíssimo no processo terapêutico. Nesse sentido, o método adotado por Rogers
(apud FABER; SHOOT, 1976) é o não diretivo, segundo o qual compreende que o
ser humano tem condições e possibilidades para enfrentar e desenvolver sua vida
de forma equilibrada e saudável. Nesse particular, Faber e Shoot (1976) comentam:
[...] um dos aspectos mais importantes desse método é que o terapeuta
deve ser não diretivo com respeito ao cliente. Somos de opinião de que
devemos estar prevenidos desde o princípio que Rogers usa esta frase
como marco de referencial da relação terapêutica. O que ele chama de
não diretivo aponta aquelas escolas terapêuticas nas quais o terapeu-
ta diagnostica e comunica interpretações de sintomas. Rogers rechaça
uma relação na qual o aconselhando se transforma em um paciente, e
assim se torna um objeto. Sobre essa base também rechaça uma rela-
ção na qual o psicoterapeuta “moraliza” e “dogmatiza”. O aconselhando
deve seguir sendo responsável pela sua própria vida de maneira que
não pode seguir nem um tipo de perguntas que passam pressionar ou
formar, se não é uma maneira de direcionamento (p.199).

Nessa perspectiva, cabe ao conselheiro acolher a pessoa do aconselhando como


um ser responsável, e não como objeto de sua “sabedoria”, uma vez que o próprio
Deus em Cristo também acolhe a todos os seres humanos. Dessa maneira, o con-
selheiro cristão deve, como servo de Deus, também proceder. Contudo, Faber e
Shoot (1976) ressaltam que esta aceitação não é o único elemento dessa relação.

Promovendo o Diálogo com o Aconselhando


68 UNIDADE III

Outra ideia que Faber e Shoot (1976) desenvolvem é a da reflexão dos senti-
mentos significativos. Para Rogers, cabe ao conselheiro proporcionar uma relação
positiva. Para isso, ele compreende que a reflexão é fundamental. Tal dinâmica
é possível numa relação não diretiva em que aconselhando, numa relação de
aceitação, desenvolve uma reflexão de significado de seus sentimentos, que tão
somente nesse contexto, ou melhor, justamente, nesse contexto de aceitação faz
toda a diferença. Nessa perspectiva assim entende Rogers:
na experiência terapêutica, um vê as suas próprias atitudes, confusões,
ambivalência, sentimentos e percepções expressadas exatamente pelo

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
outro; porém livre das próprias complicações emocionais, e, assim se
vê a si mesmo objetivamente o que abre caminho para aceitação do
seu eu, de todos aqueles elementos que agora se percebem claramente.
Assim se avança no caminho da organização e do funcionamento mais
integrado do eu (pp.120-121)

Associada a essas duas ideias está outra: a


empatia. Faber e Shoot (1976) observam que
“simpaticamente sintonizados nos sentimen-
tos do nosso interlocutor. Com a ajuda de
uma simpatia saudável projetamos sobre ele,
e estamos particularmente preocupados com
os seus sentimentos” (p.121).
Nesse sentido, ouvir e responder em uma
relação de aconselhamento cristão deve pas-
sar por uma relação de aceitação, de uma
significativa reflexão dos sentimentos e
empatia. Tal ambiente, na compreensão de Rogers, proporciona as condições
terapêuticas para que a pessoa veja suas reais condições e necessidades e possi-
bilita ainda ao aconselhando seu desenvolvimento e crescimento saudável.
Brister (1980), ao tratar sobre a natureza do aconselhamento pastoral em sua
obra “El cuidado pastoral en la Igreja”, observa que há basicamente dois méto-
dos: um diretivo e outro não diretivo. A seguir, transcrevo o diálogo entre os
conselheiros e seus respectivos aconselhandos como ilustração dos dois méto-
dos. Vejamos o primeiro diretivo e o segundo não diretivo:

TEOLOGIA E PRÁTICAS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO


69

1. Aconselhamento diretivo
Sra. P: Olá, pastor. Desde muito tempo as coisas não vão muito bem em
minha casa... (coloca-se muito sentida).
Pastor: Veja bem, estou seguro de que as circunstâncias não são tão mal
como parecem ser, e estou seguro de que podemos ve-las melhor para aju-
dá-la à luz da Palavra de Deus.
Sra. P: Pastor, o senhor não sabe como é má a minha situação.
Pastor: Penso que você veio se socorrer em seu pastor, não é isso? Falemos
agora sobre o seu problema abertamente e inicie desde o começo,Me diga
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

tudo. OK?
Sra. P: Tenho tanta vontade de conversar com alguém...
2. Aconselhamento não diretivo
Sr. B: É como quando tive o acidente com o caminhão. Tudo de ruim me
aconteceu, mas agora eu me sinto limpo. Quando sofremos nos eximimos
de tudo que temos dentro de nós. Quando perguntaram se a minha perna
estava quebrada, eu falei: “quebrada, quebrada, quebrada”, e assim foi. Disse-
lhes que o meu sofrimento tinha me feito sentir mais perto do céu.
Pastor: Então, você sente que o seu sofrimento teve um propósito?
Sr. B: Na verdade, tenho uma vida muito dura. Eu não sei por que minha
esposa age assim desta forma; logo agora que tenho tanta necessidade... estou
só... ninguém se preocupa com a minha situação ... com algo que eu quero,
mas só pensam em si mesmos. Ela acha que eu sou louco.
Pastor: Por que você acha que ela pensa isso?
Sr. B: Porque estive em um hospital psiquiátrico ... isso foi antes de casarmos...
Segundo Brister (1980), no primeiro o conselheiro demonstra rigidez e controla
o rumo da entrevista em cada momento, apesar de se esforçar por aparentar
imparcialidade. Nota-se que ele não percebe a necessidade da aconselhanda.
Contudo, o segundo conselheiro esforça-se em se aproximar e permanecer com
os sentimentos do aconselhando, o qual expressa uma variedade de sentimen-
tos, mas deles se destacam o de rechaço e dependência. Portanto, nesse segundo
exemplo, observamos essa condição como sendo imprescindível para a criação
de vínculo e entendimento do caso, pois o próprio aconselhando dá o tom, ou
melhor, dá o significado para os seus sentimentos, bem como os temas que quer
tratar; basta ao conselheiro estar atento.
Promovendo o Diálogo com o Aconselhando
70 UNIDADE III

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta unidade, caro aluno, foi estruturada para fundamentar o ato do


Aconselhamento Cristão propriamente dito. Aqui foram tratadas propostas,
técnicas e procedimentos em Aconselhamento Cristão.
Nesse sentido, destacou-se o tema da natureza do Aconselhamento Cristão,
do qual, pela literatura consultada, sobressai o método não diretivo como sendo
uma das opções mais usadas pela grande maioria dos especialistas consagrados
na atualidade. Essa fundamentação contou com Szentmartoni (1991) e Brister

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
(1980).
As propostas apresentas ficaram por conta de Szentmartoni (1991) e Collins
(1995). Do primeiro, as técnicas de procedimento denominadas reformulação,
reflexo do sentimento e reestruturação do campo. Do segundo, os seguintes pro-
cedimentos: atenção, ouvir, responder e ensinar.
Foi destacada a conversação como uma das técnicas imprescindíveis para
o exercício do Aconselhamento Cristão. Saber entrevistar, ouvir e responder o
aconselhando é essencial para o sucesso dessa atividade. Foram trabalhadas as
ideias de Barrientos (1991) e de Clinebell (2000) sobre entrevistas iniciais. Sobre
o saber ouvir e responder ficou por conta de clássicos do aconselhamento cris-
tão, Faber e Shoot (1976) e Clinebell (1985). Este deu destaque para as repostas
evolutivas, interpretativas, de apoio, indagatórias e compreensivas; enquanto
aqueles à luz de Carl Rogers, destacaram: a aceitação, a reflexão dos sentimen-
tos significativos e a empatia. Todos foram categóricos em afirmar que ouvir e
responder não são atos simplesmente mecânicos, mas envolvem toda uma rela-
ção afetiva, comportamental e espiritual.

TEOLOGIA E PRÁTICAS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO


70 - 71

O PERFIL DO CONSELHEIRO NO ACONSELHAMENTO CRISTÃO


Considerações Iniciais
O processo de aconselhamento cristão deve, portanto, estimular o desenvolvimento sa-
dio da personalidade; ajudar as pessoas a enfrentar melhor as dificuldades da vida, os
conflitos interiores e os bloqueios emocionais; auxiliar os indivíduos, famílias e casais a
resolver conflitos gerados por tensões interpessoais, melhorando a qualidade de seus
relacionamentos; e, finalmente, contribuir para a mudança dos padrões de comporta-
mento autodestrutivos ou depressivos já internalizados.
O objetivo final é que os aconselhandos cheguem à cura, aprendam a lidar com situa-
ções semelhantes no futuro e passem a enfrentar os seus problemas de forma coerente
com os ensinamentos bíblicos. O papel do conselheiro cristão, nesse processo, é, em
essência, o de levar as pessoas a terem um relacionamento pessoal com Jesus Cristo,
ajudando-as, assim, a encontrar perdão e a se livrar dos efeitos incapacitantes do peca-
do e da culpa.
Todas as técnicas de aconselhamento têm, pelo menos, quatro objetivos principais: levar
a pessoa a crer que é possível obter ajuda; corrigir concepções equivocadas a respeito do
mundo; desenvolver competências para a vida social; e levar os aconselhandos a reco-
nhecer o seu próprio valor como indivíduos. Para atingir esses propósitos, os conselheiros
aplicam técnicas básicas como ouvir, demonstrar interesse, tentar compreender e, pelo
menos eventualmente, dar orientação.
Muitos dos métodos utilizados por conselheiros cristãos são semelhantes aos aplicados
pelos não cristãos. Os cristãos, porém, não utilizam técnicas que contrariem os princí-
pios bíblicos, oram durante as sessões de aconselhamento, lêem a Palavra de Deus e
confrontam gentilmente o aconselhando com os princípios bíblicos.
Características essenciais do Conselheiro Cristão.
O cerne de toda forma de assistência genuinamente cristã, seja ela pública ou particu-
lar, é a influência do Espírito Santo. Na verdade, o que torna o aconselhamento cristão
realmente único é justamente a influência e a presença do Espírito Santo. É ele quem
capacita o conselheiro, dando-lhe as características que o tornam mais eficiente no de-
sempenho de sua tarefa: amor, alegria, paz, longanimidade, bondade, fidelidade, man-
sidão, domínio próprio. Através da oração, meditação nas Escrituras, confissão regular
dos pecados e renovação diária de seu compromisso com Cristo, o conselheiro cristão
torna-se um instrumento por meio do qual o Espírito Santo pode confortar, ajudar, ensi-
nar, convencer ou guiar outro ser humano.
Jesus Cristo é o melhor modelo que existe de um “maravilhoso conselheiro”, cuja perso-
nalidade, sabedoria, conhecimento, amor, bondade e compaixão capacitavam-no a dar
assistência efetiva aos necessitados. O conselheiro cristão, antes de mais nada, precisa
ser um imitador do Senhor Jesus; alguém em quem habita o Espírito Santo; alguém
que apresente, manifestamente, características do fruto do espírito; enfim, alguém que
tenha um relacionamento de intimidade com o Deus Todo-Poderoso, que o capacite a
ouvir e a obedecer as Suas orientações.
Segundo pesquisas recentes, os conselheiros são mais eficientes quando demonstram,
pelo histórico de vida, um sólido conhecimento dos problemas humanos. É fato que,
em qualquer atividade humana, o conhecimento teórico sem o domínio da experiência
prática representa um obstáculo ao melhor aproveitamento da atividade, por maior que
seja a motivação e a disposição de acertar.
No caso do aconselhamento cristão não é diferente. O histórico de vida do conselheiro,
com todas as experiências já vivenciadas na área em que está se dando o aconselhamen-
to, ao lado do estudo detalhado de situações acompanhadas por outros conselheiros é
uma ferramenta importante para uma boa condução do processo de aconselhamento.
Contudo, é preciso ressalvar que no mundo real, no início do seu ministério, o conselhei-
ro poderá não ter uma gama tão variada de experiência com os diversos problemas hu-
manos, bem como é forçoso reconhecer ser impossível a qualquer conselheiro, por mais
experiente que seja, ter um domínio prévio sobre todo o tipo de situações que terá com
que se deparar. Porém, isso não deve inibi-lo no seu mister, pois o estudo de casos na
literatura especializada, mesmo concomitantemente ao processo de aconselhamento
em curso, e a ajuda do Espírito Santo, poderão suprir a contento essa deficiência, quan-
do não houver a possibilidade/disponibilidade de transferir o aconselhado para outro
conselheiro, que tenha a experiência demandada.
O conselheiro cristão precisa ter como propósito contínuo e fundamental do seu mi-
nistério a busca por sabedoria, vez que ela constitui a ferramenta de excelência, fun-
damental para o trabalho de aconselhamento. Não basta ao conselheiro ter um bom
conhecimento das Escrituras e dominar bem as técnicas de aconselhamento. Para atin-
gir um grau satisfatório de eficiência no aconselhamento cristão, o conselheiro precisa,
acima de tudo, ter sabedoria para: identificar e aplicar adequadamente os princípios
bíblicos no contexto das situações sob exame; formular as perguntas adequadas; avan-
çar até o ponto desejado de extração de informações no timing correto; ponderar com
eficiência todo o material trabalhado; e confrontar com delicadeza, quando for o caso,
o aconselhado quanto aos padrões inadequados de comportamento frente aos prin-
cípios de Deus.
Frente a essa necessidade e a importância do seu trabalho para ajudar outras vidas a
enfrentarem satisfatoriamente os seus problemas, o conselheiro cristão precisa estar
constantemente aos pés do Senhor para buscar sabedoria, ciente de que Ele a dá, libe-
ralmente, a todos quanto a buscam com sinceridade, para realizar os Seus propósitos.
Uma característica que não pode faltar na vida do conselheiro cristão é a humildade, a
consciência das suas próprias limitações. O princípio fundamental da sabedoria é ter o
temor do Senhor, mas existe um outro muito importante que é ter um bom conheci-
mento de si mesmo, das próprias fraquezas e vulnerabilidades pessoais e das áreas de
conhecimento que não se domina.
72 - 73

