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Teorema da Integral de Cauchy

ou Teorema de Cauchy-Goursat

Clarice Velloso (214620)


Daniel Hammer (195860)
Leonardo Lavoyer (220116)
Lucas Nascimento (220838)
Thiago Batistel (206252)

Universidade Estadual de Campinas


Campinas
Novembro 2019
1 Introdução

O Teorema da Integral de Cauchy ou Teorema de Cauchy-Goursat, é um teorema


significativo na matemática, em especial na área da análise complexa. O teorema em
questão afirma, em resumo, que se dois caminhos diferentes conectam dois pontos no
plano complexo e a função analisada é analítica em todos os pontos entre esses caminhos,
então as integrais de linha dos caminhos serão as mesmas.
O teorema foi nomeado em homenagem ao matemático, físico e engenheiro francês
Augustin-Louis Cauchy (1789-1857) e ao matemático francês Édouard Goursat (1858-
1936). Cauchy foi um importante intelectual, tendo feito grandes contribuições na área
da análise e da mecânica de meios contínuos. Versões rudimentares desse teorema podem
ser encontrados em um artigo entregue por Cauchy para a Academia de Ciências francesa
em 1814, quando ele tinha apenas 24 anos. O teorema foi apresentado oficialmente em
1825 [3].
O Teorema da Integral de Cauchy foi mais tarde chamado de Teorema de Cauchy-
Goursat por conta de uma importante contribuição de Goursat ao teorema. O matemático
francês foi o primeiro a provar que a condição de continuidade em f 0 pode ser omitida.
Essa remoção permitiu a criação de uma forma revisada do resultado de Cauchy, que foi
nomeada em homenagem a ambos os matemáticos.
Desse modo, ao longo desse texto enunciaremos definições e teoremas necessários para
a prova do Teorema da Integral de Cauchy para, em seguida, realizar a prova do teorema
em si. Por fim serão apresentados exemplos de aplicações desse teorema.

2 Definições Necessárias

Serão explicados nessa seção alguns conceitos necessários para a construção da prova
do Teorema de Cauchy-Goursart. Para todas as definições nessa seção, foi utlizado como
referência o livro Complex Variables and Applications [2].

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Figura 1: Augustin-Louis Cauchy a esquerda, Édouard Goursat a direita

2.1 Função Analítica

Definição 2.1.1. Uma função f de variável complexa z é analítica em um conjunto aberto


S se possui derivada em todo ponto nesse conjunto.

2.2 Arco Diferenciável

Definição 2.2.1. Sendo a função de variável complexa z = x + iy, temos:

x = x(t) e y = y(t) (a ≤ t ≤ b) (1)

tal que x(t) e y(t) são funções contínuas. Sendo as derivadas das funções da Equação 1
x0 (t) e y 0 (t) funções contínuas no intervalo, temos que a função z(t) é um arco diferenciável.

2.3 Arco Suave

Definição 2.3.1. Se z(t) é um arco diferenciável e z 0 (t) 6= 0 no intervalo (a < t < b),
então o vetor tangente unitário
z 0 (t)
T= (2)
|z 0 (t)|

é bem definido para todo t nesse intervalo aberto, com ângulo de inclinação arg z 0 (t).
Além disso, quando T faz uma curva, ele a faz de maneira contínua, a medida que o

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parâmetro t varia no intervalo (a < t < b). Tal arco é dito suave.

2.4 Contorno

Definição 2.4.1. Um contorno, ou um arco suave por partes, é um arco consistindo de


um número finito de arcos suaves unidos de ponta a ponta.

2.5 Contorno Simples Fechado

Definição 2.5.1. Um contorno simples fechado é um contorno em que os valores iniciais


de finais de z(t) são os mesmos.

3 Teoremas

Nessa seção serão enunciados teoremas necessários para a demonstração do Teorema da


Integral de Cauchy, assim como o próprio Teorema de Cauchy-Goursat. Foram utilizados
como referência os livros Complex Variables and Applications [2] e Calculus Vol. 2 [1].

Teorema 3.1 (Equações de Cauchy-Riemann). Se a derivada f 0 (z) de uma função f =


u + iv existe em um ponto z, então as derivadas parciais de primeira ordem, com relação
a x e y, de cada componente u e v devem existir naquele ponto e satisfazer:

∂u ∂v ∂u ∂v
= e =− (3)
∂x ∂y ∂y ∂x

que são as condições de Cauchy-Riemann. Além disso, f 0 (z) é dada em termos de suas
derivadas parciais pela equação:

∂u ∂u ∂v ∂u
f 0 (z) = +i = −i (4)
∂x ∂x ∂y ∂y

Demonstração. Suponha que a função f seja derivável em z0 , onde z0 = x0 + iy0 :

f (z) = u(x, y) + iv(x, y)

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f 0 (z) = a + ib

∆f = f (z0 + ∆z) − f (z0 )

∆u = u(x0 + ∆x, y0 + ∆y) − u(x0 , y0 ) e ∆v = v(x0 + ∆x, y0 + ∆y) − v(x0 , y0 )

Então,
∆f ∆u + i∆v
lim = = lim = = a + ib
∆z→0 ∆z ∆z→0 ∆x + i∆y

e também:

