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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA E CIÊNCIA POLÍTICA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Epistemologia das Ciências Sociais – CSO7304


Docente: Rodrigo da Rosa Bordignon
Discente: Laura Battisti

RESUMO DO CAPÍTULO “O PROGRAMA FORTE NA SOCIOLOGIA DO


CONHECIMENTO”

O programa forte na sociologia do conhecimento é uma importante corrente das teorias


do conhecimento, sendo David Bloor um significativo pesquisador deste grupo de pesquisa e
de ensino. Bloor é um sociólogo britânico e trouxe diversas contribuições ao desenvolvimento
da área dos estudos de ciência, tecnologia e sociedade. Em seu livro “Conhecimento e
imaginário social”, mais especificamente no capítulo I: “O programa forte na sociologia do
conhecimento”, o autor aborda os quatro princípios fundamentais do programa forte e o debate
ainda existente em torno da natureza da ciência.
Inicialmente, o autor desconstrói a visão de que há limites na investigação e explicação
da natureza do conhecimento, afirmando que está seara não está fora do alcance da averiguação.
Para este, a sociologia da ciência deve investigar minuciosamente o caráter do conhecimento,
da racionalidade, da verdade e da objetividade. Assim, aqueles que afirmam não ser possível a
análise do conhecimento científico, pois esta iniciativa está destinada ao fracasso, estão
conduzidos pela falta de vontade e vigor.
Em seguida, o autor detalha sobre o programa forte, o qual tem como objetivo
empoderar a sociologia em sua competência de explicar a atividade científica. Este
conhecimento deve ser construído coletivamente e deve ser transmitido de maneira estável, até
mesmo as suposições prévias devem ser analisadas. De acordo com esta perspectiva, investiga-
se os processos de criação, manutenção, organização e distribuição deste conhecimento, para
depois explicá-lo. Dessa forma, o propósito destas ações é construir teorias que possuam
generalidade máxima, por meio da localização de regularidades, princípios ou processos gerais
atuantes no campo dos dados. Esta só será cumprida se o mesmo tipo de explicação puder ser
aplicado às crenças verdadeiras e falsas. Ainda, Bloor salienta que as considerações
sociológicas não devem ser encerradas apenas a atuações de influência externa, já que ela, como
as outras áreas, trata do processo social interno à ciência.
Estas abordagens orientam a sociologia do conhecimento para quatro princípios:
causalidade, imparcialidade, simetria e reflexividade. Deve-se então estar interessado nas
origens que geraram as crenças ou os estados de conhecimento, ser imparcial independente da
verdade ou falsidade - pois ambos requerem explicações - e esclarecer proporcionalmente os
mesmos tipos de causa para crenças verdadeiras e falsas, por exemplo. Por último, o programa
forte na sociologia do conhecimento deve ser reflexivo, isto é, devido a busca por explicações
gerais, seus padrões de explicação precisam ser aplicáveis à própria sociologia. Este assegura
que a sociologia não seja uma constante refutação de suas próprias teorias. Seguindo estes
fundamentos, estará integrando os mesmos valores garantidos em outras disciplinas científicas.
De acordo com Bloor, o programa forte dispõe de certo tipo de neutralidade moral,
assim como nas demais ciências. Isto porque, ele impõe a si mesmo a necessidade do mesmo
tipo de generalidade das outras ciências. Em oposição às teorias da ciência de algumas
vertentes, como a do modelo teleológico, para Bloor os aspectos centrais da ciência não devem
ser considerados auto propelidos e autoexplicativos. Uma vez que a orientação deva ser causal,
é inviável confinar as explicações empíricas ou sociológicas ao que há de irracional,
sustentando uma concepção finalista do conhecimento e da racionalidade, dando ao
conhecimento uma autonomia. Assim, alguns tipos de comportamento do modelo teleológico
devem ser problematizados, já que neste as causas sociais são definidas aos fatores
“extrateóricos”. Em outras palavras, a lógica interna da teoria conduz ao comportamento de
excluir a explicação social, em razão de funcionar como indicativo para localizar as coisas que
precisam de explicação. Este comportamento não deve ser considerado natural simplesmente
por haver pensadores que o utilizam, isto não confere força probatória ao modelo.
