Você está na página 1de 7

BALIEIRO Jr., A. P. Psicolinguística. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C (org.).

Introdução à linguística: domínios e fronteiras vol. 2. São Paulo: Cortez, 2004. p.201-
233.

RESENHA-RESUMO DO TEXTO “PSICOLINGUÍSTICA”

Adriana Gabriela Reis Silva (UEAP)1

Ari Pedro Balieiro Jr. é um mestre em linguística e desenvolveu sua tese em meio
ao campo da neurolinguística e discurso. Possui licenciatura e bacharelado em psicologia
pela PUC Campinas. Atua como grande pesquisador no Laboratório de Avaliação
Psicológica do Amazonas e pelo Grupo de Neurologia Cognitiva e Comportamental da
Universidade Federal de São Carlos. As linhas de pesquisa em que atua são direcionadas
para instrumentos de avaliação psicológica e rastreio de demências. Balieiro tem muitas
outras publicações em anais de congressos e periódicos como “Mecanismos Lógicos em
Brincadeiras Verbais”, publicado em 1998 pela Revista da Universidade de Franca.
Em seus vínculos institucionais como professor de graduações envolvidas com
línguas, sempre teve foco ao ensino relacionado à linguagem e cognição. Participou no
ano de 1999 em um projeto de pesquisa que visava reunir as contribuições da
psicolinguística para a avaliação do discurso verbal e não verbal. Tem forte influência
com as áreas de ciências humanas interligadas aos aspectos psicológicos e cognitivos.
Ainda na área da linguística, o autor participou de uma coletânea de textos que
abarca diversas manifestações do campo linguístico. A coletânea “Introdução à
Linguística: domínios e fronteiras” é escrita por pesquisadores especialistas em suas
respectivas áreas de conhecimento e destinadas a leitores iniciantes ou não especializados.
Organizada por Fernanda Mussalim e Anna Christina Bentes, a obra estar dividida em
dois volumes que abarcam várias edições.
O Volume 1 começa com o texto Sociolinguística de Tania Alkmim (parte I) e
Roberto Gomes Camacho (parte II); em seguida temos o texto Linguística Histórica de
Nilson Gabas Jr; posteriormente os textos Fonética de Gladis Massini Cagliari e Luiz
Carlos Cagliari; Fonologia de Angel Corbera Mori; Morfologia de Filomena Sandalo,
Sintaxe de Rosane de Andrade Berlinck, Marina R.A. Augusto e Ana Paula Scher e
Linguística Textual de Anna Christina Bentes, respectivamente nessa ordem. O Volume
2 abrange mais 8 áreas de conhecimento: i) Semântica de Roberta Pires de Oliveira; ii)
Pragmática de Joana Plaza Pinto, iii) Análise da Conversação de Ângela Paiva
Dionísio; iv) Análise do Discurso de Fernanda Mussalim; v) Neurolinguística de
Edwiges Morato; vi) Psicolinguística de Ari Pedro Balieiro Jr; vii) Aquisição da
Linguagem de Ester Miram Scarpa e viii) Língua e Ensino: Políticas de Fechamento de
Marina Célia Mendonça.
Para este trabalho será considerado o texto Psicolinguística de Ari Pedro
Balieiro Jr que, assim como a coletânea que estar contido, divide-se em capítulos e
subcapítulos. O capítulo 1 é denominado de Introdução: as raízes e evolução do campo,
este se encontra dividido em subcapítulos: 1.1) O problema da definição da
Psicolinguística, 1.2) A pré-história, 1.3) O período formativo, 1.4) O período
linguístico, 1.5) O período cognitivo, 1.6) o período da teoria psicolinguística,
realidade psicológica e ciência cognitiva, 1.7) O século XXI: o campo se expande –
novos temas, antigos problemas; o capítulo 2 é denominado de Questões e problemas
1
Graduanda do Curso de Licenciatura em Letras Português e Inglês. E-mail: adrianagaby935@gmail.com.
