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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Presidente
DESEMBARGADOR JOSÉ RENATO NALINI
Número 11
SÃO PAULO
2014
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ÍNDICE
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COORDENADORAS
AUTORES
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INTRODUÇÃO
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Levantamento promovido pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS) por
meio da Secretaria Nacional de Assistência Social, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz), ano 2009.
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Um participante não respondeu a questão, portanto, considera-se o total de 16 respostas.
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Ressalta-se que um mesmo participante pode ter elencado mais que uma resposta.
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Conforme o Conselho Nacional de Justiça: Cadastro Nacional de Adoção. Dados Estatísticos de
Pretendentes - Brasil www.cnj.jus.br Acesso em: 16 nov. 2014.
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Além disto, outros três técnicos (17,65%) pontuaram que a atuação precisa
ser proativa tanto das equipes técnicas como por parte das autoridades judiciais,
promovendo encontros em rede, discussão de casos realizando uma avaliação que
considere contexto histórico, o entorno de cada núcleo familiar, bem como o
fortalecimento e estreitamentos das relações entre as equipes do judiciário e as
equipes do acolhimento institucional.
Quanto aos fatores internos e externos à família determinantes para o
acolhimento, a maioria sinaliza como fatores internos a dependência do álcool e de
drogas (16 de 17 respostas / 94,11%), conflitos e violência familiar (15 de 17
respostas / 88,23%).
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Código de Ética do/a Assistente Social. Lei nº 8.662/93, de 13 de março de 1993.
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omissão ou violação por parte do poder público, passíveis de controle social assim
como denúncias por parte da sociedade civil.
Igualmente importante constar os desafios que foram apontados apenas uma
vez (5,88%) pelos participantes, tais como: trabalho fragmentado e individualizado;
ausência de motorista; falta de conhecimento por parte de profissionais da rede
socioassistencial sobre as atribuições do Setor Técnico; despreparo por parte dos
profissionais da rede; falta de aprimoramento profissional; falta de efetividade do
trabalho da rede junto às famílias; limites com as dificuldades psíquicas e sociais de
genitores e família extensa; descompasso entre a legislação e garantia dos direitos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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BIBLIOGRAFIA
BOWLBY. Cuidados Maternos e Saúde Mental. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
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DOLTO, F. Quando os pais se separam. Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1991.
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Anexo I – (Questionário)
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3.2. Visitas
( ) Domiciliar
( ) Institucional
3.3. Reunião
( ) com o Serviço de Acolhimento
( ) com serviços da Rede SUAS – Sistema Único de Assistência Social
( ) com serviços da Rede SUS – Sistema Único de Saúde
( ) com o Sistema Educacional
( ) com projetos comunitários, pastorais
( ) com o Conselho Tutelar
( ) com a Defensoria
( ) com a Promotoria
( ) com Conselhos de Direitos
( ) outros. Especifique:
Em caso positivo:
5.1. Você já participou em alguma oportunidade? ( ) Sim ( ) Não
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( ) CREAS
( ) Conselho Tutelar
( ) Outros. Especificar: ___________________
FACILITADORES IMPACTO
6.2. Inserção na
família extensa
6.3. Colocação
em família
substituta
6.4. Preparação
para a vida
independente
6.5. Cumprimento
da provisoriedade da
medida de
acolhimento
6.6. Trabalho em
rede
6.7. Relação
entre o judiciário
e os serviços de
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acolhimento
DIFICULTADORES IMPACTO
7.2. Inserção na
família extensa
7.3. Colocação
em família
substituta
7.4. Preparação
para a vida
independente
7.5. Cumprimento
da provisoriedade da
medida de
acolhimento
7.6. Trabalho em
rede
7.7. Relação
entre o judiciário
e os serviços de
acolhimento
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10. Que fatores estão mais frequentemente presentes em casos de destituição familiar?
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COORDENADORES
AUTORES
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INTRODUÇÃO
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Conforme o art. 13, parágrafo único da lei 12.010/09: “as gestantes ou mães que manifestem
interesse em entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente encaminhadas à Justiça da
Infância e da Juventude”.
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PARTE TEÓRICA
Dra. Dalva também colocou que o primeiro contato com as famílias foi
realizado pela VIJ, para que a pessoa que fosse entrevistada soubesse sua função,
sua posição como doutoranda e o objetivo da pesquisa. O local da entrevista era
discutido e a maioria optou por fazê-la no campus da Universidade.
A pesquisa, concluída no final de 2005 (anteriormente à lei 12.010/09),
contou com cinco famílias, e cada qual participou de pelo menos três entrevistas;
sendo que nenhuma era beneficiária de programas sociais, pois a cobertura desses
programas, na época, comparadas aos dias atuais, era precária.
Na devolutiva da pesquisa, a Dra. Dalva apresentou três opções para as
entrevistadas: se elas queriam um exemplar do livro, a fita gravada ou a transcrição
de suas falas. A maioria optou pela fita e a transcrição, solicitando duas cópias,
sendo uma para elas e a outra para entregar à família da rede de apoio, queriam
que os filhos ouvissem suas vozes e entendessem que a entrega não era um
abandono, mas um ato de amor.
Com a pesquisa, a primeira conclusão da Dra. Dalva, durante a etapa
quantitativa, foi a de que esse tipo de adoção ocorria com maior frequência do que
aquela via Cadastro de Pretendentes à Adoção.
Como uma segunda conclusão: as mães que decidiram entregar seus filhos
tinham consciência de sua falta de condições e do que seria necessário para cuidar
e educar uma criança.
A Dra. Dalva também concluiu que os genitores escolhiam esse tipo de
adoção, fundamentados em critérios próprios. Precisavam ter algum tipo de contato
ou de informação a respeito do filho e garantir a possibilidade de aproximação com
os outros irmãos.
Optavam pela família que possuísse maior entendimento e experiência
sobre adoção, na esperança de que assumissem a responsabilidade de contar à
criança, em momento oportuno, o porquê de ela não estar com a mãe biológica.
Essas mães priorizavam pretendentes que tivessem casa própria para
morar, emprego que correspondesse às necessidades básicas e uma religião. A
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sobre esta prática adotiva por seus protagonistas, a autora entrevistou quatro
famílias adotantes, três mães biológicas que entregaram seus filhos, mediadores e
operadores do direito.
Uma das modalidades de adoção “pronta” estudada foi aquela em que os
adotantes são parentes ou pertencem à rede de apoio (vizinhos, amigos) da família
biológica. À autora pareceu implicar práticas históricas e culturais de manutenção e
sobrevivência de crianças nas famílias de camada popular.
As adoções realizadas nas instituições de abrigo mostraram-se permeadas
por múltiplos sentidos, entre eles, as formas de assistência à criança e ao
adolescente que vigoraram por muitos anos e com frequência ainda vigoram no
Brasil, nas quais a institucionalização ou a colocação em famílias substitutas tem
sido uma prática recorrentemente utilizada para crianças pobres ou que, por algum
motivo, não podem ser mantidas em suas famílias de origem.
Outra modalidade de adoção apreendida é a que se refere às adoções de
bebês. Esta apresentou uma multiplicidade de sentidos e formas de se realizar, as
quais englobam desde a comercialização de bebês até sua entrega aos adotantes
pela mãe biológica. Os protagonistas referiram-se à complexidade de cenários e de
formas de negociação, nas quais emergiram múltiplos repertórios discursivos de
abandono, trauma, maternidade e adoção.
De maneira geral, sentidos variados de adoção permearam as diferentes
configurações de adoções “prontas”, entre eles, a adoção como solução para as
crianças pobres ou como forma de inclusão social. Por outro lado, a entrega de um
filho para conhecidos parece ter ampliado o grau de satisfação e compreensão dos
protagonistas envolvidos, enquanto que o "silenciamento" e o menor grau de
negociação entre os protagonistas e os cenários foram associados a sentidos de
restrição e imposição.
Em sua tese, Fernanda abarca a falta de registros/dados da família biológica
nos autos processuais, em especial a falta de escuta da família de origem expõe o
jogo de poder nas relações burocráticas e hierárquicas.
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A adoção fechada foi outro aspecto discutido pela autora, a saber que:
[...] os registros quanto a adoção são lacrados e subentendem uma
ruptura total no contato entre a criança e seus pais biológicos, e
dificultam, quando não impedem, qualquer acesso do adotivo às
informações sobre si mesmo, sobre suas origens (MOTTA, 2008,
p.76).
A adoção fechada se põe como uma barreira para possíveis buscas dos
envolvidos na adoção e “ao buscarem informações sobre sua história, nada mais
desejam do que ascender à categoria de ser alguém” (MOTTA, 2008, p.82).
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CONCLUSÃO
No GEA-I deste ano, a partir dos textos discutidos refletiu-se que a adoção
pronta geralmente é mal vista no Brasil por subentender algum tipo de negociação.
De acordo com a Dra. Dalva Góis, a relação envolvendo vantagens/benefícios
estaria no imaginário das pessoas. Essa modalidade de adoção se diferenciaria da
adoção via Cadastro de Pretendentes.
Fernanda Mariano aponta que apesar da lei e da prioridade dada ao
Cadastro de Pretendentes à Adoção, as adoções “prontas” continuam acontecendo
e estão em constante transformação. Para a pesquisadora, a multiplicidade desta
prática adotiva ilustra a necessidade de estudos, olhares e ações que abarquem o
dinamismo e a pluralidade das configurações das famílias brasileiras, suas formas
de sobrevivência, manutenção e sustentação.
Através da tese de Maria Antonieta Pisano Motta, somos conduzidos a uma
posição mais humanizada com relação a esta genitora que entrega o filho em
adoção, ponderando que neste ato estão implicados muitos sentimentos por parte
da mãe que entrega e não apenas a frieza e a labilidade que se atribuía pela maioria
das pessoas e até mesmo por nós técnicos que atendem esta demanda.
As autoras estudadas trazem a realidade de várias formas de adoção,
mesmo dentro das configurações das adoções prontas.
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REFERÊNCIAS
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COORDENADORAS
AUTORES
D’Oeste
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AGRADECIMENTOS
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INTRODUÇÃO
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Sendo assim, nossa proposta foi abordar o assunto, considerando suas várias
faces: ponderamos os aspectos jurídico-legais, buscamos aprofundar a
compreensão sobre vínculos e especialmente sobre vínculos fraternos, na
expectativa de compreender a correlação entre estes elementos.
Para tanto, recorremos à pesquisa bibliográfica sobre o tema, constatando a
relativa escassez e novidade da referida literatura. Desta forma, recorremos a outras
ferramentas didáticas que nos permitiram abordar o assunto.
Assistimos ao filme December Boys (Um verão para toda vida) e também
contamos com a participação expositiva da psicóloga Maria Luiza Ghirardi, que
recentemente escreveu um artigo específico sobre o tema. Recebemos ainda
Manoela Goldoni, membro da AMI – AMICI MISSIONI INDIANE, que nos trouxe sua
percepção e experiência prática na adoção internacional de irmãos.
Importante salientar que todo este movimento foi constantemente alimentado
pelo compartilhamento de nossas experiências cotidianas, favorecendo o
intercâmbio entre teoria e prática, do mesmo modo que revestindo de realidade as
proposições teóricas e legais.
Feitas as elucidações necessárias, apresentamos uma síntese de nossas
reflexões.
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O filme December Boys narra a história de quatro meninos que viviam numa
instituição de acolhimento, conforme sinopse no anexo 1. Em relação ao filme, em
sua exposição, Ghirardi pontuou que a mobilização vivenciada pelo grupo e também
por ela, ao assisti-lo, pode dar acesso a conteúdos muito significativos sobre nossa
experiência nesses casos, uma vez que a princípio, enquanto obra cinematográfica
propriamente dita, ele poderia ser considerado um filme leve, apesar de ser um
drama, passível de fazer parte da programação da “sessão da tarde”, na televisão.
Diante disso, perguntou aos participantes se poderiam compartilhar os aspectos
mais relevantes para cada um.
Uma das integrantes do grupo destacou a frase do personagem que remete,
por suas memórias, ao enredo do filme, logo nas primeiras cenas, cujo sentido era
mais ou menos o seguinte: “o que mais me angustiava era a sensação de que algo
nos estava sendo roubado” (quanto aos seus sentimentos na instituição de
acolhimento onde vivia). Para a integrante do grupo, a percepção que teve foi de
que talvez nunca tenhamos acesso, enquanto profissionais, ao que seria estarmos
no lugar deles (crianças e adolescentes na instituição). Isso geraria também um
sentimento de impotência para nossa atuação, em alguns momentos, pois muito do
que ocorre, seja talvez inimaginável para nós. O que seria viver sem uma
experiência de família, por exemplo?
Nesse sentido, Ghirardi pontuou em sua exposição que o filme parece trazer
situações paradoxais e nos remete ao nosso próprio conceito de família,
despertando sentimentos de desamparo e abandono. Comentou que ele vem
quebrar alguns conceitos arraigados sobre família quando, por exemplo, a própria
relação entre os meninos os fez concluir, em certo momento da história, que já
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Importante pensar também que ninguém se identifica com alguém que lhe é
insignificante. Esse seria um ponto relevante a ser considerado no momento em que
se deseja avaliar a pertinência dos irmãos continuarem juntos ou separados.
Reportando-se ao filme, a expositora acenou para a reflexão sobre aquilo que
uniria e identificaria os personagens: um primeiro aspecto poderia ser o fato dos
garotos terem nascido no mês de dezembro, ligação promovida pela própria
instituição que comemorava seus aniversários conjuntamente; e um segundo
aspecto, no fato de serem órfãos e todos, por assim dizer, “estarem no mesmo
barco”.
Desse modo, no filme, os garotos foram tecendo relações entre si e através
da relação e convívio construíram traços de identificação, o que desmistificaria
também a crença de que basta o laço de sangue para construir um grupo de irmãos,
pois a convivência é fundamental. Podemos referir isso às regras e aos rituais que
os garotos vivenciavam na instituição, tornando-os unidos e cúmplices na interação
institucional. Pautados nestes aspectos, começaremos a fundamentar a nossa
avaliação sobre um grupo de irmãos.
Assim, se pensarmos no enredo do filme, seria possível supor que o garoto
mais velho parecia estar mais aberto para uma relação amorosa do que
necessariamente para estabelecer uma relação de filiação e o garoto mais novo, a
princípio, parecia expressar mais interesse em ser adotado.
Os meninos tinham idades diferentes e também apresentavam necessidades
singulares. Do mesmo modo, o lugar de cada um dentro de uma fratria não é o
mesmo. As crianças devem ser consideradas em suas diferentes fases de
desenvolvimento e demandas. Seria necessário observar como se relacionam e os
lugares e funções assumidos dentro do grupo em questão, seja ele consanguíneo ou
não.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A primeira conclusão a que chegamos ao longo dos trabalhos neste ano foi a
constatação de escassa bibliografia sobre vínculo fraterno na adoção, o que talvez
se justifique pelo fato da temática ser algo novo enquanto objeto de estudo da
ciência. Percebemos que a maioria da literatura produzida está centrada nos
aspectos conflitivos da relação fraterna.
Se a abordagem científica do assunto é recente, o mesmo se pode dizer do
artigo legal que expressa literalmente a prioridade de manutenção do grupo de
irmãos, uma vez que o mesmo foi incluído pela Lei 12.010, em 2009, de modo que
ainda não se desvelou, por exemplo, quais os impactos da lei e se ela alterou o
cenário da adoção no tocante à adoção de irmãos.
O estudo do tema favoreceu-nos a desmistificação do vínculo fraterno, que,
tal como o vínculo materno-filial, é socialmente construído. A ligação biológica não
favorece nem determina a qualidade da vinculação entre os irmãos, sendo este
relacionamento permeado por vários fatores e circunstâncias ensejadoras (ou não)
do mesmo.
Assim, é possível a existência de irmãos que não tenham construído tais
laços e/ou os tenham construído de formas diferentes para com cada membro da
fratria. A convivência e o contato diário são fatores fundamentais para a construção
do vínculo fraterno, sendo que isso pode acontecer inclusive entre aqueles que não
possuem consanguinidade.
Outro ponto interessante foi o reconhecimento da subjetividade que perpassa
o tema: é inevitável que nossas crenças, valores e experiências pessoais
influenciem o modo como concebemos os laços afetivos entre irmãos, o que
provavelmente também acontece com os demais atores sociais envolvidos na
adoção.
Também nos deparamos com a impossibilidade de criação de regras e/ou
“protocolos” para abordagem do assunto, dada a singularidade de cada caso e das
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ANEXO 1
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HARDY, Rod. DECEMBER BOYS, Um verão pra vida toda (Filme). 105min. color.
drama. Warner, Austrália, 2007.
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COORDENADORAS
AUTORES
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INTRODUÇÃO
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O termo droga teve origem na palavra droog (holândes antigo) que significa
folha seca; isso porque antigamente quase todos os medicamentos eram feitos à
base de vegetais. Há milhares de anos o ser humano tem contato
com vários tipos de drogas, seja para alterar o estado da mente ou do corpo. O
conceito, segundo a OMS, é qualquer substância que, introduzida no organismo,
interfere no seu funcionamento.
Pode-se dizer que não há uma história das drogas, mas uma história do uso
de drogas. O consumo dessas substâncias induz a um estado alterado de
consciência o que, para muitos, proporciona uma expansão da mente e uma nova
forma de estar no mundo.
As pinturas rupestres são um dos registros mais antigos da Pré-História e
alguns especialistas afirmam que tais desenhos podem indicar o uso de substâncias
psicoativas, especialmente os cogumelos alucinógenos.
Há estudos que apontam a importância das plantas psicoativas na evolução
humana e o início de nossa crença na existência de um ser superior, configurando-
se nas primeiras experiências religiosas (Ruck, 2009). Para a maioria das
sociedades antigas politeístas as drogas eram um caminho de acesso às
divindades, funcionando como uma espécie de portal para o reino dos espíritos.
No momento em que o cristianismo determinou que o único caminho para a
Salvação era a fé em Jesus Cristo (Eu sou o caminho, a verdade e a luz e Ninguém
vai ao Pai senão por mim), as drogas passaram a ameaçar o monopólio da Igreja na
esfera da conexão com Deus. Dessa forma, elas tornaram-se uma heresia a ser
combatida.
Nesse contexto começaram as primeiras leis proibicionistas. A visão das
drogas como uma atividade imoral principiou a partir dos séculos IV e V, com os
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mudanças. A meta da redução progressiva dos riscos e danos traz maiores chances
de pequenas mudanças no estilo de vida, sem demandar alterações radicais das
práticas e escolhas pessoais dos usuários. Busca-se, assim, viabilizar um processo
de conscientização que promova a superação da dependência física e psicossocial.
7. PROIBIR OU LIBERAR?
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usuário eventual é bem maior do que o risco de se tornar dependente. Sendo assim, os usuários
ocasionais não necessitariam utilizar os serviços de saúde.
Do ponto de vista da segurança pública, o modelo coercitivo de combate às drogas
ilícitas não impediu que as organizações criminosas enriquecessem com o controle da produção,
da venda e da distribuição dos entorpecentes e, nesse cenário, os usuários foram criminalizados.
Para a vertente liberalista, a descriminalização deixa de estigmatizar e criminalizar o usuário.
Nesta perspectiva, entende-se que, a exemplo do que ocorre com as drogas lícitas, a
regulamentação e o controle das drogas ilícitas pelo Estado tenderia a reduzir a violência
associada ao tráfico e ao crime organizado.
Ainda segundo os proibicionistas, os pequenos traficantes – pessoas que traficam para
assegurar o próprio consumo - são os principais responsáveis pela chegada da droga ao
consumidor e não devem ser considerados meros usuários. Já no polo oposto, voltado para a
proteção e para a redução de danos, o processo educativo torna-se um grande aliado da
conscientização do uso. Nessa concepção, o usuário é retirado da condição de “vítima da droga”
e torna-se responsável pela sua administração e consumo.
As especificidades sociais (emprego, distribuição de renda), geográficas (rota de tráfico),
políticas, educacionais e culturais mostram-se relevantes para o sucesso ou fracasso das
políticas proibicionistas e liberalistas em diferentes países. Para além da polarização da
proibição-liberação das drogas, a reflexão sobre a criminalização de usuários, os efeitos da
legalização e a estrutura dos serviços de atendimento em saúde mental são fundamentais para o
desenvolvimento de políticas de enfrentamento mais efetivas para a realidade brasileira.
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CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
ARAÚJO, T. (2007). Proibir é legal? Revista Superinteressante, n. 244, out. 2007.
Disponível em: <http://super.abril.com.br/historia/drogas-proibir-legal-447236.shtml>.
