Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Anicet Okinga
okinga@globo.com
e Formas Farmacêuticas
Cápsulas Formas farmacêuticas sólidas que são (a) Palatabilidade (sabor) agradável, mascara o sabor
pequenos invólucros duros ou moles de capacidade desagradável de diversos ativos, o que facilita a adesão
variável destinados a conter, um pó ou um líquido. Tem principalmente crianças reticentes a ingerir produtos
forma cilíndrica e são formados por duas partes que se farmacêuticos e de idosos.
encaixam. O invólucro pode ser constituído normalmente (b) Praticidade: fácil administração
de gelatina (cápsulas gelatinosas) ou de quitina ou glúten (c) Quando embalados em envelopes (sachês), os shakes
(gastro-resistentes). Elas podem ser do tipo: apresentam melhor estabilidade.
Cápsulas duras;
FARMACOLOGIA: Xenobióticos e biotransformação/ Farmacocinética Prof. Anicet Okinga
okinga@globo.com
e Formas Farmacêuticas
(d) No sachê a quantidade a ser ingerida é mais exata do fim de melhorar a elasticidade da pele e de revitalizar o
que a quantidade medida em dosadores ou em colheres. cabelo e as unhas.
Os shakes, além da sua aplicação na nutrição esportiva,
os shakes ainda podem ser manipulados em nutrição de Vantagens
gestantes, idosos e para o gerenciamento do peso. Mascaram de forma eficaz o sabor de fármacos
amargos;
Chá ou Infusão São formas farmacêuticas magistrais, Não irritantes para mucosa oral;
que resultam da ação da água sobre plantas secas, a fim Consistência macia e agradável ao mastigar;
de lhes retirar a substância ativa. Há várias maneiras de Tamanho aproximado 10g/goma.
extrair as substâncias de uma planta medicinal. Pode-se
extrair através da maceração, digestão, infusão, decocção Desvantagens
ou tisana. Sabor levemente ácido;
Maceração: Ação prolongada da água a Não recomendadas para fármacos susceptíveis a
temperatura ambiente sobre a planta seca. hidrólise (água).
Utilizada para substâncias termolábeis. Em geral,
é um método de extração de substâncias através Pastilhas Formas farmacêuticas sólidas em forma de
de um líquido que pode ser água, álcool ou óleo; disco, que contêm um princípio ativo e, em geral, um
Digestão: Ação prolongada em água morna (40 a flavorizante, que se dissolvem ou desintegram lentamente
50 °C) sobre a planta seca. Um método.utilizado na cavidade da boca. Podem conter um ou mais
para substâncias ativas termolábeis; substâncias ativas de ação local ou sistêmica. As pastilhas
Decocção: Ação da água desde a temperatura também são chamadas de trociscos. Possuem uma base
ambiente até à ebulição sobre a planta. Utiliza-se de açúcar e um aglutinante como mucilagem ou goma
para substâncias termorresistentes (plantas duras (trata-se de “goma” como substância pegajosa que se
ou partes da planta duras). Neste método, extrai de alguns vegetais, na farmacotécnica pode ser um
colocam-se as plantas no vasilhame e verte-se a estabilizante, um espessante ou um emulsificante).
água fria em cima da plante, o vasilhame vai ao
fogo e o todo é fervido por um certo tempo ( a 10 Vantagens
minutos); Desintegração lenta e uniforme;
Infusão: Ação instantânea da água fervente sobre Sabor agradável;
a planta. A água deve ser vertida bem lentamente Escapa do metabolismo de primeira passagem;
e ao concluir o processo, tampar a vasilhame Tamanho pequeno: 3g / pastilha.
usada (que não deve ser de alumínio e nem de
plástico). Desvantagem
Requer alta temperatura para o preparo.
OBS.: as mulheres grávidas não devem consumir
nenhum chá. Há risco de aborto. Durante a lactação é Pirulitos Por se dissolver lentamente na boca, esta
necessário conhecer quais as ervas consumíveis. forma farmacêutica torna-se uma escolha certa para
fármacos que precisam ficar mais tempo em contato com a
Chá termogênico superfície absortiva da mucosa; como por exemplo,
antifúngicos utilizados para o tratamento de candidíase
Contém Alta concentração de flavonóides, polifenóis e oral (nistatina) e o fluoreto de sódio, na prevenção da cárie
sinefrina [alcaloide encontrado em algumas plantas e dental. A sua aparência (de doce) e o sabor agradável o
frutos, como as cítricas. Obtida, em geral, a partir do torna uma alternativa eficaz para uso pediátrico.
extrato da casca de laranja amarga (citrus aurantium).
Aumenta a taxa metabólica, acelerando a remoção de Chocolate medicamentoso Preparação
depósitos de gordura no corpo; ativa a lipólise e contribui farmacêutica destinada à ingestão oral, podendo ou não
no aumento da performance física. Aumenta o gasto ser mastigadas; obtida através da mistura de chocolate
energético e a oxidação de gorduras, através da com um ou mais insumo farmacêutico ativo que são
temperatura corporal. Em especial, pela ativação dos aquecidos e moldados. Uma forma farmacêutica que
receptores beta-3, ela é um potente agente lipolítico]. promove a administração de ativos nutracêuticos e
fitoterápicos.
Gomas mastigáveis São formas farmacêuticas Ela é desenvolvida numa base sem açúcar e sem lactose
preparadas com gelatina e glicerina, utilizadas para que contém 54% de cacau; farinha de soja e edulcorada
administração de medicamentos para absorção no trato com maltitol e sucralose; e também é livre da gordura
gastrintestinal (TGI) e de uso sistêmico. Contêm, presente nos chocolates. Cada chocolate terapêutico pesa
normalmente, edulcorantes, conservantes, corantes, 5 g (incluindo as substâncias ativas) podendo incorporar
flavorizantes e usualmente ácido cítrico. Outras gomas são até 2 g de componentes ativos.
reparadas com colágeno hidrolisado, que no estômago vira
um gel que se expande e ocupa espaço, reduzindo o Vantagens
apetite. Por exemplo, pode-se aliar à goma um fitoterápico Tamanho maior, em torno de 8g a 10g
que auxilia na perda de peso, ou ainda uma vitamina para (incorporação de mais ativos);
reposição nutricional. Entre os fitoterápicos mais São formas farmacêuticas anidras (fármacos
recomendados, pode-se citar a Pholia Magra, um ativo hidrolisáveis);
extraído da planta brasileira Ecalyculata vell, termogênico Podem ser pastilhas, barras ou bombons;
atuando principalmente na região abdominal e também é Mascaram perfeitamente o sabor dos produtos;
um diurético leve. A faseolamina, extraída do feijão branco, Saciam o desejo por doces particularmente para
é outro fitoterápico que pode ser manipulado na goma de “chocólatras”.
colágeno e age na quebra dos carboidratos, reduzindo
assim o nível de açúcar no sangue. Alguns clínicos Desvantagem
prescrevem a goma pura, para reposição de colágeno, a Fundem facilmente em baixas temperaturas
(fármacos termolábeis).
