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Tema: Contribuiçao da Industria Extractiva para o desenvolvimento económico local – caso

da Vila de Moatize

CAPITULO I - INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização

O presente trabalho de culminaçao de curso, disserta em torno do tema: Contribuiçao da


Industria Extractiva para o desenvolvimento económico local – caso da Vila de Moatize.

Inserido no actual contexto de descoberta e exploração dos recursos dentro do território


nacional, a presente pesquisa visa analisar as reais contribuições que este sector (de
actividade extractiva) tem trazido para o benefício do povo moçambicano em particular aos
cidadãos directamente afectados pelos projectos de exploração do carvão vulgarmente
conhecidos como Megaprojectos. Segundo alguns indicadores, a economia moçambicana nos
últimos anos (Ignorando as consequencias da Covid – 19 que vem comprometendo o
crescimento economico desde que se instalou) tem crescido de forma rápida e agressiva
devido a emergência desses Megaprojectos em áreas ligadas aos recursos naturais, com
principal destaque para: o carvão mineral de Tete, as areias pesadas de Moma em Nampula, o
gás e petróleo da bacia de Pemba, etc. Assim, este cenário tem chamado atenção de todos os
agentes da sociedade, desde o Estado o sector privado e até a sociedade civil, devido a
magnitude dos fluxos que se investem nestes sectores, pois acredita-se que esta actividade
seja a ponte para a prosperidade (desenvolvimento) que o pais pretende alcançar.

Moatize, como se sabe, possui a maior reserva do carvão mineral do pais e uma das maiores
de África, inclusive do mundo, com mais de 2.6 bilhões de toneladas deste recurso, e o
carvão do tipo Hulha é a que mais ocorre neste local. No entanto, para além de ser uma fonte
de energia, também é a principal matéria-prima para diversas indústrias, com isto, é visível a
incansável corrida por parte de diversos investidores que olham para este cenário como mais
uma oportunidade para expandir os seus negócios, investindo naquela zona avultadas somas
monetárias. A Vale - Mocambique em 2004 ganhou o concurso internacional realizado pelo
governo moçambicano para explorar e exportar o carvão de Moatize, uma vez que o pais a
nível doméstico não reúne capacidades para às efectivar, desde o acesso a tecnologias
capazes, até as condições de escoamento para portos, por onde posteriormente exportar.
Entretanto a Vale - Moçambique assinou com o governo Moçamicano um contrato de
exploração e exportação do carvão de Moatize em Junho de 2007 e só começou a exercer as
suas actividades em 2011 devido as condições infra-estruturais que culminaram com a
reabilitação da linha férrea de Sena e a construção de mais um novo corredor, o de Nacala
onde foram investidos milhões de dólares americanos.

Atendendo e considerando as necessidade que o país enfrentará em termos de


desenvolvimento, no âmbito das rúbricas dos contratos de exploração entre o Governo e as
mineradoras baseado em acordos ficou estabelecido que em troca dos benefícios fiscais que
estas mineradoras iriam receber, estas últimas seriam encarregadas de realizar projectos de
desenvolvimento não só da sociedade no geral, mais principalmente das pessoas que foram
directamente abrangidas pelos projectos de mineração (os reassentados), contribuíndo deste
modo para o Produto Interno Bruto (PIB) em geral e o per capita.

A intenção deste presente trabalho de pesquisa é com base nos indicadores económicos e
sociais disponíveis, diagnosticar o desempenho das grandes empresas mineiradoras na arena
nacional (Megaprojectos) e que implicações esse desempenho trás, não só para a comunidade
local mais tambem para Moçambique como um todo.

Tendo em conta que nem todos foram abrangidos pelos benefícios gerados pela actividade
extractiva, a pesquisa pretende trazer possíveis respostas de perguntas que de certa maneira
pairam na cabeça de todos os cidadãos como por exemplo: porquê é que um pais como
Moçambique, que tem tantos recursos, enfrenta problemas sérios ligados à pobreza, que
fustiga a maior parte da sua população - principalmente os da zona rural-? O que realmente
precisa Moçambique para se desenvolver com base nos recursos naturais que tem? O que está
a falhar para que isto aconteça? Etc…

1.2 Objectivos

1.2.1 Objectivo geral

Analizar a contribuição da Indústria Extractiva para o desenvolvimento económico local com


base no estudo de caso da Vila de Moatize.

1.2.3 Objectivos específicos

 Descrever a relação teórica entre a Indústria Extractiva e o desenvolvimento


económico dos Países e a sua contribuição para a economia local;
 Identificar os desafios da Indústria Extractiva na contribuição para o desenvolvimento
económico local;
 Descrever a evoluição da Indústria Extractiva em Moçambique;
 Medir o impacto da Indústria Extactiva no desenvolvimento económico local com
base no estudo de caso da Vila de Moatize.

1.3 Problematização e pergunta de Pesquisa

Moçambique é um país com uma imensa disponibilidade no que diz respeito aos recursos
naturais nisso, tem se observado uma corrida incansável por parte de investidores que
procuram por mais uma oportunidade de investimento, capitalizando avultadas somas
monetárias nas áreas de extracção e exportação desses recursos (caso particular de Moatize -
Tete), neste contexto, como nos encontramos diante duma economia de mercado em que o
estado não participa na economia deixando que o sector privado possa entre si competir, e um
mercado auto-ajustável e guiado pelas forças económicas, é nesta perspectiva, que o País está
a se tornar num “novo rico”, na matéria1 dos recursos naturais, mas essa dádiva divina não
significa necessariamente um passaporte para a prosperidade que se pretende almejar, visto
que os países ricos em recursos naturais continuam a viver numa situação de extrema
pobreza, mesmo tendo já iniciado com a actividade explorativa já ha algum tempo - como é o
caso de Moçambique.

Este cenário, em que temos recursos abundantes e um crescimento que não se reflecte na vida
dos cidadãos, conduz-nos a uma situação paradoxal face à essa abundância, ou seja, leva-nos
a o que se denomina “maldição dos recursos”, dito por outras palavras “doença holandesa”.
Por outro lado, aqueles países que são pobres em recursos, tem um desempenho económico
bastante superior face aqueles que tem em abundância, e alguns estudos feitos garantem que a
“maldição dos recursos” origina um crescimento económico menor do que o esperado, uma
fraca diversificação económica, indicadores sociais desanimadores, altos níveis de pobreza e
desigualdade, impactos ambientais devastadores ao nível local, corrupção desenfreada,
governação excepcionalmente insatisfatória, e grandes incidências de conflito e guerra.

Contudo, por esta via, emerge aqui algumas questões reflexivas sobre a verdadeira
contribuição que o sector extractivo traz para a economia e o seu impacto na vida dos
cidadãos de Moatize e de Moçambique no geral.
Que estratégias adoptar para que o sector extractivo possa de facto atingir os objectivos de
desenvolvimento que Moçambique pretende alcançar?

Será que as políticas que versam sobre o sector extractivo desempenham um papel chave no
processo de desenvolvimento socioeconómico da região abrangida pelos Mega - Projectos e
de Moçambique em geral?

1.4 Hipóteses

1.4.1 Hipótese Primária

Acredita-se que, se o Estado assumir a tarefa de regulador, fiscalizador e protector das


actividades dos agentes económicos, garantir a estabilidade política, económica e financeira
mediante a tributação das actividades económicas poderá garantir que as despesas
orçamentais se realizem e garantir que haja um melhor planeamento das actividades no
sentido de oferecer uma melhor distribuição de receitas e das mais-valias contribuindo desta
forma para o crescimento económico e desenvolvimento desejado.

1.4.2 Hipóteses Secundárias

Se as políticas públicas sobre o sector versassem sobre a realidade e fossem de carácter


multifacetário e tivessem o mesmo impacto para todos os cidadãos (tanto nacionais como
estrangeiros), de certo modo motivariam o empresariado nacional a participar com maiior
perseverança na actividade extractiva;

Se fossem retirados todos os benefícios e excepcionalidades fiscais e legais aos mega


projectos fazendo-os operar como simples agentes económicos numa economia de mercado
como a de Moçambique, então as fontes de arrecadação de receitas por parte do governo
aumentaria visto que, os mega projectos estariam a pagar o que realmente devem pagar ao
Estado para financiar os seus programas orçamentais e o Plano Económico e Social (PES).

