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Filosofia Antiga II
Os Atomistas
O Problema Do Conhecimento
Demócrito é o último grande pré-socrático, aquele que consegue na
segunda metade do século V Apresentar um sistema original:
Frag. 125
Segundo a prática corrente existe a cor ,o doce o amargo;
Na realidade o que existe são átomos e vácuo.
(Então os sentidos Dizem para a inteligência) pobre espírito foi de nós que
recebeste o testemunho e agora queres derrubar-nos?
Se o fizeres será a tua queda.
Os Átomos e o Vácuo
Em primeiro lugar podemos dizer que o vácuo é o lugar por assim dizer ,
onde não existem átomos . Quanto aos átomos para alem das
características que já indicamos é importante mencionar neste momento o
seu aspecto compacto, o seu número infinito assim como a multidão
das formas que podem revestir-se, também Demócrito refere que os
átomos tem peso assim como uma extrema pequenez que os torna
invisíveis
Resumindo o que dissemos acerca do átomo podemos dizer que as suas
características principais são as seguintes : incriados, imperecíveis,
compactados com peso e com formas variadas.
Há átomos côncavos em forma de gancho etc.
As gênese do Universo
Demócrito irá explicar a formação do universo pelo movimento que os
átomos estão animados. Qual é a causa deste movimento originário, não
conhecemos e segundo o que tudo indica Demócrito não teria dado
qualquer indicação. Mas que é importante destacar desde já é que o
movimento de que os átomos estão animados não é de origem divina .
Ora estando os átomos em movimentos por vezes chocam entre si e
segundo determinadas circunstâncias entram em turbilhão em que os
mais leves são atirados para o exterior, enquanto os mais pesados
constituem o centro. Os átomos que ficam no exterior constitui a
espécie de membrana que poderá assim dizer captar os outros
átomos e enviá-los para o interior. Segundo a forma dos átomos podem
então surgir a terra e os astros que a rodeiam . Quanto ao sol , á lua . às
estrelas devem ser massas ígneas pelo facto de alguns átomos devido a
velocidade se incendiarem. A terra e todas as coisas existentes são
formadas por átomos que diferem na sua forma.
Demócrito defende uma física quantitativa, em oposição a física
qualitativa de Anaxágoras. Assim, para Demócrito , uma coisa existente
difere da outra pela forma que possuem os átomos de que ela é formada.
Os Mundos Inumeráveis
Sendo o vácuo infinito e havendo uma multidão de átomos em
movimento para Demócrito é lógico que em vários lugares desse vácuo os
átomos se encontrem e formem diversos mundos é extremamente curioso
como Demócrito tem uma intuição genial que esses mundos
contemporâneos no tempo possam não ser idênticos aquele que vivemos .
Assim nesses mundos pode faltar qualquer astro que rodeia a terra e
alguns neles pode não existir a vida.. Demócrito é único pré-socrático do
qual se pode afirmar com toda a certeza, que defendeu mundos
inumeráveis coexistentes no tempo.
Já dissemos que Demócrito não reservou qualquer função aos deuses na génese
dos mundos. Acrescentamos que o filósofo não negando a existência dos deuses
vai considerá-los mortais retirando-lhes a sua principal prerrogativa.
Demócrito, o último grande pré-socrático, apresenta algumas características
interessantes: é autor de dezenas de títulos e defensor de um cosmopolitismo
expresso no frg. B249:
"O sábio pode andar por toda a Terra pois a pátria de uma alma boa é
o mundo inteiro" (trad. M. H. R. P.)
Os Sofistas
"a sua maneira era discutir com toda a gente", diz Plutarco, "empregar
os argumentos mais subtis e levar os adversários a não saberem que
responder-lhe" (4, Trad. Lobo Vilela).
É possível que tanto o sofista como o eleata tivessem preparado Péricles para
os grandes embates na assembleia, onde o discurso bem como a arte de disputar
constituíam os grandes temas para a vitória política.
Plutarco, que continuamos a seguir, não esconde em vários pontos da sua obra
a admiração por Anaxágoras:
"o amigo íntimo de Péricles...aquele, enfim, que lhe inspirou a
grandeza da alma que o distinguia, a dignidade que ressaltava de
toda a sua conduta, foi Anágoras de Clazómenas..." (5, Trad. Lobo
Vilela).
Estas figuras que rodearam Péricles, sem falarmos de outras que foram,
também, importantes indiciam, já, o quadro intelectual da Atenas na 2.ª metade
do séc. V.
Abordando, agora, o aspecto político, o nosso melhor guia é o historiador
Tucidides, que foi um chefe militar ateniense, no conflito que apôs Atenas e
Esparta e também um pensador político que, na sua obra Guerra do Peloponeso,
embora com moderação, não esconde a sua simpatia pelo dirigente ateniense.
Em texto que ficou célebre, o historiador apresenta uma oração fúnebre,
pronunciada pelo estratego, em que este aproveita para elogiar o regime, sob o
qual vivia Atenas; (II, 35-46).
É um elogio á democracia, cujo regime é caracterizado pela possibilidade de
todos os cidadãos, qualquer que seja a sua posição económica, ascenderem aos
mais altos cargos da polis.
