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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

ALDECY RODRIGUES SOBRINHO

ACIDENTE DE TRABALHO: O ATO INSEGURO SOB A


PERSPECTIVA DA ÁRVORE DE CAUSAS

Boa Vista, RR
2016.2
ALDECY RODRIGUES SOBRINHO

ACIDENTE DE TRABALHO: O ATO INSEGURO SOB A


PERSPECTIVA DA ÁRVORE DE CAUSAS

Monografia apresentada como pré-


requisito para conclusão do Curso
de Direito da Universidade Federal
de Roraima.

Orientador: Prof. MsC. Raimundo


Paulino Cavalcante Filho.

Boa Vista, RR
2016.2
ALDECY RODRIGUES SOBRINHO

ACIDENTE DE TRABALHO: O ATO INSEGURO SOB A PERSPECTIVA


DA ÁRVORE DE CAUSAS

Monografia apresentada como pré-


requisito para conclusão do Curso
de Direito da Universidade Federal
de Roraima. Área de concentração:
Direito do Trabalho e Direito
Processual do Trabalho. Defendida
em 15 de fevereiro do ano de 2017 e
avaliada pela seguinte banca
examinadora:

______________________________________________
Prof. MsC. Raimundo Paulino Cavalcante Filho
Orientador / Curso de Direito – UFRR

______________________________________________
Prof. MsC. André Paulo dos Santos Pereira
Curso de Direito – UFRR

______________________________________________
Prof. Gr. Paulo Cézar Dias Menezes
Curso de Direito – UFRR
Primeiramente dedico este trabalho
à Deus, porque sem Ele nada
podemos fazer.
Aos meus pais, Dna. Zeneide
Rodrigues e Sr. Francisco da Silva
(in memoriam).
A meus avós, Dna. Maria e Seu
Antonio Bernardino, pelas
inesquecíveis lembranças.
A minha amada Luana Felix, em
breve Sra. Rodrigues.
E ao meu filho, Gabriel Guedes
Rodrigues, por ser a razão de
grande orgulho.
AGRADECIMENTOS

Imperioso citar os nomes daqueles que de uma forma ou de outra


contribuíram para a construção dos primeiros alicerces de minha carreira, cujo ápice
apenas se vislumbra sob o prisma desta monografia.
Assim, não poderia deixar de agradecer, primeiramente, aquele cujo nome é
acima de todos os nomes, Deus, nosso Senhor, por seu inefável amor e sabedoria,
além do que nas horas difíceis da vida permitiu que eu cantasse as notas mais
lindas que existem no ar.
Agradeço também à minha família, porque é a base de tudo. Aos meus pais,
Sra. Zeneide Rodrigues, pela força e garra e Sr. Francisco da Silva, porque, apesar
de ter partido antes mesmo de eu ter nascido, sempre morou na minha memória.
Agradeço aos meus avós, Dna. Maria Rodrigues e Sr. Antônio Bernardino,
pelas inesquecíveis lembranças.
Um agradecimento especial aos meus irmãos, Fábio Rodrigues, Marcos
José, Fernanda e Fernando, porque o primeiro é um exemplo a ser seguido e os
demais são como tesouros a serem protegidos.
Agradeço também à minha amada, Srta. Luana Felix, em breve Sra.
Rodrigues, porque até nas altas horas esteve sempre ao meu lado.
Agradeço a meu filho, Gabriel Guedes Rodrigues, por ser fonte de grande
orgulho e estima.
Agradeço ao meu orientador, meu Mestre Raimundo Paulino Cavalcante
Filho, pelas suas orientações ímpares de seu magistério, um amigo. As palavras são
apenas “reticências” de minha gratidão.
Agradeço a Universidade Federal de Roraima, instituição singular, aos meus
professores e colegas de faculdade, sem os quais esse passo não seria possível.
Prepara-se o cavalo para o dia da
batalha, porém do SENHOR
vem a vitória.

(BÍBLIA, Provérbios 21:31)


RESUMO

O ponto de partida para a uma compreensão do tema ora proposto consiste,


preliminarmente, em relembrar as noções básicas atinentes ao acidente de trabalho
e suas repercussões na seara jurídica, sobretudo junto ao ramo de direito do
trabalho, para, em seguida, se dedicar a necessidade de identificar suas causas, na
medida em que servirão de base tanto para auxiliar as ações públicas preventivas
como para balizar o poder judiciário quando da prestação jurisdicional no que diz
respeito às responsabilidades devidas em face do acidente. Tratar-se-á, deste
modo, do conceito genérico de acidente do trabalho, sem, no entanto, debruçar-se
em questões controvertidas a respeito. Destarte, o foco principal deste trabalho é
voltar seus esforços no sentido de favorecer o debate e percepção das teorias que
explicam as causas e consequentes responsabilidades decorrentes dos acidentes
do trabalho, partindo das teorias que observam esses infortúnios a partir de uma
visão monocausal, com destaque para a teoria do ato inseguro até culminar na
necessidade de adoção de métodos capazes de tomar frente às novas tendências
exigidas pela evolução histórica da sociedade. Neste contexto, anuncia-se a teoria
da árvore de causas como alternativa viável no que tange à necessidade de
implementação de uma técnica de investigação mais robusta, completa e confiável.
Visando possibilitar a elaboração da dissertação, propõe-se a exposição do tema
com base tanto nas doutrinas desenvolvidas sobre o tema, como também na recente
e apropriada jurisprudência, além de outros meios de informações pertinentes como
revistas, boletins, jornais, conteúdos da internet e casos concretos.

Palavras-chave: Acidente de Trabalho. Direito do Trabalho. Teoria do Ato Inseguro.


Teoria da Arvore de Causas.
ABSTRACT

The starting point for an understanding of the subject proposed here is, first of all, to
recall the basic notions related to the work accident and its repercussions in the legal
field, especially in the field of labor law, in order to Need to identify their causes,
insofar as they will serve as a basis both for assisting preventive public actions and
for the judiciary to be used when providing jurisdictional services in respect of
responsibilities due to the accident. It will thus deal with the general concept of an
occupational accident, without, however, dealing with controversial issues. Thus, the
main focus of this work is to return the efforts to favor the debate and perception of
theories that explain the causes and consequent responsibilities arising from work
accidents, starting from the theories that observe these misfortunes from a
monocausal view, with emphasis To the theory of unsafe act until culminating in the
necessity of adopting methods capable of taking in the new tendencies demanded by
the historical evolution of the society. In this context, the theory of the tree of causes
is announced as a viable alternative with regard to the need to implement a more
robust, complete and reliable research technique. In order to enable the elaboration
of the dissertation, it is proposed to expose the subject based on both the doctrines
developed on the subject, as well as on recent and appropriate jurisprudence, as well
as other relevant information media such as magazines, newsletters, internet content
and Cases.

Key words: Work accident. Labor Law. Theory of the Unsafe Act. Caustic Tree
Theory.
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

ADC Árvore de Causas


AEPS Anuário Estatístico da Previdência Social
Art. Artigo
Arts. Artigos
AT Acidente do Trabalho
ATs Acidentes do Trabalho
CAT Comunicação de Acidente do Trabalho
CC Código Civil
CDC Código de Defesa do Consumidor
CFRB Constituição Federal da República do Brasil
CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
CIPAs Comissões Internas de Prevenção de Acidentes
CLT Consolidação das Leis Trabalhistas
CPC Código de Processo Civil
Ed. Edição
INRS Institut National de Recherche et de Sécurité
MTE Ministério do Trabalho e Emprego
n° Número
NCPC Novo Código de Processo Civil
NR Norma Regulamentadora
NRs Normas Regulamentadoras
OIT Organização Internacional do Trabalho
p. Página
SESMT Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina
do Trabalho
TST Tribunal Superior Trabalhista
§ Parágrafo
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 11
2 ASPECTOS PRELIMINARES DO ACIDENTE DO TRABALHO............ 14
2.1 CONCEITOS DE ACIDENTE DO TRABALHO........................................ 14
2.1.1 O conceito legal e doutrinário de acidente do trabalho...................... 15
2.1.2 O conceito de acidente do trabalho como variação de um sistema.. 17

2.2 O ACIDENTE DO TRABALHO E SUAS CONSEQUÊNCIAS.................. 18

2.3 O ACIDENTE DO TRABALHO E O PAPEL DE SEUS ATORES


SOCIAIS................................................................................................... 19
2.3.1 O papel do poder público e da sociedade em geral........................... 20
2.3.2 O papel do Poder Judiciário................................................................. 21
2.3.3 O papel da empresa e sua responsabilidade em face do
acidente................................................................................................... 22
2.4 A RESPONSABILIDADE EM FACE DO ACIDENTE DO TRABALHO..... 23

3 AS CAUSAS DO ACIDENTE DO TRABALHO E A NECESSIDADE DE


SUA INVESTIGAÇÃO............................................................................... 24
3.1 A IMPORTÂNCIA DE SE IDENTIFICAR AS CAUSAS DE UM
ACIDENTE................................................................................................ 24
3.2 A ORIGEM DOS MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO DOS ACIDENTES E A
TEORIA DO ATO INSEGURO............................................................................ 25
3.3 A IMPROFICUIDADE DA TEORIA DO ATO INSEGURO................................ 27
4 AS CAUSAS DO ACIDENTE DO TRABALHO SOB NOVAS 30
PERSPECTIVAS.........................................................................................

4.1 A TEORIA DO ATO INSEGURO SOB A PERSPECTIVA DA ÁRVORE DE 30


CAUSAS......................................................................................................

4.2 A ORGANIZAÇÃO COMO IDEIA DE SISTEMA E AS BASES DO MÉTODO 33


ADC...............................................................................................................

4.3 AS BASES HISTÓRICAS DO MÉTODO ADC........................................... 36


4.4 O METODO ADC NO BRASIL.................................................................. 38
4.5 A METODOLOGIA DA TEORIA DA ÁRVORE DE CAUSAS.................... 38
4.5.1 O procedimento da teoria ADC e o conceito de atividade................. 39
4.5.2 O procedimento da teoria ADC e o conceito de variação.................. 41
5 O MÉTODO ADC E SUA REPERCUSSÃO NO ÂMBITO JURÍDICO..... 43
6 CONCLUSÃO.......................................................................................... 50
7 REFERÊNCIAS........................................................................................ 53
11

1 INTRODUÇÃO

Segundo dados oficiais extraídos do Anuário Estatístico da Previdência Social


- AEPS 2013, ocorreram no Brasil, durante o ano de 2013, 717.911 acidentes do
trabalho, dos quais 559.081 tiveram CAT registrada, enquanto que 158.830 se
deram sem o devido registro. Do total, 2.797 acidentes resultaram em morte e
14.837 em invalidez permanente do trabalhador. Estima-se, assim, que 1
trabalhador morre no Brasil a cada 3 horas e meia, informando Ávila; Castro;
Mayrink (2002) que os dados oficiais não englobam o mercado informal, os
servidores públicos com regime próprio de previdência e os militares, o que significa
dizer que o número concreto de acidentes do trabalho ocorrentes no Brasil é ainda
maior. Não obstante as ocorrências informais e a sub notificação, os dados
estatísticos do Ministério da Previdência e Assistência Social ora apresentados já se
mostram extremamente preocupantes.
Some-se a isso o fato de que esses acidentes impõem consequências
danosas não apenas às vítimas, mas à sua família e respectivo grupo social, o que
lhes atribui, ainda sob o ponto de vista de Ávila; Castro; Mayrink (2002), caráter de
interesse difuso e coletivo para a sociedade.
Outro fator de repercussão imediata diz respeito aos encargos financeiros
gerados para o sistema de seguridade social que, por sua vez, é custeado, em
grande parte, pela própria sociedade.
Destaque-se, por fim, o papel do Judiciário no que tange a garantir o devido
direito à justa reparação diante dos danos decorrentes, além de sua missão, de igual
modo fundamental, consistente no apoio ao poder público em geral quanto às ações
de prevenção.
Pois bem, ao se considerar que a análise adequada das causas dos
acidentes do trabalho é base importante não só para o campo da responsabilidade
civil, como também para o das ações prevencionistas, é que se justifica o estudo das
teorias abordadas no curso deste trabalho.
Conquanto seja redundante, merece ser destacado que as preocupações em
se estudar as causas dos acidentes do trabalho são amplamente compreensíveis,
na medida em que o resultado dessa análise é que conduzirá o magistrado, v. g., à
identificar as responsabilidades pelos infortúnios laborais de modo que decidirá de
um extremo a outro, conforme o resultado observado.
12

