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GRUPOS DE
ESTUDOS
SERVIÇO SOCIAL
E
PSICOLOGIA
JUDICIÁRIOS
Número 13
SÃO PAULO
2016
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ESCOLA JUDICIAL DOS SERVIDORES - EJUS
SUMÁRIO
Introdução........................................................................................................................................ 16
1. A necessidade de superar estigmas, o paradoxo da medida de proteção e a
ineficiência das políticas públicas ............................................................................................ 17
2. O fluxo da medida de acolhimento institucional ............................................................. 22
3. O fluxo do acolhimento institucional emergencial .......................................................... 25
4. Possíveis estratégias para atuação em rede no trabalho com as famílias de
crianças e adolescentes acolhidos/as .................................................................................... 27
Conclusão........................................................................................................................................ 30
Referências ..................................................................................................................................... 32
Introdução........................................................................................................................................ 37
1. Fundamentação teórico-jurídica .......................................................................................... 38
2. O que leva à devolução.......................................................................................................... 42
3.Possibilidades de intervenção em situações de devolução de
crianças/adolescentes durante estágio de convivência da adoção .............................. 46
Conclusão........................................................................................................................................ 51
Referências ..................................................................................................................................... 53
Introdução........................................................................................................................................ 57
1. Reflexões sobre família .......................................................................................................... 59
2. Sobre papéis e vínculos parentais ...................................................................................... 67
3. Pesquisa: "Realidade social: direitos e perda do poder familiar: desproteção
social x direito à convivência familiar e comunitária” e a atuação dos assistentes
sociais e psicólogos judiciários nos casos de destituição do poder familiar .............. 71
Conclusão........................................................................................................................................ 76
Referências ..................................................................................................................................... 79
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Introdução...................................................................................................................................... 101
1. O que é um caso altamente litigioso e quais são as suas características? ......... 103
1.1 Qual o provável conflito subjacente que dificulta o processo de separação e
origina os casos altamente litigiosos nas Varas de Família? ........................................ 108
2. As consequências do litígio familiar no cotidiano do judiciário ................................ 111
2.1 Dificuldades na definição da pensão alimentícia, na composição da guarda e na
convivência dos filhos com ambos genitores. .................................................................... 111
2.2 As possíveis consequências do litigio parental na subjetividade dos filhos ...... 117
3. Dos agravamentos ................................................................................................................. 119
3.1 Alienação parental, falsas acusações, afastamento e suspensão da convivência
entre a criança e um dos genitores ....................................................................................... 119
4. Sobre as alternativas para enfrentamento dos conflitos ............................................ 127
4.1 Oficina de pais e filhos ....................................................................................................... 129
4.2 A prática da mediação familiar em diferentes países ............................................... 131
4.2.1 Portugal ............................................................................................................................... 131
4.2.2 Espanha .............................................................................................................................. 133
4.2.3 Bélgica ................................................................................................................................. 134
4.2.4 França .................................................................................................................................. 134
4.2.5 Argentina............................................................................................................................. 136
4.2.6 Canadá ................................................................................................................................ 136
4.2.7 Estados Unidos ................................................................................................................. 140
4.2.8 Brasil .................................................................................................................................... 142
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Conclusão...................................................................................................................................... 143
Referências ................................................................................................................................... 145
Introdução...................................................................................................................................... 150
Desenvolvimento ......................................................................................................................... 151
Conclusão...................................................................................................................................... 163
Referências ................................................................................................................................... 164
Introdução...................................................................................................................................... 168
1. A inserção do serviço social no judiciário ....................................................................... 170
2. O estudo social e sua dimensão ético-política .............................................................. 177
Conclusão...................................................................................................................................... 185
Referências ................................................................................................................................... 187
Introdução...................................................................................................................................... 191
Alienação parental e falsas acusações de abuso sexual ............................................... 191
Conclusão...................................................................................................................................... 196
Referências ................................................................................................................................... 197
Introdução...................................................................................................................................... 201
1. Do que estamos falando quando nos referimos à justiça restaurativa? ............... 202
2. A justiça restaurativa no Brasil: algumas aproximações ............................................ 207
2.1 Justiça restaurativa no estado de São Paulo .............................................................. 209
3. Base legal da justiça restaurativa no Brasil ................................................................... 211
Conclusão...................................................................................................................................... 214
Referências ................................................................................................................................... 216
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Introdução...................................................................................................................................... 220
Inquietações sobre a identidade profissional do serviço social nas demandas das
varas de família como motivação para a criação do grupo de estudos e a adesão
dos profissionais .......................................................................................................................... 220
Identidade profissional e o projeto profissional do serviço social ................................ 225
O estudo social/perícia social como principal ação profissional para o assistente
social em vara de família .......................................................................................................... 227
Mudanças do novo código de processo civil e os riscos à autonomia e ética
profissional .................................................................................................................................... 229
Conclusão...................................................................................................................................... 233
Referências ................................................................................................................................... 234
Introdução...................................................................................................................................... 237
1. A influência da conjugalidade e do divórcio no exercício parental ......................... 238
2. Dinâmicas, comportamentos e atributos parentais...................................................... 243
3. O olhar da equipe técnica sobre as questões apresentadas ................................... 252
Conclusão...................................................................................................................................... 254
Referências ................................................................................................................................... 256
Introdução...................................................................................................................................... 260
1.Contextualizando o fenômeno da violência sexual contra crianças e adolescentes,
e autores de violência ................................................................................................................ 265
2. Serviços e programas destinados às vítimas de violência, familiares e autores de
violência ......................................................................................................................................... 269
2.1 NPV - Núcleos de prevenção de violência da unidade de saúde nível: municipal
.......................................................................................................................................................... 269
2.2 Serviço de proteção social às crianças e adolescentes vítimas de violência ... 270
2.3 CRAMI - Centro regional de atenção aos maus-tratos na infância ...................... 273
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2.4 CEARAS - Centro de estudos e atendimento relativos ao abuso sexual ........... 274
3. Determinações sociais como um dos elementos para compreender a violência
sexual perpetrada pelos autores homens contra crianças e adolescentes .............. 275
4. Análise psicológica de uma dinâmica familiar abusiva............................................... 285
Conclusão...................................................................................................................................... 292
Anexos............................................................................................................................................ 295
Anexo I - Análise do filme: uma (possível) leitura do real a partir do filme “O quarto
de Jack”.......................................................................................................................................... 295
Anexo II - O que constava no Boletim de Ocorrência e no Termo de Declarações 299
Referências ................................................................................................................................... 301
Introdução...................................................................................................................................... 308
Resgatando nossa história ....................................................................................................... 309
Construção das atribuições ..................................................................................................... 310
Evolução da interlocução da equipe técnica do TJ com a rede ................................... 314
Realidade do trabalho com a rede de atendimento na região ...................................... 315
Conclusão...................................................................................................................................... 321
Referências ................................................................................................................................... 322
Introdução...................................................................................................................................... 326
1. A precarização do mundo do trabalho no século XXI ................................................. 327
1.1 A crise do capital nas últimas décadas e seus reflexos na pessoa que trabalha
.......................................................................................................................................................... 327
1.2 A precarização do mundo do trabalho .......................................................................... 329
1.3 Saúde do trabalhador ......................................................................................................... 331
1.4 Psicodinânima do trabalho segundo Dejours.............................................................. 333
2. O trabalho profissional do assistente social no poder judiciário: do processo
histórico até as demandas atuais........................................................................................... 337
2.1 A proposta de inserção do Serviço Social no Judiciário .......................................... 337
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Introdução...................................................................................................................................... 370
1. Aproximações acerca da trajetória de acolhimento da criança/adolescente e o
acompanhamento familiar ........................................................................................................ 371
1.1 A família de origem e as crianças e adolescentes que estão em instituição de
acolhimento ................................................................................................................................... 375
2. A destituição do poder familiar ........................................................................................... 377
2.1 Aspectos fundamentais acerca do poder familiar ...................................................... 377
2.2 A entrega de um filho: considerações sobre o abandono materno ...................... 378
3. A adoção e seus desdobramentos ................................................................................... 380
3.1 O Processo de preparação dos pretendentes à adoção ......................................... 381
3.2 Aspectos do curso preparatório para os pretendentes à adoção ......................... 383
3.3 O estágio de convivência .................................................................................................. 385
3.3.1 Aspectos legais:................................................................................................................ 385
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Introdução...................................................................................................................................... 400
A guarda compartilhada – foco na lei ................................................................................... 402
Guarda dos filhos - multiplicidade de desafios .................................................................. 409
Referências ................................................................................................................................... 416
Introdução...................................................................................................................................... 420
1. Judicialização .......................................................................................................................... 420
1.1 Judicialização das relações familiares .......................................................................... 421
2. As (re) configurações das relações familiares .............................................................. 424
3. Limites e possibilidades da atuação do setor técnico frente à judicialização das
relações familiares ...................................................................................................................... 427
Conclusão...................................................................................................................................... 430
Referências ................................................................................................................................... 432
Introdução...................................................................................................................................... 436
1. Família e conflito – de que lugar falamos?..................................................................... 437
2. Guarda compartilhada .......................................................................................................... 440
3. Alienação parental ................................................................................................................. 444
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Conclusão...................................................................................................................................... 450
Referências ................................................................................................................................... 452
Introdução...................................................................................................................................... 458
1. Exercício da parentalidade: reflexões sobre a maternagem e a paternagem ..... 459
2. Alienação parental - distúrbio patológico ou disfuncionalidade no exercício da
parentalidade? ............................................................................................................................. 465
Conclusão...................................................................................................................................... 471
Referências ................................................................................................................................... 472
Introdução...................................................................................................................................... 477
1. Um breve perfil das famílias em situação de litígio ..................................................... 479
2. Algumas consideraçôes sobre desenvolvimento infantil ........................................... 481
3. A escuta de crianças e adolescentes em processos altamente litigiosos ............ 488
Conclusão...................................................................................................................................... 493
Referências ................................................................................................................................... 495
Introdução...................................................................................................................................... 499
A família ......................................................................................................................................... 499
A modernidade líquida e as relações humanas ................................................................ 502
Construção das identidades sexuais e identidades de gênero .................................... 504
As questões de gênero na perspectiva das políticas públicas e práticas jurídicas 508
Atuação de psicólogos e assistentes sociais junto a famílias ....................................... 509
Desafios ......................................................................................................................................... 510
Referências ................................................................................................................................... 512
Introdução...................................................................................................................................... 516
1. A análise social e a análise psicológica em um processo de cadastro de
pretendentes à adoção .............................................................................................................. 517
2. A análise social e a análise psicológica em um processo de guarda .................... 526
3. A análise social e a análise psicológica em um processo de interdição ............... 531
Conclusão...................................................................................................................................... 538
Referências ................................................................................................................................... 539
Introdução...................................................................................................................................... 544
1. A inserção do serviço social e da psicologia no judiciário brasileiro e paulista .. 545
2. As expressões da questão social e os rebatimentos no trabalho interdisciplinar
.......................................................................................................................................................... 549
3. Contexto atual das comarcas que não possuem psicólogos ................................... 551
Conclusão...................................................................................................................................... 557
Referências ................................................................................................................................... 559
Introdução...................................................................................................................................... 564
1. Desenvolvimento infantil ...................................................................................................... 565
2. Protocolos ................................................................................................................................. 568
2.1 Entrevista cognitiva ............................................................................................................. 569
2.2 RATAC .................................................................................................................................... 571
2.3 NICHD ..................................................................................................................................... 572
3. Relato de experiência ........................................................................................................... 574
3.1 A implantação da escuta especial na realidade de São Caetano do Sul/SP .... 574
3.2 Estabelecimento do fluxo com a rede ........................................................................... 575
Conclusão...................................................................................................................................... 578
VULNERALIBIDADE OU RISCO? APROXIMAÇÕES TEÓRICAS E A PRÁTICA
DOS ASSISTENTES SOCIAIS E PSICÓLOGOS JUDICIÁRIOS ............................ 581
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Introdução...................................................................................................................................... 586
1. Considerações teóricas sobre vulnerabilidade e risco ............................................... 587
2. Tipos de risco e fatores de proteção no desenvolvimento de crianças e
adolescentes................................................................................................................................. 590
2.1 Violência doméstica ............................................................................................................ 593
2.1.1 Violência física .................................................................................................................. 593
2.1.2 Violência psicológica e a exposição à violência conjugal .................................... 594
2.1.3 Violência sexual ................................................................................................................ 595
2.1.4 Negligência......................................................................................................................... 596
2.2 A Violência doméstica e a prática infracional.............................................................. 596
2.3 Os fatores de proteção ....................................................................................................... 597
2.3.1 Atributos disposicionais da própria criança .............................................................. 598
2.3.2 Características da família .............................................................................................. 598
2.3.3 Fontes de apoio individual ou institucional disponíveis ........................................ 598
2.4 Competências psicossociais como fator de proteção .............................................. 599
3. Atuação da equipe técnica psicossocial do Tribunal de Justiça diante de
situações de risco de crianças e adolescentes ................................................................. 599
4. Papel da rede e as políticas públicas .............................................................................. 604
5. Análise de documentários ................................................................................................... 608
5.1 Análise do filme “Preciosa – uma história de esperança” ....................................... 608
5.2 Análise do filme “Juízo” .................................................................................................... 613
Conclusão...................................................................................................................................... 619
Referências ................................................................................................................................... 621
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COORDENADORAS
AUTORES
Alexandra de Lima Dalonso Urbano – Assistente Social Judiciário – Foro Regional VII
- Itaquera
Ana Luísa de Marsillac Melsert – Psióloga Judiciário – Foro Regional II - Santo Amaro
Andrea dos Anjos Pereira da Silva Amantéa – Assistente Social Judiciário – Comarca
de Caçapava
Eliane Ferraz Coca – Assistente Social Judiciário – Foro Regional VII - Itaquera
Gracielle Feitosa de Loiola – Assistente Social Judiciário – Foro Distrital de Vargem
Grande Paulista
Haroldo Tuyoshi Sato – Psicólogo Judiciário – Comarca de Sorocaba
Josiane Dacome – Assistente Social Judiciário – Foro Distrital de Hortolândia
Karina Serrano Moya – Psicóloga Judiciário – Foro Regional VII - Itaquera
Leniane Facci – Assistente Social Judiciário – Foro Regional VII - Itaquera
Márcia Cristina Campos – Assistente Social Judiciário – Comarca de Itapecerica da
Serra
Marina Tomé Teixeira – Assistente Social Judiciário – Comarca de Mairiporã
Monica Giacomette Secco – Assistente Social Judiciário – Foro Distrital de
Hortolândia
Paula Antonia Pansa Brumatti – Assistente Social Judiciário – Foro Regional VII -
Itaquera
Paula Lúcio dos Santos – Assistente Social Judiciário – Foro Regional III - Jabaquara
Samira Leinko Matsuda Raphael – Assistente Social Judiciário – Comarca de
Itaquaquecetuba
Sandra Aparecida Bossetto – Psicóloga Judiciário – Fórum Regional VII - Itaquera
Talita Afonso Chaves – Psicóloga Judiciário – Comarca do Guarujá
Valquíria Gomes de Moraes – Assistente Social Judiciário – Comarca de Tremembé
Viviane Souza Duque Garcia – Assistente Social Judiciário – Comarca de Taubaté
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INTRODUÇÃO
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Este trecho aponta para o estigma como uma espécie de identidade social
deteriorada, que tira todas as chances do indivíduo, família ou grupo social ser
percebido como possuidor de atributos positivos.
Coloca-se a noção de que os significantes sociais, que podem estar
relacionados com a pobreza, ou fracasso familiar, estejam incidindo sobre
determinadas famílias, devido a um processo social de projeção destas
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Sobre este último aspecto, vale mencionar que, dentre os doze princípios
dispostos no ECA que regem a aplicação das medidas de proteção, encontram-se a:
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Via de regra não são esses os conteúdos que aparecem nas guias expedidas.
Em complementaridade, as Normas de Serviço da Corregedoria Geral da
Justiça de São Paulo (NSCGJ), em seu art. 877, rezam que:
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Ora, se o PIA já foi elaborado, onde entra o papel articulador do Setor Técnico
Judiciário com o Serviço de Acolhimento, com a criança/adolescente e sua família?
Enfim, uma vez determinado o acolhimento institucional da
criança/adolescente, o Serviço de Acolhimento tem a obrigatoriedade de reavaliar
periodicamente cada caso, com intervalo máximo de seis meses, conforme disposto
no inciso XIV do art. 94 do ECA, e dar ciência dos resultados à autoridade
competente (nesse caso, ao juiz). Cabe, portanto, ao dirigente da entidade que
desenvolve o programa de acolhimento institucional ou familiar remeter o relatório
circunstanciado acerca da situação de cada criança ou adolescente acolhido e sua
família (§ 2º do art. 92).
O juiz, por sua vez, com base em relatório elaborado por equipe
interprofissional ou multidisciplinar, decide de forma fundamentada pela
possibilidade de reintegração familiar ou colocação em família substituta, como
preconiza o § 1º do art. 19 do ECA e,
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http://www.mppr.mp.br/arquivos/File/OConselhoTutelareamedidadeabrigamento.pdf
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fragilidade desse órgão, que deveria investir-se do poder requisitório para garantir os
acessos quando não alcançados pela própria família.
Destaca-se aqui a experiência da Comarca de Jundiaí em que a rede
socioassistencial se compromete a discutir junto ao Conselho Tutelar os casos em
que há a possibilidade de se sugerir a aplicação de medida de acolhimento
institucional ou familiar.
Nas situações em que ocorre o acolhimento emergencial e foi encaminhado
ao juízo apenas uma comunicação sucinta, conforme o § 1º do art. 863 das NSCGJ,
o juiz requisitará da instituição de acolhimento - com prazo de 48 horas para
atendimento - relatório resumido a respeito dos motivos da medida. Se a
comunicação inicial for insuficiente, ou recebido o relatório resumido, as Seções
Técnicas do Juízo deverão se manifestar, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas,
conforme o § 2º do art. 863 das NSGCJ.
Tal normativa conduz à reflexão sobre a possibilidade de precarização da
avaliação técnica, considerando as impossibilidades e limites institucionais e a falta
de profissionais.
Nestas manifestações indica-se, geralmente, a necessidade de realização de
estudo, já que dificilmente é possível um profissional da área de Serviço Social ou
Psicologia manifestar-se tecnicamente sem tempo hábil para acessar a família em
questão.
Ademais, é imprescindível cuidar para que as manifestações em tempo
exíguo não reflitam uma prática fiscalizadora, tendo em vista a atuação prévia da
rede socioassistencial (CRAS, CREAS, Escola, Conselho Tutelar), que impacta
diretamente na relação dos Setores Técnicos com os demais atores. Uma atuação
de caráter fiscalizatório, retira o/a técnico/a do espaço de trabalho coletivo, para
ocupar uma posição verticalizada em relação aos outros serviços.
Na sequência do fluxo, o Juiz abre, com urgência, vista ao Ministério Público
(MP) e providencia, se possível, a imediata reintegração familiar da criança ou
adolescente. Não sendo possível, é imprescindível que seja proposta a ação de
Afastamento do Convívio Familiar pelo MP ou por quem tenha legítimo interesse,
segundo o art. 864 das NSGCJ e conforme o parágrafo único do art. 93 do ECA:
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CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
ASSIS, Simone Gonçalves; FARIAS, Luís Otávio Pires. Levantamento Nacional das
Crianças e Adolescentes em Serviço de Acolhimento. São Paulo: Hucitec, 2013.
OLIVEIRA, Rita De Cássia Silva. Quero voltar para casa: o trabalho em rede e a
garantia do direito à convivência familiar e comunitária para crianças e adolescentes
que vivem em abrigo. 2 ed. São Paulo: AASPTJ - SP, 2007.
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AUTORAS
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1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-JURÍDICA
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[...] mandar ou dar de volta o que foi entregue, remetido, esquecido; restituir
algo a alguém por não haver legitimidade sobre o objeto. Sugere também
uma apropriação indevida de algo que se entende não lhe pertencer.
2
Militante do Grupo de Apoio Adoção Consciente - GAACO e da Associação Nacional de Grupos de
Apoio à Adoção - ANGGAD
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Assim sendo, se o filho é a causa do fracasso, é ele quem deve ser excluído,
acreditando que ele não conseguiu se adequar aos moldes daqueles adotantes, ou
seja, o filho não atende aquilo que eles esperavam, culminando com a devolução.
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Ghirardi (2015) adverte que, nos casos em que a elaboração do luto do filho
perdido ou não gerado não foi bem sucedida, a adoção pode representar uma
“lembrança da ausência”, trazendo sofrimentos e complicações ao processo de
vinculação. Importante lembrar também que, em toda relação entre pais e filhos,
existem momentos de sofrimento no qual um trabalho de luto se faz necessário, uma
vez que os genitores terão de abandonar a fantasia do filho ideal para aceitar o filho
real, buscando razões para valorizá-lo.
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No texto estudado de sua autoria, Pinho (2014) pesquisou casos nos quais
ocorreram devolução após estágio de convivência ou adoção. A autora concluiu que
não é sempre possível para as equipes técnicas antever as complicações que
surgirão do encontro com a criança e não identificou, nos casos em que analisou,
uma relação direta entre dificuldades na habilitação e desistência da adoção de
crianças.