Mas, impõe-se fazer algumas considerações, quanto á sociedade ateniense e á
democracia no tempo de Péricles, para determinar o que há de novo na vida da
Cidade, assim como o que se deve entender por democracia, enquanto Péricles
esteve á frente dos destinos de Atenas.
Sobre o primeiro ponto, parece não haver dúvida em assinalar-se uma
transformação que, embora ainda não radical, contrastava com a de Atenas de
algumas décadas atrás.
Os grupos familiares que agregavam uma série de partidários cedem o lugar a
grupos mais vastos, que se diferenciam dos anteriores pelo maior número de
membros e por um esboço de ideologia que os vai informando.
Embora, encaremos, cautelosamente, toda e qualquer comparação,
permitimo-nos afirmar que, cerca de 450-440 surgem as facções políticas,
aproximadamente, como hoje as entendemos. Agrupamentos, como dissemos,
mais vastos (em que o núcleo já não era o clã familiar), com uma doutrina já
assente e cujo objectivo era a conquista do poder e a instauração de um
determinado tipo de governo.
Assim, frente a frente, encontravam-se a facção democrática e a aristocrática.
A primeira agrupava, essencialmente, os cidadãos, cujo privilégio não era o
sangue, ou seja, aqueles que pertenciam á classe popular e á burguesia de riqueza
grande ou mediana, alcançada através do comércio e da industria, aos quais se
juntaram alguns nobres. A segunda era constituída pela nobreza, que não queria
perder os seus antigos privilégios, a qual atraiu, também, a si alguns ricos
burgueses. Tal facção visava, fundamentalmente, constituir um governo
oligárquico.
Devemos fazer algumas considerações, para uma melhor compreensão, da
democracia da qual Péricles era o expoente máximo. Em primeiro lugar, o
estratego era um Alcmeónida, isto é, um membro de uma das famílias mais
poderosas de Atenas que, ao longo de gerações, lutava pela conquista do poder. O
próprio Tucídides, simpatizante deste político, não se furta a dizer que o governo
de Atenas, no seu tempo, era essencialmente o governo de um homem só, ou
seja, que, sob a capa da democracia, Péricles tinha, praticamente, todos os
poderes, restando ao demos aplaudi-lo.
Falemos, agora, um pouco sobre algumas características da democracia
ateniense.
Em primeiro lugar, o corpo de cidadãos, aqueles que tinham o direito de votar
e de ser eleitos, era constituído apenas por uma parte da população: talvez 10 por
cento. Havia, assim, uma limitação desta democracia, pois, nem todos tinham a
capacidade política.
Em segundo, diremos, agora, que esta democracia era directa. A Assembleia
Popular, constituída por todos os cidadãos, detinha o poder político e a condução
dos negócios públicos.
Em terceiro lugar, dever-se-á anotar que o regime democrático ateniense, ao
longo do tempo criou mecanismos para controlar (na medida do possível) os
aspectos demagógicos. Anotar, ainda, que a democracia em Atenas, durante a sua
longa existência, se foi aperfeiçoando e, não obstante alguns acidentes de
percurso, serviu os interesses da Cidade.
***
Depois de termos traçado o quadro histórico, nas suas linhas gerais, da 2.ª
metade do século V, é altura de indicarmos os grandes momentos sob o ponto de
vista cultural.
Ocupando lugar de relevo no movimento filosófico dos meados do século V,
situava-se Anaxágoras de Clazómenas que, como já disse, pertenceu ao círculo de
Péricles. Ele foi, juntamente com Demócrito, o último grande pensador do
chamado período pré-socrático.
A sua presença, em Atenas, é indicio, muito provável do desejo de Péricles em
ver desenvolver-se, na Cidade, a especulação filosófica, a qual presente em zonas
da colonização grega, tinha estado arredada de Atenas.
A estadia do ilustre filósofo tem, pois, um elevado significado cultural, na
medida em que a Filosofia mudava de quadrante geográfico, passando da Grande
Grécia para a Ática.
Com muita probabilidade, devido á sua presença no círculo de Péricles, o
filósofo foi acusado de impiedade, crime considerado muito grave em Atenas (a
acusação de impiedade, neste caso, devia esconder uma perseguição política).
Acusado de tal crime, Anaxágoras retirou-se para Lâmpsaco.
Os mais recentes pensadores, da linha pré-socrática, são Hípon de Samos, que
restaura o ponto de vista de Tales, Diógenes de Apolónia, possivelmente o de
maior valor, que regressa a Anaximenes, e Arquelau, discípulo de Anaxágoras,
que tentou conciliar o pensamento deste último com o do milésio Anaximenes.
Todos eles foram defensores de um eclectismo em que as teorias dos
pensadores de Mileto foram reelaboradas com a ajuda de conhecimentos de
ordem cientifica especializada, sobretudo médica, conhecimentos esses que
tiveram um surto de grande desenvolvimento pelos meados do século V.
Mas este eclectismo não chegou a impor-se e se a ciência conhecia o apogeu, a
filosofia, teve de fazer uma viragem, devida como veremos, em grande parte, ao
movimento sofístico.
Se a Filosofia tinha nascido em Mileto, é Atenas que vai assistir á aurora de um
novo impulso filosófico.