Turma 2018.3
da Psicolinguística, também separado em subcapítulos: 2.1) O método experimental e
seus problemas que se divide em 2.1.1) Processamento do sinal acústico da fala, 2.1.2)
Unidade de significação ou o problema do léxico e 2.1.3) Restrições psicológicas; o
capítulo 3 é denominado de Alguns exemplos e estar subdividido em: 3.1) Níveis de
análise e elementos da Psicolinguística (um corte epistemológico), 3.2) Linguagem e
pensamento (um modelo de processamento), 3.3) O processamento sintático em
estruturas ambíguas do Português, 3.4) A teoria léxico-funcional da gramática (uma
operação teórica); o capítulo 4 é denominado de Linhas alternativas ao mainstream,
dividido em subcapítulos: 4.1) Piaget e Vygotsky, 4.2) Psicolinguística Aplicada, 4.3) A
Psicolinguística no Brasil; e, por último, o capítulo 5 denominado de Conclusão: um
campo em evolução.
Para dá início a sua escrita, Balieiro (2004) levanta questões referentes ao
problema da definição da Psicolinguística, de como foi difícil entrar em consenso sobre
o que seria o cerne da disciplina, assim como em outras ciências recém-nascidas. Para
chegar a sua delimitação, ele expõe um olhar panorâmico de amplos consensos sobre o
que de fato seria a Psicolinguística, levando em consideração alguns critérios como:
escolher fontes de informações atualizadas e que pareçam expressar o conjunto de
trabalhos reconhecidos e auto identificados como pertencentes ao campo da disciplina,
traçar um levantamento histórico sobre suas raízes e evolução, descreve-la no seu estado
atual, suas investigações e um breve resumo do estado de sua pesquisa no Brasil. A
seguir, ressaltam-se cinco períodos da fase de constituição da Psicolinguística
abordados pelo autor.
Primeiramente, observa-se que a Psicolinguística, hipoteticamente, teve suas
bases lançadas pela primeira vez no período pré-histórico em um artigo de N. H
Proncko que a sugere como um campo interdisciplinar para o qual colaboram a
Psicologia e a Linguística. Nesse momento, seus estudos estavam voltados para a
Psicologia da Linguagem que abordava a Psicologia e a Linguística, isto é, a relação
entre o pensamento e a linguagem, já que existia nesse período dois movimentos
opostos: um que caminhava da Linguística para a Psicologia e outro que caminhava da
Psicologia para a Linguística. Este, tinha duas concepções, uma mentalista, de corrente
europeia que buscava explicar o pensamento através do estudo da linguagem e a outra
comportamentalista, de corrente norte-americana que buscava entender o
comportamento. Aquele, liderado por W. Wundt, por sua vez, sustentava que a
linguagem poderia ser explicada à base de princípios psicológicos. Apesar desse último
movimento ter ganhado força até a chegada dos linguistas estruturalistas que
contrariavam essa ideia, a Psicolinguística não conseguiu, nesse período, definir seu
campo de estudo, permanecendo, assim, interdisciplinar, a qual Balieiro visualiza como
uma tentativa apenas de responder questões comuns a duas disciplinas.
No segundo período, chamado de período formativo introduzido após a Segunda
Guerra Mundial, há um quadro epistemológico mais consistente para os estudos
Psicolinguísticos, Shannon e Weaver (1949) definiam uma unidade de comunicação
formada por cinco questões: fonte, transmissor/codificado, canal, receptor/decodificador
e destinação. Esse modelo foi bastante utilizado pela pesquisa dos anos 50. Tão forte
eram seus acentos comportamentalistas que Osgood e Sebeok (1954) abordavam a
Psicolinguística como o estudo dos processos de codificação e decodificação no ato da
comunicação na medida em que ligam estados das mensagens e estados dos
comunicadores. É nesse cenário de descobertas, pesquisas e teorias que inaugurou o
período formativo, cujos marcam iniciais se estabeleceram em seminários e comitês da
época que fundaram a Psicolinguística como amplo painel de pesquisas oriundas da
Psicolinguística e orientada para a Linguística e vice-versa. Os linguísticas estavam
preocupados com o estado da mensagem, enquanto os psicólogos com os estados dos
comunicadores, e, em soma, os processos de codificação e decodificação. No entanto,
apesar de muitas pesquisas que resultassem em inúmeras dispersões teórica, a
Psicolinguística desse período não foi suficiente para definir uma teoria que à abordasse
como disciplina.