FARMACOLOGIA: Xenobióticos e biotransformação/ Farmacocinética Prof. Anicet Okinga
okinga@globo.com
e Formas Farmacêuticas
Absorção limitada pela situação fisiológica e
VIAS DE ADMINISTRAÇÃO: patológica do paciente: êmese, inativação por
enzimas digestivas ou pH ácido gástrico e
irregularidades na absorção (interação com
Os fármacos são desenvolvidos para serem usados no alimentos) ou na propulsão (diarréia);
organismo receptor com a finalidade profilática, curativa, Cooperação do paciente (Impraticável em
paliativa ou para fins de diagnóstico. Portanto, para pacientes em coma ou com êmese);
adentrar o organismo e alcançar seu destino e objetivo, os Pode sofrer metabolismo hepático de 1a
fármacos necessitam ser administrados por “vias de passagem reduzindo a sua biodisponibilidade.
administração”.
Das 111 (cento e onze) vias de administração O metabolismo de primeira passagem representa a
reconhecidas pela FDA (Food and Drugs Administration – biotransformação (inativação) que ocorre com os fármacos
órgão regulador de alimentos e medicamentos no seu percurso, entre o seu local de administração até a
dos Estados Unidos) –, pode-se citar, na tabela a seguir, sua localização no tecido alvo (ou até
as principais vias de administração:
ENTERAIS PARENTERAIS
Diretas: Indiretas:
- Oral - Endovenosa - Tópica
- Bucal - Intramuscular - Inalatória
- Sublingual - Subcutânea - Intranasal
- Retal - Intra-articular - Intravaginal
- Intraperitonial - Oftálmica
- Intratecal ou
Subaracnóide
- Peridural ou
Epidural
Intramuscular
Vantagens:
Início mais rápido que a oral;
Possibilita a administração em pacientes
incapacitados de deglutir, com vômitos e diarreia;
Mais segura que a endovenosa;
Não sofre efeito de primeira passagem.
Desvantagens:
3. FARMACOCINÉTICA
Variáveis fisiológicas:
1. Esvaziamento gástrico;
2. Tempo de trânsito;
3. pH do meio;
4. Interação com alimentos;
5. Área de superfície; Cmax
6 Pico Tempo no qual
6. Fluxo sanguíneo mesentérico.
, ocorre o pico
. (Tmax)
Via regra, todo fármaco é um eletrólito fraco, ou seja,
contêm grupos ácidos ou básicos fracos que, em meio
aquoso, se dissociam parcialmente, isto é, ionizam-se
mantendo uma fração neutra e uma fração ionizada.
B) 1. Excreção
Indução e Inibição enzimáticas
O organismo tende a eliminar xenobióticos que nele sejam
Algumas substâncias, sob administração repetida, induzem introduzidos e o faz através de diversas vias, as principais
o P450, aumentando sua síntese ou reduzindo sua taxa de vias são renal, pulmonar, o sistema hepatobiliar e o leite
FARMACOLOGIA: Xenobióticos e biotransformação/ Farmacocinética Prof. Anicet Okinga
okinga@globo.com
e Formas Farmacêuticas
materno; a via excretória mais importante é a renal, por mecanismo mais eficaz para excreção de
meio da urina, mas existem outras vias secundárias, tais fármacos pelos rins.
como: fezes e glândulas (suor, saliva e lágrima). Os
fármacos podem ser eliminados inalterados ou convertidos Os fármacos básicos numa urina ácida estão
em metabólitos, a grande maioria, porém sofre predominantemente ionizados, o que faz com que eles
biotransformação parcial ou total. Como discutido no item tenham dificuldade de atravessar as membranas
metabolismo, a substância então quanto mais polar for, tubulares, ou seja, têm restrição à reabsorção tubular
mais facilmente será excretada, pois a lipofilicidade passiva; devido a essa ionização na urina ácida, os
proporciona à substância maior facilidade de reabsorção fármacos básicos sofrem o que é denominado de
pelas mucosas dos sistemas excretores. sequestro iônico ou aprisionamento iônico. Assim
quando a urina é ácida as substâncias básicas são
A eliminação de medicamentos e metabólitos pela urina melhor eliminadas (anfetaminas, cocaínas, heroínas
envolve os seguintes processos: filtração glomerular, etc.). Pode-se raciocinar da mesma sorte acerca dos
secreção tubular ativa e reabsorção tubular passiva. fármacos ácidos. Quando a urina é básica as
substâncias ácidas são melhor eliminadas. Por
(a) Filtração glomerular: os fármacos livres exemplo, diante de uma intoxicação com o ácido acetil
penetram nos rins pelas artérias renais, as quais salicílico (AAS), o clínico pode lançar mão da
se dividem para formar o plexo glomerular, alcalinização da urina com o bicarbonato de sódio
atravessam a rede capilar para o espaço de para aumentar a excreção do tóxico, pois assim ele
Bowman como parte do filtrado glomerular. A promove o sequestro iônico.
quantidade de fármaco que entra na luz tubular
por filtração é dependente da ligação fracionada Alguns fatores podem interferir na excreção renal dos
deste fármaco com as proteínas plasmáticas. fármacos tais como insuficiência Renal; redução do
Quando um fármaco se liga a albumina fluxo sanguíneo renal: hemorragias; insuficiência
plasmática, por exemplo, sua concentração no cardíaca; competição de dois fármacos pelo mesmo
filtrado é menor que a concentração plasmática, mecanismo de secreção; pH da urina e a idade.
pois a albumina não atravessa livremente a
barreira. A filtração glomerular corresponde a
20% do fluxo sanguíneo renal (240 ml/min) que B) 2. Exreção Biliar e Fecal
chega ao glomérulo através da arteríola aferente.
O líquido filtrado é isento de proteínas e
As células hepáticas transferem diversas substâncias,
elementos celulares. 80 % do fluxo sanguíneo
inclusive fármacos, do plasma para a bile por meio de
continuam pela arteríola eferente. O que
sistemas de transporte semelhantes aos do túbulo renal,
teoricamente significa dizer que somente as
OCTs e OATs e glicoproteínas P (P-gp). Vários
moléculas dos fármacos contidos nesses 20%
conjugados hidrofílicos de fármacos (especialmente
sofrerão filtração glomerular, o grande restante
glicuronídeos) são concentrados na bile e levados para o
continuará no plasma com os 80% do sangue que
intestino, onde o glicuronídeo é hidrolisado, liberando o
não sofreram filtração glomerular.
fármaco ativo novamente; o fármaco livre pode então ser
(b) Reabsorção tubular passiva: à medida que o
reabsorvido e o ciclo se repetir (circulação êntero-
filtrado glomerular chegue ao túbulo, a água é
hepática). Esse processo cria um “reservatório” de fármaco
reabsorvida no túbulo proximal, sendo que o
recirculante que pode representar até cerca de 20% do
volume que emerge como urina é apenas 1%
total de fármaco presente no organismo, prolongando sua
daquele filtrado (aproximadamente 2 l dos 180
ação. Exemplos em que isso é importante incluem a
l/dia de um paciente de 70 kg). O restante dos
morfina e etinilestradiol. Diversos fármacos são eliminados
99% do filtrado glomerular sofre a reabsorção
pela bile em quantidades consideráveis. A rifampicina é
tubular passiva. Fármacos lipossolúveis são mais
absorvida no intestino e desacetilada lentamente, retendo
reabsorvidos por atravessarem mais facilmente as
sua atividade biológica. As duas formas são secretadas na
membranas das células tubulares. Se, por outro
bile, mas a forma desacetilada não é reabsorvida e, assim,
lado, o fármaco for polar (hidrossolúvel) o mesmo
com o passar do tempo, a maior parte do fármaco
permanecerá nos túbulos renais e sua
abandona o organismo nessa forma através das fezes.
concentração aumentará até ficar cerca de 100
vezes mais alta na urina que no plasma. O
Parâmetros farmacocinéticos
gradiente de concentração para a difusão
retrógrada é criado pela reabsorção de água com
(a) “Steady State” (Concentração no Estado de
sódio e outros íons inorgânicos.
