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FARMACOLOGIA: Xenobióticos e biotransformação/ Farmacocinética Prof.

Anicet Okinga
okinga@globo.com
e Formas Farmacêuticas

1. FARMACOLOGIA E ALGUNS doenças crônicas não transmissíveis; É um termo com


conceito amplo, significando tudo aquilo que é aplicado
CONCEITOS com a intenção de combater a dor, a doença ou o que
possa prejudicar o organismo receptor. Inclui, além do
Farmacologia (do grego pharmakon – esse termo grego medicamento, outros processos e recursos.
possui três sentidos principais: remédio, veneno e Placebo: Palavra latina que significa “eu vou agradar”. Em
cosmético - e logos, "estudo") é o estudo de substâncias farmacologia, significa uma substância ou preparação
sob os aspectos de sua obtenção, preparação, ação e inativa administrada para satisfazer a necessidade
interação com os sistemas vivos através de processos psicológica do paciente. Usado também em ensaios
químicos, especialmente pela ligação a moléculas clínicos controlados para determinar a eficácia de novos
reguladoras e ativação ou inibição dos processos corporais medicamentos. A palavra também pode aplicar-se a algum
normais. A Farmacologia e seus métodos de investigação processo sem valor terapêutico intrínseco, porém realizado
se apoiam em outras “logias” tais como química, pela sua influência psicológica sobre o paciente. Mesmo os
matemática, física e biologia (bioestatística, biofísica, medicamentos já consagrados ou em investigação
bioquímica, ecologia, genética, físico-química, botânica, possuem além da sua ação farmacológica intrínseca, o
zoologia, patologia, anatomia e, principalmente, fisiologia). chamado “efeito placebo” quando o paciente acredita na
A farmacologia comporta divisões e subdivisões. Seus atividade do medicamento.
principais ramos são: (a) farmacognosia, identificação dos
princípios ativos naturais de origem vegetal e animal; (b) Placebo: (= agradar) Tudo que é feito com intenção
toxicologia, que estuda os agentes tóxicos e venenos, seus benéfica para aliviar o sofrimento:
efeitos e mecanismos de ação sobre os organismos vivos; fármaco/medicamento/droga/remédio (em concentração
(c) A cronofarmacologia, a ciência que estuda a hora mais pequena ou mesmo na ausência).
adequada de tomar os medicamentos, baseando-se no
que se sabe do funcionamento do nosso organismo. (d) Nocebo: (= fazer mal) Efeito placebo negativo. O
imunofarmacologia, estuda a ação dos fármacos sobre o “medicamento” piora a saúde.
sistema imune; (e) Farmacologia Geral: estuda os
conceitos básicos e comuns a todos os grupos de drogas. Fórmula farmacêutica: Conjunto dos componentes de uma
(f) Farmacogenética/farmacogenômica, que estuda as receita prescrita pelo médico ou então a composição de
influências genéticas sobre as respostas a medicamentos, uma especialidade farmacêutica de apresentação.
estando a Farmacogenética focada em efeitos de genes
isolados, enquanto que a Farmacogenômica estuda Fórmula magistral: Qualquer produto medicinal preparado
simultaneamente vários genes e suas interações. numa farmácia de acordo com uma prescrição, para um
(g) Nanofarmacologia (Nanotecnologia aplicada à paciente individual.
Farmacologia), objetiva carrear a substância diretamente
no local da ação do medicamento e manter a parte Fórmula oficinal: Fármaco ou formulação guardada em
saudável intacta; (h) farmacoterapia, o estudo da aplicação estoque na farmácia. Em geral, o fármaco tem fórmula e
dos fármacos nas doenças (Farmacologia Clínica); (i) técnica de elaboração inscritas e descristas nas
Farmacodinâmica diz respeito às ações farmacológicas e Farmacopéias ou em Formulários.
aos mecanismos pelos quais os fármacos atuam (ou seja,