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3
Termo usado em psicanálise para designar as ações que apresentam, a maior parte das vezes, um
caráter impulsivo, rompendo relativamente com os sistemas de motivação habituais do indivíduo,
relativamente isolável no decurso das suas atividades, e que toma muitas vezes uma forma auto ou
hetero-agressiva. Vocabulário da Psicanálise (1986).
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Aos técnicos do judiciário também cabe procurar garantir à criança que ela
não ficará desamparada, buscar uma vaga em instituição de acolhimento que melhor
atenda as suas necessidades. Quando possível, considera-se nesse momento, se o
melhor é que a criança retorne para a mesma instituição de acolhimento ou não.
Importante analisar as individualidades e as necessidades da criança e da instituição
naquele momento. Por exemplo, há crianças que escolhem retornar para o
acolhimento onde estava porque lá reencontrará amigos e educadores com quem
quer reatar laços. Outros preferem outro acolhimento no qual serão “anônimos” e
não precisarão justificar seu retorno a ninguém.
4
Psicóloga do TJSP e mestranda do IPUSP, no evento: “Interlocuções entre o Direito, a Psicologia
Jurídica e a Psicanálise: Pesquisas e Intervenções na Adoção”, ocorrida em 06/05/2016, no Instituto
de Psicologia da USP.
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CONCLUSÃO
Para garantir que estas questões sejam bem trabalhadas nos deparamos com
a necessidade da ampliação das equipes técnicas, através de concurso público, com
capacitação permanente e adequadas condições de trabalho.
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REFERÊNCIAS
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estudo Psicanalítico. Primavera Editorial – Sedes Sapientiae, 2015.
GHIRARDI, Maria Luiza de Assis Moura, FERREIRA, Marcia Porto (org). Laços e
Rupturas: Leituras Psicanalíticas sobre Adoção e o Acolhimento Institucional. São
Paulo: Escuta: Instituto Tortuga, 2016.
GOES, Alberta Emília Dolores. Criança não é brinquedo! A Devolução de crianças e
adolescentes em processos adotivos. Rio de Janeiro: [Syn]thesis, vol. 7, n°12014, p.
85-93. Cadernos do centro de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro.
LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Bertrand. Vocabulário de Psicanálise. 9 ed. São
Paulo: Livraria Martins Fontes Editora, 1986.
PINHO, Patrícia Glycerio R., Devolução/Quando as Crianças não se tornam filhos.
In: Guia de Adoção: No jurídico, no Social, no Psicológico e na Família. São Paulo:
Roca, 2014.
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Andrade / coordenação). Crianças “devolvidas”: quais são seus direitos? Revista de
direito privado. RT: São Paulo. n. 2. p. 75 a 113. Abril-julho de 2000.
SOUZA, Hália Pauliv de. Adoção Tardia: a devolução ou desistência de um filho? A
necessária preparação para adoção. Curitiba: Juruá, 2012.
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COORDENADORAS
AUTORES
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INTRODUÇÃO
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qualificada por parte dos assistentes sociais e psicólogos que atuam em processos
desta natureza.
Esse pequeno sobrevoo sobre o tema deixa notória sua complexidade e
aspecto multifacetado. Assim, constatamos a necessidade de elencar subtemas
para estudar a Destituição do Poder Familiar em sua completude.
Após discussões e reflexões enriquecedoras, consensualmente entendeu-se
viável o aprofundamento de três aspectos: reflexões sobre a família e as diversas
configurações familiares, papéis/vínculos parentais e a atuação dos assistentes
sociais e psicólogos judiciários no contexto de processos que tratam de destituição
do poder familiar.
Refletir questões sobre a família decorre da convicção de que independente
da configuração, sua função enquanto meio pioneiro e primordial para o
desenvolvimento do ser humano é inquestionável e atemporal. Buscamos
compreender a família na contemporaneidade enquanto elemento dinâmico, que
influencia e é influenciado pelo contexto vivido.
Por conseguinte, entendemos viável o estudo dos papéis parentais e vínculos
no intuito de alcançar subsídios teóricos e considerá-los à luz da realidade cotidiana,
dos cuidados ideais e do processo de construção desses vínculos. Por derradeiro, e
objetivando sintetizar e conectar os assuntos abordados, fizemos um paralelo com a
realidade das famílias em situação de vulnerabilidade e risco social 5 acompanhadas
pelo judiciário e a importância da atuação do assistente social e psicólogo nos casos
referentes à destituição do poder familiar.
Nossas reflexões e discussões foram fomentadas por diferentes
metodologias: recorremos a artigos acadêmicos (acessíveis no item Bibliografia) e
acessamos materiais audiovisuais, como “Amor Ltda.” e o documentário “O começo
da vida”. Não obstante, a fim de enriquecer o debate, contamos com a preciosa
participação da assistente social Profª Drª. Eunice Fávero, profissional cujo percurso
5
Segundo a Política Nacional de Assistência Social, são considerados em situações de
vulnerabilidade e risco: “famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de afetividade,
pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades estigmatizadas em termos étnico, cultural e
sexual; desvantagem pessoal resultante de deficiências; exclusão pela pobreza e, ou, no acesso às
demais políticas públicas; uso de substâncias psicoativas; diferentes formas de violência advinda do
núcleo familiar, grupos e indivíduos; inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho formal
e informal; estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco
pessoal e social.” (BRASIL, 2004, p.33)
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histórico. Embora o texto tenha sido escrito em 1999, as reflexões ali colocadas são
atuais, evidenciando o quanto ainda tentamos superar paradigmas há mais de uma
década identificados.
Ao longo do processo sócio-histórico, a família sofreu importantes
transformações. Destacam-se as mudanças nos papéis de gênero que, a partir da
organização da família burguesa, construiu um modelo baseado na família nuclear,
com o paradigma de que o homem deveria exercer o papel de provedor, enquanto à
mulher caberiam as funções afetas ao universo familiar e os afazeres domésticos.
Com o desenvolvimento da sociedade capitalista, a partir da Revolução
Industrial (final do século XVIII e início do século XIX) e da divisão entre o mundo do
trabalho e o mundo familiar, ocorreram diferentes mudanças na vida social e nos
processos econômicos. Com o avanço da ciência mecânica e o aumento das linhas
de produção, acrescido a preocupação com a redução de custos, os donos do
capital encontraram nas mulheres e nas crianças a mão-de-obra barata para
ampliação dos lucros almejados. Destacamos, neste contexto, a flexibilização dos
papéis familiares: o homem deixou de ser o único provedor, houve a inserção e a
permanência da mulher no mercado de trabalho, bem como, a inclusão dos filhos no
mundo laboral.
As relações de poder no contexto familiar sofreram importantes
transformações com a redução da autoridade e hierarquia no tocante às figuras
parentais.
No século XX, além da expansão da mulher no mercado de trabalho,
podemos destacar o avanço tecnológico nas questões de ordem familiar, como a
descoberta da fertilização in vitro, da utilização de exames de DNA para
comprovação de paternidade, a disseminação da pílula anticoncepcional, separando
a sexualidade feminina da maternidade. Outros aspectos propulsores de mudanças
foram a expansão do Movimento Feminista e a promulgação da Constituição Federal
de 1988, tornando direitos e deveres compartilhados entre homens e mulheres, o
direito de filiação quando comprovada a paternidade e a legalização do divórcio e,
posteriormente, o casamento homoafetivo.
Analisando a história da família, podemos notar que: “[...] a sociabilidade
familiar regida pela lógica da tradição passa para uma sociabilidade regida pelas
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CONCLUSÃO
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incoerente ignorar que essa garantia relaciona-se diretamente com o acesso que
pais/familiares/ responsáveis têm aos direitos sociais. Qualquer ação ou propósito
que ignore essa complexidade incorre no risco de não atender verdadeiramente ao
interesse das crianças e dos adolescentes.
Exemplo disso é o anteprojeto de Lei citado no item anterior que, em
síntese, pretende contribuir para a celeridade da adoção. Embora a finalidade
declarada seja acelerar o encaminhamento de criança/adolescente à família adotiva,
restou notório que a preocupação em promover tal agilidade desconsidera os
direitos mais elementares do público infanto-juvenil. A ideia simplória, aliás, de fixar
prazos processuais para o estágio de convivência, bem como diminuir o período
referente à adoção internacional viola a peculiaridade existente em cada situação,
favorecendo sobremaneira a ocorrência de adoções que posteriormente podem se
converter em devoluções. Na adoção internacional, a criança seria inserida em outra
cultura com mudanças/rupturas súbitas e bruscas. Em caso de devolução, esta
ocorre por meio da institucionalização em um país que lhe é totalmente estranho,
contexto que requer ainda mais cautela.
Não menos grave é a proposta de retirar a intervenção judiciária na
condução da adoção em determinadas circunstâncias, autorizando a entrega direta,
desfavorecendo a avaliação criteriosa de pretendentes pela equipe multidisciplinar
judiciária. Tal fato abre a possibilidade de sérias violações de direitos, como por
exemplo, a existência de relações que visem favorecimento econômico, aí incluído o
tráfico de crianças e adolescentes.
Em suma, o texto legal é um flagrante retrocesso, já que, ao invés de
majorar a proteção, bem estar e segurança das crianças e adolescentes, expõe ao
risco, remetendo-nos aos primórdios da adoção no Brasil, que serviam à finalidade
de atender exclusivamente aos anseios dos adultos.
Desta forma, tal projeto, ainda que seja vinculado à sociedade, sob o
discurso de atender ao melhor interesse da criança, evidencia um caráter
adultocêntrico e prioriza a adoção como alternativa para a ausência de políticas
públicas cada vez mais precarizadas, o que se mostra preocupante.
A conjuntura atual nos leva a questionar se, de fato, o Estado está
preocupado com a infância e a juventude brasileira, haja vista a aprovação na
Câmara dos Deputados da PEC 241/2016 (no dia 25/10/16), que congela por 20
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REFERÊNCIAS
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2016
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COORDENADORAS
Elaine Cristina Major Ferreira da Silva – Assistente Social Judiciário – Fórum das
Varas Especiais da Infância e Juventude da Capital
AUTORAS
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adolescentes e suas famílias, as(os) quais são diretamente afetados pelas decisões
estabelecidas.
ADOLESCÊNCIA
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Ainda de acordo com Caligaris, a fim de se “vingar” desta espera, a(o) jovem
deseja construir uma identidade que fale dela(e) enquanto indivíduo e assim vive o
tempo de experimentar e testar limites. Ou seja, “já que os adultos não me querem
lá, eu vou me vingar bagunçando o mundo deles”.
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A(o) jovem amplia suas relações para além do contexto familiar, buscando por
meio de grupos sociais, como já abordado, identificação e autoafirmação. Testam os
mecanismos de controle social a partir das primeiras relações objeto-parentais
internalizadas, a fim de estabelecer sua identidade adulta.
85
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O profissional que atua junto ao adolescente em conflito com a lei precisa ter
claro o significado da medida socioeducativa e a complexidade do sistema de
responsabilização, sendo esta questão o ponto de partida da sua intervenção. Essa
análise exige uma reflexão crítica e uma visão histórica da resposta do Estado
diante da prática infracional. (FRASSETO, 2007).
Mas o que fazer quando tais violações ocorrem? Qual deve ser a postura do
profissional do Serviço Social e da Psicologia?
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No caso dos adolescentes em conflito com a lei, a(o) Assistente Social e a(o)
Psicóloga(o) tem um importante papel, já que a especificidade da questão requer um
acompanhamento e manejo difícil, à medida em que o binômio
direito&dever impera. A responsabilização pela atuação infracional se faz
necessária, para que a(o) adolescente possa superar questões facilitadoras dessa
atuação. A subjetividade dessa(e) adolescente deve ser alvo de cuidados e de
respeito, ao contrário do que usualmente se pratica. O sistema de
responsabilização juvenil está pautado em diretrizes que na prática buscam a
“pasteurização” do ser, principalmente quando uniformizam comportamentos e
querem padronizar também expressões e reações emocionais. Reprimir
necessidades básicas e desejos não é definitivamente um manejo potente em um
esperado processo de responsabilização.
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6
Cabe ressaltar que adotamos esta expressão por uma questão de contextualização histórica.
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Oliveira e
Oliveira Silva (2011
Costa
Textos e Silva SINASE Cunha (2013) apud
(2006)
(2011) Frasseto,
1999)
7
Conforme aponta a autora, os direitos que já incorriam no Sistema Penal Adulto é estendido ao
Juvenil: “como, por exemplo, com o devido processo legal; o princípio do contraditório; a ampla
defesa; a presunção da inocência; a assistência judiciária; a presença dos pais e dos responsáveis
nos procedimentos judiciários; ser informado das acusações e não responder; a confrontação de
testemunhas; a interposição de recursos; a apelação para autoridades em diferentes instâncias
hierárquicas; o habeas corpus e outros direitos (OLIVEIRA E SILVA, 2011, p. 90).
8
Quadro elaborado pelo próprio Grupo de Estudos a partir das leituras realizadas no decorrer do ano
de 2016.
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conforme previsto no SINASE – que as tornam diferentes das penas imputadas pelo
sistema adulto.
Oliveira e Silva (2011) afirma que existe uma relação entre as medidas
socioeducativas e protetivas que é “tênue, tensa e passível de ambiguidades” (p.
163-164) e apresenta problemáticas bastante atuais: a vulnerabilidade social, que
exige proteção, endossando a aplicação de medidas socioeducativas. Afirma que
existe uma concepção tutelar assistencial como pano de fundo das medidas
socioeducativas de meio aberto (não raras vezes nos deparamos com sugestões
técnicas que indicam a liberdade assistida para fins de encaminhamento a cursos,
matrícula escolar ou outras demandas de ordem protetiva) ou ainda o
direcionamento de adolescentes sem vínculos familiares para a medida de
semiliberdade. (Oliveira e Silva, 2011).
Enfim, refletir sobre uma prática profissional garantista da(o) Assistente Social
e da(o) Psicóloga(o) do Judiciário, requer ter como ponto de partida a
contextualização da(o) adolescente e desta fase, assim como, fazer com que este
sujeito de direitos sinta-se inserido no processo de socioeducação proposto e mais
do que isto, que ele faça parte deste planejamento identificando o que traz de
aquisição da sua vivência cotidiana de modo que estes sirvam de compreensão e
superação crítica de suas dificuldades, buscando espaços nos quais ele próprio
construa termos pessoais e sociais, a partir de uma ideia de totalidade. (COSTA,
2006)
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REFERÊNCIAS
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2016
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COORDENADORAS
AUTORAS
Izaura Benigno da Cruz – Assistente Social Judiciário – FR. V - São Miguel Paulista
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AGRADECIMENTOS
À psicóloga judiciário Profa. Dra. Lídia Rosalina Folgueira Castro por ter
idealizado e fundado este Grupo de Estudo, deixando as suas marcas e por ter
novamente nos presenteado com sua eloquente apresentação.
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“Os processos jurídicos são narrativas, obras em que cada parte tenta
provar a veracidade de suas versões. Nenhuma narrativa deve ser tomada
como totalmente verdadeira. Qualquer versão é tendenciosa. Na sua
maioria, quando há divergências e brigas a serem arbitradas na Justiça,
ambas as partes se esforçam para responsabilizar o outro pelo caos
deflagrado a partir de seus atos. Cada membro do casal que se desfaz luta
para defender a sua versão, em que ele é a vítima e o outro o algoz.
Estimular esse ataque ou defender um ponto de vista isolado sem pensar
no conjunto é expor os filhos desse divórcio a uma longa e destrutiva
batalha emocional, em que os próprios pais – que deveriam ser os seus
protetores primordiais – serão aqueles que os convocam, explícita ou
implicitamente, para o meio da arena. Nessa hora, cada um de nós,
sejamos profissionais, parentes, amigos, colegas de trabalho, confidentes
etc., deve ter cuidado para não cair na tentação de que nosso apoio a um
ou a outro não termine por afastar aqueles que precisam somar esforços
para estabelecer os vínculos possíveis após a separação. Nessa hora, é
preciso definir posições: ou seremos parte da solução, ou faremos parte do
problema.” (BRUN, Gladis, in Bonoto, 2013, p. 09).
INTRODUÇÃO
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Sobre este aspecto, Johnston (1994) analisou a literatura sobre o impacto dos
conflitos dos pais sobre as crianças e concluiu que a agressão física e a hostilidade
entre os pais foram associadas a elevado número de problemas de comportamento
nessas crianças, bem como dificuldades emocionais e habilidades sociais
rebaixadas quando comparadas às crianças de famílias que não vivenciavam o
litígio. Verificou-se também que, em geral, as crianças que presenciavam a agressão
física entre os pais tinham mais sintomas do que aquelas que vivenciavam uma
separação não violenta de seus pais. Esta tendência foi ainda mais acentuada entre
as crianças abusadas.
A forma do conflito mais comum relatada foi o abuso verbal caracterizado por
insultos e menosprezo em média uma vez por semana. Muitas vezes, essas
104
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a) no nível externo, o conflito seria incrementado por pessoas influentes, tais como
membros da família estendida, novos parceiros ou profissionais/cuidadores que
formam um tipo de coalizão ou aliança com um dos genitores em processo de
divórcio e legitimam as reivindicações;
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A revisão dos estudos indicava que, durante o período de três anos, era
improvável os pais envolvidos em disputas tornarem-se cooperativos e demonstrava
um panorama de conflito legal, de hostilidade, sendo o exercício das
responsabilidades parentais neste contexto mais um elemento desencadeador de
discussões entre os genitores. As disputas, as difamações e sabotagem mútua da
paternidade ou maternidade mesclavam-se com frequentes tentativas de
comunicação e de coordenação dos esforços parentais.
A estatística dos estudos apontou que um quarto dos divórcios muito litigioso,
após três anos e meio da separação, revelava casais suscetíveis a viverem graves
litígios caracterizados por profunda desconfiança em relação à capacidade do outro
genitor para cuidar bem da criança e por diferentes percepções dos métodos
educacionais.
Johnston (1994) resumiu outros estudos com alto grau de violência nas
famílias que vivenciavam graves conflitos e destacou que em divórcios muito
litigiosos podem ocorrer a presença de sujeitos com transtornos mentais, transtornos
de personalidade e problemas de vício. Uma questão crucial levantada por esses
estudos foi repensar se as manifestações psicopatológicas refletiriam os transtornos
de personalidade e/ou os distúrbios emocionais permanentes ou se eram prováveis
reações ao alto nível de estresse devido ao divórcio e às disputas legais.
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cada família. Trata-se aqui dos prejuízos nas relações íntimas que dão sustentação
à construção da subjetividade na medida em que as incompatibilidades parentais
resultam em uma rotina de conflitos perpetuada após a dissolução da união entre os
pais.
Os pais adotam uma postura na qual, muitas vezes, não conseguem perceber
concretamente as necessidades dos filhos, agem como se não houvesse distinção
entre o eu e o outro.
9
Videoconferência transmitida em meados de 2016 como parte do trabalho desenvolvido pelo Grupo
de Trabalho sobre Família (GTFam) do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
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atacando o outro naquilo que lhe for possível, sendo frequente a tentativa de impedir
ou dificultar o contato do ex-cônjuge com o(s) filho(s).
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Ao rever a literatura sobre este tema, Leite (2015) concluiu que devido à
dificuldade dos genitores em lidar com as dores que emergem durante a ruptura do
vínculo, tais como a tristeza e o ódio, estes sentimentos são manifestados através
do embate entre o casal parental no qual os filhos estão no epicentro da disputa e,
muitas vezes, são usados como instrumento de revide. O uso dos filhos como aliado
de um e arma contra o outro, ou seja, a “coisificação do filho” (expressão utilizada
pelo referido autor) abre as portas para a alienação parental.
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3. DOS AGRAVAMENTOS
10
A Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010 define atos de alienação como sendo “a
interferência na formação psicológica da criança ou adolescente promovida ou induzida por um dos
genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou
vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de
vínculos com este”.
11
No Brasil, a partir do trabalho incitado por Maria Berenice Dias, ex-desembargadora do
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, foi realizado o primeiro simpósio no qual se discutiu incesto
e alienação parental de forma interligada. O simpósio foi promovido pelo Instituto Brasileiro de Direito
da Família (IBDFAM) e pela Escola Superior de Magistratura do Rio Grande do Sul, em 2006.
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entre a criança e sua outra figura parental. Para tanto, pode produzir falsas
denúncias e/ou omitir informações sobre filho ao genitor não guardião.
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aponta que a falsa denúncia de abuso sexual tem, por consequência mais imediata,
o afastamento das crianças do genitor acusado.
Ainda, as denúncias de abuso sexual não são mais frequentes que outras
denúncias falsas como maus tratos físicos, negligência, abuso emocional ou uma
história forjada de maus tratos à mulher para sustentar a incompatibilidade do
vínculo filial (CALÇADA, 2008).
lembranças.
Sobre esta temática, salienta-se, ainda, que a emoção pode afetar a memória
tanto em crianças quanto em adultos, observando-se que as recordações mais
precisas são aquelas vividas em situações com forte carga emocional (positiva ou
negativa) do que em situações ou eventos neutros. Em nossa práxis, na coleta de
dados, é de suma importância considerar as vulnerabilidades da memória humana e
comparar os relatos fornecidos pela criança em diferentes momentos, pois na
maioria dos casos de abuso sexual, a fala de acusação permanece, enquanto que,
na falsa acusação o discurso muda de acordo com as circunstâncias.
