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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

JORDANA DE SANTI ALVES

A TRADUÇÃO DO HUMOR NA LEGENDAGEM DA SITCOM


ESTADUNIDENSE FRIENDS

CAMPINAS
2020
JORDANA DE SANTI ALVES

A TRADUÇÃO DO HUMOR NA LEGENDAGEM DA SITCOM


ESTADUNIDENSE FRIENDS

Projeto de pesquisa apresentado como


exigência parcial para aprovação na
disciplina Letramento Acadêmico em
Língua Portuguesa D, no curso de
Letras: Português / Inglês –
Licenciatura e Bacharelado, do Centro
de Linguagem e Comunicação, da
Pontifícia Universidade Católica de
Campinas.

Orientadora: Profa. Dra. Gabriela


Strafacci Orosco

CAMPINAS
3

2020
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..........................................................................................3
2. OBJETIVOS..............................................................................................5
3. METODOLOGIA.......................................................................................6
4. JUSTIFICATIVA.......................................................................................7
5. REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS.........................................................8
3

1. INTRODUÇÃO

A linguagem sempre desempenhou um papel importante na interação


humana. Foi o linguista pré-saussuriano, William D. Whitney, que introduziu
conceitos como o da língua como instituição social 1. Levando, então, esse
conceito como verdade, pode-se dizer que a língua é uma entidade inerente à
humanidade. Entretanto, ao se pensar que no mundo existem mais de 7.000
línguas diferentes2, e atentando-se também ao contexto da globalização, no
qual há quase imediata migração de aspectos sociais e culturais entre países,
surge a questão: Como realizar uma comunicação efetiva entre tão diversas
línguas e, consequentemente, tão diversas culturas?

Um dos profissionais que exerce esse papel tão relevante é o tradutor.


Diferente da definição generalizada e um tanto quanto estereotipada de que
tradutores simplesmente substituem “a fala ou a escrita de uma língua (a língua
fonte) para outra (a língua meta)” (ATTARDO, 2002, p. 173, tradução de
Cláudia S. de Almeida), o trabalho daquele que exerce o papel de traduzir
encara desafios maiores do que simplesmente divergências vocabulares.
Segundo Valente:

Para que exista a comunicação entre diferentes culturas, é


fundamental que a tradução considere não apenas as línguas
em questão, mas que essa traduza além de fatos e
informações, a forma de pensar e de valorar da outra cultura.
Por esse motivo, o tradutor - que é na verdade um mediador -
deve dominar tanto a língua quanto a cultura dos povos
envolvidos em sua tradução. (VALENTE, 2010, p. 325).

Dentro dos âmbitos da tradução, destaca-se a humorística. O humor


verbal é uma das mais significativas vertentes do humor e é cada vez mais alvo
de estudo, como posteriormente será demonstrado. A tradução do humor
apresenta-se, portanto, como um desafio para os profissionais da área, uma

1
FARACO, Carlos Alberto. Estudos pré-saussirianos. In: MUSSALIM, Fernanda; BENTES,
Anna Christina (orgs.). Introdução à linguística: fundamentos epistemológicos, vol. 3. São
Paulo: Cortez, 2011, pp. 27-51.
2
EBERHARD, David M., SIMONS, Gary F., FENNIG, Charles D. 2020. Ethnologue:
Languages of the World. Vigésima terceira edição. Dallas, Texas: SIL International. Versão
online: <http://www.ethnologue.com>. Acesso em: 11 de nov. de 2020.
4

vez que são variadas as possibilidades orais de manifestações risíveis, como


piadas, trocadilhos, ironias, expressões idiomáticas etc. e como elas então
estão quase inteiramente ligadas à cultura na qual são produzidas. Como dito
por Schmitz (1996, p. 91 apud LIEBOLD, 1989, p.10):

A tradução do humor é um desafio estimulante. Exige a


decodificação exata do discurso humorístico em seu contexto
original e a transferência desse discurso para um contexto
linguístico e cultural diferente e com frequência díspar, além de
sua reformulação num novo enunciado que recupera com
sucesso a intenção da mensagem humorística original e evoca
para o público da língua de chegada uma reação equivalente
de prazer e graça.

