Você está na página 1de 17

1.

INTRODUÇÃO

A lei de Raoult diz que, em um sistema de dois componentes por exemplo, a razão
entre a pressão parcial de vapor de um componente A e a pressão de vapor desse
componente A puro é aproximadamente a fração molar de A. 1 O mesmo vale para
um componente B. Sendo assim, tem-se as equações 1 e 2, nas quais pA e pB são
as pressões parciais de vapor de A e B, respectivamente, BpA* e p * são as
pressões parciais de A e B puros, respectivamente, e, por fim, xA e xB, que são as
frações molares dos componentes indicados.

𝑝𝐴 = 𝑥𝐴𝑝∗𝐴 (1)

𝑝𝐵 = 𝑥𝐵𝑝∗𝐵 (2)

Sabendo-se que a pressão total é a soma das pressões parciais, é possível


chegar na equação 3.
𝑝 = 𝑥𝐴𝑝∗ + 𝑥𝐵𝑝∗ (3)
𝐴 𝐵

Essas expressões mostram que as pressões parciais de vapor dos componentes


de uma solução de dois líquidos voláteis estão relacionadas com a composição da
solução líquida. As misturas que obedecem a Lei de Raoult sobre todo intervalo de
composição são chamadas de soluções ideais. 1 A figura 1 apresenta um diagrama
de fases em termo de temperatura contra fração molar de metanol para um
sistema metanol-água, exemplificando um caso que segue a Lei de Raoult.

Figura 1. Diagrama de fases de um sistema metanol-água em termos de temperatura contra fração


molar de metanol.

(FONTE: REIS, 2012.)


Existem situações, entretanto, de sistemas que sofrem desvios da Lei de Raoult,
sejam negativos ou positivos. Em casos de grande desvio positivo, as moléculas
dos componentes se repelem e estes apresentam uma alta pressão parcial,
configurando um ponto mínimo de temperatura de ebulição,2 como representado
na figura 2. Em casos de grande desvio negativo, os componentes apresentam
baixas pressões parciais e configuram um ponto de ebulição máximo,2 como
representado na figura 3.

Figura 2. Diagrama de fases de um sistema Figura 3. Diagrama de fases de um sistema


etanol-água em termos de temperatura acetona-clorofórmio em termos de
contra fração molar de etanol. temperatura contra fração molar de acetona.
FONTE: (REIS, 2012.) FONTE: (REIS, 2012.)

Nos pontos de máximo ou de mínimo, as composições do vapor e do líquido são


iguais, o que configura a formação de um azeótropo. 2 A figura 2 representa um
azeótropo de mínimo e a figura 3 um de máximo. Em geral, a formação de
azeótropos ocorre quando as temperaturas de ebulição dos componentes não são
muito diferentes.

2. OBJETIVO

Construir o diagrama temperatura de ebulição em função da composição para um


sistema binário de líquidos que forma um azeótropo.
3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

Inicialmente, preparou-se uma montagem para aquecimento, a qual está


representada pela figura 1.

Figura 4. Montagem utilizada na prática.

(FONTE: Apostila de Roteiros de Trabalho em Laboratório – Físico-Química CII.)

Adicionaram-se 150,0 mL de cicloexano no balão pela entrada lateral com o


auxílio de uma proveta e um funil de vidro. Na sequência, essa entrada foi vedada
com uma rolha e o aquecimento da manta foi acionado. Assim que houve
estabilização na temperatura do sistema, o balão foi tirado de contato com a
manta e esse valor de temperatura foi anotado. Com o auxílio de uma pipeta de
Pasteur, coletaram-se alíquotas do condensado na concavidade abaixo do
condensador (nomeada na figura 1 como “bolsão”) e do resíduo presente no balão
de fundo redondo. Essas amostras foram armazenadas em tubos de ensaio
distintos. Logo em seguida, o restante do condensado na concavidade foi
retornado para o balão de fundo redondo.

O processo descrito foi repetido mais 5 vezes para adições crescentes de


isopropanol ao sistema. Os volumes apresentados na tabela 1 da nova substância
foram adicionados no balão pela entrada lateral.

Tabela 1. Volumes de cicloexano e isopropanol utilizados em cada batelada de aquecimento.


Processo de adição crescente de isopropanol.
Vol. Vol. final* Vol. Vol. final*
adicionado de adicionado de
Amost
ra de cicloexan de isopropan
cicloe o/ isopro ol/
xano/ mL panol/ mL
mL mL
1 150 1 0 0
,0 5
0
2 0 1 2, 2
5 0
0
3 0 1 3, 5
5 0
0
4 0 1 5, 10
5 0
0
5 0 1 10 20
5 ,0
0
6 0 1 25 45
5 ,0
0
*Trata-se na verdade de uma aproximação do volume final, uma vez que podem haver perdas
durante o processo de ebulição.

