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RESENHA CRÍTICA

Rosana Fernandes da Silva

BARBOSA, José M. S; MELLO, Rita Márcia. A gestão escolar e a busca pela melhoria na
aferição do IDEB. Revista Iberoamericana de Educación. n.º 67, 2015, pp. 39-54.

Prof. Dr. José Márcio Silva Barbosa é doutor em educação pela UFMG, bacharel em
Ciências Econômicas e mestre em Educação pela UFV, é licenciado em Ciências Sociais
pela UNIMES. Integra o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre formação de professores,
trabalho docente e discurso pedagógico (NFTD) da UEMG, na qual também é docente
atualmente.

Profª. Dr. Rita Márcia Andrade Vaz de Mello é doutora em educação pela UFMG,
graduada em Pedagogia e mestre em Extensão Rural pela UFV, atualmente professora
titular na referida universidade. Já atuou como Coordenadora geral dos Cursos Lato Sensu
da UFV/Programa Nacional Escola de Gestores. Tem vários artigos e capítulos de livros, e
também é autora e organizadora de diversos livros nacionais e internacionais.

O artigo “A gestão escolar e a busca pela melhoria na aferição do IDEB” dos


autores José Márcio Silva Barbosa e Rita Márcia Andrade Vaz de Mello, faz parte do
resultado da pesquisa, intitulada “O papel do gestor escolar perante o Plano de
Desenvolvimento da Educação (PDE) em duas unidades escolares no município de Viçosa,
em Minas Gerais”. E teve como objetivo perceber como o gestor escolar desempenha papel
estratégico dentro da escola, destacando o seu papel de articulador em direção à melhoria
dos resultados do IDEB. Este artigo está dividido em introdução, abordagem teórica,
percurso da pesquisa, resultados e discussões, e considerações finais.
Na introdução Barbosa e Mello afirmam que o texto está baseado na dimensão
dialógica de gestores escolares pautados na leitura da realidade de suas unidades escolares a
partir da implementação do índice. Eles relatam que existe uma responsabilização pelos
resultados educacionais às escolas públicas de ensino, e consequentemente também o gestor
escolar, visto como influenciador na melhoria do IDEB alcançado, respondendo assim pelo
resultado positivo ou negativo de sua escola. Os autores acreditam que a melhoria dos
resultados do índice se efetivaria dando maior atenção ao comportamento do gestor escolar,
e não somente monitorando o sistema de ensino por resultados de provas de aprendizagem,
que não buscam averiguar as condições em que esses processos de ensino-aprendizagem
ocorrem.
Na abordagem teórica Barbosa e Mello explicam como se iniciou e como se efetiva
atualmente as políticas de avaliação educacional, onde destacam o SAEB e o IDEB, que
são instrumentos de acompanhamento e aferição da realização das metas educacionais por
escola, elencados no PDE, no qual se constitui em um guia para a ação, com o intuito de
enfrentar os problemas educacionais no Brasil, focando os níveis de qualidade em todas as
modalidades de ensino.
Os autores explicam que o IDEB serve como referência para o PDE, no que se
refere a qualidade da educação. E ao falarem sobre essas políticas de avaliação educacional,
enfatizam que essas políticas ganham novos contornos a partir do momento em que a
gestão pública toma como modelo administrativo, o modelo gerencial, que exprimi a lógica
de mercado e que transporta para a gestão escolar, a preocupação com a produtividade e
eficácia.
Barbosa e Mello reforçam sobre as contradições existente no tocante ao
entendimento de qualidade na educação, que passa a ser medida através da quantidade dos
resultados da aprendizagem e não em que situações e como ocorre os processos de ensino.
Então a partir das mudanças na gestão escolar, pautada agora no modelo gerencial, os
problemas da educação passam a ser serem vistos como produtos de uma crise da
qualidade, derivados pela improdutividade das práticas pedagógicas e da gestão
administrativa da escola. Porém, os autores alertam que é necessário discutir criticamente
esse pensamento, pois são contrários aos anseios da educação.
Barbosa e Mello enfatizam que é preciso superar o determinismo econômico
empresarial, partindo de uma verdadeira organização social, em que se busque uma tomada
de consciência crítica do processo, e que também se tomem iniciativas que busquem
alternativas para superar essa visão mercadológica da educação. Eles também apontam um
outro argumento usado pelos neoliberais para a construção da melhoria da qualidade do
ensino e aprendizagem, que é a visão de que o diretor escolar é o condutor e articulador,