Dessa forma, Três anos após a abordagem da Psicolinguística como estudo dos
processos de codificação e decodificação, os estudos de Chomsky, que adotam uma
gramática gerativa transformacional, vão criticar essa abordagem operacionalista e
propor novos fundamentos para os estudos psicolinguísticos. O que terá como
consequência o fim do período formativo e, ao memo tempo, o início do período
linguístico. A crítica chomskyana diminui a influência do comportamentalismo presente
no período anterior e propõem uma abordagem racionalista e dedutiva, reavivando,
assim, o período histórico, embora em outras roupagens, e adotando uma postura
metodológica racional e dedutiva no design de seus experimentos.
Das questões propostas pelo modelo gerativista, a teoria linguística teria como
domínio próprio a competência, isto é, o conhecimento que um falante/ouvinte nativo
tem de sua língua. Tal competência, tinha como componente central a sintaxe deixando,
porém, de lado, a semântica. Seu objetivo era descrever e construir uma Gramática
Universal que permitisse entender como a linguagem surge e se diferencia, em línguas
distintas, na mente humana. No primeiro momento, muitas pesquisas adotavam esse
modelo gerativista que investigava, em primeira mão, a realidade psicológica das
unidades linguísticas, no entanto, esse modelo acabou sendo abandonado por razões
diversas, dentre elas, tem-se: poucas evidências experimentais que a apoiassem, próprio
refinamento do design que acabou mostrando a importância da estrutura sintática no
processo das sentenças, assim como os fatores semânticos e pragmáticos e entre outras
razões que acabaram causando o declínio desta Teoria.
O fim da teoria linguística acabou por desaguar em uma ampliação e
enriquecimento da Psicolinguística por meio de aposte e contribuições de psicólogos e
filósofos da linguagem. Assim, nasce um novo período, denominado por Kess (1992) de
período formativo, que acaba adotando o período linguístico em suas vertentes, porém,
sem seu carácter de exclusividade. Os cognitivos postulavam a subordinação da
linguagem a fatores cognitivos mais fundamentais, dos quais a linguagem seria apenas
um fator. O paradigma cognitivo vai rejeitar a centralidade e a independência
gramatical, sustentando que a capacidade cognitiva descrita pelos estudos da gramática
sobre a competência é apenas uma das manifestações da vida humana e que não é mais
importante que outros sistemas cognitivos ou comportamentais envolvidos na aquisição
e no uso da linguagem, o que resultou na ampliação e tornou mais eclético o campo de
estudo da Psicolinguística.
No período seguinte, denominado por Kess (1992) de período da teoria
psicolinguística, realidade psicológica e ciência cognitiva, o campo se apresenta em
estado de transição. A questão da realidade psicológica readquiriu um status central na
pesquisa, no aperfeiçoamento de teorias mais nitidamente psicológicas; e a influência do
paradigma chomskyano continuou, embora em nível mais abstrato. Em soma disso, os
alvos da teoria foram se ampliando, com a extensão de conceitos originários da
gramática ou da semântica às investigações sobre problemas de representação
conceitual e da estrutura dos sistemas cognitivos humanos.
Sobre a égide das ciências cognitivas, a integração da Psicologia e a Linguística
aumentou a atração de financiamento, e com isso a parceria recrudesceu, após um
período de relativo esfriamento. Este renascimento da parceria submeteu a
Psicolinguística, com o seu foco na interação entre a linguagem e o processamento
mental, a um duplo critério de rigor, da análise linguística e da experimentação
psicológica. Tal colaboração colocou em confronto conceitos filosóficos opostos e
concorrentes sobre a mente. Uma das oposições colocada em confronto foi o enfoque
modualista versus o não modualista ou interacionista, e outra oposição foram os
modelos simbólico versus modelos conexionistas.