Realizou-se o mesmo procedimento utilizando apenas isopropanol inicialmente e


adicionando-se quantidades crescentes de cicloexano. A tabela 2 apresenta os
volumes utilizados em cada batelada de aquecimento.

Tabela 2. Volumes de cicloexano e isopropanol utilizados em cada batelada de aquecimento.


Processo de adição crescente de cicloexano.

Vol. Vol. final* Vol. Vol. final*


Amost adicionado de adicionado de
ra
de isopropan de cicloexan
isopropanol/ ol/ cicloexano/ o/
mL m mL mL
L
7 150 150 0 0
,0
8 0 150 10,0 10

9 0 150 15,0 25

10 0 150 20,0 45

11 0 150 30,0 75

12 0 150 40,0 115

*Trata-se na verdade de uma aproximação do volume final, uma vez que podem haver perdas
durante o processo de ebulição.
Ao final dos dois processos, coletaram-se 24 alíquotas ao todo, sendo 2 de cada
batelada de aquecimento (uma amostra do resíduo do balão e uma amostra do
destilado na concavidade abaixo do destilador). Por fim, utilizando-se o
refratômetro Abbe, foram feitas medidas do índice de refração dessas 24
amostras.

4. APRESENTAÇÂO DOS RESULTADOS

A tabela 3 reúne os valores de temperatura encontrados para as misturas de


diferentes composições formadas bem como os valores de índice de refração
encontrados para cada alíquota de resíduo (R) e de destilado (D) retiradas em
cada batelada de aquecimento realizada. Além disso, utilizou-se a equação da
curva de calibração fornecida – equação 4 – para determinar a fração molar de
cicloexano a partir dos índices de refração. Esses resultados também são
apresentados na tabela 3. Os cálculos de fração molar de cicloexano estão
apresentados no apêndice deste documento.

𝑦 = 0,0484𝑥 + 1,3768 (4)


Tabela 3. Volumes de cicloexano e isopropanol utilizados em cada batelada de aquecimento.
Processo de adição crescente de cicloexano.

Índice Fração
Visopropan Vcicloexano θebuliç
Amost de molar de
ol/ / mL ão/
ra refraç cicloexano
mL °C
ão
R D R D

1 0 150 77,0 1,42 1,42 1, 1,0


,0 50 20 00 0*
2 +2, - 74,0 1,41 1,42 0, 0,9
0 90 40 87 8
3 +3, - 71,0 1,41 1,42 0, 0,9
0 65 35 82 6
4 +5, - 69,5 1,41 1,42 0, 0,9
0 40 25 77 4
5 +10 - 67,5 1,41 1,41 0, 0,8
,0 20 95 73 8
6 +25 - 66,5 1,40 1,41 0, 0,7
,0 50 30 58 5
7 150 0 75,0 1,37 1,37 0* 0*
,0 60 50
8 - +10 72,0 1,38 1,37 0, 0,0
,0 40 75 15 1
9 - +15 69,0 1,39 1,38 0, 0,0
,0 20 00 31 7
10 - +20 67,0 1,39 1,38 0, 0,1
,0 40 30 36 3
11 - +30 65,0 1,40 1,38 0, 0,2
,0 00 75 48 2
12 - +40 64,0 1,40 1,39 0, 0,3
,0 50 25 58 2
*Os valores com esse indicativo não são os que foram calculados utilizando o índice de refração
correspondente. Esses valores foram inseridos baseando-se no fato de que os sistemas tinham
apenas um componente nessas bateladas. Os resultados do cálculo com o índice de refração
encontram-se no apêndice deste documento.

De posse dos valores de fração molar de cicloexano correspondentes a cada uma


das alíquotas coletadas, marcaram-se 24 pontos no gráfico apresentado na figura
5. Esses pontos têm como coordenada no eixo das abscissas a fração molar de
cicloexano e no eixo das ordenadas a temperatura correspondente. Após as
marcações, traçaram-se linhas de tendência de modo a obter o diagrama
apresentado.
Figura 5. Diagrama de equilíbrio líquido-vapor da mistura de cicloexano e isopropanol.
Temperatura em função da fração molar de cicloexano.

O ponto azeotrópico encontrado a partir do diagrama acima encontra-se na


temperatura de 63,0 °C e a fração molar de cicloexano nesse ponto é de 0,53.
Consequentemente, a fração molar de isopropanol, no mesmo ponto, é de 0,47.

