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da Vila de Moatize
CAPITULO I - INTRODUÇÃO
1.1 Contextualização
Moatize, como se sabe, possui a maior reserva do carvão mineral do pais e uma das maiores
de África, inclusive do mundo, com mais de 2.6 bilhões de toneladas deste recurso, e o
carvão do tipo Hulha é a que mais ocorre neste local. No entanto, para além de ser uma fonte
de energia, também é a principal matéria-prima para diversas indústrias, com isto, é visível a
incansável corrida por parte de diversos investidores que olham para este cenário como mais
uma oportunidade para expandir os seus negócios, investindo naquela zona avultadas somas
monetárias. A Vale - Mocambique em 2004 ganhou o concurso internacional realizado pelo
governo moçambicano para explorar e exportar o carvão de Moatize, uma vez que o pais a
nível doméstico não reúne capacidades para às efectivar, desde o acesso a tecnologias
capazes, até as condições de escoamento para portos, por onde posteriormente exportar.
Entretanto a Vale - Moçambique assinou com o governo Moçamicano um contrato de
exploração e exportação do carvão de Moatize em Junho de 2007 e só começou a exercer as
suas actividades em 2011 devido as condições infra-estruturais que culminaram com a
reabilitação da linha férrea de Sena e a construção de mais um novo corredor, o de Nacala
onde foram investidos milhões de dólares americanos.
A intenção deste presente trabalho de pesquisa é com base nos indicadores económicos e
sociais disponíveis, diagnosticar o desempenho das grandes empresas mineiradoras na arena
nacional (Megaprojectos) e que implicações esse desempenho trás, não só para a comunidade
local mais tambem para Moçambique como um todo.
Tendo em conta que nem todos foram abrangidos pelos benefícios gerados pela actividade
extractiva, a pesquisa pretende trazer possíveis respostas de perguntas que de certa maneira
pairam na cabeça de todos os cidadãos como por exemplo: porquê é que um pais como
Moçambique, que tem tantos recursos, enfrenta problemas sérios ligados à pobreza, que
fustiga a maior parte da sua população - principalmente os da zona rural-? O que realmente
precisa Moçambique para se desenvolver com base nos recursos naturais que tem? O que está
a falhar para que isto aconteça? Etc…
1.2 Objectivos
Moçambique é um país com uma imensa disponibilidade no que diz respeito aos recursos
naturais nisso, tem se observado uma corrida incansável por parte de investidores que
procuram por mais uma oportunidade de investimento, capitalizando avultadas somas
monetárias nas áreas de extracção e exportação desses recursos (caso particular de Moatize -
Tete), neste contexto, como nos encontramos diante duma economia de mercado em que o
estado não participa na economia deixando que o sector privado possa entre si competir, e um
mercado auto-ajustável e guiado pelas forças económicas, é nesta perspectiva, que o País está
a se tornar num “novo rico”, na matéria1 dos recursos naturais, mas essa dádiva divina não
significa necessariamente um passaporte para a prosperidade que se pretende almejar, visto
que os países ricos em recursos naturais continuam a viver numa situação de extrema
pobreza, mesmo tendo já iniciado com a actividade explorativa já ha algum tempo - como é o
caso de Moçambique.
Este cenário, em que temos recursos abundantes e um crescimento que não se reflecte na vida
dos cidadãos, conduz-nos a uma situação paradoxal face à essa abundância, ou seja, leva-nos
a o que se denomina “maldição dos recursos”, dito por outras palavras “doença holandesa”.
Por outro lado, aqueles países que são pobres em recursos, tem um desempenho económico
bastante superior face aqueles que tem em abundância, e alguns estudos feitos garantem que a
“maldição dos recursos” origina um crescimento económico menor do que o esperado, uma
fraca diversificação económica, indicadores sociais desanimadores, altos níveis de pobreza e
desigualdade, impactos ambientais devastadores ao nível local, corrupção desenfreada,
governação excepcionalmente insatisfatória, e grandes incidências de conflito e guerra.