Se o País pudesse colher experiência dos outros países que possuem recursos abundantes e
que tiveram sucesso na matéria de gestão dos mesmos optando em seguir os mesmos modelos
que estes seguiram.

1.5 Justificativa

O tema do presente trabalho de pesquisa foi escolhido mediante o contexto actual face a
descobertas de recursos naturais que se vive em Moçambique, inspirando-se no ambiente de
Moatize em Tete, e acredita-se que a actividade extractiva dos mesmos recursos (Carvão
mineral e outros), seja um dos maiores contribuintes para os elevados índices que o PIB
nacional tem registado nos últimos tempos com tendência na ordem dos 7% a 8% ao ano
desde o começo da exploração.

Tendo este como ponto de partida, o tema do presente trabalho de pesquisa possui uma ampla
relevância, quer no campo científico, no campo económico assim como na ala social.

A relevância científica do presente trabalho de pesquisa é de que através do mesmo os


estudantes de economia, principalmente no ramo da economia do meio ambiente e industrial
possam se beneficiar como material bibliográfico para realização dos seus trabalhos de
pesquisa curriculares numa situação em que este, pode contribuir na resolução científica de
possíveis problemas que possam advir dessas pesquisas.

Já a relevância económica que o presente trabalho de pesquisa possui é que através do mesmo
pode-se obter a verdadeira noção sobre o desempenho da economia extractiva e industrial em
Moçambique e das suas contribuições económicas como previsto nos objectivos acima
expostos.

Por fim, a relevância social deste trabalho de pesquisa observa-se na medida em que serão
avançadas algumas medidas dentro do contexto político - legal que irão versar sobre o bem-
estar dos cidadãos.

Dai que o presente trabalho de pesquiusa possui aplicação prática e simultaneamente


contribuí para a geração de novos conhecimentos.

1.6 Delimitação do Estudo

O presente estudo decidiu abarcar a Província de Tete mais precisamente a Vila de Moatize,
por ser uma das vilas que mais recebe investimentos na área de pesquisa e extracção de
recursos principalmente minerais, tal como o carvão e pelas avançadas mutações conjunturais
que surgem como resultado da actuação desses mega projectos.

1.7 População e Amostra

A população corresponde ao universo que se pretende estudar, para LAKATOS, MARCONI


(2003, p.163) a amostra “é um subconjunto do universo” onde foi realizado o inquérito e
algumas conversas com os intervenientes.

1.8 Estrutura do Trabalho


O propósito do trabalho é apresentado em seis capítulos. O primeiro apresenta as notas
introdutórias, discute os antecedentes e contextualiza o tema no âmbito geral e específico,
identifica o problema, define as hipóteses a serem defendidas, define objectivos que se
pretende alcançar, a motivaçao pela esolha do tema, a delimentaçao do tema.

O segundo capítulo apresenta a metodologia...................

O terceiro capitulo apresenta o quadro teórico.........

O quarto capitulo apresenta a revisão da literatura que fornece as principais bases teóricas de
suporte do trabalho. Neste capitulo procura-se analisar como é que .....................

CAPITULO II – METODOLOGIA

2.1 Métodos de abordagem

A metodologia visa mostrar como os dados serão encontrados e quais os tratamentos que os
mesmos serão submetidos para que as analises que se seguem sejam capazes de responder aos
problemas encontrados no decorrer da pesquisa. Contudo, podemos afirmar categoricamente
que “a especificação da metodologia de pesquisa é a que abrange maior número de itens, pois
responde, a um só tempo, às questões como? Com quê? Onde? Quanto? LAKATOS,
MARCONI (2003,p.221), e quando será realizado o trabalho?

A presente pesquisa para a Monografia será uma pesquisa de natureza exploratória, onde os
dados serão recolhidos mediante as técnicas e procedimentos previamente estabelecidos
como: a pesquisa bibliografica e documental, que trata de assuntos directa e indiretamente
relacionados com o tema, pesquisa na internet de artigos publicados nos diversos websites,
cuja finalidade era de encontrar fundamentacao teorica para o respectivo trabalho. Foram
ainda, realizadas entrevistas formais e informais com diversas personalidades que trabalham
em, ou lidam com planificacao e elaboracao de estrategia extractiva, e outras personalidades
que nao trabalham nem lidam com tais instituicoes cuja finalidade é colher pareceres que vao
ao encontro dos objectivos do trabalho.

2.2. Métodos de procedimentos

O material bibliográfico foi extraído da internet, sob forma de documentos oficias como:
artigos, revistas electrónicas, leis, teses etc., que abordam sobre indústria extractiva e também
sobre impactos socioeconómicos da actividade mineira em Moatize e Moçambique em geral.
Esses artigos, foram encontrados nos Sites oficiais de instituições como: IESE (Instituto de
Estudos Sociais e Económicos), CIP, (Centro de Integridade Publica), ITIE (Iniciativa da
Transparência na Industria Extractiva), INE (Instituto Nacional de Estatísticas), Portal do
Governo de Moçambique e também em Sites de publicações como Wikipedia, trabalhos
feitos e Google etc.

Esses dados, passaram por um processo de elaboração e análise das informações no sentido
de seleccionar aquelas mais fidedignas, essas informações serviram de suporte a revisão de
literatura da Monografia final. A pesquisa também se baseou na análise de dados colhidos a
partir de cadastro de licenciamento de mineração em Moçambique, do quadro legal de
mineração de Moçambique.

Optou-se pela pesquisa bibliografia virtual em virtude do cumprimento das medidas


preventivas da Covid-19, uma vez, a visita a material bibliografico fisico nas Bibliotecas nao
é o aconselhavel neste periodo, facto que justifica a escolha.

2.2.1 Documentação directa (estudo de campo)

2.2.1.1 Estudo de campo

A pesquisa de campo propriamente dita “não deve ser confundida com a simples colecta de
dados (…), é algo mais que isso, pois exige contar com controlos adequados e com objectivos
preestabelecidos que descriminam suficientemente o que deve ser colectado” (Trujillo,
1982:229).

Assim sendo, a pesquisa de campo é a ida ao terreno por parte do pesquisador no sentido de
colher dados por meio de contacto com aquelas pessoas que conhecem o problema, ou vivem
no ambiente que se deseja estudar, podendo desta maneira, assegurar que as informações que
se deseja obter sejam dadas por uma fonte fidedigna.

2.2.1.2 Fases da pesquisa de campo

Segundo MARCONI; LAKATOS (2003, p.186) “para uma pesquisa de campo eficiente, em
primeiro lugar deve-se realizar uma pesquisa bibliográfica sobre o tema em questão, para
saber o estágio que se encontra actualmente o problema e quais são as opiniões que reinam
sobre o assunto (…). A segunda fase compreende a determinação de técnicas que serão
utilizadas na colecta de dados e na determinação da amostra que deverão ser representativa e
suficientemente apoiar nas soluções (…). A terceira e última fase diz respeito a colecta de
dados onde são indicadas as técnicas de registos e as que serão utilizadas nas análises
posteriores”.

2.3. Técnicas de pesquisa

2.3.1 Documentação indirecta (pesquisa bibliográfica)

É a fase da pesquisa que é realizada com intuito de recolher informações prévias sobre o
campo de interesse (…)”. LAKATOS, MARCONI (2003,p.174).

2.3.2 Pesquisa bibliografia (fontes secundárias)

A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda a bibliografia já tornada


pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas,
livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico etc., “Sua finalidade é colocar o
pesquisador em contacto directo com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre
determinado assunto, inclusive conferencias seguidas de debates que tenham sido transcritos
por alguma forma, quer publicadas, quer gravadas”. (LAKATOS, MARCONI, 2003,p.183).

2.4. Tipo de Pesquisa

Para MARCONI; LAKATOS (2003:186 apud Tripodiet al. 1975:42-71), as pesquisas de


campo dividem-se em três grandes grupos, nomeadamente: Quantitativo - descritivo;
Exploratórias e Experimentais. No entanto a presente pesquisa de campo que se pretende
adoptar será a pesquisa meramente exploratória uma vez que:

“são investigações de pesquisa empírica cujo objectivo é a


formulação de questões ou de um problema, com tripla finalidade:
desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador
com um ambiente, facto ou fenómeno, para a realização de uma
pesquisa futura mais precisa ou modificar e clarificar conceitos.
Obtém-se frequentemente descrições tanto quantitativas quanto
qualitativas do objecto de estudo, e o investigador deve conceituar
as inter-relações entre as propriedades do fenómeno, facto ou

ambiente observado” MARCONI; LAKATOS (2003:186).