Num primeiro momento as pesquisas se apoiavam cada vez mais no paradigma
simbólico e seus conceitos de representação e computação, em que se supõem que as
entidades do mundo são representadas por entidades mentais, computadas em passos
discretos ou etapas delimitadas segundo regras discerníveis para o armazenamento,
transmissão e processamento. Com isso, chegou-se a propor que a Psicolinguística
estaria subsumida na corrente maior das ciências cognitivas, o que por consequência, foi
se tornando cada vez mais uma disciplina, complexa e autônoma.
No entanto, esse desenvolvimento também evidenciou limites cada vez mais do
paradigma assumido e em 1982 por iniciativa de Tatiana Slama-Cazacu e Renzo Titone
foi fundada a International Society of Applied Psycholinguistics (ISAPL) de
nomenclatura “Aplicada” afim de enfatizar o fato de que é preciso olhar para a realidade
humana como ela é e para separar a ISAPL e a Psicolinguística em geral do
Gerativismo. Além disso, outro acontecimento que influenciou a Psicolinguística foi a
proclamação presidencial norte-americana da década de 1990-1999, como a “década do
cérebro”. Esse acontecimento fez-se sentir, a Psicolinguística, pela aproximação com as
neurociências e o aumento de usos de exames de imagens cerebral em experimento.
A partir desse período a Psicolinguística se expandiu, tanto em número de
pesquisas quanto em pesquisadores e publicações. Suas abordagens foram se ampliando
de forma mais consistentes, assim como a crítica epistemológica aumentou a
visibilidade dos paradigmas alternativos. Com isso, pode-se dizer que o panorama geral
da Psicolinguística no século xxi aponta o aumento do consenso sobre as questões que
concernem a disciplina, ao mesmo tempo que a competição pela solução destas questões
tem favorecido ante o debate entre paradigma alternativos e concorrentes do que o
triunfo de algum paradigma indiscutivelmente dominante.
A respeito das questões e problemas da Psicolinguística, observa-se que apesar
duma evidente ampliação da profundidade e detalhamento que os assuntos são
abordados, o escopo de interesse continua aproximadamente o mesmo. Embora a
Psicolinguística Cartesiana ainda pareça mais ocupada com o que acontece na mente do
falante, enquanto a Psicolinguística Aplicada apresenta um escopo mais amplo e
diversificado. A seguir aborda uma breve análise de algumas questões do campo e
alguns dos problemas que tais questões apontam, bem como a identificação de asserções
que podem ser feitas no atual estado do conhecimento.
Sobre o método experimental da Psicolinguística que consiste em elaborar
hipóteses que sugerem relações casuais entre variáveis e em elaborar experimentos que
permitam verificar a existência ou não das relações, dois são os principais problemas:
em primeiro lugar o experimento e, em segundo lugar, a delimitação das variáveis é, em
si, uma operação teórica e a quantidade desta delimitação, depende da qualidade da
teoria da qual ela foi derivada. Assim, uma hipótese mal construída ou derivada de uma
teoria mal formulada pode causar problemas para o design do experimento, gerando
experimentos extremamente bem feitos, mas com muita pouca relevância teórica, ou
experimentos relevantes para a teoria, mas com conclusões discutíveis por defeito do
design.
Um exemplo de questão experimental típica, diz respeito ao processamento dos
sinais acústicos da fala, haja vista a sua dificuldade metodológica, no início, para
elaborar estudos experimentais. No entanto, com os avanços nos métodos e no design
dos experimentos essa dificuldade foi superada e, hodiernamente, há diversos estudos
sobre esse processamento, ainda que com alguns desequilíbrios.