O conselheiro cristão tem de ter muito claro na sua mente que o seu ministério está
focado em conduzir as pessoas a uma vida harmoniosa com Cristo e o próximo, em
meio às dificuldades da lida diária e que, portanto, tem de discernir muito bem as suas
limitações, de forma a não adentrar em áreas onde não está apto a oferecer ajuda. Isso
se dá tanto em relação às áreas onde o próprio conselheiro enfrenta dificuldades na sua
vida pessoal como em relação àquelas que demandam um conhecimento especializa-
do, muitas vezes da medicina, ou uma experiência substancial que não se possui.
Outra característica relevante, que precisa integrar a personalidade do conselheiro cris-
tão é a objetividade. Em nenhuma hipótese o conselheiro deve compartilhar os seus
próprios problemas ou fraquezas pessoais com o aconselhando, vez que o conselheiro
está ali para ajudar e não para resolver os seus próprios problemas, além do enorme
potencial que tal atitude teria para induzir insegurança naquele que precisa ser ajudado,
trazendo danos irreparáveis ao processo de aconselhamento.
Da mesma forma, é inegável que o excesso de envolvimento emocional pode fazer com
que o conselheiro perca a dose de objetividade necessária, reduzindo a eficiência do
aconselhamento, o que sugere que o conselheiro deve evitar aconselhar pessoas com
as quais já tenha, previamente, fortes laços afetivos pessoais estabelecidos ou permitir,
descuidadamente, que eles sejam desenvolvidos durante o processo de aconselhamen-
to, principalmente quando o aconselhando está muito perturbado, confuso ou enfrenta
um problema semelhante àquele que o próprio conselheiro está passando.
O conselheiro cristão, como o próprio nome sugere, deve ter muito bem internalizado
que o seu manual essencial de trabalho é a Bíblia. Cristo é a verdade, o caminho e a vida,
e é o Verbo, que é a Palavra e, portanto, o centro de todo o aconselhamento cristão.
Assim, é que o conselheiro cristão pode até utilizar técnicas variadas de extração de in-
formações e de condução do processo de aconselhamento, mas os valores referenciais
para o aconselhando, que nortearão todas as possíveis orientações a serem transmiti-
das, devem se fundamentar única e exclusivamente nos princípios bíblicos que tratam
do assunto, examinados à luz da sua aplicação à nossa realidade contextual.
Não é o que o conselheiro cristão pensa ou acha, na sua razão natural, por mais inte-
ligente e estudioso que seja, que ajudará o aconselhando a resolver os seus conflitos
interpessoais e os seus sentimentos de culpa ou peso pelo pecado ou a desenvolver um
relacionamento saudável com Deus e com o os seus semelhantes, mas, unicamente, o
que a Bíblia revela, iluminada pelo entendimento dado pelo Espírito Santo.
Ao discorrer sobre os princípios bíblicos aplicáveis à situação de aconselhamento, o
conselheiro cristão deve evitar ao máximo toda e qualquer discussão ou polêmica dou-
trinária, com relação àqueles pontos nos quais as diversas denominações evangélicas
possuem discordâncias de interpretação, pois isso pode levar o aconselhando a uma
atitude defensiva e de resistência frente ao conselheiro, caso ele tenha uma concepção
diferente, inviabilizando por completo os resultados almejados com o aconselhamento.
Cabe ressalvar, entretanto, que se o conselheiro cristão constatar que existe uma “no-
tória” deturpação de um conceito bíblico por parte do aconselhando, ele não deverá
se furtar a procurar esclarecê-lo, mas deverá proceder com toda a prudência, sabedoria
e gentileza possíveis, de forma a não transparecer nenhum pretenso estigma de supe-
rioridade ou de vaidade pessoal, nefasta ao estabelecimento de uma empatia com o
aconselhando.
Outro fator da maior importância é que o conselheiro cristão tem de ser ético e respeitar
cada indivíduo que recorre à sua ajuda. Ele precisa reconhecer o valor do aconselhando
como pessoa criada à imagem e semelhança de Deus e preciosa aos Seus olhos, não
importando o quanto ele possa estar desfigurado pelo pecado.
A ética indica que o conselheiro cristão tem o dever de tentar ajudar o aconselhando
sem manipular nem se intrometer em sua vida e de guardar sigilo de todas as informa-
ções reveladas em confiança, dentro ou fora do gabinete pastoral. Além disso, manda
a ética que um conselheiro cristão jamais se preste a fornecer qualquer orientação que
ultrapasse os limites da sua habilitação.
Em todas as decisões que envolvem a ética, o conselheiro cristão deve procurar, antes
de mais nada, honrar a Deus, agir de conformidade com os princípios bíblicos e respei-
tar o bem-estar do aconselhando e das demais pessoas que possam estar envolvidas
na situação de aconselhamento, sempre colocando a vida como bem supremo a ser
preservado.
Enfim, já há muitos anos, diversos autores de livros didáticos sobre o tema, vêm rela-
tando que as técnicas de aconselhamento são mais eficazes quando o indivíduo que
as maneja apresenta as virtudes do Espírito, ou seja, quando ele: transmite confiança e
honestidade; é afetuoso, sensível, manso, paciente e compreensivo; demonstra saber
ouvir e possuir um interesse sincero no problema do interlocutor; e tem disposição para
confrontar as pessoas, mantendo uma atitude de amor.
Assim sendo, o aconselhamento cristão só se torna factível e real quando existe um
compromisso sincero com Cristo e o Espírito Santo está no comando e é o verdadeiro
conselheiro, por trás do ser humano instrumentalizado para esse serviço. Só o Espírito
Santo é capaz: de sondar o íntimo dos corações; revelar as verdadeiras causas dos pro-
blemas; e apontar a melhor orientação para cada caso.

Fonte: <http://www.icjb.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=131:o-perfil-do-
-conselheiro-no-aconselhamento-cristao&catid=46:estudos&Itemid=93>. Acesso em: 02 dez. 2011.
74 - 75

1. Atualmente, estamos chegando à compreensão que o conselheiro cristão não


pode ter apenas boa vontade, apesar de ser muito importante essa motiva-
ção. Ele tem que dispor de competências para exercer essa função que hoje
está se constituindo imprescindível para a Igreja da atualidade. Liste dois pro-
cedimentos adequados do conselheiro em Aconselhamento que você julga
necessário para o desempenho dessa atividade. Sua resposta tem que conter
argumentos que acompanhe suas escolhas.
2. Nessa mesma direção, no que concernem as propostas e técnicas que vimos
nesta unidade, relacione e discuta as propostas e técnicas de aconselhamen-
to de Szentmartoni (1999) e Collins (1995) apontando sua importância para o
aconselhamento cristão.
3. Nesta unidade, vimos que Szentmartoni (1999) lista aspectos distintivos da na-
tureza do aconselhamento cristão. Dentre eles está este: “Limites da atuação
e da atividade do aconselhamento cristão e suas interfaces com outras ativi-
dades de aconselhamento”. Diante disso, elabore um texto, 4 a 8 linhas, que
ressalta a relação interdisciplinar entre os conhecimentos da Teologia e Psico-
logia, no que toca ao tema principal do aconselhamento cristão.
4. Saber conversar é uma necessidade pra todo e qualquer profissional na atua-
lidade, contudo para o conselheiro é essencial. Se ele não sabe conversar não
conseguirá desenvolver a sua função adequadamente. Contudo, para desen-
volver uma conversa tecnicamente acertada é necessário que o conselheiro
saiba ouvir e responder ao aconselhando. A partir das elaborações fundamen-
tadas no texto intitulado “Escuchar y responder em la conversación pastoral”
de autoria de Faber e Shoot (1976), discuta como proceder e a importância de
se saber ouvir e responder do conselheiro ao aconselhando.
5. Quando estudamos a disciplina de Psicologia vimos os vários métodos de
aconselhamento psicológico; naquela oportunidade ressaltamos dois méto-
dos: diretivo e não diretivo. Nesta unidade esses métodos foram tratados de
maneira bem prática. Cite, explique e exemplifique esses dois métodos obje-
tivamente.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Aconselhamento
Este link remete você a uma dissertação que trabalha a questão do aconselhamento pelo
telefone, no contexto urbano, além de fazer um trabalho de conceituação sobre o tema do
aconselhamento.
http://pt.scribd.com/doc/50448684/17/Aconselhamento-Pastoral

TEOLOGIA E PRÁTICAS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO





























Professor Me. Rubem Almeida Mariano

IV
O PERFIL E O PAPEL

UNIDADE
DO CONSELHEIRO E DO
CAPELÃO CRISTÃO

Objetivos de Aprendizagem
■■ Assinalar as atitudes inadequadas do conselheiro cristão.
■■ Conhecer o perfil e atributos do conselheiro e capelão cristão.
■■ Identificar o perfil do conselheiro e capelão cristão.
■■ Caracterizar o papel do conselheiro e do capelão cristão.
■■ Conscientizar o conselheiro e o capelão das competências
necessárias para o desenvolvimento de suas atividades.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Perfil e atitudes do Conselheiro Cristão
■■ Perfil e papel do Capelão Hospitalar
81

INTRODUÇÃO

“São muitas as pessoas à procura de um ouvido que ouça. Elas não o


encontram entre os cristãos, porque eles falam quando deveriam ouvir.
Quem não mais ouve a seu irmão (ou irmã), em breve também não
mais ouvirá a Deus [...] quem não consegue ouvir demorada e pacien-
temente, estará apenas conversando à toa e nunca estará realmente fa-
lando com os outros, embora não esteja consciente disso”.

Dietrich Bonhoeffer, em Life Together


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Para Clinebell (2000), o ato de aconselhar inicia-se na própria pessoa do conse-


lheiro. Isso também pode ser aplicado para o âmbito da capelania. Esta unidade
que se inicia tem como grande objetivo abordar o perfil e papel ou atributo do
conselheiro e do capelão cristão.
Contudo, vamos destacar inicialmente algumas atitudes inadequadas dos
conselheiros quanto aos seus procedimentos em aconselhamentos.
Sobre o perfil do conselheiro e do capelão serão estudadas principalmente
as habilidades para o exercício dessa atividade; da mesma forma será abordado
o perfil do capelão.
Também será tratado o papel do conselheiro e do capelão, com destaque
para as competências esperadas de ambos. Serão ressaltadas mais uma vez as
práticas, principalmente a relação do conselheiro e do capelão com os seus res-
pectivos sujeitos.

PERFIL E ATITUDES DO CONSELHEIRO CRISTÃO

Quando lançamos nosso olhar para a realidade humana e suas carências, fica-
mos cientes da enorme necessidade do papel do conselheiro cristão no contexto
da Igreja tanto no sentido intraeclesial quanto extraeclesial. Hoje, mais do que
nunca, a figura do conselheiro cristão é necessária e urgente. Contudo, nota-se

Introdução
82 UNIDADE IV

que ainda há a produção de literatura destinada ao grande público que continua


a construir um perfil e um papel de conselheiro cristão que não atende às reais
necessidades do nosso momento, como afirma Coelho Filho (2011):
Não basta dizer-se vocacionado para o ministério pastoral ou para o
ministério do aconselhamento para ser bem-sucedido nestas ativida-
des. Ser vocacionado não é uma garantia de que as coisas darão certo.
Prova disso é o grande número de ministérios que dá errado e de igre-
jas com problemas muitas vezes causados por pastores. E, da mesma
forma, de conselheiros que não conseguem ajudar as pessoas. Há algo
mais além da chamada e da boa vontade em fazer a obra (p.1).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Contudo, antes de avançarmos na direção da apresentação do perfil e papel do
aconselhamento cristão, faz-se necessário ressaltar algumas ações do conselheiro
que demonstram equívocos nesse papel. A seguir, listamos os comportamentos,
nessa área, que revelam inadequação, pautados em (WAGNER apud LINO, 1998):
■■ Visitar em vez de aconselhar, gerando confusão no momento da atuação
de aconselhamento pastoral.
■■ Não possuir tempo disponível, podendo ser entendido pelo aconselhando
como desinteresse de sua parte.
■■ Rotular em vez de respeitar a diferença é um equívoco que afasta e não
possibilita novos encontros entre conselheiro e aconselhando.
■■ Condenar em vez de ser imparcial gera uma relação de desconfiança por
parte do aconselhando, pois este se fecha e não fica disponível para a rela-
ção de aconselhamento.
■■ Querer resolver tudo em um só momento revela a ansiedade da relação
entre conselheiro e aconselhando e, ainda, gera interpretações apressa-
das e cansaço, pois é comum delongar encontros.
■■ Ser diretivo por parte do conselheiro é uma atitude que revela uma con-
cepção de negação das potencialidades do ser humano, as quais são
fundamentais para agir de forma adequada e saudável por si só.
■■ Envolver-se emocionalmente com o aconselhando é a manifestação mais
viva que o foco da relação terapêutica está equivocado e que se deve buscar
ajuda. Cabe ao conselheiro também cuidar da sua saúde emocional bus-
cando ajuda para si em um processo de aconselhamento individual onde

O PERFIL E O PAPEL DO CONSELHEIRO E DO CAPELÃO CRISTÃO


83

deve tratar as suas próprias questões espirituais e emocionais; ou para quem


lhe procura para ser ajudado. O conselheiro deve fazer uma análise honesta
e serena quando não reunir as devidas competências para tratar o caso.
Cabe, portanto, ao conselheiro buscar ajuda junto a outros conselheiros
experientes, bem como outros profissionais da área da psicologia ou da psi-
quiatria para fazer supervisão ou para encaminhamento do caso atendido.
■ Distanciar-se em vez de ter empatia, quando o conselheiro por algum con-
teúdo da relação com o aconselhando procede se distanciando quando
deveria estar presente na relação como facilitador.
Não poderíamos deixar de expor uma lista do perfil ou atitudes do conselheiro
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

cristão neste texto, contudo é salutar que registremos que há muitos perfis espa-
lhados pelas literaturas especializadas na atualidade. Não tivemos pretensão de
construir ou advogar determinadas atitudes, mas sim expormos de maneira
básica ou fundamental algumas necessárias para a construção de um perfil de
conselheiro que atenda as nossas necessidades hoje e que, do ponto vista didá-
tico, possibilite abrir discursos e reflexões sobre o trabalho do conselheiro cristão.
Nesse sentido, passo a transcrever um artigo de autoria de Coelho Filho
(2011), que aborda o perfil e os atributos do conselheiro bíblico. Um trabalho
expressivo, com um toque todo especial de sabedoria e com um bom suporte
de fundamentação, informação e reflexãosobre o conselheiro cristão. Ainda é
necessário registrar que tal transcrição sofreu, em alguns momentos, supressão
ou acréscimo, contudo que fique também registrado que toda e qualquer inter-
pretação do texto apresentado abaixo, resguardado o seu sentido original, é de
inteira responsabilidade nossa.
Coelho Filho (2011) inicia seu artigo abor-
dando o perfil do conselheiro cristão, como segue:
Quem também apresenta um perfil de con-
selheiro cristão é Clinebell (2000) quando trabalha
a questão das habilidades de poimênica e aconse-
lhamento para o pastor, em especial. Para este autor,
a chave para ser bem-sucedido no aconselhamento está
na própria pessoa do conselheiro. Diante disso, Clinebell
(2000) lista seis características, qualidades ou habilidades
que tipificam um perfil de conselheiro cristão.

Perfil e Atitudes do Conselheiro Cristão


SEIS CARACTERÍSTICAS, QUALIDADES OU HABILIDADES QUE TIPIFICAM
UM PERFIL DE CONSELHEIRO CRISTÃO.