Some-se a isso, repita-se, o fato de ser determinante para a eficiência das


ações preventivas a intelecção das causas desses acidentes no ambiente de
trabalho. Segundo Baumecker; Faria; Barreto (2003) para que seja potencializada a
capacidade de prevenção é necessário que sejam aprimorados os conhecimentos
acerca dos acidentes laborais e, por conseguinte, a visão que se tem de suas
causas.
Desse modo, uma vez constatado o acidente do trabalho se torna relevante a
definição de suas causas tanto para o âmbito jurídico, como para o campo da
segurança e saúde do trabalhador, ora para atribuir a justa indenização em prol da
vítima, ora para prevenir novos infortúnios.
É a partir desse contexto que surgem as teorias capazes de explicar e
entender os acidentes do trabalho, começando pelas primeiras concepções
baseadas na visão monocausal dos acidentes, com destaque para a Teoria do Ato
Inseguro até culminar nos métodos com visão multicausal, dentre os quais se fará
menção ao método da Árvore de Causas.
Neste ponto, em que pese a clareza da legislação nacional a respeito da
responsabilidade do empregador diante do acidente de trabalho, várias pesquisas
publicadas por órgãos ligados à saúde do trabalhador, como a da Revista Brasileira
de Saúde Ocupacional, em 2007, demonstram que a Teoria do Ato Inseguro ainda é
o método predominante utilizado para análise do acidentes do trabalho no país,
desde as instituições públicas destinadas a tratar da saúde e segurança do trabalho,
como o próprio Judiciário, passando pelos serviços internos das empresas e até
mesmo entre os próprios trabalhadores.
Acontece que a evolução histórica da sociedade decorrente, sobretudo, de
suas conquistas no que tange à segurança e saúde do trabalhador, implicaram na
exigência de um método mais abrangente, que comportasse a investigação de todas
as possíveis causas dos infortúnios. É neste contexto que procura-se demonstrar a
ineficiência da teoria do ato inseguro na medida em que parte da ideia de atribuir
toda a responsabilidade do acidente à uma falha humana.
Em contraste, a teoria da árvore de causas procura explicar os infortúnios
laborais de maneira mais racional, ao sedimentar que os acidentes do trabalho
ocorrem em razão de uma rede de fatores causais que, apesar de complexa, pode
ser controlada, como veremos, em sua maior parte, pelo empregador.
13

Dentre outros fatores, os acima anunciados, por si sós, já justificam a


propositura da presente monografia, sobretudo quando da análise das teorias que
procuram explicar as causas dos acidentes do trabalho. É oportuno e necessário
tecer algumas considerações visando contribuir para o debate deste tema crucial
para o estudo das responsabilidades decorrentes dos acidentes, qual seja, o da
investigação das causas dos acidentes do trabalho.
No que tange à metodologia a ser aplicada, visando atingir os objetivos
propostos por esta dissertação, aplicar-se-á essencialmente o raciocínio dedutivo,
iniciando por uma compreensão geral relativa ao acidente do trabalho até atingir
seus desdobramentos mais específicos no que se refere ao estudo de suas causas,
segundo a evolução histórica do tema, evidenciando sempre os principais debates
em torno do assunto, seja por meio da doutrina, seja baseando-se na jurisprudência
atual.
14

2 ASPECTOS PRELIMINARES DO ACIDENTE DO TRABALHO

Ora, se o objetivo precípuo desta monografia está voltado, sobretudo, para a


análise das teorias que procuram explicar as causas dos acidentes do trabalho,
necessário se faz abrir a abordagem relembrando conceitos básicos enleados ao
tema, a saber, as posições legais e doutrinárias acerca da noção de acidente do
trabalho e seus aspectos históricos.
Ressalte-se que a prévia compreensão desses conceitos básicos visa, de
certo modo, facilitar o entendimento do assunto proposto, primeiro diante da
pretensão de se abordar as teorias que procuram explicar as causas dos acidentes
do trabalho e, depois, para se romper com o senso comum e perceber o acidente de
trabalho não como qualquer incidente ou infortúnio que permeie o cotidiano das
pessoas, mas como aquele atrelado às relações de trabalho e dotado de certa
especificidade.
Note-se que inexiste pretensão de restringir a ocorrência dos acidentes do
trabalho apenas ao campo das relações empregatícias, aliás, o que se infere da
moderna doutrina é que a visão sobre meio ambiente de trabalho deve ser ampla, no
sentido de abarcar qualquer relação cunhada na prestação de serviços, sem
prejuízo de que a indenização inerente ao acidente do trabalho seja norteada pelo
Direito Civil (CAVALCANTE FILHO, 2011).

2.1 CONCEITOS DE ACIDENTE DO TRABALHO

Sendo o acidente do trabalho o fato gerador do direito subjetivo de se pleitear


a consequente indenização pelos danos decorrentes, o que pressupõe a
identificação de suas causas a depender da responsabilidade civil adotada, ou
independente disso quanto às ações preventivas, imprescindível se torna relembrar
seus conceitos básicos para uma melhor compreensão da proposta.
Então, a definição que usualmente se encontra nos dicionários para a palavra
acidente é de caráter geral e contendo conceitos superficiais como, à guisa de
exemplificação, “acontecimento casual, evento não planejado, inesperado,
desfavorável, inconveniente, fortuito, prejudicial, desastre, etc.” (RODRIGUES,
2001). Essa definição genérica é comumente completada, via senso comum, pela
noção de perda ou dano decorrente, sendo que a perda poderá ser de cunho
15

material ou pessoal. Cabe, por ora, nessa perspectiva, alinhar tais conceitos à
ordem legal e doutrinária prevalecentes.

2.1.1 O conceito legal e doutrinário de acidente do trabalho

Sem a pretensão de aprofundar o tema da classificação e conceitos do


acidente do trabalho, a presente monografia limitar-se-á à exposição de uma visão
simplória da legislação brasileira acerca dos acidentes do trabalho, fundamental
para uma melhor compreensão do tema central ora proposto.
Pois bem, com o reforço da doutrina de José Antônio Ribeiro de Oliveira Silva,
ver-se que a legislação acidentária brasileira classifica os acidentes do trabalho,
basicamente, em quatro categorias principais, a saber, os acidentes típicos, as
doenças ocupacionais, as concausas e os acidentes do trabalho por equiparação ou
causalidade indireta, com destaque, dentro deste último grupo, para os acidentes de
trajeto, também denominados de percurso, ou in intinere (SILVA, 2014).
O art. 19 da Lei n. 8.213/91 do Plano de Benefícios da Previdência Social,
com a ressalva de José Antônio Ribeiro de Oliveira Silva que diz “[...] que a bem da
verdade não é uma lei específica sobre acidente do trabalho, sendo antes uma lei
genérica sobre todas as espécies de benefícios previdenciários [...]”, assim define o
acidente de trabalho típico (SILVA, 2014, p. 139):

Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a


serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos
no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação
funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou
temporária, da capacidade para o trabalho (Art. 19, da Lei 8.213/91).

Constituindo a segunda categoria, equiparam-se ao acidente do trabalho, por


expressa determinação legal, as chamadas doenças ocupacionais, assim
entendidas as doenças profissionais e as do trabalho, cuja diferença é percebida
seguindo-se a leitura do mencionado dispositivo legal, mais precisamente dos
incisos I e II do art. 20, a seguir transcritos:

I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo


exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da
respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência
Social; II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou
desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é
16

realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação


mencionada no inciso I (Incisos I e II, do art. 20, da Lei 8.213/91).

E como se revela praticamente inviável listar todas as hipóteses de doenças


ocupacionais, o parágrafo 2º do art. 20 da mesma lei estabelece que em caso
excepcional, constatando-se que a doença não incluída na relação prevista nos
incisos I e II do referido artigo resultou das condições especiais em que o trabalho é
executado e com ele se relaciona diretamente, a Previdência Social deve considerá-
la acidente do trabalho (SILVA, 2014).
Finalmente, merece destaque o conteúdo do art. 21 da lei em comento, que
dispõe de rol, segundo a doutrina rol meramente exemplificativo, de determinadas
situações equiparadas a acidentes do trabalho, merecendo destaque o teor da
alínea d, inciso IV, por trazer em seu bojo a definição de acidentes de trajeto,
também chamado de percurso ou in intinere (MARTINS, 2011).
O mencionado inciso, em sua alínea d, preceitua que será equiparado a
acidente do trabalho aquele sofrido pelo segurado, ainda que fora do local e horário
de trabalho, no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela,
qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do
segurado.
Em síntese, é acertada a classificação de Segre (apud WALDVOGEL, 2002)
ao mencionar que os acidentes típicos são aqueles que ocorrem no exercício do
trabalho, de forma concentrada no espaço e no tempo, enquanto que as doenças
ocupacionais seriam aquelas com relação direta e constante entre o trabalho que se
exerce e o aparecimento de doenças.
Completando a classificação com base em Waldvogel (2002) temos que os
acidentes de trajeto são os que ocorrem, sobretudo, nos momentos em que o
trabalhador estiver se locomovendo do trabalho para a residência e vice-versa, ou
nos horários das refeições (WALDVOGEL, 2002).
Como se pode notar, diversas são as definições doutrinárias envolvendo o
acidente do trabalho e sua classificação, mas, como o escopo aqui consiste em
expor apenas uma intelecção básica a respeito, destaca-se uma última e elucidativa
definição proposta por José Antônio Ribeiro de Oliveira Silva (SILVA, 2014, p. 137):

Cediço que o acidente do trabalho trata-se de um gênero do qual são


espécies o acidente laboral em sentido estrito e as doenças ocupacionais. O
primeiro é chamado de acidente típico ou acidente tipo, sendo normalmente
17

um fato imprevisível, súbito, que ocorre com o trabalhador no ambiente de


trabalho. As doenças ocupacionais, que compreendem as doenças
profissionais e do trabalho, são eventos que vão minando a saúde do
trabalhador com o passar do tempo, cujos sintomas por vezes são
percebidos muito tempo depois de sua aquisição pelo organismo humano”
(SILVA, 2014, p. 137).

Em que pese a competência dos conceitos até então estudados, importante


frisar que no curso desta dissertação restará evidenciada a pertinência dos
conceitos doutrinários que veem o acidente do trabalho como anomalias presentes
num determinado sistema organizacional, isso em razão do caráter sistemático das
teorias multicausais investigadoras dos acidentes do trabalho, como é o caso do
método ADC a ser explanado nas páginas seguintes.

2.1.2 O conceito de acidente do trabalho como variação de um sistema

Como já foi antecipado, os conceitos de organização como um sistema e a


consequente visão do acidente do trabalho como conseqüência das variações do
próprio sistema estão diretamente atrelados à proposta dos métodos multicausais de
investigação, eis que tais métodos, por serem mais abrangentes, devem ver os
fatores mais distantes do cenário dos infortúnios como possíveis causas
desencadeadoras.
Com apoio na principal referência deste trabalho, a saber, a obra de Binder;
Monteau; Almeida (2000), Árvore de Causas - Método de Investigação de Acidentes
do Trabalho é que se enxerga o infortúnio laboral como uma das manifestações de
disfunção do sistema, capaz de revelar o caráter patológico de seu funcionamento.
(BINDER; MONTEAU; ALMEIDA, 2000).
No mesmo sentido, Villatte (1990) define acidente como uma conseqüência
não desejada do funcionamento do sistema, que está vinculado com a integridade
física do elemento humano desse sistema, ou seja, o autor não associa o acidente
exclusivamente às falhas humanas, mas prepondera que o infortúnio poderá
decorrer de outras anormalidades, destacando o elemento humano como a vítima de
eventuais lesões (VILLATTE, 1990).
O referido autor salienta que para o acidente ser apreendido como uma forma
de ruptura é necessário investigá-lo à luz da visão sistêmica, pois dessa forma o
acidente poderá ser visto como uma variação, ou a materialização de uma anomalia.
18

Acontece que nem toda variação caracterizará um acidente, cabendo


estabelecer alguns critérios capazes de determinar se houve ou não acidente. Tais
critérios podem ser de duas categorias - ou são critérios que estabelecem faixas
toleráveis para as variações ou são definidos pelas consequências que provocam,
sendo esse último o mais tradicional no direito do trabalho e que distingue os
acidentes dos incidentes em função do impacto que provocam (VILLATTE, 1990).