aquilo que os fármacos fazem ao organismo); (j) Especialidade farmacêutica: Medicamento de fórmula
Farmacocinética diz respeito aos processos de absorção, conhecida de ação terapêutica comprovável, em forma
distribuição, biotransformação e excreção dos fármacos farmacêutica estável, embalado de modo uniforme e
(ou seja, o que o organismo faz aos fármacos). comercializado com um nome de fantasia ou DCI da
substância ativa de sua formulação.
Conceitos:
Forma farmacêutica: Medicamento disposto para o uso
Droga: Qualquer substância química capaz de produzir imediato. Representa a forma de apresentação do
efeito farmacológico, isto é, provocar alterações somáticas medicamento; por exemplo, comprimido, xarope, cápsula
ou funcionais, benéficas (droga-medicamento) ou etc.; na forma farmacêutica, além do princípio ativo, entram
maléficas (droga-tóxico). O uso popular da palavra droga outras substâncias na composição, como veículo ou
indica principalmente as substâncias de abuso, tipo excipiente, coadjuvante, edulcorante, ligante, preservativo,
maconha, cocaína etc. etc. Em geral ela indica a maneira como os Fármacos se
apresentam para o uso, e normalmente de acordo com a
Fármaco (Pharmakon - φάςμαχον): Substância química forma farmacêutica, tem-se a via de administração.
que é o princípio ativo (P.a.) do medicamento (droga-
medicamento). FORMAS FARMACÊUTICAS:
Medicamento: “Produto farmacêutico, tecnicamente obtido São também designadas por formas medicamentosas ou
ou elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa formas galênicas. O termo “galênica” representa uma
ou para fins de diagnóstico”. É uma forma farmacêutica homenagem ao médico-farmacêutico grego Claudius
terminada que contém o fármaco, geralmente em Galeno que obteve a cidadania romana e viveu em Roma
associação com adjuvantes farmacotécnicos. no século II de nossa era. Fixou-se em Roma no Império
de Marco Aurélio a fim de controlar a peste. Criou tantas
Remédio: (re = novamente; medior = curar) A ideia de preparações de remédios vegetais, misturando ou fundindo
remédio está associada a todo e qualquer tipo de cuidado cada ingrediente, que a área das preparações
utilizado para curar ou aliviar doenças, sintomas, farmacêuticas era comumente chamada de “farmácia
desconforto e mal-estar. Alguns exemplos de remédio são: galênica”. As formas galênicas podem ser divididas em
fé ou crença; acupuntura, banho quente ou massagem sólidas, semi-sólidas, líquidas, especiais, gasosa e,
para diminuir as tensões; chazinho caseiro e repouso em recentemente, em novas formas farmacêuticas.
caso de resfriado; hábitos alimentares saudáveis e prática Na página seguinte, pode-se visualizar as principais
de atividades físicas para evitar o desenvolvimento de formas farmacêuticas que são elaboradas para veicular os
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fármacos nos organismos receptores. Destacando-se as
mais comuns em negrito e itálico. Comprimidos  São formas farmacêuticas cilíndricas
ou lenticulares, que resultam da compressão ou moldagem
Tabela 1.1: Formas Farmacêuticas
Sólidas Semi-sólidas Líquidas Especiais
Cápsulas Cataplasma Alcoolatos Aerossóis
Comprimidos (orais e vaginais) Ceratos Alcoolaturas Ampolas
Drágeas Cremes Colutório Bandagens
Grânulos Pastas Emulsões (Ligaduras)
Hóstias Pomadas Enemas Colírios
Implantações Unguentos (enteróclises/Clísteres) Sprays
Óvulos Linimentos
Papéis Óleos medicinais
Pérolas Poções
Pílulas Soluções Gasosa
Pós Suspensões Vaporização
Supositórios Tinturas
Xaropes
Novas formas
farmacêuticas
A forma farmacêutica é composta em geral da seguinte
maneira: Princípio ativo (fármaco propriamente dito) base de um pó cristalino ou de um granulado. Podem ser