Contudo, por esta via, emerge aqui algumas questões reflexivas sobre a verdadeira
contribuição que o sector extractivo traz para a economia e o seu impacto na vida dos
cidadãos de Moatize e de Moçambique no geral.
Que estratégias adoptar para que o sector extractivo possa de facto atingir os objectivos de
desenvolvimento que Moçambique pretende alcançar?
Será que as políticas que versam sobre o sector extractivo desempenham um papel chave no
processo de desenvolvimento socioeconómico da região abrangida pelos Mega - Projectos e
de Moçambique em geral?
1.4 Hipóteses
Se o País pudesse colher experiência dos outros países que possuem recursos abundantes e
que tiveram sucesso na matéria de gestão dos mesmos optando em seguir os mesmos modelos
que estes seguiram.
1.5 Justificativa
O tema do presente trabalho de pesquisa foi escolhido mediante o contexto actual face a
descobertas de recursos naturais que se vive em Moçambique, inspirando-se no ambiente de
Moatize em Tete, e acredita-se que a actividade extractiva dos mesmos recursos (Carvão
mineral e outros), seja um dos maiores contribuintes para os elevados índices que o PIB
nacional tem registado nos últimos tempos com tendência na ordem dos 7% a 8% ao ano
desde o começo da exploração.
Tendo este como ponto de partida, o tema do presente trabalho de pesquisa possui uma ampla
relevância, quer no campo científico, no campo económico assim como na ala social.
Já a relevância económica que o presente trabalho de pesquisa possui é que através do mesmo
pode-se obter a verdadeira noção sobre o desempenho da economia extractiva e industrial em
Moçambique e das suas contribuições económicas como previsto nos objectivos acima
expostos.
Por fim, a relevância social deste trabalho de pesquisa observa-se na medida em que serão
avançadas algumas medidas dentro do contexto político - legal que irão versar sobre o bem-
estar dos cidadãos.
O presente estudo decidiu abarcar a Província de Tete mais precisamente a Vila de Moatize,
por ser uma das vilas que mais recebe investimentos na área de pesquisa e extracção de
recursos principalmente minerais, tal como o carvão e pelas avançadas mutações conjunturais
que surgem como resultado da actuação desses mega projectos.
O quarto capitulo apresenta a revisão da literatura que fornece as principais bases teóricas de
suporte do trabalho. Neste capitulo procura-se analisar como é que .....................
CAPITULO II – METODOLOGIA
A metodologia visa mostrar como os dados serão encontrados e quais os tratamentos que os
mesmos serão submetidos para que as analises que se seguem sejam capazes de responder aos
problemas encontrados no decorrer da pesquisa. Contudo, podemos afirmar categoricamente
que “a especificação da metodologia de pesquisa é a que abrange maior número de itens, pois
responde, a um só tempo, às questões como? Com quê? Onde? Quanto? LAKATOS,
MARCONI (2003,p.221), e quando será realizado o trabalho?
A presente pesquisa para a Monografia será uma pesquisa de natureza exploratória, onde os
dados serão recolhidos mediante as técnicas e procedimentos previamente estabelecidos
como: a pesquisa bibliografica e documental, que trata de assuntos directa e indiretamente
relacionados com o tema, pesquisa na internet de artigos publicados nos diversos websites,
cuja finalidade era de encontrar fundamentacao teorica para o respectivo trabalho. Foram
ainda, realizadas entrevistas formais e informais com diversas personalidades que trabalham
em, ou lidam com planificacao e elaboracao de estrategia extractiva, e outras personalidades
que nao trabalham nem lidam com tais instituicoes cuja finalidade é colher pareceres que vao
ao encontro dos objectivos do trabalho.
O material bibliográfico foi extraído da internet, sob forma de documentos oficias como:
artigos, revistas electrónicas, leis, teses etc., que abordam sobre indústria extractiva e também
sobre impactos socioeconómicos da actividade mineira em Moatize e Moçambique em geral.