O primeiro deles é empatia. A palavra vem indiferença), e depois apenas perguntam:


da mesma raiz de “simpatia” e de “antipa- “Sim, o que você pensa em fazer sobre
tia”. Simpatia é sentir na mesma direção, isso?”. Somos pessoas que amam a Deus,
sentir com. Antipatia é sentir contra. Sobre que amam o povo de Deus e que servem
empatia, o prefixo grego en nos esclarece: a Deus servindo a seu povo. E mostramos
é “sentir dentro”, “sentir como se fosse a nosso amor a Deus no amor ao seu povo.
pessoa”. A simpatia pode ser entendida Empatia é mais uma postura que adotamos
como uma ternura, mas a empatia é uma que um sentimento que experimentamos.
profunda compaixão que nos faz colocar- É sentir com a pessoa. A frieza ou a indife-
-nos no lugar daquela pessoa. O fundador rença é mortal no trabalho do conselheiro.
do cristianismo foi a maior manifestação Como bem frisou Collins: “É possível ajudar
de empatia que o mundo já viu: “O Verbo as pessoas mesmo sem compreendê-las
se fez carne” (Jo 1.14). Deus foi empático inteiramente, mas o conselheiro que conse-
conosco, na pessoa de Jesus. Empatia gue transmitir empatia (principalmente no
tem a ver com compaixão. O Salvador era início do processo terapêutico) tem maio-
profundamente empático, porque era pro- res chances de sucesso”. Ouvi um pastor
fundamente compassivo: “Vendo ele as psicólogo criticar um pastor que chorou
multidões, compadeceu-se delas, porque no sepultamento de uma de suas ovelhas,
andavam desgarradas e errantes, como ove- dizendo que ele era um amador e que não
lhas que não têm pastor” (Mt 9.36). E este sabia controlar as emoções. O pastor que
é um conselho bíblico para todos os cris- chorou não se descontrolou, não surtou
tãos: “Alegrai-vos com os que se alegram; nem se mostrou histérico. E merece elogios
chorai com os que choram” (Rm 12.15). exatamente porque não foi um profissio-
Somos exortados a experimentar e parti- nal de religião, mas um amador. Benditos
lhar os sentimentos dos irmãos. O autor de sejam os amadores assim!
Hebreus aconselhou a comunidade cristã
nos seguintes termos: “Lembrai-vos dos O segundo é respeito. Por vezes a pessoa
presos, como se estivésseis presos com chega e abre o seu coração, contando-nos
eles, e dos maltratados, como sendo-o um pecado que julgamos ser escabroso (e
vós mesmos também no corpo” (Hb 13.3). às vezes é mesmo). Então ficamos choca-
O conselheiro cristão deve ter este senti- dos com a revelação e mostramos à pessoa
mento bem aguçado. Ele não é juiz nem que não esperávamos aquilo da parte dela.
um crítico, mas um ajudador. E um ajuda- Ou ela nos ataca ou ataca alguém da igreja.
dor com compaixão. O conselheiro, muitas vezes, é machucado
pelo aconselhando. Qual deve ser a reação
Não somos profissionais que atendem a numa circunstância dessas? Kaller, em uma
pessoa, ouvem-na sem experimentar emo- obra sobre aconselhamento cristão, usa
ção alguma (algumas vezes bocejando de esta figura: uma pessoa não crente se acon-
84 - 85

selha com o pastor, e lhe diz: “Os membros ressadas no assunto. Muitas vezes alguém
de sua igreja fazem pior do que as pessoas me procura e depois uma pessoa da família
que não são crentes”. Ele alista quatro pos- ou do relacionamento com esta pessoa vem
síveis respostas do conselheiro, e entre elas me perguntar o que foi dito. Geralmente
duas bem curiosas. O conselheiro poderá me nego, dizendo que o que a pessoa me
dizer: “Você não sabe nada; pior que você contou pertence ao sigilo. Se quiser saber,
não há nenhum” ou “Os crentes têm suas que meu indagador lhe pergunte. Lem-
falhas, mas as falhas dos não crentes são bre-se que comentar o que lhe foi dito em
piores”. Diz Kaller: “Esta reação não facilitará confiança acabará não apenas com sua ati-
a continuação da conversa, mas é o início vidade, mas com seu caráter. E você terá
de uma discussão”. Ele mostra duas respos- traído quem confiou em você. Poucas coi-
tas que seriam mais viáveis: “Você acha que sas são tão ruins para um pastor ou para um
muitos crentes não vivem de acordo com conselheiro que ser conhecido como fofo-
suas crenças?” ou “Você acha os não cren- queiro, como alguém que passa para frente
tes melhores que os crentes?”. coisas que ouviu em confidência. Há pas-
tores que contam de púlpito experiências
Na primeira resposta viável, o conselheiro de gabinete. Não citam o nome da pessoa,
circunscreveu a questão a uma opinião pes- mas deixam pistas claras de quem sejam.
soal do aconselhando, e não a deixou como Isto é muito ruim.
um absoluto. Na segunda, deixou a porta
aberta para o aconselhando continuar a Abrir o coração com alguém é tarefa difí-
expor sua mágoa. Em nenhum dos dois cil. Muitas vezes é um desnudar da alma,
casos ele deixou a questão descambar para e é doloroso para a pessoa. Já ouvi mui-
o bate-boca. tos casos tristes e dolorosos em gabinete,
desde violência sexual que uma criança
Respeito significa valorizar a pessoa, não sofreu por parte de pai até o uso de dro-
a vendo como uma coitadinha ou uma gas por líderes da igreja. Por vezes, o peso
leprosa moral ou espiritual. É vê-la como era esmagador e eu me sentia deprimido,
sendo uma pessoa, imagem e semelhança querendo um buraco para me enfiar. Mas
de Deus, valiosa aos olhos do Senhor, que sabia que não podia partilhar com nin-
no momento passa por uma crise e veio lhe guém. Um conselheiro deve ser sigiloso.
pedir ajuda. Não esfregue sal e pimenta nas Por isso que deve ser uma pessoa que cuide
feridas dela. Respeite seu desabafo, suas de sua vida espiritual e se fortaleça, sem-
atitudes e sua postura. Isto é diferente de pre, com o Grande Conselheiro, Deus. É a
aceitar um comportamento errado. É res- vinha dele que ele deve guardar.
peitar a pessoa que está querendo ajuda
como pessoa. Não é um traste. Lembremos O quarto é sobriedade. O Novo Testa-
que Paulo recomendou que apoiássemos mento faz várias referências à sobriedade.
aqueles que estão fracos. Nós é que pouco mencionamos esta
virtude cristã. Há líderes que amam holo-
O terceiro é sigilo. O que um conselheiro fotes ou são pouco discretos. Têm grande
ouve deve morrer com ele. Ele não passa necessidade de atenção. Jesus exortou a
para frente nem mesmo com pessoas inte- discrição na vida espiritual, quando deixou
recomendações sobre a oração e o jejum. O quinto é desprendimento. Isso significa
Sobriedade tem a ver com discrição. Não que o conselheiro não deve levar vantagem
se faz alarde de que estamos ajudando na tarefa de aconselhar. Por vezes, o conse-
alguém. O trabalho do conselheiro é um lheiro é profissional, um psicólogo ou outro
trabalho de bastidores, que se faz nos tipo de terapeuta. Neste caso, ele cobrará
bastidores, e não em público. Como o acon- consultas. O levar vantagem, neste con-
selhamento envolve questões emocionais, texto, significa que o conselheiro não usa
e por vezes delicadas, o conselheiro deve as informações que recebe, nem antes nem
lembrar que a imagem do aconselhando depois do processo de aconselhamento.
deve ser poupada. Repreensão pública ou Suponhamos que o conselheiro seja o pas-
conselhos dados em voz alta prejudicam tor ou o líder de um trabalho. Um irmão o
muito. Ninguém precisa ouvir a conversa. procura e lhe revela um problema e pede
Por isso, quando atender, fale baixo. Uma ajuda. Não será justo o conselheiro divulgar
das tarefas do conselheiro é ajudar a pes- publicamente uma possível incapacidade
soa a ser madura e tomar decisões por si, da pessoa para o exercício de uma função
orientada pelo Espírito Santo. Outra tarefa para a qual ela vier a ser indicada. Eviden-
é levantar a pessoa. Neste sentido, expô-la temente que se for um caso grave, como
em público, como alguém tutelado, é pre- uma pessoa que tenha tendências pedófi-
judicial. Somos conselheiros e não pais de las sendo indicada para cuidar de crianças,
criancinhas travessas que devem ser cha- o conselheiro precisará agir. Mas isso exige
madas à atenção. cautela. A questão principal é de ordem
pessoal: não levar vantagem. Não impugnar
Há conselheiros que gostam de publici- a pessoa para um cargo ou função porque
dade para que os demais vejam como ele tem outro nome que é seu preferido ou
é importante ou como está sendo usado porque o ambiciona etc. Deve se lembrar
por Deus. Remo Machado, psicólogo cris- também que Cristo pode transformar uma
tão, faz esta afirmação, em uma de suas vida e que um pecado que uma pessoa
obras: “Caso Deus seja o centro de nossa cometeu no passado não será, necessaria-
vida, ele tem um plano para nossa exis- mente, cometido outra vez pela pessoa.
tência, e se ele nos delegou a posição de
psicoterapeutas, devemos usá-la para enal- O sexto é capacitação. Já tangencia-
tecimento do nome de Deus, e não para o mos este aspecto anteriormente. Trata-se
nosso engrandecimento pessoal”. Sobrie- da capacitação para o serviço a desem-
dade é esta característica assumida de penhar e da capacitação espiritual para
que somos apenas instrumentos, a glória poder desempenhar o serviço. Precisa-
é de Deus, fazemos o que temos que fazer mos ter em mente que nenhum de nós,
e saímos de cena, sem esperar aplausos como líder cristão, é um produto acabado.
ou reconhecimento. O conselheiro não faz No que se presume ser sua última carta, já
alarde do seu trabalho. A vaidade sempre é idoso, Paulo pede a Timóteo: “Quando vie-
notada, sempre desgasta o vaidoso e geral- res, traze a capa que deixei em Trôade, em
mente cobra um preço muito elevado. E as casa de Carpo, e os livros, especialmente os
pessoas que aconselhamos não devem ser pergaminhos” (2Tm 4.13). Os especialistas
vistas como troféus a exibir. distinguem entre “livros” e “pergaminhos”.
86 - 87

O primeiro termo aludiria a obras secula- mais importantes na vida do conselheiro ao


res, e o segundo teria o sentido de livros ajudar alguém em crise: “Orar por si mesmo
canônicos, isto é, os escritos sagrados. Ele e colocar-se nas mãos de Deus para prestar
está detido na cadeia, e prestes a ser exe- uma ajuda afetiva”. Desempenhamos uma
cutado, mas ainda quer os livros. O obreiro atividade espiritual e nunca podemos nos
cristão em geral e o conselheiro em particu- esquecer disso. A autoridade espiritual que
lar sempre devem querer crescer. Adquirir vem da comunhão com Deus e da submis-
livros, ouvir palestras, fazer cursos, tudo isso são à sua Palavra é sempre notada na vida
ajuda muito o conselheiro. Mas o preparo de quem a tem. E quem a tem não pre-
espiritual nunca pode ser negligenciado. O cisa alardear.
Pr. Falcão dá como sendo um dos aspectos

Fonte: <http://www.isaltino.com.br/2011/11/o-perfil-e-atributos-
do-conselheiro-biblico/>. Acesso em: 27 dez. 2011.
88 UNIDADE IV

Clinebell (2000) começa sua lista trazendo as ideias rogerianas, as quais são:
congruência, calor humano não possessivo (solicitude e respeito pela pessoa) e
compreensão empática, e, depois, apresenta mais três de sua autoria.
1. Congruência – significa que o conselheiro deve desenvolver autenti-
cidade interior, integridade e abertura. Nesse sentido, deve proceder a
comportamentos que expressem autenticidade e transparência. O oposto
a essa característica é a impostura, “fazer de conta” e “fingir”. Sendo
assim, compreende Clinebell (2000) que a pessoa que esconde seus reais
sentimentos, mais cedo ou mais tarde perde a noção de muitos deles,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
produzindo pontos cegos emocionais, principalmente nas áreas de hos-
tilidade, agressividade, sexualidade e carinho.
2. Calor humano não possessivo (solicitude e respeito pela pessoa) – é
o equivalente humano à Graça de Deus em Cristo. Graça é o amor que
não se precisa granjear, porque já está existente em um relacionamento.
Segundo Clinebell (2000), “consideração positiva incondicional é uma
mescla de calor humano, gostar da pessoa, preocupa-se com ela, interes-
sar-se por ela, aceitá-la e respeitá-la” (p.406).
3. Compreensão empática – significa entrar no mundo interior de
significados e sentimentos profundos da pessoa, escutando com aten-
ção e interesse. Clinebell (2000)
observa, que uma das barrei-
ras para o desenvolvimento
da compreensão empática é o
narcisismo defensivo, pois não
permite olhar para o outro, mas
apenas para si. Nesse sentido,
Clinebell (2000) em tom pasto-
ral afirma: “a oração contínua
do pastor-aconselhador poderia
muito bem ser o verso de hino:
‘afasta de mim o obscurecimento
de minha alma’” (p.406).

As outras três características, Clinebell


(2000) acrescenta:

O PERFIL E O PAPEL DO CONSELHEIRO E DO CAPELÃO CRISTÃO


89

1. Uma robusta noção da própria identidade como pessoa - é quando o


conselheiro desenvolve firmemente sua identidade e valor próprio, de sua
personalidade e vida. É centrado. Certamente, observa Clinebell (2000,
p.406), quando há essa condição, o conselheiro é capaz de responder com
sensibilidade necessária às necessidades dos outros na medida em que
possui esta consciência centrada de seu próprio valor e personalidade.
2. Sarador ferido - esta é uma expressão usada pro Clinebell (2000) que
evoca a atitude terapêutica descrita por Henri Nouwen. Essa atitude
provém de uma consciência vivida de familiaridade com a doença, o
pecado, a solidão, a alienação e o desespero da pessoa com distúrbio
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

e, fundamentalmente, quando o conselheiro se coloca também nesse


plano e reconhece a ação superior de Deus na vida daquela pessoa, pois
ele mesmo (conselheiro) também é suscetível e frágil, necessitado. Por
isso Clinebell (2000) afirma: “pela graça de Deus”, como afirmação de fé
necessária para o exercício do aconselhamento cristão.
3. Vivacidade pessoal – essa característica é quando se mantém o vigor e a
energia sempre presentes. Contudo, Clinebell (2000) destaca que tal ati-
tude não é simples, mas necessita de aprendizado constante. Pois quando
se fala em vivacidade, está se pensando naquela que é contagiante. Não
é fácil manter essa atitude, lembra Clinebell (2000), ao solicitar ao leitor
que observe o seu próprio comportamento após atender certas pessoas,
como o conselheiro fica diferente; como a vivacidade interessada oscila.

