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Material elaborado pelas psicólogas Ana Paranzini (CRP 08/09142) e Priscila Manzoli (CRP 06/83052).

Material de apoio exclusivo do curso de Psicoterapia Infantil e Orientação de Pais. Proibida reprodução sem autorização
das autoras.
Raciocínio Clínico
O raciocínio clínico é o guia de tomada de decisão para as intervenções terapêuticas.
Ajuda o psicoterapeuta a direcionar a investigação clínica de forma mais estruturada, indicando
quais informações são relevantes além da queixa relatada pelo cliente. Os dados obtidos nas
primeiras sessões com a família e com a criança e ao longo de todo processo psicoterapêutico
darão subsídios para que o psicólogo clínico faça a formulação de caso, levante hipóteses e
analise funcionalmente as variáveis das quais o comportamento é função para assim definir os
principais alvos de intervenção, os objetivos que devem ser alcançados e os procedimentos a
serem aplicados.
Utilize esse material para guiar a investigação e a coleta de informações. Essas
informações você coletará nas sessões com a família/pais, nas sessões com a criança, nas
observações feitas por você na interação com os pais e com a criança, na entrevista com a
escola e outros. Organize os dados e atualize seu material sempre que tiver novas informações
sobre o caso.

Com carinho
Ana e Pri

1. Excessos, déficits e reservas comportamentais


a) Excessos comportamentais: padrões de comportamento que são descritos como
problemáticos devido ao excesso na frequência, intensidade, duração ou ocorrência sob
condições em que sua frequência socialmente aceita é próxima a zero.
b) Déficits comportamentais: padrões de comportamento que são descritos como
problemáticos por não ocorrer com suficiente frequência, com intensidade adequada, da
maneira apropriada ou sob condições socialmente previstas.
c) Reservas comportamentais: o que já faz parte do repertório da criança que não é
problemático e que a permite produzir/ter acesso a reforçadores e/ou reduzir/eliminar
estímulos aversivos. Pontos fortes podem ser usados como ponto de partida para mudança
de comportamento.

Material elaborado pelas psicólogas Ana Paranzini (CRP 08/09142) e Priscila Manzoli (CRP 06/83052). Material de apoio exclusivo do curso de
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2. Esclarecimento da situação problema
a) Quais as pessoas que se relacionam com a criança e que mantém/reforçam os
comportamentos-problema?
b) Quem buscou a psicoterapia e qual o nível de sofrimento para a criança e pessoas com
quem ela convive?
c) Que consequências serão produzidas (para a criança e outros envolvidos) se o
comportamento-problema não se alterar? Que consequências serão produzidas (para a
criança e outros envolvidos) caso o problema seja resolvido? Quais seriam os efeitos para
a criança de um processo psicoterapêutico bem-sucedido? E quais os efeitos se o processo
for malsucedido?
d) Sob quais condições ocorre o comportamento-problema? (Essa pergunta será respondida
conforme o psicoterapeuta for realizando análises funcionais).
e) Que problemas a criança enfrentaria caso seu comportamento se modificasse?

3. Relacionamento familiar
a) Quais papéis cada membro desempenha no ambiente familiar? Como é a interação da
criança com seus pais, cuidadores, irmãos e outras pessoas da família que são
significativas?
b) Quais as práticas educativas adotadas pelos pais/cuidadores? Os pais/cuidadores
concordam entre si em relação à educação da criança ou há divergências significativas?
Quais as regras existentes no ambiente familiar? Há consequências diferenciais quando
a criança cumpre ou não a regra? Como os cuidadores explicam o comportamento da
criança?
c) Como os pais respondem às necessidades emocionais da criança? Os pais conseguem
se regular emocionalmente e responder de forma desejada quando a criança expressa
seus sentimentos, principalmente raiva, tristeza, ansiedade? Como os pais expressam e
lidam com suas próprias emoções?