Equilíbrio - Css): é o estado em que a quantidade
de fármaco administrada é igual à quantidade de
(c) Secreção tubular ativa: Nos túbulos proximais fármaco eliminada dentro de um intervalo de
os fármacos são transferidos para a luz tubular doses, resultando num platô ou nível sérico do
mediante dois sistemas transportadores fármaco constante. O atingimento desse platô
independentes e relativamente não-seletivos. Um ocorre em volta da quarta a quinta meia-vida do
deles transporta substâncias ácidas fármaco quando usao num regime de dose
(transportadores de ânions orgânicos – OAT) e, o períodoca (dose de manutenção).
outro, substâncias básicas orgânicas (b) “meia-vida” Trata-se de um conceito crono-lógico,
(transportadores de cátions orgânicos – OCT). indicando o tempo em que uma grandeza
Esses sistemas podem reduzir a concentração considerada se reduz à metade do valor inicial,
plasmática do fármaco a quase zero, sendo, portanto, em farmacocinética, o tem-po
transportando-o contra um gradiente necessário para a concentração de determinado
eletroquímico. Como, pelo menos, 80% do medicamento no corpo ser reduzido pela metade.
fármaco que chega ao rim é apresentado ao É um índice básico que origina dados importantes
transportador, a secreção tubular representa o para a interpretação dos efeitos tera-pêuticos ou
FARMACOLOGIA: Xenobióticos e biotransformação/ Farmacocinética Prof. Anicet Okinga
okinga@globo.com
e Formas Farmacêuticas
tóxicos das drogas, da duração do efeito o fármaco proporciona maior benefício quando atinge a
farmacológico e do regime posológico adequado. concentração plasmática terapêutica de equilíbrio, aquela
(c) “Volume de distribuição (Vd)” relaciona a que é chamada de concentração plasmática de steady
quantidade total de fármaco no corpo (Dose) com state (estado de equilíbrio).
a concentração do fármaco (Css) no plasma ou Daí a importância clínica da curva de biodisponibilidade na
no fluido medido. Não se trata de um volume terapêutica farmacológica. Nessa curva concentração x
fisiológico identificado, mas meramente um tempo, pode-se determinar a dose terapêutica, o início e a
volume de fluido que seria necessário para duração da ação, o efeito máximo. Com essa curva,
armazenar todo o fármaco contido no corpo na determina-se a concentração plasmática mínima eficaz
mesma concentração presente no plasma. Para Nível
ser mais fidedigno com a distribuição dos plasmático
Cp mínimo
fármacos no organismo, poderia-se chamar esse (mg/ Concentração tóxico
parâmetro de Espaço de distribuição. máxima
dl)
(d) “Clearance” ou depuração é o volume de sangue
totalmente depurado de um fármaco por unidade JANELA
de tempo (ml/min). Há uma equação que TERAPÊUTICA
relaciona o clearance com o Vd e a meia- vida
que é a seguinte: Início de ação
Nível
plasmático
, 693 Duração da ação mínimo eficaz
1/2
50
100
Log [agonista]
Com base na resposta farmacológica máxima (eficácia), (a) Antagonismo Farmacocinético: um fármaco eu afeta a
quando todos os receptores estão ocupados, os agonistas absorção, o metabolismo ou a eliminação de outro;
podem ser divididos em:
(b) Antagonismo fisiológico (funcional): Interação entre dois
(a) Agonista integral (agonista pleno ou agonista total): fármacos agonistas que atuam de forma independente,
agonista clássico que quando em concentração suficiente, mas que geram efeitos opostos, sendo que cada um deles
provoca resposta máxima desencadeada pela ativação do tende a cancelar ou reduzir o efeito do outro. Ex.:
receptor; acetilcolina e adrenalina apresentam efeitos opostos em
(b) Agonista parcial: mesmo com uma ocupação total dos várias funções corporais
receptores, produz uma resposta menor que o agonista
integral; (c) Antagonismo químico: envolve uma interação química
direta entre o antagonista e o agonista de forma a tornar o
agonista farmacologicamente inativo, tem-se como
exemplo, o emprego de agentes quelantes que se ligam a
metais pesados e, assim, reduzem sua toxicidade –
dimercaprol se liga ao mercúrio e o composto inativo é
excretado na urina.
5. MECANISMOS DE
BIOTRANSFORMAÇÃO DE
XENOBIÓTICOS
Xenobióticos:
substâncias químicas ou moléculas que são estranhas
para o sistema biológico, tendo uma origem externa (ex.:
suabstâncias tóxicas no meio ambiente, fitoquímicos,
fármacos)
Detoxificação:
todo processo com o intuito de diminuir o impacto negativo
de xenobióticos (substâncias tóxicas e não tóxicas) nos
Fig.4.5: Interação do agonista vs antagonista processos corporais. O processo de detoxificação envolve
irreversível a biotransformação de moléculas endógenas e exógenas
em metabólitos excretáveis. O termo detoxificação é às
Nas curvas, mesmo aumentando a concentração de vezes usado para se referir especificamente ao processo
agonista, não existe quantidade de agonista capaz de intracelular de biotransformação.
alcançar de alcançar de novo uma resposta máxima.
A biotransformação, como discutida anteriormente,
Antagonismo não-competitivo submete o fármaco a reações químicas, geralmente
Ocorre quando o antagonista bloqueia, em algum ponto, a mediadas por enzimas, que o convertem em um composto
cascata de eventos da resposta desencadeada pelo diferente do originalmente administrado (metabólito).
agonista, dessa forma, o antagonista não compete com o Introduzem ou expõem um grupo funcional – FASE I que
agonista pelo sítio de ligação no receptor, mas bloqueia o leva perda da atividade farmacológica embora haja
sinal que o agonista desencadeia. exemplos de aumento da atividade. As reações oxidantes
incluem hdroxilação, desaminação. Formação de uma
ligação entre o grupo funcional com ácido glicurônico,
sulfato ou glicina representa a etapa da Fase II; o fármaco
geralmente torna-se inativo e é excretado.