2.5. População e Amostra

2.5.1 Determinação da população e da amostra


A população corresponde ao universo que se pretende estudar, para LAKATOS, MARCONI
(2003, p.163) a amostra “é um subconjunto do universo” onde foi realizado o inquérito e
algumas conversas com os intervenientes.

2.5.2 Escolha do processo de amostragem

Para o presente trabalho de monografia foi tida a amostragem aleatória simples das 1365
famílias reassentadas pela Vale em Moatize, pois trata-se de um universo um pouco mais
complexo atendendo e considerando a capacidade do pesquisador, esse método ira consistir
em construir uma amostra representativa, para isso foi identificada em um dos bairros
reassentados (25 de Setembro) um universo de 150 famílias reassentadas onde será extraída a
amostra representativa desta mesma população.

Contudo a etapa a seguir mostra como esse processo ocorreu até a obtenção da amostra
representativa.

2.5.3 Amostra representativa

Aqui, trabalhou-se com a amostragem probabilística, ou seja, aleatória onde a probabilidade


de um elemento da população ser escolhido já é sobejamente escolhido, dai que das 1365
famílias transferidas pela Vale e distribuídas em dois bairros, escolheu-se em um bairro nesse
caso 25 de Setembro uma unidade com 150 famílias (o novo universo escolhido
aleatoriamente), que foi reassentada nos mesmos moldes que as outras. Considerando
também uma margem de erro tolerável de 4%.

Assim sendo, para o cálculo da amostra que se trabalhou no decorrer da pesquisa usou-se as
seguintes Formulas:

no =1/ E02

A=Nxno / N+no

Onde:

N = Tamanho da população

E0 = erro amostral tolerável

no = primeira aproximação do tamanho da amostra

n = tamanho da amostra
Contudo, obtivemos os seguintes resultados:

no = 1/(0.04)2

no = 625

A = 150x625/(150+625)

A = 121 famílias

2.6 Instrumentos de Colecta de Dados

2.6.1 Observação
MARCONNI et LAKATOS (2003, p. 190) definem observação como “uma técnica de
colecta de dados para conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de
determinados aspectos da realidade.” isto é, não consiste em apenas ver ou ouvir, mas
também em examinar factos ou fenómenos que se deseja estudar.
Entretanto para a presente pesquisa como tratava-se de uma de carácter exploratório os factos
foram percebidos de forma directa sem que houvesse intermediários.
2.6.2 Questionário
MARCONNI et LAKATOS (2003, p. 201) definem questionário ou inquérito como sendo
“um instrumento de colecta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que
devem ser respondidas por escrito sem a presença do entrevistado”. Ou seja é um instrumento
que visa recolher informações baseando-se na inquisição de um grupo representativo da
população em estudo.
É nesse sentido que o inquérito elaborado pelo pesquisador foi padronizado de modo a
assegurar a confiança, generalidade e acima de tudo validade, onde todos os inqueridos foram
apresentados as questões nos mesmos moldes. De salientar que o inquérito foi construído
cuidadosamente com questões generalizadas sobre o local onde incidiu a pesquisa.

2.6.3 Entrevista
GIL (1999, p.117) conceitua a entrevista como “a forma de interacção social”. Ou seja, é uma
forma de diálogo assimétrico em que uma das partes busca colectar dados e a outra se
apresenta como fonte.
Entretanto houve a necessidade por parte do pesquisador no âmbito do estudo de campo,
aprimorar as técnicas de pesquisa, por isso que manteve uma conversa com dois dos
representantes dos reassentados em 25 de Setembro - Moatize pela Vale. No sentido de
através desta colher maior número de dados.

CAPITULO III - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E CONCEPTUAL


3.1. Quadro Teorico
3.1.1 Minérios

Branco (1982) define minério como “associação de minerais das quais se pode extrair com
proveito económico, uma ou mais substâncias úteis, sejam metais ou compostos químicos.
São rochas contendo minerais que podem ser recuperados com o objectivo de se obter lucro”.

3.1.2 Carvão Mineral

É um combustível fóssil extraído da terra por meio de mineração. Sua origem se dá a partir da
decomposição de matérias orgânicas (resto de árvores e plantas) que se acumulou sob uma
lamina de água, ha milhões de anos.

O carvão mineral é utilizado na produção de corantes, medicamentos entre outros, além disso
serve também como fonte energética para indústrias siderúrgicas na produção de aço.

3.1.3 Indústria

Indústria é o conjunto de actividades que participam da fabricação de produtos


manufacturados a partir de matérias-primas”, tais matérias-primas seriam substâncias brutas
que possuem um papel essencial na produção de determinado produto. É um sector
fundamental para o desenvolvimento económico. Nesse sentido, afigura-se necessário
promover uma política industrial activa e adequada às necessidades e características dos
países”.

3.1.4 Desenvolvimento

Refere-se ao desenvolvimento um processo de evolução que compreende variáveis


quantitativas e qualitativas em simultâneo e directamente proporcionais.

3.1.5 Desenvolvimento económico

De acordo com VILAS-BOAS, 2011 “desenvolvimento económico reflecte os impactos


positivos ou negativos da empresa sobre as circunstâncias económicas das partes interessadas
e sobre o sistema económico”.

3.2. Quadro Conceptual


3.2.1 Tipos de Industria
Tendo em conta definições acima, podemos encontrar dois tipos de industrias:

 Indústria extractiva
 Indústria de transformação

A primeira é aquela que é responsável pela retirada de matéria-prima (recursos naturais) da


terra para ser utilizada em diversas indústrias. Dividem-se em dois grupos que são:

Indústria extractiva vegetal que lida com a extracção florestal; e a industria extractiva mineral
que opera na extracção de minérios-energético (ouro; carvão; diamantes; petróleo; gás
natural; etc.)

3.2.2 Megaprojectos

Para MOSCA et SELEMANE (2011) “Os empreendimentos (…), que no geral têm recebido
investimentos iniciais não inferiores a USD 500.000 (quinhentos mil dólares americanos) são
definidos como mega-projectos”.

Para CASTEL-BRANCO (2008) “Mega-projectos são actividades de investimento e


produção com características especiais. Primeiro, a sua dimensão, definida pelos montantes
de investimento (acima de US$ 500 milhões) e impacto na produção e comércio, é enorme”.

Devido as características acima citadas, pode-se definir mega-projecto como aquele projecto
de grande dimensão pelo seu volume de investimento que é bastante elevado.

CAPITULO IV- REVISÃO DA LITERATURA


4.1 Experiência empírica: Contribuição da industria extractiva no contexto das
transformações/desenvolvimento terretorial em Moçambique - Caso do Carvão De
Moatize explorado Pela Vale.
4.1.1 Processo de transformações territoriais
RAFFESTIN (2010) refere que “a produção (ou transformação) de um território está sempre
associada a um outro já existente, isto é, nunca está desligado das acções do passado. O
território é criado a partir das relações de poder que se materializam no espaço”. Por outras
palavras, a produção territorial sempre esteve associada ao factor tempo para a sua
materialização, que está sobrecarregada de um conjunto de relações de poder que definem a
área que determinado individuo/instituição que reivindica o seu controle e dos recursos nele
existente.
Assim é nesta ordem de ideia que RAFFESTIN (2010, p.21) demonstra que “o processo de
produção territorial desenvolve-se no tempo, partindo sempre de uma forma precedente (do
passado para o presente), de outro estado de natureza ou de outro tipo de território”. Para o
autor “Só Deus partiu do caos e isso não pode acontecer com os homens”.

Por sua vez, todas as relações sócias consubstanciam com as relações de poder, e vice-versa.
Esta última é que vai definir o território que o individuo detém o seu domínio. Desta maneira,
qualquer domínio sobre um determinado território implica a presença de poderes políticos,
económicos e sociais. O aspecto multifacetado desses poderes possibilita a compreensão da
produção territorial dentro do contexto que vivenciamos, pois a produção do território pode
atravessar além das delimitações geográficas, uma vez que a sua demarcação pode ser feita
de forma abstracta.