Vejamos agora algumas atitudes necessárias ao conselheiro cristão, que são


apresentadas por Coelho Filho (2011):
Primeiro: ele deve proceder sem preconceito quando aconselha

Pode ser que a pessoa aconselhada esteja em pecado e deva ser orien-
tada quanto a isso, mas não compete ao conselheiro, como conselheiro,
condená-la. No aconselhamento não se prega. Conversa-se e se mostra
à pessoa a situação em que ela se encontra e as alternativas a tomar
na sua vida. Em outras ocasiões, o conselheiro administrará conflitos
de relacionamentos entre partes. Deve evitar se posicionar contra um
ou contra outro. Ele deve ser uma ponte e não um juiz. Pode ser que
a questão esteja bem clara e ele tenha uma posição bem definida, mas
deve se lembrar que está ali para conciliar partes.
Já me aconteceu, em passado remoto, aconselhar um líder da igreja com
problemas de drogas. No íntimo, por dentro, fiquei muito indignado com
este comportamento vindo de um líder em que eu e a igreja confiávamos,

Perfil e Atitudes do Conselheiro Cristão


90 UNIDADE IV

mas sabia que perderia a pessoa se manifestasse este sentimento. Ela já


estava bastante frustrada e envergonhada. Não manifestei minha postura
de censura. Ela já sabia que estava errada. Tratamos de como superar a
situação. Mostrei-lhe empatia. A pessoa superou o problema e até hoje
está na liderança (pedi permissão a ela para citar o evento, sem nomear
e localizar, e ela me concedeu). Precisamos ter muita cautela e lutar para
impedir que nossos sentimentos pessoais de aceitação ou rejeição nos
levem a tomar atitudes que bloqueiem o processo de aconselhamento.
Segundo: ele deve evitar dar ordens

Inconscientemente, o conselheiro tem o desejo de dominar e exercer con-


trole na vida da pessoa aconselhada. Até porque se sente em condições

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de orientar a outra parte. Nosso papel é levar a pessoa a ver a vontade
de Deus para sua vida. E precisamos ser humildes para reconhecer que
nem sempre a vontade de Deus é a nossa, como conselheiros. Podemos
mostrar à pessoa as opções e as consequências das opções, mas deve ser
deixada com ela a decisão a tomar. É assim que ela amadurecerá. Quando
dizemos às pessoas o que fazer, elas criam dependência emocional. E isto
não é bom. O conselheiro poderá dizer que executou bem sua função
quando a pessoa chegar a um ponto em que o aconselhado não mais
precisar dele como orientador. Essa ideia de “guru” ou de um mentor
que tutoreia a pessoa por toda sua vida não é uma medida salutar. É an-
tibíblica. Conforme Efésios 4.13, o exercício de dons na igreja é para que
os crentes cheguem “ao estado de homem feito, à medida da estatura da
plenitude de Cristo” (Ef 4.13). Conduzir alguém pela mão por toda a vida
não faz desse alguém uma pessoa neste patamar de adulto em Cristo. Há
muito manipulador querendo ser mentor.

Terceiro: o conselheiro deve cultivar objetividade e não ser envolvi-


do emocionalmente
Não confunda as coisas nem tente fazer “pegadinhas”, dizendo que
isto é o oposto da empatia mostrada como necessária. Terapeutas
profissionais não devem aconselhar parentes ou pessoas a eles liga-
das emocionalmente. Sua análise sempre será prejudicada porque terá
envolvimento emocional. Há uma linha divisória entre empatia e en-
volvimento emocional. A empatia é produto da misericórdia cristã. O
envolvimento sucede quando o conselheiro se sente perturbado por-
que aquilo o atinge diretamente. Por vezes, ele está passando por um
problema semelhante ao que a pessoa que lhe procura está passando e
sente desnorteado, ou sem condições de fazê-lo. Não é errado um con-
selheiro ter problemas e passar por lutas, é preciso dizer neste contexto.
O problema é quando o aconselhando está numa situação idêntica e o
conselheiro sente que está sem condições.

O PERFIL E O PAPEL DO CONSELHEIRO E DO CAPELÃO CRISTÃO


91

A eficácia do aconselhamento, neste caso, será reduzida. Ao mesmo


tempo, em contrapartida, o conselheiro poderá ver nesta situação
como a pessoa está sofrendo. Mas sua orientação poderá ser apenas
um reflexo do que ele faria. E as pessoas reagem de maneira diferente.
O conselheiro poderá mostrar um caminho que ele tem condições de
percorrer, mas talvez a outra pessoa não tenha. Ele precisará refletir
bastante, orar e ter humildade para, se for o caso, dizer à pessoa que
naquele momento não poderá ajudá-la. Se tiver certeza de que estará
mais capacitada exatamente por estar vencendo o problema, deve aju-
dar. Mas se estiver sendo abatida pelo problema, terá pouco o que dizer.
E deverá ter a humildade de reconhecer isto.

Quarto: Saber filtrar o que está sendo dito


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Nem sempre as palavras revelam. Por vezes mascaram. Para filtrar bem,
o conselheiro precisa de um bom filtro (ou um coador). É oportuno
lembrar que vivemos numa sociedade massificada pelo egoísmo e que
as pessoas, em sua maior parte, têm motivações egoístas. Até mesmo
na área espiritual. O conselheiro precisa ter um bom parâmetro para
avaliar e orientar. Por exemplo: qual é a finalidade da vida? É a busca de
felicidade? É o que as pessoas buscam e o que muitas pregações sinali-
zam. Mas é este o propósito de Deus para nós?

Um problema muito sério é que os crentes estão buscando felicidade,


e não mais santidade, como se pudessem ser felizes à parte de sua co-
munhão com Deus. Com esta visão, a vida cristã passa a ser a busca de
satisfação de necessidades pessoais (algumas irrelevantes e supérfluas).
É um conceito mundano. Assim, o trabalho do conselheiro passa a ser
mais o de um terapeuta secular, levando as pessoas a se aceitarem como
são e a buscarem necessidades muitas vezes mundanas, que um servo
cristão que ajuda os crentes na sua caminhada a uma vida mais profun-
da com Deus. Muitos dos problemas espirituais e emocionais não estão
ligados à área espiritual ou da vontade de Deus, mas a projetos pessoais
que os indivíduos têm, muitos deles modelados pelo padrão do mundo.
Eles não alcançam tais projetos e se frustram. Tenho observado, em
quarenta anos de ministério (o que não me torna infalível, mas me faz
entender muitas coisas) que grande parte da aflição dos crentes é por
coisas das quais não precisam e sem as quais podem viver. Mas deixam-
-se modelar pela massificação mundana de uma sociedade materialista
que espiritualmente é decadente. Eles querem ser como o mundo. E
querem as coisas que o mundo quer.

O conselheiro deve ter em conta que lidará com muitas pessoas que
têm problemas por causa de necessidades que não devem ser atendidas.

Perfil e Atitudes do Conselheiro Cristão


92 UNIDADE IV

[...] A atividade de aconselhar biblicamente não é a de dar pirulitos a


crianças frustradas, mas ajudar as pessoas a entenderem o propósito
de Deus para a vida delas. Há uma diferença enorme entre desejos e
necessidades. É preciso saber a distinção entre os dois. E o conselheiro,
algumas vezes, terá que levar a pessoa a entender isso [...]

Assim sendo, não se culpe se não vir resultado imediato ou se a pessoa


custar a aceitar sua orientação. Sua missão não é produzir resultados,
mas fazer o melhor que puder, na dependência do Espírito Santo. O
resto compete a Deus, que fará a obra no tempo dele. Que sempre é o
certo (pp. 5-9).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
PERFIL E PAPEL DO CAPELÃO
HOSPITALAR

Como demos destaque para a capelania hospi-


talar quando tratamos sobre a fundamentação
teórica sobre capelania; nesta parte desenvol-
veremos o perfil e o papel do capelão hospitalar.
Tal intento será construído transcrevendo
algumas partes do capítulo denominado
“O capelão hospitalar” de autoria de Silva
(2010), que se encontra em sua dissertação
de mestrado, a qual versa sobre “A Capelania
Hospitalar: uma contribuição na recuperação do
enfermo oncológico”; bem como as contribuições de
Saad e Nasri (2008). Fica aqui o registro de que pode haver na transcrição de
algumas partes do capítulo supracitado, supressão ou acréscimo com o objetivo
tão somente de atender as necessidades desta unidade de estudo.
Silva (2010) observa que o capelão hospitalar deverá ter as seguintes
características:

O PERFIL E O PAPEL DO CONSELHEIRO E DO CAPELÃO CRISTÃO


93

Vocacionado
O capelão hospitalar, para exercer sua práxis no hospital, deve ter con-
vicção de sua chamada, de sua vocação para esse ofício, o que exige fé
de que foi chamado por Cristo para este trabalho junto aos enfermos.
Ele deve sentir-se chamado por Deus a partir da realidade do sofrimen-
to para produzir saúde e vida.
Sendo assim, torna-se continuador da ação misericordiosa e libertadora
do Cristo para com os doentes, a exemplo do Bom Samaritano (Lc 10,29-
37). Sua ação vai muito além da simples caridade ou filantropia, trans-
formando situações de indiferença em solidariedade, contextos de morte
em vida, realidades manipuladoras em defesa da dignidade humana fe-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

rida. Portanto, transforma-se em agente de mudança e transformação.


Agente de transformação
Inconformado com a realidade social em que está inserido, ele alimen-
ta uma indignação ética diante do descaso no tocante à vida humana.
O capelão é um profeta. Denuncia o que contradiz a verdade do evan-
gelho de Jesus Cristo e anuncia uma nova perspectiva sobre a realidade
opressora. Apresenta-se como um ser ativo de presença crítica e ques-
tionante diante da realidade do hospital que não vá ao encontro das
necessidades do enfermo.
Consequentemente é um militante de políticas de humanização que
busca colocar o enfermo como razão de ser e existir do hospital. Para
que o capelão consiga desempenhar bem o seu papel, faz-se necessária
uma formação específica e uma reciclagem (formação) continuada.
Profissional
Segundo Cavalcanti, o hospital funciona sem a presença de um cape-
lão, mas não sem a presença de médicos e enfermeiros. Portanto, o ca-
pelão deverá conduzir-se frente a esses servidores da saúde com todo
respeito e cortesia. Haverá sempre a prioridade médica ao atendimento
do paciente: são raros os casos ao contrário.
Os médicos e enfermeiros estarão trabalhando em suas respectivas áre-
as, sejam doenças físicas ou psíquicas, enquanto o capelão direciona
a atuação aos cuidados espirituais. O capelão não deve dar conselhos
médicos, receitar remédios, divulgar diagnósticos ou outro assunto
concernente à área médica.
O capelão apresenta-se normalmente à Chefia de Enfermagem quando
em visitas a pacientes nas enfermarias. Devendo participar de treina-
mento junto aos demais profissionais para receber informações sobre
como proceder em relação a veículos transmissores de infecção, priori-

Perfil e Papel do Capelão Hospitalar


94 UNIDADE IV

zando o tratamento do paciente e protegendo-o de possíveis contami-


nações. Deverá, também, ser informado sobre diagnóstico de pacientes
com doenças infecto-contagiosas. O capelão hospitalar pode, também,
como forma de reconhecimento e congraçamento, promover comemo-
rações no Dia do Médico e do Enfermeiro.
Educador e evangelizador
Para o bom desempenho do seu trabalho no hospital, o capelão deve
desenvolver a competência de despertar novas lideranças para atuarem
neste ministério que está no “coração de Deus’’, na dimensão humana
e ética. O capelão comunica e educa para uma visão holística em que a
pessoa humana é respeitada integralmente nas suas dimensões sociais,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
físicas, psíquicas e espirituais.
No Hospital Evangélico de Vila Velha, no Estado do Espírito Santo,
uma das atribuições do capelão é ministrar cursos aos agentes voluntá-
rios da Pastoral da Saúde de confissão católica, os quais recebem todo o
preparo prático e teórico para atuarem no Hospital.
Atualmente, a capelania deste Hospital conta com cerca de 120 volun-
tários de várias denominações religiosas, os quais recebem treinamento
para atuarem lá.
Diante disso, pode-se constatar a necessidade de uma formação sólida
e específica do capelão. Por isso, verifica-se a necessidade de o capelão
desenvolver a competência de liderança para desenvolver esse aspecto
de sua função no hospital.
Espiritualidade salvífica
De acordo com a capelã e pastora do Hospital Evangélico de Vila Ve-
lha Maria Luiza Ruckert, o serviço de capelania representa um espaço
privilegiado para traduzir a Boa-Nova para a linguagem dos relaciona-
mentos, uma linguagem que nos permite comunicar uma mensagem de
cura, salvação e esperança às pessoas que se debatem em dor e desespero,
incertezas e vazio (característica muito presente na nossa época ).
Portanto, o capelão valoriza a vida humana cultivando uma espirituali-
dade salvífica, sendo agente gerador de vida e esperança em meio a dor,
sofrimento e morte. Por isso, deve ser um homem de oração constante
e de comunhão profunda com Deus. Um crente que ora com e pelo
doente, um ser que vivencia uma vida orante a partir do sofrimento
humano numa perspectiva de salvação e cura. A partir dessa espiritua-
lidade, o capelão se torna um pedagogo da fé.

O PERFIL E O PAPEL DO CONSELHEIRO E DO CAPELÃO CRISTÃO


95

Líder
O capelão deverá saber delegar responsabilidades confiando nas ca-
pacidades das pessoas, com isso evitando centralizações. Ele estimula
iniciativas voluntárias que se apresentam de forma gratuita e solidária
movidas pelo amor ao próximo, como, por exemplo, o voluntariado.
Como líder religioso carismático na comunidade hospitalar, procura
sempre estar inovando, buscando novos métodos e iniciativas para al-
cançar as pessoas na sua totalidade. Nesse sentido, a criatividade o leva
a sair da rotina e buscar sempre o novo. Sendo líder, é um conhecedor
da realidade pluralista que o cerca e com a qual dialoga.
Ecumênico
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A função ocupada pelo capelão exige um bom relacionamento com ou-


tros religiosos que atuam no hospital. Haverá certas ocasiões em que
os capelães (católico, evangélico, rabino etc.) serão convidados pela
Administração para participar de solenidades ou comemorações ecu-
mênicas: cada convite deverá ser estudado para que não haja dúvida
quanto à presença e à mensagem proferida pela capelania.
O capelão, nessa realidade, zela pelo atendimento das necessidades psi-
coespirituais dos enfermos segundo a sua tradição religiosa, o que não o
impede de manter-se aberto ao diálogo com outras tradições religiosas.
Nesse sentido, deve ser capaz de realizar um diálogo inter-religioso,
cooperando no objetivo comum de servir ao doente, preservando a
própria identidade de fé, nesse contexto pluralista, onde se encontram
diferentes opções religiosas (pp. 32-35).

Conforme Silva (2010), o capelão deve ser uma pessoa de bom relacionamento
com todos no hospital. Sua amizade deve se estender, dos cargos mais simples
até os mais elevados. Sempre deve estar pronto para ajudar, aconselhar e prestar
seus serviços. Isso requer humildade, empatia, sinceridade e também versati-
lidade. Sua imagem ou papel social é sempre de alguém espiritual, amoroso e
testemunha de Cristo, por isso sua responsabilidade estende-se a todas as pes-
soas com as quais convive.
Ainda sobre o perfil do capelão, Saad e Nasri (2008) observam a importância
da espiritualidade no contexto hospitalar, bem como ressaltam a relevância da
assistência espiritual ao paciente internado. Nesse particular, os referidos autores
são taxativos em afirmar que não é qualquer um que pode oferecer esse serviço.
Tem que ter conhecimento e habilidade. Nesse sentido, Saad e Nasri (2008) res-
saltam que os capelães têm que desenvolver as seguintes habilidades religiosas:

Perfil e Papel do Capelão Hospitalar


96 UNIDADE IV

■■ Sensibilidade à realidade de múltiplas culturas e crenças.


■■ Respeito às preferências espirituais ou religiosas dos pacientes.
■■ Entendimento do impacto da doença no indivíduo e seus cuidadores.
■■ Conhecimento da estrutura e da dinâmica de uma organização de saúde.
■■ Responsabilidade como parte de uma equipe profissional de saúde.
■■ Responsabilidade diante de seu grupo religioso.