Esses artigos, foram encontrados nos Sites oficiais de instituições como: IESE (Instituto de
Estudos Sociais e Económicos), CIP, (Centro de Integridade Publica), ITIE (Iniciativa da
Transparência na Industria Extractiva), INE (Instituto Nacional de Estatísticas), Portal do
Governo de Moçambique e também em Sites de publicações como Wikipedia, trabalhos
feitos e Google etc.
Esses dados, passaram por um processo de elaboração e análise das informações no sentido
de seleccionar aquelas mais fidedignas, essas informações serviram de suporte a revisão de
literatura da Monografia final. A pesquisa também se baseou na análise de dados colhidos a
partir de cadastro de licenciamento de mineração em Moçambique, do quadro legal de
mineração de Moçambique.
A pesquisa de campo propriamente dita “não deve ser confundida com a simples colecta de
dados (…), é algo mais que isso, pois exige contar com controlos adequados e com objectivos
preestabelecidos que descriminam suficientemente o que deve ser colectado” (Trujillo,
1982:229).
Assim sendo, a pesquisa de campo é a ida ao terreno por parte do pesquisador no sentido de
colher dados por meio de contacto com aquelas pessoas que conhecem o problema, ou vivem
no ambiente que se deseja estudar, podendo desta maneira, assegurar que as informações que
se deseja obter sejam dadas por uma fonte fidedigna.
Segundo MARCONI; LAKATOS (2003, p.186) “para uma pesquisa de campo eficiente, em
primeiro lugar deve-se realizar uma pesquisa bibliográfica sobre o tema em questão, para
saber o estágio que se encontra actualmente o problema e quais são as opiniões que reinam
sobre o assunto (…). A segunda fase compreende a determinação de técnicas que serão
utilizadas na colecta de dados e na determinação da amostra que deverão ser representativa e
suficientemente apoiar nas soluções (…). A terceira e última fase diz respeito a colecta de
dados onde são indicadas as técnicas de registos e as que serão utilizadas nas análises
posteriores”.
É a fase da pesquisa que é realizada com intuito de recolher informações prévias sobre o
campo de interesse (…)”. LAKATOS, MARCONI (2003,p.174).
Para o presente trabalho de monografia foi tida a amostragem aleatória simples das 1365
famílias reassentadas pela Vale em Moatize, pois trata-se de um universo um pouco mais
complexo atendendo e considerando a capacidade do pesquisador, esse método ira consistir
em construir uma amostra representativa, para isso foi identificada em um dos bairros
reassentados (25 de Setembro) um universo de 150 famílias reassentadas onde será extraída a
amostra representativa desta mesma população.
Contudo a etapa a seguir mostra como esse processo ocorreu até a obtenção da amostra
representativa.
Assim sendo, para o cálculo da amostra que se trabalhou no decorrer da pesquisa usou-se as
seguintes Formulas:
no =1/ E02
A=Nxno / N+no
Onde:
N = Tamanho da população
n = tamanho da amostra
Contudo, obtivemos os seguintes resultados:
no = 1/(0.04)2
no = 625
A = 150x625/(150+625)
A = 121 famílias
2.6.1 Observação
MARCONNI et LAKATOS (2003, p. 190) definem observação como “uma técnica de
colecta de dados para conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de
determinados aspectos da realidade.” isto é, não consiste em apenas ver ou ouvir, mas
também em examinar factos ou fenómenos que se deseja estudar.
Entretanto para a presente pesquisa como tratava-se de uma de carácter exploratório os factos
foram percebidos de forma directa sem que houvesse intermediários.
2.6.2 Questionário
MARCONNI et LAKATOS (2003, p. 201) definem questionário ou inquérito como sendo
“um instrumento de colecta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que
devem ser respondidas por escrito sem a presença do entrevistado”. Ou seja é um instrumento
que visa recolher informações baseando-se na inquisição de um grupo representativo da
população em estudo.