***
* **
"Ainda que não tivesse chegado até nós nada da antiga literatura
médica dos Gregos, seriam suficientes os juízos laudatórios de
Platão sobre os médicos e a sua arte, para concluirmos que o final do
século V e o IV a. C. representaram, na história da profissão médica,
momento culminante do seu contributo social e espiritual." (Trad.
Artur Parreira)
***
Os Sofistas
Preliminares
Estas reticências não são compartilhadas por Werner Jaeger que, sobre este
movimento, afirma o seguinte:
"O esboço duma teoria por parte de Protágoras não justifica tais
generalizações, e é um erro evidente de perspectiva histórica pôr os mestres
da aretê ao lado dos pensadores do estilo de Anaximandro, Parménides ou
Heraclito." (Paideia. Trad. Artur Parreira)
os sofistas não constituíram uma escola filosófica: por assim dizer, cada
sofista constituiu a sua escola;
os sofistas são professores itenerantes, ou seja, permanecem por períodos,
mais ou menos longos, em várias cidades gregas;
os sofistas recebem honorários pelos seus cursos;
os sofistas não pertencem á classe mais elevada da Grécia; talvez, por essa
razão, as suas lições são pagas;
os sofistas são professores da excelência política (politike arete);
estes professores introduzem duas técnicas da máxima importância: a
erística e a retórica.
Diremos, ainda, que o movimento sofistico apresenta dois aspectos que deverei
mencionar:
não obstante a sua originalidade ele não corta, por completo, com o passado:
alguns sofistas continuam a debruçar-se sobre as questões cosmológicas;
O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são,
das coisas que não são, enquanto não são."
A vida e as obras
Protágoras nasceu por volta de 492 a.C. em Abdera e parece ter sido
discípulo de Demócrito. Existe uma história acerca de Protágoras que diz que
seu pai, Meândrios, sendo muito rico, recebeu em sua casa o rei Xerxes, o qual, a
para lhe agradecer, ordenou aos magos que ministrassem ao jovem Protágoras o
ensino, que de um modo geral, era reservado aos Persas.
Foi alvo de uma acusação por professar o agnosticismo. Como resultado, foi
convidado a deixar Atenas e as suas obras foram queimadas na praça pública.
Protágoras foi o fundador do movimento sofistico. Inaugurou as lições públicas
pagas e estabeleceu a avaliação dos seus honorários. Pretende com o seu ensino
formar futuros cidadãos e por isso reivindica o título de sofista.
Morreu por volta de 422 a.C., com 62 anos, deixando uma influência profunda
em toda a cultura grega posterior. A sua influência manifesta-se também na
filosofia moderna.
As duas grandes obras de Protágoras são: "As Antilogias" e "A Verdade", esta
última veio a ser conhecida mais tarde por "Grande Tratado". A doutrina
de Protágoras abrange, pelo menos, três momentos que consistem,
primeiro na produção d' "As Antilogias", depois na descoberta do homem-
medida e, finalmente, na elaboração do discurso forte. O primeiro deles é um
momento negativo e os dois seguintes são construtivos.
As Antilogias
O homem-medida
"O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto
são, das coisas que não são, enquanto não são."
Esta frase continua enigmática. Note-se que, Protágoras utiliza para designar
a "coisa" de que o homem é medida o termo chrema, e não o termo pragma.
Sendo que o primeiro significa uma coisa de que nos servimos, uma coisa útil.
Depois, surgem algumas questões em redor da tradução do termo métron. Este é
tradicionalmente traduzido por "medida", com o sentido de "critério", mas há
quem rejeite este sentido e lhe atribua o sentido de "domínio", que deriva da
etimologia do termo.
Outro dos problemas que rodeia esta expressão diz respeito à extensão a dar à
palavra "homem". O Antigos entenderam a palavra "homem" como designando o
homem singular, o indivíduo com as suas particularidades específicas. Contudo,
no século XIX entendeu-se a palavra "homem" como significando a humanidade.
Mas, Hegel pensa que esta distinção de sentidos não tinha sido feita por
Protágoras.
O discurso forte
Assim, se para medir o discurso forte se contam mais as vozes que o seu peso,
não é menos verdade que certas vozes pesam mais que outras pois são capazes de
juntar as outras à sua volta. A teoria do discurso forte de Protágoras parece então
apresentar uma inspiração política que é a da democracia, tal como Atenas a
conheceu na época brilhante de Péricles.
Natureza da Verdade
Pai de Deucalião, foi o titã que criou os homens, com seu irmão Epimeteu, e que
também roubou o fogo dos deuses para presentear às suas criações
Segundo Hesíodo[3] foi dado a Prometeu e seu irmão a tarefa de criar os homens e
todos os animais. Epimeteu encarregou-se da obra e Prometeu encarregou-se de
supervisioná-la. Na obra, Epimeteu atribuiu a cada animal os dons variados de
coragem, força, rapidez, sagacidade; asas a um, garras outro, uma carapaça
protegendo um terceiro, etc. Porém, quando chegou a vez do homem, formou-o
do barro. Mas como Epimeteu gastara todos os recursos nos outros animais,
recorreu a seu irmão Prometeu. Este então roubou o fogo dos deuses e o deu aos
homens. Isto assegurou a superioridade dos homens sobre os outros animais.
Todavia o fogo era exclusivo dos deuses. Como castigo a Prometeu, Zeus ordenou
a Hefesto que o acorrentasse no cume do monte Cáucaso, onde todos os dias uma
águia (ou corvo) dilacerava seu fígado que, todos os dias, regenerava-se. Esse
castigo devia durar 30.000 anos.