Partindo desses pressupostos acima, destacamos a partir de Silva (2010, p.36)

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
algumas das principais atribuições que o capelão possui, as quais o autor faz refe-
rência em sua dissertação. Vejamos:
■■ Coordena o serviço da Capelania – tem a responsabilidade institucional
junto à Direção do Hospital.
■■ Participa de treinamento – principalmente sobre contaminação e recebe
orientações sobre como proceder junto aos pacientes.
■■ Atende pacientes e funcionários.
■■ Dirige e coordena cultos e funerais.
■■ Organiza as atividades da capelania.
■■ Aprova todo o material impresso a ser distribuído.
■■ Orienta os deveres e direitos dos pastores visitantes.
■■ Assegura o cumprimento do regulamento interno do Hospital e conví-
vio com outros religiosos e pessoas da saúde.
■■ Organiza as atividades de visitação de religiosos no hospital.
■■ Escreve ou aprova artigos escritos para a publicação no boletim do hos-
pital e para cartões e datas especiais.

Silva (2010) compreende, por fim, que o capelão deve ser um profissional que
possui um bom relacionamento com a Administração do Hospital, não só pelo
aspecto formal de sua função. Por isso, requer-se de todo aquele que exerce cape-
lania hospitalar ética e uma postura irrepreensível.

O PERFIL E O PAPEL DO CONSELHEIRO E DO CAPELÃO CRISTÃO


97

Saad e Nasri (2008) observam que o capelão é um profissional que pode


atuar como membro de saúde por:
a) Participar em visitas médicas e discussões de caso de pacientes, ofere-
cendo perspectivas no estado espiritual destes.
b) Participar em educação interdisciplinar.
c) Traçar o plano de intervenções de cuidados espirituais.
Cabe, portanto, ao capelão desenvolver conhecimentos básicos e fundamentais
para o exercício de sua profissão, com a finalidade de contribuir nesse contexto,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

que é de ajuda espiritual para o crescimento diante da dor ou do sofrimento.


Conforme Saad e Nasri (2008), são essas as atividades típicas do capelão,
no contexto hospitalar:
■■ Cuidado em perdas e luto.
■■ Triagem de risco, identificando indivíduo cujos conflitos internos com-
prometem sua recuperação satisfatória.
■■ Facilitação de questões espirituais relacionadas à doação de órgãos.
■■ Intervenção em crise.
■■ Avaliação espiritualista.
■■ Facilitação de comunicação entre a equipe.
■■ Resolução de conflitos entre equipe, paciente e família.
■■ Encaminhamento a recursos de auxílios externos ou internos.
■■ Auxílio em tomadas de decisões.
■■ Apoio à equipe em crises pessoais ou estresse trabalhista.

Perfil e Papel do Capelão Hospitalar


98 UNIDADE IV

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como havíamos observado anteriormente, nesta unidade foi aprofundada teo-


ricamente a prática do conselheiro e do capelão.
Antes, contudo, foram assinaladas algumas atitudes inadequadas do con-
selheiro, como: visitação informal; desinteresse no atendimento; rotulação o
aconselhando; condenação precipitada; negação das potencialidades do acon-
selhando; relação informal; envolvimento emocional e distanciamento.
Sobre o perfil, a partir de Coelho Filho (2011) e Clinebell (2000), destaca-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ram-se do primeiro autor: empatia, respeito, sigilo, sobriedade, desprendimento
e capacidade enquanto do segundo autor: congruência, calor humano não pos-
sessivo, compreensão empática, uma robusta noção da própria identidade como
pessoa sarador ferido e vivacidade pessoal.
Com relação às atitudes do conselheiro, fundamentadas em Coelho Filho
(2011), são: não ser preconceituoso, não ser controlador, ser objetivo, não se
envolver emocionalmente e saber filtrar o que ouve.
Sobre Capelania Cristã foram trabalhados os estudos de Silva (2010) e Saad
e Nasri (2008), que desenvolveram seus estudos abordando o perfil e papel do
capelão.
No que tange ao perfil destacou-se; portanto, que o capelão: é vocacionado,
agente de transformação, profissional, educador e evangelizador, possui espi-
ritualidade salvífica, é líder e ecumênico, respeita as preferências espirituais
ou religiosas dos pacientes, conhece o impacto da doença no indivíduo e seus
cuidadores, conhece a estrutura e a dinâmica de uma organização de saúde é res-
ponsável com relação à equipe de trabalho e com o seu grupo religioso.
Com relação às tarefas ou atitudes que o capelão desenvolve, foram desta-
cadas as seguintes: coordenar o serviço de capelania; capacitar pessoal sobre as
questões religiosas e espirituais; organizar as atividades; orientar os religiosos
e pastores que visitam o hospital; assegurar o cumprimento dos regulamentos
sobre a visitação religiosa; aprovar e escrever artigos sobre temas afins e atuar
como membro da equipe médica.

O PERFIL E O PAPEL DO CONSELHEIRO E DO CAPELÃO CRISTÃO


98 - 99

O VISITADOR, SUA FUNÇÃO E SUAS ATIVIDADES


Assuntos que devem ser avaliados com respeito ao trabalho com os enfermos:
■■ O hospital é uma instituição que busca uma cura física. Temos que respeitar o ambien-
te, a estrutura hospitalar e trabalhar dentro das normas estabelecidas. Como evangé-
licos a Constituição Brasileira nos dá direitos de atender os doentes, porém não é um
direito absoluto. Devemos fazer nosso trabalho numa forma que não atinja os direitos
dos outros.
■■ Como é que você encara uma doença ou o sofrimento humano? Tem que avaliar suas
atitudes, seus medos, suas ansiedades, etc. Nem todos podem entrar numa enferma-
ria ou visitar um doente no lar, porque não é fácil lidar com situações que envolvem o
sofrimento humano.
■■ Quando visitamos os enfermos devemos estar atentos aos sentimentos e preocupa-
ções deles. Nossa agenda precisa priorizar os assuntos que eles desejam abordar.
■■ Como crente em Jesus temos algo que todos desejam: esperança. Deve expressar esta
esperança de maneira realística e com integridade. Tenha cuidado com promessas fei-
tas em nome de Deus. Podemos levar palavras seguras, mas devemos evitar a criação
de uma esperança falsa.
■■ Observar e respeitar as visitas de outros grupos. Faça seu ministério sem competir ou
entrar em conflitos. Seja uma boa testemunha.
■■ Saiba utilizar bem nossos instrumentos de apoio que são: oração, a Bíblia, apoio da
igreja, e a esperança em Jesus Cristo, o Médico dos Médicos.
■■ Ore e confie no Espírito Santo para lhe ajudar.
■■ Aprenda os textos Bíblicos apropriados para usar nas visitas hospitalares ou nos lares
dos enfermos.
■■ Aprenda algumas normas, regras, e orientações para visitar os enfermos.

A Prática
Como capelão por mais de 20 anos do Hospital Presbiteriano Dr. Gordon, procurei de-
senvolver um ministério prático de visitação. Este projeto de Voluntários para a Capela-
nia do Hospital que segue representa o aprendizado da teoria que foi confirmada e am-
pliada na prática. Cada experiência de Capelania Hospitalar ou cada visita aos enfermos
são experiências distintas. Porém, os princípios, os valores, as regras, e as normas são
semelhantes e válidos para todos os casos.
1. Como criar seu espaço de trabalho:
■■ Entender seu propósito
■■ Ganhar seu direito
■■ Trabalhar com equipe médica
2. Deve:
■■ Identificar-se apropriadamente.
■■ Reconhecer que o doente pode apresentar muita dor, ansiedade, culpa, frustrações,
desespero, ou outros problemas emocionais e religiosos. Seja preparado para en-
frentar estas circunstâncias.
■■ Usar os recursos da vida Cristã que são: oração, Bíblia; palavras de apoio, esperança,
e encorajamento; e a comunhão da igreja. Se orar, seja breve e objetivo. É melhor
sugerir que a oração seja feita. Uma oração deve depender da liderança do Espírito
Santo, levando em consideração as circunstâncias do momento, as condições do
paciente, o nível espiritual do paciente, as pessoas presentes, e as necessidades ci-
tadas.
■■ Deixar material devocional para leitura: folheto, Evangelho de João, Novo Testa-
mento, etc.
■■ Visitar obedecendo às normas do Hospital ou pedir de antemão, se uma visita no lar
é possível e o horário conveniente.
■■ Dar liberdade para o paciente falar. Ele tem suas necessidades que devem tornar-se
as prioridades para sua visita.
■■ Demonstrar amor, carinho, segurança, confiança, conforto, esperança, bondade, e
interesse na pessoa. Você vai em nome de Jesus.
■■ Ficar numa posição onde o paciente possa lhe olhar bem. Isto vai facilitar o diálogo.
■■ Dar prioridade ao tratamento médico e também respeitar o horário das refeições.
■■ Saber que os efeitos da dor ou dos remédios podem alterar o comportamento ou a
receptividade do paciente a qualquer momento.
■■ Tomar as precauções para evitar contato com uma doença contagiosa, sem ofender
ou distanciar-se do paciente.
■■ Aproveitar a capela do hospital para fazer um culto. Se fizer um culto numa enfer-
maria pode atrapalhar o atendimento médico de outros pacientes ou incomodá-
-los. Deve ficar sensível aos sentimentos e direitos dos outros.
■■ Avaliar cada visita para melhorar sua atuação.
100 - 101

3. Não deve:
■■ Visitar se você estiver doente.
■■ Falar de suas doenças ou suas experiências hospitalares. Você não é o paciente.
■■ Criticar ou questionar o hospital, tratamento médico e o diagnóstico.
■■ Sentar-se no leito do paciente ou buscar apoio de alguma forma no leito.
■■ Entrar numa enfermaria sem bater na porta.
■■ Prometer que Deus vai curar alguém. Às vezes Deus usa a continuação da doença
para outros fins. Podemos falar por Deus, mas nós não somos o Deus Verdadeiro.
■■ Falar num tom alto ou cochichar. Fale num tom normal para não chamar atenção
para si mesmo.
■■ Espalhar detalhes ou informação íntima ou o paciente. Pode orientá-los, mas deixe-os
tomarem as decisões cabíveis e sobre o paciente ao sair da visita.
■■ Tomar decisões para a família ou o paciente. Pode orientá-los, mas deixe-os toma-
rem as decisões cabíveis e sob a orientação médica.
■■ Forçar o paciente falar ou se sentir alegre, e nem desanime o paciente. Seja natural
no falar e agir. Deixe o paciente a vontade.
Numa visita hospitalar ou numa visitação em casa para atender um doente, sempre ob-
servamos vários níveis de comportamento. Cada visita precisa ser norteada pelas cir-
cunstâncias, os nossos objetivos ou alvos, e as necessidades da pessoa doente.
As perguntas servem como boa base para cultivar um relacionamento pessoal. As per-
guntas foram elaboradas pelo Dr. Roger Johnson num curso de Clinical Pastoral Educa-
tion em Phoenix, Arizona, EUA . Dr. Johnson lembra-nos que há perguntas que devemos
evitar. Perguntas que comecem com “por que” e perguntas que pedem uma resposta
“sim”ou “não” podem limitar ou inibir nossa conversa pastoral. Segue uma lista de per-
guntas próprias. A lista não é exaustiva e as pessoas podem criar outras perguntas. A
lista serve como ponto de partida para uma conversa pastoral.
1. O que aconteceu para você encontrar-se no hospital?
2. O que está esperando, uma vez que está aqui?
3. Como está sentindo-se com o tratamento?
4. Como está evoluindo o tratamento?
5. O que está impedindo seu progresso?
6. Quanto tempo levará para sentir-se melhor?
7. Quais são as coisas que precipitaram sua enfermidade?
8. Ao sair do hospital ou se recuperar, quais são seus planos?
9. Como sua família está reagindo com sua doença?
10. O que você está falando com seus familiares?
11. O que seus familiares estão falando para você?
12. O que você espera fazer nas próximas férias (outro evento ou data importante)?
Os enfermos passam por momentos críticos. Devemos ficar abertos e preparados para
ajudar com visitas e conversas pastorais. Os membros de nossas igrejas podem atuar
nessa área. Uma visita pastoral ou conversa pastoral serve para dois aspectos de nossa
vida.
Primeiro, uma visita demonstra nossa identificação humana com o paciente. Como ser
humano nós podemos levar uma palavra de compreensão, compaixão, amor, solidarie-
dade e carinho. Segundo, na função de uma visita ou conversa pastoral representamos o
povo de Deus (Igreja) e o próprio Deus na vida do paciente. Assim, levamos uma palavra
de perdão, esperança, confiança, fé e a oportunidade de confissão. O trabalho pastoral
visa o paciente como um “ser humano completo, holístico” e não apenas como um corpo
ou um caso patológico para ser tratado.

Eudoxio Santos
Fonte: <http://capelaniahospitalar.blogspot.com/>
Acesso em: 27 dez.2011.
102 - 103

1. Como temos ressaltado, é fundamental que tanto o conselheiro quanto o cape-


lão desenvolvam comportamentos adequados. Nesta unidade, foi concedido es-
paço para também listarmos atitudes inadequadas do conselheiro cristão. Dian-
te disso, relacione duas atitudes inadequadas listadas e desenvolva um texto,
entre 5 e 10 linhas, que ressalte as implicações negativas desse comportamento.
2. Sobre o perfil do conselheiro, vimos que há um universo comum de característi-
cas necessárias para que esse ministério seja desenvolvido a contento. Quem de
uma maneira sistemática, articulada e apaixonada, diga-se de passagem, abor-
dou sobre o perfil do conselheiro foi Coelho Filho. Ele destacou o seguinte perfil:
ser empático, respeitoso, sigiloso, sóbrio, desprendido e capaz. Dessas seis habi-
lidades, escolha apenas duas e em seguida elabore um texto, entre 4 e 8 linhas,
em que você argumenta que essas duas habilidades são imprescindíveis para
um bom desempenho da atividade de conselheiro cristão hoje.
3. Vimos dois perfis de conselheiro cristão. Um apresentado por Coelho Filho (2011)
e outro por Clinebell (2000). Faça uma relação entre esses dois perfis destacando
pontos semelhantes e diferenças. Seja objetivo em sua resposta, citando e argu-
mentando com referência aos próprios textos estudados.
4. Assim como o conselheiro tem um papel esperado que aqui foi destacado, assim
também tem o capelão hospitalar. Que relação é possível fazer entre o perfil do
capelão hospitalar e do conselheiro? Apresente pelo menos duas atitudes que
podem ser relacionadas.
5. A capelania é uma atividade essencialmente de cuidado. Isso não é em absoluto
estranho no contexto hospitalar. Ser capelão hospitalar é cuidar. Relacione o pa-
pel apresentado por Silva (2010) e as habilidades apresentadas por Saad e Nasri
(2008), que argumentam no sentido positivo de que a capelania é cuidar. Faça
essa relação produzindo um texto entre 4 e 8 linhas.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Capelania Hospitalar
Este link remete a uma associação de capelania hospitalar. Nele você tem informações, orientações,
mensagens, literatura e cursos.
http://www.capelania.com/2008/index.php

O PERFIL E O PAPEL DO CONSELHEIRO E DO CAPELÃO CRISTÃO


Professor Me. Rubem Almeida Mariano

V
TEMAS E PROCEDIMENTOS

UNIDADE
EM ACONSELHAMENTO
E CAPELANIA CRISTÃ

Objetivos de Aprendizagem
■■ Conhecer os procedimentos e técnicas de aconselhamento de apoio,
de perda pessoal e de crise matrimonial.
■■ Identificar os procedimentos e metodologias necessários para o
desempenho em Aconselhamento e Capelania Cristã.
■■ Conscientizar-se dos comportamentos do aconselhando ou paciente
em situação de crise.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Aconselhamento de apoio
■■ Aconselhamento em casos de perda pessoal
■■ Aconselhamento em casos de crise matrimonial
■■ Atividade de exercício prático de aconselhamento de apoio
107

INTRODUÇÃO

“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”.