2.2 O ACIDENTE DO TRABALHO E SUAS CONSEQUÊNCIAS

A primeira resposta que surge quando se perquire acerca das conseqüências


do acidente do trabalho diz respeito quase sempre aos sérios transtornos e
sofrimentos que afetam os acidentados e, consequentemente, sua família, podendo
eles, por conta de morte ou lesão incapacitante, ficarem desassistidos e
desamparados.
Mas, como ensina Dorman (2000), as conseqüências dos acidentes do
trabalho ultrapassam os limites das perdas físicas imposta às vítimas e familiares e
dos custos financeiros e emocionais envolvidos e chegam a comprometer valores
sociais como a justiça e a solidariedade (DORMAN, 2000).
Daí se denota, ainda sob influência de Dorman (2000), que, enquanto
fenômeno social, o acidente do trabalho comporta uma pluralidade de dimensões na
medida em que não se restringe apenas ao ambiente de trabalho e às famílias das
vítimas, mas se configura como uma verdadeira disfunção do sistema produtivo que
extrapola os muros da empresa e passa a representar uma grave questão social
(DORMAN, 2000).
Alinhando-se ao entendimento de Dorman, Daniela Aparecida Flausino
Negrini, quando trata das consequências para a empresa, declara que o acidente
reproduz perdas que se iniciam com os custos imediatos e se propagam de diversas
formas pelas diferentes esferas da administração (NEGRINI, 2016).
Assevera, ainda, a autora que entre os prejuízos provocados pelos acidentes
do trabalho, os de aspecto econômico reservam a temática o status de questão
prioritária a ser debatida não só pelas empresas como também por toda a sociedade
e poder público em geral. Isso sem falar na perda do elemento produtivo, o que pode
levar ao aumento de taxas e impostos a fim de se custear a rede assistencial dos
acidentados, cujo número de dependentes é cada vez mais crescente.
19

Em relação às consequências dos acidentes laborais no que tange aos


direitos trabalhistas, por serem considerados casos de interrupção do contrato de
trabalho, tais infortúnios, em regra, continuam a gerar custos a serem despendidos
pelo poder público em conjunto com o empregador, ainda que não se possa contar
com a fruição da força de trabalho do trabalhador (NEGRINI, 2016).
Como se percebe a partir dos escritos de Negrini e Dorman, o primeiro
enfoque relativo às perdas provocadas pelos acidentes do trabalho é, sem dúvida,
de cunho econômico e, sobretudo, cercado pelo claro interesse empresarial.
Defendem os autores a ampliação desse olhar para fora dos limites empresariais, de
forma a ser evidenciada uma completa abordagem do problema social gerado pelos
acidentes do trabalho, o que, somado a outros aspectos, justificam não apenas o
debate do tema, como a própria intervenção das instituições do Estado que operam
na defesa dos interesses difusos e coletivos da sociedade (DORMAN, 2000).
Ainda sob influência de Dorman, observa-se que o patamar de interesse
difuso e coletivo atribuído à questão é plenamente plausível haja vista que a
inserção do indivíduo na sociedade tem repercussão em diversas dimensões – É ele
o trabalhador, o empregado, o associado, o segurado, o contribuinte etc. Assim, o
que acontece em cada dimensão da vida do indivíduo em sociedade é de pleno
interesse das instituições responsáveis, como às que compõe o Judiciário, o sistema
de seguridade social e às dedicadas às questões específicas das relações de
trabalho (DORMAN, 2000).

2.3 O ACIDENTE DO TRABALHO E O PAPEL DE SEUS ATORES SOCIAIS

Munindo-se das considerações preliminares acima, mais factível se torna a


identificação do evento acidente do trabalho, todavia o desafio do tema não se
esgota por aqui. Antes de se adentrar ao estudo das teorias que procuram explicar
as causas dos acidentes do trabalho e suas repercussões político-jurídicas,
necessário se faz tratar, inicialmente, do papel dos principais atores sociais
envolvidos no tema acidentes do trabalho e a responsabilidade civil decorrente.
20

2.3.1 O papel do poder público e da sociedade em geral

A partir de dados divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego – MTE,


os acidentes do trabalho acarretam prejuízos que afetam toda a sociedade, de
maneira que o desenvolvimento de ações com vistas a redução da sua incidência é
de extremo interesse de todos os envolvidos (governo, empregadores e
trabalhadores). Além dos danos a saúde do trabalhador, os acidentes laborais
também produzem grandes prejuízos para a economia nacional (BRASIL, 2015).
A política do MTE, nesse contexto, consiste em proporcionar o estudo das
possíveis causas dos acidentes do trabalho. Tal estudo visa prevenir a ocorrência
dos infortúnios e deve ser realizado por meio do planejamento e do controle das
condições de trabalho existentes nas empresas, através da identificação, avaliação
e eliminação dos riscos presentes no local (BRASIL, 2015).
Antes de estudar a responsabilidade propriamente dita decorrente do evento
danoso, urge tecer um breve comentário a respeito do papel precípuo dos poderes
públicos frente à este problema de grande repercussão social. É possível reunir as
incumbências do Estado em três frentes principais, qual seja, a preventiva, a
assistencial e a jurisdicional.
No âmbito da missão preventiva conveniente mencionar as orientações de
Negrini (2016), de quem se infere que a otimização da aplicação dos recursos que
dispõe o Estado para o combate aos acidentes do trabalho constitui iniciativa de
interesse social, cabendo esse papel não apenas às instituições responsáveis pela
medicina e meio ambiente do trabalho, como também aos demais órgãos, inclusive
o Judiciário (NEGRINI, 2016).
Ressalte-se, outra vez, a relevância de se entender as causas dos acidentes
de trabalho e, consequentemente, as teorias que procuram explicá-los. De Hertz
Jacinto Costa deduz-se que todo o esforço deve ser dedicado à investigação, a qual
deve ser feita de forma robusta, gerando ações efetivas, capazes de prevenir a
ocorrência e repetição dos sinistros (COSTA, 2015).
O presente trabalho busca também induzir a sociedade à adotar uma postura
prevencionista contra os acidentes. Assim, não se deve esperar que haja uma lesão
corporal, ou até mesmo a morte de algum indivíduo para que seja identificada a
existência de alguma disfunção na situação de trabalho. Saliente-se que as ações
21

preventivas é papel de todos e que o primeiro passo para o aprimoramento delas


consiste em conhecer o problema e minudenciar suas causas (BENITE, 2005).
Outro aspecto que merece ser lembrado é que o Estado precisa reservar
grande parte de suas receitas ao custeio da Seguridade Social, tanto no âmbito
previdenciário quanto no assistencial, já que os gastos com benefícios assistenciais
crescem proporcionalmente ao número de acidentes ocorridos. Eis aí mais um
motivo para reforçar a importância da prevenção e o necessário estudo das causas
dos acidentes laborais, sem falar que o ônus para sustentar todo o aparato
assistencial recai sobre as costas da própria sociedade.

2.3.2 O papel do Poder Judiciário

Então, como visto, o acidente do trabalho é evento que, em face do grande


impacto que impõe aos atores envolvidos, direta ou indiretamente, exige reações de
diversas instituições do Estado e da sociedade, dentre as quais destacamos, agora,
o Judiciário.
No exercício de sua função jurisdicional o Judiciário tem a possibilidade de
contribuir em prol da prevenção. É que a atividade de apuração empreendida pelo
Poder Judiciário quanto às responsabilidades pelo acidente depende da realização
de uma robusta investigação e análise aprofundadas do acidente do trabalho, o que
só é possível, diga-se de passagem, com a adoção de métodos investigatórios
abrangentes, capazes de elucidar todos os fatores circunstanciais que permeiam o
evento. O resultado de uma completa e ampla investigação, segundo Costa (2015),
acaba por reunir uma série de elementos e informações capazes de cooperar com o
caráter prevencionista das intervenções do Estado (COSTA, 2015).
É preciso entender que a função jurisdicional não reside apenas na tarefa de
finalizar a lide, atribuindo ao responsável pelo dano a obrigação de repará-lo, o que,
por si só, reforça a imprescindibilidade do estudo causal adequado que indique os
reais responsáveis pelo acidente, de forma a se evitar possíveis condenações
facciosas. A função do Judiciário vai mais além de sua atividade típica na medida
em que tem significativo papel na discriminação dos componentes e situações de
trabalho presentes na rede de causalidades do acidente, podendo muito bem
contribuir com a política de prevenção e controle por parte dos poderes públicos e
da sociedade.
22

Infere-se de Costa (2015) que a Justiça pode fazer mais que justiça e gerar
ganhos para a prevenção, o que só será possível se o órgão da Justiça for
abastecido com o resultado de uma investigação aprofundada, que não se restrinja
às superficialidades e causas de caráter imediato do acidente objeto da ação, mas
que avance na identificação de fatores potenciais, presentes em sua rede de
causalidades. Desta forma, em seu exercício, o órgão da Justiça pode conduzir a
organização envolvida a transformar suas situações de trabalho, aprimorando suas
instalações e outros elementos carentes de intervenção preventiva (COSTA, 2015).
Por fim, interessante mencionar que os resultados da análise do acidente
promovida com o apoio do método da árvore de causas podem também servir de
base para o Ministério Público do Trabalho formular e firmar com empresas
responsáveis por acidentes do trabalho, por exemplo, o Termo de Compromisso de
Ajustamento de Conduta. Isso faz com que a Justiça, além de bem cumprir seu
papel, repercuta sua ação em benefício dão anseio maior da sociedade, o combate
a ocorrência dos infortúnios.

2.3.3 O papel da empresa e sua responsabilidade em face do acidente

Como as primeiras consequencias do acidente do trabalho tendem a afetar,


depois do acidentado, a economia da própria empresa, a ela interessa a
investigação dos acidentes. A legislação exige um sistema de gestão da segurança
e saúde no trabalho, de modo a evitar os acidentes ou identificar suas causas, com
vistas ao aperfeiçoamento das atuações preventivas. Da ênfase que Garcia (2013,
p. 1080) confere à legislação, nesse sentido, extrai-se:

Compete às empresas: a) cumprir e fazer cumprir as normas de segurança


e medicina do trabalho; b) instruir os empregados, através de ordens de
serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do
trabalho ou doenças ocupacionais; c) adotar as medidas que lhes sejam
determinadas pelo órgão regional competente; d) facilitar o exercício da
fiscalização pela autoridade competente (GARCIA, 2013, p. 1.080).

Deduz-se dos ensinamentos de Tuffi Messias Saliba que, dentre outras, a


prática de um sistema de gestão voltado para a medicina, saúde e proteção do
trabalhador é exigência legal imposta às empresas, vendo-se como bons exemplos
de atendimento à essas determinações a constituição das CIPAs e SESMTs
(SALIBA, 2015).
23

Entenda-se que a constituição das CIPAs e SESMTs advem das NRs 4 e 5,


respectivamente, anunciadas junto à Portaria Nº 3.214/78 do Ministério do Trabalho
e Emprego, sendo que a NR 4 trata do Serviço Especializado em Engenharia de
Segurança e em Medicina do Trabalho – SESMT, incumbida da dimensão
administrativa, orgânica e política da gestão de segurança e saúde no trabalho,
enquanto que a NR 5 disciplina a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes –
CIPA, com funções similares à primeira e o diferencial de permitir a participação do
próprio trabalhador, por ser este o alvo principal da proteção instituída pelo
ordenamento (SALIBA, 2015).

2.4 A RESPONSABILIDADE EM FACE DO ACIDENTE DO TRABALHO

As cláusulas estabelecidas em um contrato de trabalho, antes de serem


inerentes a uma relação específica carecem de se amoldarem às relações civis, de
sorte que a elas são impostas determinadas regras de comportamento fundamentais
para a busca da harmonia social (CAIRO JR, 2015).
Sob o enfoque doutrinário, em especial a partir da leitura de José Cairo
Junior, em sua obra - O Acidente do Trabalho e a Responsabilidade Civil do
Empregador (2015), bem como de Maria Alice Monteiro de Barros, compreende-se
que a legislação trabalhista no campo do acidente de trabalho é estruturada no
sentido de amparar o trabalhador diante de ato ilícito doloso ou culposo cometido
pelo empregador. Alice Monteiro de Barros (2016, p. 647), v. g., explicita:

A responsabilidade civil extraída da legislação comum também se aplica ao


Direito do Trabalho. O dano a que alude o art. 186 do Código Civil de 2002
poderá ser material e/ou moral. Essa responsabilidade, por sua vez, poderá
ser contratual ou extracontratual. A primeira configura-se quando uma das
partes descumpre obrigação previamente contraída e a responsabilidade
extracontratual se verifica quando o dano causado implica violação de um
dever de não lesar, fora da relação convencional. (BARROS, 2016, p. 647).

Dando seguimento a leitura dos autores acima, é natural chegar-se a


conclusão de que a responsabilidade do empregador em face do acidente do
trabalho se dá em regra sob o foco da responsabilidade subjetiva, podendo, em
casos excepcionais, se admitir a apuração de forma objetiva, onde se configuraria a
responsabilidade apenas diante do dano e nexo causal precedente. Esclareça-se
que para configuração da responsabilidade subjetiva exige-se que estejam
24

presentes, além dos elementos objetivos já informados, a culpa em seu sentido


amplo.
Consoante Alice Monteiro de Barros o ato reveste-se da culpa quando
praticado com negligência, imprudência ou imperícia. A caracterização da culpa da
empresa pode se manifestar em duas hipóteses principais: a primeira seria a culpa
in eligendo, quando inexistentes as cautelas de praxe na escolha do empregado
sobre o qual confiará determinado serviço. Já a segunda situação abarca a culpa in
vigilando, configurada quando ausentes as ações de vigilância, fiscalização ou
quaisquer outros atos de segurança do trabalhador no cumprimento do dever a ele
confiado (BARROS, 2016).
Aponta Waldvogel (2002) que haveria três formas de responsabilidade na
legislação acidentária brasileira, a saber, a responsabilidade objetiva do órgão
previdenciário para com os beneficiários, a responsabilidade subjetiva do
empregador para com o acidentado quando aquele agiu com dolo ou culpa e, por
fim, a responsabilidade subjetiva da empresa para com o órgão previdenciário, em
caso de ação de regresso por conta daquilo que foi pago por este último ao
beneficiário, nos casos em que houver inobservância das normas padrão de higiene
e segurança do trabalho (WALDVOLGEL, 2002).
Ainda a respeito dos apontamentos de Waldvogel (2002), vale ressaltar que
em casos especiais, influenciados pela teoria do risco profissional, o
comprometimento do empregador em relação ao acidentado poderá ser verificado
sob o prisma da responsabilidade objetiva. Em todo caso, independentemente da
responsabilidade civil a ser adotada, é decisivo estudar e entender as causas que
culminaram no acidente do trabalho, acentuando-se a justificativa do tema proposto
por esse trabalho (WALDVOLGEL, 2002).