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Por sua vez, Duarte (2013), ponderou que as falsas denúncias de abuso
sexual são ainda mais difíceis de serem avaliadas quando se tratam de crianças
pequenas que vivenciam a fase fálica (em torno de três anos de idade). Neste
período do desenvolvimento, a criança ainda não possui o domínio da linguagem,
repete palavras/frases sem compreender o significado das mesmas, as forças
pulsionais (vida/morte/amor/ódio) acirram a vivência edípica e contribuem na
construção das teorias sexuais infantis.
Gardner (1987, citado por Lago & Bandeira, 2009) enfatizava que, quase a
totalidade dos casos de acusações de abuso sexual no contexto de disputa de
guarda seria falsa. Este alto número de falsas acusações evidencia a necessidade
de criticidade dos profissionais diante das avaliações do abuso e a compreensão
das funções de tais acusações nos processos de divórcio.
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objetivo de dificultar e até mesmo cessar a convivência entre a prole e o genitor não
guardião.
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conflitos pelo NUPEMEC e inserida nas práticas dos CEJUSCS por meio do
Provimento CSM 2327/16.
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4.2.1 Portugal
131
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4.2.2 Espanha
Ao longo dos anos 1990 muitos outros serviços foram sendo criados, o que
possibilitou a expansão da oferta dos serviços de mediação por quase toda a
Espanha. Contudo, a legislação espanhola limita a utilização da mesma,
principalmente quando há evidências de maus-tratos aos integrantes menores de
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idade do núcleo familiar ou quando uma das partes possui algum problema de saúde
mental comprovado.
4.2.3 Bélgica
4.2.4 França
A Lei traz exigências quanto à pessoa do mediador, que deverá ser uma
pessoa idônea, não podendo ter se envolvido com práticas de atos que atentem
contra os bons costumes, devendo ser qualificado para o conflito específico que irá
mediar, além de provar que não possui qualquer relação com a causa mediada, a
fim de se garantir sua imparcialidade.
135
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4.2.5 Argentina
Existe, também, um Projeto de Lei para que a mediação seja usada no âmbito
familiar, o que hoje não ocorre, por não ser obrigatória, conforme disposto no artigo
2º da dita Lei.
4.2.6 Canadá
136
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Referem os autores citados que nesses casos, os casais discutem com muita
frequência sobre os detalhes das visitas, sobre as formas de educar os filhos e as
informações referentes às crianças. O papel do coordenador é modificar essa forma
de comunicação, para reduzir a exposição das crianças ao litígio. Gilmour, 2004
sugere práticas que podem integrar os planos de responsabilidades parentais:
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os filhos. Em geral a eficácia dos programas varia de acordo com o nível de conflito.
Esses programas, especificamente, focam o ensino da prática de habilidades, e não
informações sobre assuntos diversos, apresentando a possibilidade de
aperfeiçoarem o exercício das responsabilidades parentais.
Treze famílias envolvidas em alto litígio foram convocadas por um juiz para
participarem do programa. Cada pai recebeu material didático com informações
sobre os seis encontros, com duração de duas horas cada um. O curso focava a
aquisição de habilidades parentais. Aos participantes, estabeleciam-se regras, na
primeira sessão. Os membros do grupo deveriam respeitar-se e não denegrir o outro
genitor. Após dois meses do curso, treze pais apresentaram a utilização de
conceitos ensinados de forma construtiva. Portadores de doença mental, com
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4.2.8 Brasil
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CONCLUSÃO
Por outro lado, a implantação do novo Código do Processo Civil que prevê
audiências de conciliação, salvo em raras exceções, e as recomendações do
Conselho Nacional de Justiça apontam para mudança de postura rumo à política de
pacificação social.
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REFERÊNCIAS
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Cia, 2007.
BONOTO, Andréia Chagas Pereira. Fatores de Risco e Proteção no Processo de
Adaptação de Criança à Separação/Divórcio dos Pais em Litígio Judicial: Um Estudo
de Laudos Psicológicos. Orientador, Prof. Dr. Roberto Moraes; Coorientadora, Profa.
Dra. Maria Aparecida Crepaldi - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de
Filosofia e Ciências Humanas. Florianópolis/SC, 2013.
BRASIL, Conselho Nacional de Justiça. Manual de Mediação Judicial, 6ª edição.
Brasilia, 2016, disponível em:
http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2016/07/f247f5ce60df2774c59d6e2dddbf
ec54.pdf.
BRASIL, Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Centro Judiciário de Solução
de Conflitos em Segunda Instância e Cidadania, Cartilha Conciliando. São Paulo.
Disponível em: http://www.tjsp.jus.br/Download/SecaoDireitoPrivado/CEJUSC/
CartilhaCEJUSC.pdf acessado em: 9/12/2016.
BROCKHAUSEN, Tamara. SAP e Psicanálise no Campo Sociojurídico: de um amor
exaltado ao dom do amor. Dissertação em Psicologia – Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo. São Paulo, 2011.
CALÇADA, Andreia. (Org.ONG APASE). Falsas Acusações de Abuso Sexual e a
Implantação de falsas memórias. São Paulo: Equilíbrio, 2008.
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fl/divorce/2004_1/biblio1.html>. Acesso em: 20 jul. 2014.
CASTRO, Lídia Rosalina Folgueira. Disputa de Guarda e Visitas no interesse dos
Pais ou dos Filhos? São Paulo: Casa do Psicólogo, 2013
DARNALL, Douglas. Divorce casualities. 2 ed. Maryland: Taylor Trade Publishing,
2008.
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COORDENADORES
AUTORES
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INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
Com base nos estudos de Foucault, a partir das explanações de Érika Reis
(2009), o debate centrou-se nas relações de poder que se encontram diluídas na
prática cotidiana no Judiciário e os discursos que constroem o que é a verdade
nesse contexto. Tal debate abre a possibilidade para resgates históricos a respeito
de como a sexualidade tem sido concebida a partir de modelos religiosos e modelos
de família burguesa, que disciplinam o que é normal, esperado e adequado.
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O mecanismo do poder pastoral, uma vez inventado, pôde ser exercido pelo
padre, mas também (guardadas as devidas proporções) em práticas mais
tradicionais, pelo/a médico/a, psiquiatra, psicanalista e psicólogo/a. Acrescente-se
que o ranço conservador outrora presente nas origens do Serviço Social, permite
incluir também o/a assistente social nesta lista.
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Mas além do poder exercido pelo Estado é necessário que tais discursos
sejam reconduzidos em um plano mais individualizado e cotidiano e este é o papel
desempenhado pela instituição familiar, - outro importante polo de exercício do
poder pastoral na medida em que sendo alvo prioritário dos discursos e práticas
normalizadoras torna-se também reprodutora destes, fazendo-os circular e, na
sociedade moderna, transformando seus próprios membros em agentes de
disciplinarização e normalização. Afinal, estes modelos e padrões têm força porque
“nós mesmos os recolocamos em funcionamento, ao longo de nossas práticas
cotidianas” (REIS, 2009, p. 64).
156
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Neste aspecto, discutiu-se que uma visão mais flexível acerca da sexualidade
humana pode viabilizar as diversas expressões de orientações sexuais, identidades
de gênero e diversidade sexual. Numa direção oposta, a rigidez na construção da
sexualidade acaba por excluir outras possibilidades de expressão social, que não se
enquadram na norma heterossexual.
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Uma vez tido como identidade “natural” que constituiria a “essência” de cada
indivíduo tais ficções de gênero geram regras de produção da verdade vinculados à
reprodução das relações de poder vigentes, que determinam e enquadram o que é
“normal” ou “anormal”, “adequado” ou “inadequado”, “aceitável” ou inaceitável”.
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“Para Wittig, a restrição binária que pesa sobre o sexo atende aos objetivos
reprodutivos de um sistema de heterossexualidade compulsória; ela afirma,
ocasionalmente, que a derrubada da heterossexualidade compulsória irá
inaugurar um verdadeiro humanismo da “pessoa”, livre dos grilhões do
sexo.” (BUTLER, 2003, P.41 APUD PINAF ET AL, 2011, p. 279
Desta feita, depreende-se que não é “apenas” a identidade do sujeito que fica
atrelada a estas identidades de gênero, é sua própria vida, posto que as ficções
reguladoras (justamente para cumprirem seu efeito de regularem) se ramificam em
todos os espaços da vida social, sendo as identidades de gênero atuantes desde o
nascimento à morte, condicionando inclusive trajetórias e expectativas de vida 13.
Neste sentido, determinadas expressões de gênero matam, como apontam os dados
da LGBTfobia:
Somos a nação que mais mata pessoas trans no mundo. De acordo com
a ONG alemã Transgender Europe e seu mapa de monitoramento, foram
546 casos entre 2011 e 2015. Para se ter uma ideia, o segundo lugar, o
México, teve 190 no mesmo período. Quando contamos os assassinatos de
lésbicas, gays e bissexuais nestes últimos quatro anos, o número,
contabilizado pelo Grupo Gay da Bahia, salta para 1.560. Já as denúncias
de violência reportadas ao poder público federal por meio do Disque 100
totalizam 8.099. Os dados vêm de diferentes frentes, e a fragmentação das
13
Cf.: CFESS. CFESS Manifesta – Dia Mundial do Orgulho LGBT. Brasília, 28 jun.2012. Disponível
em http://www.cfess.org.br/arquivos/cfessmanifesta2012_orgulhoLGBT_site.pdf. Acessado em 14
set.2016.
160
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CONCLUSÃO
Nesta esteira acerca dos papéis sociais, discutiu-se também sobre a falta de
clareza dos profissionais do Serviço Social e da Psicologia concernentes as suas
funções específicas, bem como a incompreensão da sociedade sobre as atribuições
dessas categorias. Esse desconhecimento resulta em estereótipos e incertezas nos
locais em que esses profissionais atuam, tendo como consequência a atribuição de
tarefas que não são de competência dessas áreas do conhecimento.
163
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REFERÊNCIAS
BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo. 5. ed. Rio de Janeiro: Nova fronteira,
1980.
COIMBRA, Cecília Maria Bouças; AYRES, Kygia Santa Maria; NASCIMENTO, Maria
Livia. Construindo uma psicologia no Judiciário. IN: PIVETES: Encontros entre a
Psicologia e o Judiciário, 2008, Curitiba: Juruá, 2013.
LOURO, Guacira Lopes. O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo
Horizonte, 2000.
MIOTO, R.C.; CAMPOS, M.S.; CARLOTO, C.M. (Orgs.). Familismo: direitos e
cidadania – contradições da política social. São Paulo: Cortez, 2015.
PINAFI, Tânia; PERES, Wiliam Siqueira; TOLEDO, Lívia Gonsalves; SANTOS,
Cíntia Helena. Tecnologias de gênero e lógicas de aprisionamento. Revista Bagoas.
N.06. 2011. P. 267-282
REIS, Érica Figueiredo. Varas de família: um encontro entre Psicologia e Direito.
São Paulo: Juruá, 2009.
SANTOS, Marcia Regina Ribeiro dos; COSTA, Liana Fortunato. Campo psicossocial
e jurídico: relações de poder nas decisões de conflitos familiares. Estudos de
Psicologia, Campinas, 27 (4), out./dez., 2010, p. 553-561.
SARAIVA, José Eduardo Menescal. É possível re-situar a prática Psi no Judiciário?
In: COIMBRA, Cecilia Maria Bouças. PIVETES: Encontros entre a Psicologia e o
Judiciário, 2008, Curitiba: Juruá, 2013.
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“ESTUDO SOCIAL”
2016
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COORDENADORES
AUTORES
Liliane Martins do Vale – Assistente Social Judiciário – Comarca de Mogi das Cruzes
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INTRODUÇÃO
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14
Cf. IAMAMOTO, 2004, pg 113
170
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O que se observa nas leituras sobre o Poder Judiciário neste período é que
sua formação se dava com vistas a atender aos interesses econômicos de Portugal,
o qual, aliado às elites agrárias, buscava garantir a expansão dos lucros via
arrecadação de impostos e tributos, além da formação de uma ordem penal que se
configurasse em impedimento às ameaças diretas à dominação de Portugal. Desta
forma, o Poder Judiciário foi organizado para operar dentro de limites e sob a égide
dos códigos, sistema este que se estruturou tendo como diretriz o modelo português,
desconsiderando as peculiaridades da nação que se formava.
Necessário lembrar que o Tribunal de Justiça de São Paulo foi criado no ano
de 1873, com a promulgação da primeira Constituição Federal pós-república, datada
em 24 de Fevereiro de 1891 e da promulgação da Constituição do Estado, ocorrida
em 14 de Julho de 1891, que dispôs sobre as funções judiciais e tem como
característica ser “uma instituição formal, tradicional, conservadora, austera,
hierarquizada e altamente burocratizada.” (VIANA, 2015, p. 26).
171
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Diante desse quadro, o Poder Judiciário tem como desafio alargar os limites
de sua jurisdição e também rever suas estruturas organizacionais e seus padrões
funcionais para procurar abrir espaços mais claros para a sua atuação, através da
conquista de uma identidade funcional mais precisa e com maior legitimidade
política. Faria (2001, p. 8) complementa
176
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Conforme apontam Braz e Barata (2010), ainda que a prática profissional do/a
assistente social não se constitua como práxis produtiva, efetivando-se no conjunto
das relações sociais, nela se imprime uma determinada direção social por meio de
diversas ações profissionais, balizadas pelo projeto profissional que a norteia. Esse
projeto profissional por sua vez conecta-se a um determinado projeto societário cujo
eixo central vincula-se aos rumos da sociedade como um todo. Ainda com relação a
esta questão os autores pontuam
Importante destacar que desde o final dos anos de 1970, o Serviço Social
brasileiro vem construindo este projeto profissional comprometido com os interesses
das classes trabalhadoras e como afirmam Braz e Barata (2009, p. 12),
Frisa-se que nosso projeto ético-político é bem claro e explícito quanto aos
seus compromissos:
tem em seu núcleo o reconhecimento da liberdade como valor ético central
– a liberdade concebida historicamente, como possibilidade de escolher
entre alternativas concretas; daí um compromisso com a autonomia, a
emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais.
Consequentemente, o projeto profissional vincula-se a um projeto societário
que propõe a construção de uma nova ordem social, sem dominação e/ou
exploração de classe, etnia e gênero. (NETTO, 1999, p. 104).
178
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cerca.” (FÁVERO, 2011, p. 29). O estudo social que subsidia decisões judiciais
contempla os dados da realidade social do sujeito, e, portanto, devem ser analisados
e interpretados criticamente, assumindo o compromisso com a ampliação e garantia
de direitos e não como prática cerceadora, disciplinadora e moralizadora. É preciso
ter uma visão ampliada do objeto de intervenção, considerando que a questão social
perpassa o cotidiano dos sujeitos em todas as suas dimensões, ou seja, uma análise
crítica que supere a realidade imediata.
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social, laudo social), visto que a produção escrita irá materializar e sintetizar uma
aproximação da realidade apreendida.
A leitura dos autos é o primeiro contato do/a profissional com a situação e não
é apenas uma leitura: é um estudo aprofundado dos documentos que compõem o
processo judicial e que vai balizar a escolha da metodologia a ser adotada para o
prosseguimento do estudo social, lembrando que os instrumentais utilizados pelo/a
assistente social são de livre escolha do/a profissional, como aponta o Art. 2º do
Código de Ética do Assistente Social: “Constituem direitos do/a assistente social: i-
liberdade na realização de seus estudos e pesquisas, resguardados os direitos de
participação de indivíduos e grupos envolvidos em seus trabalhos.” (BRASIL, 2012,
p.26).
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relação do assistente social com outros profissionais. Além disso, é preciso atentar
para o respeito às informações dos sujeitos que circulam dentro da rede e até
mesmo para que os sujeitos não tenham que repetidamente contar sobre a situação
que estão vivendo, nos diversos serviços em que são atendidos.
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Finalmente, uma última consideração importante a ser feita é sobre o uso dos
relatórios e laudos sociais pelos operadores do direito. O Comunicado nº 651/2014,
da Corregedoria Geral do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,
Nesse sentido, cabe esclarecer que o estudo social não deve constituir-se
como produção de provas para apuração da veracidade dos fatos ou criminalização
de sujeitos: é instrumento de desvelamento da realidade social em que sujeitos de
direitos estão inseridos.
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CONCLUSÃO
Cabe finalizar trazendo o apontamento elaborado por Fávero que nos diz
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de espoliação social vivida por muitos dos sujeitos presentes nas ações judiciais,
numa articulação com lutas coletivas, negando o caráter autoritário, controlador e
disciplinador que as práticas judiciárias historicamente construíram.
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REFERÊNCIAS
IAMAMOTO, Marilda Vilela. CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social
no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 16ª ed. São Paulo:
Cortez; [Lima, Peru]: CELATS, 2004.
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COORDENADORA
AUTORAS
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INTRODUÇÃO
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Outro aspecto é que esta disputa está muitas vezes associada à ideia de
posse dos filhos. No que tange a essa questão, Lenita Pacheco Lemos Duarte, em
“A Guarda dos Filhos na Família em Litígio”, constante no texto de Guazzelli (p. 4),
diz que
193
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manifestações da questão social, que cada vez mais tem sido judicializada, uma vez
que está diretamente relacionada ao não exercício pleno da convivência familiar.
Nesses casos, faz-se necessário avaliar como os genitores estão lidando com
os filhos, e se o genitor que detém a guarda da criança/adolescente está
proporcionando ou não a convivência familiar com o genitor não detentor da guarda.
Por sua vez, Maria Berenice Dias refere que “quando não consegue elaborar
adequadamente o luto da separação, desencadeia um processo de destruição, de
desmoralização, de descrédito do ex-cônjuge” (GUAZELLI, p. 5). Assim, inicia-se
uma série de situações para dificultar os contatos com o genitor não detentor da
guarda para o afastamento natural e o prejuízo na relação parental.
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CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
ROCHA, Edna Fernandes da. Serviço Social e Alienação Parental: elementos para o
debate. In: Alienação Parental Revista Digital Lusobrasileira. IV Congresso Nacional
II Internacional Alienação Parental. Ribeirão Preto, Brasil. 4, 5 e 6 de junho de 2015.
197
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“JUSTIÇA RESTAURATIVA”
2016
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COORDENADORAS
AUTORAS
Maria Lucia Bianchini – Assistente Social Judiciário – Comarca de Embu das Artes
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200
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INTRODUÇÃO
15
A Seção Técnica de Justiça Restaurativa da Coordenadoria da Infância e Juventude do TJ/SP foi
criada através da Portaria 8656/2012.
201
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16
Olhe à sua volta. Leia as manchetes dos jornais. Veja as reportagens na TV. Pare na lanchonete,
na esquina, na fila do cinema, e ouça as conversas. Não é muito diferente das que você ouve em
casa, entre sua mãe e sua tia, entre seu pai e o irmão dele, entre eles e os amigos. Talvez você puxe
esse assunto com colegas, vizinhos e professores. A impressão que a gente tem, circulando pela
cidade – praticamente por qualquer cidade – é que o tema predileto de quase todo mundo é a
violência. A grande maioria dos que morrem vítimas de violência tem entre 15 e 24 anos, ou 15 e 29
anos, são em geral, pobres, do sexo masculino, moram nos bairros menos valorizados e,
frequentemente, são negros. (SOARES, 2011, p. 19)
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17
O termo violência, de natureza polissêmica, é utilizado em muitos contextos sociais. Como exemplo,
podemos pensar que o termo violência pode ser empregado tanto para um homicídio quanto para
maus–tratos emocionais, verbais e psicológicos. Na esfera conjugal manifesta-se com frequência
através dos maus-tratos; ao submeter à mulher a práticas sexuais contra a sua vontade; maus –
tratos físicos, isolamento social; ao proibir o uso de meios de comunicação; o acesso aos cuidados de
saúde; a intimidação. No ambiente profissional observa-se a presença de assédio moral. (REZENDE;
TARTARO; SACRATAMENTO, 2006, p. 96) Disponível em: <
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-03942006000300009> Acesso em
19 nov. 2016
18
Segundo Iamamoto (1999, p. 27), a Questão Social pode ser definida como: O conjunto das
expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que têm uma raiz comum: a
produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a
apropriação dos seus frutos se mantém privada, monopolizada por uma parte da sociedade.
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a qualquer ser humano. E talvez esteja aí uma das chaves do fascínio que a
violência exerce sobre todo mundo, por atração ou repulsa. Ela faz, em nós,
uma ligação direta com nossas emoções mais profundas e primitivas: terror,
amor, ódio, prazer, dor, as seduções do poder, o desamparo da impotência,
a proteção paterna, o cuidado materno, a solidão e o abandono, a
devastação de nossa identidade e da autoestima, a incomunicabilidade, a
indiferença, o desprezo, a solidariedade, o egoísmo mais extremo e o
altruísmo heróico, a generosidade e a compaixão, a afirmação que é vida e
a negação radical, que é morte.
Ele contou o seguinte: um adolescente fez sinal; o ônibus parou. O garoto
entrou. A porta se fechou atrás dele. Havia poucos passageiros: um em pé,
sete ou oito sentados. O jovem sentou-se.
O motorista do ônibus era amigo do taxista, amigo mesmo, quase irmão -
parceiro da vida inteira. Cresceram juntos. Começaram, juntos, a trabalhar.