Quais os efeitos a curto e a longo prazo dos Resinas de troca iônica (sequestradores de ácidos
anabolizantes no corpo? biliares)
Via parenteral
FARMACOLOGIA: Xenobióticos e biotransformação/ Farmacocinética Prof. Anicet Okinga
okinga@globo.com
e Formas Farmacêuticas
Tratamento consistem em hormônios que regulam a proliferação e
a diferenciação de células hematopoiéticas da medula
Via oral x Via parenteral: Administração parenteral óssea.
raramente é necessária, visto que o ácido fólico é bem
absorvido por via oral (mesmo em síndromes de má
absorção). 9. ANTILIPEMIANTES
Tratamento via oral: Definição de hiperlipidemia
Dose: 1 mg⁄dia de ácido fólico;
5-10 mg⁄dia por VO na má absorção intestinal; As hiperlipidemias representam uma alteração de uma ou
Manter o tratamento até correção da causa várias frações de lipídios circulantes:
subjacente; colesterol e frações;
Em pacientes com má-absorção ou dieta triglicerídeos
inadequada o tratamento pode ser permanente;
Em paciente de alto risco (Gravidez, alcoolismo, Importância: A hipercolesterolemia está diretamente
correlacionada à aterosclerose que está na origem das
díalise renal) deve-se considerar o uso de
causas mais comuns de morte (ex. infarto do miocárdio) e
suplementação de ácido fólico. icapacidade (ex. acidente vascular cerebral) nos países
industrializados.
Eritropoietina
Principais classes de lipídios plasmáticos
Foi o primeiro fator de crescimento Colesterol;
hematopoiético humano a ser descoberto; Éster de colesterol;
Endogenamente, é produzida pelo rim em Fosfolipídios;
resposta à hipóxia; Triglicerídios;
Estimula a diferenciação e a proliferação das Acidos graxos
células eritróides ao interagir com receptores
A baixa solubilidade no sangue faz com que os lipídios
específicos existentes nos progenitores dos
sejam transportados na forma de complexos de lipídios e
eritrócitos proteína, conhecidos como: lipoproteínas.
Normalmente, existe uma relação inversa entre o
hematócrito ou hemoglobina e o nível sérico de As lipoproteínas diferem Quanto: Composição (lipídios e
eritropoietina; proteínas), tamanho e densidade. As mais importantes são:
Em geral, os pacientes com anemia apresentam Quilomícrons;
níveis de EPO na faixa de 100 a 500 UI/l e Lipoproteínas de alta densidade - HDL colesterol;
indivíduo não anêmicos apresentam níveis Lipoproteínas de baixa densidade - LDL colesterol;
séricos < 20 UI/l; Lipoproteínas de muito baixa densidade - VLDL
Em pacientes com IRC, os rins não produzem colesterol;
Lipoproteínas de densidade intermediária – IDL
eritropoietina, que deve ser administrada
colesterol.
exogenamente;
Os pacientes com níveis de EPO < 100 UI/l tem Principais tipos de hiperlipidemia:
mais probabilidade de responder ao tratamento. 1. Hipercolestrolemia isolada: aumento do CT
Utiliza-se a EPO por via IV ou SC de 50 – 150 UI/ e/ou LDL e LDL-C
Kg 3x na semana. Deve-se também fazer 2. Hipertrigliceridemia isolada: aumento do TG
suplementação de ferro e, em alguns casos, de 3. Hiperlipidemia mista: aumento do CT e TG
ácido fólico; 4. Diminuição isolada: de HDL ou associada a
A EPO também tem sido utilizada no tratamento aumento de TG e/ou de LDL
de pacientes com insuficiência medular, mieloma
Classificação etiológica das hiperlipidemias
múltiplo, HIV;
É uma droga proibida pelo comitê olímpico PRIMÁRIAS:
internacional, sendo considerada dopping de origem genética (familiar) e que algumas vezes se
aumentar a resistência física; manifesta em função de influências ambientais.
Efeitos adversos: hipertensão, complicações SECUNDÁRIAS:
trombóticas. aparecem como resultado de alterações metabólicas
generalizadas decorrentes:
Obs.: Os fatores de crescimento hematopoiéticos
Tabela 9.1 Classificação de Frederickson / OMS da hiperlipidemia
Tipo Lipoproteína Colesterol Triglicerídeos Risco de causas
elevada aterosclerose
I Quilomícrons + +++ NE Deficiência na LPL
IIa LDL ++ NE Elevado alteração genética no receptor
de LDL
IIb LDL + VLDL ++ ++ Elevado superprodução de VLDL pelo
fígado
III VLDL ++ ++ Moderado metabolismo anormal de VLDL
IV VLDL + ++ Moderado aumento da síntese hepática de
VLDL e/ou um déficit na
depuração de VLDL por parte de
outros tecidos
V Quilomícrons e VLDL + ++ NE aumento da produção ou
diminuição da depuração de
VLDL e QM
FARMACOLOGIA: Xenobióticos e biotransformação/ Farmacocinética Prof. Anicet Okinga
okinga@globo.com
e Formas Farmacêuticas
1. DOENÇAS: hipotireoidismo, diabetes , sínd. Nefrótica Tipo III) Disbeta-lipoproteinemia familiar;
2. DROGAS: corticóides, anabolizantes, diurét. Tiazídicos Tipo IV) Hipertrigliceridemia familiar;
Tipo V) Hipertrigliceridemia familiar mista
Classificação das hiperlipidemias:
Tipo I) Hiperquilomicronemia familiar;
Tipo IIa) Hipercolesterolemia familiar;
Tipo IIb) Hiperlipidemia familiar;
• Atorvastatina
Tratamento • Sinvastatina
As medidas dietéticas são sempre as primeiras a serem As estatinas têm uma semelhança com a molécula de
instituídas, podendo eliminar a necessidade de fármacos. HMG-CoA
Uma redução na ordem de 10% do peso corporal reduz o
colesterol em 7% aproximadamente. Moderar o consumo
de álcool (aumentam os TG). Ingerir alimentos ricos em
fibras. Reduzir a ingestão de gorduras: gorduras devem
representar 25-35% das calorias totais.
Composição da dieta:
O arsênico existe em três formas: forma elementar, O Pb não é degradável e permanece no ambiente
trivalente (arsenito, ácido arsenioso) e pentavalente empoeirado, no solo, e nas tintas das velhas casas.
(arsenato, ácido arsênico). Arsina é o hidrito gasoso do Crianças são expostas ao Pb, com frequência, mastigando
arsênico trivalente que exibe toxicidade distinta das outras brinquedos de gosto adocicado e pintados com tintas que
formas. Os componentes orgânicos contendo qualquer contêm Pb e/ou comendo pó e solo no interior e ao redor
estado de valência do arsênico são formados nos animais. de velhas casas. As reformas ou demolições dos velhos
Os compostos de arsênico trivalente formam ligações edifícios podem causar substancial exposição ao chumbo.
covalentes com grupos sulfidrila. O sistema piruvato
desidrogenase é particularmente sensível á inibição pelos Não-ocupacional
arsenicais trivalentes porque os dois grupos sulfidrila do Descargas industriais
ácido lipoico reagem com o arsênico. O arsenato Alimento contaminado
inorgânico (pentavalente) inibe a cadeia de transporte de
elétrons e parece substituir competitivamente o fosfato Fontes de Contaminação
durante a formação de ATP, formando um éster instável de Alimentos e água contaminados;
arsenato que rapidamente é hidrolisado. Mineração, refinamento e fundição;
Fabricação de acumuladores elétricos;
Toxicidade: Fabricação de cerâmicas;
A toxicidade de um determinado arsenical está relacionada Fabricação de armas de fogo e munições;
com a velocidade de sua depuração do organismo e sua Fabricação de PVC, fertilizantes e inseticidas;
capacidade de armazenagem nos tecidos. A toxicidade Soldagens;
geralmente aumenta na seguinte sequência: arsenicais Produção de antidetonantes para a gasolina;
orgânicas < As5+ < As3+ < gás arsina (AsH3). Fabricação de tintas, vernizes, esmaltes e
Normalmente, a intoxicação crônica ocorre em ambientes corantes;
de trabalho com exposições em baixas doses, Fabricação de cabos elétricos, tubos e
apresentando os seguintes sintomas: chapas.