4.1.2 Determinantes das dinâmicas territorias


Para SACK (1986) e HAESBAERT (2004a) o território surge quando um sujeito (que pode
ser a grande empresa, o Estado, os grupos de indivíduos ou indivíduos singulares) usa uma
determinada área para influenciar, moldar ou controlar os indivíduos e/ou grupos, e suas
actividades. Ainda segundo os autores a estratégia usada por esse grupo pode ser definida
como a territorialidade. Esta ultima entendida como “(...) um processo de tornar-se similar no
interior de uma área territorial, com mesmas imagens, ídolos, normas(…) RAFFESTIN
(2003:4), ou seja um processo dinâmico de identificação que se faça reconhecer ao outro”
(SAQUET, 2007, p.149).

Entretanto, antes de compreender as transformações territoriais marcadas pelo processo de


produção e consumo, implica em primeiro lugar entender que os territórios são dinâmicos,
isto é, eles são construídos, destruídos e reconstruídos, tendo em conta os diferentes
interesses sobre ele, e para que isso se verifique nota-se a presença de factores que
influenciam para que tais transformações se materializem.

Segundo MATOS et MEDEIROS,2012 os factores que influenciam são:

“O tempo, que desempenha um papel importante nas


transformações territoriais; as abordagens de desenvolvimento
concebidas; as técnicas e os mecanismos utilizados pelo sistema
capitalista; a descoberta de novos recursos; dentre vários outros
factores influenciam na destruição e reconstrução de novos
territórios. O novo território formado vai ser conformado de acordo
com as necessidades dos actores (ao longo do tempo) que o
produzem, respondendo às dinâmicas atuais”. (MATOS et
MEDEIROS,2012).

Importa referir que as estratégias adoptadas para atender o processo de dinâmicas territoriais,
por um lado, podem ser de carácter político - económico tornando o território mais funcional
e, por outro lado tem um carácter cultural - simbólico e mais subjectivo. Isto quer dizer que
as mutações territoriais podem responder os interesses económicos daqueles que produzem e
em simultâneo responder os interesses daqueles que consomem.

DELEUZE e GUATTARI apud HAESBAERT (2004) relacionam o território com a vida,


demostrando que é um movimento de destruição e reconstrução, processo esse que permite a
passagem de um território para o outro, isto é, abandonando territórios e fundando novos.
Para o autor, esses processos apenas se diferenciam ao nível das escalas espaciais e
temporais.

Com estas demonstrações a cima, fica mesmo claro que os territórios são dinâmicos, embora
apresentem movimentos de diferentes orientações, que de um lado pode ser construtivo e de
outro destrutivo. O primeiro quando os resultados das estratégias são benéfica para todos os
integrantes da sociedade e o segundo quando esses resultados são restringidos à outros
membros da sociedade.

4.2 Identidade territorial

A identidade “é algo que se constrói através de um processo contínuo de formação sempre


em busca da plenitude” (MEDEIROS, 2006, p.281). Toda relação de poder espacialmente
medida é produtora de identidade, visto que esta controla, distingue, separa e, ao fazer essa
separação, de alguma forma, nomeia e classifica os indivíduos e os grupos sociais
(HAESBAERT, 2004b).

De salientar que a identidade territorial, apesar de ser também social, ela é definida
principalmente com base num território. Neste sentido, HAESBAERT (1999) denomina de
identidade sócio territorial pelo facto do processo de identificação social ter como um dos
aspectos fundamentais para a sua estruturação a referência a um território, tanto no sentido
simbólico quanto concreto.

4.2.2 Caracteristicas da identidade territorial


Sobre as características fundamentais da identidade territorial, HAESBAERT (1999, p.180)
encontra suporte no trabalho de MEMMI (1997, p.101). Na visão deles, a característica geral
da identidade é aquela que:

“(...) recorre à uma dimensão histórica, do imaginário social, de modo que o


espaço que serve de referência ‘condense’ a memória do grupo, tal como
ocorre deliberadamente nos chamados monumentos históricos nacionais. A
(re) construção imaginária da identidade envolve portanto uma escolha,
entre múltiplos eventos e lugares do passado, daqueles capazes de fazer
sentido na actualidade. Nesta perspectiva, a ‘memória é solicitada e
reestruturada sem cessar. Não existe aí nem perversidade nem mentira
sistemática, mas necessidade de edificar uma coerência operatória e
suportável”.

Tal como foi dito, o processo de produção da identidade territorial tem o tempo como o seu
principal aliado, considerando que no decorrer da construção identitária do território vários
serão os desafios encontrados e vencidos, para que no final seja possível a construção de um
território multifacetado. Para elucidar esse aspecto (MEDEIROS, 2006.p283) afirma que no
final da construção do território “...as marcas de sua história vão sendo fixadas como marcos
de sua identidade”.

As sociedades primitivas ou tradicionais identificam-se mais com o lugar, facto que


possibilita a apropriação do território delimitado espacialmente. Neste contexto
HAESBAERT (2004a), motivado pelas abordagens de BONNEMAISON, refere que nas
sociedades pré-industriais, o território se define por um princípio de pertencimento, princípio
este explicado pela intensidade da relação com o território. O autor avança que nesses casos,
o princípio de identificação se sobrepõe ao princípio de apropriação. Segundo o autor, nessas
sociedades, primeiro acontece a identificação com a área e depois a apropriação, processo
diferente da abordagem LEFEBVRIANA, em que primeiro acontece a apropriação da área e
depois a sua dominação.

Contudo, para MATOS et MEDEIROS 2012:

“A produção de territórios a partir do já existente implica, muitas


vezes, a destruição das raízes identitárias. A desterritorialização
implicará sempre a reterritorialização resultando num território cuja
identidade se distância dos anteriores residentes, implicando uma
insegurança no local, podendo implicar em mudança das
actividades económicas e a alteração de alguns hábitos e costumes
do qual fora responsável pela construção do anterior território”.

CAPÍTULO V – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DA


PESQUISA
5.1 Contexto historico de moçambique na construção de uma identidade territorial
Moçambique localiza-se a sudeste do continente africano mais concretamente na região
Austral, com limites a norte com Tanzânia, a sul com a África do Sul, a leste com o Oceano
Índico e a oeste com o Zimbabwe. Possui uma superfície extensa com aproximadamente
799.380 km.

Existem diversos factores que de certa maneira estão interligados e que causam pobreza em
Moçambique são eles a guerra de três décadas ocorrida, salários baixos, desemprego,
fragilidade de acesso a serviços básicos tais como infra-estruturas, rede sanitária,
escolaridade, a crise originada pelas dívidas ocultas, as dificuldades geradas pela actual
pandemia da COVID – 19 e por ai em diante.

5.1.1 Ocupação colonial


A penetração colonial iniciou em 1498, principiada por Vasco da Gama que procurava rotas
para escoar ouro e marfim para Índia, onde descobriu sofala e Ilha de Moçambique. Segundo
(CABAÇO, 2007, p. 27):

“Nos primeiros dias do ano de 1948 da era cristã, os habitantes da


costa sul de Moçambique, em algum lugar situado entre as actuais
cidades de Inharrime e Inhambane, viram chegar estranhas
embarcações, enormes em relação às que até a altura tinham visto.
Delas desceram outros barcos menores transportando gente de pele
pálida e vestida de modo insólito. Não se compreendeu o que eles
diziam, mas não pareceram agressivos pelo que as gentes locais os
acolheram sem animosidade. Os forasteiros recolheram água
fresca, trocaram alguns objectos e regressaram às grandes
embarcações que voltariam a desaparecer no mar profundo.
Ninguém sabia quem eram os visitantes, muito menos podia
imaginar que testemunhava um momento histórico: os primeiros
contactos da África Oriental com a Europa na viagem de Vasco da
Gama em demanda da rota do oriente”.

A ocupação colonial começou no litoral de Moçambique entre 1507 à 1507, com instalação
de feitorias ao longo do País nas décadas de 30 e 40 desta época, entretanto as feitorias
construídas eram de defesa militar, visto que a intenção era de dominar o escoamento do ouro
e o acesso às zonas produtoras, dai o uso da força militar pelos portugueses, uma vez que
nestes territórios já estavam lá a operar os islâmicos e indianos. Segundo (LANGA, 2012) no
primeiro momento os portugueses tiveram que se passar por comerciantes para poder entrar e
posteriormente, através da força, foi possível estabelecer a dominação das zonas de produção
de ouro e de marfim.