Considerando, então, o presente projeto de pesquisa, que busca a


realização de um estudo da legendagem (uma das modalidades de tradução
audiovisual) em português do discurso humorístico da sitcom estadunidense
Friends, objetiva-se abordar e debater sobre esse processo. Busca-se, além
disso, responder quais são as maiores dificuldades encontradas pelo tradutor
no processo de legendação humorística.

A legendagem apresenta desafios próprios, que são intensificados se


somados aos desafios já existentes na tradução do humor. Como já referido
por Zabalbeascoa:

[...] as restrições recorrentes enfrentadas pelo tradutor de


comédia de situação podem incluir diferenças no conhecimento
prévio do público original e público-alvo; diferenças de valores
culturais e morais, costumes e tradições; diferenças em temas
e técnicas convencionais de contar piadas [...]
(ZABALBEASCOA, 1996, p. 248).

Outras limitações, como a necessidade de sincronia de imagem e som e,


principalmente, o espaço reduzido que as legendas oferecem, podem afetar a
mensagem que teria de ser passada. À vista disso, o tradutor tem de trabalhar
com um restrito número de caracteres para realizar uma adaptação satisfatória
que faça aqueles que assistem atingirem o estado de divertimento.

E, como se sabe, sitcoms naturalmente dependem do riso. A palavra


Sitcom, inclusive, é uma abreviação do termo situation comedy, que pode ser
traduzido como “comédia de situação”. Outra característica que essa variedade
5

televisiva possui é a apresentação de passagens cômicas “do cotidiano de


gente comum, geralmente utilizando as cenas em, no máximo, três ambientes.”
(NOLL, 2013, p. 4).

Friends aparenta ter se conceituado dentro do gênero, já tendo recebido


o Emmy de Melhor Série de Comédia, em 2002 3. A série, criada por David
Crane e Marta Kauffman, foi ao ar pela primeira vez em 1994 e durou um total
de dez temporadas, encerrando-se em 2004. Durante todas as temporadas, o
público é apresentado ao cotidiano dos seis principais personagens – Ross,
Rachel, Monica, Chandler, Phoebe e Joey – exibindo situações que envolvem
questões de amor, amizade, trabalho etc.

Três episódios da quarta temporada foram aqui selecionados para a


condução dessa pesquisa e serão melhormais bem explanados na seção
Metodologia. A escolha deles desse corpus foi influenciada pelos diferentes
modos de criar o cômico. Piadas ligadas, por exemplo, às questões
semânticas, expressões idiomáticas e referências da cultura norte-americana
são apresentadas em tais episódios e cabe, assim, ao tradutor fazer a
adaptação necessária para manter o humor e se aproximar o máximo possível
do sentido original.

Finalmente, essa pesquisa objetiva, com base nos estudos de Travaglia


(1990) e Zabalbeascoa (2017), compor ponderações acerca da tradução do
humor, examinando as escolhas tradutórias, pretendendo também contribuir
para os estudos do humor verbal.

2. OBJETIVOS

Os objetivos a serem alcançados com a pesquisa são:

2.1. Objetivo geral:


 Discutir o processo de legendagem de cenas humorísticas
em Friends.
3
TELEVISION ACADEMY. Dísponível em: <https://www.emmys.com/shows/friends>. Acesso
em: 12 de nov. de 2020
6

2.2. Objetivos específicos:


 Identificar as influências culturais e linguísticas no
processo tradutório na legendagem de Friends;
 Analisar as técnicas de legendação e suas respectivas
limitações;
 Avaliar o papel do tradutor como intermediador de
diferentes culturas;
 Analisar as escolhas tradutórias feitas nas cenas
selecionadas e seus respectivos resultados na geração do
humor.

3. METODOLOGIA

Para a execução da pesquisa, levando em conta o conceito de uma


pesquisa documental, foram selecionadas cenas de três episódios da quarta
temporada da sitcom Friends. Os episódios em questão são o terceiro (“The
One With The Cuffs”), no qual Chandler é algemado no escritório da mulher
com quem está saindo; o quarto (“The One With The Ballroom Dancing”), no
qual Joey tem que fazer aulas de dança de salão com o síndico do seu prédio;
e o quinto (“The One With Joey’s New Girlfriend”), no qual Chandler se sente
atraído pela nova namorada de seu amigo Joey. Em todas elas há a presença
de manifestações risíveis, cujas respectivas escolhas de tradução serão
analisadas. Da mesma forma, será realizada uma comparação entre o texto
original e o texto que consta da legenda, para avaliar quais foram os tipos de
adaptações necessárias em cada cena – sejam elas manutenção, recriação ou
até omissão de termos.