Fadiga
Problemas gastrintestinais O Pb tetraetila foi usado como antidetonante na gasolina, o
Melanodermia que resultou em níveis elevados de Pb no ar poluído. A
Hiperqueratose retirada do Pb da gasolina reduziu a poluição do ar em
Hepatomegalia que pode evoluir para uma cirrose mais de 90% entre 1982 e 2002.
Neoplasias pulmonar, hepática e cutânea. Alimentos ácidos e bebidas dissolvem o Pb quando
armazenados em recipientes com Pb na sua liga ou nas
Os humanos estão expostos a vastas quantidades de extremidades soldadas (problema em países em
compostos arsenicais orgânicos no peixe, que são desenvolvimento).
relativamente não tóxicos. A espécie humana é a mais
sensível aos efeitos tóxicos do arsênico inorgânico. A Toxicocinética:
exposição aguda a doses elevadas de arsênico (70-180
mg) em geral é fatal. A morte imediatamente após A exposição ao Pb ocorre durante a ingestão ou inalação
envenenamento com arsênico resulta dos efeitos no GI do Pb. A absorção GI do chumbo varia
coração e TGI. consideravelmente com a idade e a dieta. A absorção do
Pb ingerido aumenta drasticamente com o jejum.
FARMACOLOGIA: Xenobióticos e biotransformação/ Farmacocinética Prof. Anicet Okinga
okinga@globo.com
e Formas Farmacêuticas
Hidroencefalia
Absorção: Atrofia cortical
Pele: pequena absorção. Somente produtos Edema cerebral
orgânicos (chumbo tetraetila, acetato de chumbo); Natimorto
Pulmões: adultos absorvem 5 a 15% do Pb
inalado, e cerca de 5% do que é absorvido é ENCEFALOPATIA
armazenado; Crianças absorvem cerca de 41.5%, Irreversível
e retêm cerca de 38.1%; Alterações nervosas e cognitivas, comportamentais
Trato gastrointestinal: adultos absorvem de 5 a E neurológicas.
10% da dose ingerida; Crianças até 50%.
Acredita-se que o Pb, o Fe e o cálcio ocupem os NEFROPATIA
mesmos sítios ativos de carreadores na mucosa Retração Renal
intestinal. Alguns alimentos aumentam e outros Fibrose Intersticial
diminuem a absorção do Pb. Atrofia Glomerular
Degeneração
As deficiências de ferro e de cálcio na dieta aumentam a Insuficiência renal
absorção de Pb. Cerca de 99% do Pb se liga à
hemoglobina. O Pb inicialmente se distribui aos tecidos Além do saturnismo, o chumbo provoca:
moles, particularmente no epitélio tubular renal e no fígado.
O Pb é redistribuído e depositado em ossos, dentes e PARALISIA
cabelos tardiamente. Cerca de 95% da armazenagem total Analgesia
de Pb no organismo adulto é encontrado nos ossos. Ossos Dores Musculares
em crescimento acumulam maiores quantidades de Pb e Debilidade dos Nervos
podem formar linhas de chumbo visíveis em radiografias. Anestesia
Câimbras
Eliminação: Alteração da velocidade
O chumbo é excretado por várias rotas, porém só
a excreção renal e a gastrointestinal são de APARELHO REPRODUTOR
importância prática; MASCULINO
A quantidade excretada, independente da rota, é Aterospermia
afetada pela idade, características da exposição e Hipospermia
dependente da espécie; Teratopermia
Crianças até dois anos de idade retêm 34% da Esterilidade
quantidade total de chumbo absorvido, enquanto
que esta retenção é de apenas 1% nos adultos; APARELHO REPRODUTOR
O chumbo da dieta ou, até mesmo, aquele FEMININA
engolido nas partículas de ar e não absorvido Disfunção Ovariana
pelo trato gastrointestinal é eliminado nas fezes, Parto Prematuro
que contêm elevado teor do metal, em torno de Abortos
90% do total excretado.
ARTICULAÇÕES
A meia-vida do Pb no soro é de 1-2 meses com estado de Enzimas Aminohidrolases Inibidas
equilíbrio alcançado em 6 meses. O Pb acumula-se nos Ácido úrico é retido e cristaliza, depositando-se e
ossos e sua meia-vida nesse tecido é estimada em 20-30 provocando Gota secundária.
anos.
NO SISTEMA HEMATOPOIÉTICO
Interações: Anemia Microcítica (hipocrômica)
Absorção e intoxicação são aumentadas por: A intoxicação crônica com Pb está associada á anemia
1. Carência de cálcio ou fósforo; microcítica hipocrômica, observada mais frequentemente
2. Carência de ferro; em crianças e é morfologicamente similar a anemia por
3. Baixa ingestão proteica; deficiência de ferro. O Pb interfere com a biossíntese do
4. Altos níveis de vitamina D (muito comum devido aos heme em várias etapas enzimáticas.
alimentos fortificados);
5. Doenças renais preexistentes. TRATO GASTRINTESTINAL
Cólicas
Intoxicação crônica Constipação
Dor Abdominal
Na intoxicação crônica do chumbo diante de dos seguintes Anorexia
sintomas, temos o quadro de saturnismo. Diarreia
Gosto metálico
CRIANÇAS Orla de Burton
Retardo no desenvolvimento psicomotor
Controle de esfíncter Interações
Incoordenação motora
Percepção Sensorial A eliminação e desintoxicação são aumentadas por :
Diminuição da capacidade de aprender
1. Aumento da ingestão dietética de cálcio e fósforo (cálcio
FETO de osso e dolomita contém chumbo).
Redução do período gestacional e peso, do
desenvolvimento neuromotor, do crescimento; 2. Alta ingestão de ácido ascórbico.
FARMACOLOGIA: Xenobióticos e biotransformação/ Farmacocinética Prof. Anicet Okinga
okinga@globo.com
e Formas Farmacêuticas
galvanoplastia, galvanização, plásticos, pigmentos corados
3. Ingestão de vitaminas do complexo B especialmente e baterias de níquel-cádmio.
piridoxina, ácido fólico, cianocobalamina e ácido nicotínico.
