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A influência da cultura helenística na civilização

ocidental
Fernanda Machado*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

O Parthenon, na acrópole de Atenas

A importância de se conhecer a Grécia da Antigüidade (que se desenvolveu


entre 2000 a.C. e 500 a.C.) é que a herança de sua cultura atravessou os
séculos, chegando até os nossos dias. Foram influências no campo da filosofia,
das artes plásticas, da arquitetura, do teatro, enfim, de muitas idéias e conceitos
que deram origem às atuais ciências humanas, exatas e biológicas. 

No entanto, não podemos confundir a Antigüidade grega com o país Grécia que
existe hoje. Os gregos atuais não são descendentes diretos desses povos que
começaram a se organizar a mais de quatro mil anos atrás. Muita coisa se
passou entre um período e outro e aqueles gregos antigos perderam-se na
mistura com outros povos. Depois, a Grécia antiga não formava uma nação
única, mas era composta de várias cidades, que tinham suas próprias
organizações sociais, políticas e econômicas.

Apesar dessas diferenças, os gregos tinham uma só língua, que, mesmo com
seus dialetos, podia ser entendida pelos povos das várias regiões que formavam
a Grécia. Esses povos tinham também a mesma crença religiosa e
compartilhavam diversos valores culturais. Assim, os festivais de teatro e os
campeonatos esportivos, por exemplo, conseguiam reunir pessoas de diferentes
lugares da Hélade, como se chama o conjunto dos diversos povos gregos.
Cidades-Estados

Essa Grécia de 4.000 anos atrás era formada por ilhas, uma península e parte
do continente europeu. Compunha-se de várias cidades, com seus Estados
próprios, que eram chamadas de cidades-Estados. Essas cidades localizavam-
se ao sul da Europa, nas ilhas entre os mares Egeu e Jônio. Algumas das
cidades gregas de maior destaque na Antigüidade foram Atenas, Esparta,
Corinto e Tebas.

Essas cidades comercializavam e ao mesmo tempo guerreavam entre si. As


guerras eram motivadas pelo controle da região e para se conseguir escravos,
os prisioneiros de guerra, que moviam grande parte da economia daquelas
sociedades.
Afora os escravos e os pequenos proprietários, havia os cidadãos propriamente
ditos, naturais da cidade e proprietários de terras, que tinham direitos políticos e
podiam se dedicar a atividades artísticas, intelectuais, guerreiras e esportivas.
Isso indica que as pessoas com mais prestígio e propriedade cuidavam
exclusivamente do aprimoramento do corpo e da mente. Os mais pobres e os
escravos eram quem movimentava a economia, fazendo o trabalho braçal,
considerado, então, como algo desprezível.
Influência de Creta, Egito e Fenícia
Esses diversos povos gregos organizaram-se e ganharam força por volta do ano
2.000 a.C. A cultura grega tornou-se tão importante porque foi a síntese, o
resumo, de diversas outras culturas da Antigüidade, dos povos que viveram na
África e no Oriente Médio. Assim, os gregos conheceram os cretenses, que eram
excelentes navegadores. Tiveram contato com osegípcios, famosos nos nossos
dias pelo complexo domínio de conhecimentos técnicos que possuíam e por sua
organização social.

Por fim, a influência dos fenícios também foi muito importante na cultura grega.
Os fenícios foram o povo, naquela parte do planeta, que havia inventado o
alfabeto cerca de 1.000 anos a.C. Esse alfabeto foi aperfeiçoado pelos gregos,
que por sua vez deu origem ao alfabeto latino, inventado pelos romanos. Como
se sabe, a língua portuguesa, que nós falamos, tem origem latina.

Todo esse processo demonstra como ocorreram freqüentes intercâmbios entre


os povos ao longo da história da humanidade, embora muitos conhecimentos e
invenções tenham se perdido ou deixado de fazer sentido quando essas
civilizações desapareceram.
Sociedade espartana

As cidades-Estados sobre as quais sobreviveram mais informações são Atenas


e Esparta. Essas sociedades eram, aliás, bem diferentes e freqüentemente
lutaram uma contra a outra. A sociedade espartana era considerada rígida (nos
dias de hoje, quando queremos dizer que alguma coisa ou pessoa é muito cheia
de regras, fechada, dizemos que é "espartana"). Em Esparta, os homens viviam
para a vida militar.

Eles só podiam casar depois de terem sido educados pelo Estado, em


acampamentos coletivos, onde viviam dos 12 até os 30 anos. Para o governo,
existiam os conselhos de velhos, que controlavam a sociedade e definiam as
leis. As mulheres espartanas cuidavam da casa e tinham também uma vida
pública: administravam o comércio na ausência dos homens.
Atenas e a democracia
Já Atenas, que foi considerada o exemplo mais refinado da cultura grega, teve
seu apogeu cultural e político no século 5 a.C. Na sociedade ateniense,
diferentemente de Esparta, as decisões políticas não estava nas mãos de um
conselho, mas sim no governo da maioria, a democracia. Dentro desse sistema,
todos os cidadãos podiam representar a si mesmos (não precisavam eleger
ninguém) e decidir os destinos da cidade. Ao mesmo tempo em que Atenas abria
o espaço para os cidadãos, reservava menor espaço para as mulheres do que
na sociedade espartana. Em Atenas, as mulheres, assim como os escravos, não
eram consideradas cidadãs.
Os jogos olímpicos
De tempos em tempos, as civilizações que surgiram após os gregos - inclusive a
nossa - voltam seus olhos para essa cultura tão antiga, chegando mesmo a
retomar alguns de seus costumes. Assim aconteceu, por exemplo, com os Jogos
Olímpicos. Essa atividade ganhou importância no mundo ocidental na primeira
metade do século 20, como uma forma de celebrar pacificamente a rivalidade
entre os países que se confrontaram em duasGuerras Mundiais. Na verdade, as
Olimpíadas foram reinventadas no final do século 19, ou seja, mais de 2.000
anos depois de terem sido extintas.

Na Grécia Antiga, os jogos olímpicos eram um ritual de homenagem a Zeus (o


deus máximo de uma religião com muitos deuses). Esses jogos realizavam-se
na cidade de Olímpia e envolviam todas as cidades-Estados da Hélade em
várias competições de atletismo. Dentre as modalidades de esporte que se
praticavam havia a corrida, a luta livre, o arremesso de discos, salto e
lançamento de dardos. Os vencedores voltavam às suas cidades com uma coroa
de folhas de oliveira e um imenso prestígio.
Os macedônios e a cultura helenística

No entanto, após o esplendor de Atenas no século 5 a.C., as cidades-Estados


gregas foram perdendo seu poder e acabaram conquistadas e unificadas pelos
macedônios, no século 4 a. C. Sob o domínio de Alexandre, o Grande, a cultura
grega se expandiu territorialmente, indo do Egito à Índia, num processo em que
simultaneamente influenciava e sofria influências. Essa cultura que correu
mundo, tendo como raiz a tradição grega, foi chamada de cultura helenística. 

Por fim, no século 1 a.C., foi a vez dos romanos chegarem à Grécia antiga,


conquistando-a. Ainda que Roma tenha incorporado a maior parte dos valores
gregos, inaugurando a cultura greco-romana, os povos gregos da Antigüidade
não conseguiram mais obter sua autonomia política e assim foram, ao longo dos
séculos, desaparecendo.

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