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As Setenta Semanas de

Daniel
fevereiro 25, 2008

(autor: Bispo José Ildo Swartele de Mello)

Primeiramente gostaria de ressaltar que em nenhum


lugar no livro de Daniel ou em qualquer outra passagem
da Bíblia encontramos qualquer menção de que exista
um lapso, um intervalo ou um parêntesis entre a
sexagésima-nona e septuagésima semanas da profecia
de Daniel. Pelo contrário, Daniel profetiza: “Mas, nos dias
destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não
será jamais destruído; este reino não passará a outro
povo, esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele
mesmo subsistirá para sempre. Como viste que do monte
foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, e ela
esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o outro. O
Grande Deus faz saber ao rei o que há de ser
futuramente...” (Dn 2.44,45).

Demonstrarei que a profecia das 70 Semanas de Daniel é


hoje muito mais profecia realizada do que escatologia
futura.

O profeta Daniel estava com seu povo no exílio


babilônico. Ele estava estudando as profecias de
Jeremias que previam que o exílio duraria 70 anos (Dn
9.2). Visto que o prazo dos 70 anos de exílio estava se
cumprindo, Daniel, consciente de que o exílio havia sido
uma punição de Deus por causa dos pecados de Israel,
começa a interceder pedindo perdão a Deus em nome do
seu povo, na esperança de que o castigo de Israel
estivesse para acabar com o final dos 70 anos de
cativeiro. A oração de Daniel é ouvida (Dn 9.20-23). Mas,
para sua surpresa, ele recebe uma visão de que 70
Semanas estavam determinadas para a realização de seis
benefícios favoráveis a Israel que se realizariam na
pessoa do tão esperado Ungido ou Messias.

Em Daniel 9.24, temos os seis propósitos da visão das


70 Semanas:

`. Para fazer cessar a transgressão;


a. Para dar fim aos pecados;
b. Para expiar a iniquidade;
c. Para trazer a justiça eterna;
d. Para selar a visão e a profecia; e
e. Para ungir o Santo dos Santos.

Todas as correntes teológicas concordam que 70


semanas equivalem a 490 anos, entendendo que cada
dia da semana correspondem a um ano (Gn 29h27; Lv
25h8; Nm 14h34; Ez 4h4-6). As 70 Semanas estão dividas
em três períodos (v.25): 1. Sete Semanas (7x7=49 anos)
de reedificação; Seguidas por: 2. Sessenta e duas
semanas (62x7=434 anos); seguida do terceiro e último
período: 3. Uma semana (1x7=7 anos) - O v. 26 diz que
“após” as sessenta e duas semanas, ou seja, já dentro da
última semana, será assassinado o ungido. E, em
decorrência da morte do ungido, ocorreria a destruição
de Jerusalém e do templo por um povo de um príncipe
que haveria de vir (Dn 9.26); período em que surge o
assolador (v.27); Por fim, a visão de Daniel termina com o
assolador recebendo o merecido juízo de Deus.

457 A.C. foi o ano em que o rei Artaxerxes decretou que


os judeus podiam retornar a Jerusalém para reconstruir a
cidade e o Templo (Ed 7h12-26). Se contarmos 483 anos
a partir dessa data, chegaremos ao ano 26 d.C. Sabemos
que Jesus nasceu no ano 4 a.C., então, ele tinha 30 anos
em 26 D.C., ocasião em que foi batizado e iniciou seu
ministério terreno. Três anos e meio depois, Jesus foi
crucificado. Em termos proféticos, tamanha precisão,
embora não necessária, é realmente impressionante! É
também dito que o Messias “fará firme aliança com
muitos, por uma semana; na metade da semana, fará
cessar o sacrifício” (Dn 9.26–27). Ao fim desses três
anos e meio, Jesus deu a Sua vida em uma Cruz.
Sabemos que Jesus estabeleceu a Nova Aliança por meio
do seu sangue derramado na cruz. Ele disse: “Este é o
cálice da nova aliança no Meu sangue” (1Co 11h24-25).
Com sua morte, Jesus tornou-se o Cordeiro de Deus que
tira o pecado do mundo, pondo assim fim ao sacrifício e
as ofertas de manjares, que eram sombras da realidade
que nele encontram plena realização (Hb 8 e 9).