A despeito do léxico, vale ressaltar que o reconhecimento de palavras ou a
distinção delas pelo falante/ouvinte é uma questão que surge da suposição de que o
processamento da fala, tanto na recepção quanto na produção, envolve algum tipo de
léxico, que seria um dicionário mental, com palavras armazenadas pelo falante/ouvinte.
As questões desencadeadas dizem respeito tanto a natureza das unidades de significação
armazenadas neste léxico quanto a sua estrutura, nas quais deverão ser identificadas
quais os critérios de relacionamento das diversas informações armazenadas e quais as
possíveis formas de entrada ou acesso para o léxico como um todo. Também é relevante
o estudo do relacionamento do léxico com os outros sistemas de provimento das
informações necessárias para o ato de falar e ouvir. Além disso, o meio de acesso ao
léxico é consistente a um problema teórico sobre o qual há também bastante
discordâncias. O estudo também é afetado pelo processo escolhido como objeto do
ponto de vista metodológico. Além disso, descobrir como a significação é representada
na memória e como é usada na recepção/produção da fala também é fundamental.
Nas linhas adiante, Balieiro se apropria de alguns exemplos de estudos
psicolinguísticos aplicados ou teóricos que buscam demonstrar como a Psicolinguística
se comporta diante dos problemas e questões com as quais se debate.
Garman (1990) em sua “cadeia da fala” apresenta três níveis de análise do
processamento linguístico: o nível linguístico, relacionado a formulação da mensagem;
o nível filosófico, relacionado com a produção e recepção da fala; e o nível acústico
onde ocorre as ondas sonoras que formam a ponte entre o falante e o ouvinte. Deste
processamento, resultam três elementos fundamentais: a existência de um sinal
linguístico, que concerne ao conjunto de eventos ambientais e um conjunto de
elementos motores necessários a geração de mensagens linguísticas, faladas ou escritas;
a atividade neurofisiológica envolvida tanto na recepção quanto na geração da
linguagem; e o sistema linguístico, que faz referência ao conjunto abstrato dos
elementos da língua e às regras que regem as relações entre esses elementos. Vale
ressaltar que os elementos não se confundem com os níveis de análise, mas em cada
elemento há o cruzamento desses três níveis de análises. Ao apontar esses elementos e
níveis de análises, Garman faz um corte epistemológico colocando limite ao que pode
ser estudado e ao que pode ser dito a respeito do fenômeno.
A partir da hipótese de que pensamento (de bases mentais) se articula com a
linguagem, surgem alguns problemas no estudo desta articulação. O primeiro deles
reconhece que o acesso que temos a este processamento é indireto e o segundo, consiste
em identificar, neste processamento, os efeitos das restrições advindas do sistema
linguístico e os efeitos das restrições advinda do próprio sistema cérebro-mental, a
exemplo dos limites impostos pelo sistema sensório-perceptivo ou pelo funcionamento
da memória.
De acordo com Balieiro, Maia et al. (2005) como parte de um programa de
pesquisa, investiga o processo de concatenação sintáticas em estruturas do português
através de três experimentos articulados. Uma vez que o objetivo é apenas mostrar
como funcionam os estudos experimentais em Psicolinguística, é examinado apenas um
dos aspectos da versão online do primeiro experimento, em que a tarefa implicava a
interpretação de sentenças como a babá explicou para a criança QUE estava sem
sono / que a mamãe iria chegar à noite, em que a partícula QUE inicia uma oração
subordinada, que pode ser integrada como substantiva objetiva direta ou adjetiva. Nesta
sentença, a hipótese a ser testada é se o princípio da Aposição Mínima opera no parser
de sujeitos falantes do português brasileiro. A lógica do experimento era que, se o
princípio da Aposição Mínima fosse operante em português, em sentenças como
mencionada acima, o segmento do meio geraria um beco sem saída, obrigando a parser
a reanalisar a oração toda. Os resultados apontaram a atuação do princípio como default
na operação do parser.