Ocupacional
4. Uso de cromo, pectina, algina, metionina, cisteina, Indústria do zinco
cistina, tocoferois. Ligas de cádmio com outros metais
Baterias níquel-cádmio
5. Emprego de agentes quelante I.V. ou I.M. como EDTA, Ligas de solda manganês-cádmio
BAL. Pigmentos de tintas
Estabilizantes de plásticos
6. A penicilamina está indicada para remoção rápida de
chumbo quando há sintomas de intoxicação em presença Extra - ocupacional
de elevados níveis de chumbo. Adubos com fosfato
Fumo do cigarro
7. Cálcio – baixos níveis de cálcio exacerbam os efeitos do Proximidades de fundições de material não
chumbo. ferroso.
8. Ferro – O excesso de chumbo interfere na síntese de
porfirina, interrompendo a produção de hemoglobina com Fontes e formas de exposição
consequente anemia. O cádmio ocorre naturalmente na superfície
terrestre em rochas e no solo
Tratamento: Em alguns fertilizantes minerais fosfatados,
podendo ser encontrado em cereais como o arroz
a parte mais importante do tratamento é a e o trigo;
remoção radical do chumbo; Fusão redutora de metais;
todos os tratamentos da intoxicação por chumbo Extração durante a produção de cobre, chumbo e
são demorados, devendo ser rigorosamente zinco;
controlados; Produção do fumo do tabaco;
podem produzir muitos efeitos adversos; Pigmentos (amarelo claro ao vermelho escuro) de
o succimer, administrado pela via oral, liga-se ao esmalte ou de verniz para cerâmica;
chumbo e ajuda a dissolver o metal nos líquidos Exposição ocupacional por inalação (poeira e
corpóreos, para ser excretado na urina; fumaça) e oral
o succimer causa efeitos colaterais comuns Exposição crônica por alimentos, ar e água.
(p.ex., erupção cutânea, náusea, vômito, diarreia, Exposição por contato por vias inalatória e
inapetência, gosto metálico na boca e alterações digestiva.
das provas de função hepática (concentrações Galvanoplastia consome de 45 a 60% do total
das transaminases). consumido no ano.
Quando a concentração sérica encontra-se tão Uso em ligas, varetas para soldagens, baterias
elevada a ponto de poder produzir uma lesão Ni-Cd, varetas de reatores, fabricação de tubos
cerebral, a hospitalização de emergência é para TV, fotografia, litografia e pirotecnia,
obrigatória. estabilizador de plásticos, fabricação de
Dimercaprol e edetato de cálcio dissódico são semicondutores, células solares, contadores de
administrados em uma série de injeções. cintilação, retificadores e lasers.
Após o tratamento com essas drogas ser
interrompido, a concentração sérica de chumbo Na população geral, a fonte primária de exposição ao Cd é
geralmente volta a aumentar à medida que o pelo alimento, com uma ingestão média estimada em 50
chumbo armazenado nos tecidos corpóreos é µg/dia. O Cd também é encontrado no tabaco; um cigarro
liberado. contém 1-2 µg de Cd.
Os suplementos de ferro, zinco e cobre
geralmente são administrados para compensar a
depleção desses metais durante o tratamento Mecanismo de ação
prolongado com penicilamina. Transporte até os rins por filtração glomerular
Os efeitos colaterais do edetato de cálcio do complexo Cd-metalotioneína
dissódico provavelmente são causados pela Acumula-se no córtex, ao nível dos túbulos
depleção de zinco. Eles incluem a lesão renal, a proximais, devido à reabsorção da proteína
concentração sérica elevada de cálcio, a febre e a Supõe-se que o cádmio substitua o Zn em
diarreia. enzimas necessárias a reabsorção e
A penicilamina pode causar erupções cutâneas, catabolismo de proteínas
presença de proteínas na urina e uma contagem Uma das enzimas lesadas é a leucino-
leucocitária baixa. aminopeptidase, Zn dependente,
O dimercaprol pode causar hemólise (destruição supostamente relacionada à utilização de
dos eritrócitos) em algumas pessoas. proteínas renais.
Nenhuma dessas drogas deve ser administrada Em ratos e coelhos, níveis menores de
com finalidades preventivas a indivíduos que proteínas são metabolizados, provocando
trabalham com chumbo, pois elas podem proteinúria tubular, o nível de Cd cessa de
aumentar a absorção do mesmo. aumentar, as células do tubo são danificadas
e o metal é eliminado.
10.3.3. Cádmio Experimentos sugerem alterações no
metabolismo do cálcio e aumento no
É resistente à corrosão e exibe propriedades processo de osteoporose (Doença de Itai-Itai)
eletroquímicas úteis, que levaram ao seu uso em
FARMACOLOGIA: Xenobióticos e biotransformação/ Farmacocinética Prof. Anicet Okinga
okinga@globo.com
e Formas Farmacêuticas
Por meio de mecanismo desconhecido o Cd induz a Transferência pela placenta e a secreção pelo
formação de espécies reativas de oxigênio, resultando leite são menos importantes.
em peroxidação lipídica e esgotamento de glutationa.
Interação e antídotos
Toxicidade Altas concentrações de chumbo e cádmio no
O Cd liga-se a: grupos sulfidrílas das enzimas, sangue aumentam quase três vezes a
grupos carboxílicos, grupos fosfóricos, cisteína, propensão a desenvolver a doença arterial
histidina, ácidos nucléicos. periférica do que aqueles com níveis baixos
A intoxicação por via oral: menos grave do que desses dois metais;
por via respiratória. A exposição aos dois metais pode ser
Via oral: náuseas, vômito e diarreia. através da fumaça de cigarros, do ar perto de
Câimbras, vertigens, dores ósseas. áreas industriais, de fontes de combustão, de
Proteinúria e glicosúria. certos alimentos e, às vezes, ao consumir
Via respiratória: água;
Rinorreia Nas intoxicações agudas pelo cádmio não é
Dispnéia recomendado o EDTA (agente quelante da
Dor torácica medicina ortomolecular), que agrava o
Edema pulmonar fatal quadro crônico, mas o NTA (ácido
Enfisema progressivo (por inibição da antitripsina) nitrilotriacético). Em homeopatia usa-se
Proteinúria o Cadmium em diferentes potências para
Anemia hipocrômica. retirá-lo do organismo;
Selênio - oligo-mineral presente nas vísceras
Efeitos e Toxicocinética de animais, castanha-do-pará, peixes e
Absorção é o sistema respiratório. crustáceos estimula as defesas naturais do
A dieta diária contém de 30 a 60 µg de cádmio, organismo, sendo considerado antídoto para
cuja absorção é de 2-7%, com pico de 20% nos intoxicações por Hg, Pb e Cd. O mecanismo
indivíduos com teor de ferro limitado. é desconhecido.
O Cd embora presente em todos os tecidos,
possuem maior afinidade pelo fígado e rim, pela Tratamento
elevada presença, nesses órgãos, da Não há evidências d benefícios clínicos com o tratamento
metalotioneína. por quelação após o envenenamento por cádmio, e o
No sangue o Cd é intra-eritrocitário. tratamento quelante pode resultar em efeitos adversos.