Acesso em: _________.
HARDT, C. É preciso ensinar a usar drogas. São Paulo: Folha de São Paulo
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/05/1452694-e-preciso-
ensinar-a-usar-drogas-diz-neurocientista.shtml>. Acesso em> 11 de mai. 2014.
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content/files_mf/111712120808Drogas:%20o%20encantamento%20do%20Mal%20
%E2%80%93%20Angela%20Hygino%20e%20Joanna%20Garcia.pdf>. Acesso em
11 de set. 2014.
PÉREZ - CAJSRAVILLE J., Abijón D., Ortiz J.R., Pérez J.R. El dolor y su tratamiento
através de la historia. In:Revista de la Sociedad Española del Dolor, 2005. 12, 373 -
384.
XAVIER, D. Drogas: fizemos a guerra contra o inimigo errado. Revista Forum, 126.
São Paulo, 2013. Disponível em:
<http://www.revistaforum.com.br/blog/2013/09/drogas-fizemos-a-guerra-contra-o-
inimigo-errado/>. Acesso em; 20 de set. 2013.
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Peterson e Zill (1986) após um minucioso estudo com 2.301 crianças de pais
separados verificaram que as menos deprimidas conviviam com ambos os pais.
Nesta mesma linha, Jacbson (1978) constatou que quanto mais tempo a criança fica
longe de seu genitor, maior era o grau de desajustamento quanto à agressão e
dificuldades de aprendizagem. Ou seja, o fator preponderante parece advir não do
divórcio em si, mas do tempo de convivência entre pais e filhos, após o divórcio.
Para Stewart (2001) existem diferentes fatores que contribuem para o divórcio
se tornar litigioso. Ele dividiu em três níveis: externo, interno e relacional, conforme
especificado a seguir.
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imenso carinho pelos netos. Contudo, por mudanças diversas, tem havido um
aumento considerável de casos em que os avós passam a desempenhar o papel de
pais, em alguns casos com todas as funções pertinentes, deixando de viver a
experiência de serem simplesmente avós.
Dellman-Jenkins et al. (2002) dizem que os avós tiveram seus papéis
expandidos e agora eles têm netos vivendo consigo, obtém sua custódia legal e lhes
oferecem cuidados diários, além de se responsabilizarem, também, financeiramente
por eles. A forma de vivenciar esses papéis não são novos, mas acontece em novas
circunstâncias bastante diversificadas, podendo sofrer influência dos novos arranjos
familiares.
No que se refere à estrutura familiar, há dois modelos distintos que englobam
avós e netos nessa situação de cuidado e papéis expandidos. Na primeira, há os
lares compostos por três gerações que teve considerável aumento a partir da
década de 1980, em que ambos os pais ou ao menos um deles reside com avós e
netos. Já na segunda, mais comum a partir da década de 1990, os pais estão
ausentes do lar e cabe aos avós todo o cuidado dos netos (GOODMAN &
SILVERSTEIN, 2002).
As estruturas familiares citadas trazem consigo exigências e consequências
distintas para os avós. Há avós que cuidam dos netos por um período do dia, porque
os pais precisam trabalhar e não tem outro local onde as crianças possam ficar
quando não estão na escola, ou ainda em tempo integral, porque toda a família
reside nos chamados lares multigeracionais devido a, por exemplo, dificuldades
financeiras.
Em relação às causas que conduzem avós a assumirem essa
responsabilidade, a literatura aponta alguns dos principais fatores: inserção das
mulheres no mercado de trabalho, dificultando-lhes o cuidar integral dos filhos;
dificuldades econômicas como desemprego dos pais e necessidade de ajuda
financeira por parte dos avós; necessidade de ambos os pais trabalharem para
proverem o sustento doméstico; divórcio do casal com retorno para casa dos pais,
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juntamente com os netos; novo casamento de pais separados e não aceitação das
crianças por parte do cônjuge; gravidez precoce e despreparo para cuidar dos filhos;
morte precoce dos pais devido à violência ou doenças como a AIDS; incapacidade
dos pais decorrente de desordens emocionais ou neurológicas; uso de drogas ou
envolvimento em programas de recuperação para usuários de drogas; envolvimento
em situações ilícitas e problemas judiciais. (SANTOS, 2003; MINKLER & FULLER-
THOMSON, 1999; DELLMAN-JENKINS ET AL., 2002; GOODMAN & SILVERSTEIN,
2002; GLASS JR. & HUNEYCUTT, 2002).
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Muitas pessoas fazem parte dessa nova família: a mulher do pai, o marido da
mãe, os filhos do marido da mãe, os filhos da mulher do pai que passam a conviver
junto como se fossem da “mesma família”. Com a madrasta e o padrasto a
criança/adolescente ganha também os “avós-drastos”, primos, tios, meios irmãos.
.Essa grande família tem como componente a proximidade afetiva e não a
proximidade dos laços de sangue.
Borges (2007) em seu livro: “A Mulher do Pai – Esta estranha posição dentro
das novas famílias”, aponta que “a mulher do pai não existe na instância jurídica da
família e não tem direito legal ao qual possa recorrer...” (2007:26). Ela é mulher do
pai, não faz parte da família dos filhos do pai, não é nada deles e os filhos do pai
não são nada seus. De acordo com a autora:
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3. A ALIENAÇÃO PARENTAL
A SAP foi definida em meados dos anos 1980 Motta, Sousa e Brito (2010),
pelo psiquiatra norte americano Richard Gardner como um distúrbio infantil que
ocorreria especialmente em menores de idade expostos às disputas judiciais de
seus pais. A despeito de inúmeras controvérsias sobre o assunto, atualmente a SAP
se encontra no centro dos debates sobre litígio conjugal e guarda de filhos.
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A onda de falsas denúncias que tem invadido os tribunais, por todo o país,
tem chamado a atenção pelo fato das acusações, em geral, surgirem no meio de um
litigio de “ex-casal” (pela guarda, pelo dinheiro ou pelo ciúme da nova relação, por
uma das partes). Abordado de forma lívida, por alguns advogados, com a finalidade
de garantir o direto da parte que defende, acabam colocando as crianças e
adolescentes em situação de violência psicológica.
O objetivo deste ensaio é apresentar, dentro do estudo de casos altamente
litigiosos, alguns apontamentos sobre a prática diária dos técnicos (assistentes
sociais e psicólogos) do judiciário e as dificuldades que os mesmos enfrentam ao
lidar com este tema, diante da atual falta de recursos técnico-estruturais. Esses
apontamentos são voltados não apenas à perspectiva do litigio (visão adversarial),
mas, especialmente, ao viés do comportamento humano (adulto) em sociedade
(visão de homem integrado) em prol dos interesses infanto-juvenis.
A trajetória metodológica adotada, para este ensaio está pautada na escolha
de autores e textos pertinentes ao tema. Para viabilizar a confecção do estudo foram
realizadas leituras de textos científicos (indicados pelo Grupo de Estudos: “Casos
Altamente Litigiosos”) e, também, em alguns livros que tratam da temática proposta.
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De acordo com o Dicionário Online Infopédia (2014)7, o termo “abuso” vem do verbo
abusar, que significa “ação de fazer uso incorreto, excessivo, injusto, impróprio ou
indevido de algo ou de alguém”. Por essa definição de abuso, temos: a) abuso de
poder; b) abuso de confiança; c) abuso de direito; d) abuso de representação; e)
abuso sexual. Embora todos esses tipos de abusos, de certa forma, possam causar
violência psicológica em crianças e adolescentes, optou-se por discorrer
exclusivamente sobre as falsas denuncias de abuso sexual infantil.
O abuso sexual infantil pode ser definido como qualquer interação entre uma
criança e alguém em estagio sexual de desenvolvimento mais adiantado, que tenha
por fim a satisfação sexual deste último. As interações podem variar desde atos em
que não se produz o contato sexual (voyeurismo, exibicionismo, produção de fotos,
etc.) até atos que incluem contato sexual com ou sem penetração (OMS, 2002).
É importante ressaltar que uma falsa denúncia de abuso sexual infantil
também pode ser considerada um tipo de abuso contra as crianças.
De acordo com Calçada (2008), as crianças são compulsoriamente
submetidas a uma mentira, sendo emocional e psicologicamente manipuladas e
abusadas. As vítimas de falsas acusações de abuso sexual, certamente correm
riscos semelhantes às crianças que foram abusadas de fato, ou seja, estão sujeitas
a apresentar algum tipo de patologia grave, nas esferas afetiva, psicológica e sexual.
Essa falsa denúncia passa a fazer parte de suas vidas e, por causa disso, terão de
enfrentar vários procedimentos (análise social, psicológica e judicial) com o intuito de
esclarecimento da verdade.
No Brasil, um dos motivos para a maior evidencia do tema deve-se a recente
Lei nº 12.318 de 26 de agosto de 2010, que dispõe sobre atos de alienação parental.
Na referida lei, as falsas alegações aparecem apenas ligadas à intenção de provocar
afastamento da criança de familiares injustamente acusados.
Nesse sentido, dispõe o parágrafo único do artigo 2º:
7
Fonte: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/abuso;jsessionid=L4ehuP9FGVBjEw+8Ne6CmA__
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Assim, a referida Lei no contexto do divórcio dos pais visa ratificar o direito de
crianças e adolescentes à convivência familiar e sua integral proteção, direito esse
fundamental também assegurado na Constituição Federal e Estatuto da Criança e
Adolescente.
Tendo em vista as novas configurações familiares e deveres parentais
exercidos de forma igualitária (garantia legal) cabe aos técnicos judiciários,
assistente social e psicólogo o enfrentamento dessa questão no seio da família em
litígio, atuando na defesa do poder familiar, sempre visando o superior interesse da
criança.
Segundo Sirlei Martins da Costa, membro do IBDFAM, é no estágio mais
avançado do processo de alienação parental que surgem as falsas denúncias de
abuso sexual tornando-se evidente que, no contexto da separação, a proteção à
criança não se encerra com o julgamento do processo.
Devem ser indicadas medidas de proteção, programas de atenção e
acompanhamentos da rede de atendimento, com vistas à superação das situações
de violência e efetivação de direitos.
Amendola (2009) realizou importantíssima pesquisa de campo a partir da
prática psico-jurídica, cuja conclusão aponta para este mesmo sentido. Observam-
se, também, alguns desdobramentos da nova lei, como o documento produzido pela
Comissão de Inquérito Policial sobre pedofilia realizada pelo Senado Federal, em
2010, o qual aponta para a alta frequência da ocorrência das falsas alegações de
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psicologia ingênua) há um salto gigante que não nos é possível nem lógico anuir
(VINTERBERG, 2012).
De acordo com Amendola (2008), a literatura psicológica manifesta que,
quando uma criança mente (em certas circunstâncias) é porque algo (alguma
contingência) a fez acreditar naquilo. Cabe aos profissionais averiguar essa mentira
com profundidade, pois podem existir “muitas verdades” em torno do relato de uma
criança.
A segunda situação está atrelada à influência que a criança recebe de um
adulto (ou adolescente). Conforme apontam Rovinski e Cruz (2009), as crianças são
bastante sugestionáveis, devido à plasticidade neural e psíquica, em
desenvolvimento. Elas são suscetíveis à implantação das chamadas “falsas
memórias”, que é considerado, por alguns autores, como o estágio mais avançado
de alienação parental (CALÇADA, 2008).
Para Amendola (2008), a alienação parental sempre existiu e acontece
quando um dos genitores (geralmente uma pessoa que se sente abandonada por
outra e tomou a decisão de por fim à convivência conjugal) passa a manipular os
filhos para que estes se afastem e, até mesmo, odeiem aquele que havia deixado o
lar comum.
Ao tentar ferir a outra pessoa, o ex-cônjuge ativo do comportamento alienante
fere muito mais a criança (mesmo que esta não seja sua intenção). De acordo com
Amendola (2008), uma criança submetida a essas condições (de alienação parental)
sofre de um dos maiores medos do ser humano – o medo do abandono. Por isso, a
criança cria estratégias para não insultar o genitor-guardião.
Segundo a autora, é comum que essa criança se altere sem motivos quando
uma visita programada se aproxima e se negue veementemente encontrar o genitor-
alvo, enquanto o genitor alienador finge estar surpreso com esse tipo de reação da
criança. Por consequência, essa criança aprende cedo a manipular e
constantemente joga um genitor contra o outro na intenção de ganhar alguma
vantagem ou benefício.
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mantêm em silêncio sendo abusadas por tempo prolongado sem que ninguém tenha
conhecimento.
Segundo Brockhausen (2011), o abusador nega a ocorrência do abuso
atribuindo mentira à criança – tanto o abusador como a vítima de falsa alegação de
abuso sexual assume nas entrevistas uma postura defensiva para se livrarem da
acusação. Em ambos os casos não demonstram a preocupação com o tratamento
da criança, sua saúde, detalhes do abuso, etc. Por isso, é preciso que o profissional
mantenha a mente verdadeiramente aberta quanto à possibilidade de ocorrência ou
não do abuso sexual.
A criança abusada pode negar que foi vitimizada e o profissional
inadvertidamente pode ser levado a arrancar um relato da criança confirmando um
abuso que não houve especialmente em casos de crianças menores que são mais
sugestionáveis e, portanto, tendem a responder conforme espera o entrevistador.
Levando em consideração tais teorias, é possível afirmar que muitos
profissionais se dão por satisfeitos na avaliação, diagnosticando ocorrência de
abuso mesmo sem obter a confirmação da criança, ou, ainda, entendendo que
qualquer confirmação da criança deva ser válida. A ausência de uma crítica
profissional maior pode ser desencadeada a partir da ideia prévia e fixa de que as
crianças abusadas são desacreditadas, desprotegidas ou amedrontadas e, portanto,
não podem ter suas afirmações avaliadas quanto à veracidade; ou, ainda, os
profissionais entendem não ser de grande importância obter o testemunho infantil
mais detalhado, fazendo desfecho apressado do caso, pois a criança teria sido
desprotegida por muito tempo, deixando assim de se aterem a maiores
investigações.
A posição do profissional em “querer proteger a criança” despertada pela
realidade factual de crianças vítimas pode levar o profissional dispensar uma atitude
mais próxima de ser imparcial, questionadora e flexível, embora esteja claro que a
consequência do trabalho do psicólogo e do assistente social é exatamente de
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criança” a partir de dois ou três indícios de abuso, ou, ainda, a partir de indícios
colhidos através de fala verbal de terceiro, por exemplo, de quem acusa.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
BORGES, Fernanda Carlos. A Mulher do Pai. Essa estranha posição dentro das
novas famílias. Summus Editora, São Paulo,2007.
DREW, Linda M.; SMITH, Peter K. Implications for grandparents when they lose
contact with their grandchildren: divorce, family feud and geographical separation.
Journal of Mental Health Aging, v. 8, n. 2, p. 95-119, Summer 2002.
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SANTOS, Silvia Maria Azevedo dos. Infância e velhice: o convívio que nos abre
caminhos.” In: GUSMÃO, N. M M (Org.) Infância e velhice: pesquisa de idéias.
Campinas: Alínea, 2003. p. 47-56. Cap. 3.
COORDENADORES:
Carlos Henrique de Francisco - Assistente Social Judiciário – F.D. Campo Limpo
Paulista
Célia Laura Camillo Muchatte Trento - Assistente Social Judiciário – Comarca de
Pacaembu
AUTORES
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INTRODUÇÃO
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A palavra estigma representa algo de mal, que deve ser evitado; uma ameaça
à sociedade, isto é, uma identidade deteriorada por uma ação social.
A disparidade entre as classes sociais é um processo histórico que se
enraizou ideologicamente na cultura da sociedade brasileira desde o Brasil Colônia.
A pobreza, além de ser uma condição que abarca tantas dificuldades para se
viver com um mínimo de dignidade, estigmatiza, imprimindo nos indivíduos que nela
vivem o rótulo desqualificador de ser pessoa de segunda categoria.
Ilustrativos desse processo são as palavras do padre José de Anchieta (1534-
1597), célebre missionário jesuíta que veio da Europa para participar da
evangelização dos povos indígenas: “Pouco fruto pode se obter deles se a força do
braço secular não acudir para domá-los. Para esse gênero de gente não há melhor
pregação do que a espada e a vara de ferro.” (COTRIM, 1994, p. 33).
Essa frase sintetiza claramente que a discriminação social é um processo
histórico que está enraizado ideologicamente desde a invasão das Américas,
quando os europeus conquistaram brutalmente o continente e trouxeram um
conjunto de ideias de superioridade cultural, estigmatizando os povos conquistados
com representações de gente promíscua, sem alma e inferiores.
Ainda segundo Cotrim (1994), a formação da nação brasileira constituiu-se
exatamente da mistura de três povos, índios, africanos e europeus. No entanto, os
negros e os índios sempre foram tidos como gente bestial, selvagem e as
miscigenações raciais não aconteceram de maneira pacífica. A ideia da democracia
racial é falsa; índias e negras foram vítimas de estupro por europeus e foi dessa
forma que se constituiu a nação brasileira, de modo violento, excludente e
discriminatório, formando uma nação dividida: de um lado, aquela tida como
civilizada, e de outro, aquela perigosa, com tendências ao crime e à ociosidade. No
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civilização: nossa visão sobre eles é de quem passa na porta dos pobres, mas não
penetra seu mundo por ser perigoso.”
Segundo Nascimento (2012)
O mais contraditório em tudo isso é que esta ideia está enraizada em nossa
cultura, em nossa própria identidade, onde o Poder Judiciário não foge à regra.
No estudo da temática vimos que a sociedade brasileira, reprodutora de uma
lógica histórico-cultural excludente elevou a desigualdade social a patamares tão
altos a ponto de cercear direitos básicos e acesso às condições mínimas de
assistência pública.
No artigo “A Desigualdade e Pobreza no Brasil”, 2000, p. 01, Barros,
Henriques e Mendonça retratam:
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DESAFIOS E ESTRATÉGIAS
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A autora ainda cita: “a luta por direitos humanos, uma luta que,
necessariamente se trava na esfera pública e uma dimensão maior que aquela
expressa pelo Sistema de Justiça” (AGUINSKY, 2006, p. 24).
A necessidade de ações coletivas que, também envolvam outras categorias
profissionais e de outras áreas do conhecimento, é outro desafio a ser colocado:
Aguinsky (2006) esclarece a importância em se desenvolver competências
profissionais que através, da interdisciplinaridade, venham a promover a ampliação
das articulações entre as demandas dos usuários que buscam a justiça e as
políticas públicas enquanto universalização de direitos. É o fortalecimento da rede
de atendimento socioassistencial para que, bem articulada, possa atender às
famílias sem que estas necessitem recorrer à justiça. Afirma ainda:
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O Serviço Social, tendo por objeto a questão social, deve posicionar-se atento
à efetivação das políticas públicas. Assim, não podemos:
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CONCLUSÃO
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ANEXO
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BIBLIOGRAFIA
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MELO, André Luis Alves de: Artigo: Pobreza gera crime? Disponível em: <
http://amp-pr.jusbrasil.com.br/noticias/2541895/artigo-pobreza-gera-crime-andre-luis-alves-
de-melo-promotor-de-justica-em-mg > Acesso em: 11 de novembro de 2014
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COORDENADORAS
AUTORES
Ana Rita de O. Leme Costa – Psicóloga Judiciária - Foro Regional III – Jabaquara
Cibele Moreira Giacone – Psicóloga Judiciária – Foro Regional IV – Lapa
Claúdia Figliagi Sellmann Nazareth – Psicóloga Judiciária – Comarca de Itapecerica
da Serra
Cristiane Andrade Garcia – Assistente Social Judiciário – Foro Regional IV – Lapa
Elisabeth Werneck Fontainha Simões – Assistente Social Judiciário – Comarca de
Santa Branca
Elisângela Sastre - Assistente Social Judiciário – Comarca de Sorocaba
Fátima Aparecida de Lima - Assistente Social Judiciário – Varas Especiais da
Infância e Juventude
Vargem Grande Paulista
Henilda Maria Amâncio – Assistente Social Judiciário – Comarca de Águas de
Lindoia
Leila Aparecida Bomfim – Assistente Social Judiciário – Varas de Família e
Sucessões do Foro Central
Lilian de Moura – Assistente Social Judiciário - Varas Especiais da Infância e
Juventude
Luciana Firmino – Assistente Social Judiciário – Comarca de Sorocaba
Maria Bernadete Francisco - Assistente Social Judiciário – Comarca de Botucatu
Marina Tomé Teixeira – Assistente Social Judiciário – Comarca de Mairiporã
Marlene Pereira de Lima - Assistente Social Judiciário – Comarca de Diadema
Mônica Menistrel de Oliveira - Assistente Social Judiciário – Comarca de Campinas
Mônica Sofia Toledo Zanotto – Psicóloga Judiciária - Varas Especiais da Infância e
Juventude
Regina Célia Andreazzi – Assistente Social Judiciário - Varas Especiais da Infância e
Juventude
Rosenilda Maria da Silva – Psicóloga Judiciária – Comarca de Mogi das Cruzes
Takeko Gushiken – Assistente Social Judiciário – Comarca de Botucatu
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1. INTRODUÇÃO
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Segundo o Dicionário do Houaiss da Língua Portuguesa o sentido etiológico da palavra “dilema”
remete a “necessidade de escolher entre duas saídas contraditórias e igualmente insatisfatórias”.