Casaram-se na mesma época. As esposas tiveram o primeiro filho mais ou
menos no mesmo período. Eram quase uma família só.
Subitamente, pondo-se em pé, o adolescente anunciou o assalto. Daí em
diante, as informações não são claras. O que se sabe é que o rapaz atirou
no motorista e fugiu com o dinheiro que roubou dos passageiros. O tiro
atingiu um órgão vital. O amigo do taxista não resistiu. Já chegou ao
hospital sem vida. “Uma estupidez, uma estupidez”, gritava meu interlocutor.
“O senhor sabe o que vai acontecer com esse bandido, esse assassino,
esse monstro?”, indagou.
Eu mal conseguia pensar no que dizer. Não foi preciso. Ele mesmo
respondeu: “Nada. Não vai acontecer nada, porque nosso país é a terra da
impunidade. Esse pessoal dos direitos humanos vai proteger o garoto. O
delinquente não vai para a prisão porque é menor de idade. Daqui a dois,
três anos, o homicida está por aí, livre, matando outros pais de família. Ele
deveria ser linchado. Pena não haver pena de morte no Brasil. Queria ver
esse cara torrando na cadeira elétrica” [...]
“E agora?”, perguntava o taxista. “E agora? O que será da viúva? O que vai
acontecer com os cinco filhos? Que futuro os espera? Ela sempre trabalhou
em casa. Nunca se profissionalizou. Cuidava da casa e já era demais:
pouco dinheiro, a garotada para alimentar, problemas para administrar, a
educação dos meninos e das meninas… E agora?”.
“Provavelmente”, prosseguiu ele, “os mais velhos vão ter de abandonar os
estudos e trabalhar. Como são muito novos, o jeito vai ser vender bala nas
esquinas. Longe de casa e da escola, e perto de gente que mora nas ruas,
entre drogas e esmolas, os meninos vão acabar se perdendo. Aquele
monstro não só tirou a vida de um pai de família, como matou o futuro dos
filhos”.
Fiquei ali, em silêncio, olhando sem ver as belas paisagens de Recife que
passavam pela janela. Imaginei o sofrimento dos filhos e da esposa do
motorista de ônibus assassinado. Até que percebi que as duas pontas da
história se encontravam: o início e o fim. Tomei coragem e disse ao taxista:
“Veja o senhor como são as coisas: esses meninos que ficaram órfãos são
vítimas, assim como o pai.”. Fiz uma longa pausa. O motorista quebrou o
silêncio, complementando: “São pobres vítimas indefesas. E sinto muita
tristeza por eles.”. Tomei fôlego e continuei: “Imagine o senhor esses pobres
meninos, pré-adolescentes, crianças, ainda, daqui a pouco podem estar na
rua, sentindo-se abandonadas, com a autoestima esmagada. Porque, como
o senhor disse, por mais que a mãe se esforce, vai ser muito difícil que ela
consiga sustentar toda a família, mantendo todos os meninos na escola,
trabalhando fora e, ao mesmo tempo, educando as crianças e dando a
todas elas o amor de que precisam, agora mais do que nunca”.
“Justamente”, concordou o taxista.
“Pois é”, prosseguiu, “esses meninos correm o risco de ir para a rua,
envolver-se com drogas, crimes, armas…”.
O taxista me interrompeu: “Tudo de ruim, coitados”.
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“Um dia”, retomei meu raciocínio, “um dia, um deles, desesperado atrás de
dinheiro - talvez para comprar crack -, entra num ônibus, rende passageiros
e, sem pensar, atira no motorista e foge”.
Olhei para o taxista. Ele devolveu o olhar, de relance. Percebi que estava
começando a entender aonde eu queria chegar.
Concluí: “O senhor acha que, nesse caso, se isso viesse a acontecer, o
órfão de seu amigo mereceria ser chamado de monstro? O senhor
participaria do linchamento dele? O senhor, se fosse juiz e se nosso país
tivesse pena de morte, o condenaria à morte?”.
O taxista dirigia, olhando fixo para frente. Não disse mais nada.
Quando parou, dentro do campus da universidade, na frente do prédio em
que eu daria a palestra, olhou para mim e respondeu: “Não”.
Paguei a corrida. Recebi o troco. Desejei boa-tarde. Agradeci. Quando eu
saía do carro, o taxista disse, numa voz mais baixa do que seu tom habitual:
“Nunca tinha pensado por esse lado”. Não perdi a oportunidade e completei
meu argumento: “Uma história muda de sentido, dependendo do ponto a
partir do qual se comece a contá-la. Talvez entendêssemos de uma forma
um pouco diferente o significado do assassinato do motorista do ônibus se a
história de quem o matou tivesse sido contada desde o início. Não se trata
de passar a mão na cabeça de quem comete uma atrocidade inominável
como essa. Não se trata de subestimar a brutalidade desse ato
injustificável. Trata-se de compreender como foi possível um ser humano ter
se desumanizado a ponto de matar outro ser humano daquele jeito. Se
quisermos que isso não se repita, teremos que agir para mudar essa
realidade capaz de desumanizar uma pessoa. Não adianta, nem é justo,
agir por vingança. Isso só acrescenta à história violenta mais um capítulo
violento. Ou seja, isso só gera mais violência, quando o que eu e o senhor
desejamos não é a vingança, é que violências assim não se repitam”.
Ele balançou a cabeça: “Tem razão”. (grifo nosso)
O texto acima deixa claro que grande parte da sociedade enxerga o crime/ato
infracional através do paradigma punitivo, consonante com a Justiça Tradicional, a
qual considera mais relevante saber quem transgrediu a lei e qual a pena merecida
do que compreender os reais motivos que levaram o sujeito a se envolver na
criminalidade19.
19
Comparativo entre a Justiça Tradicional e a Justiça Restaurativa segundo Brancher e Flores (2016,
p. 98): Tradicional: Culpa, Perseguição, imposição, castigo, verticalidade, coerção; Restaurativa:
Responsabilidade, encontro, diálogo, reparação do dano, horizontalidade, coesão.
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“requer, no mínimo, que cuidemos dos danos sofridos pela vítima e de suas
necessidades; que seja atribuída ao ofensor a responsabilidade de corrigir
aqueles danos, e que vítimas, ofensores e comunidade sejam
envolvidos nesse processo” (ZEHR, 2012, p. 36). (grifo nosso)
206
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20
Ressalta-se que antes disso o Brasil já vivenciava algumas experiências pontuais de Justiça
Restaurativa, a exemplo do estado do Rio Grande do Sul que em 4 de julho de 2002 trabalhou o
chamado “Caso Zero”, aplicação de prática restaurativa envolvendo dois adolescentes em conflito na
3ª Vara do Juizado Regional da Infância e da Juventude de Porto Alegre. Disponível
em:<http://www.justica21.org.br/j21.php?id=89&pg=0#.WEVdytIrIdU> Acesso em: 20 nov. 2016.
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21
Práticas Restaurativas compreende a utilização de diferentes metodologias de estruturação e
promoção de encontros entre as partes envolvidas, objetivando a facilitação do diálogo, a superação
de conflitos e a resolução de problemas de forma consensual e colaborativa. Diferentes metodologias
podem ser escolhidas e utilizadas segundo as circunstâncias do caso, objetivando proporcionar um
ambiente seguro e protegido para o enfrentamento das questões propostas. (Brancher; Flores, 2016,
p. 110)
208
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Dentre os procedimentos existentes podemos citar VORP – processo vítima-ofensor, sigla em
inglês; conferência familiar, círculo restaurativo, processo circular, entre outros.
209
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CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
PENIDO, Egberto A. de; MUMME, Monica M. R.; ROCHA, Vanessa A. Da. Justiça
Restaurativa e sua humanidade profunda. In: Justiça Restaurativa: Horizontes a
partir da Resolução CNJ 225. (Coord. Fábio Bittencourt da Cruz): Brasília, 2016.
SOARES, Luiz Eduardo. Justiça: Pensando alto sobre violência, crime e castigo. Rio
de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2011.
ZEHR, Howard. Trocando as lentes - um novo foco sobre o crime e a justiça. São
Paulo: Palas Athena, 2014.
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AUTORAS
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abandono, maus tratos, abuso sexual, violência intrafamiliar, ato infracional (medidas
socioeducativas), acolhimento institucional, destituição do poder familiar.
24
Cf. Fávero (2005) e Alapanian (2008) que se dedicaram a pesquisar sobre a história do Serviço
Social no TJSP, a designação de uma assistente social para trabalhar em demandas de Vara de
Família ocorreu entre 1960 e 1961, mas a legitimação dessa atuação se deu em 1980 com a
publicação de um provimento.
25
Das assistentes sociais do TJSP, destacam-se as teses de doutorado de Maria de Lourdes Bohrer
Antonio, “Relações afetivas em litígio e a mediação familiar”, defendida em 2013 na PUCSP e de
Edna Fernandes da Rocha Lima, “Alienação Parental sob o olhar do Serviço Social: limites e
perspectivas da atuação profissional nas varas de família”, defendida em 2016, também na PUCSP.
Há também o artigo de Fávero de 2008, “Famílias: Serviço Social e Justiça- apontamentos sobre
demanda e prática profissional”. In KOGA Dirce; GANEV Eliane; FÁVERO Eunice (orgs). Cidade e
questões sociais. São Paulo: Andross, 2008.
222
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Não, não... acho que falta muito, muita coisa... Geralmente, quando você
quer procurar alguma [referência], você é obrigada a cair ou para a área do
Direito ou para a da Psicologia. Coisas do Serviço Social, nossa, nossa...
Vamos pensar num artigo do Serviço Social, inserido num livro, ou numa
revista, por exemplo, ainda assim é menos que o da Psicologia e do pessoal
do Direito. (AS 3).
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O grupo foi composto em sua maior parte por profissionais com pouco tempo
de trabalho na instituição, tratando-se da primeira participação em Grupo de Estudos
do TJ-SP para a maioria.
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Mioto (2001) denomina a perícia social como um processo por meio do qual o
assistente social realiza exame, vistoria ou avaliação de situações sociais com a
finalidade de emitir um laudo social para subsidiar a decisão judicial. Neste sentido,
constitui atribuição privativa do assistente social por exigir um conhecimento técnico
e um saber específico, adquiridos por meio da graduação em Serviço Social.
227
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A escuta dos sujeitos, tendo como parâmetro dar voz aos envolvidos na
situação em analise, se coloca com significativa importância no trabalho, redefinindo
a situação apresentada nos autos, sob o ponto de vista social, com cautela e
respeito ao usuário, na procura da não intensificação da lide.
228
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Em seu artigo 464, nos parágrafos 2º, 3º e 4º, o NCPC apresenta alguns
mecanismos que ampliam atribuição já prevista de participação do perito em
audiência, de forma que pode ser prejudicial aos interessados no processo e ao
profissional.
26
A formação de mediadores e conciliadores também foi um tema que trouxe inquietações no grupo,
tendo em vista o estímulo cada vez maior do CNJ na inserção da Mediação e Conciliação como
alternativa para a resolução dos litígios nas Varas de Família. Foram trazidos diversos
questionamentos quanto à contribuição da mediação enquanto solução de conflitos relacionada à
redução de processos e lentidão do judiciário, bem como mecanismo garantidor de acesso à Justiça.
Ainda, a compatibilidade ou não da mediação de conflitos com as dimensões teórico-metodológicas,
técnico-operativas e ético-políticas do Serviço Social. Para tanto, trouxemos como pauta da
discussão o parecer preliminar do CRESS nesse sentido.
230
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CONCLUSÃO
Até o momento, o Serviço Social conta com pouco respaldo sobre a atuação
em Vara de Família e, dentre outras questões, sobre a participação do assistente
técnico nas etapas do estudo social.
233
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REFERÊNCIAS
LIMA, Edna Fernandes da Rocha. Alienação Parental sob o olhar do Serviço Social:
limites e perspectivas da atuação profissional nas varas de família. São Paulo: PUC,
2016. Tese (Doutorado em Serviço Social).
234
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A este respeito, Dolto (1989) ressalta que a situação de conflito entre os pais
e a decisão de separação deve ser conversada com os filhos, ressaltando que a
separação pode ser vista como uma solução. A autora destaca que deve ficar claro
para os filhos que os desentendimentos existentes entre o casal não os exime dos
compromissos com os filhos. Para ela, o divórcio pode ser visto de uma forma
positiva na medida em que traz uma solução legal para a situação de conflito que
envolve todos os membros da família.
240
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27
Campos (2010), em artigo que trata sobre a existência de uma chefia feminina, chama a atenção para a
utilização deste termo, pontuando que, enquanto para a figura masculina este termo ganha conotação de
241
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As autoras identificaram que alguns pais podem se afastar dos filhos por
questões culturais, visto que comumente os filhos ficavam sob a guarda da mãe, o
que reforça uma não participação paterna nos cuidados deles e uma crença de que
é melhor que os filhos sejam cuidados pela mãe. Mesmo com as mudanças no atual
contexto, em que a paternidade vem sendo valorizada, a pesquisa apontou que os
mitos em relação à valorização da maternidade permanecem. Por sua vez, muitas
mães também entendem que suas relações com os filhos são mais fortes e, assim,
consideraram serem mais importantes para eles.
‘status”, para a mulher, ser “chefe de família” significa mais responsabilidades, além daquelas que histórica e
culturalmente já lhe são delegadas: cuidados e educação dos filhos, além das tarefas domésticas. Geralmente,
é atribuído este reconhecimento apenas quando da ausência masculina e, ocasionalmente, em situações em
que a mulher se encontra em situação de vulnerabilidade socioeconômica. A autora, assim, traz algumas
reflexões significativas. Para aprofundamento do tema, sugerimos a seguinte leitura: CAMPOS, M. S. Para que
serve pensar a existência de uma ”chefia feminina” na família atual? In: DE MARTINO, M. (Org.) Infancia,
Familia y Género - Múltiplas problemáticas, múltiples abordajes. 1 ed. Montevideo: Ediciones Cruz del Sur,
2010, p. 55-74.
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Não podemos ignorar que existe uma relação diretamente proporcional entre
o tempo de convivência e o exercício da maternagem, visto que historicamente a
guarda dos filhos tem sido concedida às mulheres. No entanto, há um aumento
perceptível na participação do pai desde a gestação, acompanhando todas as
etapas da criança, não mais como elemento secundário ou apenas como provedor,
mas como papel principal coparental, ou seja, agindo conjuntamente.
De acordo com Balancho (2012), um pai que tenha uma resposta atenta,
meiga e centrada na criança e atitudes de controle parental moderado (limites,
regras, encorajamento a autonomia) tenderá a ser um bom pai, pois seus filhos mais
facilmente poderão alcançar autoestima elevada, sucesso acadêmico,
desenvolvimento cognitivo adequado e menos problemas de comportamento que
aqueles que têm pais controladores, autoritários e que não correspondem as
necessidades dos filhos, pois pensam, sobretudo, nas suas próprias necessidades e
desejos.
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Muitas vezes, o fato de os pais não serem mais ativos na educação dos filhos
se deve ao fato de que algumas mães se reservam o protagonismo na criação dos
filhos e exercem o controle autoritário das tarefas parentais, não cedendo espaço
para os pais, por vezes desacreditando que eles queiram, devam ou tenham
capacidade para fazê-lo. Na prática cotidiana profissional, é comum ouvir que muitos
homens só aprenderam a ser pais após o divórcio.
A autora aborda outras questões. Para ela (2012), o pai que passa seu tempo
com o filho, cuidando dele e tratando de sua rotina pelo menos duas vezes na
semana cria um adulto mais compassivo e compreensivo. Este grupo de estudos
considerou que, sendo os pais e mães modelos na educação dos filhos, cabe a eles
promover a autonomia, atribuindo aos filhos responsabilidades e poder de acordo
com sua idade para construírem seus próprios conhecimentos.
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Segundo Gomide (2006), pais que praticam o abuso físico utilizam práticas
corporais lesivas na tentativa de controlar o comportamento dos filhos. Para a
autora, o abuso físico e a negligência se mostram como os principais
desencadeadores de comportamentos antissociais de crianças e adolescentes.
Esta autora desaconselha que um adulto volte para a casa dos pais após a
separação, uma vez que, nessa situação, na perspectiva dos filhos, isto pode
significar que o seu pai ou mãe voltou a se tornar criança. A autora salienta que é
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preciso que os pais saibam que as soluções de facilidade se pagam caro mais tarde
e que é importante para os filhos que os pais se comportem como cidadãos adultos.
Segundo ela, o retorno para a casa dos pais é uma regressão para a criança, que se
descobre ao lado de pais artificialmente transformados em irmãos mais velhos,
machucados pela vida e que já não são modelos de adultos.
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A pobreza, nesse contexto, é vista como sendo uma profunda violação dos
direitos humanos, pois implica em restrições para o exercício da parentalidade e dos
cuidados e atenção que a infância requer; dessa forma, crianças negligenciadas
seriam aquelas expostas a lares muito desorganizados, sobrecarregadas por
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repetidas circunstâncias negativas e inseridas num círculo de falência por parte dos
pais, da família, da sociedade, da escola e dos governos.
A falta de acesso aos direitos sociais básicos muitas vezes tem relação direta
com situações nomeadas como negligência, podendo, no entanto, tal fato ser visto
como negligência do Estado, e não dos pais e mães que não conseguem ter acesso
aos serviços necessários. A ausência de uma figura de apoio às mães que são
abandonadas e têm de se responsabilizar sozinhas por todas as tarefas parentais
também pode afetar sobremaneira o exercício parental e colocar em risco o
desenvolvimento sadio das crianças e adolescentes.
Para a autora (2011), a autonomia deve ser entendida sob dois olhares: dos
filhos, principalmente adolescentes, e dos pais. Assim, os pais devem aprender a
escutar e respeitar os filhos e suas reações, tendo em vista a individualidade dos
mesmos, para que possam expressar sua afetividade, desejos e medos, de forma a
fomentar a sua autonomia. Já os filhos, comumente se distanciam dos ensinamentos
e valores transmitidos pelos pais para conseguir estabelecer seu próprio cabedal de
princípios, de forma individualizada, a despeito da enorme influência que o grupo
também exerce.
Outro aspecto que deve ser avaliado diz respeito aos desequilíbrios de poder
na família que impedem o exercício da parentalidade por um dos genitores; em
252
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CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
GRZYBOWSKI, L. S. Ser pai e ser mãe: como compartilhar a tarefa educativa após
o divórcio? In: WAGNER, A. e col. Desafios Psicossociais da Família
Contemporânea. Porto Alegre: Artmed, 2011.
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percebe que ele cometeu o abuso por se sentir autorizado a fazê-lo e que ambos
são vítimas, em todas as situações.
Alertou ainda que o atendimento da equipe deve ser realizado de forma clara,
evitando pactos de silêncio, de maneira a informar ao atendido os limites do sigilo
profissional, bem como mantendo espaço de discussões de casos.
Os métodos de estudos utilizados no decorrer deste semestre foram: leitura,
discussão de textos, exposição e debate a respeito de filmes, troca de experiências
com profissionais convidados, rodas de conversa com os componentes do Grupo e
análise de estudos psicossociais. Após debatermos a respeito das dificuldades e do
cotidiano profissional dos técnicos das Varas que atuam com casos de violência
sexual contra crianças e adolescentes, decidimos analisar um atendimento realizado
pelo Serviço Social e Psicologia e, a partir desta realidade, estabelecermos relação
com o conteúdo apontado na bibliografia e a rotina de trabalho com a qual os
componentes do Grupo se deparam.
Tivemos como objetivo principal analisar a realidade social e psicológica a
partir dos estudos da nossa rotina de trabalho, identificando os recursos existentes
no território, e, para a interpretação dos dados do caso escolhido, utilizamos
bibliografia voltada aos homens e mulheres autores de violência sexual contra
crianças e adolescentes.
A priori, elencamos a trajetória das legislações importantes na defesa das
vítimas, bem como a composição da rede socioassistencial existente para
atendimento a todas as pessoas envolvidas. Posteriormente, dividimos os
componentes em dois subgrupos, de forma que o primeiro analisou o caso escolhido
sob a perspectiva da prática profissional da Psicologia e, o segundo, sob o ponto de
vista do Serviço Social.
A fim de interpretarmos a realidade do caso pesquisado e discutido,
estabelecemos relação entre o que a bibliografia aponta, fazendo entrecruzamentos
com a situação apresentada. Deparamo-nos com a hipótese levantada incialmente
que aduz à escassez de locais adequados para realização de acompanhamento às
autoras e autores de violência, bem como às vítimas e aos familiares envolvidos.
Concluímos, por conseguinte, que a violência sexual contra crianças e
adolescentes é majoritariamente praticada por homens em relação às mulheres, em
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e respeito nas relações, além de oferecer apoio às famílias, a fim de que percebam
e repensem suas atitudes em relação aos cuidados e educação de seus filhos.
Realizam atendimento aos autores de violência sexual contra crianças e
adolescentes numa perspectiva psicossocial. Há anos realizaram psicoterapia, mas
no momento não ocorre. Os responsáveis esclareceram que acolhem todos os
envolvidos e que os agressores são atendidos semanalmente ou quinzenalmente,
de acordo com a necessidade e com o contrato estabelecido entre as partes.