Prometeu foi libertado do seu sofrimento por Hércules que, havendo concluído
os seus doze trabalhos dedicou-se a aventuras. No lugar de Prometeu, o centauro
Quíron deixou-se acorrentar no Cáucaso, pois a substituição de Prometeu era
uma exigência para assegurar a sua libertação[.
A história foi teatralizada pela primeira vez por Ésquilo no século V a.C. com o
título de Prometeus desmotes (Prometeu Agrilhoado/Acorrentado)
Górgias
A vida e as obras
Górgias nasceu na Sicília, em Leontinos, entre 485 e 480 a.C.. Em 427 a.C.,
quando Leontinos foi ameaçada por Siracusa, foi encarregado de conduzir a
Atenas uma missão a pedir socorro. Górgias, defende a causa da sua pátria
perante a Assembleia do Povo, em Atenas, onde alcança um grande sucesso pela
sua eloquência.
O seu estilo é tão pessoal que os gregos criarão o termo "gorgianizar" para
designar "falar à maneira de Górgias". Com o seu estilo, Górgias conquista para o
seu ensino vários atenienses de alta estirpe e percorre toda a Grécia sem se fixar.
a
Na Tessália ensinou Isócrates, que veio a fundar em Atenas uma escola rival da
Academia. Parece ter ficado celibatário e ter passado o fim da sua vida na
Tessália, onde morre mais que centenário.
A sua audiência e celebridade era tão grande na Grécia que lhe ergueram uma
estátua de ouro maciço em Olímpia. Foi, sem dúvida, devido à sua imensa fama
que os fragmentos existentes de Górgias são os mais numerosos e completos de
todos os sofistas. Existem até certas obras em extenso, como é o caso d' "O Elogio
de Helena" e d' "A Defesa de Palamedes".
A poesia da ilusão
A arte do sofista, isto é, do homem sábio, era, segundo Górgias, uma "ilusão
justificada". O discurso sofístico, ainda que expresso em prosa, faria parte da
poesia e a ilusão justificada seria tanto mais justificada quanto mais partilhada
fosse pelos ouvintes.
A ilusão justificada é, principalmente, fruto da linguagem poética, que age no
ouvinte de modo a sugestioná-lo. O problema central dos poderes da linguagem
vai desembocar no estudo da receptividade da alma para a musicalidade das
palavras. A este estudo os antigos chamaram-lhe "psicagogia", arte de levar a
alma, pela persuasão, até onde se quiser levar.
A psicagogia
O discurso isolado nada pode sem o esforço da persuasão, que age não só
sobre os sentidos mas também sobre a alma. Persuadir consiste em criar uma
recepção psíquica dos ouvintes aos argumentos, dando-lhes peso. Segundo
Górgias, a natureza profunda desta persuasão é poética, é a palavra ritmada.
Atento a isto, Górgias inventou figuras de estilo que marcam o ritmo. Lembre-se
que Górgias é originário da Grande Grécia e sofreu, precisamente, influência
pitagórica, seita esta que estudou os efeitos da música. O próprio vocabulário
usado para significar a acção da palavra persuasiva remete-nos para as práticas da
magia.
A persuasão do discurso age por feitiço. O sofista é o feiticeiro. Também o
discurso de Górgias age como magia, uma vez que este se serve nele da
linguagem.
Nada existe;
se existe alguma coisa não é apreendida;
se existe alguma coisa que se apreenda não pode ser comunicada a
outrem.
***
A vida e as obras
Pouca coisa restou dos numerosos escritos de Hípias. Contudo, as suas obras
podem dividir-se em três categorias: os discursos de circunstância, as obras
eruditas, e as obras poéticas. Entre as epideixeis, sabemos da existência do
"Diálogo Troiano". Entre as obras eruditas conhece-se os "Nomes dos Povos", a
"Lista dos Vencedores nos Jogos Olímpicos" e a "Colecção". Finalmente, entre
outros escritos poéticos encontra-se as "Elegias". Existem outras obras que lhe são
atribuídas, entre as quais o "Anónimo de Jâmblico", que já faz parte da colecção
dos textos sofísticos.
Natureza e totalidade
Natureza e lei
Também Hípias via a lei como um disfarce para o poder. Aliás, sabemos que
ele foi um dos criadores da etnologia e, como embaixador e professor itinerante,
contactou com múltiplas legislações positivas e verificou os desacordos e as
contradições. Ninguém melhor do que ele poderia ter a sensação da relatividade
daquilo que as diferentes culturas chamam "justo" e " bom". É por isso que Hípias
destrona o nomos e chama à lei "o tirano dos homens". Para Hípias a lei tiraniza a
natureza. Para ele a natureza desempenha o papel de uma norma moral
universal, que ultrapassa o particularismo do nomos. Hípias serve-se disto para
explicar a existência de uma benevolência espontânea do homem pelo seu
semelhante. A natureza cria uma socialidade que precisamente a sociedade
destrói. Só a natureza humana que pode fundar uma sociedade boa. A justiça é
vista por ele como obra do direito natural. A invocação da natureza pretende ter
como resultado a exigência da igualdade.