No período pós-guerra mundial, portugal decidiu transformar Moçambique em uma colónia


de povoamento, tal como aconteceu com as colónias britânicas, assim ficava ainda mais
nítida a intenção de portugal em não dar a independência a Moçambique e as restantes
colónias, porque desejava integra-las no sentido de formar uma relação com a metrópole, a
partir dai portugal evidenciou um conjunto de missões civilizadoras para suas colónias,
mostrando ser um estado unitário, universal e sem objectivos explorativos, enquanto que por
de trás era possuído pelo domínio egocêntrico de acumulação de capital:

“A acção colonial recente na África foi, sem dúvida, a forma de o


capitalismo garantir trabalho mal remunerado e transferir renda
para as metrópoles. As razões dos países moldados pelo
colonialismo no século XX e que se encontram em situações
semelhantes nas macroestruturas económicas, sociais e políticas,
são as mesmas quando tratadas à luz da história económica. Não é
por acaso que, com processos semelhantes de invasão e ocupação,
de exploração colonial e de modernização, estas nações estejam em
situações parecidas e muito críticas”. (BELLUCCI, 2008, p.3)

Ficava mais claro ainda, que Portugal ao aproveitar o boom económico das colónias, viria a
resolver diversos problemas que apoquentavam a sua economia doméstica nomeadamente: o
desemprego; a superpopulação; as necessidades de novos mercados para produtos internos e,
como também a demanda por matéria-prima no País. Contudo, a metrópole investiu em
projectos ligados a infra-estruturas, tais como linhas férreas, portos, pontes e estradas, que
vinham facilitar o aumento da mobilidade e fluxo dos produtos.

5.1.2 Independência em Moçambique: a busca por uma identidade


A partir da década de 1960, o povo moçambicano foi se organizando com vista ao alcance da
independência, facto que ocorreu por meio da luta armada contra o jugo colonial e
conquistada em Junho de 1975.
Toda via, existira sempre movimentos de resistência colonial em Moçambique. “de 1495 a
1961 a luta anticolonial foi elaborada de várias maneiras, como exemplo, a resistência contra
a exploração económica, a formação de movimentos políticos, no interior, e de organizações
políticas, no exterior, aliadas às lutas de resistência.” (LANGA, 2012)

Esses movimentos intensificaram-se no norte do País, mais precisamente em Cabo Delgado


por meio de actividades de carácter político, onde os debates eram dominados com assuntos
relacionados com o término do trabalho forçado, inspirados em modelos pan-africanistas
definidos por estudantes na sua maioria das colónias britânicas que defendiam a
independência sobre a perspectiva do nacionalismo.

O ponto de partida para a luta de libertação nacional foi, segundo historiadores o massacre de
moeda a 16 de Junho de 1960, episódio este que ficou marcado pela confrontação entre os
camponeses e as autoridades coloniais. Tratava-se simplesmente de uma reunião entre o
colono e o povo que visava discutir a relação entre ambas partes, que acabou resultando em
revolta no seio popular:

“Este facto, massacre de moeda levou a que os vários grupos


nacionais de resistência a se organizarem em movimentos de
libertação nacional, com vista a buscarem forças pensando em lutas
focalizadas com vista a dar mais poder e extensão as suas múltiplas
formas de resistência. A intensificação da opressão registada em
Moçambique contribuiu para a mobilização de política dos
nativos.” (LANGA, 2012, p. 33).

No final da década de 60, é formada a união democrática de nacional de Moçambique


(UDENAMO) e a união nacional Africana de Moçambique (UNAMI), e em Fevereiro de
1961 é formada a união africana nacional de Moçambique (MANU), movimentos estes que
ajudaram significativamente para o alcance da independência de Moçambique:

Estando todos os movimentos cientes da união de


pequenas organizações que lutavam contra o
colonialismo, em Moçambique, em 1962, os três
movimentos mencionados UDENAMO, MANU e
UNAMI, fundiram-se para formar a FRELIMO (frente
de libertação de moçambique), sendo Eduardo
Chivambo Mondlane (presidente); Uria Simango (vice-
presidente) entre outros. (LANGA, 2012, p. 34)
As frentes formadas reivindicavam a emancipação, política, económica, social e cultural,
onde faziam parte os elementos como a rejeição da opressão imperialista do jugo colonial,
rejeição ao racismo e também ao capitalismo, querendo por sua vez trazer para seus países o
socialismo científico marxista-leninista como base ideológica de governação. Entretanto a
luta de libertação nacional iniciou oficialmente a 25 de Setembro de 1964, chegando a
victória em 25 de Junho de 1975, quando a Frelimo assume a governação do país.

Com o advento da independência ocorreram diversas transformações de carácter político e


económico com a intenção de reerguer um país devastado pela guerra. Assim a Frelimo
apoiou-se no socialismo e recebeu apoio dos governos chineses e soviéticos, com a
expectativa de trazer o desenvolvimento nacional através desse sistema, facto que se
verificou com a construção de cooperativas agrícola, de consumo, empresas estatais e a
modernização do campo.

Os objectivos do programa de governo socialista eram a eliminação das estruturas


económicas de interdependência colonial e de todas as formas de discriminação que o sistema
se assentava. (NICOLAU, 2008; LANGA, SOUZA, HESPANHOL, 2012)

Volvidos alguns anos após a independência, surge então a resistência nacional de


Moçambique (Renamo) que inviabilizou um processo de desestabilização contra o governo
do dia que culminou com a guerra que perdurou cerca de 16 anos (1981-1992) e terminou
com a assinatura dos acordos gerais de paz em Roma, na Itália em 1992, a Renamo teve
como principal aliado os movimentos do Apartheid da vizinha África do sul. Este último
reivindicava o término do socialismo empreendido na época lutando pela democratização do
Estado, acabando por ser o primeiro partido político da oposição das primeiras eleições
multipartidárias realizadas em 1994.

“(…) a guerra de desestabilização conseguiu interiorizar-se em


meados dos anos 80, em função das dificuldades dos projectos
estatais em assegurar a produção, pela ausência dos valores
“tradicionais” na estrutura de poder, pelo abandono a que ficou
relegada à sociedade doméstica, mas, sobretudo, pela retaguarda e
forte apoio bélico, militar e económico dado ao MNR (depois
Renamo) pela África do sul.” (BELLUCI, 2008, p. 127)

Voltando a década de 80, no sentido de fazer face as lacunas trazidas pela guerra de
desestabilização, houve a necessidade de aceder à empréstimos internacionais, tornando-se
assim em uma nação endividada e cada vez mais dependente dos países hegemónicos.
(MATSINHE, 2011), refere que mesmo após a independência de Moçambique os problemas
de ordem político, económico e social continuaram através das guerras, crises económicas e
por consequência o contínuo empobrecimento da população.

Entretanto, nos anos 80 apareceram as políticas neoliberais e os programas que visavam


recuperar a economia, que tinha se endividado e desestruturado, (…) (BELLUCI, 2008, p.
126).

Mediante esses factos, a única saída encontrada pelo governo da época foi a adesão as
instituições de BrettonWoods, Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. Tanto que
“em 1984 a ajuda pedida foi atendida e o governo assinou um acordo com o Banco Mundial,
resultando uma disponibilização imediata de 45 milhões de dólares”. (BELLUCCI, 2008;
NICOLAU, 2008). Mas para aderir os fundos dessas instituições o governo viria a ser
obrigado a realizar diversas reformas na sua conjuntura político-económica no sentido de
atender os preceitos das instituições financeiras que não mantem nenhuma relação de
afinidade com os governos socialistas, pautando sempre em operar em Estados liberais e
neoliberais, ou seja, o governo moçambicano seria obrigado a deixar de lado o socialismo,
abrindo portas da sua economia para a participação privada, dentre eles nacionais e
estrangeiros, dado que introduziu-se um programa de ajustamento estrutural do Banco
Mundial que permitiu a privatização no País, bem como o cumprimento de outros objectivos
liberais.

5.1.3 Período pós - desestabilização: identidade conquistada


A partir de 1992, período em que a paz se estabelece em Moçambique, o quadro político
parece estável, porem, há ainda registo de conflitos como resultado do baixo
desenvolvimento. Assim sendo, “a violência social e institucional existente é fruto do
processo normal de acumulação de capital entre os que possuem e os que não possuem bens e
propriedades”. (BELLUCI, 2006, p.)