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Goffman, Erving. Manicômios, prisões e conventos. Debates Psicologia: Editora Perspectiva, São
Paulo, 1974.
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estudo deve incluir uma criteriosa avaliação dos riscos a que estão submetidas
crianças e adolescentes, bem como os recursos e potencialidades da família
extensa e da rede social de apoio, sendo importante ouvir todas as pessoas
envolvidas e, em especial, as crianças e adolescentes.
Lembrando que a decisão de afastamento da criança/adolescente de sua
família tem sérias implicações, a melhor solução seria aquela que melhor represente
o interesse da criança/adolescente e o menor prejuízo para o seu desenvolvimento.
No entanto, mesmo com tal afastamento, deve-se manter a atenção à família
de origem como uma forma de abreviar a separação e promover a reintegração
familiar: “Somente quando esgotadas as possibilidades de reintegração familiar é
que se deverá proceder à busca por uma colocação familiar definitiva, por meio da
adoção.” (Idem, p. 40).
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situação do ponto de vista legal. De acordo com o PNCFC, esse modelo inviabiliza a
garantia da excepcionalidade da medida e, como consequência, compromete a
adoção voltada à defesa do interesse superior da criança e do adolescente.
Já, a segunda implica no registro do filho de outrem como seu, acarretando
ainda maiores prejuízos à Garantia de Direitos da Criança.
Apontam-se também questões histórico-estruturais, resultando em graves
desigualdades sociais, como fatores que constituem verdadeiros obstáculos para as
famílias empobrecidas cuidarem de seus filhos, favorecendo a adoção por terceiros.
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Por outro lado, o grupo também trouxe experiências positivas, nas quais o
investimento na família de origem rendeu o retorno satisfatório das crianças
envolvidas.
Outras questões emergem de tal dilema:
Não seria mais adequado que o desligamento da instituição de acolhimento
ocorresse se efetivamente o diagnóstico psicossocial dos respectivos grupos
familiares indicassem condições favoráveis para o retorno da criança ou
adolescente?
Qual o papel dos profissionais do TJ para a efetivação da rede de apoio local?
3. A pobreza – o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) afirma, em seu artigo
23, que “a pobreza não pode ser motivo de acolhimento institucional de crianças
e adolescentes”. O PNCFC descreve um conjunto de ações, entre as quais, a
busca de apoio da família extensa e o atendimento integrado devem ser
desenvolvidos por uma rede de serviços de Educação, Saúde, Habitação,
Assistência, etc.
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Perguntamos, então:
O que fazer quando o abrigo se mostra mais adequado para os cuidados da
criança ou adolescente, do que o ambiente familiar adoecido?
Em que medida o sistema de acolhimento institucional está preparado para
atender tais demandas de saúde mental?
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http://www.knoow.net/ciencsociaishuman/filosofia/problema.htm
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REFERÊNCIAS
______. Lei Federal n. 12.010/2009. Dispõe sobre adoção. Brasília, 2009. Disponível
em:
<http://www.mp.sp.gov.br/portal/page/portal/infanciahome_c/adocao/Legislacao_ado
cao/Federal_adocao>. Acesso em: 10/08/2014.
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COORDENADORAS
Aline Christina Torres – Psicóloga Judiciária – Varas Especiais da Infância e
Juventude
Luiza Gabriella Dias de Araujo – Assistente Social Judiciário – Comarca de Mogi das
Cruzes
AUTORES
Cristina Carta – Psicóloga Judiciário – Comarca de Jales
Camila Fernanda Galvão Oliveira de Almeida – Psicóloga Judiciário – Comarca de
São José dos Campos
Camila Manduca Ferreira – Assistente Social Judiciário – Comarca de Ribeirão Pires
Carla Cristiane Oliveira Santos Almeida – Assistente Social Judiciário – Comarca de
São Bernardo do Campo
Claudia Corrêa Gomes da Cunha – Assistente Social Judiciário – Comarca de
Lorena
Deborah Souza Leite – Assistente Social Judiciário – FR. V São Miguel Paulista
Elaine Cristina dos Santos Souza – Assistente Social Judiciário – Comarca de
Tanabi
Eliana Cléia dos Santos Ferreira – Assistente Social Judiciário – Comarca de
Itanhaém
Esther Almeida Santana – Assistente Social Judiciário – Comarca de
Itaquaquecetuba
Fátima Regina Correia dos Santos – Assistente Social Judiciária – FR. IV Lapa
Lisiane Schandler de Oliveira – Psicóloga Judiciário – Comarca de Itapeva
Maithe Ribas – Psicóloga Judiciário – Comarca de Itanhaém
Mara Maria Ferreira de Almeida – Assistente Social Judiciário – Comarca de
Sorocaba
Márcia Pulice Mascarenhas – Psicóloga Judiciário – FR. I Santana
Maria Beatriz da Rocha Alarcon – Assistente Social Judiciário – Vara da Família e
das Sucessões – Foro Central
Maria Helena Célia Cardoso – Assistente Social Judiciário –Varas Especiais da
Infância e Juventude
Patrícia Maura Silva de Lima – Assistente Social Judiciário – Comarca de Votorantim
Regiane Ortolam – Assistente Social Judiciário – Comarca de Sorocaba
Regina Maria Sivieri de A. Gomes Serrão – Assistente Social Judiciário – Comarca
de Itanhaém
Sonia Fatima da Silva – Assistente Social Judiciário – Comarca de Itapecerica da
Serra
Sueli Aparecida Corrêa – Psicóloga Judiciário – Comarca de Sorocaba
Vanessa Aparecida Gonçalves – Assistente Social Judiciário – Comarca do Guarujá
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
INTRODUCÃO
201
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
DESENVOLVIMENTO
1. Adoecimento
2. Cotidiano e Resistência
profissional. Lembra que pensar o cotidiano exige uma reflexão profunda acerca da
necessidade de compreender não apenas a aparência do real, mas sua essência e o
significado do fazer profissional.
O cotidiano é algo insuprimível, é o espaço de produção e reprodução da vida
e por isso possui elementos alienadores que nos “enganam”, pois não se constituem
apenas da superficialidade que nos é dada na imediaticidade do real. Ao contrário, o
cotidiano é expressão de um conjunto de determinações que podem ou não nos
impulsionar a reproduzir na ação profissional a ideologia dominante preconceitos e
senso comum ajustadores de padrões de comportamentos e análises
conservadoras.
Desta forma, é necessário estabelecer estratégias que possibilitem ao
profissional “suspender” o cotidiano para analisá-lo e refleti-lo criticamente, pois
sendo repleto de contradições, exige a mediação entre o singular e o universal, de
modo a privilegiar uma ação transformadora.
Refletimos de que modo poderiam ser desenvolvidas estratégias de
“suspensão” do cotidiano na realidade de trabalho que atuamos. O grupo relatou
experiências do Executivo no desenvolvimento de processos sistemáticos e
contínuos de Educação Permanente e Supervisão Profissional, que permitem fazer a
crítica e criar novas estratégias de ação.
Consideramos no debate que o processo de transformação da ação
profissional não se constitui apenas do agir individual, mas sim do comprometimento
coletivo. Por outro lado, refletimos que a reprodução dos valores na sociedade atual
reforça a responsabilização individual. A própria natureza de intervenção profissional
no Tribunal de Justiça nos leva a atuar isoladamente nos processos; assim, não
podemos “perder de vista” o todo, com risco desta realidade nos gerar frustração e
adoecimento. Desta forma a “suspensão” do real em alguns momentos, para
podermos analisa-lo de maneira mais afastada, pode e deve existir, constituindo-se
como um espaço de reflexão e rompimento com a alienação.
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3. Sociedade e Judiciário
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PODER JUDICIÁRIO
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que na maioria das vezes são trabalhos isolados e a “varejo”, e como tal prática
prejudica o todo, inclusive os resultados do próprio trabalho e dos objetivos.
Foi observada a diferenciação em termos da prática e lógica do trabalho do
Setor Técnico em relação ao trabalho cartorário. Enquanto o primeiro segue uma
dinâmica própria em termos de tempo e um trabalho de interpretação da realidade, o
trabalho cartorário é automatizado e mecanizado, que obedece a prazos e metas.
Os próprios juízes trabalham no varejo onde o seu trabalho é medido pela
quantidade, não pela qualidade. Estão sobrecarregados também. Em muitas
comarcas o contato com o juiz é escasso e o chefe de cartório toma para si a função
de “chefe” das equipes técnicas, sendo que muitas vezes pouco sabe sobre nossa
profissão, e tem muita dificuldade para entender a complexidade do estudo social e
psicológico. Geralmente eles têm uma lógica de processos e procedimentos
diferentes dos nossos e os procedimentos de nosso trabalho não ficam claros.
Outra atitude que entendemos como desqualificadora no nosso trabalho
psicossocial é o hábito de se valorizar apenas o parecer final do estudo,
desconsiderando todo o trabalho para se criar uma linha argumentativa que apenas
desemboca no parecer. O parecer, assim, se torna relativo a todo o restante, que é
desprezado. Mas é neste “miolo” que poderíamos pensar em intervenções criativas
ao caso que temos em nossa frente. Descartando-se a análise dos direitos, as
necessidades subjetivas dos sujeitos envolvidos no processo e as problematizações
realizadas sobre o caso, nosso parecer se torna uma verdade estática com muito
pouco poder de transformação social.
O autor nos traz possibilidades de pensar alternativas burocráticas que às
vezes não visualizamos. É necessário minimamente problematizar o sistema,
observar o que está posto. Não podendo perder de vista que nós vivemos num
momento muito difícil para a humanidade, num processo de empobrecimento no
mundo inteiro, as questões sociais se tornam extremamente graves e ao mesmo
tempo as políticas sociais são retiradas da cena contemporânea, a ponto de não
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
darem mais conta dessa situação e por outro lado, revelam o processo de
despolitização gritante nesta perspectiva de controle democrático.
O movimento que vivemos é de alta alienação do sujeito. Quanto mais
individualizado e alienado menos se tem a perspectiva da mudança e de
responsabilização social, porque a perspectiva da individualização também cria a
ideia de que é melhor transferir a responsabilidade.
Ainda sobre a consciência política, lembramos que com as manifestações do
meio de comunicação social, o senso comum é enviesado para uma alienação
política. Tomamos como exemplo as desapropriações de prédios na cidade de São
Paulo. Em que se arbitra a constituição e nega-se o direito a moradia, absoluto, mas
se baseia no direito à propriedade, relativo, sem se oferecer uma alternativa de
moradia a eles. A mídia também se encarrega de realizar ataques à população sem
moradia, chamada de invasora, o que ao lado da ausência de respostas estatais de
garantia de direitos, induz os leigos a se posicionarem contra a população sem
moradia, um grave problema brasileiro.
O texto também analisa as iniciativas que são pouco conhecidas no próprio
judiciário, como a justiça comunitária e a resolução de conflitos. O autor esclarece a
diferença entre os juizados especiais e de primeira instância. O número de
processos que estes juizados recebem é bem diferente, o que nos fez pensar na
discrepância da materialização dos feitos para se atingir a efetiva democratização da
justiça.
Conclui-se com o questionamento: para quem se deve democratizar a
Justiça? De que vem existindo uma falta de democratização em várias instâncias da
sociedade como nas áreas da saúde, da educação e pela ausência de senso crítico
e político da própria população acerca de seus direitos. Há uma individualização e
alienação sobre o Sistema.
Diante da constatação de que pouco sabemos sobre a existência dessas
práticas alternativas nas comarcas, refletimos a respeito do isolamento institucional
vivenciado no Tribunal de Justiça. Às vezes estamos inseridos num espaço físico e
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não temos conhecimento do que se passa ao nosso redor, além de nem conhecer
nossos colegas de comarca e, principalmente tomar conhecimento dos juízes com
quem atuamos.
Refletimos sobre as experiências de práticas democráticas, tais como justiça
restaurativa, a mediação, os grupos de adoção e as oficinas de pais no judiciário.
5. Justiça Restaurativa
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CONCLUSÕES
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REFERÊNCIAS
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<http://www.tjsp.jus.br/Download/CoordenadoriaInfanciaJuventude/Pdf/JusticaResta
urativa/Artigos/Texto_Dr_Marcelo_Salmaso.pdf>. Acesso em: 20 de nov. 2014.
Zehr, H. Trocando as lentes: um novo foco sobre o crime e a justiça. São Paulo.
Editora Palas Athena, 2008.
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PERÍCIA PSICOLÓGICA E
PERÍCIA SOCIAL
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COORDENAÇÃO
AUTORES
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INTRODUÇÃO
11
Em: http://michaelis.uol.com.br/. Acesso em 21 de outubro de 2014.
12
Em: http://origemdapalavra.com.br/site/pergunta/origem-da-palavra-perito/. Acesso em 21 de outubro de
2014.
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Para embasar a reflexão sobre todas essas questões, o Grupo de Estudos Vara de
Família utilizou como disparadores para as discussões, que aliaram teoria e prática, os seguintes
materiais: livros, dissertação de mestrado, uma palestra sobre a temática com representantes
dos respectivos Conselhos Regionais, que abordou as questões éticas de cada profissão, e um
exercício analítico das experiências dos participantes, adquiridas ao longo dos anos de prática
nos Setores Técnicos do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Em um universo plural que corresponde às várias Comarcas que compõem o
Tribunal de Justiça de São Paulo, registra-se uma diversidade de fazeres na prática
pericial, reflexos das relações peculiares que os técnicos estabelecem com a
instituição, para além de suas formações acadêmicas e formas de ser no mundo.
Convidamos a todos a nos acompanharem nessa discussão.
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DESENVOLVIMENTO
13
Lei nº 8.662, de 07/06/1993: Regulamenta a profissão do Assistente Social, e Lei nº 4.119 de
27/08/1962: Regulamenta a profissão de Psicólogo.
14
Lei nº 5.766, de 20/12/1971: Cria o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Psicologia e
dá outras providências.
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“Atuação de assistentes sociais no Sociojurídico – subsídios para reflexão”, no qual são feitas
orientações sobre a realização da perícia social.
No caso do psicólogo, reunidas as informações necessárias para a realização do estudo
pericial, ele produzirá um laudo, também chamado de relatório, que, segundo a Resolução CFP
nº 007/2003, é o produto decorrente de uma avaliação psicológica, na qual é permitido o uso de
qualquer técnica reconhecidamente validada pela Psicologia, se atendo ao que é expressamente
permitido e proibido de acordo com as legislações durante o trabalho pericial.
Os psicólogos devem ficar atentos quanto ao uso de testes, visto que, de acordo com o
disposto na Lei nº 4.119/62, no § 1º do Art. 13, os resultados e materiais não devem ser
expostos a outros profissionais, mesmo que hierarquicamente superiores. Ainda, o profissional
deve se ater quanto à real necessidade de inserir produções espontâneas ou demais materiais
em seu laudo, pois isso pode expor a intimidade das pessoas atendidas, já que diversos agentes
têm acesso ao laudo quando juntado aos autos. Dispõe o Código de Ética Profissional:
Art. 6º - O psicólogo, no relacionamento com profissionais não
psicólogos:
b. Compartilhará somente informações relevantes para qualificar
o serviço prestado, resguardando o caráter confidencial das
comunicações, assinalando a responsabilidade, de quem as receber,
de preservar o sigilo.
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Ainda com base no Código de Processo Civil, em seu Art. 421, temos que as
partes envolvidas no processo podem indicar, em até cinco dias úteis, um assistente
técnico, que poderá elaborar quesitos a serem respondidos pelo perito designado
pelo juiz, e, ao final do trabalho deste profissional, elaborará uma manifestação
crítica a respeito do laudo. Ainda de acordo com a referida legislação, os motivos de
suspeição aplicados ao perito não cabem ao assistente técnico, pois este é da
confiança da parte:
Art. 422. O perito cumprirá escrupulosamente o encargo que Ihe foi
cometido, independentemente de termo de compromisso. Os
assistentes técnicos são de confiança da parte, não sujeitos a
impedimento ou suspeição.
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Consta no parágrafo 1º do referido artigo que “O juiz do feito poderá fixar valor
superior ao limite constante no caput deste artigo, considerando a peculiaridade de
cada caso concreto” e, desta forma, é possível solicitar valor maior ao fixado acima,
desde que seja justificado e fundamentado.
Entre os participantes deste grupo de estudos, alguns psicólogos e
assistentes sociais informaram que fazem o requerimento de diligências como
parâmetros do valor solicitado. Verificou-se que muitos técnicos não fazem uso
desta possibilidade.
Outra atividade relacionada à atuação no judiciário é a participação dos
assistentes sociais e psicólogos em audiências. Expõe o Código de Processo Civil
que o perito pode ser convocado para audiência caso seja requerido pela parte,
desde que intimado 5 dias antes da data:
Art. 435. A parte, que desejar esclarecimento do perito e do
assistente técnico, requererá ao juiz que mande intimá-lo a
comparecer à audiência, formulando desde logo as perguntas, sob
forma de quesitos.
Parágrafo único. O perito e o assistente técnico só estarão obrigados
a prestar os esclarecimentos a que se refere este artigo, quando
intimados 5 (cinco) dias antes da audiência.
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das partes, há o risco de que não seja esclarecida a questão pertinente ao bem-
estar das crianças e do grupo familiar, visto que o serviço pode ser utilizado de
forma parcial, visando a atender apenas aos interesses do contratante.
A situação é diferente quando se atua como perito nomeado pelo Juiz, pois
geralmente o profissional tem a possibilidade de avaliar todos os membros da família
com imparcialidade. Nas situações em que não for possível avaliar todos os
envolvidos, é importante que o profissional enfatize o caráter parcial de seu estudo.
Os assistentes técnicos também podem optar pelo trabalho imparcial, mas,
neste arranjo, é necessário que os advogados e respectivos clientes se alinhem
nesta postura cooperativa para que todos tenham a oportunidade de se expressar e
ser tratados com equidade.
Shine (2010) ressalta que, embora os profissionais que atuam no judiciário
estejam submetidos a uma carga excessiva de trabalho, é importante que procedam
a uma entrevista devolutiva ao cliente, conforme disposto no Código de Ética
Profissional do Psicólogo.
Com relação aos instrumentos e metodologias utilizadas para a realização da
perícia, o autor refere que, em sua prática profissional, se utiliza de contatos
telefônicos com os advogados para a convocação das partes, avaliando como um
processo mais rápido e econômico. Todavia, levantou-se entre os participantes
deste grupo, que a intimação via cartório é a estratégia mais usual no chamamento
das partes pelos profissionais da psicologia e por alguns assistentes sociais. Outros
assistentes sociais iniciam seus trabalhos realizando a visita domiciliar, agendada ou
não.
Outro ponto abordado diz respeito à prévia leitura crítica dos autos do
processo, considerada de forma uníssona pelo grupo como fundamental para o
exercício pericial, com a finalidade de mapear a dinâmica processual e subsidiar a
estratégia de avaliação.
Já quando o assunto é a entrevista – psicológica ou social, é esperado que o
trabalho seja conduzido por apenas um profissional, o que é mais comum no
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CONCLUSÃO
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BIBLIOGRAFIA
BRASIL Código de Processo Civil - CPC - Lei 5.869 de 11/1/1973, atualizado até
30/04/2013.
BRASIL. Código Civil. Lei 10.406 de janeiro de 2002, atualizado até 30/04/2013.
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei Federal n° 8069/90.
CFESS (org.). Código de Ética do/a Assistente social – Comentado. São Paulo:
Cortez, 2012.
CFP. Resolução nº 017/2012. Dispõe sobre a atuação do psicólogo como Perito nos
diversos contextos.
MIOTO, Regina C.T. Perícia social: proposta de um percurso operativo. In: Revista
Serviço Social e Sociedade nº 67. São Paulo: Cortez, 2001.