Pode-se dizer que Hípias foi favorável à democracia e quer-se reformador
desta, se o cosmopolitismo é movido por esta ideia que o grupo humano deve
integrar e não excluir. Com efeito, protestou contra o seu sistema de acesso às
magistraturas, que podia dar, temporariamente, o poder a incompetentes. O
intelectualismo de Hípias inclina-se a favor da democracia esclarecida. Enquanto
homem universal aberto a todas as técnicas, Hípias prova que a posse de ofícios
particulares não prejudica necessariamente os conhecimentos intelectuais gerais.
Para concluir, vemos que Hípias não era de modo algum o faz-tudo superficial
que, por vezes, se julgou ver nele. Possuidor de um espírito aberto e sistemático,
construiu uma doutrina de que infelizmente só podemos entrever, através de
escassos fragmentos.
Resumo de Hípias
oriundo da Cidade de Élis, o mais jovem dos quatro grandes sofistas, é aquele que
foi mais maltratado por Platão. Por aquilo que conhecemos de Hipias, ele não
merecia a critica contundente e, sobretudo, o ridículo que lança sobre o sofista.
As indicações que possuímos mostram uma série de obras distribuídas por
vários campos. Citemos, apenas, duas para ilustrar o que dissemos:
Hipias faz a distinção entre lei por natureza e lei por convenção. A lei
por convenção é um produto do legislador ou de um órgão político. A lei
por convenção pode ser modificada e as Cidades apresentam as suas leis
que podem ser variáveis de Cidade para Cidade.
a lei por convenção pode ser violenta em relação à lei por natureza e não
é, como já disse, universal;
para Hípias a lei por natureza não conduz à lei do mais forte.
A vida e as obras
Antífon não era apenas onirocrítico, foi também o que hoje se chama
psiquiatra, que procura aperfeiçoar uma "arte de eliminar o desgosto". De facto,
Antífon dizia-se capaz de curar por meio da palavra as pessoas que sofriam de
desgosto.
Um outro traço original de Antífon foi, com efeito, o seu projecto de refundição
da linguagem, exprimindo a maior parte dos seus contextos mais importantes por
palavras que inventava. Antífon insistia muito no aspecto convencional dos
nomes, que deviam esconder-se face às realidades ou, pelo menos, decalcá-las o
mais estreitamente possível. Pretendia dar um sentido mais puro às palavras e de
modo a dizer o que havia para dizer.
É de espantar que tantos testemunhos deste pensador se tenham perdido,
sendo um facto que dele nada sabemos. E isto porque de entre todos os sofistas
este será, provavelmente, o maior. É de notar a profunda unidade de inspiração
que atravessa os fragmentos que dele restam.
Sócrates
O pensamento de Sócrates.
Embora considere esta tese verosímil penso que ela não resolve as
discrepâncias nas obras de Platão e de Xenofonte.
Pessoalmente, creio que a questão Socrática ainda está aberta e pouco
poderemos dizer, com alguma segurança, sobre Sócrates.
* **
Ainda hoje é vulgar ler-se que Sócrates inaugurou um novo ciclo da filosofia
grega. Tal significa que a um período cosmológico se seguia o período
antropológico inaugurado por Sócrates: estávamos perante uma autêntica
revolução.
Por aquilo que sabemos de Sócrates, este foi sem dúvida uma figura relevante
na 2.ª metade do séc. V. Todavia este período é marcado por outros
acontecimentos importantes.
Em primeiro lugar a medicina tornou-se um acontecimento marcante no
período referido. A sua influência em Platão, por exemplo, é explicita e
importante.
A medicina, pelo seu objecto, debruça-se sobre o que por vezes se chama a
natureza humana. O que é o homem e o interesse por ele são preocupações do
Corpo Hipocrático. Assim a medicina grega fornece uma contribuição importante
para o domínio da antropologia.
Qualquer que seja o valor que se atribua ao movimento sofistico será difícil
sustentar que ele tenha uma pequena influência na Cultura Grega da 2.ª metade
do séc. V.
Os sofistas, ao que nos parece, tiveram um papel relevante no campo que
agora nos interessa considerar.
A preocupação pela paideia é clara nos sofistas. A utilização de algumas
técnicas, como a erística e a retórica, procuravam a valorização dos seus
discípulos. Era, portanto, o aparecimento de uma educação de grau superior.
Se juntarmos ao que já dissemos o interesse pela linguagem, o tema do
conhecimento e a ética deparamos com um vasto campo no qual o homem está
no centro.
O que queremos dizer é que Sócrates não foi o único personagem a operar
uma mudança na 2.ª metade do séc. V. Os médicos do Corpo Hipocrático, os
sofistas e Sócrates, são todos eles os protagonistas da viragem a que assistimos no
período que menciona-mos, o que nos leva a considerar que na 2.ª metade do séc.
V ocorreu uma revolução cultural.
Para concluir diremos que não há uma revolução socrática mas sim uma
revolução em que outros tiveram uma importância que não podemos
menosprezar. O que afirmamos não diminui o valor da filosofia de Sócrates mas
coloca-o no contexto em que viveu.
Platão
1. Preliminares
1.1. A vida
A obra de Platão chegou intacta até aos nossos dias. Os diálogos que compõem
este espólio são os seguintes:
Deverá anotar-se que dois diálogos constantes desta lista levantam, ainda hoje,
dúvidas quanto á sua autenticidade: o Hipias Menor e o Alcibiades.