ou adjuvante, veículo (excipientes) e/ou corretivo administrados por vias oral, sublingual ou vaginal.
(edulcorantes, corantes).
Drágeas  São comprimidos revestidos por uma
Princípio Ativo  Representa o componente da substância de modo a evitar a sua fácil desagregação
formulação responsável pelas ações farmacológicas. Ele (comprimidos revestidos com açucar, revestidos por
pode ser: película, com revestimento entérico) e tem por intuito:
 Base: é a substância ativa com maior atividade  Proteger a substância ativa da umidade e luz;
farmacológica, quer pelo seu potencial de ação,  Ocultar características organolépticas
quer pelo seu volume. indesejáveis;
 Adjuvante: outro(s) princípio(s) ativo(s) que  Facilitar a ingestão;
complementa(m) a ação da base.  Proteger o p.a. da destruição estomacal.
Veículo  Parte da forma farmacêutica que lhe confere
forma e volume, gerando maior estabilidade, NÃO tem Pomadas  São preparações semi-sólidas (de
ação farmacológica. De fato, um veículo é o que consistência mole) para aplicação externa. Preparações
chamamos de Excipente (é o veículo que não tem ação medicinais numa base gorda como a lanolina ou a
ativa, destina-se a dar forma, aumentar o volume etc.). vaselina, completa ou moderadamente absorvidas pela
pele. Conservam a umidade pelo que aumentam a
O fármaco e os excipientes utilizados devem ser absorção do fármaco. Representam o veículo mais eficaz
compatíveis entre si para gerar um produto estável, eficaz, para a absorção de fármacos pela pele.
atraente, fácil de administrar e seguro. Abaixo listamos
classes de excipientes: Pastas  São, também, preparações de consistência
mole para aplicação externa. Diferem das pomadas
 Solubilizantes
 Suspensores principalemnte porque contêm maior porcentagem de
 Espessantes material sólido e, conseqüentemente, são mais firmes e
 Diluentes espessas. Assim sendo, são mais absorventes e menos
 Emulsificantes gordurosas que as pomadas preparadas com os mesmos
 Estabilizantes
 Conservantes componentes. Podem ser dérmicas ou orais. Como
.  Corantes exemplo, temos pasta de óxido de zinco, pasta dental de
 Flavorizantes triamcinolona.
 Aglutinantes
 Tensoativos
 Lubrificantes Cremes  São definidos como “emulsões líquidas
 Desintegrantes viscosas ou semi-sólidas do tipo óleo em água (óleo/água)
 Revestimentos ou água em óleo [água/óleo (Cold-cream)]. Em geral, são
empregados como emolientes ou como tratamento de
pele. Óleos emulsionados em 60 a 80% de água, de modo
Corretivo  todo ingrediente encontrado numa a formar um líquido espesso ou um sólido mole.
formulação que visa corrigir o produto final em suas
propriedades organolépticas e visuais. Em geral são: Emulsões  Emulsão é uma dispersão cuja fase
 Edulcorantes: conferem sabor agradável à dispersa é composta por gotículas de um líquido,
preparação; distribuídas num veículo no qual é imiscível. Ou seja,
 Corantes: conferem cor às formas farmacêuticas. emulsões são sistemas dispersos constituídos por duas
fases líquidas, que podem ser feitas a partir de água em
O uso de diversas formas farmacêuticas de um mesmo óleo (A/O) ou o contrário (O/A). Objetivam:
medicamento têm três motivos: (a) locais de absorção  Disfarçar o mau sabor ou proporcionar uma
diferentes: por exemplo, alguns medicamentos são melhor solubilidade do fármaco;
absorvidos no estômago e outros na mucosa oral; (b)  Devem ser agitadas antes da administração.
velocidade de ação: os medicamentos na forma de solução
oral são mais rapidamente absorvidos que um comprimido; Soluções  São preparações líquidas que contêm uma
(c) tipo de paciente: criança, adulto, diabético, hipertenso.
ou mais substâncias químicas ativas dissolvidas num
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solvente adequado (normalmente água) ou numa mistura  Cápsulas moles (soft gels);