Três anos e meio após a morte de Cristo, ou seja, 490


anos após o decreto de Artaxerxes, tivemos a morte do
primeiro mártir cristão, Estevão (At 7h59-60). Lucas fez
questão de registrar que o próprio sumo sacerdote
esteve presente, liderando o grupo de religiosos judeus
que rejeitou o Evangelho de Cristo pregado por Estevão e
o condenou a morte (At 7h1). A morte de Estevão é um
verdadeiro marco, pois, a partir daí, temos a conversão
de Saulo que será levantado como Apóstolo aos Gentios
(At 9h1-6; 26h15-18). Na sequência, Deus desperta Pedro
para a evangelização dos gentios! (At 10). As setenta
semanas de favor de Deus para com Israel encerraram-
se com a morte de Estevão. A partir daí a pregação do
Evangelho se volta para os gentios: “Então, Paulo e
Barnabé, falando ousadamente, disseram: Cumpria que a
vós outros, em primeiro lugar, fosse pregada a palavra de
Deus; mas, posto que a rejeitais e a vós mesmos vos
julgais indignos da vida eterna, eis aí que nos volvemos
para os gentios. Porque o Senhor assim no-lo
determinou: Eu te constituí para luz dos gentios, a fim de
que sejas para salvação até aos confins da terra. (At
13.46–47).
A profecia de Daniel não diz que o Assolador viria
exatamente no final das Setenta Semanas, como parte
dela, podendo ser entendido como consequência dos
eventos dela, principalmente, a morte do Ungido.
Portanto, em decorrência de Israel ter rejeitado seu
Messias, Jerusalém seria cercada por seus inimigos e
destruída, o que aconteceu algumas décadas depois,
ainda naquela geração, exatamente como profetizou
Jesus no final do capítulo 23 de Mateus.
Portanto, não existe nada no texto de Daniel que indique
algo como um intervalo ou paralisação do relógio
profético. Vemos que tais profecias são hoje mais
história, do que profecias apocalípticas a respeito de dias
ainda futuros, pois Jesus veio como Rei de Israel e
estabeleceu a nova aliança que fôra profetizada por
Jeremias. Jesus foi e é a única esperança de Israel. Na
sua primeira vinda, Cristo cumpriu todos os seis
propósitos da visão das 70 Semanas de Daniel. A
Segunda Vinda de Cristo não será o início da
septuagésima semana de Daniel, mas, sim, a
consumação final da era presente. O Reino de Deus não
foi postergado, mas já foi inaugurado por Jesus Cristo em
Sua primeira Vinda, noa dias do Império Romano,
exatamente como predito pelo profeta Daniel: "Mas, nos
dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que
não será jamais destruído; e esse reino não passará a
outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses reinos e
será estabelecido para sempre" (Dn 2.44).
As palavras de Jesus registradas no Evangelho de Lucas
revelam que a destruição de Jerusalém não traria o fim
da era presente, pois Cristo afirmou que os judeus
sobreviventes seriam levados cativos para todas as
nações e disse ainda: "até que os tempos dos gentios se
completem, Jerusalém será pisada por eles." (Lc 21.24).
Maravilho é notar que tudo aconteceu e tem acontecido
conforme profetizado por Jesus. A cidade e o templo
foram destruídos naquela geração e os judeus
sobreviventes foram levados cativos e a cidade passou a
ser pisada por gentios. É possível que os tempos dos
gentios (sua evangelização) tenham se cumprido, pois os
judeus regressaram a Jerusalém. Em 1948, Israel foi
reconhecido como nação. Sinal dos tempos! Cristo em
breve virá!

Quando, porém, virdes Jerusalém


sitiada de exércitos, sabei que está
próxima a sua devastação. Então, os
que estiverem na Judeia, fujam para
os montes; os que se encontrarem
dentro da cidade, retirem-se; e os
que estiverem nos campos, não
entrem nela. Porque estes dias são
de vingança, para se cumprir tudo o
que está escrito. 23 Ai das que
estiverem grávidas e das que
amamentarem naqueles dias!
Porque haverá grande aflição na
terra e ira contra este povo. Cairão a
fio de espada e serão levados
cativos para todas as nações; e, até
que os tempos dos gentios se
completem, Jerusalém será pisada
por eles." (Lc 21.20–24).

Portanto, a destruição de Jerusalém não representa o fim


desta era presente, porque Jesus disse que depois disto,
Jerusalem seria pisada pelos gentios até que os tempos
deles se completassem e ele também ensinou que era
necessário que o Evangelho fosse pregado a todas as
nações antes de Sua Segunda Vinda (Mc 13.10). Estamos
na era da Igreja. De Jerusalém a Igreja se espalhou para
todas as nações! (Cl 1.23 e 1Ts 1.8). As portas do inferno
não prevalecerão contra a Igreja, que tem sido capaz de
cumprir cabalmente sua missão de fazer discípulos de
todas as nações (Mt 28.18-20) para que "os tempos dos
gentios se completem" (Lc 21.24). Paulo a isto se referia
quando disse "que veio endurecimento em parte a Israel,
até que haja entrado a plenitude dos gentios. E, assim,
todo o Israel será salvo" (Rm 11.25–26). O Apocalipse
revela uma visão gloriosa do Israel de Deus pleno como
"grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas
as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono
e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas,
com palmas nas mãos (Ap 7.9). Aí, então, Cristo voltará e
se cumprirá esta outra magnifica visão de Daniel: "Eu
estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que
vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem,
e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele.
Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os
povos, nações e homens de todas as línguas o
servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não
passará, e o seu reino jamais será destruído." (Dn 7.13–
14).

Leia também a interpretação da profecia de Zacarias 14


em http://escatologiacrista.blogspot.com.br/2017/08/a-
interpretacao-da-profecia-de-zacarias.html

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