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Anteprojeto
RESUMO
Tendo como referência esta abordagem mais ampla, o estudo a ser desenvolvido
buscará se aprofundar no campo da Geografia a partir do conceito de Paisagem – trazendo
como recorte a Paisagem Sonora –, que, em diálogo transdisciplinar com as referidas áreas,
trará questões sobre realidade e representação, construção de identidades, relações entre
memória e tradição oral, ancestralidade afrodescendente e o processo de elaboração de
narrativas de afirmação cultural no contexto do fortalecimento comunitário para defesa de
territórios negros / quilombolas.
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Palavras-Chave
Neste sentido afirmamos o intuito de ampliar a reflexão sobre som dentro do campo
geográfico pensando esta dimensão enquanto elemento componente do espaço vivido em uma
perspectiva material, inicialmente. A partir do aprofundamento do conceito de Paisagem em
suas diferentes abordagens e em diálogo com outras áreas do conhecimento chegamos à
perspectiva simbólica e a uma problematização sobre o predomínio da concepção mais
difundida de paisagem, relacionada ao espaço de visão de um observador ou sua percepção
sobre o mesmo; e a importância de ampliar as possibilidades de observação / representação
através da percepção pelos demais sentidos, no nosso caso, a audição. Afinal, a construção de
uma paisagem, como diz Marcelo Lopes de Souza, “vai ou pode ir além da face visível do
espaço e, com isso, simplesmente designar uma porção da superfície da terra sem estar
excessivamente amarrada ao aspecto visual” (SOUZA, 2015:45).
2. JUSTIFICATIVA
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Este contato representou uma abertura para novas ideias, que entraram em conexão
com nossa atuação social, traçando pontes e possibilidades de aplicação em espaços de
negritude da região sul do país. Desta maneira, a presente reflexão sobre paisagens sonoras e
construção de identidade negra/quilombola nos chega como fruto de um embasamento teórico
selecionado em geografia para abordagem prática e vivencial da escuta em espaços de
negritude. Boa parte da reflexão veio de exercícios de escuta e de experimentos práticos de
captação de som que temos realizado em algumas comunidades quilombolas e casas de
religião de matrizes africanas do estado do Rio Grande do Sul.
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e geograficamente até os dias de hoje têm impacto no acesso, indução e construções de
mentalidades.
Desta maneira, a relação que propomos ao observar, a partir das paisagens sonoras, as
relações sociais dentro dos quilombos, espaços de negritude marcados por conflitos
territoriais, dialoga com a linha de pesquisa Análise Territorial do POSGEA/IGEO/UFRGS
ao ressaltar a importância de conhecer o Lugar para entendê-lo e ao seu grupo social. Com
isso, e atentando aos índices de suas trajetórias e ancestralidade, podemos, assim, sugerir
construções dialógicas de representação positiva destas comunidades cuja retórica seja
consciente sobre sua intencionalidade, fortalecendo, assim, as identidades locais e,
consequentemente, as afirmações em defesa dos territórios através da luta antirracista, seja no
contexto urbano ou no contexto rural.
3. OBJETIVOS
3.1. Geral
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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De nossa leitura de Paul Claval em sua Epistemologia da Geografia, nos interessa
bastante seu comentário, dentro de um apanhado histórico deste campo, sobre o
desenvolvimento de uma abordagem de geografia como ciência de observação. O autor, no
entanto, aponta critérios quando diz que “... a paisagem só fala para aquele que aprendeu a ler.
Para ver as realidades sociais, o olhar deve estar formado” (CLAVAL, 2014: 68-69). Ao que
somamos a atenção ao ouvir estas realidades, a escuta também pode ser aprimorada.
Retomando nossa experiência prática com as narrativas de OuvidoChão, anteriormente
citadas, reafirmamos aqui uma sintonia com a abordagem fenomenológica utilizada neste
experimento, surgida inicialmente de maneira empírica. No entanto a partir da leitura, à
época, de Taiane do Nascimento e Benhur Costa, aprofundamos nossa abordagem tomando
como referência esta corrente de pensamento filosófico/científico (NASCIMENTO; COSTA,
2016).
Desta maneira, com base nas leituras citadas, fomos chegando a conceitos como os de
intersubjetividades (interessante para trabalhar relações comunitárias), que podem ser
acessados nas palavras dos autores (TORRES, M. A.; KOZEL, S., 2010); (MALANSKI,
2017); (NASCIMENTO; COSTA, 2016). A partir deles, também encontramos caminhos para
trabalhar as sonoridades nas dimensões Física (percepção sonora, espaço acústico, definição
sonora em meios urbanos e rurais); Simbólica (Comunicação, Semiótica, Gestalt); e Espiritual
(Sagrado) (Ancestralidade, Cosmovisões). Articulando estas dimensões a partir do elemento
sonoro pretendemos abordar, também, as relações entre fluxos territoriais, trânsitos simbólico-
culturais e as formas de reconfiguração e ritualização da ancestralidade no assentamento dos
Lugares-Territórios.
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Estes são alguns dos argumentos e noções que procuraremos trabalhar ao longo do
desenvolvimento do projeto para fundamentarmos as relações entre paisagens sonoras na
perspectiva geográfica, propondo também uma transdisciplinaridade com as artes, design e
comunicação. Buscaremos desenvolver o pensamento sobre o como o processo de
representação de determinada realidade pode ser amadurecido não apenas através de um olhar
sobre o real, como também a partir de uma escuta sensível sobre determinada localidade e
sobre suas formas de interação com o regional e o global.
5. METODOLOGIA
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O procedimento utilizado nesta investigação se baseará no aprofundamento das
seguintes etapas:
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. São Paulo:
Ed. da USP, 2006.
SCHAFER, Raymond Murray. A Afinação do Mundo. 2. ed. São Paulo: Editora Unesp,
2011.
_________. O Ouvido Pensante. 2. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2011.
SOUZA, Marcelo Lopes de. Os Conceitos Fundamentais da Pesquisa Sócio-Espacial. Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil, 2015.
TORRES, Marcos. A.; KOZEL, Salete. Paisagens sonoras: possíveis caminhos aos estudos
culturais em geografia. R. RA´E GA, Curitiba, n. 20, p. 123-132, 2010. Editora UFPR.
Referências Eletrônicas:
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