Com a autoria de Platão temos também uma colecção de cartas, sendo a
chamada carta VII aquela que é considerada autêntica por vários historiadores;
mas seja como for a carta VII pode ser considerada como um documento
importante para o estudo da vida e da acção do filósofo.
A obra de Platão não está datada e é evidente que tal facto levanta dificuldades
ao historiador.
Se uma cronologia absoluta é altamente conjectural, já uma cronologia
relativa, de uma forma geral, tem sido considerada como uma tarefa com
resultados razoáveis, embora esta também não esteja isenta de perigos.
A partir do século XIX empreenderam-se os estudos a estabelecer a cronologia
dos diálogos. O método utilizado foi o estilístico que parte da hipótese de que o
estilo de um escritor se modifica ao longo do tempo.
Foi assim possível indicar grandes períodos nos quais se inseriam os diálogos
(vamos utilizar os chamados períodos da juventude, da maturidade e da velhice).
Mas convirá dizer que nem todos os problemas ficaram resolvidos e que ainda
hoje subsistem fortes dúvidas quanto ao lugar que deve ser ocupado por alguns
diálogos.
Embora não desfazendo todas as dúvidas o método estilístico cruzando-se
com outros critérios pode trazer resultados positivos.
Façamos, por fim, uma referência ao ensino oral de Platão. Há testemunhas de
que houve um ensino oral, doutrina não escrita, por parte do fundador da
Academia.
Através desses testemunhos procurou-se reconstituir esse mesmo ensino. Se
há ou não diferenças fundamentais entre os diálogos e a doutrina não escrita,
qual o verdadeiro Platão é um problema, em aberto, nos nossos dias.
1.4. O diálogo
Uma das questões que se levantam quanto ao diálogo platónico é o das suas
origens ou razões que levaram Platão a utilizar este género. Segundo pensamos
podemos avançar três razões:
O facto de ter chegado até aos nossos dias a obra completa de Platão poderá
levar a pensar-se que muitas das dificuldades que encontramos no estudo da
filosofia grega estarão ausentes na abordagem á obra de Platão.
É certo que com o fundador da Academia podemos ter a visão global da
filosofia de um autor o que é, sem dúvida, francamente positivo.
Vejamos, agora, algumas dificuldades que se deparam no estudo da filosofia
platónica, sendo algumas delas comuns ao pensamento grego:
a linguagem
Há a tendência para vermos uma época distinta da actual através dos nossos
quadros culturais e mentais. Não é fácil compreender uma época como os séculos
V e IV a. C. na Grécia. É preciso fazer uma reconstrução da cultura e da
mentalidade de então, o que se torna difícil devido á escassez de informação que
possuímos.
Quanto mais ampla e profunda for a reconstituição que empreendermos
melhor estaremos em condições de compreender um filósofo, neste caso
concreto, Platão;
a estrutura da obra
Uma obra de Platão, e mesmo uma de Aristóteles, não é tão linear na sua
estrutura como a generalidade dos livros de filosofia publicados nos nossos dias.
Num diálogo de Platão as digressões são frequentes e vários temas
entrecruzam-se e estes aspectos dificultam a compreensão dos objectivos da obra.
Acrescentemos ao que já foi dito o facto de a forma dialogada não facilitar o
nosso acesso á filosofia platónica.
A obra de Platão compreende dezenas de personagens: algumas delas têm um
papel importante a desempenhar na economia do diálogo.
O conhecimento que possuímos das dramatis personae não é amplo. Há
mesmo personagens sobre as quais praticamente nada sabemos assim como há
outras, pensa-se, que sejam ficções elaboradas pelo próprio Platão. Ora,
compreender um diálogo passa igualmente pelo conhecimento das personagens e
o filósofo, com frequência, descreve-as não só sob o ponto de vista intelectual
como também psicológico.
O esforço a realizar, moroso e difícil, é reunir o máximo de informação, através
dos poucos testemunhos existentes para que se possa entender o melhor possível
os diálogos platónicos.
O facto de possuirmos a obra completa de Platão e o atentarmos no
brilhantismo literário do autor não nos deve levar a pensar que muitas
dificuldades estão ultrapassadas.
Acrescentaremos, ainda, que iremos aplicar o método genético na abordagem
ao pensamento de Platão.
Nota adicional 1
O método genético
Nota adicional 2
O mito em Platão
O leitor dos diálogos de Platão depara com numerosos mitos. Não é fácil
determinar o sentido destes mitos e, portanto, os historiadores têm-se debruçado
sobre eles em busca do seu sentido.
Direi, como observação preliminar, que os mitos de Platão não se confundem
com os mitos que pertencem ao mais antigo corpo de saber grego.
Os mitos que se encontram nos diálogos são uma criação do próprio Platão.
O que disse no parágrafo anterior não significa que o filósofo não se tenha
inspirado e utilizado a matéria dos antigos mitos. Aliás é difícil descortinar o que
pertence à mitologia grega e a que pertence a Platão.
Dizer que o mito é um ornamento literário, que serve para aligeirar o texto, é
opinião da qual não partilho (vários mitos de Platão encontram-se no final dos
diálogos).