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COORDENADORAS
Lucia Helena Rodrigues Zanetta - Psicóloga Judiciária - Vara do Foro Central de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher
Maria de Fátima de Jesus Agostinho Ferreira - Assistente Social Judiciário - Vara
do Foro Central de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher
AUTORES
Alba Tereza Sousa de Macedo - Assistente Social Judiciário - Vara da Região Leste
2 de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher
Aline da Silva Fernandes - Assistente Social Judiciário - Vara da Região Leste 2 de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher
Ana Luísa de Marsillac Melsert - Psicóloga Judiciária - Vara da Região Leste 2 de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher
Caroline Bonello Valadão - Assistente Social Judiciário - Comarca de Piracicaba
Fátima de Almeida Freitas - Assistente Social Judiciário - Vara da Região Leste 2
de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher
Frederico Dentello - Psicólogo Judiciário - Vara da Região Sul 2 de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher
Juliana Fernandes Iuan - Psicóloga Judiciária - FR VII – Itaquera
Katia Ackermann - Psicóloga Judiciária - Vara da Região Oeste de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher
Ianara Kelly de Oliveira Paula - Psicóloga Judiciária - Vara da Região Leste 2 de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher
Juliana Fernandes Iuan - Psicóloga Judiciária - FR VII - Itaquera
Kherley Dacylane Val Lima - Psicóloga Judiciária - Comarca de Fernandópolis
Lucimara de Souza - Psicóloga Judiciária - Vara da Região Norte de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher
Lucinete Rodrigues de Santana - Assistente Social Judiciário - Vara da Região
Norte de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher
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A costura que pretendemos fazer é aquela que une os fios das teorias
consideradas pertinentes por nós com os fios das nossas vivências nas Varas de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e das Varas de Infância e
Juventude. Em cada tecido, em cada autor, por onde perpassam essas linhas da
costura, se assinala a necessária compreensão do fenômeno violência, que não se
esgota com esse artigo. Ao contrário, nos motiva a pesquisar e a entender, cada
vez mais, por onde e como a sociabilidade da violência se materializa e como
enfrentá-la coletivamente.
Costurar a dezenove mãos implica trazer à luz a riqueza da diversidade de
tecidos e fios, nesse artesanato intelectual, para pensar tal fenômeno.
Assim, sob o ponto de vista da teoria social crítica não se pode compreender
o fenômeno da violência desarticulado das questões mais amplas da sociedade.
Neste sentido, a forma de organização da sociedade capitalista, em sua
abrangência planetária, tem na Questão Social “o conjunto das expressões das
desigualdades sociais nela engendradas” (IAMAMOTO, 2010, p. 268).
A Questão Social, segundo Netto (2001), tem história recente. Enquanto
expressão ela surge para dar conta do fenômeno do pauperismo engendrado na
primeira onda industrializante iniciada na Inglaterra no último quartel do séc. XVIII.
A pauperização massiva da classe trabalhadora constitui o aspecto mais imediato
da instauração do capitalismo em seu estágio industrial-concorrencial, pois a
pobreza crescia na razão direta em que aumentava a capacidade social de produzir
riquezas. Foi a partir da perspectiva efetiva de uma reversão da ordem burguesa
que o pauperismo designou- se como Questão Social.
Portanto, a Questão Social informa a desigualdade estruturante que mantém
a produção e a reprodução das relações sociais que organizam a sociedade.
Assim, a forma de produzir é também a forma de pensar, de viver e de se
relacionar.
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NARVAZ, Martha Giudice; Koller, Silvia Helena. Famílias e patriarcado: da prescrição normativa à subversão
criativa. Psicologia & Sociedade, Porto Alegre, V 18 n 1 jan/abr 2006.
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mulher de ser insensata e causadora do mal (ADÃO E EVA). Dessa forma, a ideia
construída era a de que a mulher teria uma alma, carnal/sensual e o homem uma
alma racional/ de maior controle.
Para Aristóteles, o conhecimento racional era a mais importante
conquista humana e, por isso, os homens eram considerados seres mais ativos e
capazes de obter êxito nas áreas mentais, estabelecendo assim, a teoria do
dualismo hierarquizado, demonstrando a nítida dominação de um sexo sobre o
outro. Para este filósofo, havia uma regra natural da existência, ou seja, “a alma
tem domínio sobre o corpo, a razão sobre a emoção, o masculino sobre o
feminino”. (BASTOS, 2013).
Conforme a autora em referência, Rousseau também compartilhava
destas ideias sobre a mulher, assim como a maioria dos filósofos e pensadores da
antiguidade, pois acreditavam que o excesso de sensibilidade feminina dificultava
sobremaneira a evolução da sua inteligência, do sensível para o inteligível, pois
devido à sua fisiologia inferior a mulher é um ser “imutável” e inerte, que não
participa da evolução histórica da humanidade calcada na razão.
Segundo a mesma autora, o papel da mulher na sociedade sofreu fortes
mudanças a partir da Revolução Francesa, quando os filósofos iluministas
começavam a idealizar uma sociedade baseada no respeito à liberdade e aos
direitos individuais, como pontos basilares da nova organização societária. As
mulheres passaram também a reivindicar direitos civis e cidadania pois, nesta
época, a mulher ainda era tutelada pelo marido. Porém, apesar da intensa
participação popular das mulheres para quebrar os costumes da sociedade, elas
não conquistaram as almejadas mudanças, que só começaram no século XX, pois
os filósofos iluministas ainda acreditavam que a paixão e não a razão eram marcas
da personalidade feminina. (BASTOS, 2013).
Bastos também defende que tais ideias de inferioridade da mulher
ganharam força no século XIX, onde a medicina social, representando então a
ciência, continuava a atribuir à mulher o predomínio das faculdades afetivas, da
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Para Saffioti (1999), o gênero está longe de ser um conceito neutro. Pelo
contrário, ele “carrega uma dose apreciável de ideologia” justamente a ideologia
patriarcal, que cobre uma estrutura de poder desigual entre mulheres e homens.
Porque o conceito de gênero, na sua visão, não atacaria o coração da engrenagem
de exploração-dominação, alimentando-a. É uma categoria histórica da definição do
masculino e feminino, um conjunto de normas modeladoras dos seres humanos em
homens e mulheres, que são expressas nas relações destas duas categorias
sociais.
O conceito de gênero não explicita necessariamente desigualdades entre
homens e mulheres, sendo, muitas vezes, a hierarquia presumida. A diferença nas
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relações entre homens e entre mulheres é que essa desigualdade de gênero não é
colocada previamente, mas pode ser construída e o é com frequência. Saffioti ainda
considera que o gênero, assim como a família e o território domiciliar contém
hierarquias, nas quais os homens figuram como dominadores-exploradores.
A tentativa de construir o ser mulher enquanto subordinado, ou melhor, como
diz Saffioti, como dominada-explorada, vai ter a marca da naturalização, do
inquestionável, já que dado pela natureza. Todos os espaços de aprendizado, os
processos de socialização vão reforçar os preconceitos e estereótipos dos gêneros
como próprios de uma suposta natureza (feminina e masculina), apoiando-se
sobretudo na determinação biológica. A diferença biológica vai se transformar em
desigualdade social e tomar uma aparência de naturalidade. As relações de gênero
refletem concepções de gênero internalizadas por homens e mulheres. Nas
palavras de Saffioti:
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A Declaração, em seu artigo 1º “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São
dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.”.
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Afirma, ainda, que o processo de criação da “Lei Maria da Penha” mostrou uma
articulação estreita entre o governo e os movimentos feministas e das mulheres.
De acordo com Piovesan (2014), a Lei Maria da Penha trouxe sete inovações
no que se refere ao combate à violência doméstica e familiar contra a mulher:
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direitos humanos. Isto possibilita, inclusive, que os Estados sejam responsáveis por
conter esses abusos.
A Lei Maria da Penha, por exemplo, "representa uma das medidas
apresentadas pelo Estado para permitir que ocorra o aceleramento da igualdade de
fato entre o homem e a mulher.” (Bianchini, 2013, p.245). Inscreve-se enquanto
ações afirmativas e busca o empoderamento das mulheres frente à possível
diminuição das desigualdades de gênero, sejam sociais, políticas e econômicas.
Por isto, a Lei Maria da Penha é considerada de caráter transitório, visto que se
vislumbra seu vigor enquanto houver circunstâncias que a justifique.
Para alcançarmos tal realidade é fundamental a participação da sociedade,
do Estado e da família no processo de construção das condições necessárias para
o pleno exercício dos direitos das mulheres. Somos todos responsáveis.
As medidas protetivas são consideradas a principal inovação propiciada pela
Lei Maria da Penha. Podem ser requeridas diretamente pelas mulheres que se
encontram em situação de violência doméstica e familiar. Também é assegurado a
estas mulheres o direito de serem acompanhadas por advogados em todos os atos
processuais.
A Lei também prevê que, quando há dependentes menores, a equipe
multidisciplinar deve atuar previamente, antes da restrição ou suspensão de visitas
a eles.
A intenção da Lei é privilegiar a parte mais frágil, no caso, a vítima, que
poderá escolher um entre três possíveis Foros para andamento do processo:
domicilio ou residência da vitima, lugar do fato em que ocorreu a violência (ou
ameaça) e domicilio do agressor.
Desta forma, em que pese todos os avanços, garantias e conquistas trazidas
com a aplicação da Lei Maria da Penha, ainda se faz necessário maior
aprofundamento e apropriação nos diversos setores da sociedade acerca das
"especificidades da violência doméstica e familiar, bem como se dando conta das
dificuldades enfrentadas pelas mulheres em situação de violência doméstica e
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Fernandes, V.D. S. “Violência contra a Mulher no Brasil e no Mundo” in Cadernos Jurídicos, São Paulo, ano
15, no. 38, p. 45-58, janeiro-abril/2014.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
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SOUZA, Mériti de; MARTINS, Francisco M. M.; ARAÚJO, José Newton Garcia de.
Dimensões da Violência: conhecimento, subjetividade e sofrimento psíquico. Casa
do Psicólogo, São Paulo, 2011.
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VIOLÊNCIAS E ABUSOS
PONTUAÇÕES SOBRE DEPOIMENTO ESPECIAL
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COORDENADORAS
AUTORES
Ana Paula da Silva Barbosa – Assistente Social Judiciário – Foro Regional Pinheiros
Ana Rita Pavão -Assistente Social Judiciário – Vara da Região Norte de Violência
Doméstica e Familiar Contra a Mulher
Bruna Kibrit – Psicóloga Judiciário – Varas Especiais da Infância e da Juventude
Dulce Alves Taveira Koller - Assistente Social Judiciário – Comarca de Mogi das
Cruzes
Eliane Macedo Cliquet – Assistente Social Judiciário – Varas Especiais da Infância e
da Juventude
Fernanda Lacerda Silva – Psicóloga Judiciário – Vara Região Sul I de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher
Laura Castelo Branco Silverio – Psicóloga Judiciário – Comarca de Itanhaém
Maíra Alves Barbosa – Psicóloga Judiciário – Vara da Região Norte de Violência
Doméstica e Familiar Contra a Mulher
Maria Emília Lucas Santos – Assistente Social Judiciário – Comarca de Santos
Mônica Aparecida Mota Vale – Assistente Social Judiciário – Foro Distrital de Arujá
Rosangela Rinaldi – Assistente Social Judiciário – Comarca de Santos
Samuel Rotband Berestein Grinspun – Psicólogo Judiciário – Comarca de Taubaté
Tatiana Cetertich – Assistente Social Juduciário – Foro Regional VII Itaquera
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INTRODUÇÃO
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Constituição Federal de 1988
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático,
destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento,
a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia
social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a
proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010).
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Iolete Ribeiro da Silva (p. 19) aponta que diferentes estudos revelam “a
necessidade de mais investimentos na rede de promoção e proteção, a fim de
garantir atendimento de qualidade, capacitação para os profissionais, celeridade nos
serviços, ampliação de conhecimentos sobre funcionamento da rede e humanização
da escuta das crianças e adolescentes envolvidos em situação de violência,
especialmente de violência sexual”.
Partimos do conceito de trabalho interdisciplinar descrito por SAUPE, R. ET
AL. (2005):
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temáticas que acabam por afetar os profissionais também, como raiva, impotência e
possíveis fantasias. Segundo Iolete Ribeiro da Silva:
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Tais avaliações, em que pese que se tornam parte dos autos, portanto, prova,
tem como objetivo maior saber para melhor cuidar, o peso da palavra é devidamente
balanceado com outras formas de comunicação e levantamento de dados.
A gravação da fala da criança com o Psicólogo e o peso que há, e ela sabe,
que sua palavra colocará, provavelmente, um parente na prisão é uma fonte de
estresse muito grande para um ser ainda em formação, afora a problemática da
super-exposição do sofrimento infantil, um processo de espetacularização, os
psicólogos e assistentes sociais do Tribunal de Justiça possuem como dever ético,
reafirmado pelos respectivos Conselhos Profissionais chamar atenção para este
aspecto da proposta.
Frequentemente argumentarão que tais tipos de crimes não deixam outras
provas a não ser as memórias da vítima. Procedimentos mais céleres, de fato, uma
escuta quase que imediatamente posterior à possível violência sofrida, são
pertinentes, afinal, a passagem de alguns meses para uma criança já é muito
tempo.Uma vez que haja revisão de procedimentos e acordos entre a Rede de
Proteção e o Judiciário, seria possível diminuir drasticamente o número de pessoas
alheias à criança que falarão a este respeito com ela, afinal, a violência sofrida está
no âmbito da intimidade de um ser em desenvolvimento.
Outro questionamento diz respeito a uma mudança na função dos
profissionais dos quadros do TJSP. É possível realizar esta “escuta” como sugere o
Protocolo e ao mesmo tempo estar em dia com os deveres éticos profissionais? Se
houver necessidade da criança e do adolescente deporem frente a um juiz, como
ainda ocorre atualmente, possivelmente haveria um treinamento ou curso para que
as autoridades do magistrado paulista possam fazer as perguntas diretamente
àquelas testemunhas, sem necessidade de filtros, pois advogados e juízes
entenderão como conversar com uma criança sem desrespeitá-la em seus Direitos.
Costa (2005) nos aponta alguns elementos que podem aparecer como pano
de fundo para este descompasso entre um aparato legal extremamente avançado e
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uma prática ainda marcada pela violação dos direitos humanos de crianças e
adolescentes:
São as culturas obstaculizadoras aos avanços da democracia
participativa e das práticas sociais e jurídicas superadorastanto
do assistencialismo, como da discricionariedade. São elas:
1. Nossa cultura política, ainda predominantemente
clientelista e fisiológica;
2. Nossa cultura administrativa, marcadamente burocrática
e corporativa;
3. Nossa cultura técnica, fortemente auto suficiente e
formalista;
4. Nossa cultura jurídica, ainda contaminada, em muitos
casos, por resíduos tóxicos da velha doutrina da situação
irregular;
5. Nossa cultura cidadã, ainda emoldurada por uma história
secular de passividade e conformismo.(COSTA, 2005)
Prevenir e combater a violência doméstica, o abuso e a exploração sexual de
crianças e adolescente é uma missão complexa e deve envolver diversas ações em
vários campos, com a atuação conjunta da sociedade civil e do poder público em
suas três instâncias governamentais.(MOURA et al, 2008).
Além de uma gestão intersetorial e em rede, outras estratégias a curto e
médio prazo podem ser adotadas no enfrentamento da violência sexual:
. Capacitação de profissionais a fim de possibilitar a prevenção, identificação
precoce dos casos e tratamento;
.Visitas domiciliares e acompanhamento das famílias mais vulneráveis
(agentes comunitários de saúde, médicos, assistentes sociais, dentre outros);
. Atendimento psicológico, social e jurídico às vítimas de violência e suas
famílias;
. Responsabilização e atendimento psicológico dos agressores;
. Estimular o exercício da maternidade e paternidade responsável;
. Implantação de um Plano de Enfrentamento à Violência contra crianças e
adolescentes que articule os programas e crie ações multiprofissionais, intersetoriais
e interinstitucionais.
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CONCLUSÕES
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BIBLIOGRAFIA
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NASCIMENTO, André. 201. Depoimento sem dano o Projeto Paulista. In: Violência
sexual e escuta judicial de crianças e adolescentes: a proteção de direitos segundo
especialistas. pg. 95. AASPTJ-SP – Associação dos Assistentes Sociais e
Psicólogos do Tribunal de Justiça de Estado de São Paulo: CRESS-SP. 9ª Região –
Conselho Regional de Serviço Social do Estado de São Paulo, 2012.
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ANEXO 1
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A implementação do projeto é hoje recomendada pelo Conselho Nacional de Justiça, que, por sua Recomendação n° 33,
recomenda aos tribunais a criação de serviços especializados para escuta de crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas
de violência nos processos judiciais, doravante chamado de Depoimento Especial.
No Estado de São Paulo, como Vossa Excelência poderá ver no fluxo em anexo, entendeu-se que não se trata
exclusivamente de um aprimoramento do modo de atendimento pela Justiça, mas sim de um complemento reordenamento
interinstitucional do atendimento de crianças e adolescentes vítimas de violência.
Para tanto, após a realização de seminário, constituíram-se três grupos de trabalho setorizados: atendimento inicial (saúde,
segurança e assistência social). Jurídico (juízes, promotores de justiça, defensores públicos e delegados de polícia) e das
equipes interprofissionais do Judiciário.
Previu-se, no primeiro, que três são as portas de entrada primárias de violência sexual: assistência social, pelo Programa
de Atenção Especializada em Famílias e Indivíduos - PAEFI, serviço de média complexidade ligada ao CREAS; as delegacias
de polícia e serviços de saúde.
Os demais serviços poderiam ser eventualmente espaços de revelação dos fatos, mas sem responsabilidade pelo
atendimento. De igual modo, o Conselho Tutelar não teria a incumbência de escuta da criança, mas de monitoramento de seu
atendimento, requisição de serviços e representação ao Ministério Público (para a tutela de direitos individuais ou socia is) ou
à Vara da Infância e da Juventude (nos casos do art. 194 do ECA)
Encontra-se, para tanto, em fase de elaboração um documento único de caracterização da violência, cujo preenchimento
será de atribuição do órgão que primeiramente receber a criança/adolescente. Entendeu-se que, salvo nos casos de flagrante
ou de revelação dos fatos em atendimento na saúde, a instituição primordialmente responsável pelo atendimento é o PAEFI/
CREAS. Uma vez caracterizada a violência, o documento será compartilhado entre as demais instituições, de modo que a
criança/adolescente não necessitará mais expor os fatos.
Paralelamente, o PAEFI/CREAS elaborará um plano de atendimento familiar para contemplar todas as necessidades da
criança/
adolescente e se us familiares, garantindo-se, com isso, seus direitos sociais e notadamente seu desenvolvimento.
No âmbito da justiça, e diferentemente do que ocorre em outros Estados, especialmente no Rio Grande do Sul, entendeu-se
que a apuração da violência contra crianças e adolescentes não pode ser feita unicamente com base na escuta da criança e
adolescente.
Isto porque sua fala deve ser contextualizada dentro de seu processo de desenvolvimento, indicando (in)compatibilidades
com o mesmo, e levantamento de outros indicadores de violência, que permitirão uma decisão mais segura e justa para
todos.
Por isso, compreendeu-se que a natureza da prova a ser produzida há de ser híbrida, tanto de avaliação pericial como de
depoimento, tendo a escuta como denominador comum interdisciplinar. Para tanto, como Vossa Excelência poderá ver no
documento em anexo, propõe-se a elaboração de quesitos prévios, com acompanhamento por videoconferência do relato
da criança/adolescente feito aos técnicos do Judiciário, e após relato livre pela criança e perguntas focalizadas pelos técnicos,
questões complementares pelos operadores do direito. Ao cabo da entrevista, os profissionais apresentarão estudo avaliativo.
Como Vossa Excelência pode perceber a proposta já contava com autorização formal da E. Corregedoria Geral de Justiça,
embora em versão anterior e mais simples, não me parecendo, salvo melhor juízo, necessária qualquer outra manifestação
daquela superior instância.
Ademais, o procedimento a ser observado encontra pleno respaldo legal, porque se seguem às normas do código de
processo civil relativas à avaliação, com apresentação de quesitos e elaboração de laudo ao final, embora de forma articulada
com o acompanhamento da escuta, portanto à semelhança do depoimento -, embora esta seja realizado em sala apartada,
filmada e transmitida para a sala de audiência, onde se encontrarão juiz, promotor, defensor e réu. Assegurar-se-á, com
isso, melhor oportunidade de defesa, pois o réu poderá acompanhar o depoimento, o que hoje não ocorre.