As crises e guerras do passado trouxeram para Moçambique várias consequências tais como:
estruturas sócias sem organização, milhares de moçambicanos deslocados e até traumas
psicológicos, isto é, deixou os moçambicanos a viverem numa “condição igual ou pior a qual
Moçambique se encontrava quando província portuguesa. Mas agora há uma diferença, sob o
comando do estado pelos próprios moçambicanos”. (BELLUCI, 2006 e 2008).
Para Castel-Branco (2011), o período pós - conflito muitas vezes, é “um novo estágio e uma
diferente forma do mesmo conflito, a qual a guerra ou outra configuração mais violenta de
conflito é trocada por outros meios de disputa do poder”.

O autor argumenta que as politicas promovem ou recompensam reformas em diferentes


sectores que se supõe muitas vezes erradamente, abordar e resolver as causas dos conflitos,
dos desequilíbrios e da tensão social.

5.2 Exploração dos recursos: uma nova perspectiva colonial encabeçada pelos
megaprojectos

Falar de Moçambique é o mesmo que falar de um país com elevado potencial em termos de
recursos quer agrícola, bem como mineral, facto que tornou o país sob ponto de vista
económico político e social numa região estratégica para atraccão de vários investimentos,
sendo assim uma das economias que mais cresceu nos últimos anos do século XX
impulsionada pela aparição de megaprojectos ligados a extracção de minerais e energéticos.

5.2.1 Surgimento da Vale em Moçambique

5.2.1.1 Histórico da companhia Vale


Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) foi criada em 1º de Junho de 1942, por meio de um
decreto elaborado pelo presidente brasileiro da época Getúlio Vargas, decreto esse que tomou
posse das reservas de minério de ferro para o Estado, com principal destaque para as reservas
de Carajas (PA) e minas gerais.

Actualmente, depois do processo de privatização realizada em 1997, pelo governo de


Fernando Henrique Cardoso, designado plano nacional de desestatização, a CVRD passa a
ser uma empresa privada de capital misto e muda seu nome apenas para Vale S.A em 29 de
Novembro de 2007 passando a ser uma multinacional de capital aberto, maior empresa de
mineração das américas e a segunda maior do mundo, agindo em 13 estados brasileiros e em
todos os continentes do mundo.

Possui mais de cem mil trabalhadores incluindo os terceirizados. Por ser uma multinacional
globalizada tem presença nas bolsas de São Paulo (Bovespa), Nova Iorque (NYSE), Madrid
(Latine) e Hong Kong (China). (MOSCA & SELEMENE, 2011)

Em Moçambique iniciou no ano de 2004, quando ganhou o concurso internacional lançado


pelo governo com vista concessionar as minas de Moatize. O governo moçambicano assinou
com a Vale, em Junho de 2007, um contrato para a exploração do carvão de Moatize. O
projecto prevê igualmente a instalação de uma central térmica. (MOSCA & SELEMENE,
2011) segundo Banco Mundial e IPEA (2011):

“A vale actua no sector de mineração da África com escritórios na


África do Sul, Angola, Gabão, Guiné Bissau, Moçambique e
República Democrática do Congo. Em 2010 a empresa anunciou
investimentos em projectos para os próximos cinco anos de US$ 15
bilhões a US$ 20 bilhões. Recentemente a Vale comprou empresas
de mineração, na África do Sul e na República Democrática do
Congo. Em Moçambique, a empresa iniciou actividades
metalúrgicas e de mineração de carvão em Moatize em 2011, com
investimentos de US$ 6 bilhões. Em Angola a Vale está a procura
de minas de cobre e níquel. Em Guiné, a Vale comprou 51% da
empresa BSG resources (Guiné) LTD., empresa essa que detém
concessões de minério de ferro no país.”

5.2.1.2 Estrutura da Vale em Moçambique


O megaprojecto da Vale em Moatize tem a seguinte estrutura: 85% da participação pertence a
Vale, 5% a Moçambique e 10% a investidores moçambicanos. Segundo MOSCA &
SELEMENE (2011) os principais financiadores do megaprojeto da Vale em Moçambique são
a multinacional IDC e a o Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social
(BNDES). A área do megaprojeto é de 23.780 hectares e está localizada no distrito de
Moatize, província de Tete.

Segundo o Banco Mundial (2012) a escala do projecto é grande, olhando para uma economia
como a de Moçambique que tem um produto interno bruto (PIB) de 12.24 bilhões de dólares
americanos.

A Vale gastou cerca de 2 bilhões de dólares na primeira fase, e igual quantidade de valores na
segunda fase e 4 bilhões de dólares em infra-estruturas. A intenção da empresa era que a
mina de Moatize exportasse anualmente na primeira fase 11 milhões de toneladas de carvão,
depois na segunda fase o dobro da quantidade. Por causa da ausência de infra-estrutura, a
meta foi reduzida de 5 milhões de toneladas para 2,6 milhões de toneladas no ano de 2012.

5.2.1.3 Situação fiscal


Há muitas controvérsias em relação a situação fiscal dos megaprojectos em Moçambique, o
contrato celebrado entre o governo e as empresas estabelecia que houvesse isenção de
impostos para os anos iniciais, que são usados quando os custos de investimentos são maiores
que os lucros resultante das vendas. Ficou estabelecido que a Vale pagaria 3% em Royalities
sobre o carvão comercializado, ao invés daquele extraído no ano de 2013, a previsão era que
a Vale consiguisse exportar metade da sua produção.

“O contrato com a Vale é um contrato problemático, que arrepia a lei. Na


questão dos Royalties, a lei estabelece que eles sejam pagos sobre a
produção”, diz Adriano Nuvunga, director do Centro de Integridade Pública,
uma organização de investigação moçambicana. Em Agosto de 2013, foi
lançada em Moçambique uma campanha que pede a revisão da tributação
dos mega-projetos minerais. Fala-se inclusive da renegociação dos contratos
já estabelecidos. O da vale, entre eles. (O ESTADO DE SÃO PAULO,
31/10/2013)

Os incentivos fiscais e as excepções legais que os megaprojectos como o da Vale se


beneficiam, nenhuma outra entidade económica de pequeno porte a possui, no entanto, por
causa dessas acções governamentais, iniciou-se um debate, pressão e questionamento sobre
esses incentivos e como eles vem se intensificando nos últimos anos. (MOSCA et
SELEMANE, 2011).

No seu regime a Vale goza de vários incentivos fiscais:

Beneficia-se de uma redução de 15% no Imposto sobre o Rendimento de


Pessoas Colectivas (IRPC) que recai sobre a mina durante os primeiros 10
anos (quer dizer entre 2011 a 2021), redução para 5% para a central de
energia térmica, que também faz parte do projecto, e redução da SISA em
50% na aquisição de imóveis. Está isenta da SISA na transmissão de
propriedades do Estado, taxa liberatória, imposições aduaneiras, imposto de
selo, imposto de consumo específico (ICE), imposto sobre o valor
acrescentado (IVA), isenção do imposto sobre o rendimento de pessoas
singulares (IRPS) aos expatriados, na fase de construção, e redução em 40%
ou isenção nos primeiros 5 anos de operação. Fazem ainda parte dos
benefícios concedidos à Vale o livre repatriamento de lucros e dividendos,
até 100% (Castel-Branco e Cavadias, 2009) e sujeita-se a pagar a parca
quantia de 3% sobre o rendimento líquido trimestral da mina. (MOSCA &
SELEMENE, 2011, p. xx)

Segundo Abdul Razak, o ministro dos recursos minerais e energia da época, existem outros
benefícios como a renovação da infra-estrutura, instalação de outras empresas para atender a
demanda das mineradoras e contratação de mão-de-obra local. (ESTADAO DE SÃO
PAULO, 2013)

5.2.1.4 Os impactos ambientais das suas actividades


A extracção do carvão é uma das mais graves actividades, no que tange a exploração dos
recursos naturais, tanto para o meio ambiente bem como para a saúde humana. A exploração
deste mineral liberta gases para a atmosfera como metano e dióxido de carbono, grandes
poluentes do meio ambiente.

O método de extracção do céu aberto também envolve outros prejuízos como o


desmatamento de árvores, retirando a vegetação e deixando o solo exposto a erosões. Esta
actividade também contribuí para a poluição da água e do ar.