Além disso, o modelo teleológico tem como principal premissa a teoria empirista.
Nesta teoria, a causalidade é associada ao erro e à limitação e a sociologia do conhecimento é
definida não como um conhecimento, mas como uma sociologia do erro e da opinião. Bloor
apresenta exemplos que invalidam essa interpretação, expondo que o conhecimento não tem
um caráter individualista e uma realidade que qualquer indivíduo pode aprender por si próprio,
mas sim é um conhecimento social, da cultura. Em outros termos, a abordagem psicológica da
teoria empirista não leva em consideração a parte social da ciência e ignora o componente
teórico do conhecimento, o qual faz parte da dimensão social. Nota-se então que as necessidades
de comunicação contribuem para manter padrões coletivos de pensamento na psique individual.
Posteriormente à rejeição de duas fontes de oposição à sociologia do conhecimento, o
autor contesta a alegação de que esta ciência é uma forma autorrefutadora de relativismo. Esta
ponderação ocorre porque diversos críticos afirmam que as crenças que são causadas e possuem
componentes proporcionados pela sociedade, estão fadadas a serem falsas e não justificadas.
Para estes, as teorias sociológicas não devem ter alcance geral, pois iriam reflexivamente
emaranhar-se no erro, impossibilitando sua credibilidade. Ao possuir estas características, a
sociologia do conhecimento seria uma sociologia do erro, não merecedora de crença, visto que
segundo estes críticos, não pode haver um conhecimento científico que seja geral, causal e auto
consistente. Contudo, Bloor aponta que a validação de uma crença não tem relação com o fato
de ela ter uma causa, pois a causalidade não implica erro ou afastamento do rumo, pelo
contrário, não é possível um conhecimento científico sem a causalidade social. Além disso, não
é plausível a realização de um conhecimento em que se depende de uma perspectiva fora da
sociedade e que ignore as causas das relações sociais. Por isso, o programa forte não implica
uma relativização, mas sim defende a criação de um espaço para análise dos critérios de verdade
factual e inferência válida.
Por último, Bloor discorre uma seção inteira contra as críticas a um conhecimento
futuro: à formulação de leis gerais e a possibilidade de previsões. Um dos principais críticos a
esta ideia de leis é um dos maiores filósofos da ciência do século XX, Karl Popper (1960), o
qual o programa forte procura refutar. Para Popper, é impossível prever o conhecimento futuro,
isto porque nos comportamos conforme o que sabemos, sendo o comportamento futuro e o
conhecimento futuro imprevisível, dependentes da posição histórica do ator. Dessa maneira,
este autor defende um conhecimento mais empírico, ao contrário da busca por causas e leis.
Entretanto, para Bloor, estes argumentos apresentam o registro de ignorância e falha dos
indivíduos e advertem que as previsões históricas e sociológicas serão em geral falsas. Na
verdade, isto mostra que o sociólogo do conhecimento deve testar o que desenvolveu diante de
outros estudos. Isto é, não há um desencorajamento das teorias conjecturais com base em
estudos de caso empíricos e históricos, mas sim uma advertência para os possíveis erros.
Por fim, Bloor afirma que a busca por leis e teorias na sociologia do conhecimento são
iguais em relação aos procedimentos de qualquer outra ciência. Seguem-se então os seguintes
passos: investigação empírica para localizar eventos recorrentes, invenção de uma teoria que
explique a regularidade, formulação de um princípio geral que dê conta dos fatos. Estas etapas
proporcionaram uma linguagem para falar sobre os fatos e um aprimoramento da percepção
destes, além de promover maior clareza a extensão da regularidade. Esta teoria poderá servir de
guia para as condições necessárias à regularidade e para possíveis causas de desacordo e
variação, também poderá promover pesquisas empíricas mais elaboradas, com mais trabalho
teórico. Ademais, podem haver mudanças teóricas que causem modificação e aprimoramento
ou até mesmo a rejeição da teoria anterior, visto que a ciência funciona segundo um sistema de
trocas. Dessa forma, o que está em questão neste capítulo é o modo geral como as descobertas
empíricas e os modelos teóricos se relacionam, interagem e se desenvolvem.

REFERÊNCIAS
BLOOR, D. Conhecimento e imaginário social. São Paulo: Unesp, 2009. (p. 15-44)

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