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Cuida-se, portanto, de uma otimização e aprimoramento de procedimentos hoje existentes, respeitadores dos direitos de
todos os envolvidos, inclusive dos profissionais participantes.
A capacitação presta-se justamente para entender com maior profundidade a dinâmica do abuso, as fases evolutivas
da criança/adolescente e os indicadores de violência, mas especialmente metodologia diferenciada de avaliação consistente na
entrevista da criança/adolescente, valorizando-se, assim, se u direito à participação, nos termos do ar!. 12 da Convenção
sobre os direitos da criança. Esperamos que, com ela, haja maior conscientização e compreensão por parte dos profissionais
do Judiciário sobre a adequação desta proposta à garantia de direitos de crianças e adolescentes e aos seus preceitos éticos.
Por determinação de Vossa Excelência, este magistrado, juntamente com o Núcleo de Apoio ao Serviço Social e de Psicologia
do TJSP e da psicóloga assessora desta Coordenadoria, procurou articular com os respectivos conselhos federais e
regionais de serviço social e psicologia.
Embora com resultados díspares, o fato é que existe sentença judicial cassando a validade da Resolução proibitiva de
participação de assistentes sociais no projeto. Da parte do Conselho de Psicologia, parece haver maior abertura para
acompanhamento.
Os psicólogos e assistentes sociais envolvidos parecem ter compreendido com maior profundidade a proposta e acatado
seus termos, dispondo-se a assumir o diálogo com os conselhos.
Todavia, a implementação deste projeto é um imperativo ditado pela normativa e experiência internacionais e pelo próprio
Conselho Nacional de Justiça. Embora entenda que os profissionais mais qualificados para a avaliação de abuso e violência
co ntra crianças e adolescentes sejam os assistentes sociais e psicólogos, havendo recrudescimento inesperado desses
profissionais e respectivos conselhos – como parece ser o caso do de serviço social -, não se deve descartar a contratação
para a avaliação de abuso e violência contra criança e adolescente de profissionais de áreas diversas, tal como já ocorre
em outros lugares do mundo, especialmente nos EUA. Contudo, isto deveria implicar a revisão da contratação de assistentes
sociais e/ou psicólogos (a depender do posicionamento específico de cada categoria/conselho) para as varas da infância do
Estado de maneira geral (à vista da esperada ampla disseminação do projeto). de forma a contemplar a entrada desses outros
profissionais no quadro do Tribunal e o atendimento das necessidades dos usuários da Justiça e as demandas institucionais do
próprio Tribunal. Oxalá O bom senso e comprometimento com os direitos de crianças e adolescentes imperem e o projeto
possa
prosseguir em seus termos originais e ajustes decorrentes da experiência.
Consigne-se, neste sentido que os documentos e fluxos apresentados são provisórios, pois, atento à natureza de piloto
deste projeto, entendemos fundamental seu desenvolvimento para avaliação, inclusive externa, sobre o modo como o projeto
será percebido e recebido por crianças e adolescentes, mas também pelos profissionais e instituições envolvidas,
podendo, portanto, receber modificações que serão sempre comunicadas a Vossa Excelência.
Merece registro ainda o entendimento dos integrantes dos grupos de trabalho de que será necessária a consolidação desta
proposta antes de sua disseminação às demais varas do Estado, até mesmo porque a implementação do projeto suscitou
amplo
debate entre categorias profissionais envolvidas, assim como com as instituições parceiras. A disseminação dependerá
da definição de consensos, mas também do aprimoramento da capacidade de atendimento pelas equipes do Estado, que,
hoje,
encontram-se sobrecarregadas.
À vista deste quadro, e uma vez consumada a capacitação, é fundamental a autorização final da parte de Vossa Excelência
para início das atividades do projeto de atendimento não-revitimizante de crianças e adolescentes vítimas de violência nas
seguintes varas da infância e da Juventude: Atibaia, Campinas, Guarulhos e São Caetano do Sul, sempre de modo articulado
com as varas criminais, enquanto não houver especialização em varas de crimes como criança e adolescente nesses locais.
A autorização também se faz necessária para a vara de violência doméstica da capital para os casos de atendimento de
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crianças e adolescentes.
Uma vez autorizado, sugiro a Vossa Excelência que se oficie às respectiva s Varas e equipes, dando-lhes ciência de Vossa
decisão. Parece oportuno também que se oficie às Varas Criminais das respectivas comarcas, informando-as do projeto, da
recomendação de observância do procedimento especial de escuta/avaliação em articulação com a Vara da Infância e da
Juventude que alberga o projeto e de vossa autorização para funcionamento. No caso de São Caetano do Sul já há
especialização
da vara em crimes contra a criança e adolescente com cumulação de competência com infância e juventude, não se fazendo
necessária a providência.
Sugiro também que seja oficiado em agradecimento às instituições que permitiram a implementação deste projeto, dando-se
ciência à Egrégia Presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo desse valoroso apoio.
Sugiro igualmente a comunicação oficial ao Conselho Nacional de Justiça do início das atividades do projeto paulista.
Solicito por fim autorização para obtenção de financiamento para a supervisão aos profissionais envolvidos no projeto,
visando atendimento de qualidade neste período de implementação experimental.
É meu parecer.
SUB CENSURA.
São Paulo, 12 de abril de 2011.
Eduardo Rezende Melo
Juiz da Coordenadoria da Infância e da Juventude
DECISÃO: Aprovo o parecer. São Paulo, 12 de abril de 2011
(a) Desembargador ANTONIO CARLOS MALHEIROS, COORDENADOR DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DO TRIBUNAL
DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Projeto de Aprimoramento do atendimento interinstitucional de crianças e adolescentes vítimas de violência,
especialmente sexual, e a implementação de métodos especiais de sua escuta no Estado de São Paulo.
Justificativa
A implementação de projetos piloto em quatro comarcas do Estado voltados a crianças e adolescentes, vítimas ou
testemunhas de crimes, especialmente sexuais, tem por objetivo aprimorar a garantia de direitos sexuais, ao desenvolvimento
de crianças e adolescentes, e a dignidade dessas pessoas em desenvolvimento, pelo Sistema de Justiça, de forma articulada
com outros atores institucionais.
A ação dá-se conjuntamente no contexto de uma reflexão sobre o papel social da Justiça e seu modo de organização e de
gestão de conflitos, sendo o método especial de escuta um dos aspectos a se considerar.
A motivação de implementação do projeto volta-se à superação de práticas e modos de intervenção que tem provocado
revitimização de crianças e adolescentes quando atendidas interinstitucionalmente, e especialmente pelos Sistemas de
Segurança e de Justiça.
Diversos fatores têm causado esta situação. A falta de sensibilidade, a falta de linguagem adequada, a falta de informação
e a própria dinâmica adversarial da colheita de provas (ou seja, quando pela própria dinâmica das provas, promotor e
advogado
procuram questionar a vítima ou testemunha visando ora a confirmação ora a contradição de sua palavra, como uma forma de
demonstrar a veracidade de seu depoimento), tanto em procedimentos cíveis ou criminais.
No entanto, a literatura aponta, sobretudo, a grande quantidade de intervenções e de inquirições sobre os mesmos fatos
pelos diversos programas de atendimento e seus profissionais, evidenciando a inadequação do modo de articulação dos
diversos
atores do Sistema de Garantia de Direitos.
O impacto deste modo de intervenção vem gerando nas crianças e adolescentes a sensação de descrédito de sua palavra
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e, em muitos casos, ineficácia da intervenção pelo sistema de justiça, tanto sob o aspecto protetivo - pela interferência que
esta múltipla intervenção provoca no processo terapêutico da criança -, como sob o aspecto da responsabilização do ofensor,
que muitas vezes é absolvido em razão da exaustão da criança/adolescente pela revitimização sofrida pelo sistema. As
conseqüências são o possível retorno da vítima aos cuidados do agressor, sem atendimento terapêutico ou responsabilização
do mesmo.
A implementação do projeto procura, assim, reordenar o modo de articulação destes diversos atores e aprimorar o modo de
atuação conjunto, especialmente na forma como a Justiça atua. Esta tentativa faz-se sob o marco de normativa internacional, e
de discussões teóricas e institucionais que ocorrem há décadas em outros países.
Em primeiro lugar, como se sabe, não vem sendo suficientemente reconhecido às vítimas um lugar especial no Sistema de
Garantia de Direitos. Faltam normalmente serviços de atendimento a elas e o próprio Sistema de Justiça não revela
preocupação
com seu cuidado, especialmente no âmbito dos processos criminais.
Com efeito, como o processo criminal é focado na defesa das liberdades dos réus, não entra em pauta a reflexão sobre
direitos de crianças e adolescentes vítimas, embora a normativa internacional venha, há anos, sinalizando a necessidade de
reequacionar este embate de valores, com mudanças institucionais.
É, então, dentro do marco de respeito de direitos humanos de ambas as partes, ofensores e vítimas, especialmente as
crianças
e adolescentes, que uma tentativa de reordenamento interinstitucional poderá se dar, devendo-se invocar particularmente os
arts. 12 e 44 da Convenção sobre os direitos da Criança; o art. 8º do Protocolo Facultativo sobre venda de crianças,
prostituição
e pornografia infantil (convenções ratificadas pelo Governo brasileiro) e, disciplinando-o, a Resolução nº 20, de 2005, do
Conselho Econômico e Social das Nações Unidas.
Em segundo lugar, coloca-se o desafio de reordenamento institucional específico à Justiça.
O reconhecimento de sobreposições, senão conflitos de intervenções entre as varas criminais e da infância e da juventude
têm colocado à Coordenadoria da Infância e da Juventude o desafio de cumprimento da recomendação do Comitê de Direitos
da
Criança, do Alto Comissariado de Direitos Humanos das Nações Unidas, no sentido de que sejam criadas varas especializadas
em crimes contra a criança e, mais, que haja cumulação de sua competência com varas da infância. Exemplo disto já ocorre
na comarca de São Caetano do Sul, repete-se em outros Estados (Rio Grande do Sul, dentre outros) e está no planejamento
estratégico proposto ao Tribunal de Justiça do Estado.
Parte deste reordenamento passa pela adequação de espaços de atendimento, inclusive de espera no ambiente do fórum,
adequação do quadro funcional das equipes interprofissionais para atender o aumento da demanda, capacitação continuada,
dentre outros aspectos estruturais que vêm sendo contemplados no planejamento proposto ao Tribunal e nas ações já
desenvolvidas pela Coordenadoria.
No entanto, em terceiro lugar, entende-se que o horizonte normativo colocado e o reordenamento institucional, dependem
de mudanças culturais por parte dos operadores do direito e dos profissionais que atuam nas equipes do Judiciário,
percebendo
sua atuação numa perspectiva mais ampla de atuação que a meramente processual.
A definição de fluxos que, evitem esta múltipla escuta de crianças e adolescentes e, seu atendimento pautado pela garantia
de direitos pressupõe o estabelecimento de fluxos interinstitucionais e a prevalência de uma abordagem interdisciplinar da
própria escuta a ser realizada. Isto para que, um mesmo ato de escuta, possa contemplar as necessidades das distintas
instituições incumbidas do atendimento, assim como os diversos profissionais envolvidos.
Por isso este projeto não pode se dar unicamente no âmbito do Judiciário, demandando o envolvimento dos demais atores
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do Sistema de Garantia de Direitos, especialmente Segurança, Saúde e Assistência Social para o atendimento investigativo
inicial e os dois últimos para o suporte e atendimento terapêutico subseqüente.
E, para os aspectos processuais, o envolvimento do juiz criminal e da infância e da juventude – nos casos em que ainda
não houver cumulação de competência -, os promotores de justiça, os defensores públicos ou advogados e as equipes
interprofissionais das respectivas instituições. Com efeito, a escolha de procedimentos terá impacto nesta criança e
adolescente
– daí a defesa de produção antecipada de provas – e o modo de escuta também – por isso o entendimento de que a escuta
deve
ser interdisciplinar por direito, serviço social e psicologia, valendo tanto para o processo criminal como para o protetivo.
Só assim proporcionar-se-á uma garantia efetivamente sistêmica de direitos que considere a multidimensionalidade das
situações de violência e dos impactos das intervenções realizadas nestes casos.
Foi com este intuito que a Coordenadoria da Infância e da Juventude, previamente à implementação do projeto, constituiu
um Grupo de Trabalho para elaboração do projeto. O grupo foi composto por juízes, promotores de justiça, defensor, psicólogo
e assistente social judiciário e psicólogos e assistentes sociais atuantes na rede de atendimento especializada a crianças e
adolescentes vitimas de crimes sexuais, sem que representassem formalmente estas instituições, mas que conhecessem as
ponderações e objeções por elas formuladas. A este grupo somou-se encontros com os conselhos federais de psicologia e de
serviço social e com as redes de atendimento das comarcas escolhidas para a implementação do projeto.
Buscou-se, com isso, superar tons corporativistas para se pensar papéis institucionais e interdisciplinares que tenham
criança e adolescente como o ponto central em todo atendimento, reclamando, para tanto, a criação de novos métodos de
atuação que não apenas possam ser testados, como resultem em protocolos interinstitucionais e, mais tarde, na proposição de
estabelecimento de diretrizes por órgãos superiores e/ou legislação nacional.
Isto apenas poderá ocorrer se, para além de grupos de monitoramento e de supervisão do processo de implementação do
projeto – como a Coordenadoria está propondo - haja a previsão de mecanismos de controle e de garantia de direitos, para
cada etapa do fluxo, compreendida sob a lógica da garantia de direitos da criança e do adolescente, contemplando-se sua
especificidade como sujeito em processo de desenvolvimento, titular de direitos individuais e sociais.
O projeto, assim, tem um caráter de aplicação geral para todo e qualquer caso envolvendo crianças e adolescentes vítimas
ou testemunhas, embora, de início, entenda-se recomendável iniciar-se com os casos de crimes sexuais praticados contra
crianças e adolescentes e que não sejam contra o patrimônio.
Na implementação do projeto, entendeu-se necessário, ainda, o estabelecimento de critérios para a escuta de crianças
e adolescentes pelo Sistema de Justiça, seja como vítimas ou testemunhas, procurando-se evitar uma expansão indevida e
indiscriminada da inovação metodológica, fomentando-se o reconhecimento do direito da criança e adolescente de não ser
inquirida, seja como vítima e como testemunha (art. 44 da Convenção sobre os direitos da criança).
O Grupo entendeu também como recomendável a tomada de providências concomitantes à implementação do projeto.
Exemplificativamente, pode-se mencionar:
- Atendimento inicial integrado pela segurança e assistência social e, tanto quanto possível, pelo IML, visando apurar a
ocorrência efetiva de crime dentro de um contexto acolhedor, garantindo-se elementos que permitam a pronta intervenção da
justiça e o pronto atendimento terapêutico da criança, sempre com o intuito de evitar a múltipla repetição do relato e exposição
das experiências vividas pela criança/adolescente e sua conseqüente revitimização;
- Monitoramento do processo pelo Conselho Tutelar, sem atendimento direto às crianças e adolescentes;
- A criação de uma rede de comunicação para que o caso seja remetido com urgência ao Ministério Público, para a pronta
escuta ou escuta, válida para todo e qualquer processo judicial (processo cautelar de produção antecipada de prova)
- Assistência à criança/adolescente para que seja informada de todas as etapas do fluxo e possa opinar quanto à sua
participação
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assistência social e compartilhamento de uma via, com o respeito ao sigilo, aos demais órgãos, visando evitar a nova escuta
da
criança ou adolescente.
4. Articulação do atendimento pelo CREAS e delegacia com o IML para que a criança/adolescente não necessite repetir a
história outra vez por meio do instrumental único de escuta. 5. Elaboração a médio prazo de prontuário único informatizado
para utilização pelas secretarias de assistência social,
segurança e saúde.
6. Concomitantemente, o PAEFI/CREAS elabora plano de atendimento familiar para contemplar todas as necessidades da
criança/adolescente e sua família, articulando os serviços municipais de áreas distintas.
A-1) Direitos a serem considerados no atendimento inicial e modos de sua garantia
1) Direito a ser garantido:
a) direito ao atendimento;
b) direito à informação sobre os modos de garantia de seu direito judicialmente
2) Onde informa? No próprio programa de atendimento
3) o que é informado?
- Os programas disponíveis, horários, modo de atendimento, possibilidade de inserção;
- Sigilo das informações, mas direito de pessoas saberem que a criança/adolescente está sendo atendido, inclusive o
Sistema de Justiça;
- Que o detalhamento do processo judicial lhe será informado oportunamente por profissional especializado e com suporte
de profissional do programa de atendimento;
- Da diferença de papéis entre o programa de atendimento e da justiça;
- Direito da família de ser atendida, inclusive o agressor, neste mesmo programa, sempre que houver concordância por parte
da criança/adolescente
- Não havendo concordância, encaminhar agressor a outro programa ou garantir-se atendimento em dias e horários
diferentes, desencontrados.
- O atendimento conjunto só poderá se dar se for de consenso entre os todos os profissionais envolvidos, havendo
concordância da criança/adolescente e responsável e havendo a possibilidade da restauração dos laços familiares;
- Atenção à informação sobre o direito a aborto legal, procedimentos profiláticos de DST/AIDS; consideração de seus
horários para qualquer procedimento.
4) Quem informa? Profissionais do programa de atendimento e conselheiro (a) tutelar
5) Quando informa? Antes e durante o atendimento ou a qualquer tempo, havendo demanda da criança/adolescente por
mais informação
6) Como informa?
- Cuidado para que não haja indução ao se passar a informação (caso de aborto, por exemplo);
- Adequação das informações à idade da criança e seu grau de maturidade;
- Respeito à privacidade no momento de prestar informação;
- Respeito a ser acompanhada por terceiro de sua confiança ao passar as informações;
B) Articulação entre atendimento inicial (Sistema de Segurança, Assistência Social e Saúde) e Sistema de Justiça:
1) Havendo confirmação da suspeita de abuso/exploração, encaminhamento de relatório pelo CREAS ao Ministério Público.
a) O relatório deve contemplar informações sobre:
- A existência de indícios sobre abuso ou exploração sexual;
- Local, data, autor do abuso e formas como teria ocorrido
- Eventual conivência ou negligência de genitores/responsáveis para efeito de afastamento do lar ou colocação em família
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substituta
- O estado emocional da criança/adolescente e se ela tem condições de ser escutada
- Sua família e o suporte recebido.
- Adesão aos atendimentos por parte da criança/adolescente e família
- Necessidade de afastamento do ofensor ou de algum membro da família e se a criança/adolescente está com adulto
protetor.
- Necessidade de acolhimento institucional da criança/adolescente
- Comunicação ao Conselho Tutelar sobre a falta de aderência da família aos tratamentos propostos
2) Delegacia de polícia encaminha termos de depoimento colhidos e boletim de ocorrência concomitante e articuladamente.
3) Em casos de falta de aderência aos atendimentos, tendo sido comunicado o Conselho Tutelar, este deve aplicar medidas
protetivas à criança e adolescente e aos pais e responsáveis para que este suporte seja efetivamente seguido.
4) Em caso de resistência pela família, CREAS deve avaliar se, a despeito da falta de aderência, a criança/adolescente tem
condições de ser escutado sobre os fatos, o que deverá constar do relatório.
5) Em caso negativo, representação do Conselho Tutelar à Vara da Infância e da Juventude para processamento dos
responsáveis visando à adesão aos tratamentos e só então iniciar-se o atendimento.
C) Procedimento judicial, com eventual produção antecipada de provas para escuta interdisciplinar da criança/
adolescente e sua validade para todos os processos judiciais
1) Se houver trâmite célere do inquérito, recomendação é de proceder diretamente a denúncia, sendo excepcional a
cautelar.
2) Ministério Público (promotor criminal, em respeito ao princípio da identidade física do juiz (É necessário que o relatório
seja encaminhado ao promotor criminal em razão de garantias que constituem direitos humanos de toda pessoa acusada de
ser julgada pela mesma autoridade que presidiu o processo durante o qual foram colhidas as provas e realizada a defesa),
direito humano consagrado na Constituição Federal) avalia duração do inquérito e necessidade e conveniência de ajuizamento
de ação cautelar de produção antecipada de provas, fundamentado no relatório e recomendação técnica pelo CREAS,inclusive
sobre impacto da demora do procedimento judicial nos atendimentos da criança/adolescente, levando ainda em consideração
boletim de ocorrência e elementos investigativos produzidos pela polícia; Descrição dos fatos deve ser tanto quanto possível
assemelhada à que constará da denúncia. Ação deve ser distribuída e tramitar idealmente em vara cumulativa da infância e da
juventude e de crimes contra crianças e adolescentes.