   
∆u + i∆v ∆u + i∆v
lim Re =a e lim Im =b
∆x→0,∆y→0 ∆x + i∆y ∆x→0,∆y→0 ∆x + i∆y

Em particular, quando ∆y = 0, em que ∆z = ∆x, esses limites se tornam limites de


funções de uma variável, ∆x, de forma que:

u(x0 + ∆x, y0 ) − u(x0 , y0 ) v(x0 + ∆x, y0 ) − v(x0 , y0 )


lim =a e lim =b
∆x→0 ∆x ∆x→0 ∆x

∂u ∂v
mostrando que as derivadas parciais ∂x
e ∂x
existem em (x0 , y0 ), e que:

∂u ∂v
=a e =b
∂x ∂x

O procedimento análogo pode ser feito, observando que ∆x = 0 ⇒ ∆z = i∆y, de forma


que existem as derivadas parciais com relação a y, ainda em (x0 , y0 ):

∂u ∂v
= −b e =a
∂y ∂y

Destes dois procedimentos, surgem as relações:

∂u ∂v ∂u ∂v
= e =−
∂x ∂y ∂y ∂x

Como f 0 (z) = a + ib, conclui-se que f 0 (z) pode ser expressada como f 0 (z) = ∂u
∂x
+ i ∂u
∂x
=
∂v
∂y
− i ∂u
∂y
, no ponto (x0 , y0 ).

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Teorema 3.2 (Teorema de Green). Seja C uma curva simples fechada derivável e D a
região do plano delimitada por C. Sejam P e Q duas funções reais de variável real com
derivadas parciais contínuas numa região contendo D, então:

Z ZZ
(P dx + Qdy) = (Qx − Py )dA
C D

Como o Teorema de Green não faz parte da ementa do curso, não será descrita sua prova.

Teorema 3.3 (Teorema de Cauchy-Goursat). Se a função f é analítica em todos os


pontos interiores e na fronteira de um contorno simples fechado C, então

Z
f (z)dz = 0
C

Demonstração. Tomando C como um contorno simples fechado z = z(t) (a ≤ t ≤ b),


descrito no sentido positivo (anti-horário) e assumimos que f é analítica em todo ponto
no interior de e em C. Então,

Z Z b
f (z)dz = f [z(t)]z 0 (t)dt
C a

Sendo que
f (z) = u(x, y) + iv(x, y) e z(t) = x(t) + iy(t)

No entanto, note que o integrando da equação acima pode ser expandido como:

f [z(t)] × z 0 (t) = (u[x(t), y(t)] + iv[x(t), y(t)]) × (x0 (t) + iy 0 (t))

Logo, realizando a multiplicação, encontraremos:

Z Z b Z b
0 0
f (z)dz = (ux − vy )dt + i (vx0 + uy 0 )dt
C a a

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Em termos de integral de linha de funções reais de duas variáveis, temos:

Z Z Z
f (z)dz = (udx − vdy) + i (vdx + udy)
C C C

Agora, consideraremos as condições para aplicar o Teorema de Green. Como f é contínua


na região fechada R, então ela é analítica na região. Logo, as funções u e v também são
contínuas em R. Analogamente, se a derivada f 0 é contínua em R, as derivadas parciais
de primeira ordem de u e v também são. Portanto, pelo Teorema de Green,

Z ZZ ZZ
f (z)dz = (−vx − uy )dA + i (ux − vy )dA
C R R

Porém, pelas equações de Cauchy-Riemann, temos

ux = vy , uy = −vx

Portanto, é fácil observar que ambos os integrandos das duas integrais duplas são zero
por todo R. Então,
Z
f (z)dz = 0
C

4 Exemplos

4.1 Exemplo 1

Se a função f é analítica em todos os pontos interiores e na fronteira de um contorno


simples fechado C então:

Z Z
f (z)dz = 0 =⇒ f (z)dz = 0
C −C

Z Z −a
f (z)dz = f [z(−t)]z 0 (−t)dt
−C −b

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fazendo a substituição
τ = −t =⇒ dt = −dτ

obtemos:
Z b Z
0
− f [z(τ )]z (τ )dτ = − f (z)dz = 0
a C

logo
Z Z
f (z)dz = − f (z)dz
−C C

então
Z Z
f (z)dz = 0 =⇒ f (z)dz = 0
C −C

4.2 Exemplo 2

Se C é uma curva fechada qualquer pertencente a um disco aberto | z |= 2, então:

zez
Z
dz = 0
C (z 2 + 16)4

Observamos que a função possui dois pontos de singularidade em z = ±4i. No entanto,


o resultado continua válido pois ambos os pontos estão fora da região delimitada por
| z |= 2 e, portanto, da região de qualquer curva dentro do disco.

Figura 2: C é uma cruva arbitrária contida no disco aberto | z |= 2

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Referências

[1] Tom M. Apostol. Calculus, Vol. 2: Multi-Variable Calculus and Linear Algebra with
Applications to Differential Equations and Probability. (Inglês) [Cálculo, Vol. 2].

[2] James Ward Brown e Ruel V. Churchill. Complex Variables and Applications. (Inglês)
[Variáveis Complexas e Aplicações].

[3] Augustin-Louis Cauchy. Mémoire sur les intégrales définies, prises entre des limites
imaginaires. (Francês) [A Memorandum on definite integrals taken between imaginary
limits]. Paris, 1825. url: https://archive.org/details/mmoiresurlesin00cauc.

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