É nesse sentido que o inquérito elaborado pelo pesquisador foi padronizado de modo a
assegurar a confiança, generalidade e acima de tudo validade, onde todos os inqueridos foram
apresentados as questões nos mesmos moldes. De salientar que o inquérito foi construído
cuidadosamente com questões generalizadas sobre o local onde incidiu a pesquisa.
2.6.3 Entrevista
GIL (1999, p.117) conceitua a entrevista como “a forma de interacção social”. Ou seja, é uma
forma de diálogo assimétrico em que uma das partes busca colectar dados e a outra se
apresenta como fonte.
Entretanto houve a necessidade por parte do pesquisador no âmbito do estudo de campo,
aprimorar as técnicas de pesquisa, por isso que manteve uma conversa com dois dos
representantes dos reassentados em 25 de Setembro - Moatize pela Vale. No sentido de
através desta colher maior número de dados.
Branco (1982) define minério como “associação de minerais das quais se pode extrair com
proveito económico, uma ou mais substâncias úteis, sejam metais ou compostos químicos.
São rochas contendo minerais que podem ser recuperados com o objectivo de se obter lucro”.
É um combustível fóssil extraído da terra por meio de mineração. Sua origem se dá a partir da
decomposição de matérias orgânicas (resto de árvores e plantas) que se acumulou sob uma
lamina de água, ha milhões de anos.
O carvão mineral é utilizado na produção de corantes, medicamentos entre outros, além disso
serve também como fonte energética para indústrias siderúrgicas na produção de aço.
3.1.3 Indústria
3.1.4 Desenvolvimento
Indústria extractiva
Indústria de transformação
Indústria extractiva vegetal que lida com a extracção florestal; e a industria extractiva mineral
que opera na extracção de minérios-energético (ouro; carvão; diamantes; petróleo; gás
natural; etc.)
3.2.2 Megaprojectos
Para MOSCA et SELEMANE (2011) “Os empreendimentos (…), que no geral têm recebido
investimentos iniciais não inferiores a USD 500.000 (quinhentos mil dólares americanos) são
definidos como mega-projectos”.
Devido as características acima citadas, pode-se definir mega-projecto como aquele projecto
de grande dimensão pelo seu volume de investimento que é bastante elevado.
Por sua vez, todas as relações sócias consubstanciam com as relações de poder, e vice-versa.
Esta última é que vai definir o território que o individuo detém o seu domínio. Desta maneira,
qualquer domínio sobre um determinado território implica a presença de poderes políticos,
económicos e sociais. O aspecto multifacetado desses poderes possibilita a compreensão da
produção territorial dentro do contexto que vivenciamos, pois a produção do território pode
atravessar além das delimitações geográficas, uma vez que a sua demarcação pode ser feita
de forma abstracta.
Importa referir que as estratégias adoptadas para atender o processo de dinâmicas territoriais,
por um lado, podem ser de carácter político - económico tornando o território mais funcional
e, por outro lado tem um carácter cultural - simbólico e mais subjectivo. Isto quer dizer que
as mutações territoriais podem responder os interesses económicos daqueles que produzem e
em simultâneo responder os interesses daqueles que consomem.
Com estas demonstrações a cima, fica mesmo claro que os territórios são dinâmicos, embora
apresentem movimentos de diferentes orientações, que de um lado pode ser construtivo e de
outro destrutivo. O primeiro quando os resultados das estratégias são benéfica para todos os
integrantes da sociedade e o segundo quando esses resultados são restringidos à outros
membros da sociedade.
De salientar que a identidade territorial, apesar de ser também social, ela é definida
principalmente com base num território. Neste sentido, HAESBAERT (1999) denomina de
identidade sócio territorial pelo facto do processo de identificação social ter como um dos
aspectos fundamentais para a sua estruturação a referência a um território, tanto no sentido
simbólico quanto concreto.
Tal como foi dito, o processo de produção da identidade territorial tem o tempo como o seu
principal aliado, considerando que no decorrer da construção identitária do território vários
serão os desafios encontrados e vencidos, para que no final seja possível a construção de um
território multifacetado. Para elucidar esse aspecto (MEDEIROS, 2006.p283) afirma que no
final da construção do território “...as marcas de sua história vão sendo fixadas como marcos
de sua identidade”.