3) Possibilidade de requerimento de medidas protetivas em favor da criança/adolescente, invocando-se lei Maria da Penha e
ECA, assim como a inclusão da criança/adolescente em programa de proteção contra vítimas e testemunhas ameaçadas. 4)
Juiz analisa pedido de medidas protetivas, decide fundamentadamente sobre o cabimento da ação cautelar, se o caso,
considerando particularmente as recomendações técnicas sobre o impacto na criança /adolescente da demora do trâmite do
inquérito e levando em consideração os requisitos para a tutela cautelar. Determina então citação de todos réus, tanto do
processo criminal, como de processo de família ou infância e juventude, considerando eventuais omissões ou negligências
praticadas por pais e responsáveis.
5) Designação pelo magistrado data da audiência com tempo suficiente para a atuação da equipe (sugestão de 15 dias)
6) Determinação pelo magistrado que a equipe técnica passe a integrar o atendimento da criança/adolescente no CREAS
para iniciar a vinculação e informá-la(o) sobre seus direitos.
7) Consideração da nomeação pelo magistrado de defensor público/advogado específico para garantir os direitos de crianças
e adolescentes vítimas ou testemunhas, tendo em mente a normativa internacional bem como sua condição de sujeito de
direitos
que devem ser observados no curso do procedimento
8) Equipe interprofissional do juízo informa os direitos à criança e adolescente no contexto do atendimento, com
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COORDENADORA
Ana Beatriz Benetti Salesse dos Santos - Assistente Social Judiciário – Comarca de
Araçatuba
Gislaine Cavazzana da Silva – Assistente Social Judiciário – Comarca de Araçatuba
AUTORES
Amanda Vaz Valeriano Silva - Assistente Social Judiciário – Comarca de Araçatuba
Ana Beatriz Benetti Salesse dos Santos - Assistente Social Judiciário – Comarca de
Araçatuba
Angela Maria Candida da S. Facundo – Assistente Social Judiciário – Comarca de
Buritama
Cássia Regina de Souza Preto - Psicóloga Judiciário – Comarca de Araçatuba
Cíntia Lupifierio Antônio Ramos - Assistente Social Judiciário – Comarca de Bilac
Claudia Lopes Ferreira - Assistente Social Judiciário – Comarca de Bilac
Clélia Ap. Torres Guedes - Assistente Social Judiciário – Comarca de Araçatuba
Cristiane Reberte de Marque - Psicóloga Judiciário – Comarca de Araçatuba
Edna Veronesi - Assistente Social Judiciário – Comarca de Birigui
Eliane Terezinha Quadrini - Psicóloga Judiciário – Comarca de Araçatuba
Fernanda Mara Trindade Vicente - Assistente Social Judiciário – Comarca de Birigui
Gislaine Cavazzana da Silva – Assistente Social Judiciário – Comarca de Araçatuba
Graciela Ap. Franco - Assistente Social Judiciário - Comarca de Guararapes
Joice Josefina Pontin – Assistente Social Judiciário – Comarca de Araçatuba
Maria Cristina D. Sanches - Assistente Social Judiciário – Comarca de Mirandópolis
Marisha de Oliveira Santos - Psicóloga Judiciário – Comarca de Araçatuba
Marli Aparecida Giraldi - Assistente Social Judiciário – Comarca de Birigui
Miriam Marta Barbosa Scandarolli - Psicóloga Judiciário – Comarca de Araçatuba
Neuza Maria da Silva – Assistente Social Judiciário – Comarca de Araçatuba
Regiane da Silva - Assistente Social Judiciário – Comarca de Guararapes
Sandra Maria Martinez Duarte – Assistente Social Judiciário – Comarca de Birigui
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Introdução
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Este artigo não terá o objetivo de responder a todas estas questões, mas sim
esboçar reflexões do grupo no que se refere a elas a fim de suscitar novas leituras e
novas pesquisas.
Para tanto, o trabalho foi dividido em capítulos com a seguinte estrutura: o
primeiro capítulo trata das reflexões sobre os papéis assumidos pela instituição
família na atualidade; no segundo capítulo foram traçadas considerações teóricas
acerca do Poder Familiar a partir da instituição da visão “filhocentrista” que coloca os
interesses dos filhos superiores aos dos adultos e, também, buscou-se compreender
a guarda além do Poder Familiar especificando as funções de cada uma
diferenciando os seus papéis, considerando que nem sempre quem detém a guarda
retém o poder familiar; no capítulo seguinte foram resumidamente teorizadas as
funções maternas e paternas a partir das necessidades de cada indivíduo conforme
o desenvolvimento e as características inerentes às suas fases; no quarto e último
capítulo foram abordados os fatores que influenciam no exercício das funções
materna e paterna dividindo-os ente fatores externos e internos. Para finalizar o
trabalho foram apresentadas as conclusões obtidas pelo grupo ao longo deste ano
de estudos.
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De acordo com o artigo 229 da Constituição Federal de 1988 “os pais tem o dever de
assistir, criar e educar os filhos menores”; na mesma linha o artigo 22 do Estatuto da Criança e
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do Adolescente dispõe que “aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos
menores, cabendo-lhes, ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as
determinações judiciais”. E ainda o Código Civil em seu artigo 1634
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conjugal e com os filhos, segundo Azambuja et al. (2014) tem havido entre os
doutrinadores novas reflexões sobre o termo a ser utilizado para se fazer referência
aos atributos dos pais relativos aos filhos preferindo o uso da expressão autoridade
parental ou ainda responsabilidade parental; neste sentido refere que
19
Artigos 1635 a 1638 do Código Civil
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terceiros com quem mantenha vínculos afetivos, logo que as análises precisam partir
das necessidades da criança, e essas como já referido acima, não se vinculam
necessariamente a pessoas e gêneros pré-definidos.
Segundo Meirelles (2014, p. 43) o próprio direito tem avançado no sentido de
entender os deveres dos pais em relação aos filhos, para os deveres que a família
tem em relação aos membros crianças e adolescentes, reforçando a questão da
análise do direito ao cuidado por parte dos mesmos. Segundo a autora “A família
surge [...] como lugar privilegiado do exercício do cuidado” por “força do princípio da
solidariedade, foram criados mecanismos jurídicos que facilitam ou mesmo
condicionam ações solidárias”. Assim podemos referir que a criança e o adolescente
tem o direito de serem cuidados. E isso como refletido pelo grupo passa pela
construção de um espaço para este ser se individuar.
E o exercício do cuidado por parte dos pais ou de terceiros responsáveis pela
criança ou adolescente, vai depender de como estas pessoas se constituíram
enquanto cuidadores, quais foram às experiências de cuidados que eles tiveram na
infância, na adolescência e mesmo na idade adulta; como eles se relacionam com o
meio no qual estão inseridos e mesmo com o perfil da criança ou adolescente que
está sob sua responsabilidade. Nos dizeres de Meirelles (2005, p. 45), “Adultos, que
não tiveram estas experiências de cuidados afetivos e efetivos, tem dificuldades ao
cuidarem e amorizarem suas crianças”.
Neste sentido ganha relevância, principalmente no contexto das famílias
pobres20, o papel da politica de atendimento, em especial a Assistência Social, no
que se refere a criar espaços dentro dos equipamentos sociais, de discussão sobre
o exercício dos papéis parentais e do cuidado às famílias atendidas.
20
Tendo em vista que como demonstra as pesquisas realizadas por Fávero ( ) a grande parte das
famílias cujos filhos estão acolhidos, ou os pais foram depostos do poder familiar são oriundos de
famílias pobres.
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estabelece diferentes necessidades. Para elucidar esta questão Borges (2005, p. 33)
com base nas analises realizadas nas obras de Winnicott (2000) expõe que “A
função materna nos primórdios da vida da criança é estabelecer condições
apropriadas para que o bebê possa se desenvolver” prossegue a explanação
citando
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“quer ver tevê”. Esta é a fase das perguntas: “que é isso? Usa o próprio nome.
Reconhece as partes do seu corpo e de outras pessoas. Apresenta atenção para
histórias pequenas.
emprega verbos como “pensar” e “lembrar”. Também fala de coisas ausentes e usa
palavras de ligação entre as sentenças, como por exemplo: “e então”, “porque”,
“mas”, etc. Gosta de inventar e contar as próprias histórias. Consegue identificar
algumas letras do alfabeto e números.
Brinca até a exaustão. Pega nos objetos com mais segurança e manipula-os
com destreza. Continua o interesse por historias de fadas e aumenta para histórias
reais que aconteceram no passado. Prefere ficar em grupo, mesmo que não haja
cooperação. Necessidade de pertencer a um grupo. Sentimento de competição.
Dificuldade no relacionamento com os irmãos. Está desenvolvendo o pensamento
lógico. Maior habilidade em exprimir ideias e definir seus problemas. Maior
capacidade em aceitar críticas e auto avaliação.
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pais estar ausente da vida da criança, esta ausência pode afetar o desempenho de
tais funções provocando modificações, transformações e/ou falhas em seu exercício.
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recebem ou não do Estado, mas também das redes externas e internas de apoio
que as famílias estabelecem.
Para tanto há de se ter a oferta de Políticas Públicas nas áreas de assistência
social, saúde, habitação, trabalho, cultura, esporte e lazer, com a oferta e acessos
das famílias aos serviços qualificados para que elas possam buscar conquistar a
autonomia e o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitário
d) Suporte religioso e modelos parentais
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Solis-Ponton (2004) diz que ao se tornar pai ou mãe o ser humano tem que
agir tendo seus próprios pais como modelo. E assim no momento que o homem e a
mulher que se descobrem pais entram em contato com os modelos aos quais se
identificaram. Algumas identificações processam-se no decorrer da vida do menino e
da menina de forma consciente, baseadas nos modelos admirados e percebidos
como agradáveis em nível de suas identificações sexuais e padrões culturalmente
aceitos, como, para as meninas o cuidar de crianças e de tarefas domésticas.
Outras ficam na ordem do inconsciente onde, tanto meninos quanto meninas, podem
se identificar com aspectos mais femininos ou aspectos mais masculinos dos pais.
Solis-Ponton (2004) aponta para o fato de que durante a gravidez e nos
primeiros anos de vida da criança a mãe está mais identificada com a imagem do
bebê que ela foi. Além disso, a mãe-mulher também se identifica ao mesmo tempo
com sua mãe e com o seu bebê.
c) Recursos internos – adaptabilidade, flexibilidade, equilíbrio emocional –
capacidade de sustentar física e emocionalmente as crianças / adolescentes,
autoestima
Capacidade de responder aos desafios colocados pelo temperamento e
desenvolvimento particulares do filho seja ele criança ou adolescente; bem como a
capacidade de aceitar e estar preparado para lidar com as características pessoais
que afetam o exercício da parentalidade.
Desde os primeiros meses de vida da criança, os pais e responsáveis devem
dedicar atenção ao desenvolvimento da autoestima, sendo imprescindível estimular,
elogiar, motivar e oferecer muito afeto.
d) Capacidade de comunicar-se com as crianças / adolescentes
A forma e a frequência com que se estabelece a comunicação com os filhos,
respeitando a fase específica do desenvolvimento e as características individuais,
contribui para a formação do vínculo e para o estabelecimento de um
relacionamento afetivo seguro com a criança/adolescente.
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Conclusão
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Referencia Bibliográfica
AZAMBUJA, Maria Regina Fay, et al. Guarda Compartilhada: A Justiça pode ajudar
os filhos a ter pai e mãe?. Disponível em
<http://www.mprs.mp.br/infancia/doutrina/id625.htm>. Acesso em: jun. de 2014.
BORGES, Maria Luiza Soares Ferreira. Função Materna e Função Paterna, suas
vivências na atualidade. Uberlândia, 2005. Disponível em
<http://www.bdtd.ufu.br/tde_arquivos/21/TDE-2005-12-21T145321Z-
63/Publico/MBorgesDISSPRT.pdf>. Acesso em: mai. de 2014.
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KALOUSTIAN, Silvio. (org.) Família brasileira – a base de tudo. 10ª ed. São Paulo:
Cortez, 2011.
MEIRELLES, Jussara Maria Leal de. O valor jurídico do cuidado: família, vida
humana e transindividualidade. Disponivel em
<www2.pucpr.br/reol/index.php/3jointh?dd99=pdf&dd1=7717>. Acesso em: set. de
2014.
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413389X201000020
0023&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 11 nov. 2014.
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DISPUTA DE GUARDA:
FAMÍLIAS EM LITÍGIO
Coordenadores:
Autores:
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INTRODUÇÃO
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Definição de Guarda
Guarda Unilateral
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Guarda Alternada
Cada genitor exerce a guarda em períodos exclusivos, alternadamente. Não
há compartilhamento da guarda. O menor alterna-se em períodos pré-estabelecidos
com o pai ou com a mãe. Ex: janeiro a julho com o pai e agosto a dezembro com a
mãe. Nesta atende-se mais o interesse dos pais do que o dos filhos.
Procede-se praticamente à divisão da criança e esse arranjo gera ansiedade
e tem escassa probabilidade de sucesso (Maria Berenice).
Aninhamento ou Nidação
Neste arranjo familiar o menor permanece morando no mesmo imóvel, no
mesmo local, sendo que os pais se mudam de casa e se revezam para permanecer
em períodos diferentes junto dos filhos. É uma espécie peculiar e pouco usada. As
crianças/adolescentes continuam sob o mesmo teto, no mesmo ambiente e com a
mesma rotina, havendo alternância nos períodos de convívio com os genitores, os
quais se revezam neste sentido.
Guarda Compartilhada
Trata-se da responsabilização conjunta e exercício de direitos e deveres do
pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos
filhos comuns.
Não há exclusividade na guarda. Os pais atuam simultaneamente,
corresponsabilizando-se pelo filho, que tem uma moradia fixa.
Atuação Técnica
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Conciliação;
Mediação;
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“Empowerment” – Empoderamento
Derivado do inglês, esse termo significa uma ação coletiva desenvolvida pelos
indivíduos quando participam de espaços privilegiados de decisões e de consciência
social. Essa consciência ultrapassa a tomada de iniciativa individual de
conhecimento e superação de uma realidade instalada.
O empoderamento possibilita a aquisição da emancipação individual e
também da consciência coletiva para a superação da dependência.
O empoderamento devolve ao indivíduo: poder, dignidade e principalmente a
liberdade de decidir e controlar o próprio destino, com responsabilidade e respeito
ao outro.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Referências Bibliográficas
COTRIM, Cristina Palason Moreira; SILVA, Fabiana Cristina Aidar da; BARROSO,
Gabriela Largacha; MILLER, Kelly Alecssandra Bizi Lopes; ROCHA, Vanessa
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JULIEN, P. Abandonarás teu pai e tua mãe. Rio de Janeiro: Cia de Freud, 2000.
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Coordenação:
Integrantes:
Ana Célia Corbin Vieira Assistente Social Judiciário, Comarca de Lençóis Paulista.
Ana Emília Pascoal, Psicóloga Judiciário, Comarca de Bauru.
Ana Paula Cardia Soubhia, Assistente Social Judiciário, Comarca de Pederneiras.
Ana Paula Gonçalves Calazans, Assistente Social Judiciário, Comarca de Duartina.
Bernadete de Lourdes Salles Baccini, Psicóloga Judiciário, Comarca de Bauru.
Cátia Cristina Xavier Mazon, Psicóloga Judiciário, Comarca de Bauru.
Célia Regina César Monteiro, Psicóloga Judiciário, Comarca de Bauru.
Danielle Pacheco Leme, Psicóloga Judiciário, Comarca de Bauru.
Denise Ferraz de Aguiar, Assistente Social Judiciário, Comarca de Santa Cruz do
Rio Pardo.
Ecléa Corrêa de Lacerda Silva, Assistente Social Judiciário, Comarca de Bauru.
Edelmaris Campanha de Moraes e Lima, Assistente Social Judiciário, Comarca de
Lençóis Paulista.
Edilaine Borges Losilla, Assistente Social Judiciário, Comarca de Bauru.
Ivandra Carla Carneiro, Assistente Social Judiciário, Comarca de Bauru.
Jane Rossana de Campos, Psicóloga Judiciário, Comarca de Bauru.
Laís Elaine Catini Sattin, Assistente Social Judiciário, Comarca de Lençóis Paulista.
Lúcia Aparecida da Fonseca, Assistente Social Judiciário, Comarca de Bauru.
Lucia Maria Rodrigues de Almeida, Psicóloga Judiciário, Comarca de Bauru.
Lúcia Pereira dos Santos Martarelli, Assistente Social Judiciário, Comarca de Itaí.
Márcia Vilma Isabel Morales dos Santos, Assistente Social Judiciário, Comarca de
Bauru.
Maria Aparecida Castilho Forner, Assistente Social Judiciário, Serviço Psicossocial
Clínico, Comarca de Bauru.
Mariana Rosa Cavalli Domingues, Psicóloga Judiciário, Comarca de Lins.
Melissa Fernanda Fontana Torres, Psicóloga Judiciário, Comarca de Lins.
Renata Aparecida Baria Ramos, Assistente Social Judiciário, Comarca de Lins.
Rosângela Aparecida Tonelli de Oliveira, Psicóloga Judiciário, Comarca de Bauru.
Rosangela Frediani Motta Vaz, Psicóloga Judiciário, Comarca de Bauru.
Saulo Camargo, Assistente Social Judiciário, Comarca de Bauru.
Solange Aparecida Serrano, Psicóloga, Comarca de Bauru.
Taciano Luiz Coimbra Domingues, Psicólogo Judiciário, Comarca de Lins.
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INTRODUÇÃO
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Valente (2008, p. 70), afirma que em geral a família tem dois eixos
norteadores, podendo ser o modelo bipolar de família nuclear ou a família
pluriparental.
Richard Alan Gardner foi um psiquiatra americano que nasceu em 1931 e
faleceu em 2003. Trabalhou na Universidade Columbia, na divisão psiquiátrica
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mãe ou do pai pode engendrar sentimento de posse por parte da pessoa que cuida
da criança, dificultando o acesso à figura materna ou paterna;
- crianças cujos pais se separaram depois de anos de violência doméstica.
Muitas vezes, a genitora se muda com os filhos para outro endereço, não
informando ao genitor o paradeiro da família;
- crianças cujo guardião vem a falecer precocemente correm o risco de serem
alienadas daquele que não exercia a guarda. A pessoa mais próxima do falecido
guardião teme que o pai ou a mãe vivo subtraia aquele que representaria a
continuidade do falecido.
Ouvimos com frequência guardiões dizerem que não permitem visitas do
genitor (a) porque a pensão alimentícia não é paga, ou não é paga a contento.
Outra situação comum é a diferença social entre os casais, principalmente se
um deles advém de comunidades carentes e violentas.
Questões ligadas à moral sexual também são desculpas adotadas pelos
alienadores, que visam privar o direito da criança à convivência com o outro familiar.
São vários os motivos que levam o guardião alienador a afastar a criança do
genitor alienado, alegando que estão agindo desta forma em defesa da criança.
Assim sendo, não é fácil ajudá-los a compreender que a sua visão dos fatos é
unilateral e muitas vezes distorcida.
Amigos e familiares devem colaborar neste processo e tentar evitar que a
alienação se instale em definitivo.
Cabe ao profissional ter habilidade para lidar com esta situação, não se tornar
mais um componente no processo de litígio e contribuir de modo construtivo para a
solução do conflito.
Geralmente, as famílias que litigam na justiça não se encontram no modelo
idealizado de família nuclear. Seus integrantes muitas vezes já refizeram uma ou
mais vezes suas vidas amorosas/conjugais. Neste contexto, surge a
pluriparentalidade e cabe aos profissionais evitarem uma postura normativa, que
levaria a qualificar estas famílias como desviantes, “desestruturadas” ou
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4 Questões Éticas
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Código Civil, entre outros) assim como as normativas específicas de cada profissão
(código de ética, normativas, pareceres entre outros).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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6 REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei Federal Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código de Processo Civil.
Brasília, DF: Senado.
BRITO, L.M.T. Família Pós-Divórcio: A Visão dos Filhos. Revista Psicologia Ciência
e Profissão. Vol.27 no. 1 Brasília, 2007.
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COORDENADORAS:
AUTORAS:
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(Aimara Schindler)
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INTRODUÇÃO
Para discussão dos temas elencados foram utilizados textos técnicos e legais,
estudos de casos, exemplos do dia a dia de trabalho, filmes, palestras e dinâmicas
de grupo.