A composição das fases para o sistema de xcicloexano = 0,85 e 70 °C foi de xvapor =


0,79 e xlíquido = 0,93. Ambas as frações molares são de cicloexano.

A composição relativa das fases foi estimada de nfv/nfl = 5/3 = 1,25.


5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Analisando-se o diagrama apresentado na figura 5, é possível ver que se trata de


um caso de desvio da Lei de Raoult, ou seja, trata-se de um sistema de soluções
não ideais. Especificamente nessa situação, o desvio verificado foi positivo, o que
significa que para o par de componentes em questão, o ponto de ebulição da
mistura é menor que o de qualquer um desses componentes puros, 3 o que de fato
é verificado, uma vez que a temperatura de ebulição no ponto azeotrópico
encontrada foi de 63 °C, menor que a do cicloexano e também que a do
isopropanol puros. Nesse caso, as interações entre as substâncias constituintes
da mistura são ditas desfavoráveis,1 o que significa dizer que as forças
intermoleculares na solução são mais fracas que as presentes nos componentes
puros. É possível se aprofundar nessa análise observando as fórmulas estruturais
do cicloexano e do isopropanol, apresentadas na figura 6.

Figura 6. Fórmulas estruturais de a) cicloexano b) isopropanol.

(FONTE: produção pessoal no programa ChemSketch.)

Observando-se a figura 6, vê-se que os componentes da mistura são um


hidrocarboneto cíclico e um álcool, “a” e “b” respectivamente. O isopropanol possui
um átomo de hidrogênio ligado a um outro átomo bastante eletronegativo, o
oxigênio. Isso faz com que ele seja capaz de realizar ligação de hidrogênio como
interação intermolecular. Enquanto isso, o cicloexano tem um caráter apolar,
devido ao fato de não possuir nenhum heteroátomo em sua estrutura, de forma
que suas interações são do tipo dipolo instantâneo – dipolo induzido. Com essas
informações, percebe-se o porquê de as interações entre os dois componentes
serem desfavoráveis: eles possuem polaridades diferentes e não interagem bem
entre si, de forma que as interações quando estão puros são mais fortes.

Ainda se analisando o diagrama apresentado na figura 5, percebe-se que alguns


pontos ficaram mais próximos da linha de tendência, enquanto outros ficaram mais
longe, ou seja, possuem um maior erro experimental associado. Esses erros
podem ter se dado por contaminações ao longo da prática e também devido a
erros operacionais durante a execução do procedimento. Outra possível fonte de
erro são as impurezas presentes nos próprios reagentes. Isso é bem visível ao se
observar os cálculos de fração molar de cicloexano nas amostras 1 e 7, tanto do
resíduo quanto do destilado. Os cálculos presentes no apêndice mostram que no
caso em que estava se aquecendo o sistema com apenas cicloexano, foi
detectada uma fração molar desse composto no destilado de 0,93 e que no caso
em que o sistema continha apenas isopropanol, encontraram-se frações molares
negativas de cicloexano. Esses dados podem, portanto, estar relacionados a
presença de impurezas nos reagentes.

Por fim, tem-se que a composição relativa das fases foi estimada de nfv/nfl = 5/3 =
1,25; o que permite dizer que a fase de vapor é mais extensa que a de líquido.
Contudo, a contribuição de cicloexano para a fase de vapor – fração molar igual
0,79 – é menor quando comparada a sua contribuição para a fase líquida – fração
molar igual a 0,93.

6. CONCLUSÃO

Com os resultados obtidos, pode-se afirmar que foi possível construir o diagrama
de fases para a mistura cicloexano-isopropanol em termos da temperatura contra
a fração molar de cicloexano, e, com ele, obter valores aproximados da
temperatura de ebulição e da composição do azeótropo formado por esses dois
componentes. Foi possível observar que o diagrama construído se tratava de um
azeótropo de mínimo, no qual as interações entre as substâncias constituintes da
mistura são ditas desfavoráveis. A partir do diagrama, ainda foi possível obter
dados de composição da fase vapor – 79% de cicloexano e 21% de isopropanol
em mol – e da líquida – 93% de cicloexano e 7% de isopropanol em mol – para um
ponto problema, bem como descobrir a composição relativa entre as fases – 5/3
ou 1,25.