3 AS CAUSAS DO ACIDENTE DO TRABALHO E A NECESSIDADE DE SUA


INVESTIGAÇÃO

3.1 A IMPORTÂNCIA DE SE IDENTIFICAR AS CAUSAS DE UM ACIDENTE

Entendidas as conseqüências advindas do acidente do trabalho e o papel


institucional do Estado e da sociedade em geral, mister faz-se estudar a raiz desse
problema social, pois, como orienta Baumecker; Faria; Barreto (2003) para que
25

sejamos capazes de combater a ocorrência dos acidentes do trabalho e, por


conseguinte, amenizar suas conseqüências é imperioso aprimorar os conhecimentos
sobre suas causas (BAUMECKER; FARIA; BARRETO, 2003).
Nessa direção surgem os diversos métodos de análise dos acidentes,
detendo cada um de procedimento peculiar apto a dirigir o processo de análise e,
como este trabalho se presta a minudenciar duas dessas teorias, passar-se-á à
exposição de uma visão genérica sobre os métodos para, a seguir, trabalhar os
pormenores daqueles objetos desta monografia, a saber, o método ou teoria do ato
inseguro e a técnica da árvore de causas.

3.2 A ORIGEM DOS MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO DOS ACIDENTES E A TEORIA DO


ATO INSEGURO

Citando Kouabenam (1999), Baumecker (2000) lembra que remonta a


períodos muito antigos a concepção do acidente do trabalho como fruto do azar,
sem causalidade definida.
O autor comenta, que, a priori, os acidentes escapavam de qualquer
causalidade e que eram frutos dos caprichos de demônios subterrâneos, sendo que
essas explicações fatalistas se originam no seio da própria história da humanidade,
alicerçada nas concepções do senso comum popular. Entendia-se que a morte e
qualquer outra forma de sofrimento consistiam em um preço a pagar como
retribuição da violação de uma ordem pré-estabelecida.
Explica Baumecker (2000) que aliada à concepção de fatalidade com ela se
coadunava a ideia da causalidade pessoal, eis que o azar, no dizer da época, era
pessoal. Pois bem, a essas alturas era necessário superar a compreensão do
acidente do trabalho como fruto de mera fatalidade (BAUMECKER, 2000).
Assim, o acidente passa a ser entendido não como mera obra do acaso já
que não se caracteriza por ter distribuição uniforme no tempo, no espaço e nos
grupos humanos. Passava-se a compreendê-lo como uma perturbação do equilíbrio
entre o homem e seu meio ambiente, o que tornou coerente o estudo de suas
causas como principal mecanismo de reação a tais perturbações (RUELLE, 1993).
Nesse sentido são interessantes as contribuições do engenheiro Herbert
William Heinrich que em sua obra Industrial Accident Prevention, na década de 30,
concluiu que acidentes do trabalho, com ou sem lesões, ocorrem por diversos
26

fatores, dentre os quais destacou a personalidade do trabalhador, a falha humana no


exercício do trabalho, a prática de atos inseguros e as condições inseguras no local
de trabalho. Seus estudos apontaram também que, se uma atitude levava à outra, a
sequência de acontecimentos que resultavam nos acidentes poderia ser
interrompida ao se remover uma peça do caminho (HEINRICH apud COSTA, 2015).
E como Heinrich (apud COSTA, 2015) aponta o erro humano, antes de
qualquer outro fator, como o principal desencadeador do acidente, o foco da análise
é dirigido, predominantemente, para o comportamento humano.
Ainda sob o enfoque da causalidade dos acidentes, por Heinrich se admitia
que a grande maioria dos acidentes seriam causados por esse comportamento
humano errado denominado ato inseguro. Com o intuito de expor suas idéias
voltadas para a prevenção de acidentes, este autor fala de uma importante premissa
– Segundo ele, todo acidente ocorre a partir do desdobramento de 05 fatores
básicos e que uma vez presentes esses 5 fatores, a lesão seria inevitável.
Salienta Costa (2015, p. 96-97) a respeito da teoria de Heinrich:

A ocorrência de uma lesão invariavelmente resultaria de uma seqüência


completa de fatores, sendo o próprio acidente um desses fatores, isto
é, um acidente somente poderia ocorrer quando precedido ou
acompanhado por uma ou ambas das duas circunstâncias: o ato inseguro
de um indivíduo ou a existência de um risco material ou mecânico. Os atos
inseguros das pessoas são responsáveis pela maioria dos acidentes. A
proposta de Heinrich sobre a causalidade dos acidentes do trabalho fora
representada por meio de um arranjo específico de cinco peças de dominó
(HEINRICH apud COSTA, 2015, p. 96-97).

Para Heinrich o acidente seria causado por uma seqüência linear de eventos
que desembocavam na lesão, sendo que cada evento posterior era dependente do
precedente. Imagine-se uma fila de peças de dominó, ajustada de forma tal que a
queda de um implicaria no conseqüente tombo das demais. Pois bem, para o autor o
acidente e a lesão seriam representados apenas pelas duas últimas peças da
sequência e as demais peças precedentes as responsáveis pelo acidente. Esclarece
Costa (2015, p.98-99), ainda fazendo menção a Heinrich:

A lógica da prevenção concebida por Heinrich é que a subtração de uma


das peças intermediárias impediria a queda da peça que simboliza o
acidente ou a lesão. A cadeia proposta por Heinrich inicia-se com a
ancestralidade e o meio social, que seriam responsáveis por características
como o descuido, a teimosia e outros traços indesejáveis de caráter que, na
compreensão do autor, poderiam ser hereditários e/ou desenvolvidos pelo
meio social. Essa “peça” seria causadora da queda da segunda, que, por
27

sua vez, está ligada aos defeitos pessoais, que são exemplificados por meio
do temperamento violento, nervosismo, falta de cuidado e outros. Essa
segunda “peça” seria causadora da queda da terceira, ligada ao ato
inseguro e condição insegura. Essa “peça” seria causadora da queda da
quarta “peça” (o acidente), que por sua vez, causaria a lesão, representada
pela última peça da fila. Na concepção de Heinrich, o elemento chave para
a prática de prevenção seria a terceira pedra, representante do ato inseguro
e da condição insegura, sendo que a grande maioria dos acidentes seria
causada pelo comportamento inseguro do trabalhador. (HEINRICH apud
COSTA, 2015, p. 133-134).

Note que o pensamento acima esposado entrever o acidente de modo


exclusivamente linear e concentra a observação no próprio indivíduo, evidenciando
suas falhas e precipitações, sem, contudo, preocupar-se com aspectos
organizacionais possivelmente determinantes. Com tudo isso, na maioria das vezes,
os atos inseguros, não obstante tenham sido considerados erros individuais, tinham
por precursor natural a organização inadequada do trabalho.
Dessa ultima exposição é que se enfatizou a incidência das chamadas
condições inseguras, as quais aliadas aos atos inseguros constituíram as duas
causas fundamentais dos acidentes, segundo Heinrich (apud COSTA, 2015).
Para aclarar as diferenças entre os dois fatores, tome-se como base a
elucidante comparação de Álvaro Zocchio (ZOCCHIO, 2002, p. 47-48):

Os atos inseguros são os fatores pessoais dependentes das ações dos


homens que são fontes causadoras de acidentes. São exemplos:
permanecer sobre cargas suspensas, operar máquinas sem estar habilitado
ou autorizado, deixar de usar os equipamentos de proteção individual,
remover proteções nas máquinas, entrar em áreas não permitidas, entre
outros. Por outro lado, as condições inseguras estão ligadas às condições
do ambiente de trabalho que são fontes causadoras de acidentes. São
exemplos: máquinas sem proteções adequadas, iluminação e ventilações
inadequadas, ferramentas em mau estado de conservação, piso
escorregadio, temperatura elevada, etc. (ZOCCHIO, 2002, p. 47-48).

3.3 A IMPROFICUIDADE DA TEORIA DO ATO INSEGURO

Talvez sob influência das concepções monocausais deduzidas da teoria do


ato inseguro, Drummond (2003) vê o acidente como um evento não intencional e
indesejado, não planejado e inesperado, do qual resultam o dano físico, a lesão ou a
doença, além dos prejuízos à propriedade, uma quase perda ou qualquer
combinação desses efeitos. Junta ao rol a falha do indivíduo ao enfrentar a tarefa a
ele confiada (DRUMMOND, 2003).
28

Em que pese o prestígio do pensamento exposto por Drummond, ver-se que


a abordagem até então prevalecente era marcada pela superficialidade, uma vez
que reduzia o universo da investigação à cena do acidente, onde na maioria das
vezes a própria vítima surgia como parte responsável pela falha, neste caso
entendida como o ato inseguro.
Desde a década de 1980, principalmente a partir de uma mudança de postura
da própria legislação acidentária brasileira, a teoria do ato inseguro se torna alvo de
intensas críticas (MARTINS JÚNIOR et al., 2011, p. 5), as quais revelaram sua
fragilidade diante da necessidade de uma concepção global e sistemática a respeito
da investigação do acidente do trabalho.
Enfatizar Martins Junior (MARTINS JUNIOR et. al., 2011, p. 5):

A análise do acidente já tem como ponto de partida a culpa do trabalhador


no acidente (80% causados pelos atos inseguros). A conclusão da análise
do acidente é, inevitavelmente, pela culpa do trabalhador na gênese do
acidente por meio da prática do ato inseguro. O ato inseguro vislumbra o
acidente como fato isolado numa sequência linear, não se preocupando
com o contexto da ocorrência, tampouco com a forma em que se
desenvolve e processa o trabalho. Teorias do tipo monocausais não se
preocupam em analisar por que a decisão tomada pelo trabalhador fazia
sentido para ele no momento do acidente. A teoria do ato inseguro trata o
erro humano como comportamental e não como consequência da situação
de trabalho, das pressões e dos recursos disponíveis. A teoria não incentiva
a prevenção e, principalmente, o aprendizado organizacional de acidentes,
já que, por ela, a maioria dos acidentes é causada pelos próprios
trabalhadores, não justificando o investimento na melhoria de equipamentos
de segurança, na melhoria das condições de trabalho ou nos sistemas de
gestão organizacional. Livra antecipadamente o empregador da culpa sobre
o acidente de trabalho, já que o ônus do acidente recai predominantemente
sobre o trabalhador ante a prática do ato inseguro. Considera como fator
mais importante da questão certos traços de personalidade (insegurança,
irresponsabilidade, teimosia, valentia, complacência, negligência), conceitos
complexos de serem efetivamente medidos (todos sabem o que é, mas é
difícil mensurá-los), que tornariam algumas pessoas mais suscetíveis a
cometer atos inseguros e causar acidentes. (MARTINS JUNIOR, 2011, p.
77-79).

Para a política prevencionista encabeçada pelos setores responsáveis da


sociedade, nota-se que esta teoria, fundada no contexto do ato inseguro, não
contribuía com resultados efetivos. No campo jurídico, até hoje, induz o examinador
à conclusão de que o trabalhador tem pleno controle sobre as ações executadas no
ambiente de trabalho, cabendo ao mesmo evitar aquelas que podem desencadear
acidentes ou doenças. São comuns laudos periciais e decisões judiciais que se
concentram na conduta do acidentado e lhe atribui a responsabilidade pelo
29

infortúnio, com fundamento em sua culpa exclusiva. Para exemplificar, veja-se o teor
do seguinte julgado em 26/07/2011, do Tribunal de Justiça de São Paulo, em que se
entendeu serem impertinentes as indenizações pleiteadas pelo autor por se
considerar que o acidente se deu por ato inseguro do próprio trabalhador, sem mais
análise:

INDENIZAÇÃO - ACIDENTE DO TRABALHO PELO DIREITO COMUM


AUSÊNCIA DE CULPA - SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA RECURSO
PROVIDO. Não se desincumbindo o autor em demonstrar a culpa da
empresa ré no acidente típico do trabalho que o vitimou, segundo a prova
dos autos derivado de ato inseguro seu, impertinente as indenizações
pretendidas. (TJ-SP - APL: 9148777662003826 SP 9148777-
66.2003.8.26.0000, Relator: Paulo Ayrosa, Data de Julgamento: 26/07/2011,
31ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 26/07/2011).

