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Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

Faculdade de Administração e Ciências Contábeis (FACC)


Curso de Administração

Disciplina: Comércio Exterior


Período Letivo: 2020/2 ministrada em 2021
Professor: Dr Renato Neder
Discentes: Daniele Danchura – 201711228032; Nerivaldo Silva Amorim Filho – 201811228069

Atividade Avaliativa – O Plano Real, o mercado de câmbio e a inflação

O Plano Real não foi apenas mais um plano com o objetivo de estabilizar a inflação no
Brasil, mas sim foi “o plano”, que tinha como objetivo mudar o cenário inflacionário no país, e
foi o que aconteceu. O Real entrou em circulação no dia 1º de julho de 1994. Um mês antes, em
junho do mesmo ano, o acumulado de 12 meses da inflação chegou a 4.922%. Ao final do ano,
já com o Real em circulação, a inflação chegou a 916% e no ano seguinte, 22%. A partir desse
período, o acumulado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) em 12 meses passou
de 9% em poucas situações, apesar de todos os percalços vividos, como as crises internacionais
e internas.

Mas, criar e implantar o Plano Real não foi tão fácil, principalmente frente ao ceticismo
dos brasileiros, que já haviam passado maus-bocados com outras tentativas de estabilização
com outros planos. O processo de criação teve início no segundo semestre de 1993, quando as
equipes do Ministério da Fazenda, Banco Central e Casa da Moeda passaram a trabalhar juntos
no desenvolvimento do novo plano. A implantação do Real passou por três fases: em primeiro
lugar, criou-se o Fundo Social de Emergência (FSE), com o objetivo de aumentar a arrecadação
tributária e a flexibilidade da gestão orçamentária em 1994/1995, num esforço de realizar o
ajuste fiscal.

Nessa primeira fase o foco também, e principalmente, foi o saneamento das causas da
alta inflação, que era o controle das contas públicas. O primeiro ponto a ser atacado foram os
endividamentos dos governos estaduais e o arrocho nas contas públicas da União, para que
fosse possível reduzir drasticamente o déficit existente.

Em seguida, tratou-se de atrair investidores para o Brasil com o pagamento de uma


taxa atrativa de juros. O objetivo neste caso era ter dólares em quantidade suficiente para
oferecer a todos que quisessem, a partir do momento que a indexação da nova moeda brasileira
deixaria de ser feita pela inflação, e sim pela moeda americana. A época, o governo decidiu que
R$ 1 valeria aproximadamente US$ 1. A preocupação era que se a nova moeda se desvalorização
frente ao dólar, a inflação pudesse voltar. Outro fator que facilitou a entrada de dólares no país
foi a renegociação da dívida externa no início dos anos 90.

Com a garantia que o valor do real estaria atrelado ao dólar e que não seria impresso
dinheiro para cobrir o déficit financeiro do governo, entrou em ação a segunda etapa, que foi a
utilização da moeda escritural, a Unidade Real de Valor (URV), como unidade de conta. A URV
entrou em vigor no dia 1º de março de 1994, quatro meses antes do Real.

Havia uma tabela do valor da URV. Em 1º de março de 1994, uma URV valia 647,50
cruzeiros. Com essa tabela, a inflação subia em cruzeiros, e servia de parâmetros para que todos
aumentassem de forma conjunta os seus preços. Assim, os reajustes pararam de ser feitos com
base nas expectativas de cada agente econômico. “A cada dia, uma URV valia mais cruzeiros.
Mas na cabeça das pessoas, ela era um valor fixo, confiável – quem se desvalorizava era a moeda
velha”. (CASTRO, 2019). Em 30 de junho, um dia antes do Real, a cotação da URV era 2.750
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cruzeiros. Então, no dia segunda, com a entrada do Real no mercado, 2.750 cruzeiros novos, que
era o valor de uma URV, passou a ser trocado por R$ 1. As trocas eram feitas nos bancos.

Conforme informações do Banco Central, a distribuição da nova moeda para a rede


bancária começou em abril de 1994, com o intuito de acelerar a substituição do dinheiro que
circulava a época. Ao mesmo tempo que era fornecido as cédulas e moedas do Real, também
era feito o acolhimento de depósitos à vista feitos na nova unidade monetária e o recolhimento
dos cruzeiros reais, que circularam até setembro de 1994. De abril a junho de 1994, mais de 940
milhões de cédulas e mais de 688 milhões de moedas foram distribuídas em todo o país.