A pesquisa proposta apoia-se também em um referencial teórico de


autores como Zabalbeascoa (2017) e Travaglia (1990). Patrick Zabalbeascoa
Terran publicou, juntamente organizado com o professor Juan José Martínez
Sierra, um relevante estudo sobre a tradução do humor, “Humor as a symptom
of research trends in translation studies”, no qual é tratada a questão da
7

necessidade de relevância dos estudos humorísticos, como também a


complexidade de tais estudos. Será usada aqui a tradução feita por Tiago
Marques Luiz, publicada em 20194.

Luiz Carlos Travaglia, por sua vez, atua na área de Linguística e parece
possuir grande interesse sobre os estudos do humor, já tendo ele discutido os
recursos linguísticos e discursivos desse 5, o humor pela perspectiva linguística 6
e até o humor brasileiro na televisão7. São nesses estudos que a pesquisa
procurará se basear para a execução dos anteriormente mencionados
objetivos.

4. JUSTIFICATIVA

O tema proposto justifica-se ao se pensar na legendagem como um


recurso para o aumento de alcance e acessibilidade de um produto audiovisual
– no caso, a série Friends. A série televisiva foi selecionada por conta de sua
relevância e dos impactos culturais que dela resultaram 8.

Outra questão pertinente na escolha da sitcom para a realização do


projeto são as diferentes formas de expressar o humor durante as cenas – o

4
MARTÍNEZ, Juan José Sierra; TERRAN, Patrick Zabalbeascoa. Humor as a Symptom of
Research Trends in Translation Studies. MonTI – Monografías de traduccíon y
Intrepretacíon, vol.9, núm 1, 2017. Tradução de Tiago Marques Luiz.
5
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Recursos lingüísticos e discursivos do humor: humor e classe
social na televisão brasileira. In: XXXVI Seminário do Grupo de Estudos Lingüísticos do
Estado de São Paulo, 1989, São Paulo. Estudos Lingüísticos - XVIII anais de seminários do
Grupo de Estudos Lingüísticos do Estado de São Paulo. Lorena: Prefeitura Municipal de Lorena
/ GEL-SP, 1989.
6
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Uma introdução ao estudo do humor pela lingüística. DELTA -
Revista de Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada, São Paulo, v. 6, n. 1,
p. 55-82, 1990.

7
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. O que é engraçado? Categorias do risível e o humor brasileiro
na televisão. Estudos Lingüísticos e Literários, Maceió, v. 5 e 6, p. 42-79, 1989.

8
Como um exemplo do impacto cultural que a série criou, pode-se mencionar o penteado "The
Rachel", que era usado pela personagem de Jennifer Aniston e foi copiado por mulheres de
todo o mundo. Friends já foi indicada também para 62 Emmys, um dos mais importantes
prêmios da televisão.
8

que inclui piadas, trocadilhos, ironias etc. – muitas das vezes ligadas às
semelhanças fonéticas entre palavras em inglês e componentes da cultura
estadunidense.

A tradução de diferentes culturas, em conjunto com o discurso


humorístico, acentua as dificuldades presentes no processo. Travaglia (1990),
parafraseando Johnson, diz que “há no humor uma metacomunicação sobre si
mesmo e sobre a realidade” (JOHNSON, 1976 apud TRAVAGLIA, 1990, p. 59)
– isso revela a possível denotação de que o humor está, na maioria das vezes,
estritamente conectado com o contexto de produção no qual ele é produzido.
Quando retirado desse contexto, os tradutores enfrentam o impasse de trazer o
humor para o contexto cultural próprio, e são é daí que vem as adaptações
humorísticas presentes nas legendagens e que serão analisadas na pesquisa
proposta neste projeto.