O que concerne a Teoria Léxico-Funcional da Gramática (LFG), ela é proposta
como uma alternativa à Gramática Gerativista chomskyana, pois acredita que o falante
aplica as regras gramaticais por meio de operações mentais, as chamadas
transformações, e propõem que as transformações gramaticais, como classe de palavras
e condições para o relacionamento sintático entre elas, estejam incorporadas
diretamente no léxico. O léxico, então, além das entradas fonológicas e semânticas, teria
também uma entrada gramatical, em que ficariam armazenados os aspectos sintáticos
das palavras. Com isso, essa teoria vai explicar a forma como ocorrem as operações
teóricas na Psicolinguística: partindo de estudos de tarefas reais, tais como entender,
armazenar e recuperar estruturas linguísticas, os autores elaboraram pressupostos de que
é mais fácil recuperar informações da memória do que executar transformações
gramaticais.
Adiante, a autor apresenta duas fontes de paradigmas alternativos aos
dominantes Mainstream das pesquisas. Um, vindo da Psicologia, apoia-se nas reflexões
teóricas de Piaget e Vygotsky, enquanto o outro, vindo da Linguística Aplicada,
relaciona- se com as aplicações das descobertas psicolinguísticas a diversos campos das
atividades humanas. Piaget e Vygotsky dedicaram parte dos seus estudos ao
entendimento do relacionamento entre o pensamento e a linguagem. Em Piaget, tem-se
a publicação do livro a linguagem e o pensamento da criança (1923-1989) que teve
grande impacto no campo da Psicologia, especialmente da Psicologia da Inteligência;
enquanto que em Vygotsky, encontra-se a obra Pensamento e linguagem apresentada
aos cientistas ocidentais em 1958, suas concepções são bastante influentes no Brasil,
exclusivamente nos estudos produzidos por psicólogos e educadores.
A International Society of Applied Psycholinguistics (ISAPL), além de ser a
única associação internacional dedicada a Psicolinguística, publica um importante
periódico, o International Journal of Applied Psycholinguistics, e já realizou oito
Congressos Internacionais, cujos tópicos são um bom exemplo da diversidade dos
campos e interesses da Linguística Aplicada. Nos estudos referidos sobre os nomes de
Psicolinguística Aplicada, é perceptivo uma linha alternativa ao mainstream
psicolinguístico fortemente influenciado pelos paradigmas chomskyanos, chamados ás
vezes de brand Harvard-MIT ou Psicolinguística Cartesiana. Balieiro (2004) baseado na
classificação proposta por Figueiredo (1989-1991) para as matrizes de pensamento que
marcaram o surgimento da Psicologia e se inspirando no próprio título do artigo de
Remmetveit, nomeia essa abordagem de Hermenêutica.
Sobre as pesquisas Psicolinguística no Brasil, é notório seu avanço de forma
consistente, haja vista o encandeamento da quantidade de pesquisadores e o número de
estudos realizados na área desde a criação do Grupo de Trabalho de Psicolinguística da
ANPOLL (Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Letras e Linguística)
que realizou em 2010 seu primeiro congresso internacional, cujos objetivos era
aumentar o contato e a colaboração entre os pesquisadores brasileiros e estabelecer
relações de intercâmbio com pesquisadores de universidades estrangeiras.
Finalmente, para concluir, Kess (1992) “descreve as mudanças de paradigma na
pesquisa linguística como uma sucessão de empréstimos de modelos e metáforas
oriundas de paradigmas bem-sucedidos nas ciências hard”. Resumindo, no século
passado existia uma Linguística biológica-evolucionária de influência Darwinista; Com
o advento do operacionalismo estruturalista, passou-se para uma Linguística Química;
posteriormente, com o paradigma chomskyano , surgiu uma Linguística Matemática; e,
por fim, com a emergência e influência das ciências cognitivas, as metáforas e modelos
apontaram para o paradigma computacional que acabou envolvendo a Psicolinguística
(e a Linguística) com questões mais amplas, a exemplo da natureza do conhecimento, as
estruturas das representações mentais e seu papel no processamento.

Você também pode gostar