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Discente: Alan Gledson Rodrigues da Ressurreição

Docente: Rafael Estrela Canto

Teoria do conhecimento I

Bacharelado em Filosofia 2020.2


O atomismo para começar, por via de regra, nada tem em sua composição singular, ou
seja, o próprio átomo, de igual com o uno parmenídico da escola eleata e de todos
aqueles da qual derivam suas filosofias, seja de corrente platônica ou aristotélica, sendo
por assim dizer, o que houve de mais sofisticado nas teorias dos chamados filósofos da
natureza no período “pré-socrático”, apesar de o principal expoente da teoria ser um
contemporâneo daquele que é responsável por esta passagem de época. Deixando a
historicidade dos fatos um pouco de lado, é muito claro haver uma certa “ponte”
necessária na teoria de Demócrito e Leucipo quanto a formulação daquilo que seria(m)
a(s) “unidade(s)” primordiais da natureza e que por consequência formariam todo o
universo ou cosmos, não no sentido este último de ser ordenado mas composto por esses
entes materiais, e que por isso estabeleceria(m) todo e qualquer tipo de sensação,
sentimento e até mesmo da natureza da alma, com outros pensadores da escola jônica,
desde Tales, passando por Anaximandro, Anaxímenes e Anaxágoras, os três primeiros
correspondendo a escola jônica e no que diz respeito ao último foi o idealizador das
partes constituídas do universo, cujas, são divisíveis ao infinito, as quais, cada uma das
partes são iguais às anteriores divididas denominadas “homeomerias” e que influenciou
no pensamento acerca da criação do átomo por esta partícula elementar formar a physys
e ser sua menor parte constituinte indivisível. Já quanto ao mais antigo dos filósofos,
pode-se comparar ao “rhytmós” e a um de seus significados, a fluidez, sendo assim,
igualmente como a “água”, na natureza tudo flui, pois, se assim não fosse, na mesma o
movimento seria impossível e os átomos perderiam um de seus atributos fundamentais
que é o próprio movimento e sua velocidade correspondente. De Anaximandro, o
movimento infinito dos contrários está contido na própria constituição do átomo que
compõe os contrários sensíveis como o doce e o salgado, frio e quente e pesado e leve.
De seu discípulo próximo Anaxímenes, o próprio ar pode ser comparado em relação a
velocidade e ao peso do átomo, para isso dois exemplos são demonstráveis: o assoprar
lento e frio referente a velocidade variante de um rápido e quente e, o ar mais leve e
quente, por conseguinte, mais rarefeito e menos denso que sobe de um aparelho ar-
condicionado do que o menos rarefeito e mais denso ar frio do mesmo. Dos três
significados de “rhytmós” duas outras interessam tanto quanto a primeira, e são o limite
de movimento e a velocidade. O primeiro descreve-se pelo fato do núcleo atômico ser a
área mais estável, porém, não estática de toda sua estrutura e que apresenta a sua
periferia como a mais movimentada e por isso lá acontecer os choques entre átomos ou
o “turbilhão” por assim dizer. Apesar de no núcleo haver um movimento mais
equilibrado e menos disperso, inicialmente pode-se afirmar que prevalece o choque
constante entre eles que dá origem ao turbilhão e somente depois tendem a se reunir e
por assim dizer se “pacificar”. É muito importante salientar a ideia de átomo sempre no
plural por este apresentar uma característica, a qual, seria a que melhor o definiria,
sendo, portanto, a de “vibração”, por que se não fosse dessa maneira jamais haveria a
matéria visível ou condensada e logicamente a união entre estes. A constituição
atômica se dá por três características que são: figura, ordem e posição. Figura é a
delimitação do átomo, sua estrutura (apesar de os átomos em suas totalidades serem
infinitos) ou até mesmo sua forma, contudo, essa última acepção é muito vulgarmente
associada a Platão e sua eidética e também pela palavra no grego está mais próxima de
Morphé, já que na etimologia platônica a palavra “Eidos” põe-se além de simplesmente
delimitação da figura. Sendo assim, diz-se figura do triângulo ou do átomo e forma do
corpo ou de qualquer outro objeto sensível, porém, a atomística não se resume a