de solventes (aquosos) mutuamente miscíveis, em  Cápsulas gastroresistentes (liberação entérica);
concentrações inferiores à sua solubilidade à temperatura  Cápsulas de liberação prolongada.
ambiente. Podem ser classificadas como soluções orais,
soluções auriculares, soluções oftálmicas ou soluções Uma alternativa é o uso de cápsulas vegetais, que pode
tópicas. auxiliar o atendimento às pessoas que têm restrições a
Outras soluções são classificadas como outras formas derivados animais (por questões culturais ou talvez
farmacêuticas: por exemplo, xaropes, elixires, espíritos religiosas?). Essas cápsulas são feitas a partir de um
(soluções de substâncias aromáticas – solvente alcóolico) derivado de fibras de celulose – o hidroxipropil
ou águas aromáticas (solvente aquoso), tinturas ou metilcelulose (HPMC).
extratos fluidos.
Certas soluções preparadas para serem estéreis e livres Vantagens
de pirogênios são destinadas à administração parental:  Mascaram de forma eficaz sabores e odores
classificadas como injetáveis. desagradáveis ;
 Boa estabilidade e boa disponibilidade;
Suspensões  Podem ser definidas como formas  Sistemas de liberação modificada (prolongada e
farmacêuticas que contêm partículas finas da substância entérica);
ativa em dispersão (conhecidas como suspensóide)  Protegem o fármaco de agentes externos.
relativamente uniforme num veículo no qual esse fármaco
apresente uma solubilidade mínima. Desvantagens
Algumas suspensões já vêm prontas para o uso; outras  Restrição de uso para pacientes com dificuldades
preparações estão disponíveis para uso na forma de pó de deglutição (crianças, idosos, em tratamento
seco destinado a ser misturado com veículos líquidos etc.);
(geralmente água purificada). Podemos citar três razões  Inadequada para altas dosagens de ativos:
para uso de suspensões: principalmente fitoterápicos.
 Certas substâncias são quimicamente instáveis
em solução, porém estáveis em suspensão; Pós para uso interno  Provenientes de drogas
 Forma líquida preferível à forma sólida (maior vegetais submetidas a um grau de divisão suficiente para
facilidade de deglutição e flexibilidade da lhes assegurar homogeneidade. Os pós podem ser pós
administração de diferentes doses) – lactentes, simples (constituídos por um tipo de substância) e os pós
crianças e idosos; compostos (resultantes da mistura de dois ou mais pós
 Sabor desagradável de certos fármacos em simples).
solução é evitado quando o medicamento é
administrado na forma de partículas não Os pós para uso interno podem ser aviados como (a) pós a
dissolvidas de uma suspensão. granel - Dispensados em frascos ou potes para serem
administrados com o uso de colheres de medida ou
Denominam-se formas farmacêuticas especiais aquelas medidores -, por exemplo, pós para Sopa, Suco, Shake;
que, ou não se podem facilmente inserir num determinado (b) sachês individuais (pós divididos) - Destinados à
grupo, ou que tem inserção em mais de um grupo. administração em doses individualizadas; permitem
utilização de doses elevadas de princípios ativos - , por
Aerossóis  Se caracterizam por constituírem um exemplo sachês para Suco; Shake; e sachês
“nevoeiro não molhante” formado por micro gotas efervescentes.
(diâmetro compreendido entre 0,05 e 0,2 micrômetro).
Formam uma suspensão coloidal, em que a fase contínua Vantagens
é o gás e a fase dispersa é o líquido.  Possuem tamanho de partícula reduzido, o que
permite dissolução mais rápida, consequente
Sprays  São semelhantes aos aerossóis, mas o absorção;
diâmetro da partícula é maior (0,5 micrômetro), podem ser  São mais estáveis que as preparações líquidas;
considerados “nevoeiros molhantes”.  Maior facilidade de deglutição.