O tema exibe-se como relevante, portanto, pelo fato da possibilidade de


a supracitada análise responder a questões do tipo: O que é mais significativo
no processo tradutório de piadas? Como se dá o papel do tradutor na
intermediação de distintas culturas que buscam o mesmo propósito ao assistir
um programa televiso como uma sitcom, que é rir? Tais resultados podem
contribuir para os estudos do humor verbal que parecem reverberar mais a
cada ano9.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA. Cláudia Suzano de. Legendas e intermediação: humor e


sensibilidade em tradução. Mestrado em Estudos da Tradução. Programa de
pós-graduação em estudos de tradução – POSTRAD, Instituto De Letras – IL,
Universidade de Brasília – UNB. Brasília, 2015.

9
Alguns exemplos de estudos dos últimos anos são mencionados a seguir: ALMEIDA, Cláudia
Suzano de. Legendas e intermediação: humor e sensibilidade em tradução. 2015. x, 168 f.,
il. Dissertação (Mestrado em Estudos da Tradução) —Universidade de Brasília, Brasília, 2015.;
RIBEIRO NETO, João Antonio Pimenta Ribeiro. Tradução de humor: a barreira cultural/
linguística da tradução de piadas na legendagem do seriado Modern Family. 2019. 114f. –
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Programa de Pós-graduação em
Estudos da Tradução, Fortaleza (CE), 2019.; DUARTE, Andreia Gameiro Neves. Tradução
Audiovisual: tradução e legendagem do episódio "Opposites-A-Frack" de Os Simpsons.
2018 – Relatório de Estágio do Mestrado em Tradução apresentado à Faculdade de Letras.
Universidade de Coimbra, Coimbra, 2018.
9

ARAÚJO, V. L. S. O processo de legendagem no Brasil. Revista do GELNE,


Fortaleza, v. 1/2, n. 1, p. 156-159, 2006.
FRIENDS. Quarta temporada. Criação: David Crane e Marta Kauffman.
Produtora: NBC. 1997-1998, son., color. Série exibida pela Netflix. Acesso em:
20 de outubro de 2020.

JOIA, Lúcia. A tradução audiovisual e a voz do tradutor. Tradução em


Revista. Rio de Janeiro: Papel Virtual Editora, 2004, p. 75-100.
LARANJEIRA, M. Poética da tradução: do sentido à significância. São
Paulo: EDUSP, 2003.
MARTÍNEZ, Juan José Sierra; TERRAN, Patrick Zabalbeascoa. Humor as a
Symptom of Research Trends in Translation Studies. MonTI – Monografías
de traduccíon y Intrepretacíon, vol.9, núm 1, 2017. Tradução de Tiago Marques
Luiz.
NOBRE, M. N. A legendagem no Brasil: interferências linguísticas nas
escolhas tradutórias e o uso de legendas em aulas de língua estrangeira.
Letras Escreve, v.2 n.1, 2013. Disponível em:
http://periodicos.unifap.br/index.php/letras/article/viewFile/489/pdf_54. Acesso
em: 10 de nov. de 2020.
NOLL, Gisele. Séries, Séries Cômicas e Sitcoms: debatendo gêneros e
formatos na televisão brasileira. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), Porto Alegre, 2013. Disponível em:
https://portalintercom.org.br/anais/sul2013/resumos/R35-1029-1.pdf. Acesso
em: 8 de nov. de 2020.

SCHMITZ, John Robert. Humor: é possível traduzi-lo e ensinar a traduzi-


lo?. Tradterm, São Paulo, vol. 3, p. 87- 97. 1996.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Uma introdução ao estudo do humor pela
lingüística. DELTA - Revista de Documentação de Estudos em Lingüística
Teórica e Aplicada, São Paulo, v. 6, n. 1, p. 55-82, 1990.
. O que é engraçado? Categorias do risível e o humor brasileiro na
televisão. Estudos Lingüísticos e Literários, Maceió, v. 5 e 6, p. 42-79, 1989.
. Recursos lingüísticos e discursivos do humor: humor e classe social
na televisão brasileira. In: XXXVI Seminário do Grupo de Estudos Lingüísticos
do Estado de São Paulo, 1989, São Paulo. Estudos Lingüísticos - XVIII anais
de seminários do Grupo de Estudos Lingüísticos do Estado de São Paulo.
Lorena: Prefeitura Municipal de Lorena / GEL-SP, 1989.
VALENTE, Marcela Iochem. Tradução: mais que um processo entre
línguas, uma ponte para transmissão de capital cultural. Raído, Dourados,
MS, v. 4, n. 7, p. 323-332, jan./jun. 2010.
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