O que a princípio parecia uma ‘colcha de retalhos’ aos poucos foi tomando
forma, de modo que este trabalho é uma maneira de compartilharmos nossas
inquietudes, desconfortos e preocupações, mas também de apresentarmos nossas
reflexões, as quais, esperamos, possam contribuir para construção do lugar
profissional de cada pessoa que se envolve cotidianamente com essas questões.
Segundo Acioli; Carvalho; Stotz (2001, p. 102-103):
A construção de conhecimento implica uma interação
comunicacional, em que os sujeitos com saberes diferentes, porém
não hierarquizados, se relacionam a partir de interesses comuns.
Nessa perspectiva todos somos educadores e fazemos circular
saberes diversos e de diferentes ordens, construídas no
enfrentamento coletivo ou individual de problemas concretos.
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Art. 1634, II Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores: tê-los
em sua companhia e guarda.
No ECA:
Art. 33 A guarda obriga a prestação de assistência material, moral e
educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu detentor o direito de
opor-se a terceiros, inclusive aos pais.
§ 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, podendo ser
deferida, liminar e incidentalmente, nos procedimentos de tutela e
adoção, exceto no de adoção por estrangeiros.
§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos casos de
tutela e adoção, para atender a situações peculiares ou suprir a falta
eventual dos pais ou responsável, podendo ser deferido o direito de
representação para a prática de atos determinados.
§ 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição de
dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive
previdenciários.
§ 4º Salvo expressa e fundamentada determinação em contrário, da
autoridade judiciária competente, ou quando a medida for aplicada
em preparação para adoção, o deferimento da guarda de criança ou
adolescente a terceiros não impede o exercício do direito de visitas
pelos pais, assim como o dever de prestar alimentos, que serão
objeto de regulamentação específica, a pedido do interessado, ou do
Ministério Público.
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O artigo 1.583, do Código Civil aponta que a guarda unilateral obriga o/a
genitor/a que não a detenha a supervisionar os interesses dos filhos, uma vez que o
papel parental não se esgota em prover meios materiais. Na guarda compartilhada a
regra é a mesma, porém a supervisão se dá através de uma participação mais
efetiva na vida dos filhos, o que garante um acesso mais amplo às informações
relacionadas a estes.
Consideramos que no caso de os genitores morarem em municípios
diferentes, porém próximos, é possível compartilhar a guarda porque o que será
compartilhado são as responsabilidades parentais e deverá ser priorizado que a
criança permaneça em um domicílio. A participação na vida dos filhos e as decisões
é que são compartilhadas, podendo os genitores se deslocar para atenderem os
interesses dos filhos, como por exemplo: consultas médicas e reuniões escolares,
dentre outras. O exercício do poder familiar continuará se dando por ambos os
genitores. A localização não é o impedimento, a não ser em se tratando de
distâncias significativamente grandes que inviabilizam o contato. Nestes casos, o
mais indicado é a guarda unilateral uma vez que a guarda compartilhada implica em
consenso entre as partes/ genitores e compartilhamento de responsabilidades no
exercício de educação e formação dos filhos.
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– Lei 12.318/2010
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abrangiam desde a previsão do abuso do direito como ato ilícito funcional até
medidas mais gravosas como a suspensão e destituição da autoridade parental. No
entanto a lei 12.318/10 traz maior segurança jurídica e tem uma função pedagógica/
psicológica.
Segundo Teixeira e Lima (2013), a alienação parental se caracteriza por
atitudes que visam um afastamento da criança do outro genitor, que pode se dar de
várias formas e inclusive com manipulação da psique: programação mental para
repudio do outro genitor e a implantação de falsas memórias. Trata-se de um
processo que visa reduzir ou mesmo eliminar os vínculos afetivos do filho com o
outro genitor.
Ainda segundo as mesmas autoras, a alienação é uma cadeia de
acontecimentos que vagarosamente vai se instalando em um processo na psique do
filho, a qual deverá findar o mais brevemente possível. Para efeitos didáticos se
divide o processo de alienação em três partes: prevenção, identificação e sanção.
- A prevenção evita a judicialização e pode ser feita com informações aos
genitores e profissionais que lidam com infância e juventude; deve ser dada a
conhecer as sanções para o alienador e a conscientização dos danos.
- A identificação é a intervenção imediata do judiciário com caráter inibitório,
com celeridade e cautela tendo em vista o melhor interesse da criança. Pode-se
aplicar a mediação nos casos de alienação numa tentativa dos pais perceberem
formas de interromper este processo alienador.
- Na fase processual é importante a prudência com liminares. A tramitação é
prioritária visto que a demora consolida distâncias, comportamentos e falsas
memórias.
No artigo 5º. da Lei da Alienação Parental está presente a perícia psicológica
ou biopsicossocial. Deve-se buscar na perícia psicológica avaliar a integridade
psíquica da criança enquanto que na biopsicossocial pretende-se uma investigação
do relacionamento da criança com os pais, familiares e sua convivência social. É
preciso ter prudência em relação às denuncias de abuso sexual, principalmente, em
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pai/mãe/criança: (...) deve ser usada quando o foco de atenção clínica é um padrão
de interação entre pai/mãe/criança associado com prejuízo significativo individual ou
familiar, ou desenvolvimento de sintomas clinicamente significativos no
pai/mãe/criança. (DSM-IV-TR, p. 688). Assim, seria possível evitar a criação de
novas síndromes e transtornos desnecessários.
Importante ressaltar que o rótulo de síndrome ou enfermidade mental pode
aprisionar os indivíduos em um diagnóstico, quando os comportamentos passam a
ser vistos exclusivamente como resultado de uma patologia. A diversidade e
complexidade dos comportamentos humanos não podem ser contidas inteiramente
na descrição de um transtorno ou doença. Poderíamos acrescentar ainda que
Gardner propõe graus da síndrome: leve, moderado, grave. Assim, põe sob o rótulo
de SAP uma gama de comportamentos, ampliando a extensão da síndrome.
Sousa (2010) observa a semelhança entre o surgimento da Síndrome de
Alienação Parental com o desenvolvimento do tema da violência doméstica nos
Estados Unidos. Em 1960, nos EUA, criaram a Síndrome da Criança Maltratada, que
teve pais tipificados como imaturos, sexualmente promíscuos, usuários de drogas e
psicopatas. Os pais foram entendidos como os responsáveis isolados pelas lesões e
ferimentos nas crianças. A citada síndrome responsabiliza a psicopatologia dos pais
pelas agressões contra as crianças. No caso da SAP parece semelhante. “Sob o
slogan de síndrome de alienação parental, patologizam e culpabilizam pais,
vitimizam crianças e defendem a intervenção na família visando à coerção e à
penalização.” (Sousa, 2010, p. 134.)
Ao analisar as publicações sobre o tema em território nacional, a autora
constata que há certa confusão sobre quem porta a síndrome. Há autores que
declaram que quem porta é o pai alienador, outros, a criança.
Constatou também que os autores nacionais acrescentam contribuições às
proposições de Gardner, especialmente julgamentos morais. Cita como exemplo: “a
SAP é o palco de pactualizações diabólicas, vinganças recônditas (...) que se
espalham como metástases de uma patologia relacional e vincular.” (Trindade, 2007,
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questionamentos para refletir sobre esta situação e em especial tentar definir qual a
contribuição da equipe técnica do juízo na garantia deste direito à convivência
familiar.
Considerando sumariamente que a guarda é uma prerrogativa do poder
familiar, ela está intimamente ligada ao exercício deste poder, que se exerce em
família e que deve primar, sobretudo, pelo bem estar e pela proteção daquele que é
alvo desta guarda. Sendo assim, o guardião deve pensar na proteção integral da
prole acima de qualquer outra demanda. É neste momento que a inquietação
relativa ao exercício da guarda e o direito à convivência familiar suscita alguns
questionamentos quando em nossas intervenções nos processos advindos da vara
de família.
O maior deles refere-se a uma questão paradigmática que precisa ser
esclarecida para que tenhamos maior propriedade junto a nossa intervenção. É
necessário que se reflita se o direito a que nos referimos é direito de convivência
familiar ou direito de visita.
Se observarmos mais a legislação brasileira, veremos que a convivência
familiar aparece como base legal na Constituição Federal datada de 1988 em seus
artigos 226 e 227:
Art. 226 A família, base da sociedade, tem especial proteção do
Estado
§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade
formada por qualquer dos pais e seus descendentes
§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada
um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência
no âmbito de suas relações
Art. 227 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e À
CONVIVÊNCIA FAMILIAR e comunitária, além de colocá-los a salvo
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membros do núcleo familiar para que não se tenha uma visão parcial da situação e
possamos compreender as motivações conscientes e inconscientes relativas ao
pedido de guarda, além de analisar as causas da separação.
Outros aspectos que devem ser ponderados no estudo referem-se ao
relacionamento atual de ambos os envolvidos, o que pode ser observado em
entrevistas conjuntas, além de individuais, assim como por meio de atendimentos
aos demais membros da família extensa. É importante também analisar como se dá
a interação dos filhos com ambos os genitores, tanto isoladamente como com a
presença de ambos.
Durante estas reflexões, o grupo teve a clareza de que o papel da equipe
técnica do juízo está bem definido, sendo ele o de subsidiar a decisão judicial.
Contudo, nosso compromisso ético político profissional faz com que estejamos
imbuídas de um sentimento ainda maior na defesa deste direito de convivência
familiar e, portanto, acreditamos que devemos ser provocadores para que esta
discussão seja ampliada e suscite o surgimento de um serviço que esteja além dos
estudos processuais propostos.
Entendemos que para a garantia deste direito de convivência familiar, assim
como está posto no Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de
Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária, e para que este
seja tomado como prioridade absoluta, é necessária a criação de seviços públicos
que dêem conta desta demanada. Neste sentido, talvez uma alternativa seja a
implantação de iniciativas como a Oficina de Pais e Filhos, promovido pela
Coordenadoria da Família e Sucessões do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo. O projeto parte da experiência com casais envolvidos em divórcios e
dissoluções de união estável no intuito de servir como um instrumento para a
pacificação das relações, auxiliando os pais na função de proteger os filhos
contra os efeitos danosos decorrentes da vivência na interação conjugal em
conflito, reduzindo traumas decorrentes das mudanças das relações
familiares.
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CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das Sucessões. 21. ed.
São Paulo: Saraiva, 2007.
SILVA, José Henrique P. Principais Conceitos de Winnicott (J.D. Nasio) in: Estudos
Qualitativos e Psicossociais, Disponível em <http://br.monografias.com/trabalhos3/
formacao-rompimento-dos-lacos-afetivos/formacao-rompimento-dos-lacosafetivos.
shtml>. Acesso em: 09 out. 2014.
SOUSA, Ana Martins de. Síndrome da Alienação Parental: um Novo Tema nos
Juízos de Família. São Paulo: Cortez Editora, 2010.
Teixeira, Ana Carolina Brochado & Rodrigues, Renata de Lima. Alienação Parental:
Aspectos Práticos e Processuais. In: Civilistica.com. Ano 2, número1, 2013.
Disponível em: <http://civilistica.com/alienacao-parental/>. Acesso em: setembro de
2014
TRINDADE, Jorge. Síndrome de Alienação Parental (SAP). In: DIAS, Maria Berenice
(Coord.) Incesto e Alienação Parental: Realidades que a Justiça Insiste em não Ver.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p.101-111.
WINNICOTT, Donald Woods. A Criança e seu Mundo. Trad. Alvaro Cabral. Rio de
Janeiro: Ed. LTC, 2008.
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COORDENADORAS
AUTORES
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INTRODUÇÃO
Esse foi o segundo ano que o grupo estudou um tema referente à Vara Cível.
Anteriormente, por seis anos nosso grupo de estudos teve como foco “O Trabalho
Interdisciplinar nos casos de Adoção”, debatendo sobre os diversos subtemas
relativos à situação de adoção (o Conceito de Família, o Mito do Amor Materno, a
Destituição do Poder Familiar, a Avaliação dos Pretendentes à Adoção, o
Desacolhimento e a Colocação da Criança em Família Substituta, entre outros);
sempre tendo como foco principal o trabalho desenvolvido cotidianamente pelos
Assistentes Sociais e Psicólogos Judiciários na Justiça da Infância e Juventude.
No ano de 2013 o tema eleito pelo grupo foi a atuação dos Assistentes
Sociais e Psicólogos Judiciários nas Varas Cíveis (Família), uma vez que a
totalidade dos integrantes do nosso grupo trabalha em Comarcas do Interior do
Estado de São Paulo, nas quais, infelizmente, são raras as Varas Especializadas de
Infância-Juventude e de Família; onde geralmente temos Varas Cumulativas Cível,
Criminal-Infância e Juventude. Nestes locais, é muito comum a atuação solitária ou
de reduzidíssimo número de técnicos judiciários, além de muitas dessas cidades
apresentarem alto índice populacional e como consequência o elevado e crescente
número de processos em tramitação em seus respectivos Fóruns.
As discussões sobre a atuação da equipe interprofissional na área cível levou-
nos à reflexão de nosso papel enquanto peritos, considerando tanto aspectos de
ordem técnicas quanto éticas. Ao nos atentarmos para questões subjacentes aos
processos de separação litigiosa, de guarda ou modificação de guarda de filhos, de
regulamentação de sistema de visitas, uma especialmente nos chamou a atenção
em virtude das crescentes reclamações nos autos: a possível existência da
Síndrome de Alienação Parental (SAP).
Assim, dando sequência às discussões, esse foi o tema eleito pelos
integrantes do grupo como objeto de trabalho no ano de 2014, sempre levando em
consideração nossa prática profissional inserida em um contexto interdisciplinar. A
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Este estudo tem como principal intenção expor ao leitor algumas ideias do
livro “Síndrome da Alienação Parental”, de Analicia Martins de Sousa, utilizado pelo
grupo como disparador das discussões referentes ao tema.
A Síndrome da Alienação Parental foi proposta inicialmente pelo psiquiatra
norte-americano Richard Gardner (1931/2003). Baseadas em sua teoria, diversas
associações de pais separados iniciaram um processo de difusão do tema no Brasil,
sobretudo a partir de 2006. Diante deste quadro, a autora realizou uma pesquisa de
mestrado sobre o tema, que deu origem ao mencionado livro. É importante destacar
que este livro não busca confirmar a presença da SAP, mas sim conhecer as origens
desta teoria e questioná-la, em decorrência das diversas controvérsias e da
ausência de cientificidade dos estudos de Gardner.
Primeiramente, é preciso destacar que no momento em que esta pesquisa foi
realizada havia um projeto de lei (PL 4.053/08) que visava diminuir, ou sanar, os
casos de SAP neste país. Em decorrência deste projeto, em 26 de agosto de 2010,
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foi sancionada a Lei nº12.318, que dispõe sobre a alienação parental, definindo-a
como:
Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação
psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por
um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou
adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que
repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à
manutenção de vínculos com este. (Art. 2º, BRASIL, 2010).
Destaca-se que a Lei nº12.318/10 trata do tema sem defini-lo como síndrome,
diferentemente do que foi preconizado pela teoria de Gardner. Para este autor, a
SAP “seria um distúrbio infantil que ocorreria especialmente em menores de idade
expostos às disputas judiciais entre seus pais” (SOUSA, 2010, p. 15). Além disso, a
SAP ocorreria quando há uma tentativa de exclusão, sem justificativa, por parte de
um dos responsáveis em relação ao outro, sendo que o distúrbio resulta de uma
soma entre esta manipulação e a colaboração da criança no ato de excluir o outro
genitor. Ainda, a SAP seria resultado de aspectos individuais e psicológicos
resultantes do litígio conjugal, ideia questionada por outros autores.
Gardner também compreendia que os profissionais atuantes nos juízos de
família necessitavam conhecer de modo aprofundado a SAP, de forma que ele listou
sintomas que poderiam ser utilizados para a sua identificação, como: difamação do
genitor, incoerência no discurso, apoio ao genitor alienador e argumentação
emprestada deste genitor. Assim, os profissionais deveriam, após diagnosticar a
SAP, propor tratamentos que envolvessem a imposição de psicoterapia, chamada
de “terapia da ameaça” (ESCUDERO; AGUILAR; CRUZ, 2008, p. 303), além de
outras medidas mais extremas, como a mudança de guarda, redução do valor da
pensão alimentícia, utilização de transmissores eletrônicos para rastrear a
comunicação entre genitor alienador e criança e, em casos extremos, a detenção do
alienador.
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Desta maneira, o grupo entende, a priori, que o trabalho a ser realizado com
os envolvidos seria por meio de técnicas psicoterapêuticas, que poderiam auxiliá-los
a um melhor manejo da situação em que estão inseridos. O grupo também destacou
a necessidade de que sejam realizados, com o auxílio da rede multidisciplinar,
trabalhos preventivos, que promovam a sensibilização dos pais no sentido de que o
término da conjugalidade não representa o término da Parentalidade e, por
consequência, acarretem na diminuição de divórcios litigiosos.
Vala ressaltar que a teoria da alienação parental é nova e a escassez de
estudos dificulta uma análise ampla e aprofundada do tema, sobretudo no que tange
às intervenções e interlocução com o Judiciário. Assim, é possível realizar uma
crítica a Gardner, que generaliza as consequências da SAP e não considera a
individualidade e o contexto em que cada um está inserindo, deixando de analisar
que a presença de consequências dependerá de diversos fatores.
Diante destas ideias, pode-se compreender a necessidade de uma reflexão
crítica a respeito da real existência da SAP. Todavia, dizer que a síndrome não
existe não significa excluir a presença do fenômeno da alienação parental, que pode
ser entendido como “atos praticados pelo guardião do menor, com o objetivo de
afastá-lo do convívio do genitor não guardião e demais familiares” (AZEVEDO, 2012,
não paginado), e que não deve ser negada em nossa prática de trabalho.
O grupo compreende que os estudos realizados neste ano foram proveitosos
por terem proporcionado uma aproximação entre os profissionais e as discussões
que permeiam a alienação parental. Porém, tais conclusões remetem a uma
necessidade de que o grupo aprofunde o tema, promovendo outras reflexões.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, Luiz Paulo Queiroz e. Análise crítica da lei de alienação parental em face
da eficácia dos meios alternativos de solução de conflitos familiares. Jus Navigandi,
Teresina, ano 17, n. 3402, 24 out. 2012. Disponível em http://jus.com.br/artigos/22882.
Acesso em: 04 ago. 2014
SOUSA, Analicia Martins de. Síndrome de Alienação Parental – um novo tema nos
juízos de família. São Paulo. Cortez Editora, 2010
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COORDENADORAS:
Maristela Colombo – Psicólogo Judiciário – Chefe - Seção Técnica do Serviço de
Atendimento Psicossocial – Comarca de Marília
Mara Cristina Lourenço Lara Leite Pavanello – Psicólogo Judiciário – Seção Técnica
de Serviço Psicossocial da Comarca de Marília
PARTICIPANTES:
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A Filosofia de Theodor Adorno, considerada uma das mais complexas do século XX, fundamenta-
se na perspectiva da dialética. Uma das suas importantes obras, a Dialética do Esclarecimento,
escrita em colaboração com Max Horkheimer durante a guerra, é uma crítica da razão instrumental,
conceito fundamental deste último filósofo, ou, o que seria o mesmo, uma crítica, fundada em uma
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do próprio domínio pelo poder econômico. O termo “indústria cultural” foi empregado
pela primeira vez em 1947, na publicação da Dialética do Iluminismo,
de Horkheimer e Adorno, e visa a substituir “cultura de massa”.
Para Adorno, a indústria cultural, ao aspirar à integração vertical de seus
consumidores, não apenas adapta seus produtos ao consumo das massas, mas
determina o próprio consumo. Interessada nos homens apenas enquanto
consumidores, a indústria cultural reduz a humanidade às condições que
representam seus interesses e exerce um papel específico de portadora da ideologia
dominante, a qual dá sentido a todo o sistema.
A indústria cultural, cúmplice da ideologia capitalista, contribui eficazmente para
falsificar as relações entre os homens, bem como dos homens com a natureza, de
tal forma que o resultado final constitui uma espécie de anti-iluminismo.
Considerando-se que o iluminismo tem como finalidade libertar os homens do medo,
tornando-os senhores e liberando – os do mundo da magia e do mito, e admitindo-se
que essa finalidade pode ser atingida por meio da ciência e da tecnologia, tudo
levaria a crer que o iluminismo instauraria o poder do homem sobre a ciência e
sobre a técnica. Mas, ao invés disso, liberto do medo mágico, o homem tornou-se
vítima de novo engodo: o progresso da dominação técnica, poderoso instrumento
utilizado pela indústria cultural para conter o desenvolvimento da consciência das
massas.