Segundo penso, o mito platónico apresenta-se como uma narrativa verosímil
que não pode ser demostrada. Tentarei ser mais claro.
Platão reconhece que há uma fronteira entre o racional e o irracional
(emprego o termo sem sentido pejorativo), isto é, há um campo no qual a razão
não pode penetrar.
Os limites da razão já estão presentes na chamada filosofia pré-socrática mas
parece-me que Platão vai mais longe do que os seus antecessores.
Ora, se existe um campo refractário ao racional, à cerca dele, só podem existir
narrativas prováveis ou verosímeis.
Na minha opinião o filósofo tem a consciência dos limites da razão e da
necessidade de fazer incursões no irracional com base no verosímil.
OS DIÁLOGOS DA JUVENTUDE
Uma das questões filosóficas mais importantes sobre a qual Platão se debruçou
até ao final da sua actividade foi a da Ciência.
O termo episteme que vamos traduzir por Ciência tem uma amplitude que a
palavra Ciência não possui: é mais a sabedoria que por sua vez engloba o que
entendemos hoje por Ciência.
Para Platão a Ciência, para ser possível tem de possuir um objecto universal,
portanto que seja estável. Ora, para o filósofo o sensível está num fluir constante,
em mutação e por isso não pode fornecer um objecto universal. Se assim é para
haver Ciência então o objecto universal tem de estar noutro plano.
Vai surgir assim o que se costuma designar por teoria das ideias. O termo ideia
é a tradução de eidos e idea. Em grego eidos significa o contorno de um objecto,
algo que se pode visualizar. Eidos e idea são termos praticamente equivalentes
(alguns historiadores não concordam com a equivalência) e podem ser
traduzidos, por ideia ou forma; empregaremos o termo ideia na nossa tradução.
A teoria das ideias levanta três problemas:
Como veremos são três problemas que vão preocupar Platão até ao final da sua
vida.
a imortalidade da alma não é explicita mas aponta para essa noção através
da pré-existência em relação ao corpo;
embora de uma forma não muito explicita a relação entre a alma e o real faz
com que ela surja como parente das coisas reais;
subjacente a toda esta concepção temos as ideias que não são mencionadas
(pelo menos como tais) no mito;
o tema da pré-existência da alma e do corpo como obstáculo ao
conhecimento são de inspiração pitagórica.
A teoria da reminiscência não vai ficar aqui. Neste momento estamos no plano
mítico.
Sócrates vai apresentar, um problema de geometria, a um escravo de Ménon
que nunca tinha estudado tal matéria. Através das perguntas que Sócrates vai
fazendo, o escravo encontra a solução do problema.
Tal, merece-nos duas observações preliminares:
No que diz respeito à teoria das ideias a República é importante pois contém
três alegorias que dizem respeito a essa teoria: a do Sol e a da linha dividida no
Livro VI e a da caverna no Livro VII.
Sublinhemos que o objectivo ou objectivos da República não consiste numa
digressão do mundo das ideias: as três alegorias estão integradas na reflexão
platónica sobre o ensino de nível superior (a que faremos referência noutro
lugar).
A alegoria do Sol é relativamente breve (Rep., VI, 507A – 509D). Assim como o
Sol ilumina as coisas permitindo que a nossa vista as descortine claramente a
Ideia do Bem tem como função o iluminar os inteligíveis o que permite que a
alma os atinga.
A Ideia do Bem é peculiar e obriga-nos a fazer algumas considerações:
a Ideia do Bem torna a teoria das ideias mais complexa. O mundo das ideias
foi sempre plural, isto é, existe uma multidão de ideias.
Na Rep. É introduzida uma nova ideia o que permite uma hierarquia com a
Ideia do Bem no topo;
a Ideia do Bem está para além das ideias e a sua função é permitir o acto do
conhecimento. Ilumina as ideias o que permite que estas sejam atingidas
pelo espírito. A Ideia do Bem é o garante do conhecimento;
a Ideia do Bem não é nem a sabedoria, nem a beleza. Está acima, pela sua
dignidade, do saber e da beleza.
A Vida e as Obras
Em 343 foi convidado pelo Rei Filipe para a corte de Macedónia, como preceptor
do Príncipe Alexandre, então jovem de treze anos. Aí ficou três anos, até à famosa
expedição asiática, conseguindo um êxito na sua missão educativa política, que
Platão não conseguiu, por certo, em Siracusa. De volta a Atenas, em 335, treze
anos depois da morte de Platão, Aristóteles fundava, perto do templo de Apolo
Lício, a sua escola. Daí o nome de Liceu dado à sua escola, também chamada
peripatética devido ao costume de dar lições, em amena palestra, passeando nos
umbrosos caminhos do ginásio de Apolo. Esta escola seria a grande rival e a
verdadeira herdeira da velha e gloriosa academia platónica. Morto Alexandre em
323, desfez-se politicamente o seu grande império e despertaram-se em Atenas os
desejos de independência, estourando uma reacção nacional, chefiada por
Demóstenes. Aristóteles, malvisto pelos atenienses, foi acusado de ateísmo.