REFERÊNCIAS

1 ATKINS, Peter. PAULA, Julio de. Físico-Química. LTC – Livros Técnicos e


Científicos Editora S.A. 8ª ed. v.1. Rio de Janeiro, 2008.
2 REIS, M. H. M. Desenvolvimento de Um Programa Para Geração de
Mapas de Curvas Residuais e Aplicação a Processos de Destilação
Azeótropica e Extrativa. Dissertação de mestrado. Faculdade de Engenharia
Química da Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2012.

3 CAVALCANTI, Cláudia Jéssia da Silva. Simulação e otimização da


produção de etanol anidro combustível. Dissertação de mestrado.
Faculdade de Engenharia Química da Universidade Federal de Pernambuco.
Recife, 2018.

4 Físico-Química CII. Roteiros de trabalhos em Laboratório. Departamento


de Química da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte. 2020.
APÊNDICE – Cálculos Efetuados na prática

Cálculo das frações molares de cicloexano:

𝑦 = 0,0484𝑥 + 1,3768
𝑦 − 1,3768
𝑥=
0,0484

 Amostra 1
o Resíduo o Destilado
1,4250 − 1,3768 1,4220 − 1,3768
𝑥=
0,0484 𝑥=
0,0484
𝑥 = 1,00 𝑥 = 0,93
 Amostra 2
o Resíduo
o Destilado
1,4190 − 1,3768
𝑥= 1,4240 − 1,3768
0,0484 𝑥=
0,0484
𝑥 = 0,87
𝑥 = 0,98
 Amostra 3
o Resíduo
o Destilado
1,4165 − 1,3768
𝑥= 1,4235 − 1,3768
0,0484 𝑥=
0,0484
𝑥 = 0,82 𝑥 = 0,96
 Amostra 4
o Resíduo
o Destilado
1,4140 − 1,3768
𝑥=
1,4225 − 1,3768
0,0484 𝑥=
0,0484
𝑥 = 0,77
𝑥 = 0,94
 Amostra 5
o Resíduo
o Destilado
1,4120 − 1,3768
𝑥= 1,4195 − 1,3768
 A ostr 0,0484
𝑥 = 0,73 m a6
𝑥= 𝑥 = 0,88 0,0484

o Resíduo
o Destilado
1,4050 − 1,3768
𝑥= 1,4130 − 1,3768
0,0484 𝑥=
0,0484
𝑥 = 0,58 𝑥 = 0,75
 Amostra 7
o Resíduo
o Destilado
1,3760 − 1,3768
𝑥= 1,3750 − 1,3768
0,0484 𝑥=
0,0484
𝑥 = −0,02
𝑥 = −0,04
 Amostra 8
o Resíduo o Destilado
1,3840 − 1,3768
𝑥= 1,3775 − 1,3768
0,0484 𝑥=
0,0484
𝑥 = 0,15
𝑥 = 0,01
 Amostra 9
o Resíduo
o Destilado
1,3920 − 1,3768
𝑥= 1,3800 − 1,3768
0,0484 𝑥=
0,0484
𝑥 = 0,31
𝑥 = 0,07
 Amostra 10
o Resíduo
o Destilado
1,3940 − 1,3768
𝑥= 1,3830 − 1,3768
0,0484 𝑥=
0,0484
𝑥 = 0,36
𝑥 = 0,13
 Amostra 11
o Resíduo
o Destilado
1,4000 − 1,3768
𝑥= 1,3875 − 1,3768
0,0484 𝑥=
0,0484
𝑥 = 0,48
𝑥 = 0,22
 Amostra 12 o Resíduo
1,4050 − 1,3768
𝑥=

o Destilado
1,3925 − 1,3768
0,0484 𝑥=
0,0484
𝑥 = 0,58
𝑥 = 0,32
Determinação da composição da fase vapor e da líquida e da composição
relativa entre as fases em um ponto problema pela linha de amarração e pela
regra da alavanca:
 Linha de amarração

xvapor = 0,79

xlíquido = 0,93

 Regra da alavanca

𝑛𝑓𝑣𝑙𝑎 = 𝑛𝑓𝑙 𝑙𝑏

De acordo com a imagem previamente apresentada:

𝑙𝑎 = 12 𝑚𝑚
𝑙𝑏 = 15 𝑚𝑚

Então, tem-se:

𝑛𝑓𝑣 ∙ 12 𝑚𝑚 = 𝑛𝑓𝑙 ∙ 15 𝑚𝑚

𝑛𝑓𝑣 15
=
𝑛𝑓𝑙 12
𝑛𝑓𝑣 5
𝑛𝑓𝑙 =
4
𝑛𝑓𝑣
= 1,25
𝑛𝑓𝑙

Você também pode gostar