Existem diversos factores que de certa maneira estão interligados e que causam pobreza em
Moçambique são eles a guerra de três décadas ocorrida, salários baixos, desemprego,
fragilidade de acesso a serviços básicos tais como infra-estruturas, rede sanitária,
escolaridade, a crise originada pelas dívidas ocultas, as dificuldades geradas pela actual
pandemia da COVID – 19 e por ai em diante.
A ocupação colonial começou no litoral de Moçambique entre 1507 à 1507, com instalação
de feitorias ao longo do País nas décadas de 30 e 40 desta época, entretanto as feitorias
construídas eram de defesa militar, visto que a intenção era de dominar o escoamento do ouro
e o acesso às zonas produtoras, dai o uso da força militar pelos portugueses, uma vez que
nestes territórios já estavam lá a operar os islâmicos e indianos. Segundo (LANGA, 2012) no
primeiro momento os portugueses tiveram que se passar por comerciantes para poder entrar e
posteriormente, através da força, foi possível estabelecer a dominação das zonas de produção
de ouro e de marfim.
Ficava mais claro ainda, que Portugal ao aproveitar o boom económico das colónias, viria a
resolver diversos problemas que apoquentavam a sua economia doméstica nomeadamente: o
desemprego; a superpopulação; as necessidades de novos mercados para produtos internos e,
como também a demanda por matéria-prima no País. Contudo, a metrópole investiu em
projectos ligados a infra-estruturas, tais como linhas férreas, portos, pontes e estradas, que
vinham facilitar o aumento da mobilidade e fluxo dos produtos.
O ponto de partida para a luta de libertação nacional foi, segundo historiadores o massacre de
moeda a 16 de Junho de 1960, episódio este que ficou marcado pela confrontação entre os
camponeses e as autoridades coloniais. Tratava-se simplesmente de uma reunião entre o
colono e o povo que visava discutir a relação entre ambas partes, que acabou resultando em
revolta no seio popular:
Voltando a década de 80, no sentido de fazer face as lacunas trazidas pela guerra de
desestabilização, houve a necessidade de aceder à empréstimos internacionais, tornando-se
assim em uma nação endividada e cada vez mais dependente dos países hegemónicos.
(MATSINHE, 2011), refere que mesmo após a independência de Moçambique os problemas
de ordem político, económico e social continuaram através das guerras, crises económicas e
por consequência o contínuo empobrecimento da população.
Mediante esses factos, a única saída encontrada pelo governo da época foi a adesão as
instituições de BrettonWoods, Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. Tanto que
“em 1984 a ajuda pedida foi atendida e o governo assinou um acordo com o Banco Mundial,
resultando uma disponibilização imediata de 45 milhões de dólares”. (BELLUCCI, 2008;
NICOLAU, 2008). Mas para aderir os fundos dessas instituições o governo viria a ser
obrigado a realizar diversas reformas na sua conjuntura político-económica no sentido de
atender os preceitos das instituições financeiras que não mantem nenhuma relação de
afinidade com os governos socialistas, pautando sempre em operar em Estados liberais e
neoliberais, ou seja, o governo moçambicano seria obrigado a deixar de lado o socialismo,
abrindo portas da sua economia para a participação privada, dentre eles nacionais e
estrangeiros, dado que introduziu-se um programa de ajustamento estrutural do Banco
Mundial que permitiu a privatização no País, bem como o cumprimento de outros objectivos
liberais.
As crises e guerras do passado trouxeram para Moçambique várias consequências tais como:
estruturas sócias sem organização, milhares de moçambicanos deslocados e até traumas
psicológicos, isto é, deixou os moçambicanos a viverem numa “condição igual ou pior a qual
Moçambique se encontrava quando província portuguesa. Mas agora há uma diferença, sob o
comando do estado pelos próprios moçambicanos”. (BELLUCI, 2006 e 2008).