Outro exemplo similar advém de decisão proferida em 04/05/2015 pelo


Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região, em que se entendeu que o
trabalhador agiu de forma insegura na prestação laboral, senão veja-se::

"ATO INSEGURO DO EMPREGADO. EXCLUSÃO DO NEXO CAUSAL. A


ação ou omissão contrária a preceito de segurança conhecido não atenua
nem exclui, necessariamente, a responsabilidade do empregador, e sua
valoração deve levar em conta as condições de trabalho, especialmente,
mas não só, no que concerne às capacidades cognitivas do trabalhador e
suas características psicofisiológica." (TRT 18ª Região, 3ª Turma, RO-
0000249- 33.2012.5.18.0121, Rel. Des. Mário Sérgio Bottazzo, julgado em
16/7/2014, (TRT18, RO - 0001290-04.2014.5.18.0141, Rel. SILENE
APARECIDA COELHO, 3ª TURMA, 04/05/2015)

Daí, novos pensamentos como os de Gibb; Hayward; Lowe (2001), os quais


sugerem uma investigação mais ampla, de modo a permitir a pesquisa dos fatores
conexos que potencialmente contribuíram para a ocorrência e sem perder de vista o
contexto no qual esses fatores se desencadearam se torna imprescindível (GIBB;
HAYWARD; LOWE, 2001).
Com isso, vem à tona a necessidade de analisar o acidente de maneira
sistêmica, como será esclarecido nos tópicos a seguir. Descortina-se o desafio de
estudar e apreender o fenômeno como contingência multicausal, em contraste com
o tratamento superficial dispensado ao acidente do trabalho pelas teorias
monocausais, sobretudo a do ato inseguro.
Corroborando com essa premissa é o entendimento de diversos julgados,
valendo destacar, por todos, a seguinte ementa:
30

INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. ATO INSEGURO. O empregador deve


tomar todas as medidas preventivas para evitar a ocorrência de acidente do
trabalho, seja treinando, fiscalizando ou adotando mecanismos eficientes e
suficientes nas máquinas e equipamentos, antecipando-se a qualquer ato
do trabalhador que possa redundar em sinistro. Os riscos do
empreendimento são do empregador e a absoluta falta de responsabilidade
deste, por prática de ato inseguro, pelo empregado, somente deve ser
aceita como hipótese derradeira, sob pena de incentivar o desleixo pela
saúde e segurança dos trabalhadores em gênero. A tese da culpa exclusiva
da vítima (ato inseguro do empregado)é responsável, com respeito às vozes
contrárias, pela colocação do Brasil no ápice estatístico dos acidentes do
trabalho. Somente uma cultura que imponha treinamento, equipamentos,
fiscalização e mesmo antecipação, pelo empregador, dos descuidos,
negligências, imprudências e outras atitudes bisonhas do trabalhador é que
poderá levar à reversão desse índice. ACIDENTE DE TRABALHO.
CUMULAÇÃO DE INDENIZAÇÕES POR DANOS MORAIS E ESTÉTICOS.
POSSIBILIDADE. É possível a cumulação das indenizações por danos
morais e estéticos, consoante entendimento pacificado pelo STJ através da
Súmula nº 387. Nem poderia ser diferente, já que as indenizações têm
objetivos distintos: o dano moral repara a dor, o sofrimento, a angústia
trazidas pelo [...] (TRT-12 - RO: 00016136220145120048 SC 0001613-
62.2014.5.12.0048, Relator: JOSE ERNESTO MANZI, SECRETARIA DA 3A
TURMA, Data de Publicação: 10/09/2015)

Sobre o caso em tela, com decisão data de 10/09/2015, nota-se que o


Tribunal Regional da 12ª Região ao consignar “[...] com respeito às vozes contrárias
[...]” revela a reconhecida dificuldade em se admitir a impertinência da tradicional
posição que atribui a responsabilidade pelo acidente em razão da prática de ato
inseguro pelo empregado, o que, no âmago da decisão aventada, somente deve ser
aceita como hipótese derradeira, sob pena de se incentivar o desleixo pela saúde e
segurança dos trabalhadores.

4 AS CAUSAS DO ACIDENTE DO TRABALHO SOB NOVAS PERSPECTIVAS

4.1 A TEORIA DO ATO INSEGURO SOB A PERSPECTIVA DA ÁRVORE DE


CAUSAS

Segundo Reason (1997) além do tratamento superficial dispensado ao


acidente do trabalho, outras limitações das concepções baseadas no ato inseguro,
seriam, na medida em que consideram apenas as falhas mais evidentes ou ativas,
não alcançar as causas raízes ou as condições latentes do evento indesejado. Hoje
se percebe que determinadas causas raízes, vistas como irrelevantes pela teoria do
31

ato inseguro, têm potencial para contribuir, provocar ou permitir as ações praticadas
pelos trabalhadores e, consequentemente, de suscitar o infortúnio.
Fatores como “trabalhava sozinho”, “sob tempo chuvoso”, “com pouca
iluminação”, “jornada excessiva” e “no horário noturno” são circunstâncias
secundárias quando se leva em consideração apenas a análise monocausal do
acidente, análise esta com a tendência de vislumbrar como decisivo apenas o ato
inseguro ou, no máximo, as condições inseguras do ambiente de trabalho
(REASON, 1997).
No mesmo sentido do entendimento de Costa (2015) e a despeito do natural
entendimento de que cada acidente é único, o autor sustenta que é possível
identificar na sua dinâmica e estrutura elementos que podem ser identificados e
analisados de modo a contribuir com as ações preventivas, aliás, é justamente a
necessidade de uma política preventiva que justifica a promoção do
aperfeiçoamento das técnicas de investigação e análise dos acidentes (COSTA,
2015).
É nesse contexto que, desde suas primeiras versões, o método da árvore de
causas, no entendimento de Nahas e Vago (2002), tem se mostrado competente
para melhor identificar o que denominou de fatores de riscos, isto é, as variações do
sistema potencialmente capazes de causar danos. Esclarecem, ainda, os autores
que o chamado fator potencial de acidentes não precisa causar diretamente o dano,
podendo existir associado ao acidente embora alheio à cena do infortúnio ou até
mesmo adquirir contorno imaterial na forma, por exemplo, de aspectos
organizacionais ou culturais. (NAHAS; VAGO, 2002).
Percebe-se que os atuais métodos de análise de acidentes buscam na
concepção e organização do trabalho as causas do evento, e não em um ato isolado
do trabalhador.
Dos esclarecimentos exposto por Sebastião Geraldo de Oliveira verifica-se
que a legislação brasileira, atualmente, busca do empregador a adoção de medidas
capazes de eliminar ou ao menos reduzir as causas dos acidentes do trabalho, de
forma que os atuais métodos de análise desses acidentes devem elucidar todas as
possíveis causas do evento, inclusive aquelas que contribuíram mediatamente ao
desfecho do infortúnio (OLIVEIRA, 2008).
Reforçando, ainda, a tese da improficuidade do ato inseguro face à nova
tendência de se exigir um olhar sistemático das relações de trabalho, deduz-se da
32

doutrina de Oliveira (2008) que a proposta da prevenção com base tão somente na
eliminação dos atos inseguros deriva da compreensão do comportamento do
trabalhador como autodeterminado, o que não se harmoniza com a marca da maior
parte das relações de trabalho, as quais se caracterizam pela presença do poder
diretivo do patrão (OLIVEIRA, 2008).
Conforme a leitura de Binder; Monteau; Almeida (2000), expoentes autores
que tratam da Teoria da Árvore de Causas, infere-se que, lamentavelmente, ainda é
predominante no Brasil a compreensão do acidente do trabalho como resultado de
um ato inseguro do trabalhador ou, no máximo, de uma condição insegura
associada ao ambiente de trabalho.
Ainda com base na obra dos autores citados, Árvore de Causas – Método de
Investigação de Acidentes do Trabalho, denota-se que a expressão ato inseguro
pode conduzir o operador do direito ao errôneo entendimento de que todas as falhas
do trabalhador no ambiente de trabalho podem ser vistas sob único prisma,
pressupondo ser impossível que o indivíduo pudesse sofrer quaisquer tipo de
influência emocional, por exemplo (BINDER; MONTEAU; ALMEIDA, 2000).
Citando Reason (1997), na mesma obra acima, infere-se de Binder et al.
(2000) que os erros humanos podem assumir diferentes perspectivas, ou sofrerem a
influência de diversos mecanismos psicológicos. É a partir daí que Binder alerta
sobre a importância de se ver a atividade exercida pelo trabalhador como parte de
um sistema muito mais complexo e abrangente (BINDER; MONTEAU; ALMEIDA,
2000).
Das exposições de Binder et al. (2000) denota-se ainda que é inútil para fins
de compreensão do acidente, a adoção da teoria do ato inseguro, eis que não
reproduz conceito passível de tratamento no âmbito dos sistemas de gestão de
segurança e saúde do trabalhador. Na verdade, continua a se denotar que o modelo
sugerido pela teoria do ato inseguro acaba por elidir qualquer possibilidade de
aprendizado sobre os acidentes, a não ser a falha do trabalhador e atua como
mecanismo de culpabilização dele (BINDER; MONTEAU; ALMEIDA, 2000).
Fica claro, com isso, a justificativa de movimentos ocorridos desde a década
de 1980, movimentos estes influenciados por esta mudança no modo de se ver o
acidente de trabalho. A partir de então, a teoria do ato inseguro passa a sofrer
intensas críticas revelando sua fragilidade quando da análise do acidente de forma
exclusivamente linear.
33

A esta altura, como percebemos, a reflexão já exigia uma ampla análise


multifacetária, característica peculiar das novas teorias concebidas por uma visão
mais moderna do sistema laboral, dentre as quais podemos destacar a teoria da
árvore de causas, que estudaremos a seguir.
Por ora e com base na leitura da expoente autora Maria Cecilia Binder e
demais colaboradores de sua obra, pode ser anotado que, diferente da teoria do ato
inseguro, o método da árvore de causas não descarta a existência de outros fatores
responsáveis pelo acidente, ainda que indiretos. Dentre estes fatores vale citar, por
ora, as más condições alimentares, doenças, medicamentos que alteram a
percepção, uso de drogas lícitas ou ilícitas, mal estar físico ou emocional, pressão
excessiva, jornadas de trabalho excessivas, hierarquia, treinamento insuficiente,
condições ambientais, más condições de trabalho, etc (BINDER; MONTEAU;
ALMEIDA, 2000).
Ressalte-se mais uma vez a completude da obra Árvore de Causas – Método
de Investigação de Acidentes de Trabalho, onde em conjunto com outros dois
renomados autores, Ildeberto Muniz de Almeida e Michel Monteau, são
disseminadas as particularidades e vantagens do método ADC. Almeida (2002), em
publicação própria, Quebra de Paradigma, confirma: “A clareza com que o esquema
ou árvore expõe os ‘mecanismos’ envolvidos na ocorrência dos acidentes pode
facilitar a superação da cultura da culpa” (ALMEIDA, 2002, p. 80).
Sobre esse assunto, uma indagação - Essa cultura baseada na idéia de que a
culpa pelo acidente é, sobretudo, do empregado existe hoje? Ora, julgados que em
tópicos anteriores foram colacionados denotam que apesar da amplitude proposta
pelo método ADC, ainda é patente na doutrina a cultura da culpabilização do
empregado. A questão que se precisa levantar é se seria possível fazer com que o
operador do direito, o poder público e até mesmo o próprio empregador comece a
olhar para o acidente do trabalho sob o prisma da multicausalidade, o que
representa a responsabilidade de todos pela normalidade do sistema organizacional.

4.2 A ORGANIZAÇÃO COMO IDEIA DE SISTEMA E AS BASES DO MÉTODO ADC

Antes da análise mais detalhada da teoria da árvore de causas como método


de investigação e análise de acidentes do trabalho, importante tecer comentários
sobre alguns conceitos básicos preliminares à compreensão da teoria, sendo
34

justificável, por sua ilibada compreensão, colacionar o conceito de abordagem


sistêmica defendido por Boulding (1956) apud Lieber (1998, p. 9-10):

“a abordagem sistêmica é a maneira como pensar sobre o trabalho de


gerenciar. Ela fornece uma estrutura para visualizar os fatores ambientais
internos e externos como um todo integrado. (...) Os conceitos sistêmicos
criam uma maneirade pensar a qual, de um lado, ajuda o gerente a
reconhecer a natureza de problemas complexos e, por isso, ajuda a operar
dentro do ambiente percebido. (...) Mas é importante reconhecer que os
sistemas empresariais são uma parte de sistemas maiores (...) e estão num
constante estado de mudança...” (BOULDING, 1956 apud LIEBER, 1998, p.
9-10).