considerar toda sua parte integrante apenas de figura mas também de peso, sendo a
própria força gravitacional o que permitiu primeiramente a queda dos átomos em
deslocamento ao vazio representado pelo “clínamen” de Lucrécio, cujo, apesar de não
mencionado por Epicuro, a própria atração ou “vibração” após a queda explicaria por
que os átomos se reuniram e formaram mundos e todo o cosmos e não simplesmente
permaneceram paralelos uns aos outros em um eterno não encontrar-se, vindo a não ser
aquilo de que chamamos universo observável. Para o Poeta latino, isso dever-se ao
acaso, mas, isso traria um decréscimo muito grande a filosofia epicurista e acabaria por
ferir o primeiro princípio de seu autor: O de que nada vem do nada. Tudo aquilo que
compõe a matéria composta é formada por alguma coisa, que tem de ser sempre igual
desde o princípio, pois, se assim se transformasse, acabaria por não ser ou se igualaria
ao vazio por não estar mais presente. Apesar de haver essa objeção a doutrina do
pensador helenista, a defesa desta ideia é a de ela justamente reafirmar a perenidade,
cuja, o universo repousa, sendo os desvios primeiros dos átomos na chuva atômica o
que permitiu a formação deste. Na psicologia jônico-epicurista, encontra-se também a
conjectura da alma que apesar de ser material e consequentemente mortal ao menos não
é renegado a conhecê-la apenas os iniciados nos antigos mistérios, como no caso do
orfismo e também de seus seguidores a exemplo de Platão, Pitágoras e Parmênides, a
qual, para estes era imaterial e a cultuavam através da prática do ascetismo, buscando
assim, negar todo e qualquer prazer material e amortizar consequentemente tudo que
tivesse como via o corpo, objetivando deste modo uma vida futura perfeita e por isso
mesmo superior a terrena. Para Demócrito, a alma era composta de átomos mais sutis,
assim como o ar de Anaxímenes, além de não ter nada de assustador na para a morte,
pois, este processo não é senão a decomposição destes átomos, enquanto que para
Lucrécio, a alma era composta por partes diminutas que permeiam pelo corpo todo e
adentrando mais ainda no ser, encontra-se o que convencionalmente nos dias atuais se
chama espírito, composto por partes mais diminutas ainda do que a alma e que por sua
natureza assemelha-se ao pensamento, cujo, segundo o filósofo sua velocidade seria o
que há de mais rápido no universo. Desse mesmo espírito tem por equivalência no grego
com a palavra “Nous” que significa gênio, inteligência, já a palavra latina “anima” tem
por seu equivalente na língua grega “Psiché” o que pode responder à necessidade de
reafirmar que o pensamento ou o espírito assim como para o poeta latino é o que há de
mais intrínseco e essencial no ser humano. Igualmente a Demócrito, que propôs o átomo
sendo uma bola maciça, indivisível, eterna e indestrutível, também imaginara
igualmente Lucrécio como sendo esférico pelo seu aspecto dinâmico o que lhe conferia
grande velocidade em seu caminho pelo vazio (o não ser). Apesar de atualmente os
modelos atômicos terem sido reconfigurados, é inegável que ainda permanecem alguns
princípios dos primeiros atomistas da ciência como no caso de um átomo representar a
unidade indivisível de um elemento, o qual, sem a devida distribuição eletrônica e
contagem do número de prótons e nêutrons, perde sua identidade e acaba por ser
considerado um outro elemento, já no caso das substâncias, decompõe-se apenas em
elementos primordiais. Um outro princípio de Epicuro, o qual, se assemelha com o de
Anaximandro é o pensamento de que tudo se origina de uma semente inicial tanto como
a semente que era o primeiro ser vivo da terra de acordo com o último e desta forma,
toda vida teria surgido dessa maneira envolto os organismos em uma espécie de casca,
como se observa também nas sementes das plantas e árvores.
Apesar de os átomos serem infinitos em quantidade, a proporção de figuras dos mesmos
não pode ser definida igualmente, até por parecer ser impossível imaginar uma
infinitude de estruturas geométricas , mas, no que concerne a alma são eles limitados e