Mas, o controle cambial sobre o dólar durou apenas até 1999 devido às crises
internacionais vindas da Ásia e da Rússia, que acabaram aumentando a busca pela moeda
americana no mercado internacional. Brasil e outros países em desenvolvimento passaram a ser
os mais atingidos pela crise, pois passaram a ser vistos como destinos arriscados para se investir.
Com isso, investidores começaram a retirar dinheiro das moedas emergentes, como o Real, e
passaram a investir em dólar.

Assim, o Banco Central começou a ter dificuldades em manter o câmbio fixo, com o
dólar valendo um pouco mais que R$ 1. Duas eram as soluções para a manutenção da situação:
atrair dólares para manter as reservas e para isso o Banco Central subiu, e muito, os juros, sendo
que a taxa chegou a superar 40% em alguns momentos, o que não deu certo; a outra era garantir
que todo mundo que tivesse reais e quisesse, pudesse trocar por dólares. Para isso, foi
necessário vender as reservas do país, o que gerou os ataques especulativos.

Como as reservas internacionais não eram grandes, a troca de reais por dólares
tornou-se um negócio com enorme potencial de lucro. Desconfiados, os investidores passaram
a trocar os reais por dólares a preço fixado, na expectativa de que, quando acabassem as
reservas, fosse liberada a cotação para flutuar livremente, e assim, quem comprou dólar barato,
venderia por muito mais dentro de pouco tempo.

Por fim, o Governo Brasileiro não conseguiu controlar o valor do dólar após vender
quase todas as reservas internacionais que possuía, e assim desistiu do regime de câmbio fixo.
Liberar o câmbio mudou profundamente a política macroeconômica que havia sido planejada
para o Plano Real. A partir de então foi adotado o chamado tripé econômico, abrindo mão do
controle do câmbio, mas se comprometendo a manter o valor da moeda, fazer superávit
primário nas contas públicas e estabelecer e cumprir metas de inflação, deixando que o Banco
Central atuasse com mais autonomia para subir juros e perseguir a meta.

Depois de mais de 20 anos da implantação do tripé econômico, a inflação no Brasil


permanece, de certa forma, sob controle, mas fora das metas previstas pelo Governo. Para 2021,
a meta era de 5,25% em 12 meses, mas fechou em 8,35%. Atualmente, R$ 1 vale US$ 0,19, ou
US$ 1 vale RS 5,12. Com isso, desde sua criação, o Real já perdeu aproximadamente 84% do seu
poder aquisitivo, de acordo com o IPCA. Já as contas do setor público registraram superávit
primário de R$ 24,255 bilhões em abril, sendo considerada a melhor série para o mês de abril
desde 2001, pelo Banco Central. O bom resultado está relacionado a uma arrecadação recorde
de impostos e ao fato de que o Orçamento de 2021 só foi sancionado no final do mês de abril,
e com isso os gastos públicos ainda estavam contidos.
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Referências bibliográficas

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Política Monetária: o que é inflação – Plano Real. Página Inicial.
Disponível em: https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/planoreal. Acesso em: 01 ago. 2021.

CASTRO, J.R. O que foi o Plano Real e como ele controlou a hiperinflação. Nexo Jornal, São Paulo,
30 jun. 2019. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/explicado/2019/06/30/O-que-foi-
o-Plano-Real-e-como-ele-controlou-a-hiperinfla%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 01 ago. 2021.

Inflação atinge 8,35% em 12 meses: veja itens que mais subiram e mais caíram no período. G1,
8 jul. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/07/08/inflacao-
atinge-835percent-em-12-meses-veja-itens-que-mais-subiram-e-mais-cairam-no-
periodo.ghtml. Acesso em: 01 ago. 2021.

MARTELLO, A. Contas públicas têm superávit recorde de R$ 24 bilhões em abril; dívida cai para
86,7% do PIB. G1, Brasília, 31 mai. 2021. Disponível em:
https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/05/31/contas-publicas-tem-superavit-recorde-
de-r-24-bilhoes-em-abril-divida-cai-para-867percent-do-pib.ghtml. Acesso em: 01 ago. 2021.

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