Ampolas  São tubos de vidro ou plástico, colorido ou Desvantagens


incolor, estirados nos dois topos, ou pequenas “garrafas”  Demandam mais tempo de preparo;
seladas, podem conter líquido ou pó. Servem para facilitar  Podem ser instáveis quando expostos a
a esterilização e conservação do seu conteúdo; O pó condições atmosféricas adversas.
normalmente é utilizado na preparação extemporânea de
solutos injetáveis. O conteúdo pode ser aplicado via Obs.: Devem ser bem protegidos da umidade e abrigo da
parenteral, oral ou tópico. luz.

Shakes  A forma farmacêutica em shake é uma


alternativa utilizada para servir como veículo de ativos
2. ALGUMAS FORMAS FARMACÊUTICAS nutracêuticos, principalmente em nutrição esportiva. As
DE FITOTERÁPICOS: suas principais vantagens são:

Cápsulas  Formas farmacêuticas sólidas que são (a) Palatabilidade (sabor) agradável, mascara o sabor
pequenos invólucros duros ou moles de capacidade desagradável de diversos ativos, o que facilita a adesão
variável destinados a conter, um pó ou um líquido. Tem principalmente crianças reticentes a ingerir produtos
forma cilíndrica e são formados por duas partes que se farmacêuticos e de idosos.
encaixam. O invólucro pode ser constituído normalmente (b) Praticidade: fácil administração
de gelatina (cápsulas gelatinosas) ou de quitina ou glúten (c) Quando embalados em envelopes (sachês), os shakes
(gastro-resistentes). Elas podem ser do tipo: apresentam melhor estabilidade.
 Cápsulas duras;
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(d) No sachê a quantidade a ser ingerida é mais exata do fim de melhorar a elasticidade da pele e de revitalizar o
que a quantidade medida em dosadores ou em colheres. cabelo e as unhas.
Os shakes, além da sua aplicação na nutrição esportiva,
os shakes ainda podem ser manipulados em nutrição de Vantagens
gestantes, idosos e para o gerenciamento do peso.  Mascaram de forma eficaz o sabor de fármacos
amargos;
Chá ou Infusão  São formas farmacêuticas magistrais,  Não irritantes para mucosa oral;
que resultam da ação da água sobre plantas secas, a fim  Consistência macia e agradável ao mastigar;
de lhes retirar a substância ativa. Há várias maneiras de  Tamanho aproximado 10g/goma.
extrair as substâncias de uma planta medicinal. Pode-se
extrair através da maceração, digestão, infusão, decocção Desvantagens
ou tisana.  Sabor levemente ácido;
 Maceração: Ação prolongada da água a  Não recomendadas para fármacos susceptíveis a
temperatura ambiente sobre a planta seca. hidrólise (água).
Utilizada para substâncias termolábeis. Em geral,
é um método de extração de substâncias através Pastilhas  Formas farmacêuticas sólidas em forma de
de um líquido que pode ser água, álcool ou óleo; disco, que contêm um princípio ativo e, em geral, um
 Digestão: Ação prolongada em água morna (40 a flavorizante, que se dissolvem ou desintegram lentamente
50 °C) sobre a planta seca. Um método.utilizado na cavidade da boca. Podem conter um ou mais
para substâncias ativas termolábeis; substâncias ativas de ação local ou sistêmica. As pastilhas
 Decocção: Ação da água desde a temperatura também são chamadas de trociscos. Possuem uma base
ambiente até à ebulição sobre a planta. Utiliza-se de açúcar e um aglutinante como mucilagem ou goma
para substâncias termorresistentes (plantas duras (trata-se de “goma” como substância pegajosa que se
ou partes da planta duras). Neste método, extrai de alguns vegetais, na farmacotécnica pode ser um
colocam-se as plantas no vasilhame e verte-se a estabilizante, um espessante ou um emulsificante).
água fria em cima da plante, o vasilhame vai ao
fogo e o todo é fervido por um certo tempo ( a 10 Vantagens
minutos);  Desintegração lenta e uniforme;
 Infusão: Ação instantânea da água fervente sobre  Sabor agradável;
a planta. A água deve ser vertida bem lentamente  Escapa do metabolismo de primeira passagem;
e ao concluir o processo, tampar a vasilhame  Tamanho pequeno: 3g / pastilha.
usada (que não deve ser de alumínio e nem de
plástico). Desvantagem
 Requer alta temperatura para o preparo.
OBS.: as mulheres grávidas não devem consumir
nenhum chá. Há risco de aborto. Durante a lactação é Pirulitos  Por se dissolver lentamente na boca, esta
