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O ser humano, ao nascer, é programado para a fala, como sua forma de interagir com o outro.
Na escola, tentamos convencer os alunos de que a escrita também é algo natural, assim como a fala,
porém a escrita tem outra natureza, derivando de uma construçã o social.

Sabemos que na base de sua constituiçã o, o homem nã o precisa da escrita.


A linguagem proporciona ao ser humano a capacidade de falar e produzir grafismos, mas nã o a
escrita propriamente, que só surgiu milhares de anos depois
Ao discutir o processo de alfabetizaçã o, busco aproximaçã o das escritas produzidas por seus
estudantes, no intuito de compreender as formas de pensamento que levam a cada tipo de escrita.
Com esta afirmaçã o, ressalto que cada escrita tem uma motivaçã o diferente e que este processo
se dá de maneira diferenciada em cada sujeito.
A Língua Materna nã o precisa ser ensinada formalmente, pois é apreendida através de
mecanismos inatos, a partir das vivências do sujeito, ao longo de sua vida. A Língua Escrita, como
um conjunto de registros formais, nã o é intuitiva e, normalmente, para sua aquisiçã o é necessá rio
alguém que a ensine.

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Muitas vezes, quando apontamos os erros de um texto, nã o discriminamos o texto, mas sim o
sujeito que o produziu.
no entanto, pode ser aproveitado como um ponto de partida para que o professor compreenda
a forma como o aluno pensa e, partindo disto, elaborar sua pró xima conduta de intervençã o.
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Os princípios utilizados por um sujeito na organizaçã o da fala sã o completamente diferentes


dos que o sujeito precisa para organizar a escrita, compreendida, conforme abordado na seçã o
anterior, como um sistema de có digos que ele precisará desvendar e que exigirá do sujeito novas
formas de organizar o pensamento
Como linguagem verbal, tem-se a língua oral, falada, também chamada como língua materna e
que dá origem a uma gramá tica natural. Também como parte da linguagem verbal, tem-se a língua
escrita, geradora de sistemas artificiais e, portanto, de uma língua artificial que se encaminhou à
exigência de uma gramática teó rica.
Por muito tempo, teve-se a ideia de que à escola caberia ensinar a falar certo e os registros
orais começaram a ser valorizados a partir da década de 1980.
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A intervençã o em erro na escrita, só se faz eficaz nesta perspectiva, quando parte da gramá tica
do aluno. Assim, a gramática que deveríamos ensinar aos alunos é aquela que os faz pensar na
gramá tica teó rica a partir de sua gramá tica natural e que seria, portanto, uma prá tica reflexiva
Nos aproximamos entã o da elaboraçã o da gramá tica artificial quando o objeto da linguística
muda do pensamento para a frase falada, pois, para os gregos, a fala correta leva ao pensamento
correto - o que deriva uma relaçã o equivocada entre fala e pensamento.

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Logo, quando avaliamos o falar de alguém como errado, o que está implícito é que ele
nã o fala igual a mim e isto gera o que Bagno chama de preconceito linguístico.

Nas salas de aula de alfabetizaçã o torna-se um erro ensinar aos alunos que a escrita
representa a fala, pois quando o aluno produz um texto a partir da tentativa de codificar a
fala na escrita, ele tende a cometer muitos erros

A escrita, contudo, sofre com a rigidez de suas normas estamentais, de maneira que um
texto escrito, de certo modo, contraria à expectativa natural de comunicaçã o humana.

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Ocorre que no bilinguismo13 fala-escrita, a tendência é que a língua falada prevaleça.
Ela é muito forte porque faz parte da constituiçã o do sujeito desde o início de sua vida e,
por isso, acaba aparecendo em algum momento, mesmo quando o sujeito pretende fazer
uso de outra língua - no caso, a escrita

Estes sujeitos, tantas vezes excluídos socialmente, acabam por estabelecer, cada vez
mais, uma relaçã o distanciada com tudo aquilo que é relativo à formalidade, como a escola
e a escrita. Assim afirma Bagno:

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O preconceito linguístico se passa também quando estabelecemos uma dificuldade de
tolerâ ncia entre diferentes manifestaçõ es de escrita. Especialmente, quando nã o nos
interessamos em entender a origem de cada escrita que o aluno produz, o porquê de cada
acerto e de cada erro.

Segundo Senna, o preconceito linguístico nã o tem a ver com minorias numéricas, mas
sim com o que é considerado como de menor valor e é preconceito porque diz respeito a
algo que nã o pode ser modificado, como cor, sotaque e língua.

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Conforme os alunos vã o conseguindo dominar um pouco mais o có digo alfabético
passamos a nos preocupar com as questõ es ortográ ficas e estruturais da escrita e passamos a
dizer aos mesmos alunos que aquilo que ele produz nã o serve como escrita.

Todavia, alguns autores perseveram na hipó tese de que a escrita pretende representar a
fala.

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