Evangelho de Mateus 5:4

“É ele que nos conforta em toda nossa tribulação, para podermos con-
solar os que estiverem em qualquer angustia”.
2 Coríntios 1:4

“Em pleno inverso, dei-me conta, finalmente, de que dentro de mim


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

havia um verão invencível”.


Albert Camus, Actuelles

Certa vez ouvi de um dos meus alunos, em uma aula de aconselhamento pasto-
ral, a seguinte afirmação: “o nosso problema, no aconselhamento, não é falta de
conhecimento bíblico, mas falta de conhecer a pessoa do aconselhando, seu com-
portamento”. Essa afirmação remete sem dúvida aos conhecimentos de métodos
e técnicas sobre o ato de aconselhar.
Tenho notado que o grande interesse das pessoas é como proceder quando
alguém precisa de apoio, ou quando está em crise; diante de uma separação; perda
pessoal; crise matrimonial ou como aconselhar toda uma família.
Hoje, temos um número considerável de literatura cristã que tem dado conta
dessa demanda, lembro aqui alguns clássicos, como “Aconselhamento Cristão” e
“Ajudando uns aos outros pelo Aconselhamento” de Collins; “Aconselhamento
Pastoral: modelo centrado em libertação e crescimento” de Clinebell e um dos
textos mais recentes nessa área, do conhecido argentino psicólogo e pastoralista
Schipani, “O caminho de sabedoria no Aconselhamento Pastoral”.
Diante disso, nesta unidade estaremos apresentando alguns dos temas
em aconselhamento, bem como métodos e técnicas, que podem ser utilizados
para o enfrentamento dessas situações. Aqui fizemos uma opção em traba-
lhar com as ideias e casos apresentados pelo conselheiro Clinebell em seu livro
“Aconselhamento Pastoral”. Fizemos uma seleção de alguns temas e procedimen-
tos sugeridos pelo referido autor, são eles:

Introdução
108 UNIDADE V

a) Aconselhamento de apoio.
b) Aconselhamento em casos de perda pessoal.
c) Aconselhamento em casos de crise matrimonial.

Esperamos que este texto não seja encarado como um receituário, mas como um
guia introdutório teórico-prático para o enfrentamento dos temas abordados aqui.
Ao final de cada tema estudado, tem-se uma sessão denominada “Atividade
de exercício prático de aconselhamento sobre o tema abordado”. O objetivo é
bem simples, caro aluno, possibilitar uma reflexão ou prática para implementar

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
os conhecimentos estudados. Essas atividades foram todas elaboradas a partir
do livro “Aconselhamento Pastoral” de Clinebell (2000).

ACONSELHAMENTO DE APOIO

Apoio. Essa é uma palavra muito comum no meio cristão. Afinal as pessoas pro-
curam as igrejas muitas vezes para enfrentar situações que as desestabilizam, pois
se encontram atribuladas quer no âmbito pessoal, conjugal ou grupal. Diante
disso, é fundamental que o conselheiro cristão desenvolva métodos e técnicas
que possibilitem:
a) Estabilidade.
b) Alicerce.
c) Alimento.
d) Orientação.

Portanto, cabe ao conselheiro desenvolver naquele que procura ajuda as condições


ou capacidades para enfrentar, manejando de forma adequada, os seus problemas
e os seus relacionamentos mais construtivamente, dentro dos limites que lhes são
impostos pelos recursos de sua personalidade e pelas circunstâncias oferecidas.

TEMAS E PROCEDIMENTOS EM ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ


109

No aconselhamento de apoio, o conselheiro faz uso de:


1. Orientação.
2. Informação.
3. Tranquilização.
4. Inspiração.
5. Planejamento.
6. Formulação de respostas e perguntas.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

7. E
ncorajamento ou desencorajamento de certas formas de comportamento,
as quais devem ser observadas de forma cuidadosa e muito atenta.

A seguir, vejamos sete procedimentos sugeridos por Clinebell (2000) para o


aconselhamento de apoio:
1) Satisfazer necessidades de dependências – deve ser uma atitude que
comunique solicitude a uma pessoa atribulada. Há muitas formas de
satisfação de dependência:
a. confortar;
b. sustentar;
c. alimentar (emocional ou fisicamente);
d. inspirar;
e. orientar;
f. proteger;
g. instruir;
h. colocar limites seguros para evitar comportamento prejudicial à pró-
pria pessoa ou a outras.
2) Catarse emocional – compete ao conselheiro realizar a aceitação dos sen-
timentos opressivos de uma pessoa, inicialmente. Quando uma pessoa
se sente aceita pode liberar sentimentos que estão guardados e contidos

Aconselhamento de Apoio
110 UNIDADE V

em seu ser. Sentir que outra pessoa conhece sua dor interior e se importa
com ela dá às pessoas atribuladas a força que provém do fato de terem
suas vidas alicerçadas.
3) Exame objetivo da situação de estresse - quando as pessoas atribula-
das são apoiadas, podem imprimir objetividade para ver seu problema
a partir de uma perspectiva um tanto mais ampla e explorar alternati-
vas viáveis. Podem tomar decisões mais sábias a respeito do que podem
e devem fazer.
4) Promover as defesas do ego – há situações que podem desestruturar

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
totalmente a pessoa, por exemplo, um acidente de carro em que essa pes-
soa foi a única sobrevivente, mas foi também justamente a culpada pela
morte dos passageiros; no momento do funeral, ela começa explicar que
foi o outro motorista e não ela a culpada. Deve-se compreender que esse
funcionamento, negando e projetando, é defensivo e que aos poucos, ao
longo do tempo, deve-se trabalhar essa questão.
5) Mudanças da situação de vida – o conselheiro pode ajudar o aconse-
lhando a fazer mudanças ou, se isso não for possível, providenciar para
que sejam feitas nas circunstâncias (físicas, econômicas ou interpessoais)
que estão produzindo distúrbios deliberados em suas vidas.
6) Encorajar ação apropriada – quando as pessoas estão aturdidas ou para-
lisadas por sentimentos de ansiedade, derrota, fracasso a autoestima
prejudicada por uma perda trágica, é útil que o conselheiro prescreva
alguma atividade que as mantenha em funcionamento e em contato com
outras pessoas; um tipo de “tarefa para casa”. Por exemplo: leituras rele-
vantes para o problema que a pessoa enfrenta.
7) Usar subsídios religiosos – oração, Bíblia, literatura devocional, a Ceia
do Senhor etc, constituem valiosos recursos de apoio, que são caracte-
rísticas singulares do aconselhamento pastoral.

Por fim, Clinebell (2000) alerta para os perigos do aconselhamento de apoio.


Ele faz uma comparação oportuna quando usa o exemplo do aparelho ortopé-
dico. Ele tem a funçãode dar um suporte temporário, contudo, existe o perigo
desse aparelho se tornar uma muleta (no sentido negativo), bloqueando o

TEMAS E PROCEDIMENTOS EM ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ


111

crescimento por meio de uma dependência persistente. É o que acontece, por


exemplo, quando o conselheiro faz alguma coisa que cabe ao aconselhando
fazer. Por isso é fundamental que o conselheiro esteja atento à pessoa e ao con-
texto em que está inserida.

ATIVIDADE DE EXERCÍCIO PRÁTICO DE ACONSELHAMENTO DE


APOIO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Orientações:
1. Você pode apenas refletir tentando visualizar toda essa situação proposta
como cenas que aconteceriam e como você procederia na qualidade de
pastor, por exemplo.
2. A proposta propriamente dita é você e mais duas pessoas ou com mais
outras pessoas, fazerem uma dramatização ou teatralização. Os persona-
gens são apenas dois. Você necessariamente tem que seguir as sugestões
propostas para o exercício. Lembre-se de estudar e revisar os conteúdos
e procedimento do aconselhamento de apoio.
3. Caso queira, faça uso de gravador para ouvir partes desta atividade de
exercício prático de aconselhamento de apoio.

PAPEL DO ACONSELHANDO

Você é a Sra. V., uma viúva de 81 anos, acamada em consequencias de uma queda
que resultou na fratura de um punho e da clavícula. Você mora com seu filho
e a esposa dele. Sua fé foi seriamente posta a prova por seu acidente. Você não
pode compreender por que Deus parece tão distante. Muitas de suas amigas já
morreram e você se sente extremamente solitária. Você sabe que pode não lhe
restar muito tempo de vida (deite-se para assumir esse papel).

Aconselhamento de Apoio
112 UNIDADE V

PAPEL DO PASTOR

Você é o pastor da sra. V. e ela é o membro mais velho de sua congregação. Você
tem um sólido relacionamento pastoral com ela. Enquanto ela fala durante a
visita, você percebe a oportunidade de fazer aconselhamento de apoio como parte
de seu ministério poimênico para com ela. Enquanto você fala, fique atento aos
sentimentos dela e faça com que ela saiba que você está consciente, refletindo o
que você acha que ela está dizendo e sentido. Experimente os métodos de apoio
descritos neste capítulo na medida em que sejam pertinentes. Seja sensível à pos-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sível presença de tensão entre os membros da família.

PAPEL DO OBSERVADOR-MONITOR

Sua função é ajudar a sra. V. e o pastor, aumentar sua consciência do que está
ocorrendo entre eles e sua consciência do tom de sentimentos da relação de
aconselhamento. Sinta-se à vontade para interromper o aconselhamento ocasio-
nalmente a fim de dar sugestões de como ele poderia tornar-se mais proveitoso.
Seja franco. Como observador você perceberá coisas importantes que eles tal-
vez não vejam.

ACONSELHAMENTO EM CASOS DE PERDA PESSOAL

A perda pessoal é uma crise humana universal. O pesar está presente: em todas
as mudanças, perdas e transições importantes na vida, não só por ocasião da
morte de uma pessoa amada.
Diante das perdas que são as mais diversas, Clinebell (2000) propõe um
esquema de cinco tarefas nesse processo e o tipo de ajuda que facilita a realiza-
ção de cada tarefa:

TEMAS E PROCEDIMENTOS EM ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ


113

TAREFA DE ELABORAÇÃO DO PENSAR AJUDA NECESSÁRIA

1. Experimentar o choque, o entorpeci- Ministério de solicitude e presença;


mento, a negação e a gradativa aceitação ajuda prática e conforto espiritual.
da realidade de perda.

2. Experimentar, expressar e digerir senti- Ministério de apoio e escuta


mentos dolorosos, por exemplo, culpa, re- responsiva para estimular catarse
morso, apatia, raiva,ressentimento, anseio, plena.
desespero, ansiedade, vazio, depressão,
solidão, pânico, desorientação, perda da
identidade clara, sintomas físicos etc.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

3. Aceitação gradativa da perda e remon- Ministério de apoio e escuta


tagem da vida da pessoa sem aquilo que responsiva para estimular catarse
se perdeu, tomando decisões e enfren- plena.
tando a nova realidade desaprendendo
antigas maneiras de satisfazer as próprias
necessidades e prendendo novos modos.
Dizer adeus e reinvestir a energia vitale-
moutros relacionamentos.

4. Situar a perda da pessoa em um contex- Ministério de facilitação do cresci-


to mais amplo de sentido e fé; aprender mento espiritual.
com a perda.

5. Dirigir-se a outros que estão experimen- Ministério de capacitação para


tando perdas semelhantes, para ajuda entrar em contato com outros.
recíproca.

É importantíssimo ressaltar que há perdas que podem ser difíceis de serem enfren-
tadas. A ambivalência é esperada, mas quando a pessoa continua, por exemplo,
a superidealizar o falecido, está usando das defesas da negação e repressão. É
necessário que a pessoa saiba entender os sentimentos reprimidos. Clinebell
(2000) destaca alguns perigos:
a) Retraimento cada vez maior de relacionamentos e atividades normais.
b) Ausência de luto.
c) Estado de luto que não tende a se amenizar.
d) Profunda depressão que não desaparece.

Aconselhamento em Casos de Perda Pessoal


114 UNIDADE V

e) Problemas psicossomáticos graves.


f) Desorientação.
g) Alterações na personalidade.
h) Sentimentos de culpa.
i) Indignação.
j) Fobias muito fortes e que não tendem a desaparecer.
k) Perda de interesse na vida.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
l) Fugas constantes por meio de drogas e álcool.
m) Sentimentos de mortificação interior.

Por fim, é importantíssimo ressaltar que o pesar em si não é doença. Trata-se de


um processo normal de cura; somente quando o pesar passa a ser um processo
patológico é que requer aconselhamento ou psicoterapia especializada.

ATIVIDADE DE EXERCÍCIO PRÁTICO DE ACONSELHAMENTO DE


APOIO

Orientações:
1. Você pode apenas refletir tentando visualizar toda essa situação proposta
como cenas que aconteceriam e como você procederia na qualidade de
pastor, por exemplo.
2. A proposta propriamente dita é você e mais duas pessoas, ou com mais
outras pessoas, fazerem uma dramatização ou teatralização. Os persona-
gens são apenas dois. Você necessariamente tem que seguir as sugestões
propostas para o exercício. Lembre-se de estudar e revisar os conteúdos
e procedimento do aconselhamento de apoio.
3. Caso queira, faça uso de gravador para ouvir partes desta atividade de
exercício prático de aconselhamento de apoio.

TEMAS E PROCEDIMENTOS EM ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ


115

PAPEL DO ACONSELHANDO

Se você teve uma perda dolorosa em sua vida dirija-se ao pastor, pedindo que
o ajude. Ou procure mergulhar nos sentimentos de alguém que você conhece
bem e que está em pleno processo de digerir uma perda grave. Desempenhe o
papel daquela pessoa buscando a ajuda do pastor.
Ou você é Jane Carone, uma mulher de uns 45 anos, cujo marido Ricardo
faleceu inesperadamente a 2 meses, de ataque cardíaco. Você sente profunda-
mente a perda e acha quase impossível enfrentar contatos sociais, principalmente
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

na igreja, onde vocês participavam ativamente como casal. Você se sente muito
deprimida e gostaria de se esconder das pessoas.

PAPEL DO PASTOR

Utilize o que você aprendeu nesta unidade sobre a facilitação do trabalho de pesar,
fazendo aconselhamento com um desses membros. Lembre-se da necessidade
que a pessoa tem de ajuda por meio de tarefas específicas de trabalhar o pesar.

PAPEL DO OBSERVADOR-MONITOR

Interrompa a sessão periodicamente para fornecer ao pastor feedback sobre sua


eficiência no processo de elaboração do pesar, principalmente no que tange à
vazão de sentimentos inacabados.