O Cd é eliminado principalmente através da urina
e pouco pelas fezes 10.3.4. Mercúrio
Meia- vida biológica
Cádmio no sangue é de um a três meses. O Mercúrio (Hg) é um metal singular, pois é liquido na
Cd no organismo: meia vida muito longa (10-30 temperatura ambiente. Como possui capacidade de
anos). amalgamar outros metais, o Hg foi usado massivamente
Primeiros sintomas surgem em poucas horas com desde a antiga Grécia e a toxicidade por mercúrio já foi
irritação no local de absorção; relatada por Hipócrates. Durante séculos, o Hg foi usado
Quando a intoxicação é oral, os sintomas são como droga terapêutica. Por exemplo, foi usado no
fortes náuseas, vômitos e diarreia, salivação tratamento da Sífilis por Paracelso (1493-1541), cujo nome
excessiva e contrações abdominais; verdadeiro era Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus
Intoxicação grave pode levar a falência renal com von Hohenheim, médico e alquimista, e que a partir desse
depressão cardiopulmonar e consequente morte uso disse “Todas as substâncias são venenos, não
em 7-14 dias, assim como acidose metabólica e existe nada que não seja veneno. Somente a dose
morte em 24h; correta diferencia o veneno do remédio”; essa frase se
O cádmio tem lenta excreção pelo organismo. O tornaria mais tarde um dos conceitos centrais da
órgão alvo primário em longo prazo é o rim; Toxicologia. E, o uso de mercúrio na Sífilis originou a
Os efeitos tóxicos compreendem distúrbios célebre advertência da época “uma noite com Vênus, um
gastrintestinais, após a ingestão do agente ano com Mercúrio...”.
químico;
A inalação de doses elevadas produz intoxicação Ocupacional
aguda, caracterizada por pneumonite e edema Preparações de amalgamas dentários
pulmonar Lâmpadas
A absorção do cádmio inalado varia de 0,1 a 50%; produção de aparelhos científicos de precisão
A absorção pelo TGI se dá a partir de mãos (termômetros, barômetros, manômetros)
contaminadas (alimentos e fumo) e da depuração Plantas de produção de cloro-soda
de partículas depositadas na via respiratória. Os
níveis de absorção oscilam entre 3 a 7%; A frase “louco como um chapeleiro” se originou da
A absorção cutânea é insignificante; exposição de chapeleiros ao vapor de mercúrio metálico
No sangue o cádmio está nos eritrócitos, ligado à durante a produção de feltro para chapéus usando nitrato
metalotioneína (à medida que os níveis de mercúrio.
sanguíneos aumentam, a proporção de cádmio no
plasma diminui); Extra-ocupacional
O cádmio tem meia-vida biológica de 10 a 30 Água potável
anos; Peixes
Nas exposições por baixas concentrações, 40 a
80% depositam-se no fígado e rins (córtex), e O Hg entra na atmosfera por fontes natural e
cerca de 20% nos músculos; antropogênica. Uma vez no ar, o Hg metálico (Hg 0) é foto-
Excreção pela urina e fezes (não absorvido); oxidado a mercúrio inorgânico divalente (Hg2+) que, então,
FARMACOLOGIA: Xenobióticos e biotransformação/ Farmacocinética Prof. Anicet Okinga
okinga@globo.com
e Formas Farmacêuticas
pode se depositar em ambientes aquáticos durante a 10.3.5. Cromo
chuva. Estas formas de mercúrio estão presentes
amplamente em recursos hídricos, tais como lagos, rios e O cromo (Cr) é um metal importante na indústria usado em
oceanos, onde são absorvidas pelos microrganismos. inúmeras ligas, em particular, aço inoxidável, que contém
Essas bactérias aquáticas podem metilar o Hg2+ formando 11% de cromo no mínimo. O Cr pode ser oxidado a
metilmercúrio (MeHg+) dentro do seu organismo, o MeHg+ múltiplos estados de valência, sendo que as formas
concentra-se em lipídeos e bioacumula na cadeia trivalente (CrIII) e hexavalente (CrVI) são as que têm
alimentar, de forma que a concentração nos importância biológica. Na verdade, o CrIII é um metal
organismos aquáticos, no topo de cadeia alimentar, é essencial envolvido na regulação do metabolismo da
bem elevada, sofrendo biomagnificação, como glicose. O CrVI é tido como responsável pelos efeitos
tubarões e peixe-espada (espadarte), causando assim tóxicos da exposição ao cromo.
perturbações significativas para a vida aquática.
Exposição:
Sintomas de toxicidade: Parece ser de corrente ingestão de alimentos,
A exposição humana ao Hg orgânico ocorre primariamente primariamente, embora também haja exposição pela água
pelo consumo de peixe. Outros alimentos têm baixos potável e ar.
níveis de mercúrio inorgânico. O composto de Hg orgânico
de maior preocupação é o MeHg+ que se forma no Toxicocinética:
ambiente a partir de Hg2+ pelas bactérias aquáticas. Tanto Cerca de 50-85% de partículas de CrVI inalado são
o Hg2+ quanto o MeHg+ formam ligações covalentes com absorvidos, enquanto que a absorção do Cr VI ingerido é
enxofre facilmente, o que determina a reação do mercúrio menor que 10%. As maiores concentrações ocorrem no
com resíduos sulfidrila das proteínas, em baixas fígado, rins e ossos. A meia-vida do CrVI é
concentrações, provocando a perturbação nas funções das aproximadamente de 40 h, e a do Cr III cerca de 10 h, isso
proteínas. Num envenenamento agudo de Hg, a morte reflete, com efeito, a retenção tecidual que sofre o Cr VI.
pode ocorrer entre 1 a 5 dias.
Toxicidade:
Sistema Nervoso e músculos Trabalhadores expostos ao Cr inalado podem desenvolver
O SNC é o alvo primário da toxicidade do metilmercúrio muitos dos seguintes sintomas da irritação pulmonar e do
com efeitos neurocomportamentais. trato respiratório superior:
Epistaxe
Irritabilidade rinorréia crônica
Timidez prurido nasal e coriza
Perda de confiança atrofia da mucosa nasal
Nervosismo perfurações e ulcerações do septo nasal
Perda de memória bronquite
Atrofia muscular pneumoconiose
Fraqueza diminuição da função pulmonar e pneumonia
Parestesia e déficit cognitivo
Perda da visão Por ingestão:
Perda da coordenação úlceras orais
Tremores diarreia
Depressão e insônia dor abdominal
Vômitos indigestão e êmese
Metabolismo do ferro:
Após a redução enzimática do Fe+3 para Fe+2, o
ferro é transportado para o interior dos enterócitos
(porção proximal do jejuno) através de uma
proteína carreadora (DMT1 ou transportador de
heme).
FARMACOLOGIA: Xenobióticos e biotransformação/ Farmacocinética Prof. Anicet Okinga
okinga@globo.com
e Formas Farmacêuticas
Desenvolvimento de agentes quelantes para
11. FARMACOLOGIA DOS AGENTES utilização clínica
QUELANTES
O quelante ideal deve ter as seguintes propriedades:
11.1. Objetivo da terapêutica por quelação
Específico para um dado metal tóxico.
DL50 > 400 mg Kg-1.