A indústria cultural nas palavras do próprio Adorno “impede a formação de
indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar e de decidir
conscientemente”. O próprio ócio do homem é utilizado pela indústria cultural com o
fito de mecanizá-lo, de tal modo que, sob o capitalismo, em suas formas mais
avançadas, a diversão e o lazer tornam-se um prolongamento do trabalho.
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TRANSFORMAÇÕES SUBJETIVAS
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de etapas se obtenha um produto ou algo que se deseja. Deste modo crescem sem
apreender que é preciso esforço e paciência, o que influencia seu modo de ser e de
se relacionar com o mundo. Privados de frustrações muitas vezes não desenvolvem
uma personalidade ética.
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TECNOLOGIA E DEPENDÊNCIA
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quadro instalado, sabe-se que dispender maior tempo com a internet aumenta a
gravidade do quadro.
Por outro lado, há estudos que apontam que os jogos online compartilhados
com amigos podem melhorar a atenção e habilidades espaciais e memória. Assim,
como em quase tudo que se refere a esse novo campo epistemológico, há
controvérsias, havendo necessidade de um período maior de avaliação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU, Cristiano Nabuco de; KARAM, Rafel Gomes; GOES, Dora Sampaio and
SPRITZER, Daniel Tornaim. Dependência de Internet e de jogos eletrônicos: uma
revisão. Ver. Bras. Psiquiatr. [online]. 2008, vol.30, n.2, pp. 156-167. ISSN 1516-
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Acesso em: 08 jul. 2014.
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FERREIRA, S.L. et al. Mídias digitais e educação: tudo ao mesmo tempo agora o
tempo todo. In: BARBOSA FILHO, André; CASTRO, Cosette; TOME, Takashi.
(Orgs.). Mídias digitais: convergência tecnológica e inclusão social. São Paulo:
Paulinas, 2005, p. 225-255.
NOVAIS, Fernando. História da vida privada no Brasil. Ed. Companhia das Letras.
São Paulo, 1998.
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INTRODUÇÃO
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demais membros negam a realidade, sendo este um dos fatores que mais
favorecem a continuidade e a (re)produção da violência dentro da família,
conduzindo à perpetuação do abuso por várias gerações.
Scodelario (2002) aponta que o silêncio se instala e se mantém por diversas
razões por parte do cônjuge não agressor: para manter a unidade familiar e não lidar
com perdas, por medo do agressor e cumplicidade inconsciente, somado ao papel
protetor extremamente fragilizado e ataque às próprias percepções.
Do ponto de vista da vítima (criança/adolescente), a mesma autora aponta
que essa mantém o silêncio pelo temor de perder o afeto dos familiares, porque
acredita que ninguém vai protegê-la, receia que não acreditem nela, que a julguem
culpada, que sofra agressões e/ou retirada da família.
Além do complô do silêncio, a dinâmica das famílias de transação incestuosa
se caracteriza por uma grande confusão ao nível das fronteiras intergeracionais, dos
papéis e das identidades no interior do próprio sistema. Neste sentido é comum a
filha cuidar da casa ou dos irmãos menores ou ainda ocupar o lugar de companheira
sexual do pai, enquanto a mãe infantilizada fica esperando que os filhos a protejam.
As práticas familiares incluem o respeito inconteste à autoridade do pai de família, a
obediência necessária dos filhos, a discriminação entre papéis de gênero com
consequente defesa da mulher-criança como objeto sexual do poder masculino.
A família incestogênica tem dificuldades em reconhecer, aceitar e respeitar os
limites. A lei é dada pelo abusador, ele exerce o poder de forma arbitrária - é seu
desejo, seu prazer e suas necessidades que prevalecem.
A fronteira organizacional dessa família é pouco permeável ao exterior, como
se ela suprisse as necessidades de seus membros e eles não tivessem, nem
pudessem buscar nada além dos muros da própria casa ou das determinações do
“chefe”. Assim, apresentam resistências em socializar e inserir culturalmente seus
filhos. A consequência é a de um “viver simbiótico”, com relações exteriores
rarefeitas e pouco consistentes, levando, na maior parte das vezes, ao
empobrecimento e restrição nas trocas afetivas.
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INTRAFAMILIAR
O abuso sexual intrafamiliar é um fenômeno multicausal que, segundo
Azevedo (1995), envolve a experiência de socialização, características
psicopatológicas, fatores situacionais de estresse (desajustes, violência,
desemprego, isolamento, família numerosa, comportamento desafiante etc...), a
posição social (idade, sexo, Status socioeconômicos e rede suporte social), posição
cultural (representação de criança, atitude para com a infância/adolescência,
violência/castigo, mulheres e sexualidade) características particulares da vítima.
[...] o fenômeno da violência é causado por múltiplos e diferentes
fatores socioeconômicos-culturais, psicológicos e situacionais. A sua
definição implica uma abordagem sociopsicointeracionista, que faz
parte do modelo explicativo multicausal. Nesse modelo as condutas
humanas são concebidas como decorrentes da interação indivíduo-
sociedade, sendo âmbito psicológico condicionado pelo social, tal
condicionamento produzido historicamente. As marcas da história
pessoal dos indivíduos revelam-se no contexto da história
socioeconômica. (FERRARI & VECINA, 2002, p.81)
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Indicadores sociofamiliares
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Perícia da psicologia:
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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Da perícia social
O Serviço Social é uma profissão essencialmente interventiva. Tal
particularidade se expressa no processo avaliativo da perícia em situações de abuso
sexual, à medida que dá visibilidade à realidade vivida e às necessidades dos
usuários e propõe medidas protetivas para viabilizar o acesso a direitos.
Segundo Fávero (2011), a realidade dos sujeitos compreende a sua inserção
na coletividade, que envolve seus valores culturais, suas relações com a família,
trabalho, território de moradia e a efetividade da política pública no cotidiano dessas
pessoas. “O conteúdo significativo do estudo social, expresso em relatórios ou no
laudo social, reporta-se à expressão ou expressões da questão social e/ou à
expressão concreta de questões de ordem psicológica...” (FÁVERO, 2011 p. 29)
No Poder Judiciário, o Assistente Social contribui como perito, na medida em
que, após o estudo social, emite um parecer ou opinião técnica sobre determinada
situação.
Imbuídos de conhecimento teórico-metodológico, de um posicionamento
ético-político e habilidades técnico-operativas, o Assistente Social ao planejar seu
processo de intervenção, deverá inicialmente ouvir as versões com cuidado para
não fazer interpretações precipitadas, equivocadas ou preconceituosas.
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Da perícia psicológica
A perícia psicológica é realizada por psicólogos que devem possuir
conhecimentos teóricos e técnicos específicos na sua área de atuação a fim de
integrar os conhecimentos da área de saúde mental e do Direito, uma vez que o
objetivo comum é de contribuir para a garantia de direitos dos indivíduos e da
sociedade. Por isso, o cliente do psicólogo será tanto o sujeito(s) periciado(s), como
o sistema mais amplo que representa a sociedade e que orienta os propósitos
judiciais.
Nesse sentido, é necessário que o perito estabeleça os objetivos da
avaliação, escolha procedimentos metodológicos e elabore documentos que são
encaminhados à autoridade requerente e que por vezes não estarão de acordo com
os interesses do periciado.
O Conselho Federal de Psicologia faz a seguinte recomendação no que se
refere ao relacionamento com o periciado.
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pós-traumático também adaptada para o Brasil por Del Bem, Vilela, Cripp, Hallak,
Labate e Zuardi (2001). Adaptaram ainda o CAPS – Children’s Attributions and
Perceptions Scale de Mannarino, Cohen e Berman (1994), proposto para mensurar
questões específicas do abuso em crianças sexualmente abusadas.
O uso de recursos lúdicos e bonecos anatômicos também devem ser feitos
com cautela a fim de não induzir ou levar a situações fantasiosas sobre a questão do
abuso.
O cuidado principal da atuação do psicólogo na realização da perícia em
casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes, consiste em trabalhar e
buscar o melhor interesse da criança através de uma atitude empática e
acolhedora, para que esta se sinta confiante e segura o suficiente para oferecer
informações sobre a violência sofrida.
Dessa forma, a atuação profissional deve se pautar pela ética e a busca por
compreender o fenômeno como complexo, multifatorial, com determinantes culturais
e políticos, além das particularidades individuais e familiares.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As causas da violência sexual são múltiplas e complexas, portanto, os fatores
que a induzem não poderão ser vistos de forma isolada. Momentos históricos,
contextos culturais, sociais e econômicos, aspectos psíquicos e emocionais
precisam ser inter-relacionados.
Sendo o abuso sexual um fenômeno multicausal, sua compreensão exige o
conhecimento dos projetos sociopolíticos e econômicos que influenciam a
sociabilidade dos indivíduos, desta forma valores machistas, patriarcais,
desigualdade de gênero e poder econômico definem o modelo de relação de poder
de nossa sociedade se reproduzindo no cotidiano da vida familiar,
consequentemente nas relações entre adulto e criança/adolescente.
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.... a instrumentalidade no exercício profissional refere-se, não ao conjunto de instrumentos e
técnicas (neste caso, a instrumentação técnica), mas a uma determinada capacidade ou propriedade
constitutiva da profissão, construída e reconstruída no processo sócio-histórico. (YOLANDA,
GUERRA, A Instrumentalidade no trabalho do assistente social,
http://www.ebah.com.br/content/ABAAABcBEAE/yolanda-guerra-a-instrumentalidade-no-trabalho-
assistente-social1)
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que demanda ação judicial. Nas situações de violência sexual, além de compreender
as peculiaridades da dinâmica familiar e indicar medidas de proteção, a perícia traz
a tona demandas sociopolíticas que podem provocar mudanças de paradigmas e de
garantia de direitos.
Além disso, é primordial que os profissionais de psicologia e serviço social
que atuam na área forense possam se aperfeiçoar através de capacitação
continuada e envolvimento em projetos de pesquisa em parceria com instituições de
ensino, bem como aprimorar e desenvolver técnicas e metodologias de avaliação
para melhor compreensão e diagnóstico do fenômeno no contexto brasileiro.
O sistema judiciário deve possibilitar o redimensionamento do conflito e para
isso precisa estar atento para não contribuir com a manutenção do segredo e o
restabelecimento de relações familiares abusivas. Ao mesmo tempo compreender a
dinâmica multicausal e interinstitucional deste fenômeno é fundamental para que a
atuação interdisciplinar possa assegurar a proteção integral da criança e do
adolescente.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
_____, (orgs). Crianças vitimizadas: a síndrome do pequeno poder. São Paulo, Iglu
(2ª ed.,2007)
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GUERRA, V.N.A. Violência de pais contra filhos: a tragédia revisitada. 3.ed. São
Paulo: Cortez, 1998, 262p.
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INTRODUÇÃO
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Nesse sentido, abordar-se-á neste artigo: a Mediação Familiar, tal como vem
sendo realizada no contexto do judiciário por psicólogos e assistentes sociais; e a
Oficina de Pais e Filhos, segundo os moldes preconizados pelo Conselho Nacional
de Justiça.
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CONCLUSÕES
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REFERÊNCIAS
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BRITO, Leila Maria Torraca. Família pós-divórcio: a visão dos filhos. Psicologia
Ciência e Profissão, 2007, 27 (1), 32-45.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Oficina de pais e filhos, Cartilha do Instrutor,
CNJ - Conselho Nacional de Justiça, 2013. Disponível em:
<http://www.cnj.jus.br/evento/eventos-novos/ii-curso-de-formacao-de-instrutores-em-
oficinas-de-divorcio-e-parentalidade/material-pedagogico>.23
23
O material utilizado nas oficinas, ou seja, “As Cartilhas (Cartilha do Divórcio para os Pais,
Cartilha do Divórcio para os Filhos e Cartilha do Instrutor) e os slides (slides da Oficina de Pais e
slides da Oficina de Filhos) podem ser obtidos gratuitamente através de solicitação ao Ministério da
Justiça, através do e-mail conciliar@mj.gov.br, ou através de download no site do Conselho Nacional
de Justiça” (cartilha do instrutor, p.12).
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INTRODUÇÃO
Todas essas questões surgiram ao se pensar o papel dos avós nas famílias e,
consequentemente se apresentam relacionadas aos pedidos de guardas feitos por
eles. Há situações nas quais os pais não se apoderam de seu papel e função, há
outras em que esses papéis e funções são “usurpados” pelos avós mas, também há
casos de avós que assumem o cuidado porque essa é a única alternativa para evitar
o acolhimento institucional.
Tendo em vista que os pedidos de guarda por avós são demandas presentes com
relativa frequência na rotina do Assistente Social e do Psicólogo do Tribunal de
Justiça e requerem olhares apurados, dada à importância que assumem tais
questões, os encontros do grupo em 2014 foram dedicados a essas reflexões.
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Ainda sobre o papel dos avós nas famílias, na contramão da figura parental
idealizada estão, de um lado, os avós abusivos, negligentes e/ou destrutivos que
comprometem o grupo familiar e, na outra ponta, os avós que são maltratados pelo
próprio grupo familiar.
Já que nem a figura frágil, doce e abnegada das velhinhas de crochê dos
estereótipos e, nem os estudantes de terceira idade que ocupam as academias e
salas de aula das faculdades pode representá-los. Então, quem são os avós?
Não há normas para definir tal papel e funções e, pesquisas que tracem o
perfil dos avós atuais, sem perder de vista, características culturais, sociais e
históricas são escassas.
Falar de avós é se referir a individualidades e fazer menção à pessoas com
diversidade de histórias, escolhas e valores, que chegam à maturidade com sua
bagagem existencial, seus vínculos afetivos e projetos pessoais.
Mas de que avós as crianças precisam?
Segundo Dolto(1998), os avós representam a continuidade, confirmam para a
criança que seus pais também já foram pequenos e que a vida prossegue em seu
ciclo. Liberados da responsabilidade de educar e, teoricamente, mais disponíveis
para desfrutar das relações familiares, os avós seriam para as crianças aquelas
figuras potencialmente capazes de transmitir segurança e apoio, além de terem o
poder de fazer com que se sintam únicas.
Além disso, os avós representariam um apoio importante para os pais nos
momentos difíceis, ou emergenciais, garantindo a eles a manutenção daquela figura
de consolo e afeto a quem recorriam na infância, sem com isso terem que abrir mão
papel de adultos e de principal referência dos próprios filhos. Caberia aos avós estar
presentes quando necessários e, do contrário, se afastar.
Os avós que as crianças precisam são figuras de afeto e segurança para si e
para os pais, aqueles capazes de renunciar à competição com seus genitores pelo
seu amor e cuidados. Pessoas que compreendem que falharam na educação dos
próprios filhos, se perdoam por isto e permitem que eles, por sua vez, aprendam por
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si, a serem pais e mães. Não impõem suas idéias prevalecendo-se da sua condição
familiar, mas opinam, quando requisitados, se utilizando de sua experiência de vida.
São pessoas que permitem que as novas gerações tenham acesso ao passado, aos
valores familiares e as tradições, num meio cultural que muda a cada momento. Os
avós são representantes de uma herança simbólica, mantida ou recriada ao longo
das vidas e que deveria ser transmitida por meio de relações saudáveis e
sucessivas entre as gerações, o que nem sempre é possível.
a) Ausência dos genitores por falecimento ou detenção. Neste caso, os avós são os
candidatos preferenciais para assumirem a guarda, porque como geralmente já
mantêm alguma convivência com a criança, sua presença pode minimizar a
ausência dos pais tornado o afastamento menos doloroso. Além disso, avós de
crianças que têm genitor e/ou genitora detidos, podem preservar uma boa imagem
do(s) pai(s), manter viva a memória do(s) mesmos e preservar os laços que os
unem.
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d) Outra situação compreende avós que pleiteiam a guarda, em comum acordo com
os genitores, sob a justificativa de incluir os netos num plano de saúde, ou ainda
para deixar-lhes um benefício. Neste caso, a guarda de fato é dos pais, que se
encarregam de todos os aspectos da educação dos filhos.
Como a guarda é um instrumento importante que concede amplos poderes,
não deve ser banalizada e estas situações devem ser cuidadosamente analisadas.
Assumir a maternagem contínua de um neto, na fase posterior da vida, pode ser
para alguns, tarefa aceita com alegria, e para outros, um fardo involuntário. Os
cuidados com uma criança representam uma tarefa fisicamente exaustiva e uma
preocupação contínua. Na adolescência, os netos necessitam de conduta firme e, ao
mesmo tempo, flexível e aberta ao mundo moderno e suas demandas. Nem sempre
os avós desejam , têm vitalidade, ou estão preparados, para tal função, mas muitas
vezes são a fonte de segurança possível num momento de crise familiar.
Pontuamos ainda, que o adolescente tem necessidade de se identificar com a
vida e os avós, muitas vezes debilitados, representam sua finitude. Não seria a
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continuidade esperada, isto é, que adolescentes venham a cuidar dos avós, no auge
de sua abertura para a vida e sua própria necessidade de cuidados.
Em outra vertente, estão as disputas de guarda entre genitores e avós em
litígios de maior ou menor intensidade. Há casos em que os genitores se separam e
os avós perdem a convivência contínua com os netos. Enquanto os filhos muitas
vezes estão recompondo a vida amorosa, voltados para outros interesses, esses
avós, acostumados à proximidade dos netos, se ressentem do rompimento da
convivência e em tais situações mobilizam o filho a lutar pela guarda com o objetivo
de reconquistarem seu lugar junto à criança. Nestes casos o perito atento, logo
percebe que o genitor não está motivado a assumir a criança, visto que entra na
disputa por sentimentos de pena, por excessiva dependência emocional dos pais e
como não quer querendo desagradá-los apresenta uma gana de motivações não
pertinentes.
Como é necessária argumentação para constituir o pleito, são citadas
inadequações da parte contrária, iniciando ou acentuando uma situação conflituosa
que, certamente, terá efeitos ainda piores sobre a criança.
Atualmente ainda é comum que o maior ônus dos cuidados diários com a
prole sejam da mulher. Como as tarefas ainda são pouco compartilhadas com o pai,
é comum que em casos de separação o genitor mantenha sua rotina de atividades,
enquanto muitas vezes para se adequar a nova situação de cuidado dos filhos a
genitora tem que rever prioridades e abrir mão de projetos.
Outra situação frequentemente observada é de genitoras muito jovens e
imaturas que deixam a cargo das avós o cuidado dos filhos, não exercem a
maternagem veem nesse arranjo a possibilidade de continuar sua vida interrompida
por uma gravidez. Confiar nos avós constitui uma forma de ver o filho assumido por
pessoa de confiança, sem que isto represente um abandono e dentro do seio
familiar. Porém, quando os avós decidem regularizar a guarda, ajuizando ação,
essas mães realizam um movimento de resgate da criança, porque sua perda do
filho aparentemente aponta sua incompetência e descaso.
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com as demonstrações de afeto da avó pelo neto. Ou seja, avós buscam a guarda
dos netos por necessidades subjetivas, mesmo que os genitores reúnam condições
(biopsicossociais) para assumir as responsabilidades inerentes aos seus papeis e
funções parentais. As necessidades podem estar associadas à construção das
subjetividades no contexto histórico de cada grupo familiar.
Quando surgem intensos conflitos ente as partes, mantêm-se vivas as
impressões emocionais ou vivências passadas, o que pode impedir a reconstrução
de novos padrões de relacionamentos, focados nas funções parentais. Muitas vezes,
as relações não resolvidas entre mãe e filha eclodem com foco no neto, atualizando
ressentimentos do passado, sob o disfarce da proteção.
Quando é possível, no cotidiano do trabalho, o profissional dar visibilidade a
estas questões, emerge uma possibilidade de mudança do conflito para a
cooperação. Entretanto, tais intervenções nem sempre são bem sucedidas, devido
ao próprio enquadre do trabalho no judiciário, que gera uma postura defensiva das
partes.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAUMAN, Z. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Editora Zahar
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Lopes, E. S. L., Neri, A. L. & Park, M. B. (2005). Ser avós ou ser pais: Os papéis dos
avós na sociedade contemporânea. Textos sobre Envelhecimento, 8(2), 30-32.
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Osório, N. B. & Silva Neto, L. S. (2008). O valor dos avós na sociedade brasileira.
Partes Revista Virtual. Disponível em:
<www.partes.com.br/terceiraidade/ovalordosvos.asp>. Acesso em: 25 de abr. 2014.
Pedrosa, A. S. (2006). Homens idosos avôs: Significado dos netos para o cotidiano.
Dissertação de Mestrado não publicada, PUC-SP, São Paulo.
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