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Licenciatura em Letras Inglês

Teorias do texto narrativo

Diário de leitura do conto “Aqueles que abandonam Omelas”, de Ursula K. Le Guin,


por Nathália Batista

O título do conto me chamou a atenção por não saber do que se trata Omelas, seria uma
cidade? Um país? Ou uma comunidade, talvez?

Bem, agora eu sei que se trata de uma cidade.... Não posso deixar de reparar em como o
Festival de Verão é descrito pela autora, como tendo várias procissões que seriam
propriamente um baile, pela descrição da roupa de alguns cidadãos ditos pela autora
usando “sobretudos longos” Omelas deve ter um clima frio, só um momento, meninos e
meninas nuas exercitavam seus cavalos antes da corrida? Não devia estar tão frio assim,
como eu imaginava. Seria Omelas uma cidade naturista? Não é muito comum ver cenas
assim em uma cidade grande.

“Assim como passavam bem sem a monarquia e a escravidão, iam em frente sem a
bolsa de valores, a publicidade, a polícia secreta e a bomba. ” – agora é possível dizer
que Omelas não vive uma monarquia e tampouco num sistema capitalista. Mas será?

Ursula K. Le Guin descreve Omelas detalhadamente até que em algum ponto, ela parece
não conhecer tão bem a cidade, soa quase como se ela tivesse ouvido de outra pessoa
essa história e estivesse apenas recontando: “Não conheço as regras e leis de sua
sociedade, mas suspeito que eram consideravelmente poucas. ”

Omelas é uma cidade feliz, mas por que não tem tecnologia? Comecei então a imaginar
como seria Omelas, de fato. A autora passa a idealizar a cidade ideal, mas nesse
momento, ela está descrevendo como seria Omelas ou ela está como nós leitores
imaginando como deveria ser essa cidade? Nesse ponto, não sei dizer.

Após questionar se nós leitores acreditamos na alegria de Omelas, a autora pede espaço
para descrever mais uma coisa, o que me deixou curiosa, eu já havia levado um
“spoiler”, então sabia que existia um segredo bizarro por trás da felicidade de Omelas,
mas não imaginava que seria uma criança trancada em um lugar sujo, sem nenhuma
janela sendo mentalmente debilitada... e só piora. “..., às vezes a porta chacoalha
terrivelmente e se abre, e uma pessoa (ou várias) aparece ali. Uma delas pode entrar e
chutar a criança para fazê-la ficar de pé.”. Do que se trata isso? Por que fariam isso? A
essa altura estou totalmente confusa e indignada ao mesmo tempo.

Todos os habitantes de Omelas sabem dessa criança, mas apesar da repulsa, indignação
e raiva dos jovens espectadores, sentem que não há nada a fazer, pois a felicidade de
Omelas depende disso. Como podem ser felizes sabendo disso?
Agora o sentimento é de culpa. Seria Omelas um retrato da nossa sociedade? Não
somos negligentes como os habitantes de Omelas com as pessoas a nossa volta e
fechamos os olhos pra situações absurdas como, por exemplo, o fato de que muitos
produtos comercializados pela China são feitos através do trabalho escravo, onde
pessoas são exploradas por salários indignos. Não é exatamente isso que o sistema
capitalista faz? Tira de uns para que outros sejam felizes... Nossa, sem palavras para
descrever o momento. Uma epifania, talvez.

“Às vezes, um dos meninos ou meninas adolescentes que vão ver a criança não volta
para casa para chorar ou sentir raiva, na verdade sequer volta para casa.”. Apesar do
sentimento de indignação, ninguém na cidade de Omelas faz nada para ajudar a criança,
mesmo aqueles que não aceitam, apenas viram as costas e deixam Omelas.

Para finalizar, “...eles parecem saber para onde estão indo, aqueles que abandonam
Omelas. ”. Que impacto, que reflexão esse conto deixa. Assim, sem mais, nem menos, é
isso. Como eu queria que esse conto tivesse um final diferente, um final onde esses que
abandonam Omelas levassem consigo essa criança.

Esse foi o primeiro conto de Ursula K. Le Guin que eu li, e apesar de em alguns
momentos ter ficado irritada com a “inconstância” da narração que as vezes parecia não
ter certeza do que descrevia, eu gostei, me deixou com um misto de sentimentos, não
são todos os contos que deixam essa marca no leitor, como esse fez questão de deixar.

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