A introdução do tema se justifica na medida em que as premissas


fundamentais quando do desenvolvimento de uma determinada técnica, como é o
caso do método de investigação de acidentes do trabalho, são exigíveis não só a
compreensão do tema em si, como também do ambiente onde se desdobra o evento
analisado, neste caso a organização.
De Villatte (1990), por exemplo, deduz-se que toda empresa ou organização é
formada por elementos que, associados, buscam o alcance de objetivos
predeterminados pautados, quase sempre, na produção de bens e serviços dentro
de um ambiente próprio e marcado pela inter-relação entre seus membros. Segundo
o autor, os indivíduos que a compõem não estão simplesmente alheios ao espírito
da organização, pois são envolvidos por importante rede de relações. Daí, a
importância de se ver a empresa como sistema e, por conseguinte, os métodos que
investigam os eventos nelas contidos, inclusive o acidente do trabalho (VILLATTE,
1990).
É fato que uma das principais metas da área de segurança e saúde no
trabalho é prevenir a ocorrência dos acidentes. Para tanto, buscou-se na Engenharia
de sistemas mecanismos capazes de garantir a integridade dos trabalhadores e dos
meios de produção. É que a aplicação de uma abordagem sistêmica junto à
segurança e saúde no trabalho considera todos os elementos que estariam
envolvidos, quando da análise prévia de perigo e quando do estudo das
possibilidades de ocorrência de erros.
Redundante mencionar, mas lembra-se que diante da ocorrência do acidente,
sobretudo os mais graves, a investigação muitas vezes fica restrita apenas à cena
do acidente e o modelo aplicado de forma predominante é aquele de caráter
35

monocausal, onde o acidente ocorreria por um ato inseguro do trabalhador ou por


condições inseguras de trabalho.
Contrapondo a esse modelo defectivo, a noção de sistema, como propõe
Morin (1998), preconiza uma visão mais abrangente, baseada em um processo de
busca e compreensão do fenômeno sob o ponto de vista global, por meio do qual
são avaliados todos os elementos do sistema e suas combinações (MORIN, 1998).
Baseado nessa noção de sistema é que para Binder; Monteau; Almeida
(2000) o acidente seria uma conseqüência não desejada do funcionamento do
sistema que, por sua vez, está vinculado à integridade física do trabalhador. Salienta
Binder; Monteau; Almeida (2000, p. 29): “o acidente é uma das manifestações de
disfunção do sistema, capaz de revelar o caráter patológico de seu funcionamento.”
A partir dessa ideia de sistema e a considerar a empresa como um conjunto
ou subsistema interdependente, o acidente passa a ser visto como anomalia que
nela se manifesta, revelando um problema não de cunho individual, mas geral e
envolvendo todo o processo de produção.
Partindo, também, de uma perspectiva sistêmica e levando-se em conta os
esclarecimentos de Binder; Monteau; Almeida (2000) pode-se melhor perceber a
ideia de sistema, inclusive no âmbito das organizações empresariais, onde ocorre a
maior parte dos acidentes, traçando uma comparação com o próprio sistema
orgânico do corpo humano. Faz parte do senso comum o axioma que diz que “se a
mão está doente todo o corpo padece” (BINDER; MONTEAU; ALMEIDA, 2000).
Então, nas organizações como sistema, o princípio deve ser o mesmo, de
modo que qualquer sinistro envolvendo um elemento isolado do sistema deve ser
visto com a visão global de que todo o sistema sente e é, portanto, responsável por
qualquer evento, seja benéfico, seja maléfico.
Apenas para ilustrar, como evento benéfico poder-se-ia citar o lucro que,
embora possa ser resultado de acertadas decisões da minoria, é passível de
proporcionar gratificações à todos os participantes da organização, sobretudo sócios
e administradores. Da mesma forma, mantendo-se a visão da organização como um
sistema, deve ser natural olhar para um evento maléfico qualquer, a exemplo do
acidente do trabalho, como um transtorno de toda a organização e não apenas do
elemento deflagrador do ato inseguro.
Depreende-se que Villatte (1990) partilha do mesmo entendimento ao
vislumbrar o acidente como disfunção indesejada do andamento do sistema que,
36

embora se ligue diretamente à falha humana, está, com a mesma importância,


vinculada à própria organização (VILLATTE, 1990).
Alem de Morin (1998) e Binder et al. (2000), pode-se buscar apoio nas ideias
de De Cicco; Fantazzini (1985), para reforçar ainda mais a noção de sistema como
premissa básica para entender as organizações como entidades complexas, onde
se mostra inegável a ocorrência de inter-relações entre seus componentes. Tais
aspectos são imprescindíveis à abordagem multicausal dos acidentes do trabalho, o
que se mostra harmonioso com a proposta oferecida pelo método de investigação
obeto final desta pesquisa, a saber, a teoria da árvore de causas (BINDER;
MONTEAU; ALMEIDA, 2000).
Inspirado pela mesma premissa de se enxergar a organização como um
sistema complexo é que o acidente de trabalho é aqui apreendido como um evento
enigmático que, para ser esclarecido, depende da mobilização de diversos fatores
interdependentes. Sob esse prisma, o acidente será entendido como a última
ocorrência de uma série de disfunções dos componentes.
É fato que tais disfunções pode até ser, e é na maioria das vezes, precedida
por uma atividade imediata praticada pela vítima, mas que também pode decorrer de
condições organizacionais implícitas, alheia à cena do infortúnio, presentes apenas
sob o enfoque da organização como sistema.
Sem dúvida, é esta visão ampla, proporcionada pela idéia de organização
como sistema, que alicerça a Teoria da Árvore de Causas, elevando-a à categoria
de método mais eficiente para magistrados e demais operadores do direito quando
imbuídos da missão de analisar com afinco as reais causas do acidente (VILLATTE,
1990).

4.3 AS BASES HISTÓRICAS DO MÉTODO ADC

A Teoria da Árvore de Causas, também conhecida como método ADC, que é


o principal objeto de discussão do presente trabalho, foi desenvolvida na França, no
início da década de 70, através dos estudos do INRS - Institut National de
Recherche et de Sécurité. É preciso anotar, contudo, que seus fundamentos
remontam ao texto “Prática de Análise de Acidentes de Trabalho na Perspectiva
Sócio-Técnica da Ergonomia de Sistemas", de autoria de Cuny e Krawsky e
desenvolvido em meados de 1950 (BINDER; MONTEAU; ALMEIDA, 2000).
37

Antes disso, segundos os autores Binder et al. (2000) importantes estudos


nesse sentido vinham florescendo desde à década de 50, destacando-se a
integração da ideia de multicausalidade na gênesis dos ATs. Nesse sentido é que
Cuny e Krawsky, citados por Binder et al. (2000), apresentam premissas
fundamentais do método ADC, o qual seria, doravante, desenvolvido por
pesquisadores do INRS nos anos seguintes (BINDER; MONTEAU; ALMEIDA, 2000).
Já por volta de 1960, graças ao financiamento de alguns setores da
comunidade de países europeus, desenvolveram-se, exemplificarmente, os estudos
de Jean-Marie Faverge e de Jacques Leplat, dos quais extrai-se a necessidade de
se empregar na análise dos acidentes do trabalho a noção de sistema, de sorte que
o acidente pudesse ser visto como manifestação aparente de uma variação do
próprio sistema (FAVERGE; LEPLAT apud BINDER; ALMEIDA; MONTEAU, 2000).
É interessante frisar, nessa linha, que Cuny e Krawsky (apud BINDER;
MONTEAU; ALMEIDA, 2000) foram quem desenvolveram os primeiros fundamentos
do método ADC, mas como visto, com importantes contribuições subsequentes,
merecendo destaque as contribuições de Faverge e Leplat até culminar com o
desenvolvimento e aplicação prática por parte do INRS, não sendo por acaso que
também é chamado de método INRS.
A aplicação experimental do método se deu a partir da descrição de 184
acidentes ocorridos entre 1965 e 1968 em certa usina siderúrgica na França. Os
pesquisadores, responsáveis pelo serviço de segurança da usina, tiveram à sua
disposição os dados dos ATs, a partir dos quais se constatou a necessidade do
desenvolvimento de um método multicausal para esclarecer a maior parte dos
infortúnios (BINDER; MONTEAU; ALMEIDA, 2000).
Principalmente por ter sido incluído, a partir de 1983, na Enciclopédia da
Organização Internacional do Trabalho, o método ADC, atualmente, é reconhecido
internacionalmente e, confirmando esta fama, é de bom alvitre se fazer menção à
quatro louváveis publicações em relação a este assunto, sendo a quarta a base
referencial expoente deste trabalho, sobretudo para este capítulo – O primeiro, trata-
se de um estudo de Krawsky, Cuny e Monteau, de 1972, intitulado “Methode
Pratique de Recherche de Facteurs d’Accidents - Principe et application
experimentale”. Um segundo estudo de mesmo título, datado de 1974 e de autoria
de Monteau (re-editado em 1977 pelo “Office des Publications Officielles des
Communautés Europeenes”). Além disso, temos um terceiro texto de 1975 de Meric,
38

Monteau e Szekely - Techiniques de gestion de la Sécurité e, finalmente, o livro


Árvore de Causas – Método de Investigação de Acidentes de Trabalho, de Maria
Cecília Binder, com colaboração de Ildeberto Muniz de Almeida e o renomado
Michel Monteau (BINDER; MONTEAU; ALMEIDA, 2000).

4.4 O METODO ADC NO BRASIL

Enquanto que na França, talvez por comportar um aparato jurídico-


institucional mais preparado e estruturado, o Método da Árvore de Causas é
naturalmente empregado em todos os setores responsáveis pela análise e
prevenção de acidentes, no Brasil, onde a pouco tempo é conhecido, o método não
logrou o êxito que se esperava ou que prometia sua própria conjuntura, com
princípios e regras capazes de proporcionar um olhar sistêmico para o problema.
Possivelmente em decorrência da escassez de referências bibliográficas no
idioma português, vê-se no bojo da visão tradicional certo abandono, quase que
comedido, de seus princípios, regras e aplicação (BINDER; MONTEAU; ALMEIDA,
2000).
Por outro lado, e nesse ponto contribui este trabalho, é possível destacar o
comprometimento da ciência moderna em trazer à tona conceitos atuais acerca da
compreensão das organizações como sistema e dos eventos que nela sucedem.
Blinder et al. (2000) explicam que na França foi feito um estudo avaliativo da
teoria ADC, onde se chegou a conclusão que deturpações indesejáveis na aplicação
do método existiam, basicamente, em virtude de falhas no ensino, emprego
inadequado dos princípios e falta de condições plenas para sua implantação.
Sendo assim, com vistas à melhor aplicação do método no Brasil, é preciso
estar atento à esses fatores prejudiciais. Nesse diapasão, a presente monografia
implementa sua parcela de contribuição ao levantar o debate sobre a questão
(BINDER; MONTEAU; ALMEIDA, 2000).

4.5 A METODOLOGIA DA TEORIA DA ÁRVORE DE CAUSAS

Como já visto, o método da árvore de causas se fundamenta, dentre outros


fatores, na idéia de que um melhor conhecimento sobre a multiplicidade de fatores
causais envolvidos na gênese do acidente é de grande valia para a prática da
39

prevenção. Desse modo, Binder; Monteau; Almeida (2000) entendem que as


situações de trabalho são naturalmente complexas na medida em que envolvem
tanto fatores físicos como a atividade desenvolvida pelo operário, quanto aspectos
emocionais, como a desmotivação ou o cansaço.
É necessário, assim, que o método a ser aplicado na investigação dos
infortúnios laborais consiga atender objetivos cruciais, a saber, a instrumentalização
e a busca sistemática de todos os dados, seja humanos, seja organizacionais.
Assim, se torna mais factível a identificação de elementos característicos do
acidente e a consequente identificação dos fatores de risco comuns a diferentes
situações de trabalho, visando suas supressões. (BINDER; MONTEAU; ALMEIDA,
2000).
Importante apontar que, muito embora seja visto como método, o ADC
constitui, na verdade, uma ferramenta de investigação, reunindo em seu bojo dois
princípios básicos, dentre outros - a multicausalidade dos acidentes e a
consideração de que os acidentes ocorrem no interior de uma organização sistêmica
como fruto de anomalias desse sistema. Assim, conceitualmente, enxerga-se a
Teoria ADC como um conjunto de princípios e regras que permitem, a partir do
acidente, identificar os fatores envolvidos em sua origem, isto é, suas causas, tanto
aquelas diretamente ligadas ao fortuito como as que com ele guardam relação de
causalidade remota. A seguir será visto como se dá, na prática, o processo de
investigação baseado neste método (BINDER; MONTEAU; ALMEIDA, 2000).