Para Castel-Branco (2011), o período pós - conflito muitas vezes, é “um novo estágio e uma
diferente forma do mesmo conflito, a qual a guerra ou outra configuração mais violenta de
conflito é trocada por outros meios de disputa do poder”.
5.2 Exploração dos recursos: uma nova perspectiva colonial encabeçada pelos
megaprojectos
Falar de Moçambique é o mesmo que falar de um país com elevado potencial em termos de
recursos quer agrícola, bem como mineral, facto que tornou o país sob ponto de vista
económico político e social numa região estratégica para atraccão de vários investimentos,
sendo assim uma das economias que mais cresceu nos últimos anos do século XX
impulsionada pela aparição de megaprojectos ligados a extracção de minerais e energéticos.
Possui mais de cem mil trabalhadores incluindo os terceirizados. Por ser uma multinacional
globalizada tem presença nas bolsas de São Paulo (Bovespa), Nova Iorque (NYSE), Madrid
(Latine) e Hong Kong (China). (MOSCA & SELEMENE, 2011)
Segundo o Banco Mundial (2012) a escala do projecto é grande, olhando para uma economia
como a de Moçambique que tem um produto interno bruto (PIB) de 12.24 bilhões de dólares
americanos.
A Vale gastou cerca de 2 bilhões de dólares na primeira fase, e igual quantidade de valores na
segunda fase e 4 bilhões de dólares em infra-estruturas. A intenção da empresa era que a
mina de Moatize exportasse anualmente na primeira fase 11 milhões de toneladas de carvão,
depois na segunda fase o dobro da quantidade. Por causa da ausência de infra-estrutura, a
meta foi reduzida de 5 milhões de toneladas para 2,6 milhões de toneladas no ano de 2012.
Segundo Abdul Razak, o ministro dos recursos minerais e energia da época, existem outros
benefícios como a renovação da infra-estrutura, instalação de outras empresas para atender a
demanda das mineradoras e contratação de mão-de-obra local. (ESTADAO DE SÃO
PAULO, 2013)
Segundo JOSÉ e SAMPAIO (2011) “os processos mineiros são grandes consumidores da
água e nos locais onde existem grandes riscos ao património ambiental a mineração precisa
ser vedada”. Embora as práticas minerais hoje em dia sejam mais aperfeiçoadas, ainda
existem riscos ambientais que variam:
(...) Desde a geração e transporte de sedimentos causados por estradas mal conservadas
durante a fase de exploração até o assoreamento de cursos de água e aumento de partículas
sólidas em suspensão nas águas durante a fase de operação da mina. (JOSÉ & SAMPAIO,
2011, p. 17)
Importa referir que a maior parte da população moçambicana habita na zona rural, algumas
dessas zonas é onde os megaprojectos estão instalados. Por tanto, se contaminarmos a água,
estaríamos a inviabilizar o processo de desenvolvimento sustentável para as comunidades e o
país no geral. Realçar também, que os efeitos tecnológicos das ultimas décadas relacionadas
com a mecanização da actividade extractiva com vista a aumentar a capacidade de
manuseamento de grandes volumes de material também contribui para a esterilidade dos
solos e do meio ambiente no geral.
O relatório da Human Rigths Wacth (2013) sobre os estudos dos impactos ambientais (EIA),
relacionado com a Vale descrevem os impactos previstos dos seus projectos e o planeamento
para minimiza-los. O documento demonstra que a proximidade da minas instalada em
Moatize em relação aos assentamentos, a cidade de Tete ao Rio Zambeze e ao Revibue
aumentara o risco de impactos a saúde e a economia, sobretudo no caso em que ocorreram
falhas em termos de mitigação.
Dessa maneira, pode-se constatar que os megaprojectos são poucas vezes fiscalizados e que
as leis atribuídas a questões ambientais possam a não coadunar com as que a organização
mundial de saúde (OMS) recomenda.