Aconselhamento em Casos de Perda Pessoal


116 UNIDADE V

ACONSELHAMENTO EM CASOS DE CRISE


MATRIMONIAL

Principalmente no contexto religioso, o casamento é tido como uma benção para


a vida amorosa e sexual do homem e da mulher. Contudo, o relacionamento no
contexto conjugal não é tão simples assim, uma vez que quando homem e mulher
se unem produzem uma identidade conjugal própria.
Segundo Clinebell (2000), o homem e a mulher se atraem porque cada um
espera que o relacionamento satisfaça várias necessidades suas. Cada qual traz

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
por dentro do casamento uma constelação singular de necessidades da persona-
lidade. Essas necessidades precisam receber o mínimo de satisfações, para que a
pessoa seja capaz de satisfazer as necessidades do parceiro e dos filhos.
Collins (1995) observa que a origem dos problemas, do ponto de vista bíblico,
é justamente quando o casal se afasta dos princípios bíblicos, os quais são trans-
formados consequentemente em problemas conjugais. Vejamos alguns deles:
a) Comunicação defeituosa – esta é uma das principais causas de discór-
dia conjugal. É quando um não consegue ouvir ou responder ao outro. E
isso se dá pelas mensagens verbais e não verbais, em nosso dia a dia. Por
exemplo, quando um marido que dizer “eu te amo”, para ele fazer isso é
comprar um presente; mas sua esposa não o entende, pois quer ouvir lite-
ralmente as palavras de sua boca.
b) Atitudes egocêntricas defeituosas – se aproximar de alguém é um risco.
Há uma tendência de não nos abrirmos para as críticas e uma possível
rejeição quando permitimos que outra pessoa nos conheça intimamente,
sinta nossa insegurança e perceba nossas fraquezas. É bem mais fácil fazer
críticas ao outro do que aceitar ou reconhecer as atitudes defensivas e ego-
cêntricas que estão provocando tensão.
c) Tensão interpessoal – quando nos casamos, já temos um repertório de
habilidades sociais desenvolvidas, pois temos duas ou três décadas de
vida e já estamos bem “treinados” em um modo de vida, ou seja, em viver
“solteiros”. Quando nos casamos, temos que interagir e buscar conviver
com o outro, e aqui são fundamentais o entendimento e os processos de
síntese para a construção madura de uma conjugalidade. Quando isso
não ocorre e há má vontade porparte de um dos cônjuges certamente os

TEMAS E PROCEDIMENTOS EM ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ


117

problemas conjugais vão aparecer. Esses problemas muitas vezes se con-


figuram nessas áreas: sexo, papéis no relacionamento, religião, valores,
necessidades e dinheiro.
d) Pressões externas – elas acontecem devido a pessoas ou situações, como:
■■ Sogros e filhos que interferem no relacionamento.
■■ Amigos que fazem exigências sobre o tempo do casal.
■■ Crises que interrompem os relacionamentos familiares.
■■ As exigências profissionais.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

e) Tédio – à medida que vão se passando os anos, os casais se estabelecem


na rotina, acostumando-se um ao outro e sem perceber, caminham para
a autoabsorção, autossatisfação e autopiedade, desaparecendo o prazer de
viver a dois. Isso também é desestimulante e rotineiro. Os casais come-
çam a buscar em outros lugares variedades e desafios.

Vejamos, a seguir, os objetivos do aconselhamento de crise matrimonial, con-


forme enumerado por Clinebell (2000), para ajudar os casais a aprenderem como
fazer com que seus relacionamentos proporcionem maior satisfação mútua de
necessidades, fomentando melhor seus crescimentos:
1. Reabrir suas linhas de comunicação bloqueadas e aprender habilidades
de comunicação mais efetivas.
2. Interromper a escalada do ciclo autoperturbador de ataque mútuo e reta-
liação, desencadeado pela frustração profunda das satisfações mútuas de
necessidade.
3. Se conscientizar dos pontos fortes e dos recursos não utilizados em si pró-
prio e em seu relacionamento, os quais pode usar para efetuar mudanças
construtivas em si próprio e em seu matrimônio.
4. Identificar áreas específicas em que crescimento e/ou mudança precisa
acontecer na conduta de cada um, a fim de interromper sua crise e tor-
nar seu casamento mais compensador de necessidades recíprocas.
5. Negociar e então executar planos viáveis e justos de mudanças, nos quais
cada pessoa assume a responsabilidade de mudar a sua parte na intera-
ção entre os dois.

Aconselhamento em Casos de Crise Matrimonial


118 UNIDADE V

6. Experimentar o reavivamento da energia para mudança em esperança


realista. Mudança construtiva gera esperança realista, e esperança gera
mais mudança. São três as maneiras que se manifesta essa esperança no
aconselhamento:
a. capacidade que o casal demonstra empaticamente de mudar e de crescer;
b. conscientização maior dos pontos fortes e dos seus recursos;
c. mudança de comportamento autolesivo dentro de si próprio e entre
os dois.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
7. Descobrir, explorar e até certo ponto exorcizar as raízes subconscientes
ou inconscientes de imagens conflitantes do papel a ser desempenhado e
de necessidades neuróticas aprendidas principalmente pelos pais. Lidar
com fantasias, temores e raiva que comprometem o relacionamento. Pode
haver necessidade de aconselhamento individual entre as sessões do casal.
8. Renegociar e revisar aspectos de maior importância na relação matrimo-
nial que sejam injustos e/ou inviáveis.

Assim como é necessário que o conselheiro disponibilize técnicas e habilidades


para conversar com o aconselhando, também é fundamental que o conselheiro
de casal desenvolva também uma metodologia na primeira sessão para garantir
o sucesso no processo de aconselhamento conjugal. Vejamos os seguintes pro-
cedimentos do conselheiro:
1. Comunicar calor humano, demonstrar solicitude e disposição para aju-
dar, bem como certificar o casal da validade de sua iniciativa de vir buscar
ajuda.
2. Descobrir como cada um está se sentindo por se encontrar ali.
3. Ajudar a motivar o parceiro menos motivado, estabelecendo sintonia com
o mesmo e despertando esperança realista de maior satisfação e menos
dor no casamento.
4. Descobrir a quanto tempo a crise ou os problemas vêm se desenvolvendo.
5. Proporcionar oportunidade comparável para cada pessoa descrever os
problemas do casal.

TEMAS E PROCEDIMENTOS EM ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ


119

6. Após expressar a dor e o sofrimento, descobrir o que cada pessoa


ainda aprecia no casamento e no outro; e quais os pontos fortes e os
recursos potenciais que eles têm para fortalecer seu matrimônio pelo
aconselhamento.
7. Fazer uma escolha provisória (com base nos pontos 2 e 4) entre tentar
aconselhamento de curto prazo para crise matrimonial ou encaminhar
o casal ao terapeuta conjugal.
8. Caso houver sinais de que o aconselhamento de curto prazo provavel-
mente será útil, pedir ao casal que venha a três ou quatro sessões adicionais
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

para poder decidir sobre o encaminhamento.


9. Ajudar o casal a decidir e comprometer-se com certas tarefas a serem efe-
tuadas em casa entre as sessões; alguma pequena ação construtiva que
empreenderão no sentido de contribuir para que o quanto antes seu rela-
cionamento se torne mais satisfatório reciprocamente.
10. Verificar e aceitar, perto do final da sessão, quais sentimentos negativos
que possam ter.
11. Somente use da oração ou de outros recursos religiosos quando for cla-
ramente apropriado para o casal em questão.
12. Após a sessão, reflita sobre o que ficou sabendo e faça planos para ten-
tar ajudar o casal; entre em contato com um colega aconselhador, caso
a situação seja complicada ou confusa.

O trabalho com casais vai bem além da boa vontade ou de boa intenção. É
necessário ter uma metodologia que contribua para a identificação precisa do
que de fato tem gerado conflitos e problemas ao casal. A falta de comunicação
é um dos primeiro sintomas: deixa de haver ou apresenta muitos ruídos, como
se diz na linguística moderna. Vejamos, a seguir, duas propostas de interven-
ção em aconselhamento conjugal, uma elaborada por Clinebell (2000) e outra
por Collins (1995).
A primeira proposta metodológica é de Clinebell (2000); ele a desenvolve
no subitem denominado. “O método de relacionamento intencional ou método
de matrimônio intencional”. Esse método tem quatro passos:

Aconselhamento em Casos de Crise Matrimonial


120 UNIDADE V

Primeiro passo:
Identifiquem e afirmem os pontos fortes do seu relacionamento, contemplando
um de vocês a sentença: “Em você eu aprecio...” tantas vezes quantos puder.
A tarefa de quem ouve é receber esses atributos.
Após ambos ouvirem um ao outro, devem anotar tudo o que ouviram em
um caderno denominado de crescimento.

Segundo passo:
Identifiquem a frente de crescimento da sua relação completando um de vocês a

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sentença: “De você eu preciso...” tantas vezes quantas quiser. Declarem suas neces-
sidades/desejos correspondidos ou parcialmente correspondidos em termos de
comportamento da parte de outro.
Depois de um completar a lista, o outro deve repetir o que ouviu, para garan-
tir que as necessidades foram bem entendidas.
Depois que ambos declararam suas necessidades e verificaram o que um
entendeu do que o outro disse, tirem um tempo para anotar as necessidades de
cada um em seu caderno do crescimento.

Terceiro passo:
Aumentem intencionalmente a satisfação mútua do seu relacionamento e fomen-
tem assim o seu amor, pela escolha de uma das necessidades de cada um (ou
uma necessidade conjugal) a qual vocês corresponderão.
Elaborem um plano concreto e viável, com uma programação cronológica,
de corresponder a essas necessidades.
Anotem também isso em seus cadernos de crescimento.

Quarto passo:
Executem o seu plano de mudança.
Depois escolham outro par de necessidades, elaborando e executando um
plano de supri-las intencionalmente.

TEMAS E PROCEDIMENTOS EM ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ


121

Convém repetir o primeiro passo com regularidade ao colaborarem no sen-


tido de fazer com que seu relacionamento faça mais jus as suas necessidades.
Anotem seu progresso em seus cadernos individuais de crescimento.
Por fim, é importante ressaltar que esse método pode ser aplicado não somente
com casais, mas famílias, amigos, colegas e relacionamentos de equipe de traba-
lho, por exemplo. O objetivo é aumentar a satisfação mútua de necessidades e
assim reduzir frustração e conflitos, como afirma Clinebell (2000).
Collins (1995) apresenta os procedimentos de aconselhamento conju-
gal que tanto o conselheiro pode utilizar quanto o aconselhando em seu livro
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

“Aconselhamento Cristão”; esse método tem quatro estágios, denominadas res-


pectivamente: início; manifestação de problemas básicos; desenvolvimento e
aplicação de soluções e tentativas e final.
Vejamos:

Estágio I – Início
Conselheiro:
■■ Atitudes cordiais e de aceitação.
■■ Mostrar confiança.
■■ Não fazer críticas.
■■ Ajudar a vencer os temores iniciais do aconselhando.
Aconselhando:
■■ Contar suas razões iniciais para a procura de ajuda.
■■ Vencer seus medos e dúvidas relacionados a esta iniciativa.

Estágio II - Manifestação de problemas básicos


Conselheiro:
■■ Suscita questões ou faz comentários para estimular mais pensamentos.
■■ Esclarece tanto as questões como os sentimentos.
■■ Continua a dar apoio e encorajamento.

Aconselhamento em Casos de Crise Matrimonial


122 UNIDADE V

Aconselhando:
■■ Dar mais detalhes por meio da expressão de sentimentos e frustrações.
■■ Aprender a construir um relacionamento de segurança e confiança
com o conselheiro.

Estágio III - Desenvolvimento e aplicação de soluções e tentativas


Conselheiro:
■■ Continua a dar apoio.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■■ Fica alerta quanto a novas informações.
■■ Encoraja e orienta na consideração de soluções e tentativas, tais como
mudanças de atitude, modificação de comportamento, confissão, per-
dão, reavaliação das percepções etc.
■■ Guia e encoraja à medida que as soluções são tentadas, avaliadas e ten-
tadas novamente.

Aconselhando:
■■ Aprender a formular.
■■ Agir com relação a...
■■ Avaliar soluções.
■■ Expressar frustrações e temores.
■■ Experimentar algumas vitórias.

Estágio IV - Final
Conselheiro:
■■ Encorajar a agir independente.
■■ Recapitular o progresso feito no passado.
■■ Expressar sua disponibilidade ao aconselhando caso necessário.

TEMAS E PROCEDIMENTOS EM ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ


123

Aconselhando:
■■ Manifestar dúvidas e temores pelo término do aconselhamento.
■■ Reavaliar o progresso.
■■ Examinar seus recursos espirituais e pessoais.

PROPOSTA DE EXERCÍCIO PRÁTICO DE


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ACONSELHAMENTO DE APOIO

Orientações:
1. Você pode apenas refletir tentando visualizar toda essa situação proposta,
como cenas que aconteceriam e como você procederia na qualidade de
pastor, por exemplo.
2. A proposta propriamente dita é você e mais duas pessoas, ou com mais
outras pessoas, fazerem uma dramatização ou teatralização. Os persona-
gens são apenas dois. Você necessariamente tem que seguir as sugestões
propostas para o exercício. Lembre-se de estudar e revisar os conteúdos
e procedimento do aconselhamento de apoio.
3. Caso queira, faça uso de gravador para ouvir partes desta atividade de
exercício prático de aconselhamento de apoio.

PAPEL DOS ACONSELHANDOS

Requer duas pessoas. Como casal, vocês estão experimentando doloroso con-
flito e frustração em seu relacionamento. Use um relacionamento com o qual
um de vocês dois está bem familiarizado para definir a dinâmica dos papéis.
Procurem a ajuda de seu pastor.

Aconselhamento em Casos de Crise Matrimonial


124 UNIDADE V

PAPEL DO PASTOR

Utilize o que você aprendeu ao ler e refletir sobre esta unidade, Para fazer acon-
selhamento com este casal. Experimente a adaptação do MRI descrito para
aconselhamento neste caso.

PAPEL DO OBSERVADOR-MONITOR

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Procure dar ao pastor feedback sobre o quanto ele se concentra na interação do
casal como diretriz primordial do aconselhamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta unidade, caro aluno, foi desenvolvida com o objetivo de expor uma teoria
da prática em aconselhamento cristão que pudesse atender tanto o conselheiro
quanto o capelão.
Foram expostos procedimentos e técnicas de aconselhamento de apoio, de
perda pessoal e de crise matrimonial.
Também vimos procedimentos e metodologias necessárias para o desem-
penho em Aconselhamento e Capelania Cristã, ou seja, para se ter resultados, é
necessário desenvolver procedimentos que de fato possibilitem uma condição
adequada para o exercício dessas atividades. No caso específico, vimos duas for-
mas de intervenção para agir em casos de crise matrimonial, uma com Collins
(1995) e a outra com Clinebell (2000). A primeira ressaltou os seguintes estágios:
início, manifestação de problemas básicos, desenvolvimento e aplicação de solu-
ções e tentativas e final. A segunda é um método denominado relacionamento

TEMAS E PROCEDIMENTOS EM ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ


125

ou matrimônio intencional, o qual tem como objetivo provocar o aumento da


satisfação mútua de necessidades e assim reduzir frustrações e conflitos por meio
de quatro passos: 1) ouvir e receber esses atributos; 2) neste passo destacam-
se as necessidades/desejos correspondidos ou parcialmente correspondidos em
termos de comportamento do casal; 3) o objetivo neste passo é aumentar inten-
cionalmente a satisfação mútua do relacionamento e fomentar assim o amor,
pela escolha de uma das necessidades de cada um (ou uma necessidade conju-
gal), e isso é feito com a elaboração de um plano concreto e viável, com uma
programação cronológica que corresponda a essas necessidades do casal e 4) após
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

a execução do plano de mudança, deve-se executar outros planos para atender


outra necessidades e assim sucessivamente.
Por fim, observaram-se os comportamentos do aconselhando ou paciente
em situação de crise e como interpretá-los para melhor atuação do conselheiro.