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Fernando Pessoa
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[...] Não é a família que dá origem aos processos de violência, o que muitas
vezes é expresso por ditados populares no nível do senso comum, do tipo:
“aprendeu em casa”, denotando uma retomada do valor conservador
familiar. Essa lógica é inversa. A família é que expressa a centralidade que
a violência, entendida como a redução do sujeito a uma condição de objeto,
possui na realidade do modo de produção capitalista. Trata-se de um ciclo
contraditório, que atua no cotidiano, com o imediatismo que este propõe.
(MELATTI, 2011, p. 53).
28
Fala expositiva proferida em um dos encontros do nosso Grupo de Estudos no ano de 2016.
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que não foi identificado foi o autor da prática abusiva, uma vez que os autos foram
arquivados.
Com essas informações primárias, são oportunas as palavras de Melatti ao
justificar o motivo porque considera a violência um fenômeno multicausal:
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dois anos, que não possui garantido o direito a uma creche. A mulher adulta da
família possui nível de escolaridade baixíssimo, conseguiu estudar até o 4º ano do
Ensino Fundamental; o genitor possui Ensino Médio, recentemente concluído na
modalidade à distância.
Os relatos dos adultos nas entrevistas identificaram que devido à necessidade
de sobrevivência, iniciaram já fase da adolescência o trabalho na roça (local em que
se conheceram e casaram-se com autorização judicial), não tendo acesso ao
conhecimento no espaço da escola.
Compreendemos que a inserção precoce na vida laboral favorece a evasão
escolar, contribuindo para a permanência de um ciclo empobrecedor da classe
trabalhadora.
Por outro lado, a inserção no mercado de trabalho formal de pessoas com
baixa escolaridade precariza ainda mais o vínculo empregatício com baixíssima
renda, com extensa jornada de trabalho, sem acesso ao direito previdenciário, com
condições precárias do espaço de trabalho, entre outros. É o caso dos genitores da
adolescente; a mãe é empregada doméstica, trabalha das 10h às 19h, de segunda a
sábado, possui vínculo empregatício, mas sem arrecadação previdenciária, sendo
que sua renda mensal é de pouco mais que um salário-mínimo.
O genitor da adolescente é trabalhador desempregado. Sobrevive dos
chamados “bicos” como segurança, eletricista, pintor e encanador. Em relação à
renda, em média, recebe em torno de um a dois salários-mínimos, pois depende da
quantidade de dias trabalhados na semana. Na data da entrevista, encontrava-se
desempregado e recebia o seguro-desemprego. No último trabalho, permaneceu por
um ano, tendo saído da portaria do prédio no qual trabalhava por discussão com um
dos moradores, somada à agressão física e verbal. Afirmou que, ao ser chamado de
nordestino, desferiu um soco no rosto do morador. Foi realizado Boletim de
Ocorrência, mas o caso teve desdobramentos.
Analisar a situação de vida da classe-que-vive-do-trabalho (ANTUNES, 2007),
no caso particular dos genitores da adolescente, é reconhecer a centralidade que o
trabalho possui na vida dos sujeitos sociais e os impactos da inserção (ou não) no
mercado formal de trabalho.
Neste sentido, o trabalho é uma categoria ontológica e dá-se pelo fato de ser
a primeira forma de atividade humana, presente em todas as sociedades. O trabalho
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Antes de voltarmos nosso olhar sobre esse suposto autor de violência sexual,
parece-nos necessário relembrarmos um aspecto peculiar acerca do fenômeno do
abuso sexual contra crianças e adolescentes.
Sempre que qualquer ouvinte se depara com uma revelação de abuso é
comum o pensamento, mais cedo ou mais tarde: “será que isso é mesmo verdade?”
“Será que não é imaginação?” E caso não consiga se decidir entre uma hipótese ou
outra, é comum a proposição por um meio termo, dando origem a outra questão:
“Será que isso não é uma mistura de imaginação e realidade?” Nesse último caso,
ainda outro raciocínio surge: “se houve alguma coisa, será que não estamos
exagerando?”
Todas essas perguntas e suas possíveis explicações perpassam as mentes
de todos os envolvidos numa revelação de abuso sexual e o tempo todo que durar o
desvelamento dessa revelação inicial.
Isso porque, como nos ensinou a literatura científica sobre o assunto, o autor
de violência sexual cria para si próprio e para a criança ou adolescente um ritual,
que se inicia na realidade, com algo aparentemente inocente, caminha para o abuso
em si. Este, de traumático, do ponto de vista da vítima, e de perverso, do ponto de
vista do vitimizador, cria a dúvida (“eu não consigo acreditar que isso está
acontecendo!”) e tem um desfecho novamente na realidade, com algo também
aparentemente inocente. Todo esse ritual, que é o momento do abuso, fica num
momento, espaço e sensações que não se sabe se é real ou imaginário.
No caso analisado, quem nomeia a realidade do abuso é a policial militar no
momento em que olha para a cena do quase flagrante e diz: “Esse cara é safado,
estuprando a filha dentro do carro!”
Conforme nos ensina Furniss:
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deveria levar à aceitação da castração (ou a sua possibilidade) como fato psíquico,
estabelecendo os papéis de gênero. No entanto, a evolução da clínica e dos
costumes levou alguns psicanalistas a aprimorarem este modelo.
Para Betts, Weinmann e Palombini:
não se trata apenas de um ‘não te deitarás com tua mãe’ dirigido à criança,
mas da mensagem endereçada à mãe: ‘não reintegrarás teu produto’. O pai
é aqui suporte da lei, porém mediado pela mãe, a qual o instaura nesse
lugar de quem lhe faz lei. (BETTS; WEINMANN; PALOMBINI, 2014, p. 224).
Cabe apontar como uma das características de interação familiar, nos lares
onde ocorre o fenômeno da violência intrafamiliar, a existência de uma
disfunção, evidenciando a desigualdade de gênero e geração. Essa
desigualdade nada mais é do que a assimetria de poder – a submissão do
mais fraco pelo mais forte [...] a violência intrafamiliar determina um padrão
de relacionamento abusivo entre pai, mãe e filho, que leva ao desencontro,
à estereotipia e à rigidez no desempenho dos papéis familiares. (SOUZA E
SILVA, 2002, p. 75).
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CONCLUSÃO
Salientamos que nossa visão não exclui o fato de que os abusadores sexuais
devam ser julgados perante a Lei, pela violação de direitos cometidos. Contudo,
refletimos que o cumprimento da Lei, do ponto de vista criminal, não é suficiente
para que abusos sexuais intrafamiliares sejam extintos. Apontamos que a
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partir dos múltiplos fatores e sujeitos que a envolvem. Os serviços que atendem os
homens que figuram nos processos como abusadores são primordiais para o
enfrentamento da violência sexual. Nessa perspectiva, desconsiderar o sujeito que
agride sexualmente, não contribuirá, de maneira alguma, para o processo em sua
totalidade.
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ANEXOS
Fernando Pessoa
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REFERÊNCIAS
PINHEIRO, Liércio. Violência Velada nas classes média e alta. In: GOMES,
Lucinthya. O Povo, 2009. Disponível em:
<http://www.safernet.org.br/site/noticias/viol%C3%AAncia-velada-nas-classes-
m%C3%A9di>. Acesso em: 9 dez. 2016.
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SÃO PAULO. PODER JUDICIÁRIO. Breve olhar sobre o autor de violência sexual
contra crianças e adolescentes. In: Caderno dos Grupos de Estudos Serviço Social e
Psicologia Judiciários. Número 12. Tribunal de Justiça de São Paulo. Secretaria de
planejamento de Recursos Humanos - SPRH. São Paulo, 2015.
SATTLER, Marli Kath. O abusador: o que sabemos. In: AZAMBUJA, Maria Regina
Fay; FERREIRA, Maria Helena Mariante. Violência sexual contra crianças e
adolescentes. Porto Alegre: Artmed, 2011. p. 234-247.
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COORDENADORA
AUTORAS
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AGRADECIMENTOS
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INTRODUÇÃO
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Manual de procedimentos técnicos
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Até aquele momento o trabalho dos assistentes sociais e dos psicólogos era baseado no Código de Menor de
1979 e no Provimento n.º 116 do Conselho Superior de Magistratura.
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em 1967 e 1979. A partir daí, os próximos concursos realizados nos anos de 1985,
1990 e 2005 marcaram também o ingresso de profissionais da psicologia nos
Setores Técnicos do judiciário paulista.
No que tange às atribuições profissionais, ainda conforme o Manual de
Procedimentos Técnicos (2007),
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[...] revelam um Judiciário que ora se coloca no lugar do Poder Público, para
fazer arremedo de acompanhamento de famílias, ora se põe como
intermediário de acesso a atendimentos que deveriam ser garantidos
universalmente à população e, se não o forem, deveriam ser objeto de
ações civis publicas a serem ajuizadas pelo Ministério Público ou pela
Defensoria Pública.
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AS atribuições estão disponíveis. No site:
http://www.tjsp.jus.br/Corregedoria/Corregedoria/NucleoApoioProfissionalServicoSocialPsicologia
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Varas de Família e Cíveis, sendo que nos últimos anos esta demanda vem
aumentando consideravelmente, em virtude das mudanças legislativas
propostas pelo Código de Processo Civil, Lei do Idoso, entre outras, o que
vem requerendo do profissional um repensar do seu papel, logo que nas
áreas da Família e Cível nossa atuação se dá nos termos do código civil,
enquanto peritos somente. Nos processos da Infância e Juventude, a partir
das mudanças trazidas pela Lei 12.010/2009, assim como da lei 12.574/2012,
houve também um redirecionamento da demanda, sendo que atualmente as
maiores demandas desta área são os acolhimentos institucionais, apuração
de ato infracional e cadastro de pretendentes a adoção. Nos últimos tempos
fomos recorrentemente chamados a realizar Estudo Social em processos de
vaga em creche, o que indica um processo de judicialização dos direitos
sociais, frente à minimização destes. Araçatuba é considerado um município
de grande porte e conta com uma rede de serviços na área da educação e
assistência social relativamente organizada, sendo que a maior demanda na
política de educação é por creche, sendo esta insuficiente para o atendimento
da demanda, e na área da assistência social, projetos em contra turno escolar
para atendimento de crianças e adolescente em situação de vulnerabilidade;
no que se refere à rede de serviços da saúde, o município conta com CAPS
AD e atendimento na área da saúde mental, sendo que se sente a ausência
do CAPS I, que está em fase de implantação. No que se refere à articulação
com a rede, a equipe do Judiciário compõe quatro grupos de discussão e
ação juntamente com outros atores da rede:
o Núcleo de Estudos em Medidas Socioeducativas, criado a partir do
Plano Municipal de Medidas Socioeducativas em meio aberto;
o Grupo Olhar em rede, criado para pensar ações no combate à violência
contra criança e adolescente;
o Grupo de trabalho para o reordenamento das instituições de
acolhimento;
o Reuniões mensais para discussão de situações de risco envolvendo
crianças e adolescentes em acolhimento institucional e/ou em vias de
acolhimento.
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CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
SÃO PAULO. Comunicado n.º 345 de 26 de maio de 2004. São Paulo: Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo. 2004. Disponível em
http://www.tjsp.jus.br/Corregedoria/Corregedoria/NucleoApoioProfissionalServicoSoc
ialPsicologia. Consulta em out. 2016.
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COORDENADORAS
AUTORAS
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INTRODUÇÃO
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1.1 A crise do capital nas últimas décadas e seus reflexos na pessoa- que-
trabalha
Para Alves (2016), isso fica claro se observarmos os ataques aos direitos dos
trabalhadores ocorridos nos últimos anos. É o caso da chamada PEC da
Terceirização, que segundo esse, é a mais terrível forma de degradação do trabalho:
“Terceirização ampla, geral e irrestrita é a antessala da barbárie social amplificada e
intensificada no Brasil do século XXI”, analisa.
O desemprego é a forma mais terrível de degradação do mercado de
trabalho, principalmente no Brasil, onde não existe historicamente uma rede de
proteção social eficaz contra os efeitos danosos do desemprego. O desemprego
torna as pessoas desamparadas, à mercê da irracionalidade social que prolifera nas
metrópoles. Aqui podemos pensar na violência urbana vitimando contingentes cada
vez maiores, o uso disseminado de drogas e as variadas formas de destruição.
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Somente cerca de um ano depois, com um novo decreto, tal Juízo muda esta
composição inicial e na nova equipe a figura do médico é abolida, emergindo os
primeiros contatos do serviço social como profissão, diretamente relacionado ao
Serviço Social de Assistência e Proteção aos Menores, setor que compreendia o
abrigo de menores e demais estabelecimentos de proteção e reforma, direcionados
à criança e ao adolescente.
Logo, observamos que a motivação para a inserção do assistente social junto
ao Poder Judiciário tem como pano de fundo as questão da criança e do
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Esse serviço visava à assistência ao menor com até 14 anos de idade, “proveniente de família
pobre, colocando-o de forma provisória e remunerada em um lar substituto, até que a família de
origem se reajustasse ao que se consideravam condições normais de vida”. (FÁVERO, 1999, p. 72).
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Sobre esta nova forma de atuação, é sabida que desde a entrada do Serviço
Social no Judiciário, em 1949, assistentes sociais eram requisitados por alguns
juízes das Varas de Família para elaborar estudos sociais de casos, contudo foi
apenas por volta de 1978, 1979 que se discutiu a formalização e a ampliação desse
trabalho.
Assim, formula-se a ideia de que o assistente social pode se tornar um perito
social com características especiais, ou seja, um perito que visa à intervenção e não
apenas aprecia a situação. Utilizando uma terminologia própria do judiciário, pois a
atuação do perito está prevista no Código Civil.
Com este intuito, ainda em 1979, o Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo abriu concurso público para o provimento de cargos de assistentes sociais nas
Varas de Famílias e Sucessões do centro e mais doze Varas Distritais.
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Art. 149. São auxiliares da Justiça, além de outros cujas atribuições sejam
determinadas pelas normas de organização judiciária, o escrivão, o chefe
de secretaria, o oficial de justiça, o perito, o depositário, o administrador, o
intérprete, o tradutor, o mediador, o conciliador judicial, o partidor, o
distribuidor, o contabilista e o regulador de avarias.
Art. 156. O juiz será assistido por perito quando a prova do fato depender de
conhecimento técnico ou científico. (Código de Processo Civil, Lei
13105/2015).
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o
Art.. 466 § 2 - O perito deve assegurar aos assistentes das partes o acesso
e o acompanhamento das diligências e dos exames que realizar, com prévia
comunicação, comprovada nos autos, com antecedência mínima de 5
(cinco) dias. (O perito técnico deve permitir que o Assistente Técnico possa
acompanhar todos os procedimentos). (Código de Processo Civil, Lei
13105/2015).
Como tanto os peritos quanto os assistentes técnicos são regidos por normas
ético-profissionais é imprescindível que se construa uma relação de dialogo e
entendimento, pois quem irá decidir sobre a lide é o magistrado.
Outra tendência atual trata-se da conciliação / mediação:
Art. 694. Nas ações de família, todos os esforços serão empreendidos para
a solução consensual da controvérsia, devendo o juiz dispor do auxílio de
profissionais de outras áreas de conhecimento para a mediação e
conciliação.
Parágrafo único. A requerimento das partes, o juiz pode determinar a
suspensão do processo enquanto os litigantes se submetem a mediação
extrajudicial ou a atendimento multidisciplinar.
Art. 695. Recebida a petição inicial e, se for o caso, tomadas as
providências referentes à tutela provisória, o juiz ordenará a citação do réu
para comparecer à audiência de mediação e conciliação, observado o
disposto no art. 694.
Art. 696. A audiência de mediação e conciliação poderá dividir-se em tantas
sessões quantas sejam necessárias para viabilizar a solução consensual,
sem prejuízo de providências jurisdicionais para evitar o perecimento do
direito.
Art. 699. Quando o processo envolver discussão sobre fato relacionado a
abuso ou a alienação parental, o juiz, ao tomar o depoimento do incapaz,
deverá estar acompanhado por especialista. (Código de Processo Civil, Lei
13105/2015).
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Social, basicamente apoio a questões familiares, tendo como objetivo principal sua
reestruturação e manutenção da criança no lar”. (CESCA, 2004, p.41).
Acerca disto, versa Brito:
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- leis federais ECA, CPC, CC, LOAS, bem como Normas, Provimentos e
Portarias específicas da instituição.
Em 2010 o Conselho Federal de Psicologia lançou três Resoluções que
versam sobre o trabalho nesta área, sendo elas: Resoluções nº 008/2010, que
dispõe sobre a atuação do psicólogo como perito e assistente técnico no Poder
Judiciário e Resolução nº 010/2010, que institui a regulamentação da Escuta
Psicológica de Crianças e Adolescentes envolvidos em situação de violência, na
Rede de Proteção, esta última suspensa desde 2012, em virtude de ações ajuizadas
pelo Ministério Público Federal e Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, em
desfavor da regulamentação em debate.
A ocupação do lugar de psicólogo no TJSP ocorreu então como a criação de
um campo de trabalho, delineando-se até ser definido como a construção de um
estudo psicossocial, que apresenta uma conotação mais compreensiva e
discursiva do que a conotação contida em perícia de ordem do psicológico ou
do psicopatológico, ou seja, há um reconhecimento de que as questões a
serem mediadas no judiciário possuem uma dimensão da ordem social,
ampliando muito a compreensão da configuração dos conflitos e trazendo uma
possibilidade de que o trabalho do psicólogo tenha também, uma dimensão
interventiva.
Na capital as equipes foram organizadas, como especializadas nas Varas de
Família, Varas da infância, Varas Especiais e Setor Psicossocial, enquanto no
interior, a organização das equipes (sede circunscrição) ou “euquipes” (comarcas e
varas distritais) ocorreu de forma a atender toda a demanda das varas e anexos da
Infância e Juventude, bem como, cumulando atendimento nas varas cíveis em
matérias de Família e Sucessões.
Ainda nos dias de hoje, a quantidade de Psicólogos está em numero bem
reduzido aquém do necessário para lidar com as diversas solicitações do Sistema
Judiciário, que dia a dia vem apresentando uma crescente demanda, extremamente
dinâmica quanto às vicissitudes das relações e conflitos humanos que buscam a
intervenção jurídica. Como bem observa Lago et al (2009, p.486) “a avaliação
psicológica ainda é a principal demanda dos operadores do Direito. Porém, outras
atividades de intervenção como acompanhamento e orientação, são igualmente
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segredos, mitos que podem estar relacionados de alguma forma com a temática
enfrentada;
- devolutiva.
O relatório/laudo deve apresentar os procedimentos e as conclusões geradas
pelo processo de avaliação – encaminhamentos, intervenções, sugestões, limitando-
se a fornecer informações necessárias relacionadas à demanda, solicitação e
petição.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Código Civil. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. 1ª edição. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2002.
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COSTA, Mila Batista Leite Corrêa. As relações de Trabalho, a máquina e o fato labor
relations, The machine and the fact. Rev. Tribunal Regional do Trabalho. 3ª Reg.,
Belo Horizonte, v.51, n.81, p.91-105, jan./jun.2010 Disponível em:
http://www.trt3.jus.br/escola/download/revista/rev_81/mila_batista_leite.pdf acesso
21/10/16.
MARTINS, Cristina Lempek. O papel dos Assistentes Sociais nas Varas de Família:
Aspectos Conceituais, Metodológicos e Técnicos. 2008. 72f. Trabalho de Conclusão
de Curso (Graduação em Serviço Social) – Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2008.
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COORDENADORAS
AUTORES
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus;
Que nos concedeu vida, saúde e perseverança para completar mais esta jornada.
Que iniciaram conosco o Grupo de Estudos e por motivo de força maior, não
puderam concluir, mas gentilmente se dispuseram a contribuir com algumas
palavras de homenagem para nosso saudoso colega Maurício.
Muito obrigado!
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[...] pelo contrário, que a Justiça, por sua equipe e pelos operadores do
direito (Juiz(a), Promotor(a) de Justiça e Defensor(a) Público(a)), avaliem se
efetivamente os direitos individuais e sociais das crianças, adolescentes e
suas famílias estão sendo garantidos e se os programas, tanto de
acolhimento, como municipais, apresentam índices de sucesso na
reintegração familiar (TJSP-CIJ, 27/05/2010, p. 06, grifo nosso).
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O poder parental faz parte do estado das pessoas e por isso não pode ser
alienado, nem renunciado, delegado ou substabelecido. Qualquer convenção, em
que o pai ou mãe abdiquem desse poder, será nula, somente podendo perdê-lo na
forma e nos casos expressos em lei. São eles: artigo 226, § 7° da Constituição
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Federal; artigos 1631, 1635, 1637 e 1638 do Código Civil; artigos 7º, 22, 24, 162,
163 da Lei nº 8.069/90.
Ainda que a medida acima rompa vínculos familiares e afetivos das partes, ou
apenas de uma delas, também oportuniza que a criança ou adolescente encontre
nova família e tenha seus direitos garantidos com base no princípio do melhor
interesse da criança.
Iniciado o processo judicial para destituição do poder familiar dos pais, com
base nos relatórios apresentados pelos atores da Rede de Proteção, a equipe
multiprofissional da Vara da Infância e da Juventude atua assessorando o
magistrado no conhecimento dos aspectos socioeconômicos, culturais,
interpessoais, familiares, institucionais e comunitários atinentes ao caso.