A resposta mais importante à exposição ocupacional ou Formar complexos de elevada estabilidade
ambiental é eliminar a fonte de contaminação. Com com o íon a remover.
frequência o tratamento da intoxicação por metal aguda Capaz de deslocar o íon metálico da sua
necessita do uso de quelantes. ligação a ligandos endógenos.
Pode-se definir quelante como sendo um composto que Muito solúvel em água.
forma complexos estáveis com metais, tipicamente como Resistente à biotransformação.
anéis de cinco ou seis membros. Portanto, o objetivo da Capaz de atingir os locais em que o metal se
terapêutica por quelação é administrar compostos acumula.
relativamente não tóxicos que se coordenem aos íons Capaz de formar complexos solúveis em
metálicos tóxicos mais fortemente que as macromoléculas água.
celulares, formando assim complexos não tóxicos que por Capaz de formar quelatos não tóxicos com o
sua vez são rapidamente excretáveis. metal tóxico, facilmente excretáveis e
estáveis a pH fisiológico.
Características dos agentes quelantes Baixa afinidade pelos metais essenciais
(cálcio, zinco).
Um ligando é uma molécula ou íons que têm um, ou mais Pouco dispendioso.
do que um átomo doador. Estes são os átomos com pares
de elétrons disponíveis para ligação que vão coordenar ao Agentes quelantes
metal. Os átomos doadores: ex. S, N, O,
Ligandos: Monodentados e Polidentados (bidentados, Dimercaprol: (2,3-dimercaptopropanol-1 = BAL)
tridentados, ...)
Quelato: complexo formado quando um ligando O dimercaprol foi desenvolvido durante a segunda guerra
polidentado (agente quelante) se liga. mundial como antidoto a Lewisita [dicloro (2-clorovinil)
arsina], um gás de guerra vesicante arsenical; daí o nome
Aplicações da terapêutica por quelação alternativo anti levisita britânica (BAL = British-anti-
lewisite). Além da sua ação sobre os arsenicais, o
Atualmente a maior parte das intoxicações agudas e dimercaprol também protege contra outros metais.
crônicas ocorre em pequena escala.
Intoxicações que ainda ocorrem com certa frequência: As ações farmacológicas do dimercaprol resultam da
formação de complexos quelatos entre seus grupos
intoxicações agudas por ferro em crianças sulfidrila e os metais. Além disso, a ligação enxofre-metal
(ingestão de comprimidos) pode ser lábil no líquido tubular ácido o que aumenta a
intoxicações por compostos de Bi, Au e Pt oferta de metal ao tecido renal e aumenta a toxicidade.
usados em clínica.
intoxicações com pesticidas à base de Tl e Atualmente usado para tratar intoxicações por As,
As. Hg e ouro (Au) e por vezes em conjugação com
intoxicações devidas a várias formas de Hg. Na2CaEDTA para tratar encefalopatias
intoxicação crónica de Cd (exposição provocadas por Pb em crianças.
ambiental ou ocupacional). Administração unicamente por via i.m.
intoxicação aguda ou crônica por Pb (biodisponibilidade oral reduzida), a sua solução
ocupacional ou em crianças. contém óleo de amendoim, por isso não deve
ser usado em pacientes alérgicos a amendoim
Característica química dos agentes quelantes ou derivados.
Contraindicado na intoxicação por Cd, Fe, Se e
Te. Pois aumenta a absorção tecidual do íon
metálico.
Foi usado para quelar o Cu2+ na doença de
Wilson.
De entre os quelantes mais usados é o único que
facilmente atravessa as membranas celulares.
cirrose biliar
5. EDTACaNa2 (ácido
etilenodiamino- tetracético cálcico Pb
dissódico) [Versenato de Ca]
6. Desferoxamina (mesilato de
Fe
desferoxamina) [Desferal®; DFO]
7. (N-acetilcisteina) [Acetilcisteina; Hg, Co,
N-acetil; Mucomyst®] Acetoaminofen
8. (N-acetil-D,L-penicilamina) Hg
9. Azul da Prússia (Fe4[Fe(CN)6]3)
[Ferrocianeto férrico; Ferrocianeto 137Cs, Ta
de K]
10. (Dihidrocloreto de trientina) Cu,
[Trientina®; Trien®] Doença de Wilson
11. DTPACaNa3 (ácido
dietilenoamino- pentacético cálcico 239Pu
trissódico)
FONTE: Modificado de ANGLE, 1995.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Agency for Toxic Substances and Disease Registry (ATSDR). Draft toxicological profile for arsenic. ATDSR,
Atlanta, 2007a.
Agency for Toxic Substances and Disease Registry (ATSDR). Draft toxicological profile for cadmium. ATDSR,
Atlanta, 2008a.
Arsênio – Uma revisão histórica* Arsenic - A historical review* Bernardo Gontijo, Flávia Bittencourt;
BORBA, Ricardo Perobelli; FIGUEIREDO, Bernardino Ribeiro and CAVALCANTI, José Adilson. Arsênio na
água subterrânea em Ouro Preto e Mariana, Quadrilátero Ferrífero (MG). Rem: Rev. Esc. Minas [online].
2004, vol.57, n.1
FUCHS, Flávio Danni; Farmacologia Clínica: Fundamentos da Terapêutica racional. 4ª Ed. Rio de janeiro:
Guanabara Koogan S.A, 2010.
GOODMAN, L. S. & GILMAN, A. - As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 11ª Ed. Rio de Janeiro: McGraw-
Hill, 2006.
http://pharmapk.pharmacie.univ-mrs.fr/
http://www.brasilmedicina.com.br/noticias/pgnoticias_det.asp?AreaSelect=3&Codigo=134
http://www.virtual.epm.br/material/tis/curr-bio/trab2004/1ano/chumbo/index.htm
Karin Klack, Jozélio Freire de Carvalho. Vitamina K: Metabolismo, Fontes e Interação com o Anticoagulante
Varfarina. Rev Bras Reumatol, v. 46, n.6, p. 398-406, nov/dez, 2006
Keisch, B., Feller, R. L., Levine, A. S., and Edwards, R. R.: Dating and Authenticating Works of Art by
Measurement of Natural Alpha Emitters. In: Science, 155, No. 3767, p. 1238-1242, 1967.
Keisch, B: Dating Works of Art Trough their Natural Radioactivity: Improvements and Applications. In: Science,
160, p. 413-415, 1968.
Keisch, B: Discriminating Radioactivity Measurements of Lead: New Tool for Authentication. In: Curator, 11, No.
1., p. 41-52, 1968.
Klaassen, C.D. – Casarett & Doull´s Toxicology – McGraw-Hill, 2001
Savet,M.; Bertholle, V.; Vernardet, S. et al. Place de la pharmacocinétique clinique dans la détection, la
collecte et la déclaration des erreurs médicamenteuses en pédiatrie. Journal de Pharmacie Clinique, vol.24,
n.1, p.31-39, 2005.
Toxicologia Forense – Teoria e Pratica; Marcos Passagli;
TOZER, Thomas N.; ROWLAND, Malcolm. Introdução à farmacocinética e à farmacodinâmica: as bases
quantitativas da terapia farmacológica. Porto Alegre: Artmed, 2009.