4.5.1 O procedimento da teoria ADC e o conceito de atividade

Entendidos os conceitos de sistema relacionados a Teoria da Árvore de


Causas, parece de bom alvitre expor importantes noções conceituais acerca do
procedimento prático do método, como o conceito de situação de trabalho e de
atividade, dentre outros.
Mantendo o apoio do estudo nas concepções esposadas por Binder, Monteau
e Almeida, pode-se entender situação de trabalho como um sistema formado pela
potencial inter-relação de quatro componentes básicos, a saber, o indivíduo I, com
seus aspectos físicos e psicológicos; a tarefa T, representada pelo conjunto de
ações executadas pelo trabalhador; o material M, entendido como todos os meios
40

técnicos para que o trabalhador possa executar sua tarefa e, finalmente, o meio de
trabalho MT, formado pelo ambiente físico e social no qual se insere o trabalhador.
A atividade, por sua vez, é entendida como a interação efetiva e concreta
desses componentes e o acidente do trabalho como uma das manifestações de
disfunção do sistema, capaz de revelar o caráter patológico de seu funcionamento
(BINDER; MONTEAU; ALMEIDA, 2000).
Dito de outro modo, tem-se que a atividade é a unidade básica de análise a
ser investigada pelo método ADC e consiste na situação de trabalho em que um
indivíduo I, num determinado meio de trabalho MT realiza certa tarefa T, com o
emprego de determinados materiais M. Binder et al. (2000) discorrem sobre esses
quatro componentes da situação de trabalho que, uma vez mobilizados em prol de
uma finalidade do sistema, implicaria na unidade básica de análise, qual seja, a
atividade.
Nesse contexto, extraindo de Binder et al. (2000) os conceitos e de nossa
realidade local os exemplos, o indivíduo compreenderia a pessoa física que exerce
suas funções na organização, levando-se em conta, inclusive seu estado
psicológico. No acidente pode tratar-se da vítima, de identificação imediata, ou de
outros trabalhadores diretamente relacionados com a atividade da vítima, como
integrantes da mesma equipe, encarregados, líderes de produção etc.
A tarefa, por sua vez, se refere, de maneira geral, às ações do trabalhador
que intervêm na finalidade da organização, geralmente consistente na produção de
bens ou serviços. Como exemplos pode-se citar o ato de subir usando uma escada,
a ação de dirigir o veículo, de ministrar a aula, de manusear o triturador de carne,
etc. Já o material diz respeito aos itens do conjunto de meios técnicos e materiais
colocados à disposição do trabalhador para a execução da tarefa. Exemplos desse
componente seriam a escada, o veículo, os materiais didáticos, o triturador de carne,
etc. Por fim, o meio de trabalho é visto como o contexto físico e social que
circunstancia a execução da tarefa pelo trabalhador, sendo exemplos o ambiente da
rede elétrica a ser reparada, as ruas da cidade, a sala de aula ou o recinto do
açougue (BINDER; MONTEAU; ALMEIDA, 2000).
41

4.5.2 O procedimento da teoria ADC e o conceito de variação

Como visto, os quatro componentes explanados no tópico anterior, ao serem


encarados como um conjunto estático, representam a situação de trabalho que, uma
vez em operação, corresponde à atividade, unidade básica objeto da investigação
pelo método ADC, frise-se. Entendidos esses conceitos, percebe-se, facilmente, que
nenhuma situação de trabalho estática, por si só, é capaz de ensejar o acidente de
trabalho, o qual só poderá ser desencadeado em face de anomalias existentes na
atividade. A essas anomalias capazes de afetar a normalidade das atividades de
certo sistema dar-se o nome de variação (BINDER; MONTEAU; ALMEIDA, 2000).
Ressalte-se que o conceito de variação é observado apenas em relação ao
trabalho real, não se aplicando, necessariamente, ao prescrito, isto é, se na
investigação de um dado acidente nos deparamos com uma situação real de
trabalho não correspondente à pactuada, tal fato pode até implicar em uma situação
jurídica ilícita, mas não se enquadraria no cenário de uma variação da atividade.
Note-se que a compreensão exata do conceito de variação como o inverso da
situação permanente ou habitual, é imprescindível à utilização do método ADC
(BINDER; MONTEAU; ALMEIDA, 2000).
Ver-se então que não há espaço para o acidente do trabalho em situações
estáticas, sem o desenvolvimento das atividades e, ainda, nas situações em que,
desenvolvida a atividade, não ocorre variações, isto é, a atividade se desenvolve de
forma habitual, sem ocorrência de nenhuma alteração. De outro modo, em
ocorrendo a variação, estar-se-á diante de uma situação de trabalho factível à
ocorrência do infortúnio, mas não necessariamente.
A vista do exposto, imagine-se, por exemplo, a designação de um trabalhador
para outro posto de trabalho que não o seu. Essa situação de trabalho configura
claramente uma variação, cenário propício a ocorrência do infortúnio. Note-se que
sempre que não houver variações o acidente não acontecerá, enquanto que se
presentes as anomalias pode ou não ser deflagrado. A conclusão é lógica - nenhum
acidente do trabalho acontece por acaso, sem explicação, porque é certo que
decorre de alguma variação do sistema, residindo neste cenário o campo de atuação
favorável ao desenvolvimento da teoria da árvore de causas frente às limitações da
teoria do ato inseguro.
42

Mas como as variações, inclusive aquelas mais remotas, constituem causas


dos infortúnios ocorridos no nível básico de operação das atividades? Ora, a
perturbação causada pela existência de uma determinada situação anômala, seja
em que nível for da organização, induz variações sucessivas de outros elementos do
sistema até afetar o elemento final da cadeia, aquele trabalhador considerado
culpado pela teoria do ato inseguro.
Deste modo, a investigação do acidente com base no método ADC tende a
determinar todas as perturbações ou anomalias, designadas pelo termo geral
variação e ocorridas nos componentes da atividade, sejam aquelas nitidamente
presentes no cenário do acidente, sejam aquelas mais distantes (BINDER;
MONTEAU; ALMEIDA, 2000).
Isso é factível porque a aplicação da árvore de causas implica na
formalização de um diagrama, mais parecido como uma árvore, em que são postos
sob análise além das evidências imediatas ou superficiais, aquelas implícitas, não
contempladas por métodos tradicionais aparentes.
O aprofundamento da discussão, embora pertinente para os estudiosos do
método, foge um pouco ao objetivo do trabalho. O que se pretende aqui é trazer
uma noção geral do método para, a seguir, expor a repercussão que hoje causa no
mundo jurídico e, por fim, convidar os cientistas sociais a pensarem na organização
de forma sistêmica, de modo a ver os acidentes do trabalho não como mero fruto da
falha humana, mas como manifestações de disfunções do sistema, aqui
denominadas variações.
Pensando assim, uma série de variações na empresa poderiam ser objeto de
análise por meio do método ADC. Entre esses eventos poderiam ser inclusos os
incidentes, os desperdícios de matéria-prima, a freqüência anormal de manutenção
das máquinas e equipamentos, a taxa anormal de defeitos ou de retrabalho e o
funcionamento anormal das instalações.
Binder et al. (2000), esclarecem que, em situações análogas, a utilização da
árvore de causas deverá trazer bons resultados, desde que sejam observadas duas
condições básicas, quais sejam, a obtenção da colaboração dos trabalhadores de
todos os níveis hierárquicos da organização e a existência de serviço de segurança
efetivo (BINDER; MONTEAU; ALMEIDA, 2000).
43

5 O MÉTODO ADC E SUA REPERCUSSÃO NO ÂMBITO JURÍDICO

Para entender bem as diferentes repercussões que um método de análise de


acidentes pode causar no mundo jurídico, imagine-se a seguinte atividade em uma
situação de trabalho extraída de Árvore de Causas: Método de Acidentes de
Trabalho, de Almeida e Binder (1996, p.117):

Uma senhora X está atrasada para o almoço e caminha rapidamente em


direção ao refeitório, fazendo seu trajeto habitual. Ao passar pelo corredor
que dá acesso à saída do galpão, uma vassoura que estava encostada na
parede escorrega a sua frente e a senhora X, ao tropeçar nela, cai ao chão
sobre a mão, sofrendo fratura. O intervalo de almoço é de uma hora, o
refeitório fica a 200m da fábrica e sempre há fila no refeitório (ALMEIDA;
BINDER,1996, p. 117).

O caso acima exposto poderá ser visto a partir de diferentes primas, a


depender da teoria de observação adotada. Para os olhares tradicionais, que veem
o acidente como mera consequência de um ato inseguro, expressões como
"caminhava rapidamente" e "ao tropeçar nela" denotam uma tendência à
culpabilização do trabalhador, seja porque agiu com negligência ao apressar-se, por
exemplo, seja porque não prestou atenção na posição da vassoura encostada na
parede e, desatenta, nela tropeçou. Denota-se, portanto, que a teoria do ato
inseguro está muito mais preocupada em achar culpados do que propriamente
encontrar as reais causas do acidente.
Por outro lado, observar o problema a partir das orientações sugeridas pelo
método ADC significa enxergar mais além e identificar causas implícitas
indiretamente associadas. No caso, toda a situação de trabalho é vista de forma
ampla, em que um elemento humano, a senhora trabalhadora, executa uma tarefa, o
deslocamento para o almoço, em um ambiente do trabalho com algumas variações,
junto ao qual estão irregularmente dispostos alguns materiais de trabalho como, por
exemplo, a vassoura.
O que interessa para o método ADC, neste caso? A visão ampla da teoria é
capaz de detectar diversas variações não diretamente ligadas à eventuais atos
inseguros cometidos pela operária. É importante para o método questionar porque a
senhora está atrasada para o almoço? Estaria submetida à jornada excessiva? Tem
pouco tempo de intervalo intrajornada? Outras questões tendem a surgir. Porque a
vassoura está ali? É habitual aquela disposição do material no meio de trabalho ou
44

estaríamos diante de uma variação do sistema? O que dizer da distância do


refeitório e da fila? Perceba-se que o método ADC, não diferente da teoria do ato
inseguro, também buscará a responsabilidade pelo acidente, característica sem a
qual não seria possível sua adoção pelos poderes públicos do Estado, inclusive o
Judiciário, já que além da função preventiva, esses órgãos, neste particular, os do
Judiciário, são incumbidos da função jurisdicional, função esta que depende da
identificação de eventuais responsabilidades. A Teoria da Árvore de Causas, por ser
mais ampla, aponta as reais causas do acidente e indica de forma mais segura
possíveis responsabilidades.
Diante de uma reclamação trabalhista, por exemplo, em que se pleiteie
verbas decorrentes de acidente do trabalho, interessa para o magistrado,
especialmente o Juiz do Trabalho, identificar a real causalidade do acidente,
exigindo-se do mesmo um olhar global e multifacetário dos fatos ali envolvidos, o
que será útil tanto para as práticas preventivas, quanto para o teor decisório da
sentença proferida. Assim, a teoria ADC surge como método mais completo capaz
de atender à tais exigências (COSTA, 2015).
Falando em repercussão jurídica dos métodos de investigação dos acidentes
do trabalho e apoiando-se nas precisas exposições de Ramazzini (2000), importante
registrar que, historicamente, o Direito à Saúde do Trabalhador vem evoluindo desde
as primeiras atenções às doenças do trabalho e sua relação com o ambiente laboral,
isso por volta de 1700, na Roma antiga, no Renascimento, na Alemanha e na Itália.
Advém dessa época, inclusive, descrições detalhadas de pneumoconioses,
estresse, neuroses e lesões por esforços repetitivos, entre outras (RAMAZZINI,
2000).
Ainda segundo o autor, durante a Revolução Industrial, a conjectura à época
era a de que os acidentes do trabalho, incluindo-se as enfermidades laborais, eram
subprodutos da atividade empresarial, sendo a prevenção atribuição direta do
próprio trabalhador. Em 1802, foi aprovada na Inglaterra a primeira lei de proteção
aos trabalhadores, a Lei de Saúde e Moral dos Aprendizes, por meio da qual se
estabeleciam balizas ao trabalho dos aprendizes, como limitações de jornada,
proibição do trabalho noturno e obrigação imposta aos empregadores quanto ao
aperfeiçoamento do meio ambiente de trabalho. Em seguida, O Factory Act, imposto
em 1833 a todas as empresas da Inglaterra, consistiu na proibição da jornada
semanal superior a 69 (sessenta e nove) horas, além do que exigia melhores
45

condições de ensino para os menores de 13 (treze) anos, bem como a idade mínima
de 9 (nove) anos para o trabalho de crianças e adolescentes (RAMAZZINI, 2000).
Segundo Waldvogel (2002), no contexto da Encíclica De Rerum Novarum,
difundida pela Igreja em 1891, demonstra-se o interesse pelas condições de trabalho
dos operários. Dessas preocupações surgem na Alemanha, a partir de 1884, as
primeiras leis que tratam dos acidentes laborais. Tais preceitos acabam por inspirar
a legislação de outros países até chegar ao Brasil com o Decreto Legislativo nº
3.724, de 1919. Conquanto esse decreto tenha sido o primeiro a tratar enfaticamente
do acidente do trabalho no Brasil, é interessante ressaltar que antes de sua
publicação, a legislação voltada para a segurança do trabalhador já se vislumbrava
em dois diplomas do nosso arcabouço jurídico, a saber, o Código Comercial de
1850, onde em seu artigo 78, pode-se ler:

Art. 78. Os agentes de comércio são responsáveis pelos preponentes, por


todo e qualquer dano que lhes causarem por malversação, negligência
culpável, ou falta de exata e fiel execução das suas ordens e instruções,
competindo até contra eles ação criminal no caso de malversação (Art. 78,
do Código Comercial de 1850).