Durante a maior parte da história humana, não se esperava que uma criança
fosse criada sem interrupções por sua mãe biológica. Na versão atual de
moralidade, a condenação do abandono materno se remete a noção naturalizada de
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Nessa perspectiva, Mendes (2006) diz que se procura saber sobre eles
enquanto pessoas, particularmente no que se refere às suas capacidades de
estabelecer relações afetivas com os outros. Há três situações que contribuem para
a avaliação dessa questão: a forma como eles falam de outras pessoas, a maneira
como tratam um ao outro e a forma como tratam o profissional.
Sugere-se que o trabalho seja realizado desde o início pelas duas áreas
(Serviço Social e Psicologia) e entende-se como fundamental que seja finalizado por
meio de entrevista devolutiva, que pode ser agendada independentemente da
sentença judicial.
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Foi também realizada pesquisa sobre outros grupos de apoio a adoção e suas
experiências, tendo sido contatado o grupo de adoção existente no município de
Curitiba-PR, que realiza reuniões mensais, inclusive com apoio pós-adoção, pois foi
identificado pela coordenação que tal suporte é de grande relevância e minimiza as
devoluções.
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RESOLVE:
Art. 1º Recomendar aos juízes com jurisdição na infância e juventude que
ao conceder a guarda provisória, em se tratando de criança com idade
menor ou igual a 3 anos, seja ela concedida somente a pessoas ou casais
previamente habilitados nos cadastros a que se refere o art. 50 do ECA, em
consulta a ser feita pela ordem cronológica da data de habilitação na
seguinte ordem: primeiro os da comarca; esgotados eles, os do Estado e,
em não havendo, os do Cadastro Nacional de Adoção.
O ato de adotar não é apenas uma caridade, trata-se de algo muito mais
complexo. Fala-se da aceitação e da inclusão de uma nova pessoa no seio familiar,
envolvendo relações de parentesco e sucessões. É oferecer afeto, amor, educação,
reconhecendo a criança como se fosse um filho consanguíneo.
386
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ESCOLA JUDICIAL DOS SERVIDORES - EJUS
nova família. Neste momento observa-se a formação dos laços afetivos, as trocas de
experiências sociais e culturais, onde ocorre o intercâmbio de vivências e muitas
vezes o surgimento de sintomas que retratam a época do abrigamento ou os
traumas adquiridos na família de origem.
387
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ESCOLA JUDICIAL DOS SERVIDORES - EJUS
O que leva alguns pais adotivos a desistirem de seus filhos por meio da
devolução? Quais são as possíveis vivências e consequências para as crianças e
adolescentes que passam por tal experiência? O que podemos pensar e fazer como
profissionais envolvidos nesses casos?
390
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
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pode deixar exposto para os adotantes a presença de outra família, e portanto, outra
origem.
Outro aspecto ressaltado por Ghirardi (2015) das vivências dos adotantes diz
respeito ao sentimento de perda, reavivando experiências anteriores ligadas a
possíveis lutos não concluídos: do filho biológico, infertilidade. A adoção põe em
relevo a necessidade da assimilação de uma história pregressa que vem junto com a
criança, pois dela faz parte. E implica para os adotantes deparar com o diferente,
com a alteridade e assim a necessidade de ser feito o luto das perdas.
Outro fator a ser levado em consideração apontado por Ghirardi (2015) são
as expectativas elevadas sobre a criança e, se há um desvio em relação ao ideal,
ela passa a ser vista como inadequada. Há uma quebra dos ideais pretendidos
quando a criança por meio de seu comportamento não corresponde às expectativas
parentais e isso também pode contribuir para a ocorrência de uma devolução.
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Franco (2016) aponta que uma vez que as habilitações e avaliações dos
pretendentes são feitas em ocasiões anteriores ao contato com a realidade,
encontra-se a necessidade de uma reformulação nos mecanismos de
acompanhamento e nas orientações para os mesmos, bem como disponibilizar um
número maior de vagas para os profissionais envolvidos, capacitando-os por meio
de cursos de atualização permanente, visando a identificação de pontos relevantes
que indiquem o real preparo dos interessados na adoção.
392
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ESCOLA JUDICIAL DOS SERVIDORES - EJUS
393
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ESCOLA JUDICIAL DOS SERVIDORES - EJUS
CONCLUSÃO
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ESCOLA JUDICIAL DOS SERVIDORES - EJUS
REFERÊNCIAS
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ESCOLA JUDICIAL DOS SERVIDORES - EJUS
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397
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“FAMÍLIA”
2016
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COORDENADORAS
AUTORAS
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INTRODUÇÃO
Nas normativas legais dos últimos anos o afeto surgiu como valor jurídico,
desta forma o desejo do individuo pode ser apresentado pelo profissional, em seu
laudo, como fator importante a ser considerado.
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
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A este pai/mãe cabe também estar aberto a uma nova concepção de família,
distinguindo conjugalidade da parentalidade afetiva e solidária.
403
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
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A dissolução de uma união com filhos gera, por vezes, mudanças profundas e
imprime a necessidade de reestruturar e reajustar papéis. O reorganizar das
relações privilegia a preservação do laço parental, mesmo quando os vínculos
conjugais deixam de existir, a coparentalidade precisa ser preservada. A
possibilidade da guarda compartilhada pode contribuir ou não para o resgate das
competências dos pais e priorizar o interesse dos filhos, de modo que se respeite
suas demandas, rotinas e referências.
É notório que a guarda compartilhada atende tanto aos filhos que necessitam
conviver com pai e mãe, quanto a um número expressivo de homens que se sentem
realizados com as funções parentais e não querem mais ser somente provedores e
“pais de fim de semana”. Atende igualmente aos filhos de pais (biológicos ou
adotivos) em relacionamento homoafetivo. Assim como a mãe, uma vez que pode se
sentir sozinha e sobrecarregada sem ter com quem compartilhar as demandas dos
filhos.
conjugal, mas consegue manter o laço parental, por meio de uma comunicação mais
limpa, sem ruídos e conflitos. Esses autores acreditam ainda que para o bom
funcionamento deste tipo de guarda, os genitores precisam ter maturidade, manter o
foco no melhor interesse dos filhos, além de respeitar e colaborar com o ex-cônjuge
na realização das funções parentais.
405
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Vantagens:
Favorece a continuidade das relações entre pais e filhos mesmo com o fim
do casamento dos genitores;
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Evita que os filhos sejam estimulados a decidir com qual genitor desejam
ficar, situação que causa aflição, angústia e desgaste emocional pelo medo de
magoar um dos pais - priorizar os interesses e necessidades dos filhos não
significa delegar a eles a tarefa de decidir com quem desejam morar.
Ponderações:
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Pais que buscam a guarda compartilhada para evitar a mudança dos filhos
para outros estados e até mesmo para o exterior e não com o objetivo de
compartilhar responsabilidades e ter maior participação no cotidiano de sua prole;
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Os genitores terão, dali em diante, que construir uma nova identidade, mudar
sua organização diária e padrão econômico, muitas vezes, tornando-se novamente
dependentes dos pais. Para muitos, é acrescido a culpa pela decepção causada
diante das expectativas da família de origem, o sentimento de solidão e raiva, a
insegurança diante do novo.
As necessidades infantis são variáveis de acordo com sua faixa etária e sua
história e personalidade individuais. Afeto e segurança são, certamente,
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[...] por volta dos seis meses, a idade dos primeiros dentes, seis a dez
meses, a idade do desmame, quinze a dezoito meses, a idade da
locomoção, três a quatro anos de idade, a fase dos primeiros contatos
sociais, sete a oito anos, a chamada idade da razão, que corresponde aos
juízos morais pessoais referentes às intenções dos atos- independente de
seus efeitos- e a idade de discriminação nítida entre sonho (estará um dia,
completa esta discriminação?), enfim, doze, treze anos, a idade da
formação púbere [...] a criança não nasce boa, nem má, aliás. Ela nasce
com necessidades de viver nos diversos planos: os instintos, a afetividade,
o psiquismo, e com uma aspiração de todo seu ser para o absoluto.
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Além disto, a sentença judicial pode sinalizar, mas não garante a quebra da
resistência da criança, ou dos genitores, ao restabelecimento da convivência. A
desconstrução da alienação parental é um grande desafio para o profissional, pois
extrapola o enquadre da atuação do perito, que se vê às voltas com visitas
assistidas, quando os recursos judiciários falham.
412
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Há ainda, participações nos relatos que a criança cria por si mesma, não é
necessariamente, um discurso implantado pelo alienador.
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REFERÊNCIAS
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ESCOLA JUDICIAL DOS SERVIDORES - EJUS
MURARO, Rose Marie, BOFF, Leonardo. In: Feminino e Masculino. 5 ed. Sextante.
2002.
ROSA, Conrado Paulino da. Nova Lei da Guarda Compartilhada. São Paulo:
Saraiva, 2015.
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COORDENADORAS
AUTORAS
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INTRODUÇÃO
1. JUDICIALIZAÇÃO
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Judicialização da vida, da questão social, da pobreza, da saúde, da educação, do ativismo judicial,
dos conflitos, da política, das relações familiares.
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É sabido que não compete ao Judiciário instituir lei, porém, uma vez não
garantido ao cidadão a efetividade dos seus direitos básicos para desenvolvimento
de sua vida, o Poder Judiciário tem o dever de apreciar as questões levadas a ele
mediante a imposição de guarda da Constituição Federal.
Segundo o jurista Luís Roberto Barroso (2008), no artigo Ano do STF:
Judicialização, Ativismo Judicial e Legitimidade Democrática:
421
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campo político, na esfera do trabalho, entre outros fenômenos, irradiam seus efeitos
em todas as dimensões da vida humana, sejam elas físicas, psíquicas ou sociais.
Assim, as relações entre os indivíduos também vão sendo transformadas,
inevitavelmente eclodindo nas dinâmicas familiares, alterando suas formas de
convivência, organização, conforme o contexto em que estejam inseridas.
A exigência do trabalho externo feminino, a dissociação de papéis
(historicamente definidos), são alguns exemplos de acontecimentos que trouxeram
também novos valores, um processo de individualização do sujeito, busca pela
igualdade dos sexos, etc.
422
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Os litígios de família têm sido cada vez mais levados à apreciação judicial, e
na verdade, percebe-se que esse aumento progressivo nas Varas de Família é
intrínseco à ideia da busca pela garantia de direitos, amplamente difundida na
sociedade atual.
423
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com mais leveza pelo ambiente doméstico, auxiliando a mulher nos cuidados com os
filhos e na execução das tarefas domésticas. Já a mulher, depara-se com as
diversas jornadas de trabalho, entretanto, com maior autonomia para circular por
outras esferas que não seja a privada, na qual por muito tempo ficou aprisionada
socialmente.
Nesta perspectiva, homens e mulheres não têm um lugar definido e ambos
podem circular por todos os espaços possíveis, cabendo-lhe neles, na medida em
que a sociabilidade humana se abriu para novos paradigmas, ousando romper as
muralhas do moralmente correto e das convenções sociais ditadas pela ordem
burguesa.
Vale ressaltar que há, ainda, um longo caminho a percorrer, principalmente na
questão da liberdade de gênero. Pois embora sejam inegáveis os avanços
conquistados, a partir dos movimentos sociais de luta e da organização política, as
relações enfrentam os resquícios desiguais decorrentes do conservadorismo e da
cultura do machismo que insistem em atravessar o direito à igualdade entre as
pessoas.
No contexto brasileiro, as novas formas de organização familiar são oriundas
das modificações contínuas na realidade e transcorrem territórios e limitações, neste
sentido Kowalski (2007, p.21) complementa com a ideia de que:
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público, sendo resolvidas na esfera da vida privada e que nos dias atuais tem sido
cada vez mais publicizadas e regulamentadas.
As demandas de Família são variadas, de diversas naturezas, contudo, o
presente artigo voltará sua atenção para a guarda de filhos e aos aspectos a ela
inerentes.
A escolha pela guarda não foi aleatória, pelo contrário, resultou de uma
pesquisa quantitativa realizada junto às comarcas, conforme citado anteriormente.
No contexto das relações familiares contemporâneas a rapidez com que as
uniões conjugais se iniciam é a mesma de quando chegam ao fim. Segundo dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE (2014, p.50), o número de
divórcios no Brasil cresce a cada ano, indicando a efemeridade das relações.
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CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
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COORDENADORAS
AUTORES
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INTRODUÇÃO
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Projeto de Lei (PLS 470/2013) que institui o Estatuto das Famílias. Constam do projeto não apenas
as regras de direito material, mas também processual, para proporcionar às famílias brasileiras maior
agilidade nas demandas jurídicas, indispensável quando se trata de direitos relacionados tão
diretamente à vida das pessoas. O projeto contempla a proteção de todas as estruturas familiares
presentes na sociedade moderna.
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contextos, caminhar para o confronto que traz a perspectiva de anular outra pessoa
ou situação.
Importante pontuar que as famílias e suas redes de apoio, inseridas e
também sujeitos atuantes da e na sociedade, não estão isentas de contextos
contraditórios, de ações imediatistas, de frágeis políticas públicas, de ausência do
Estado. Muitos conflitos vividos pelas famílias têm como pano de fundo estes
contextos adversos, que geram formas de vulnerabilidade, por que não dizer de
exclusão social. São aspectos e questões que podem desencadear processos de
rupturas de vínculos, situações de risco e também de conflito.
E quando falamos em afeto perpassando as relações conjugais, temos que
também pontuar que os vínculos se alteram, podem se desfazer diante do seu
enfraquecimento e com isso gerar crises, rompimentos e dentre muitas outras
possibilidades a separação dos casais, fato até há algum tempo não comum em
nossa sociedade.
O conhecimento das mudanças na estrutura e dinâmica familiares, nos
últimos séculos, as antigas e novas formas de organização familiar nos tempos
atuais, nos amplia o horizonte para compreendermos, de maneira contextualizada,
as diversas formas como os conflitos se apresentam.
Em nosso cotidiano profissional, os conflitos familiares, em geral decorrentes
do fim da vida conjugal dos genitores, são questões presentes nas mais diversas
ações que chegam ao Poder Judiciário, principalmente nas Varas de Família,
quando da disputa da guarda dos filhos, situações estas em que os profissionais de
Serviço Social e Psicologia são chamados a atuar.
Não raro nos deparamos com famílias vivenciando um padrão de conflito
extremo, onde não há cooperação, as brigas, as ofensas e ameaças são constantes,
de modo que o exercício da parentalidade se mostra prejudicado.
A separação conjugal representa um momento de crise e de intensas
mudanças. Novos momentos se dão marcados pela incerteza e pelo desconhecido
afetando significativamente todos os envolvidos. Novas dinâmicas e organização
familiar ocorrem e, muitas vezes os filhos advindos da relação conjugal, passam a
ser disputa entre os genitores e a decisão com quem os filhos devem permanecer,
ou melhor, quem deve assumir sua guarda é delegada a um terceiro – a justiça.
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2. GUARDA COMPARTILHADA
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Contudo, este novo instituto gerou grandes debates e em algumas vezes foi
confundido com guarda alternada, a qual não consta em nosso ordenamento
jurídico, pois se falava em divisão igualitária de tempo na casa de cada um dos
genitores.
A Lei nº 13.058/2014, dentre outros aspectos, buscou dirimir as análises e
leituras equivocadas quanto a Guarda Compartilhada, e de maneira especial a
repercussão se deu também com alterações na redação do artigo 1.584 parágrafo 2º
do Código Civil Brasileiro que passou a estabelecer que: “mesmo quando não
houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho, encontrando-se ambos
os genitores aptos a exercer o poder familiar, será instituído a guarda
compartilhada”.
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- qual o lugar das crianças e/ou dos adolescentes na família e como hoje
estão lidando com novas dinâmicas e arranjos familiares, dentre outros.
Talvez estes aspectos nos forneçam pistas para a construção conjunta com
as famílias de novos encaminhamentos quanto à convivência familiar, ou seja no
compartilhamento da guarda e ao mesmo tempo possa nos oportunizar a conhecer e
avaliar melhor as incidências do que hoje vem se denominando alienação parental.
3. ALIENAÇÃO PARENTAL
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“Richard Gardner, professor de psiquiatria infantil da Universidade de Columbia(EUA), falecido em
2003, tornou-se conhecido ao cunhar, em meados dos anos 80, uma síndrome que ocorreria
especialmente em crianças expostas a disputas judiciais entre seus pais. Como informa Rand (1997),
ao longo dos anos 70, Gardner trabalhou como psiquiatria forense, conduzindo avaliações de
crianças e famílias em situações de divórcio. No início dos anos 80, Gardner teria observado um
aumento do número de crianças que exibiam rejeição e hostilidade exacerbada por um dos pais,
antes querido. Originalmente, para Gardner (1991), isso seria uma manifestação de brainwashing
(lavagem cerebral), termo que, segundo ele, serviria para designar que um genitor, de forma
sistemática e consciente, influenciaria a criança para denegrir o outro responsável (s/p., tradução
nossa). Contudo, logo depois, ele teria concluído que não se trataria de uma lavagem cerebral,
fazendo uso então do termo síndrome da alienação parental (SAP) para designar o fenômeno que
observava”.
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ESCOLA JUDICIAL DOS SERVIDORES - EJUS
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Cadernos dos Grupos de
Estudos: Serviço Social e Psicologia Judiciários. São Paulo, 2014. Disponível em:
<http://www.tjsp.jus.br/ejus/Avas>
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COORDENADORAS
AUTORAS
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MANOEL DE BARROS
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INTRODUÇÃO
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ASOCIACIÓN ESPAÑOLA DE NEUROPSIQUIATRIA, La Junta Directiva, Rev. Vol. 30, nº 107, p. 535-49, España:
Setembro-2001.
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conscientes ou não, por parte do genitor guardião, que podem provocar uma
perturbação na relação entre a criança e o genitor-alvo. O autor se compara e se
diferencia de Gardner em alguns aspectos e deixa claro que sua ênfase inclina-se
sobre os pais. Entre estes aspectos está o de que a Síndrome de Alienação Parental
se refere ao comportamento da criança, por meio de sintomas que ela manifesta,
enquanto a Alienação Parental se concentra no comportamento dos pais, os quais
podem alienar, sem necessariamente, levar à síndrome descrita por Gardner.
Outra diferença apontada por Darnall é a de que, para Gardner, as críticas de
um ex-cônjuge em relação ao outro deveriam ser injustificadas e exageradas,
enquanto que, para ele, não necessariamente estas condições devem estar
presentes, uma vez que um pai ou mãe pode tentar alienar o filho insistindo em
apresentar defeitos ou falhas reais demonstradas pelo outro genitor. Compreender a
dinâmica da Alienação Parental e reconhecer comportamentos que podem provocá-
la se mostra importante para os pais, familiares, advogados, juízes e profissionais da
justiça e da saúde, visando, sobretudo o bem-estar das crianças e adolescentes.
Darnall (1997b) apresentou exemplos de comportamentos dos pais para o
reconhecimento e prevenção do processo de Alienação Parental, entre eles, dar
oportunidade de escolha ao filho quanto a querer visitar o pai ou mãe ou deixar para
que eles decidam por si mesmos; contar em detalhes para a criança sobre o conflito
conjugal e as razões da separação do casal, alegando clareza e sinceridade, mas de
forma a se tornar doloroso para o filho; o fato do pai ou da mãe recusar em
reconhecer que a criança tem propriedade e liberdade para transportar seus
pertences entre as residências dos pais; inflexibilidade quanto aos horários e o
agendamento de atividades para os filhos nas datas das visitas ou mesmo quando
são criadas situações prazerosas para que os filhos não desejem visitar o outro
genitor; quando as visitas ocorrem, o pai ou mãe demonstra mágoa ou tristeza pelo
fato do filho haver ficado contente na companhia do outro genitor, assim as crianças
tendem a entrar em conflito sem saber como agir no retorno das visitas, entre outros.
Segundo o autor (Darnall, 1997c) a Alienação Parental pode variar em grau
de severidade, considerando-se a atitude do guardião, podendo variar de leve, por
exemplo, quando o pai ou mãe, ocasionalmente, se refere ao outro por nomes
pejorativos até um nível grave nas situações em que um ex-cônjuge
conscientemente deseja destruir a relação do filho com o outro genitor. Contudo,
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ESCOLA JUDICIAL DOS SERVIDORES - EJUS
adverte que há fatos reais para o afastamento entre a criança e um dos genitores, é
natural que o pai ou mãe queira proteger o filho do outro e isto não configura
Alienação Parental. Entre os aspectos reais podem estar falhas de relacionamento,
punições exageradas, insensibilidade para as necessidades das crianças, carência
de compreensão quanto ao desenvolvimento infantil, uso de drogas e abusos físicos
e emocionais.
Contudo, para Darnall (1997c) os alienadores podem ser classificados em três
tipos, a saber, os ingênuos, os ativos e os obcecados. Os alienadores ingênuos
seriam aqueles pais que na maior parte do tempo conseguem ser pacíficos no que
diz respeito à relação do filho com o outro genitor, porém ocasionalmente fazem ou
dizem algo para alienar ou reforçar a Alienação Parental. Os alienadores ativos
sabem lidar com a relação entre o ex-cônjuge e o filho do casal sem provocar a
Alienação Parental. Contudo, por vezes, impulsivamente perdem o controle sobre o
que dizem ou fazem em relação aos filhos, movidos pela mágoa e ressentimento ou
em resposta a provocação do ex-cônjuge e intencionalmente atacam o outro
envolvendo os filhos.