Segundo MOSCA et SELEMANE (2011) os dados que a Vale divulga não indicam
claramente o custo total do reassentamento. Segundo a própria empresa, foram investidos na
parte social durante a fase de estudos de viabilidade 7.000.000 dólares americanos.
O processo de transferência da população aconteceu entre 09 de Novembro de 2009 a 28 de
Abril de 2010, nesse âmbito as pessoas foram transferidas para dois locais nomeadamente 25
de Setembro e Cateme, a mais ou menos 40 km de distância da cidade de Tete.
Os funcionários da Vale disseram à Human Rights Watch que eles não anunciaram
proeminentemente a possibilidade de assistência financeira directa ou indirecta, por medo que
as comunidades afectadas gastassem todo o seu dinheiro de forma rápida e, em seguida,
ficassem em condições vulneráveis, sem habitação e terra adequada. (HUMAN RIGTHS
WACTH, 2013, p. 47)
Por tanto, este fenómeno chamou a minha atenção como pesquisador que decidi buscar dados
sobre o mesmo em Moatize, no bairro 25 de Setembro - uma comunidade reassentada pela
Vale para apurar a veracidade dos factos. Assim sendo, realizou-se um pequeno inquérito
para compreender o grau de satisfação das famílias abrangidas pelo projecto de Mineração da
Vale que foram reassentadas naquela zona. Foram inqueridas cerca de 30 agregados
familiares representados pelos chefes de famílias e de pessoas mais velhas que se
encontravam em casa na data do inquérito.
Tendo em conta o que foi previsto pela Vale, o processo de transferência das famílias iria
acontecer entre 09 de Novembro de 2009 a 28 de Abril de 2010 e abrangeria cerca de 1365
famílias oriundas de 10 comunidades que fazem parte dos limites das actividades da empresa
de mineração, por sua vez o inquérito foi realizado numa localidade do bairro acima citado
onde foram reassentada cerca de 150 famílias e considerado apenas 20% da mesma
população. Por sua vez, a respeito do período em que ocorreu o processo de transferência das
famílias, todas elas (as famílias) foram unânimes em dizer que foram transferidas em meados
de 2010. Contudo de acordo com esta informação é possível diagnosticar que o processo de
transferência das famílias continuou a ocorrer mesmo com o prazo esgotado. Ou seja, houve
famílias que foram reassentadas tarde e não entre as datas previstas.
É valido acrescer que das 121 famílias inqueridas, 52 delas (43%) são compostas no máximo
de 6 pessoas, 28 famílias (23%) são compostas no mínimo de 8 pessoas, 40 famílias (33%)
são compostas no máximo de 4 pessoas e nenhuma família de somente duas pessoas. Facto
que demonstra que as famílias são numerosas e carecem de casas espaçosas para albergar
todos os membros da família. Por outro, lado o processo de transferência ou deslocamento de
pessoas de um lugar para outro, pode implicar uma perca de identidade dessa população caso
se verifique irregularidades ao longo do seu processo.
A mesma população quando indagada sobre a qualidade das novas casas esses não
divergiram em termos de raciocínio, para estes as casas são de péssima qualidade e não
oferecem padrões mínimos de segurança, muitas delas já apresentam grandes sinais de
infiltração e rachas com risco de desabarem a qualquer momento. Por outro lado, a Vale e o
Governo consideraram que os reassentados estão em segurança e as casas são de qualidade e
foram construídas mediante o que foi projectado pela população.
Sobre o apoio tanto do Governo bem como da Vale no período pós reassentamento, as
famílias divergiram em termos de opiniões, das 121 famílias inqueridas 88 (73%) alegaram
que nunca tiveram apoio das duas partes acima, 19 famílias (16%) responderam que as vezes
tiveram o apoio mas apenas no inicio, e as restantes 7 famílias não responderam esta questão
(6%). Por tanto, nota-se que tanto o governo moçambicano como a empresa Vale, só queriam
transferir as famílias das zonas de actividade mineira, para que a mesma não incidisse sobre a
população, por um lado as famílias não seriam directamente afectada pelos impactos
ambientais negativos da mineração, mas por outro lado a falta de apoio das partes envolvidas
no negocio traz impactos negativos para esta população que de certa forma torna-se
dependente das doações e dos programas de apoios ficando inibidas da autonomia
económica, político e social.