Segundo JOSÉ e SAMPAIO (2011) “os processos mineiros são grandes consumidores da
água e nos locais onde existem grandes riscos ao património ambiental a mineração precisa
ser vedada”. Embora as práticas minerais hoje em dia sejam mais aperfeiçoadas, ainda
existem riscos ambientais que variam:

(...) Desde a geração e transporte de sedimentos causados por estradas mal conservadas
durante a fase de exploração até o assoreamento de cursos de água e aumento de partículas
sólidas em suspensão nas águas durante a fase de operação da mina. (JOSÉ & SAMPAIO,
2011, p. 17)

A poeira e as partículas do carvão, bem como a fuligem libertam ao longo do transporte do


carvão contribuindo também para a poluição do ar, esses poluentes trazem problemas
respiratórios aos seres humanos e podem ser mortais para os trabalhadores das minas de
carvão. O carvão exposto à água das chuvas, gera drenagem ácida de mina, isso contém
material tóxico, com metais pesados como cobre, chumbo, mercúrio e outros.

Importa referir que a maior parte da população moçambicana habita na zona rural, algumas
dessas zonas é onde os megaprojectos estão instalados. Por tanto, se contaminarmos a água,
estaríamos a inviabilizar o processo de desenvolvimento sustentável para as comunidades e o
país no geral. Realçar também, que os efeitos tecnológicos das ultimas décadas relacionadas
com a mecanização da actividade extractiva com vista a aumentar a capacidade de
manuseamento de grandes volumes de material também contribui para a esterilidade dos
solos e do meio ambiente no geral.
O relatório da Human Rigths Wacth (2013) sobre os estudos dos impactos ambientais (EIA),
relacionado com a Vale descrevem os impactos previstos dos seus projectos e o planeamento
para minimiza-los. O documento demonstra que a proximidade da minas instalada em
Moatize em relação aos assentamentos, a cidade de Tete ao Rio Zambeze e ao Revibue
aumentara o risco de impactos a saúde e a economia, sobretudo no caso em que ocorreram
falhas em termos de mitigação.

(...) Os funcionários da Vale mencionaram que as comunidades nos


arredores da cidade de Tete estão directamente no caminho da
poluição do ar levada pelos ventos predominantes. Numa das fases
das operações da mina de Benga, “valores médios horários de
concentrações de NO2 excedem as directrizes da OMS de 200
ug/m3, mas estão dentro do limite legal de Moçambique de 400
ug/m3.” os EIAs para ambas as minas de Moatize e Benga
discutem inúmeras potenciais fontes de contaminação da água, bem
como de degradação da terra. (HUMAN RIGTHS WACTH, 2013,
p. 38)

5.2.1.5 O impacto ambiental sobre a população local


Para que esses impactos sejam minimizados é necessário que o governo monitorize os
projectos de carvão de forma regular. Apesar dos esforços feitos pelo governo, é sobejamente
sabido que em Moçambique ainda não há um sistema de fiscalização das actividades
concernente às questões ambientais dentro da indústria extractiva bem como a falta de
regulamentos e penalidades para este sector.

Dessa maneira, pode-se constatar que os megaprojectos são poucas vezes fiscalizados e que
as leis atribuídas a questões ambientais possam a não coadunar com as que a organização
mundial de saúde (OMS) recomenda.

5.2.1.6 Processo de reassentamento da Vale


O reassentamento das minas de carvão de moatize envolveu cerca de 1365 famílias,
aproximadamente cinco mil pessoas, que viviam nas comunidades de Chipanga, Bagamoyo,
Mithete e Malabwe. Uma parte dessas famílias foram redistribuídas em dois campos de
reassentamento e a outra parte foi compensada financeiramente pela empresa.

Segundo MOSCA et SELEMANE (2011) os dados que a Vale divulga não indicam
claramente o custo total do reassentamento. Segundo a própria empresa, foram investidos na
parte social durante a fase de estudos de viabilidade 7.000.000 dólares americanos.
O processo de transferência da população aconteceu entre 09 de Novembro de 2009 a 28 de
Abril de 2010, nesse âmbito as pessoas foram transferidas para dois locais nomeadamente 25
de Setembro e Cateme, a mais ou menos 40 km de distância da cidade de Tete.

A Vale reassentou 289 agregados familiares em 25 de Setembro, concebido como um bairro


urbano na cidade de Moatize. A compensação não incluiu terras agrícolas, mas incluiu
bombas de água em cada casa, uma promessa de reformar a escola primária e o hospital de
Moatize e novas casas. Este reassentamento foi feito para as pessoas que dependem
principalmente de empregos assalariados em vez de empregos na agricultura (HUMAM
RIGTHS, 2013, p. 46).

A Vale realizou um censo no sentido de classificar as famílias e dividi-las entre os dois


distintos, assim sendo as famílias foram divididas em rural e urbana. Segundo censo foram
identificadas 717 famílias como sendo rurais e 596 como urbanas, no entanto houve famílias
que não decidiram aderir ao reassentamento preferindo assim a compensação financeira e
corresponderam um universo de 254 famílias:

Os funcionários da Vale disseram à Human Rights Watch que eles não anunciaram
proeminentemente a possibilidade de assistência financeira directa ou indirecta, por medo que
as comunidades afectadas gastassem todo o seu dinheiro de forma rápida e, em seguida,
ficassem em condições vulneráveis, sem habitação e terra adequada. (HUMAN RIGTHS
WACTH, 2013, p. 47)

5.3 Análise e interpretacao dos dados

5.3.1 Problemática do reassentamento levadas a cabo pela Vale


O relatório da Human Rigths Wacth - direitos humanos se traduzirmos para a língua
portuguesa, avança que: Os familiares das comunidades reassentadas pela Vale sofreram
problemas significativos nos reassentamentos que tange seus direitos económicos e sociais,
incluindo a autonomia para adquirir comida, água, acesso a trabalho e a saúde. (HUMAN
RIGTHS WACTH, 2013).

Por tanto, este fenómeno chamou a minha atenção como pesquisador que decidi buscar dados
sobre o mesmo em Moatize, no bairro 25 de Setembro - uma comunidade reassentada pela
Vale para apurar a veracidade dos factos. Assim sendo, realizou-se um pequeno inquérito
para compreender o grau de satisfação das famílias abrangidas pelo projecto de Mineração da
Vale que foram reassentadas naquela zona. Foram inqueridas cerca de 30 agregados
familiares representados pelos chefes de famílias e de pessoas mais velhas que se
encontravam em casa na data do inquérito.

Tendo em conta o que foi previsto pela Vale, o processo de transferência das famílias iria
acontecer entre 09 de Novembro de 2009 a 28 de Abril de 2010 e abrangeria cerca de 1365
famílias oriundas de 10 comunidades que fazem parte dos limites das actividades da empresa
de mineração, por sua vez o inquérito foi realizado numa localidade do bairro acima citado
onde foram reassentada cerca de 150 famílias e considerado apenas 20% da mesma
população. Por sua vez, a respeito do período em que ocorreu o processo de transferência das
famílias, todas elas (as famílias) foram unânimes em dizer que foram transferidas em meados
de 2010. Contudo de acordo com esta informação é possível diagnosticar que o processo de
transferência das famílias continuou a ocorrer mesmo com o prazo esgotado. Ou seja, houve
famílias que foram reassentadas tarde e não entre as datas previstas.

É valido acrescer que das 121 famílias inqueridas, 52 delas (43%) são compostas no máximo
de 6 pessoas, 28 famílias (23%) são compostas no mínimo de 8 pessoas, 40 famílias (33%)
são compostas no máximo de 4 pessoas e nenhuma família de somente duas pessoas. Facto
que demonstra que as famílias são numerosas e carecem de casas espaçosas para albergar
todos os membros da família. Por outro, lado o processo de transferência ou deslocamento de
pessoas de um lugar para outro, pode implicar uma perca de identidade dessa população caso
se verifique irregularidades ao longo do seu processo.

A mesma população quando indagada sobre a qualidade das novas casas esses não
divergiram em termos de raciocínio, para estes as casas são de péssima qualidade e não
oferecem padrões mínimos de segurança, muitas delas já apresentam grandes sinais de
infiltração e rachas com risco de desabarem a qualquer momento. Por outro lado, a Vale e o
Governo consideraram que os reassentados estão em segurança e as casas são de qualidade e
foram construídas mediante o que foi projectado pela população.