Quanto aos alienadores obcecados seriam aqueles que possuem fervorosa
intenção de destruir a imagem do ex-cônjuge para o filho e, se possível, não deixar
vestígios do relacionamento entre ambos. Este tipo de alienador geralmente não
possui autocontrole ou discernimento suficiente para reconhecer que seu
comportamento está prejudicando a criança. Frequentemente um genitor que tenta
alienar a criança pode se apresentar como uma combinação entre os tipos ingênuo
e ativo. O autor advertiu que os tipos não devem ser considerados como
diagnósticos clínicos, uma vez que não foram validados como tal. Também a
distinção entre os tipos de alienadores não devem servir para culpar ou atacar uma
das pessoas do ex-cônjuge de forma a reforçar o litígio. Eles devem ser vistos como
um padrão de comportamento a fim de melhor compreender a Alienação Parental.
Darnall (1998) enfatizou que a única maneira de proteger as crianças de pais
alienadores, sobretudo obcecados, é a prevenção, sendo este o passo mais
importante tanto para pais quanto para os profissionais. Daí a importância na
detecção precoce de sinais de Alienação Parental e a tomada de medidas
preventivas e educativas quanto a sua evolução, a fim de assegurar o bem-estar da
criança ou adolescente envolvido no litígio. Neste sentido, os tribunais possuem a
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CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
_______(1998) What can the courts do about parental alienation? Disponível em:
<http://www.parentalalienation.org/articles. > Acesso em: 8 abr. 2016.
472
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2016
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COORDENADORAS
AUTORES
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Da procura, um encontro...”
“Vida”
(Fernando Pessoa)
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AGRADECIMENTOS
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INTRODUÇÃO
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Nesta etapa, há que se cuidar para que não haja conflito de lealdade por
parte dos filhos que tendem a construir alianças com o(a) genitor(a) que percebem
como mais frágil, afastando-se do outro. Ressalta-se que esse fenômeno poderia
acarretar prejuízos significativos para o equilíbrio emocional dos filhos e demais
membros envolvidos. Neste sentido, Miermont afirma que:
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Observa-se que boa parte dos conflitos que chegam ao âmbito judiciário,
após a separação, ocorrem devido à indiferenciação de mágoas e ressentimentos
referentes à vida conjugal com o exercício da parentalidade, gerando confusão de
papeis de pais/cônjuges/êx-cônjuges. Tal confusão alimenta a necessidade de
desqualificação mútua comprometendo a imagem do outro genitor perante os filhos
e prolongando o litigio.
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Para que haja uma boa avaliação o Psicólogo e o Assistente Social que
atuam no espaço sócio ocupacional judiciário deverão ter contato com muitas
pessoas significativas nesse processo, ou seja, com os pais, com os filhos, com
cuidadores ou familiares responsáveis, professores, etc. Além disso, a observação,
a atenção e a análise do desenvolvimento da criança no âmbito neuro-motor,
cognitivo, linguagem e afetivo- social fornecem pistas essenciais para se concluir
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No entanto, não se pode ignorar que cada criança é um indivíduo, com uma
história particular, que pode atingir as fases de desenvolvimento tanto mais cedo
quanto mais tarde do que outra criança da mesma idade. Por consequência, tais
linhas em sua maioria caem nas armadilhas do conceito de normalidade. Cabe aqui
ressaltar, que há problemáticas que podem surgir, a partir de fatores internos ou
externos, as quais se tornarão obstáculos ao desenvolvimento.
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convívio igualitário com os genitores, pois uma criança em tenra idade tem outras
necessidades primordiais.
Segundo Dolto (1989), desde bebê até por volta de quatro anos de idade,
uma criança necessita daquilo que ela denominou “um continuun” espacial, uma
espécie de envoltório ambiental, portanto devem ser evitadas as mudanças
repetidas e abruptas do local onde ela se sente segura, protegida e atendida por um
cuidador específico em suas necessidades básicas.
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Vale lembrar que a temática da “ESCUTA” em si, tem sido levantada como
elemento constituinte do instrumental técnico de variadas profissões e em diferentes
áreas. Exemplos disso são as áreas da saúde e assistência social, que enfatizam a
“escuta qualificada” como elemento primordial para realização de atendimentos e
acompanhamentos assertivos com os usuários, englobando o sofrimento psíquico e
as subjetividades, que muitas vezes são ignoradas ou pouco consideradas pelos
profissionais.
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A escuta pode ser construída como um processo transparente, através de uma rede
de conversação em que abrimos questões, compartilhamos aspirações,
questionamos e aprendemos, interagimos com o todo e buscamos a pluralidade de
ideias. (Durães-Pereira, Novo e Armond, 2007, p. 466).
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CONCLUSÃO
Para esta tarefa tem sido exigido dos profissionais das equipes técnicas
judiciárias um repertório de conhecimentos cada vez mais amplo. Se a atuação dos
profissionais da Psicologia e Serviço Social nas separações altamente litigiosas
apresenta novos desafios, a escuta dos envolvidos tem sido uma delas.
Mas o que é escutar? Como saber se o que dizem corresponde ou não a
realidade dos fatos? Como saber se há a implantação de falsas memórias? Como
identificar se houve ou não vitimização sexual quando denunciado pela parte
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contrária? É possível confiar no relato das crianças? Como conversar com crianças
em tenra idade? A partir de qual idade devem ser ouvidas e como fazê-lo? São
producentes e adequadas as entrevistas realizadas conjuntamente pelos
profissionais das duas áreas? Como cada uma das categorias pode contribuir de
forma mais eficaz no processo de avaliação?
Não se pretende esgotar aqui tais questões, mas apresentar pequenos
acenos em direção a um processo de avaliação interprofissional de melhor
qualidade dentro das limitadas condições oferecidas para a realização de um
trabalho tão delicado e relevante para a vida das pessoas envolvidas.
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REFERÊNCIAS
ARACAJU. Secretaria Municipal de Saúde. Projeto Saúde Todo Dia. Aracaju, SE,
2003. Aula da especialização em saúde coletiva com Dr. Emerson Merhy em
12/08/05. Aracaju, SE. Videoteca do Centro de Educação Permanente da Saúde,
agosto 2005.
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CORDENADORAS
AUTORES
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INTRODUÇÃO
A FAMÍLIA
O modelo de família tradicional vigente até a década de 50, moldado sob forte
influência da Igreja Católica, é constituído através do matrimônio e é responsável
pela transmissão de valores morais e financeiros. Tal modelo ainda é forte referência
para os dias atuais e traz em seu bojo relações hierárquicas de poder, com papéis
bastante definidos para cada membro segundo o gênero e a geração. Sendo assim,
a Instituição familiar tem o importante papel de "organizar" socialmente as relações
afetivas e sexuais (STENGEL, 2011).
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[...] as condições sob as quais agem seus membros mudam num tempo
mais curto do que aquele necessário para a consolidação, em hábitos,
rotinas, das formas de agir. A liquidez da vida e da sociedade se alimentam
e se revigoram mutuamente. A vida líquida, assim como a sociedade líquido
moderna, não pode manter a forma ou permanecer em seu curso por muito
tempo (BAUMAN, 2007, P.7).
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Potencialidades: maior possibilidade de expressão nos relacionamentos, reconhecimento (e
aceitação) das diversidades, problematização das questões de gênero, busca por novos espaços de
acolhimento a esta diversidade que começa a ter visibilidade.
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seu papel social de mãe, cozinheira, cuidadora, etc.; aos meninos é permitido, e até
estimulado, que se sujem, que desenvolvam maior atividade e até mesmo que sejam
mais agressivos. Assim, incentivamos ou reprimimos certos impulsos inatos de
acordo com o sexo e gênero, sem perceber como tais induções provocam
sofrimento e corroboram com os preconceitos.
Frequentemente observamos que identidade sexual, orientação sexual e
identidade de gênero são percebidas de maneira equivocada e até mesmo como
equivalentes. Portanto, consideramos de fundamental importância estabelecer
distinções entre gênero e sexualidade, já que grande parte dos discursos sobre
gênero engloba questões relativas ao exercício da sexualidade.
Foucault (apud Louro, 1997) compreende o exercício da sexualidade como
uma invenção social, já que se constrói a partir de discursos sobre o sexo, discursos
que normalizam, instauram saberes e produzem verdades. Assim, a identidade
sexual e consequente orientação sexual podem ser compreendidas pela maneira
como expressamos e vivenciamos nossa sexualidade: o desejo por parceiros de
sexo oposto (heterossexualidade), parceiros mesmo sexo (homossexualidade),
pelos dois sexos (bissexualidade), ou por nenhum deles (assexualidade).
Stoller (apud Ayouch, 2014), primeiro psicanalista a introduzir a categoria
gênero em seus estudos, acabou por reduzir tal categoria a uma mera construção
social que se sobreporia à camada biológica e ontológica do sexo. Segundo ele, a
identidade de gênero se constitui na “convicção de ser” masculino ou feminino e a
coerência entre esta e a anatomia do corpo estabeleceria a diferença entre o normal
e o patológico. Tal perspectiva resulta na patologização das identidades transviantes
que não se adequam à linearidade das normas.
Com frequência os discursos, comportamentos e desejos considerados
consoantes a cada sexo reproduzem as expectativas relativas às expressões de
gênero normativas, e tal ilusão é mantida pela repetição constante dos padrões.
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DESAFIOS
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REFERÊNCIAS
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COORDENADORAS
AUTORAS
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(Paulo Freire)
INTRODUÇÃO
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Uma criança adotiva que não é introduzida na tradição da família do pai nem
da mãe, ainda não foi adotada. Uma criança não é verdadeiramente adotada,
senão por duas famílias adotantes (...) É a família como um todo que conta,
nessas descendências. Uma criança é adotada por uma família e não por
duas pessoas (...) A adoção é a família que cada um dos pais dá à criança,
um lugar nas duas linhagens, um lugar no simbólico (...) É preciso que uma
criança possa se situar como o terceiro de uma linhagem, que ela tenha um
pai assim como a referência àquele que o seu pai amava e tomava como
modelo (...) uma referência, a partir da qual o sujeito se constrói.
o adotado tem direito de conhecer sua origem biológica, bem como de obter
acesso irrestrito ao processo no qual a medida foi aplicada e seus eventuais
incidentes, após completar 18 (dezoito) anos.
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[...] o trabalho psicológico na habilitação para adoção não pode ter como
meta definir aqueles que melhor reuniriam condições de se tornar bons pais,
muito menos determinar quem de fato poderá passar de forma positiva por
todos os impasses e angústias que a experiência da parentalidade
certamente suscitará. Em bom português, o trabalho de habilitação não
objetiva apontar quem pode ser bom pai ou boa mãe adotivos, mas quem
no momento se encontra disposto a e apresenta condições de sê-lo.
circunscreve tais fatores entre: a habilidade para lidar com desafios; a existência da
tolerância à frustração, aos sentimentos de incapacidade, às desilusões e dúvidas
do processo de filiação, tolerância das diferenças; a sensibilidade para compreender
o outro; flexibilidade nas regras e compreensão do significado da adoção. Weber e
Pereira (2012) apontam ainda a análise de relevantes características dos
pretendentes, as quais seriam facilitadoras para adoção, como: autoestima,
otimismo, satisfação com a vida, satisfação conjugal, disposição para o investimento
afetivo e postura educativa maleável.
O psicólogo deve avaliar também: a disponibilidade do pretendente para ser
pai por adoção; se existe flexibilidade para procurar ajuda terapêutica seja para si ou
para o futuro filho caso necessitem; a real disponibilidade para aceitação de grupo
de irmãos, uma vez que tal indicação pode estar associada à percepção da
realidade (maior porcentagem de crianças com irmãos para serem adotadas) e não
ao desejo de ter mais de um filho. Outra questão seria pensar o quanto vale a pena
incentivar a adoção de irmãos, sabendo-se que um deles corre o risco de nunca ser
inserido e acolhido como filho na família adotiva.
Além de avaliar o pretendente, nas discussões da oficina entendeu-se que o
psicólogo também deveria trabalhar na desconstrução do discurso da igualdade
generalizada entre filho biológico e filho adotivo, no sentido de apontar e auxiliar o
pretendente a entender e ser fonte de ajuda ao filho adotivo, cujas particularidades
ultrapassam a filiação biológica.
Visando os objetivos iniciais das oficinas, os psicólogos deste grupo elegeram
como pontos essenciais da análise psicológica os itens abaixo, os quais estão
respaldados em algumas orientações teóricas estudadas, que seguem como
sugestão para futuras análises.
Considerar a motivação implícita lembrando que desejar um filho é diferente
de querer ter um filho. Um filho não deve servir para suprir a dor do casal ou para
suprir a perda de um filho não nascido. A observância do desejo genuíno faz-se
necessário.
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A escolha pela temática foi decorrente dos desafios que estão sendo postos
nos processos judiciais referentes à Interdição/Curatela a partir do advento do novo
Código de Processo Civil (art.1767). O novo olhar para a pessoa com deficiência
exige atuação diferenciada dos peritos Assistentes Sociais e Psicólogos Judiciários,
enquanto integrantes de uma equipe multidisciplinar, com vistas a subsidiar a
decisão do magistrado.
Na sociedade contemporânea o Direito se constitui referência e recurso para
a garantia dos direitos sociais e o Poder Judiciário é visto como o espaço para a
resolução de situações inscritas na violação de direitos.
Desta forma ocorre a Judicialização da questão social, a partir da
transferência de responsabilidades do Poder Executivo (responsável pela execução
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das políticas públicas) para o Poder Judiciário no que se refere à garantia dos
direitos sociais, o que muitas vezes priva os interditados do gozo dos direitos civis e
políticos.
Segundo Barison e Gonçalves (2016), os processos de interdição estudados
na Comarca de Volta Redonda – R.J. evidenciam que a maioria dos interditandos
está inserida em famílias extensas e pobres, são dependentes da renda dos pais e
são cuidados por mulheres, evidenciando uma tendência cultural de que a mulher
cabe à tarefa de cuidados com os membros da família.
Os dados identificam ainda outras expressões da questão social, tais como
“[…] o isolamento social, a precariedade de vínculos familiares e sociais, a
permanência nas ruas, a violência doméstica, o precário acesso e permanência nos
serviços de saúde mental” (BARISON, GONÇALVES, 2016, p. 57).
Partindo dessa realidade, a expectativa dos familiares consiste geralmente
em requerer os benefícios sociais ou previdenciários e ainda garantir o projeto
terapêutico, com acesso e permanência no serviço de atenção psicossocial. Nessa
perspectiva, a doença é a propulsora do direito e se sobrepõe, anulando outras
características do sujeito, entendendo-se que as habilidades e competências deste
não seriam úteis ao processo produtivo e a lógica capitalista.
A Lei nº 10.216/2011 que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas
portadoras de transtornos mentais já traz um novo modelo assistencial em Saúde
Mental que tem como objetivo primordial a reinserção social do sujeito, prevendo a
sua inclusão, a valorização de suas capacidades e ampliação de suas possibilidades
dentro do contexto familiar e social.
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e a Lei nº
13.146/2015 – Lei Brasileira de Inclusão ou Estatuto da Pessoa com Deficiência, em
seu Art.2º traz um novo conceito de pessoa com deficiência:
Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimento de longo prazo
de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação
com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na
sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
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[…] é o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo menos 2
(duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de
sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da
vida civil […].
Assim, existe recomendação legal de que sempre que possível seja realizada
oitiva do interditando pelo Juiz e pelos peritos, reconhecendo-o como sujeito e
protagonista da ação, que tem por finalidade a sua proteção.
Nas avaliações periciais poderão ser apresentados quesitos, com indagações
sobre questões diversas, devendo cada profissional entender os objetivos da perícia,
relacionando-os ao seu objeto de estudo. Grande parte dos quesitos traz questões
relacionadas à área médica, e segundo o Núcleo de Apoio Profissional de Serviço
Social e Psicologia, estes fazem referência à C.I.F (Classificação Internacional de
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde), que é uma forma de classificação utilizada
no Sistema Único de Saúde e pelo INSS.
Considerando que, além da área médica, as equipes que assessoram o Juízo
são compostas por Assistentes Sociais e Psicólogos, em contato com o Núcleo de
Apoio Profissional esse reforçou que os profissionais deverão ter “…como foco a
atenção à qualidade dos cuidados oferecidos ao interdito e não a mensuração ou
quantificação das (in)capacidades dos sujeitos avaliados”
Durante a realização das oficinas os participantes do grupo de estudos
entenderam que em relação aos quesitos apresentados, cada profissional deverá
ater-se àqueles que se referem a sua área de atuação, buscando sempre justificar o
termo “prejudicado” quando esse for utilizado, especificando as razões por não ter
sido possível uma conclusão a respeito, ou por não tratar-se de sua área de
atuação, apontando algumas questões éticas e quando possível, qual a área de
conhecimento específico que poderia abordar determinada questão.
Em relação a Avaliação Social, o Núcleo de Apoio Profissional de Serviço
Social e Psicologia considera que esta:
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CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
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SOUZA, Ana Alicia Martins de. Síndrome de Alienação Parental: um novo tema nos
juízos de família. São Paulo: Cortez, 2010.
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AUTORES
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INTRODUÇÃO
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Não é por acaso que a origem do Serviço Social como profissão está
atrelada ao conjunto de medidas desenvolvimentistas empregadas pelo
Estado burguês quando leva a cabo seus intentos de modernização nos
idos de 1930. E também não é por acaso que tanto a requisição formal pelo
Estado de “trabalhadores sociais” quanto o debate em torno desse processo
se repõem na contemporaneidade. (PAULA, 2013, p. 23)
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Fávero (2015) nos esclarece que o serviço social foi expandindo sua
atuação, absorvida especialmente no atendimento às demandas afetas às crianças,
jovens e família, atuando prioritariamente como perito, ofertando subsídios para a
tomada de decisões da autoridade judiciária. Essa expansão foi viabilizada pelos
concursos públicos para o ingresso dos assistentes sociais realizados nos anos de
1967, 1979, 1985, 1990, 2005 e o último em 2013.
É neste contexto que o Serviço Social vai ganhando espaço ao longo da
trajetória desenvolvida junto à organização judiciária, reconhecido pela atuação nas
varas de infância e juventude e família e vai ampliando sua atuação em várias outras
frentes, como no esclarece Fávero (2015):
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[...] hoje o Serviço Social atua em várias frentes e suas atribuições não se
resumem apenas a situações relacionadas às medidas judiciais. Atuando
em conformidade com os princípios éticos norteadores da profissão, tem
contribuído para a implementação de projetos e programas na área de
saúde mental e vocacional, reavaliação funcional, capacitação e
treinamento etc., funções estas que envolvem o conhecimento de vivências
socioeconômicas e culturais dos sujeitos e de como reagem às diferentes
manifestações da questão social na sua vida cotidiana.” (FÁVERO, 2015,
p.66)
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Esta opção política estatal trouxe rebatimentos no Poder Judiciário que teve
ampliadas suas demandas pela via da judicialização da questão social, resultante da
inépcia ou omissão do Poder Executivo na efetivação dos direitos da população pela
via das políticas sociais redistributivas e universalizantes.
Para o entendimento do significado da “questão social” nos valemos da
definição posta por Iamamoto (1998):
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decisões judiciais como partes constituintes dos conflitos judicializados através dos
documentos que produzem (relatórios, estudos, laudos, pareceres).
Nas Varas de Família, ao ingressar com uma ação, a pretensão do sujeito
normalmente é a garantia de um direito, enquanto na Vara da Infância e Juventude
busca-se a restauração do direito violado.
O Judiciário, através de seu corpo técnico, produz diagnósticos e proposições
que interferem diretamente na vida das pessoas, especialmente daquelas em
situação de maior vulnerabilidade e risco social, como já mencionado.
Como nos ensina Simone Weill (1996), para pensar sobre o poder exercido
pelo judiciário sobre a vida das pessoas, do cidadão, na questão de dirimir conflitos
e “dizer” o direito, é preciso pensar sobre quem é esta pessoa que busca ou se
sujeita ao judiciário.
E mais, é preciso sempre buscar a resposta a uma questão de suma
importância: o acesso ao poder judiciário representa a construção/ampliação da
justiça social? E o trabalho técnico, potencializa direitos ou culpabiliza ainda mais as
classes vulneráveis?
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Outra possibilidade que o judiciário tem encontrado para tentar lidar com a
ausência de psicólogos é determinar que um profissional se desloque de sua Sede e
atenda outras comarcas da circunscrição vizinha, no entanto, o que se vê na prática
é que tais atividades cumulativas também trazem prejuízos, tanto na Comarca Sede,
uma vez que a ausência do profissional compromete a dinâmica de funcionamento
do setor, como na comarca onde está prestando serviço, por não conseguir atender
à crescente demanda, sem contar na sobrecarga de trabalho do profissional que
necessita se deslocar para outros locais e a falta de estrutura, contribuindo para o
adoecimento do profissional.
As demandas que se apresentam na atualidade (abuso sexual, alienação
parental, destituição do poder familiar, alteração de nome e gênero, curatela e
interdição, entre outras) trazem uma complexidade para seu desvelamento que
exigem a contribuição de múltiplos saberes e discussões interdisciplinares. Além
disso, deve-se considerar a natureza dinâmica dos casos estudados que determina
a urgência da realização do Estudo Psicossocial, sob pena deste encontrar-se
defasado ao chegar ao conhecimento do Juiz.