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4. Emoções e autocontrole
a) Como a criança lida com aquilo que sente? Consegue regular as emoções? Já é capaz de
identificar, nomear, expressar, descrever e relacionar o que sente com aquilo que produz o
sentimento/emoção? (Geralmente a criança não apresenta todos esses repertórios
desenvolvidos, mas é importante observar o que ela já é capaz de fazer).
b) Em que situações a criança controla o comportamento-problema? De que forma o controle
é feito? As consequências aversivas controlam o comportamento-problema emitido pela
criança (punição por terceiros faz o comportamento-problema não ocorrer diante daquele
que pune)? Há algum grau de autocontrole?
c) Quais condições alteram o comportamento de autocontrole da criança? É preciso de
intervenção medicamentosa para melhorar o comportamento de autocontrole da criança?

5. Relacionamentos sociais
a) Quais são as pessoas mais significativas para a criança? A que ela é mais responsiva? Quem
facilita os comportamentos desejados? A presença de quem é ocasião para a ocorrência do
comportamento-problema? De que forma essas pessoas podem participar do processo
psicoterapêutico?
b) Quais os reforçadores envolvidos nessas relações? A interrupção do reforçamento positivo
ou a introdução da punição são claramente sinalizadas nessas relações?
c) O que a criança espera dessas pessoas significativas? O que essas pessoas esperam da
criança?

6. Variáveis motivacionais
a) O que mantém o comportamento da criança? O que faz com que a criança continue se
comportando da mesma forma mesmo que o comportamento produza sofrimento?
b) Quais os reforçadores envolvidos? Como a criança produziria os mesmos reforçadores com
comportamentos mais desejados?

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c) Observar as correspondências entre o que a criança diz e o que ela faz. Ela discrimina as
variáveis ambientais (antecedentes e consequentes) de seus comportamentos? A criança
apresenta comportamentos supersticiosos?
d) Quais os estímulos aversivos relacionados com a mudança de comportamento (possíveis
punições) no momento da terapia e no futuro?
e) O que a criança “perde” ao mudar? O acesso/produção de estímulos reforçadores ficará
comprometido pelo menos por um tempo?
f) Quais as consequências reforçadoras seguirão ao novo comportamento do cliente? É
possível programar reforçadores para a emissão dos comportamentos alternativos?

7. Ambiente social, físico e cultural


a) Quais normas existem no ambiente social da criança e de que forma elas estão relacionadas
ao comportamento-problema? Tais normas são semelhantes ou diferentes em ambientes
diversos? Esses ambientes reduzem ou aumentam a possibilidade de reforçamento quando
o comportamento-problema é emitido?
b) O ambiente em que a criança está inserida considera os procedimentos psicológicos como
adequados para ajudá-la a resolver seus problemas? Há apoio para as mudanças que a
psicoterapia pode exigir?
c) Quais as características do ambiente social, físico e cultural da criança? De que maneira o
ambiente responde ao comportamento dela (reforça, pune)? Ocorreram modificações nesse
ambiente e que impacto essas mudanças tiveram na vida da criança? Qual a atitude da
criança frente essas mudanças? A que ela as atribui? Há congruências entre os papéis
sociais que a criança desempenha?

8. Desenvolvimento
a) A criança apresenta limitações biológicas que afetam seu comportamento atual ou que estão
relacionadas aos comportamentos-problema? De que forma tais limitações afetam a vida
cotidiana da criança e podem restringir as mudanças de comportamento?
b) Quais mudanças a criança apresenta no comportamento social, de autocuidado, sobre a
imagem que tem de si mesmo desde que o comportamento-problema começou? Sob que

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condições o comportamento-problema começou? Em quais contextos esse comportamento-
problema ocorre? De que forma o ambiente social selecionou e mantém o comportamento-
problema?
c) Quais os acontecimentos mais relevantes durante a escolarização da criança? Na história
escolar predominaram sucessos ou fracassos? Como as pessoas significativas reagem ao
desempenho escolar da criança (valorização, críticas)? Quais suas habilidades ou
dificuldades em relação ao desempenho acadêmico?
d) Quais as experiências da criança com acompanhamentos médicos e/ou psicológicos? Há
história em relação ao uso de medicamentos? A criança apresenta algum problema de
saúde? Faz outros acompanhamentos (TO, fonoaudióloga, reforço escolar etc.)? Quais
outros profissionais estão envolvidos no caso?

Referências
Kanfer, F. H.; Saslow, G. (1976). An outline for behavioral diagnosis. Em Mash, E. J.; Terdal,L.
G. Behavioral Therapy Assessment. cap. 5. New York: Springer Publishing Company.

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