que possibilita o atingimento dos resultados e da qualidade esperada, passando ser visto
como fiador da garantia da qualidade.
Os autores mostram que os baixos índices apontados no IDEB, não podem serem
analisados e resolvidos partindo apenas pela prática administrativa da escola, buscando
resolver apenas o problema da gestão, eles destacam que é preciso repensar esses
resultados, e que é necessário buscar outros fatores, não somente a gestão, que poderão
contribuir para a elevação dos índices.
Barbosa e Mello relatam os procedimentos metodológicos adotados, que se
materializou com uma revisão e análise de literatura da área, a aplicação de questionários e
trabalho de campo em duas unidades escolares
Como conclusão dos resultados da pesquisa, os autores concluem que o índice nos
dá uma indicação de como está o desempenho das escolas, mas que de nada valerá os
indicadores estatísticos sinalizarem seus resultados se não forem delimitados por uma
presença ativa e questionadora daqueles que estão diretamente envolvidos com a gestão
escolar. E que em suas observações, eles relatam que o trabalho do gestor nesse processo
permite construir um diagnóstico das especificidades da realidade escolar, como apontar
rumo, corrigir distorções, redimensionar metas e superar obstáculos, colocando em
evidência o seu papel de articulador em direção à melhoria dos seus resultados e da
qualidade educacional.
Assim corroborando com esse pensamento, podemos compreender que as
avaliações são importantes instrumentos que, sendo bem utilizados e trabalhados, podem
contribuir para a melhoria efetiva das políticas sociais, impactando de maneira positiva nos
sujeitos que as utiliza. Porém é necessário, segundo Minayo (2005), que não fiquem presos
a regras e sim ao diálogo, para conseguir um bom diagnóstico sobre dada realidade. Dessa
forma, na medida em que avaliados e avaliadores dialoguem, instituições e sistemas se
sintonizem e inteligências múltiplas se complementem que a avaliação irá emergindo com
suas características mais notáveis de propulsora das necessárias transformações
educacionais e sociais e de advogada dos direitos humanos. Sendo assim, mais importante
do que quantificar e atingir resultados, é realmente conhecer e entender a política e o
programa, como vem se dando se articulando, e criando a partir dos atores que o circundam
maneiras de melhorá-lo, e reelabora-lo, para que o mesmo seja legítimo.
Vejo que os argumentos apontados pelos autores nessa pesquisa são válidos à
medida que é extremamente necessário que se tenha uma avaliação sistematizada que avalie
a qualidade da educação básica nas escolas. Mas o que realmente é visto como problema, é
a relação da qualidade, focado no IDEB, que analisa apenas os dados de aprendizagem,
como principal fator. Ao se basear somente no fluxo escolar e no desempenho dos alunos,
essa forma de avaliar não produz dados fiéis sobre a realidade da educação básica.
Essa forma extremamente estatística da avaliação, não engloba o diálogo com os
atores escolares, nem entendo a realidade de cada escola. A avaliação neste sentido, deveria
englobar elementos estatísticos e qualitativos, pois é essencial realizar uma avaliação
sistêmica externa que entre em articulação com uma avaliação institucional interna. Como
bem coloca Freitas (2007), que é necessário uma “qualidade negociada”, envolvendo todos
os atores educacionais para a organização do processo avaliativo. Em que sua opinião é
semelhante às análises de Dourado (2007), que diz que a qualidade educacional não pode
ser simplificada ao simples ranqueamento das escolas, na medida em que há questões intra
e extra escolares.
Dessa forma a discussão apresentada pelos autores vão de encontro com as
discussões já assinaladas, como alternativa para a melhora dos índices de qualidade na
educação.

REFERÊNCIAS
DOURADO, L.F. Políticas e Gestão da Educação Básica no Brasil: limites e
perspectivas. Educação e Sociedade, Campinas, vol. 28, n. 100 - Especial, p. 921- 946, out.
2007.
FREITAS, L. C. de. Eliminação Adiada: o caso das classes populares no interior da
escola e a ocultação da (má) qualidade do ensino. Educação Sociedade, Campinas,
vol.28, n.100 – Especial, p.965-987, out.2007.
MINAYO, M. C. S. Mudança: conceito-chave para intervenções sociais e para
avaliação de programas. In: Avaliação por triangulação de métodos: abordagem de
programas sociais. Organizado por: Maria Cecília Minayo, Simone Gonçalves de Assis e
Edinilsa Ramos de Souza. 244p. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2005.

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