Preveniu ele a condenação, retirando-se voluntariamente para Eubéia, Aristóteles
faleceu, após enfermidade, no ano seguinte, no verão de 322. Tinha pouco mais
de 60 anos de idade. A respeito do carácter de Aristóteles, inteiramente
recolhido na elaboração crítica do seu sistema filosófico, sem se deixar distrair
por motivos práticos ou sentimentais, temos naturalmente muito menos a revelar
do que em torno do carácter de Platão, em que, ao contrário, os motivos
políticos, éticos, estéticos e místicos tiveram grande influência. Do diferente
carácter dos dois filósofos, dependem também as vicissitudes exteriores das duas
vidas, mais uniforme e linear a de Aristóteles, variada e romanesca a de Platão.
Aristóteles foi essencialmente um homem de cultura, de estudo, de pesquisas, de
pensamento, que se foi isolando da vida prática, social e política, para se dedicar à
investigação científica. A actividade literária de Aristóteles foi vasta e intensa,
como a sua cultura e seu génio universal. "Assimilou Aristóteles escreve
magistralmente Leonel Franca todos os conhecimentos anteriores e acrescentou-
lhes o trabalho próprio, fruto de muita observação e de profundas meditações.
Escreveu sobre todas as ciências, constituindo algumas desde os primeiros
fundamentos, organizando outras em corpo coerente de doutrinas e sobre todas
espalhando as luzes de sua admirável inteligência. Não lhe faltou nenhum dos
dotes e requisitos que constituem o verdadeiro filósofo: profundidade e firmeza
de inteligência, agudeza de penetração, vigor de raciocínio, poder admirável de
síntese, faculdade de criação e invenção aliados a uma vasta erudição histórica e
universalidade de conhecimentos científicos. O grande estagirita explorou o
mundo do pensamento em todas as suas direcções. Pelo elenco dos principais
escritos que dele ainda nos restam, poder-se-á avaliar a sua prodigiosa atividade
literária". A primeira edição completa das obras de Aristóteles é a de Andronico de
Rodes pela metade do último século a.C. substancialmente autêntica, salvo uns
apócrifos e umas interpolações. Aqui classificamos as obras doutrinais de
Aristóteles do modo seguinte, tendo presente a edição de Andronico de Rodes.
I. Escritos lógicos: cujo conjunto foi denominado Órganon mais tarde, não por
Aristóteles. O nome, entretanto, corresponde muito bem à intenção do autor,
que considerava a lógica instrumento da ciência.
Filosofia de Aristóteles
A Teologia
Objecto próprio da teologia é o primeiro motor imóvel, ato puro, o pensamento
do pensamento, isto é, Deus, a quem Aristóteles chega através de uma sólida
demonstração, baseada sobre a imediata experiência, indiscutível, realidade do
vir-a-ser, da passagem da potência ao ato. Este vir-a-ser, passagem da potência ao
ato, requer finalmente um não-vir-a-ser, motor imóvel, um motor já em ato, um
ato puro enfim, pois, de outra forma teria que ser movido por sua vez. A
necessidade deste primeiro motor imóvel não é absolutamente excluída pela
eternidade do vir -a- ser, do movimento, do mundo. Com efeito, mesmo
admitindo que o mundo seja eterno, isto é, que não tem princípio e fim no
tempo, enquanto é vir-a-ser, passagem da potência ao ato, fica eternamente
inexplicável, contraditório, sem um primeiro motor imóvel, origem extra-
temporal, causa absoluta, razão metafísica de todo devir. Deus, o real puro, é
aquilo que move sem ser movido; a matéria, o possível puro, é aquilo que é
movido, sem se mover a si mesmo.
Da análise do conceito de Deus, concebido como primeiro motor imóvel,
conquistado através do precedente raciocínio, Aristóteles, pode deduzir
logicamente a natureza essencial de Deus, concebido, antes de tudo, como ato
puro, e, consequentemente, como pensamento de si mesmo. Deus é unicamente
pensamento, actividade teorética, no dizer de Aristóteles, enquanto qualquer
outra actividade teria fim extrínseco, incompatível com o ser perfeito, auto-
suficiente. Se o agir, o querer têm objecto diverso do sujeito agente e "querente",
Deus não pode agir e querer, mas unicamente conhecer e pensar, conhecer a si
próprio e pensar em si mesmo. Deus é, portanto, pensamento de pensamento,
pensamento de si, que é pensamento puro. E nesta autocontemplação imutável e
activa, está a beatitude divina.
Se Deus é mera actividade teorética, tendo como objecto unicamente a própria
perfeição, não conhece o mundo imperfeito, e menos ainda opera sobre ele. Deus
não actua sobre o mundo, voltando-se para ele, com o pensamento e a vontade;
mas unicamente como o fim último, atraente, isto é, como causa final, e, por
consequência, e só assim, como causa eficiente e formal (exemplar). De Deus
depende a ordem, a vida, a racionalidade do mundo; ele, porém, não é criador,
nem providência do mundo. Em Aristóteles o pensamento grego conquista
logicamente a transcendência de Deus; mas, no mesmo tempo, permanece o
dualismo, que vem anular aquele mesmo Absoluto a que logicamente chegara,
para dar uma explicação filosófica da relatividade do mundo pondo ao seu lado
Esta realidade independente dele.
Exames Filosofia Antiga II
I Grupo
Responda A duas (2) das seguintes Questões :
II Grupo
I Grupo
Responda A duas (2) das seguintes Questões:
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II Grupo