Sobre o apoio tanto do Governo bem como da Vale no período pós reassentamento, as
famílias divergiram em termos de opiniões, das 121 famílias inqueridas 88 (73%) alegaram
que nunca tiveram apoio das duas partes acima, 19 famílias (16%) responderam que as vezes
tiveram o apoio mas apenas no inicio, e as restantes 7 famílias não responderam esta questão
(6%). Por tanto, nota-se que tanto o governo moçambicano como a empresa Vale, só queriam
transferir as famílias das zonas de actividade mineira, para que a mesma não incidisse sobre a
população, por um lado as famílias não seriam directamente afectada pelos impactos
ambientais negativos da mineração, mas por outro lado a falta de apoio das partes envolvidas
no negocio traz impactos negativos para esta população que de certa forma torna-se
dependente das doações e dos programas de apoios ficando inibidas da autonomia
económica, político e social.

No que tange a fonte de rendimento das famílias afectadas pelo projecto de reassentamento,
do universo inquerido 73 famílias (60%) são compostos por agricultores que praticavam a sua
actividade nas bermas dos Rios Zambeze e Rivobue. 33 Famílias (27%) são desempregadas e
sem meio de subsistência, 7 (6%) comerciantes e 7 (6%) empregados assalariado. Esses
resultados mostram que a maior parte das famílias reassentadas são agricultores e carecem de
devida compensação de terra para continuar a exercer a actividade tal como anteriormente.
Acresce referir que não há postos de empregos na zona onde as famílias foram reassentada,
tendo a pequena percentagem de empregados acima citada percorre distancia de cerca de 40
km até a cidade de Tete ou quase 20 km para a Vila de Moatize para os seus postos de
trabalho. (vide o gráfico 3).

No que concerne as outras questões do inquérito que não foram citadas ao longo deste
capítulo (vide o anexo que se refere ao inquérito), tal como questões ligadas a vias de acesso,
escolas, hospitais, mercados, posto policial e índice de preços nos locais de reassentamentos,
todas as famílias inqueridas foram homologas ao mostrar-se insatisfeitas com a nova situação
de vida que foram involuntariamente exposta.

Embora haja alguma melhoria no que diz respeito a estrada que da acesso à vila de Moatize
com o processo de pavimentação da mesma, nem toda se encontra abrangida, por exemplo
esse programa de colocação de paveis não abrangeu a comunidade reassentada, parando a
quase 4 km da zona de reassentamento. Os inqueridos denunciam também a falta de escolas,
hospitais, mercados, posto policial, etc…

Contudo o inquérito baseou-se em questões generalizadas sobre a área de reassentamento, e


que as respostas da maior parte das perguntas eram convergentes, dai que somente
elucidamos somente aquelas respostas que de certa maneira divergiram em termos de
raciocínio foi possível concluir com inquérito que nenhuma família esta feliz com a nova
casa pois alegam que estão em péssimas condições e esquecidos por quem é de direito.

Continuando, durante a pesquisa de campo realizada no Bairro de 25 de Setembro o


pesquisador conversou com algumas pessoas, nomeadamente a secretaria da unidade de
reassentamento e por sinal agricultora a senhora Helena Marques e o Secretário do Bairro 25
de Setembro e o pedagógico o Senhor Horácio Bofana.

Helena Marques disse, em conversa que:

(…) (na antiga terra) Eu costumava a produzir mapira, que


enchiam muitos sacos, , só comprávamos comida quando houvesse
necessidade, mas geralmente não o fazia-mos. A terra que nos foi
atribuída é vermelha diferente da que cultivávamos as nossas
culturas, por exemplo as culturas que lancei na última campanha
morreram. Isto aqui, é apenas mais uma casa, eu (particularmente)
não estou muito feliz com isso porque não é uma casa que vai me
dar de comer…

Embora a Vale tenha distinguido os grupos sociais (urbanos e rurais) como foi visto
anteriormente, a agricultura é a principal actividade que garantem a subsistência e
sobrevivência da maior parte das famílias abrangidas pelo projecto, nesse sentido a
transferência destas pessoas para uma terra improdutiva, com solos que não são férteis,
tornara esta população dependente de programas de assistência alimentar, que muita das
vezes não são confiáveis.

Por outro lado, O senhor Horácio Bofana também em conversa disse:

Quando a Vale chegou, falavam que todos nos seriamos


reassentados em devidas condições, disseram ainda que todos
teremos um emprego, etc… todo o pessoal ficou feliz com a vinda
de uma nova empresa porque acreditávamos que viriam acabar de
uma vez por todas com a pobreza. Enquanto era tudo uma
fantochada… apesar da Vale oferecer alguma capacitação à
moradores que já vinham exercendo as suas actividades
anteriormente como carpinteiros, pedreiros e até encanadores, estes
vieram a trabalhar na Odebrecht por um curto tempo, depois foram
dispensados. estes trabalhadores ora dispensados já tinha uma certa
independência económica pois sobrevivia dos rendimentos que
resultavam das suas actividades, e agora já não é possível por causa
da ocupação da empresa dentro do perímetro onde eles praticavam
as suas artes.

Para além dos problemas relatados anteriormente concernente a qualidade das casas
construídas e questões ligadas ao solo, dentre outros problemas, no âmbito da pesquisa de
campo foram referenciado casos que davam conta que alguns camponeses foram atribuídas
terras pelo Governo para dar continuidade com a sua vida agrícola, mas por outro lado essas
terras já tinham proprietários. E Segundo a Vale já existiam cerca de 67 agregados familiares
nesta situação e a empresa disse só ter descoberto esta situação depois do processo de
reassentamento ter sido efectivado, entretanto a Entrevistada (Helena Marques) disse:

Dou graças a Deus por não terem-me concedido essas terras, mas a minha
vizinha que também tinha machambas se debateu com este dilema. Ela (a
vizinha) depois de ser oferecido a terra produziu milho no primeiro ano
(2010) e já no segundo ano vieram algumas pessoas a dizer que a terra era
delas, então ela foi obrigada a deixar o seu milho que já havia plantado para
a próxima campanha agrícola. (No entanto) dirigiu-se a Empresa (Vale) para
expor a situação e lhe disseram que dariam mais terra. Isto já faz um bom
tempo.

Os representantes da Vale, disseram numa entrevista realizada em Abril de 2013 para um


relatório da Human Rigths, ´´que numa decisão unilateral o Governo provincial de Tete
decide atribuir uma parcela de terras ou compensações financeiras que fossem capazes de
substituir a terra das famílias que foram prejudicadas com a implantação do projecto``. O
relatório referencia que até a data da elaboração do mesmo, não haveria ocorrido nenhum
fornecimento de compensação adicional às famílias prejudicadas com a mudança. O relatório
descreve que o Governo era da opinião de que houvesse mesmo uma compensação financeira
ao invés da substituição de terra. Mas a Gestora-geral da Vale na área de Responsabilidade
Social Empresarial, Liesel Figueiras, disse:

É importante compreender que, nas nossas discussões com o


governo, a melhor abordagem é [atribuir] o segundo hectare de
terra, nós queríamos que isso acontecesse. [A compensação
financeira] foi decisão do governo.... Estamos muito preocupados
com esta abordagem. Isto pode gerar uma espécie de actualização
falsa em termos de rendimento que não é sustentável. (HUMAN
RIGTHS WACTH, 2013, p.)

Segundo o Relatório da Human Rigths Wacth,2013´´ O reassentamento encontra-se em zonas


áridas com ausência de recursos hídricos, uma situação oposta a antiga comunidade. Antes os
moradores contavam com os rios Zambeze e Revuboé para a irrigação de suas culturas e
pecuária bovina``. (HUMAN RIGTHS WACTH, 2013)
Assim sendo a problemática do acesso a água potável tem sido destaque, pois trata-se de um
bem precioso e indispensável para a vida humana, a Senhora Helena M. avançou em
conversa com o pesquisador que:

Estamos a sofrer muito também por causa da falta de água, uma


vez que temos que pagar por enquanto que já estávamos habituados
a comer e ter água de graça, existem algumas pessoas com torneira
caseiras, mas a tal água sai aos soluços, com muitas restrições e por
vezes a água que sai nota-se uma forte presença do cloro que é
colocada de forma excessiva, e isso causar danos à nos
consumidores.

Apesar dos esforços que a Vale diz ter realizado no sentido de fazer alguns reparos para
colmatar os problemas acima levantados e no seu Plano de Acção. Até Março do presente ano
(2016), período em que o pesquisador esteve empenhado no trabalho de campo em Moatize
na comunidade reassentada de 25 de Setembro não se notou nenhuma aparente melhoria no
que diz respeito aos problemas acima levantados sobre as inquietações por parte dos
reassentados.

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