Acontece que por restringir a abrangência do dispositivo aos trabalhadores do


comércio, imprescindível se torna a necessidade de ampliação da proteção, a qual
se deu com a edição do Código Civil de 1916. Em seu artigo 159, o referido código
passava a resguardar direitos atinentes à relação de trabalho ao afirmar que “aquele
que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito ou
causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano”. Note-se que muito embora
a situação de trabalho não esteja explícita, é pacífico o entendimento que preconiza
a possibilidade do trabalhador avocar o texto legal na defesa de seus direito em face
do acidente do trabalho (WALDVOGEL, 2002).
Conforme Waldvogel (2002), esses dispositivos legais foram inspirados na
teoria da culpa aquiliana, em que o ônus de provar a responsabilidade do
empregador por eventuais danos decorrentes do acidente do trabalho era do próprio
trabalhador que, nessa missão, encontraria muitas dificuldades, principalmente
porque não conseguia apresentar as provas robustas da culpa do empregador na
medida em que as testemunhas arroladas não compareciam em Juízo por medo de
represálias já que, geralmente, eram integrantes da própria empresa (WALDVOGEL,
2002).
46

O Decreto Legislativo n. 3.724, de 15 de janeiro de 1919 surge nesse cenário


como um grande avanço com a implantação dos serviços de medicina ocupacional,
responsáveis, dentre outras atribuições, pela fiscalização das condições de trabalho
nas fábricas. Waldvogel (2002) vê o Decreto n. 3.724 como a primeira lei capaz de
abranger o acidente do trabalho como uma categoria especial, merecedora de total
atenção por parte do Poder Público. Com isso, inverteu-se o ônus da prova,
cabendo ao empregador provar o dolo ou a culpa exclusiva do trabalhador. Tem-se,
doravante, a adoção da teoria do risco profissional em substituição aos preceitos da
culpa aquiliana e a consequente possibilidade de responsabilidade objetiva do
empregador em relação ao acidente do trabalho (WALDVOGEL, 2002).
Nesse mesmo sentido e contexto histórico, a Organização Internacional do
Trabalho - OIT subscreve uma série de Convenções com conteúdo voltado para a
proteção do trabalho, como a limitação da jornada de trabalho, proteção à
maternidade, trabalho noturno para mulheres e menores, bem como a idade mínima
para admissão de crianças. Ainda no cenário internacional, destaca-se, a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 10 de dezembro de 1948
pela Assembléia Geral das Nações Unidas. Com ela, fica assegurado ao trabalhador
o direito à livre escolha do emprego, às condições justas e favoráveis de trabalho e à
proteção contra o desemprego; o direito ao repouso e ao lazer, limitação de horas de
trabalho, férias periódicas remuneradas, além de padrão de vida capaz de assegurar
sua saúde e bem-estar (WALDVOGEL, 2002).
E para finalizar essa noção geral da evolução jurídico-legislativa acerca da
responsabilidade do empregador pela saúde, integridade física e bem-estar do
trabalhador, cabe comentar sobre dois outros aspectos jurídicos pertinentes -
primeiro a ação regressiva da Previdência Social prevista no artigo 341 do Decreto
n. 3.048 de 1999, o qual determina que nos casos de negligência do empregador em
relação às normas de segurança e higiene do trabalho, a Previdência Social proporá
ação contra os responsáveis, a fim de ressarcir as despesas decorrentes dos
acidentes do trabalho ocorridos por dolo ou culpa do empregador e também a
garantia de emprego concedida ao acidentado, pelo prazo mínimo de doze meses, a
contar de seu retorno ao trabalho após ter cessado o auxílio previdenciário cabível,
independentemente da percepção de auxílio-acidente. Urge salientar que essa
garantia abrange todas as hipóteses de acidentes do trabalho abordados no capítulo
primeiro desta monografia (SALIBA, 2002).
47

Finalmente merece ser destacado o teor do artigo 7º da vigente Constituição


da República Federativa do Brasil. Sob o enfoque da segurança e saúde no
trabalho, o dispositivo define o seguinte:

Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem a melhoria da sua condição social [...]; XXII: redução dos riscos
inerentes ao trabalho por meio de normas de saúde, higiene e segurança
[...]; XXVIII: seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador,
sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em
dolo ou culpa (Art. 7º da CRFB de 1988).

Convém relatar, ainda, que a base da legislação atual é no sentido de


incumbir à empresa o cumprimento de determinações específicas exaradas pelo
Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, como a obrigação de se elaborar ordens
de serviço capazes de precaver e evitar acidentes do trabalho ou doenças
relacionadas ao trabalho, o acatamento de determinações técnicas do serviço
competente das Delegacias Regionais do Trabalho e a facilitação do exercício da
fiscalização trabalhista. Essas orientações são decorrências do que preceitua o
Artigo 157 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT. Ora, como se nota, a
legislação atual é no sentido de atribuir ao empregador responsabilidades que antes
eram exigidas apenas do empregado.
Tais mudanças implicam na necessidade de uma alteração paralela da forma
como se analisa as causas dos acidentes do trabalho, sendo necessária a transição
de um olhar linear e monocausal para a visão global e multifacetária do acidente,
pois só assim é possível desvendar as causas ocultas que contribuíram para o
infortúnio, mas que ficariam fora do alcance dos métodos superficiais.
Chega-se, assim, ao cerne da proposta anunciada por este trabalho –
Apresentar o método da árvore de causas como alternativa viável às novas
exigências da legislação e do arcabouço jurídico-social atual, voltado
preponderantemente para a proteção do trabalhador e, em segundo plano,
desmitificar a idéia equivocada de que todo acidente do trabalho tem por causa
precípua o ato inseguro ou a falha do trabalhador.
Não obstante os métodos de investigações do acidente, ditos monocausais,
baseados nas condições e atos inseguros sejam, ainda hoje, consideravelmente
utilizados, a Teoria da Árvore de Causas vem conquistando seu espaço como
método mais conveniente para a análise de possíveis causas do acidente. Nesse
48

sentido é o posicionamento do Desembargador Luiz Cosmo da Silva Junior, do TRT


da 16ª Região, que, ao reformar sentença de cunho nitidamente monocausal,
fundamenta sua decisão com base em princípios defendidos pelo método ADC,
senão veja-se:

ACIDENTE DE TRABALHO. ASFIXIA POR BRONCOSPIRAÇÃO.


INVESTIGAÇÃO PELA TEORIA DA ÁRVORE DE CAUSAS.
NECESSIDADE DE PERÍCIA NO LOCAL DE TRABALHO. A asfixia por
broncoaspiração pode decorrer de ataque epilético, mas também da
inalação de substâncias de monóxido de carbono presentes no ambiente de
trabalho do obreiro. A questão deve ser investigada sob a ótica da árvore de
causas, que, diferentemente do método tradicional - em que as causas do
acidente são consideradas somente pela análise das causas imediatas,
consistentes nos atos inseguros (decorrentes da ação humana) e pelas
condições inseguras (fatores ambientais)-, pela teoria da árvore de causas,
devem ser levados em consideração todos os elementos relacionados ao
acidente do trabalho. Variáveis como pessoas, tarefas, meio ambiente e
materiais devem ser analisadas como partes interdependentes, de modo a
fornecer um encadeamento lógico sobre o acidente do trabalho, sendo
analisadas desde as causas mais remotas até as mais próximas
relacionadas com o infortúnio. Em tal situação, necessária a realização de
perícia in loco para aferição do nexo causal. Recurso conhecido e
parcialmente provido.(TRT-16 2115200901316004 MA 02115-2009-013-16-
00-4, Relator: LUIZ COSMO DA SILVA JÚNIOR, Data de Julgamento:
07/12/2011, Data de Publicação: 16/12/2011)

Muito embora o caso apresentado não trate de acidente do trabalho típico, o


cenário retrata com confiança a conjuntura do pensamento jurídico atual. De um
lado, uma parcela dos operadores do direito mantém sua linha de interpretação
alicerçada no modelo tradicional padronizado por princípios aliados à teoria do ato
inseguro e condições inseguras, o que resulta em uma análise restrita da ação
humana e, no máximo, a fatores ambientes e, quase sempre, é insuficiente para
elucidar o infortúnio. Em contrapartida, outra parcela, convencida das peculiaridades
exigidas pelas novas tendências jurídico-sociais, em se tratando de investigação das
causas do acidente do trabalho, emprega uma visão multifacetária do evento,
marcada, na maioria das vezes, pela adoção do método ADC.
Assim, a importância de se averiguar com proficiência as causas do acidente,
o que requer por parte do investigador a adoção de um critério que abranja todas as
possibilidades circunstanciais do evento, se torna determinante não só para melhor
auxiliar as ações prevencionistas, como também para balizar o poder decisório do
magistrado quando da deliberação em possíveis processos judiciais pautados na
responsabilidade em face dos acidentes.
49

Destarte o resultado da demanda a ser proferido pelo magistrado poderá


depender da visão adotada na investigação das causas do infortúnio. Se partir da
ideia que os acidentes são causados por condições inseguras, irá procurar com
veemência as evidências que as confirmem. De outro modo, se acreditar que a
maioria dos acidentes são decorrentes de atos inseguros, atentará para confirmar
sua tese através da identificação de erros cometidos pelos trabalhadores. Mas, se
finalmente acreditar na multicausalidade mediata e imediata dos acidentes, pugnará
pelo exame dos fatores subjacentes à rede de causalidade, devendo considerar
plausível em sua investigação a adoção do método ADC.
Finalmente, diante dos argumentos até aqui expostos e considerando que a
melhor interpretação da demanda que verse a respeito do acidente do trabalho
depende da mais abrangente e sistemática investigação, não resta dúvidas de que a
Teoria da Árvore de Causas precisa ser levada em consideração quando o
magistrado, em seu ofício e concluída a análise de causalidade, tiver que proferir a
sentença.
50

6 CONCLUSÃO

Dentre os vários aspectos atinentes à relação de trabalho, aqueles voltados


para a segurança e saúde do trabalhador no ambiente de trabalho, sem dúvidas, são
os mais preocupantes, devendo-se isso a influência de profícuos princípios
decorrentes do Direito do Trabalho, dentre os quais destaca-se o de que o
trabalhador, em uma sociedade capitalista, vende tão somente sua força de
trabalho, sendo, portanto, inegociáveis sua saúde, integridade física e bem estar.
É claro que nem sempre foi assim. Apenas depois de um amplo processo de
luta e de reivindicações é que a sociedade conseguiu lograr êxito ao conquistar uma
série de proteções legais capazes de desacelerar os efeitos da principal causa dos
distúrbios na integridade física e saúde do trabalhador, a saber, os acidentes do
trabalho.
Vistos como um fato moral os acidentes do trabalho tendem a ser analisados
de forma superficial na medida em que a principal missão diante dos infortúnios
consistia tão somente em definir culpados e atribuir responsabilidades.
Acontece que a evolução da sociedade, marcada por conquistas de cunho
cada vez mais protetivo, engendraram na necessidade de uma visão sistemática da
organização, o que levou a definição do acidente como uma disfunção do sistema.
De forma paralela ao surgimento das novas tendências, bem como da
moderna visão do acidente do trabalho como anomalias do sistema, surge a
necessidade de se debater a forma como estavam sendo analisadas as causas dos
acidentes do trabalho, até então baseada em uma visão linear e monocausal dos
infortúnios, o que, quase sempre, desemborcavam na culpabilização exclusiva do
trabalhador pela prática de um ato inseguro.
Some-se a isso a necessidade de potencializar a capacidade de prevenção
por parte dos poderes públicos, do Judiciário e da própria sociedade, o que implica
na necessidade de aprimoramento do estudo causal sobre os acidentes. Exige-se a
aplicação de um método mais completo e abrangente, capaz de trazer à tona todas
as possíveis causas do infortúnio.
Para explicar as causas e responsabilidades que permeiam o acidente de
trabalho, a teoria do ato inseguro se mostra superficial e improfícua, sobretudo
quando em confronto com a teoria da árvore de causas, mais moderna, racional e
completa.
51

Por isso a justificativa para o tema em análise - apresentar o método da


árvore de causas como alternativa viável às novas exigências da legislação e do
arcabouço jurídico-social atual, voltado preponderantemente para a proteção do
trabalhador e, em segundo plano, desmitificar a ideia equivocada de que todo
acidente do trabalho tem por causa precípua o ato inseguro ou a falha do
trabalhador.
Ressalte-se, como visto, que o embate atual gira em torno do entrelaçamento
dos dois métodos e da dificuldade do operador do direito romper com os paradigmas
da visão tradicional, reconhecendo que muito além do papel jurisdicional, em que
busca a definição de eventuais responsabilidades em face do acidente, existe
também sua missão preventiva, esta, por sua vez, carecedora de um olhar mais
abrangente, capaz de identificar as reais causas dos infortúnios.
De um lado, uma parcela dos cientistas sociais mantém sua linha de
interpretação alicerçada no modelo tradicional padronizado por princípios aliados à
teoria do ato inseguro e condições inseguras, o que resulta em uma análise restrita
da ação humana e, no máximo, a fatores ambientes e, quase sempre, é insuficiente
para elucidar o infortúnio. Em contrapartida, outra parcela, convencida das
peculiaridades exigidas pelas novas tendências jurídico-sociais, em se tratando de
investigação das causas do acidente do trabalho, emprega uma visão multifacetária
do evento, marcada, na maioria das vezes, pela adoção do método ADC.
Assim, a importância de se averiguar com proficiência as causas do acidente,
o que requer por parte do investigador a adoção de um critério que abranja todas as
possibilidades circunstanciais do evento, se torna determinante não só para melhor
auxiliar as ações prevencionistas, como também para balizar o poder decisório do
magistrado quando da deliberação em possíveis processos judiciais pautados na
responsabilidade em face dos acidentes.
Nesta linha de raciocínio, aparentemente, a maior dificuldade não está
relacionada à entender às propostas do método, tampouco em estimular os
cientistas sociais a se interessarem por novos aprendizados e práticas, mas sim em
fazer com que deixem antigas convicções que, se em algum momento tiveram sua
notoriedade, hoje não mais subsistem em face das conquistas históricas da própria
sociedade.
52

Assim, colige-se que o direito se encontra em constante evolução, seus


próprios cientistas tendem a se engajar na busca de novas opções e oportunidades,
de forma a se adequar às novas realidades sociais. Eis a proposta final desse
trabalho – não nos deixar parados no tempo, nem no espaço.
53

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