mais ainda, em pequeno número, sendo a sua principal parte situada no peito, ou por
assim dizer onde reside o espírito, o que por si só já é uma aversão ao que propunha por
exemplo Platão quando diz que a alma racional situa-se na cabeça, enquanto que, a
irascível ou a correspondeste às paixões no peito, portanto, não relacionada ao
componente inteligente da mesma e confundindo-se com a parte que o próprio Lucrécio
diz estar na periferia do corpo responsável pelas sensações e que de acordo com o seu
pensamento, diz , misturar-se com aquilo conhecido nos dias atuais como sistema
nervoso, que por relevância a ciência atual revelou ser parte intransponível de um corpo
para outro (por exemplo o fato de não ser possível clonar as células nervosas ou
neurônios) e por assim dizer constituindo o que chama-se “alma” ou ainda
simplesmente a individualidade de cada ser humano, usar como exemplo apenas o homo
sapiens sapiens por que no que se apresenta no mundo natural parece ser o que há de
mais diverso em comparação com outras espécies de seres vivos, o que também
justificaria a sensibilidade diferente em que cada um manifesta suas experiências. Além
do mais, apesar de as partes daquilo que se chama alma ou espírito para Lucrécio serem
integradas, há situações, as quais, apenas a alma sensitiva sente a dor seja física ou
emocional, de um dardo penetrando os nervos ou simplesmente a dor de uma paixão
arrebatadora, e que não causa nenhum incômodo do espírito, porém, quando o contrário
acontece já não se pode alegar o mesmo porque parece que todo o corpo é tomado por
uma tensão que dentre muitos sintomas pode causar o empalidecimento, a língua
enrolar, o corpo suar frio e a habitual tremedeira, todos estes, são causados quando o
espírito encontra-se de alguma forma arrebatado em seu cerne, e aí está o que pode
considerar-se o que há de mais íntimo no ser, e, portanto, a parte mais importante que
goza de certa “independência”. Apesar de a doutrina jônico-epicurista e também a de
Lucrécio consequentemente serem materialistas, elas permitem viver bem sem a
preocupação de uma morte eminente por simplesmente denotar a não existência desta
perante a vida, pois, como na célebre frase de Epicuro demonstra toda a síntese do seu
pensamento “Quando a vida está presente, é a morte que não se faz. Quando morte se
faz presente, já é a vida que não se faz mais”, por isso Lucrécio diz que Epicuro
descortina todo o mistério da natureza das coisas e o trata como figura divina r que
também pereceu diante desse destino implacável, mas que soube dar as devidas luzes,
principalmente pelo contexto de sua época em que a Grécia tinha sido dominada pela
Macedônia e pelo fato de as outras correntes filosóficas não oferecerem uma vida
salutar em enfrentar as crises da época e por renegar o prazer como uma fonte segura de
amenizar e porque senão partir deste com o duplo benefício da carne e também
intelectual, contudo, a primazia pelo primeiro é reiterada quando afirma que os prazeres
são divididos em dois: os que causam uma perturbação da alma, os quais, são rápidos e
intensos e os da intelecção, cujos, são perenes e estáveis. Deve-se comparar isso com o
próprio mecanismo de funcionamento do átomo e seu vórtice decorrente de suas partes
mais afastadas de seu núcleo e também no contato com outras partículas atômicas que,
por conseguinte, deverão estar igualmente passando pelo vórtice inevitável de sua
própria estrutura. Em suma, a doutrina atomista não renega nenhum prazer material
porque para ela o princípio de tudo é material e não de um teleológico ou idealista, e de
que tudo são átomos distribuídos pelo vasto cosmos a vagar pelo vazio, perpetuando seu
eterno movimento.
Bibliografia: ESTRELA, Rafael. Questões de método. Belém, 2020.
ESTRELA, Rafael. A teoria dos átomos. Belém, 2020.
ESTRELA, Rafael. Psicologia jônico-epicurista. Belém, 2020.
CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia: As escolas helenísticas. Vol II.
São Paulo: Companhia das letras, 2010.
Bibliografia: LUCRÉCIO, Tito. Da natureza. 3 ed. São Paulo: Os pensadores, 1985.

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