Considerações Finais
A IMPORTÂNCIA DO ACONSELHAMENTO PASTORAL PARA A SAÚDE DA
IGREJA
O físico, matemático e filósofo francês Blaise Pascal, disse que: “Existe no coração do
homem um vazio do tamanho de Deus, o qual, somente Jesus Cristo pode preencher”.
Segundo o estudo da psiquiatra brasileira, Nise da Silveira, religião é compreendida no
sentido de “religar o consciente com certos poderosos fatores do inconsciente” onde o
ponto de conexão é estimulado pela força da experiência com o “numinoso”, conceito
que ela toma da filosofia de Otto.
Esta autora compreende que Jung valida a realidade dos deuses desde que estes “sejam
ou tenham sido atuantes no psiquismo do homem...”, pois, “...há verdades psíquicas que,
do ponto de vista físico, não podem ser explicadas ou demonstradas, nem tão pouco
recusadas.”
Rollo May (2002, p. 172) afirma que “o abuso da religião é o que Freud ataca” sugerindo
com essa colocação que Freud não descarta o fenômeno religioso e sim o abuso dele.
Então, vou partir da compreensão dos autores citados, bem como do autor de referência
que o “re-ligar” com o transcendente (religião) é algo existente e necessário ao homem.
Assim, entendendo religião como um fenômeno complexo, mas inegavelmente a difi-
culdade que parece surgir, segundo a exposição de May, é quando:
Certas pessoas fazem uso da religião como meio para se apoiarem num estado interme-
diário de desenvolvimento, construindo para si um ninho de falsa segurança e proteção
em que possam ver a vida como proteção doce e cor-de-rosa que cuida de todos os ver-
dadeiros crentes...

E é exatamente neste ponto que há de se definir a prática da “...religião autêntica ou


seja, uma afirmação fundamental do sentido da vida...”, ou uma ação perigosa que leva
o indivíduo aos “bosques” de ilusão, incapazes de aceitar a si e a humanidade, nunca
chegando a encontrar o caminho da verdadeira segurança.
O reconhecimento desta realidade, qual seja, a prática da religião autêntica ou neurótica
por parte do devoto vai definir a qualidade e saúde da Igreja. A religião para ser válida
contrária a ansiedade neurótica, conduzindo o indivíduo a um nível de ansiedade equi-
librado que lhe permita segurança e personalidade estável, longe de paralisias e pânicos
pessoais, como tende ocorrer com aqueles que utilizam a religião como “amuletos” de
suas neuroses.
Entendo que o religar precisa responder ao homem ao menos as seguintes questões:
De onde viemos? Para que vivemos? Para onde iremos? Como chegaremos lá? Aceito
estas como sendo as maiores crises existenciais do homem. O homem equilibrado que
aceita a si e ao mundo e que, confiantemente responde estas perguntas através daquilo
que crê, alcança a realização humana em sua plenitude. Devo destacar, que sou cristão
126 - 127

e, baseado na fé que pratico, admito a existência de um só caminho que torna o homem


religado a Deus e pleno em sua jornada humana – o caminho do nazareno!

O Aconselhamento Pastoral para a Saúde da Igreja


Roger F. Hurding (1995, p. 36) define aconselhamento como “uma atividade com o ob-
jetivo de ajudar aos outros em todo e qualquer aspecto da vida, dentro de um rela-
cionamento de cuidado”, salientando que este modelo de ajuda ao indivíduo coloca o
aconselhamento num quadro bastante amplo.
Aconselhamento Pastoral pode ser descrito como uma atividade onde o líder espiritual
promove entre os fiéis, individualmente ou em grupo, o estímulo às respostas daqueles
que lhe pedem ajuda, para que eles possam resolver aspectos das suas vidas, prática e
religiosa, bem como as questões de caráter existencial que os condicionam, incomodam
ou os fazem sofrer.
Isto significa exortar o crescimento da personalidade, ajudando o fiel a enfrentar com
eficácia às questões pertinentes aquilo que professa, sobretudo o confronto da fé com
os problemas da vida, os conflitos íntimos, os desequilíbrios emocionais, oferecendo
encorajamento para os que precisam lidar com decepção, com a perda, assim como dar
assistência às pessoas cujo modelo de vida lhe cause infelicidade e decepção.
Através do aconselhamento pastoral se tem a possibilidade de descobrir com cada in-
divíduo que compõe a Igreja, diferentes situações de vida e especialmente em conflitos
e crises, o verdadeiro significado da liberdade que a fé oferece, conduzindo-os a uma
saudável relação com Deus, consigo mesmo e com o próximo, de uma maneira cons-
ciente e adulta.
Na jornada do aconselhador/pastor, creio que sua maior tarefa é o tratamento dessas
tensões interiores complexas existes em cada indivíduo ou grupo, que sempre interfe-
rem na saúde da Igreja. Promover a libertação das atitudes inadequadas e distorcidas
através do aconselhamento realizado com recurso da palavra de Deus, adicionados
dos recursos da experiência, pedagogia, psicologia como complementares instru-
mentos de ajuda, vai ser fundamental para que a comunidade religiosa se desenvolva
de maneira saudável.
É bíblico entender o homem como um ser integral, completo, composto de corpo,
alma e espírito. Entendo que o aconselhamento pastoral é um meio bastante razoá-
vel e de vital importância para provocar A LIBERDADE INTEGRAL DO INDIVÍDUO OU
GRUPO, porque, o aconselhamento, tem condições de identificar se realidade vivida
pela religião é autentica ou não, oferecendo, por conseguinte, meios de ajustá-la a sua
verdadeira essência.

Alan P. Silva
Fonte: <http://alanps.blogspot.com.br/2009/03/aconselhamento-pastoral-para-saude-da.
html >. Acesso em: 09 dez. de 2015..
1. O sentimento de ser abandonado ou estar só, guardadas as devidas proporções,
pode representar de fato uma necessidade circunstancial. Cabe tanto ao con-
selheiro como ao capelão, quando exerce também o aconselhamento, apoiar
aquele que sofre. Diante disso, cite e explique três procedimentos sugeridos por
Clinebell (2000) que devem ser realizados pelo conselheiro, no ato do aconselha-
mento de apoio, que você compreende como sendo os mais importantes.
2. Assim como o aconselhando pode desenvolver comportamentos inadequados,
o conselheiro também. Aponte os perigos que podem surgir no aconselhamen-
to de apoio e que devem ser evitados.
3. O luto é um processo próprio de todo aquele que vive uma relação. A morte de
um ente querido é um dos exemplos mais apropriados de luto. Não vivenciá-lo
pode ser uma das formas de negação da pessoa que sofre além do que pode
suportar. Por isso, cabe ao conselheiro desempenhar seu papel como suporte
nessa situação. Posto isso, os comportamentos de perda em um aconselhando
devem ser entendidos como uma doença? Sim ou não? Explique e justifique a
sua resposta.
4. É importante ressaltar que quando uma pessoa procura ajuda ela pode não reu-
nir condições para se expressar adequadamente. E, ainda, se procura ajuda é
porque não consegue identificar as suas necessidades e tratá-las. Por isso, cabe
ao conselheiro desenvolver técnicas que deem conta de ajudar o aconselhando
a falar. Elabore um texto, entre 5 e 10 linhas, que explique como ajudar um acon-
selhando se expressar da melhor forma.
5. Ao longo dos nossos estudos vimos algumas técnicas de intervenção em acon-
selhamento, dentre elas, no aconselhamento conjugal. Foi também ressaltado
que um dos significativos problemas está na comunicação. Explique e exempli-
fique em qual situação deve ser usado o Método Matrimonial (relacional) Inten-
cional – MMI, de Clinebell (2000).
128 - 129

MATERIAL COMPLEMENTAR

Aconselhamento Pastoral
Este link remete você, caro aluno, ao livro digitalizado de Aconselhamento Pastoral de Clinebell.
Esta obra é um clássico da literatura em aconselhamento pastoral.
https://books.google.com.br/books?id=vYIK7NvMMbEC&printsec=frontcover&d
q=aconselhamento+pastoral+clinebell&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwifje2EyM_
JAhULkpAKHa5lBQoQ6AEIHTAA#v=onepage&q=aconselhamento%20pastoral%20
clinebell&f=false
Acesso em: 09 dez. de 2015.

Material Complementar
130 - 131

CONCLUSÃO

Chegamos ao final dos nossos estudos, caro aluno. Acredito que o nosso percurso
cobriu teoricamente os principais temas sobre as duas áreas estudadas, Aconselha-
mento e Capelania Cristã.
Na unidade I, fizemos um passeio no mundo bíblico e teológico sobre os temas: Dia-
conia, Ministério, Cuidado e Poimênica, e assim demos fundamentos imprescindíveis
ao Aconselhamento e Capelania Cristã. Ou seja, apontamos que o serviço cristão é
também expressado nessas atividades de ajuda a todos aqueles que necessitam.
Na Unidade II, de forma introdutória, assinalamos as origens históricas, os aspectos
fundamentais das teorias, as atitudes e os objetivos principais em Aconselhamento
e Capelania Cristã.
Na Unidade III foram tratadas as propostas, técnicas e comportamentos em Aconse-
lhamento Cristão. Aqui listamos os procedimentos adequados, a natureza, e vimos
ainda as técnicas de intervenção em Aconselhamento Cristão sob os métodos dire-
tivo e não diretivo.
Na Unidade IV foi o momento de tratar do perfil e do papel do conselheiro e capelão
e em contrapartida destacamos atitudes inadequadas do conselheiro cristão. Aqui
nosso objetivo foi conscientizar a todos nós que um conselheiro e um capelão têm
competências necessárias para serem desenvolvidas em suas atividades.
Por fim, na Unidade V, estudamos teorias sobre temas atuais e recorrentes em acon-
selhamento de apoio, de perda pessoal e de crise matrimonial. Identificamos os
comportamentos do aconselhando ou paciente em situação de crise, bem como os
procedimentos e metodologias necessárias para um bom desempenho em Aconse-
lhamento e Capelania Cristã.
132 - 133

REFERÊNCIAS

BARRIENTOS, A. Trabalho Pastoral: Princípios e Alternativas. Campinas: Cristã Uni-


da, 1991.
BARROS, M. Estudo sobre Capelania. (texto não publicado – apostila), 2008.
BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Barueri:
Sociedade do Brasil, 2000.
BRISTER, C. W. El Cuidado Pastoral en la Iglesia. Rio de Janeiro: Casa Bautista de
Publicaciones, 1980.
CASERE, D. Psicologia e Aconselhamento Pastoral. São Paulo: Paulinas, 1985.
CASTRO, E. Pastores del Pueblo de Dios en America Latina. Buenos Aires: La aurora,
1974.
CLINEBELL, H. J.; SCHLUPP, Walter O.; SANDER, Luís M. Aconselhamento Pastoral:
modelo centrado em libertação e crescimento. São Paulo: Paulus, 2000.
CLINEBELL, H. J. Los Elementos Comunes a Todo Tipo de Asesoramiento. In: Simpósio
de Psicologia Pastoral. Buenos Aires: La aurora, 1976.
COELHO FILHO, I. G. O Perfil e Atributos do Conselheiro Bíblico. Disponível em:
<http://www.isaltino.com.br/2011/11/o-perfil-e-atributos-do-conselheiro-bibli-
co/>. Acesso em: 27 dez. 2011.
COLLINS, G. R. Aconselhamento Cristão. São Paulo: Vida Nova, 1995.
_________. Ajudando Uns aos Outros pelo Aconselhamento. São Paulo: Vida
Nova, 1993.
CUNHA, G. P. Aconselhamento Cristão. Disponível em: <http://www.lideranca.org/
cgi-bin/index.cgi?action=viewnews&id=82>. Acesso em: 27 dez. 2011.
FLOR, A. V. Possibilidades da Gestalterapia no Aconselhamento Cristão. 2004.
Dissertação (Mestrado em Teologia) – Escola Superior de Teologia, São Leopoldo,
2004.
Gentil RC, Guia BPG, Sanna MC. Organização de serviços de capelania hospitalar: um
estudo bibliométrico. Esc. Anna Nery. 2011.
GENTIL, R. C.; Guia, B.; Sanna, M. C. Organização de serviços de capelania hospi-
talar: um estudo bibliométrico. Esc. Anna Nery. v. 15, n. 1, p. 162-170, jan/mar. 2011.
HOEPFNER, D. Fundamentos Bíblico-Teológicos da Capelania Hospitalar: Uma
contribuição para o cuidado integral da pessoa. 2008. Dissertação (Mestrado em
Teologia) – Escola Superior de Teologia, São Leopoldo, 2008.
LINO, J. M. B. Os desafios do counselling pastoral na perspectiva da abordagem cen-
trada na pessoal. A Pessoa Como Centro – revista de estudos rogerianos, Lisboa:
APPCPC, n. 2, p. 29-36, out./nov. 1998.
REFERÊNCIAS

MANNÓIA, V. J. Aconselhamento Pastoral. São Bernardo do Campo: Imprensa Me-


todista, 1985.
OLIVEIRA, R. M. K. Cuidando de Quem Cuida. 2004. Dissertação (Mestrado em Teo-
logia) – Escola Superior de Teologia, São Leopoldo, 2004.
PEREIRA, E. S. Benefícios do Aconselhamento Pastoral Aliado a Práticas da Psi-
coterapia. 2007. Monografia – Centro Universitário de Maringá, 2007.
SAAD, M.; NASRI, F. Grupos de Religiosidade e Espiritualidade. In: Psicologia e Hu-
manização – Assistência aos pacientes graves. São Paulo: Atheneu, 2008.
SATHALER-ROSA, R. Cuidado Pastoral em Tempos de Insegurança: uma herme-
nêutica contemporânea. São Paulo: Aste, 2004.
SCHIPANI, D. S. O Caminho da Sabedoria no Aconselhamento Pastoral. São Leo-
poldo: Sinodal, 2004.
SCHIPANI, D. S. El Consejo Pastoral Como Practica de Sabiduria. Revista Pistis & Prá-
xis: Teologia e Pastoral: Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, v. 3, n.
2, jul./dez. 2011.
SILVA, A. C. A Capelania Hospitalar: uma contribuição na recuperação do enfermo
oncológico. 2010. Dissertação (Mestrado em Teologia) – Escola Superior de Teologia,
São Leopoldo, 2010.
SILVA, D. G. Capelania Hospitalar e a Terapia da Enfermidade: uma visão pastoral.
2010. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Universidade Presbiteriana
Mackenzie, São Paulo, 2010.
SZENTMÁRTONI, M. Introdução à Teologia Pastoral. São Paulo: Loyola, 1999.
TINAO, D. Simpósio de Psicologia Pastoral. Buenos Aires: La Aurora, 1976.
ZABATIERO, J. P. T. Fundamentos da Teologia Prática. São Paulo: Mundo Cristão,
2005.
135
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES

Você também pode gostar