No que tange a fonte de rendimento das famílias afectadas pelo projecto de reassentamento,
do universo inquerido 73 famílias (60%) são compostos por agricultores que praticavam a sua
actividade nas bermas dos Rios Zambeze e Rivobue. 33 Famílias (27%) são desempregadas e
sem meio de subsistência, 7 (6%) comerciantes e 7 (6%) empregados assalariado. Esses
resultados mostram que a maior parte das famílias reassentadas são agricultores e carecem de
devida compensação de terra para continuar a exercer a actividade tal como anteriormente.
Acresce referir que não há postos de empregos na zona onde as famílias foram reassentada,
tendo a pequena percentagem de empregados acima citada percorre distancia de cerca de 40
km até a cidade de Tete ou quase 20 km para a Vila de Moatize para os seus postos de
trabalho. (vide o gráfico 3).
No que concerne as outras questões do inquérito que não foram citadas ao longo deste
capítulo (vide o anexo que se refere ao inquérito), tal como questões ligadas a vias de acesso,
escolas, hospitais, mercados, posto policial e índice de preços nos locais de reassentamentos,
todas as famílias inqueridas foram homologas ao mostrar-se insatisfeitas com a nova situação
de vida que foram involuntariamente exposta.
Embora haja alguma melhoria no que diz respeito a estrada que da acesso à vila de Moatize
com o processo de pavimentação da mesma, nem toda se encontra abrangida, por exemplo
esse programa de colocação de paveis não abrangeu a comunidade reassentada, parando a
quase 4 km da zona de reassentamento. Os inqueridos denunciam também a falta de escolas,
hospitais, mercados, posto policial, etc…
Embora a Vale tenha distinguido os grupos sociais (urbanos e rurais) como foi visto
anteriormente, a agricultura é a principal actividade que garantem a subsistência e
sobrevivência da maior parte das famílias abrangidas pelo projecto, nesse sentido a
transferência destas pessoas para uma terra improdutiva, com solos que não são férteis,
tornara esta população dependente de programas de assistência alimentar, que muita das
vezes não são confiáveis.
Para além dos problemas relatados anteriormente concernente a qualidade das casas
construídas e questões ligadas ao solo, dentre outros problemas, no âmbito da pesquisa de
campo foram referenciado casos que davam conta que alguns camponeses foram atribuídas
terras pelo Governo para dar continuidade com a sua vida agrícola, mas por outro lado essas
terras já tinham proprietários. E Segundo a Vale já existiam cerca de 67 agregados familiares
nesta situação e a empresa disse só ter descoberto esta situação depois do processo de
reassentamento ter sido efectivado, entretanto a Entrevistada (Helena Marques) disse:
Dou graças a Deus por não terem-me concedido essas terras, mas a minha
vizinha que também tinha machambas se debateu com este dilema. Ela (a
vizinha) depois de ser oferecido a terra produziu milho no primeiro ano
(2010) e já no segundo ano vieram algumas pessoas a dizer que a terra era
delas, então ela foi obrigada a deixar o seu milho que já havia plantado para
a próxima campanha agrícola. (No entanto) dirigiu-se a Empresa (Vale) para
expor a situação e lhe disseram que dariam mais terra. Isto já faz um bom
tempo.
Apesar dos esforços que a Vale diz ter realizado no sentido de fazer alguns reparos para
colmatar os problemas acima levantados e no seu Plano de Acção. Até Março do presente ano
(2016), período em que o pesquisador esteve empenhado no trabalho de campo em Moatize
na comunidade reassentada de 25 de Setembro não se notou nenhuma aparente melhoria no
que diz respeito aos problemas acima levantados sobre as inquietações por parte dos
reassentados.