Acrescenta-se a esses fatores supracitados, o fato de que diante das
dificuldades como distância e morosidade, há a necessidade de seleção dos casos
prioritários por parte do Assistente Social, ao proceder à sugestão para a Avaliação
Psicológica fora de sua Comarca, podendo-se concluir pela existência de uma
demanda reprimida quanto a esta avaliação.
É necessário pontuar sobre as especificidades de uma Avaliação Psicológica,
a qual é entendida pelo CFP “como o processo técnico-científico de coleta de dados,
estudos e interpretação de informações a respeito dos fenômenos psicológicos, que
são resultantes da relação do individuo com a sociedade, utilizando-se, para tanto,
de estratégias psicológicas – métodos, técnicas e instrumentos”, reconhecidos pela
ciência psicológica, tais como observação, visitas domiciliares e institucionais,
entrevistas (não apenas com as partes envolvidas, mas também com pessoas que
se relacionam), em determinados casos a aplicação de testes psicológicos, técnicas
projetivas, utilização de recursos lúdicos (que exigem tempo para ser analisadas a
posteriori), e, muitas vezes, reuniões técnicas com psicólogos clínicos ou outros
profissionais, a fim de complementar e referendar os dados já colhidos, os quais
deverão ser analisados a luz de um referencial teórico.
552
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[...] novas práticas forenses e políticas públicas que passem a dar mais
importância e garantias ao direito fundamental da personalidade, alusivo à
integridade psicofísica nas fases de desenvolvimento infantil e adolescente,
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CONCLUSÃO
38
Por multidisciplinaridade entende-se a justaposição de disciplinas diversas, às vezes sem aparente
relação entre elas.
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REFERÊNCIAS
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“FAMÍLIA”
COORDENADORES
AUTORES
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INTRODUÇÃO
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1. DESENVOLVIMENTO INFANTIL
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2. PROTOCOLOS
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deverá responder “não me recordo”, sempre que seja esse o caso e que esta é uma
resposta tão valiosa como outra qualquer. A técnica de Visualização Mental, que
incentiva a testemunha a recriar a imagem de algo na cena ocorrida, poderá ser
utilizada. Importante ressaltar que o entrevistador deve utilizar majoritariamente
questões de respostas abertas ao longo de toda a entrevista, pois de respostas
fechadas, escolhas múltiplas ou sugestivas, podem conduzir a respostas pouco
informativas e aumentam o número de erros cometidos pela testemunha/vítima.
Fase 5 - Novas estratégias de recuperação: caso o entrevistador considere
que a testemunha/vítima poderá ainda ser capaz de relatar mais informações
através do uso de novas estratégias de recuperação, elas poderão ser utilizadas,
tais quais: Mudança de Ordem, em que orienta o entrevistado a contar tudo o que
se lembra novamente acerca do fato, mas, desta vez, pela ordem inversa; ou
Mudança de Perspectiva, que consiste no pedido para que relate novamente o
evento, mas sob a perspectiva de alguém que também estava na cena.
Fase 6 - Questões importantes para a investigação: até esta fase da
entrevista, a testemunha/vítima não deve ser questionada acerca de aspectos que
não mencionou. No entanto, em algumas investigações, poderá ser imprescindível
colocar questões sobre tópicos que a pessoa não mencionou durante a entrevista,
pois nesta fase, todas as outras técnicas de questionamento já foram utilizadas e
grande parte do relato já foi obtido. O entrevistador deve estar ciente, todavia, que a
informação coletada por meio deste tipo de questões tem uma maior probabilidade
de conter erros ou distorções.
Fase 7 - Resumo: neste momento, o entrevistador poderá sintetizar alguns
pontos centrais do relato obtido, dando ao entrevistado oportunidade de acrescentar
nova informação e/ou corrigi-la.
Fase 8 - Encerramento: nesta fase, o entrevistador deverá novamente
abordar tópicos neutros com a testemunha/vítima, tal como no início da entrevista,
certificando-se de que ela saia do local sentindo-se calma e segura, pois poderá ter
abordado tópicos sensíveis e perturbadores. É importante agradecê-la pelo seu
trabalho árduo ao longo de todo procedimento.
Fase 9 - Avaliação: após o término da entrevista, é importante avaliar o valor
da informação obtida e o seu impacto na investigação policial/avaliação forense. É
igualmente importante que o próprio entrevistador, ou seu supervisor, avalie seu
570
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2.2 RATAC
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2.3 NICHD
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3. RELATO DE EXPERIÊNCIA
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Assistência Social, Setor Técnico, Juízes e Promotores das três comarcas nas quais
seria implantado o projeto piloto da escuta especial (São Caetano do Sul, Campinas
e Guarulhos).
O assistente social, nessa demanda, realizava o estudo social, cuja
abordagem de atuação era aberta, sem questionários pré-estipulados, objetivando
analisar as questões sociais e contextos relacionados à situação atual da
criança/adolescente e compreender “quem fez a denúncia?”; “para quem a criança
contou pela primeira vez?”; “a família tem postura protetiva?”; “quais as condições
da criança para participar da escuta especial?”, “a abertura e a vontade da criança
em participar da escuta especial?”, entre outros.
Também era realizado o estudo psicológico, anterior ao depoimento especial,
sendo ambos (estudo psicológico e escuta especial) realizados pela mesma
profissional. Nesse posto, ainda que não haja prejuízos em realizar a escuta por
profissionais diferentes, destaca-se a necessidade de se criar vínculo com a
criança/adolescente anteriormente.
Os estudos psicossociais eram realizados separados, antes da escuta e, caso
houvesse parecer contrário emitido pelos profissionais, à participação da criança na
escuta especial, o juiz acatava e não a realizava.
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aos finais de semana, quando o serviço não estava funcionando, a denúncia era
feita na delegacia, sendo que o delegado ouvia apenas a pessoa denunciante e não
a criança/adolescente, sendo realizados os encaminhamentos necessários, e a
orientação da família para procurar o Centro de Referência no próximo dia útil.
Dessa maneira a escuta da criança acontecia apenas duas vezes: a primeira pelo
serviço da assistência social, com o devido registro (gravação) para posterior
utilização e, depois, no depoimento especial.
O processo criminal corria simultaneamente ao da infância, o que era possível
devido ao fato de o juiz cumular as duas varas e a audiência era realizada, em
média, num período de 6 a 8 meses após a denúncia.
Primeiramente, era feito o estudo social, momento em que não se abordavam
as questões relacionadas ao abuso. Caso a criança trouxesse espontaneamente,
escutavam e diziam que aquilo seria conversado em outro momento, pois estavam
ali para falar de outras coisas (exemplo: o que você faz na escola, quais são seus
amigos, dinâmica familiar, etc.), conduzindo o contato com a criança para outra
temática. Depois, o psicológico e, posteriormente, a escuta especial.
A família e a criança eram preparadas para este momento, ocorrendo vários
encontros na semana que antecedia a audiência. Nestes momentos, era explicado
aos pais, ou responsáveis, a dinâmica da audiência; apresentado, esclarecido e
assinado um termo de concordância em participar, já que a família poderia optar ou
não em participar da audiência nestes moldes. Com a criança, era o momento de se
explicar como ocorreria no dia, mostrar a sala de audiência, a técnica responsável
etc.
A escuta especial seguia o protocolo NICHD e os quesitos elaborados pelo
advogado eram formulados anteriormente nos autos. Dessa maneira, quando a
equipe recebia os quesitos, estes já haviam passado pelo crivo (deferimento ou
indeferimento) do juiz, sendo que não era permitida, no momento da audiência, a
formulação de novos quesitos.
Durante o depoimento, havia um intervalo em que a entrevistada ficava com
pais ou responsáveis, enquanto os membros da audiência (juiz, promotor,
advogados) discutiam sobre as declarações. No retorno, o juiz ligava para o
profissional de psicologia na sala de escuta especial e fazia perguntas com relação
ao que foi gravado, se necessário. Nesse momento, o (a) psicólogo (a) tinha
576
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CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
ARIÈS, P.; DUBY, G. História da vida privada. São Paulo: Companhia das Letras,
1990.
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COORDENADORAS
Mariana Sato dos Reis – Assistente Social Judiciário – Comarca de José Bonifácio
Priscila Silveira Duarte Pasqual – Psicóloga Judiciário – Comarca de São José do
Rio Preto
AUTORES
Ana Carolina Petrolini André – Psicóloga Judiciário – Comarca de São José do Rio
Preto
Bras Miguel Barbosa – Assistente Social Judiciário – Comarca de Catanduva
Claudinéia Pereira – Assistente Social Judiciário – Comarca de São José do Rio
Preto
Claudio Luís Garcia da Silva – Psicólogo Judiciário – Comarca de São José do Rio
Preto
Edna Bentina Garcia da Silva – Assistente Social Judiciário – Comarca de São José
do Rio Preto
Emeline Duo Riva – Psicóloga Judiciário – Comarca de Catanduva
Luciana de Oliveira – Psicóloga Judiciário – Comarca de Catanduva
Marinês Martinez Guirado Dantas – Assistente Social Judiciário – Comarca de São
José do Rio Preto
Marli Salvador Corrêa da Silva – Assistente Social Judiciário – Comarca de Novo
Horizonte
Mirian Cristina Scapa – Assistente Social Judiciário – Comarca de Catanduva
Natalia Maria Tomasetto – Assistente Social Judiciário – Comarca de Ibitinga
Paula André de Oliveira Matsucuma – Psicóloga Judiciário – Comarca de Guaíra
Railda Ferreira das Neves Galbiati – Psicóloga Judiciário – Comarca de São José do
Rio Preto
Renata Fazani Sabbatini Pessoa – Assistente Social Judiciário – Comarca de
Urupês
Rosangela Cristina Alves – Assistente Social Judiciário – Comarca de Catanduva
Sheila Barreiros Pereira Metz – Assistente Social Judiciário – Comarca de São José
do Rio Preto
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ESCOLA JUDICIAL DOS SERVIDORES - EJUS
Simoni De Biagi Borges – Psicóloga Judiciário – Comarca de São José do Rio Preto
Sueli Aparecida Lopes – Assistente Social Judiciário – Comarca de São José do Rio
Preto
Tatiana Aparecida da Silva – Assistente Social Judiciário – Comarca de Guaíra
Thais Del Giudice Maurutto – Psicóloga Judiciário – Comarca de Tanabi
583
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DEDICATÓRIA
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AGRADECIMENTOS
Ao juiz de Direito, sr. dr. Evandro Pelarin (Juiz de Direito da Vara da Infância
e Juventude) pela autorização e empenho na realização do primeiro grupo de
estudos de assistentes sociais e psicólogos do Tribunal de Justiça de São Paulo, na
comarca de São José do Rio Preto.
Ao sr. dr. Zurich Oliva Costa Netto (Juiz Diretor do Fórum), pela autorização
e disponibilidade em oferecer toda a infraestrutura necessária para a implantação do
grupo de estudos desta comarca.
Ao sr. dr. André Luis de Souza (Promotor da Infância e Juventude da
comarca de São José do Rio Preto), pela luta em prol das crianças e adolescentes
atendidos no município e apoio na implantação deste grupo de estudos.
À profa. dra. Marina Rezende Bazon (Livre-Docente do Departamento de
Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – USP)
pela gentileza em compartilhar com o grupo todo seu conhecimento sobre crianças e
adolescentes em situação de risco psicossocial.
Á sra. Nilde Regina da Silva, coordenadora da EJUS São Paulo, por creditar
à equipe técnica da Vara da Infância e Juventude de São José do Rio Preto a
possibilidade de inaugurar o primeiro grupo de estudos na comarca e à sra. Vivian
Terumi Takata, pelo apoio incondicional em todos os momentos do grupo.
Á sra. Maria Tereza Fernandes, coordenadora da EJUS em São José do Rio
Preto, pelo carinho e apoio na implantação e manutenção do grupo de estudos.
À sra. Sônia Lucchesi, (Chefe de Seção Judiciária, Diretoria de Serviços de
Administração Geral do Fórum) pela gentileza e disposição em ajudar sempre.
À sra. Fabíola Silva de Farias Cabral (Chefe de Seção Judiciária do Ofício
da Infância e Juventude) pela organização da frequência da participação dos
membros.
585
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ESCOLA JUDICIAL DOS SERVIDORES - EJUS
INTRODUÇÃO
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ESCOLA JUDICIAL DOS SERVIDORES - EJUS
condições para enfrentá-lo. Daí a atenção destes autores para a relação existente
entre estes conceitos.
Conceituar o risco pressupõe entendê-lo como um processo associado a
diferentes contextos históricos e sociais. Em famílias empobrecidas, por exemplo,
operam como fatores de risco o baixo nível socioeconômico, a baixa escolaridade, a
extensa composição familiar associada à ausência de acesso aos mínimos sociais
(econômicos, habitação, saúde, alimentação, etc.) de sobrevivência de todos os
membros da família; a ausência de um ou de ambos os pais, dentre outros aspectos.
Paralelo ao conceito de risco, o debate da vulnerabilidade é originário da área
da advocacia internacional e, designa, em sua procedência, grupos ou indivíduos
fragilizados, jurídica ou politicamente, na proteção ou na garantia de seus direitos de
cidadania (Alves, 1994; Ayres, 2003 apud RIZZINI et al., 2010). No campo da saúde,
foi destaque nos estudos e intervenções sobre epidemia de HIV/AIDS, tornando-se
um conceito-chave dos trabalhos científicos da última década.
Na sociedade capitalista contemporânea, ainda não se torna possível
conceituar a vulnerabilidade apartada da questão econômica. Neste aspecto,
Oliveira (1995 apud JANCZURA, 2012, pág. 303) refere que “a definição econômica
de vulnerabilidade social é insuficiente e incompleta”. Esse autor acredita ainda que,
“os grupos vulneráveis se tornam vulneráveis, pela ação de outros agentes sociais”.
Carneiro e Veiga (2004 apud JANCZURA, 2012, pág. 304), por sua vez,
conceituam a vulnerabilidade como a “exposição a riscos e baixa capacidade
material, simbólica e comportamental, de famílias e indivíduos para superação de
desafios”. Neste sentido, os riscos estão associados com situações próprias do ciclo
de vida e também com condições das famílias, da comunidade e ambiente em que
as pessoas se desenvolvem. Para estes autores, a pobreza representa a primeira
aproximação à maior exposição a riscos, remetendo-se às noções de carência e
exclusão.
Na sociedade moderna contemporânea, o risco não pode estar restrito as
noções de carência e exclusão, vez que ela mesma se configura em uma “sociedade
de riscos”.
Assim a noção de risco implica não somente à noção imediata de um perigo,
mas também à possibilidade de ocorrer uma perda de qualidade de vida pela
ausência de ação preventiva. Perigo este que pode se potencializar diante da atual
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
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fragilização nos sistemas de seguridade social, que faz emergir uma nova geração
de risco. A reflexão contemporânea sobre a insegurança deve integrar esse
parâmetro.
Estar protegido pode significar a possibilidade de reunir condições para o
enfrentamento dos principais riscos da vida. Este estado, no entanto, sofre uma
dupla carência. Por um lado, temos o enfraquecimento das coberturas clássicas e,
por outro, consequentemente, o sentimento generalizado de impotência diante
dessas novas ameaças, compondo uma contradição entre a necessidade de ser
protegido e a falta de proteção.
Construir a relação entre risco, vulnerabilidade e infância remete à ideia de
fragilidade e dependência dos sujeitos, especialmente aqueles de menor nível
socioeconômico, que se encontram em situações particularmente difíceis da vida, as
quais ameacem ou causem efetivo dano a integridade física, psicológica ou moral.
Se até o inicio do século XX, as medidas de atendimento à infância
caracterizavam-se por ações de cunho higienista e disciplinador, estabelecendo a
concepção da infância perigosa e a necessidade de controle, atualmente,
independente da fragilidade no Sistema de Seguridade, a doutrina da proteção
integral é privilegiada e legitimada através do Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA), Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990.
Tratar sobre risco e vulnerabilidade sob a perspectiva desse Estatuto
pressupõe interpretá-lo, vez que não utiliza explicitamente o termo risco. Em seu
artigo 98, fica estabelecido que “as medidas de proteção à criança e ao adolescente
são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou
violados”.
Avaliar as condições que representam ameaça ou violação é tarefa dos
profissionais integrantes do sistema de garantia de direitos, assim, o ECA passa a
ser instrumento norteador dos operadores do direito. Especialmente nos Tribunais
de Justiça, as equipes técnicas devem ter domínio dos conceitos de risco e
vulnerabilidade a fim de utilizá-los adequadamente na prática profissional, evitando-
se equívocos, inclusive teóricos.
Conforme artigo 4º:
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ESCOLA JUDICIAL DOS SERVIDORES - EJUS
A palavra "risco" é derivada do latim resecum, cuja tradução significa "o que
corta", conceito ampliado que corresponde a uma ameaça ou perigo de determinada
ocorrência. Este termo, no que tange aos debates levantados durante os estudos
realizados, aparece como situações que ameaçam e/ou violam os direitos da criança
ou adolescente, prejudicando o seu desenvolvimento tanto físico, quanto emocional.
O “Risco” depende das circunstâncias sociais e é resultante de um processo
dinâmico e interativo de uma comunidade. Seu enfoque nos fenômenos relacionais
ou seja psicossociais, remete à necessidade de perceber os problemas como
processos, ou melhor, conflitos adaptativos (BAZON, 2016).
Uma vez que risco é um termo amplo e complexo, em casos de crianças e
adolescentes o termo apropriado a ser utilizado é risco psicossocial.
Uma criança é considerada em situação de risco, quando seu
desenvolvimento não ocorre segundo o modo esperado para sua faixa etária, de
acordo com os parâmetros de sua cultura (Hutz e Koller, 1996 apud RIZZINI, et al.,
2010).
590
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
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2.1.4 Negligência
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Quais são os critérios para definir que alguém é negligente? Eles são
objetivos ou decorrem apenas de uma avaliação moral? Sendo uma
atribuição negativa, contém um julgamento de valor; logo, não há como
dizer que a moral não esteja presente. Além da moral, existem outros
critérios objetivos? Quais são? A avaliação moral está pautada nos
princípios do Código de Ética Profissional?
601
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ESCOLA JUDICIAL DOS SERVIDORES - EJUS
39
Poder aqui se refere ao Poder Judiciário, que pode ser autoritário ou que atue na defesa de direitos,
como apontam os autores.
602
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5. ANÁLISE DE DOCUMENTÁRIOS
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Era maltratada pela mãe, que a chamava de burra, dizia que desde o
momento em que a pegou nos braços sabia que ela não servia para nada, que não
conseguiria aprender nada. Dizia que ela não poderia confiar em ninguém. Ou seja,
tirava-lhe qualquer esperança de mudança, aniquilando a possibilidade de uma vida
mais digna, ao menos.
Observou-se que a única figura positiva de referência na família da
adolescente é sua avó materna, quem cuida de sua primeira filha, porém se revela
fragilizada para proteger e acolher Preciosa, bem como seu segundo filho. Reflete-
se que no exercício profissional nas Varas da Infância e Juventude existem diversos
casos semelhantes ao de Preciosa, em que se verificam violências perpetradas no
âmbito familiar, o analfabetismo funcional, desemprego, baixa autoestima, doença
sem perspectiva de cura, maternidade precoce e incestuosa. Nestes casos, é
comum que tais crianças e adolescentes sejam encaminhados aos serviços de
acolhimento, em detrimento do trabalho de “empoderamento” dos pais para
exercerem a parentalidade de maneira salutar. Compreende-se a grande
importância de tal estratégia, que requer reflexão desses profissionais.
O filme retrata que um problema social nunca é uma questão isolada e, por
isso, afeta a comunidade como um todo. Além disso, revela que a violência
doméstica é causada por múltiplos fatores e merece uma intervenção planejada,
multi-setorial e interdisciplinar. Reconhece-se ainda que tão grave quanto às
situações de violência é o silêncio, a omissão da comunidade.
É emocionante o que o filme releva sobre o desenvolvimento emocional
sempre possível para o ser humano. Apesar de todas as adversidades e o histórico
de vitimização que a personagem principal sofre, ela desenvolve uma resiliência,
potencializada com o exercício da parentalidade, juntamente com as intervenções
pontuais dos profissionais vinculados à escola alternativa e ao serviço de assistência
social. Esta narrativa apresenta a vivência de uma história de superação, em que os
vínculos que foram sendo construídos pela adolescente, somados ao seu
desenvolvimento emocional por meio da maternidade, ajuda-lhe a romper as tramas
de sua história de violências, reconstruindo-se.
O filme oportuniza a reflexão a respeito da realidade do grande número de
crianças e adolescentes vitimizados no Brasil, principalmente os que vivenciam
situação de acolhimento institucional. Será que conseguirão superar a condição
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Perfil
Dos 189 mil adolescentes no cadastro, 174 mil (mais de 90%) são do sexo
masculino. A maioria tem 17 ou 18 anos. O Estatuto da Criança e do
Adolescente prevê uma internação máxima de três anos – aos 21 anos, a
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CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 10 ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2015.
Freud, S. (1930). O Mal Estar na Cultura. (R. Zwick, Trad.) Porto Alegre: L&PM,
2010.
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