necessário conhecer quais as ervas consumíveis. forma farmacêutica torna-se uma escolha certa para
fármacos que precisam ficar mais tempo em contato com a
Chá termogênico superfície absortiva da mucosa; como por exemplo,
antifúngicos utilizados para o tratamento de candidíase
Contém Alta concentração de flavonóides, polifenóis e oral (nistatina) e o fluoreto de sódio, na prevenção da cárie
sinefrina [alcaloide encontrado em algumas plantas e dental. A sua aparência (de doce) e o sabor agradável o
frutos, como as cítricas. Obtida, em geral, a partir do torna uma alternativa eficaz para uso pediátrico.
extrato da casca de laranja amarga (citrus aurantium).
Aumenta a taxa metabólica, acelerando a remoção de Chocolate medicamentoso  Preparação
depósitos de gordura no corpo; ativa a lipólise e contribui farmacêutica destinada à ingestão oral, podendo ou não
no aumento da performance física. Aumenta o gasto ser mastigadas; obtida através da mistura de chocolate
energético e a oxidação de gorduras, através da com um ou mais insumo farmacêutico ativo que são
temperatura corporal. Em especial, pela ativação dos aquecidos e moldados. Uma forma farmacêutica que
receptores beta-3, ela é um potente agente lipolítico]. promove a administração de ativos nutracêuticos e
fitoterápicos.
Gomas mastigáveis  São formas farmacêuticas Ela é desenvolvida numa base sem açúcar e sem lactose
preparadas com gelatina e glicerina, utilizadas para que contém 54% de cacau; farinha de soja e edulcorada
administração de medicamentos para absorção no trato com maltitol e sucralose; e também é livre da gordura
gastrintestinal (TGI) e de uso sistêmico. Contêm, presente nos chocolates. Cada chocolate terapêutico pesa
normalmente, edulcorantes, conservantes, corantes, 5 g (incluindo as substâncias ativas) podendo incorporar
flavorizantes e usualmente ácido cítrico. Outras gomas são até 2 g de componentes ativos.
reparadas com colágeno hidrolisado, que no estômago vira
um gel que se expande e ocupa espaço, reduzindo o Vantagens
apetite. Por exemplo, pode-se aliar à goma um fitoterápico  Tamanho maior, em torno de 8g a 10g
que auxilia na perda de peso, ou ainda uma vitamina para (incorporação de mais ativos);
reposição nutricional. Entre os fitoterápicos mais  São formas farmacêuticas anidras (fármacos
recomendados, pode-se citar a Pholia Magra, um ativo hidrolisáveis);
extraído da planta brasileira Ecalyculata vell, termogênico  Podem ser pastilhas, barras ou bombons;
atuando principalmente na região abdominal e também é  Mascaram perfeitamente o sabor dos produtos;
um diurético leve. A faseolamina, extraída do feijão branco,  Saciam o desejo por doces particularmente para
é outro fitoterápico que pode ser manipulado na goma de “chocólatras”.
colágeno e age na quebra dos carboidratos, reduzindo
assim o nível de açúcar no sangue. Alguns clínicos Desvantagem
prescrevem a goma pura, para reposição de colágeno, a  Fundem facilmente em baixas temperaturas
(fármacos termolábeis).
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 Absorção limitada pela situação fisiológica e
VIAS DE ADMINISTRAÇÃO: patológica do paciente: êmese, inativação por
enzimas digestivas ou pH ácido gástrico e
irregularidades na absorção (interação com
Os fármacos são desenvolvidos para serem usados no alimentos) ou na propulsão (diarréia);
organismo receptor com a finalidade profilática, curativa,  Cooperação do paciente (Impraticável em
paliativa ou para fins de diagnóstico. Portanto, para pacientes em coma ou com êmese);
adentrar o organismo e alcançar seu destino e objetivo, os  Pode sofrer metabolismo hepático de 1a
fármacos necessitam ser administrados por “vias de passagem reduzindo a sua biodisponibilidade.
administração”.
Das 111 (cento e onze) vias de administração O metabolismo de primeira passagem representa a
reconhecidas pela FDA (Food and Drugs Administration – biotransformação (inativação) que ocorre com os fármacos
órgão regulador de alimentos e medicamentos no seu percurso, entre o seu local de administração até a
dos Estados Unidos) –, pode-se citar, na tabela a seguir, sua localização no tecido alvo (ou até
as principais vias de administração:

TABELA 2.1: Principais vias de administração de fármacos

ENTERAIS PARENTERAIS

Diretas: Indiretas:
- Oral - Endovenosa - Tópica
- Bucal - Intramuscular - Inalatória
- Sublingual - Subcutânea - Intranasal
- Retal - Intra-articular - Intravaginal
- Intraperitonial - Oftálmica
- Intratecal ou
Subaracnóide
- Peridural ou
Epidural

o tecido da quantificação do fármaco, isto é, o plasma, na


No entendimento das vias de administração faz-se mister circulação sistêmica). E, o metabolismo de primeira
destacar o uso de alguns termos: passagem primordialmente acontece no fígado, por isso,
 uso interno – significa ingestão de fármacos; ele é frequentemente referido como sendo metabolismo
 uso externo – referente à administração de hepático de primeira passagem (parte do fármaco
fármacos por processos distintos do anterior; administrado pela via oral e absorvida pelo TGI não chega
 vias diretas – representadas pelo espaço celular à circulação sistêmica por que é inativada (metabolizada)
subcutâneo, músculo, veia, artéria; vias extras – ao passar primeiramente pelo fígado). A melhor
como no caso de lesões cutâneas e cáries; denominação que se pode dar é eliminação pré-sistêmica
normalmente são vias que necessitam de um (ser eliminada antes de alcançar a circulação sistêmica).
dispositivo para injetar os medicamentos, por isso
são chamadas também de injetáveis; A Biodisponibilidade é conceituada na Farmacologia como
 vias indiretas – condicionam a penetração de sendo a velocidade e extensão em que um fármaco é
fármacos através de superfícies limitantes (pele, absorvido, e se torna disponível no local de ação. Ou ainda
mucosa, serosa) e, em geral, são vias que não descrita como a extensão da entrada do fármaco no
usam o TGI e nem o usam injeção. organismo. Em termos matemáticos é tida como a fração
ou o percentual da dose administrada que foi absorvida
O estudo das vias de administração, na maioria das vezes, intacta de forma sistêmica.
trata das vantagens e desvantagens (e também dos
cuidados) que se têm quanto a sua aplicação. Assim, na via oral a absorção do fármaco no TGI depende
de:
Via Oral  Formulação farmacêutica
Vantagens  Características físico-químicas– Lipossolubilidade
 Fácil administração (auto-administração)  Estabilidade em pH ácido.
 Indolor – conveniente (confortável)  Não ser degradado por enzimas digestivas ou
 Menor custo – econômica enzimas da parede intestinal.
 Segura (Fácil reversão na intoxicação aguda)  Área de superfície disponível para a absorção
 Tempo de esvaziamento gástrico
Algumas formas farmacêuticas usadas pela via oral:  Tempo de contato com a superfície absortiva
comprimidos, cápsulas, drágeas, soluções, suspensão,  Metabolismo hepático de primeira passagem
emulsão, elixir e xaropes. Pela via oral, os efeitos podem
ser sistêmicos ou locais (ex. antiparasitários) Sublingual
As vantagens e as desvantagens da via sublingual são
Desvantagens semelhantes às da via bucal. A maioria dos medicamentos
 Absorção lenta – lento início de ação; não pode ser administrada por essa via, pois a absorção é
 Absorção limitada pelas características físico- às vezes errática e incompleta.
químicas do fármaco (hidrossolubilidade);
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rebordos costais e as cristas ilíacas, a região anterior das
Vantagens coxas e a região superior do dorso. É importante alternar
 Fácil acesso e aplicação; os locais de injeção para evitar fibrose.
 Circulação sistêmica;
 Latência curta; Na via subcutânea, quase não se fala de vantagens de
 Emergência. desvantagens, No entanto, descrevem-se as suas
características: Os medicamentos que ali são usados
Algumas formas farmacêuticas usadas pela via sublingual: devem conter substâncias não irritantes, e via regra, usa-
Formas farmacêuticas: comprimidos, pastilhas, soluções, se pequeno volume de injetáveis. Os efeitos adversos
aerossois etc.. locais tais como dor, abscesso, fibrose e infecção são
observados. A absorção pode ser imediata (por exemplo,
Desvantagens solução injetável) ou lenta (quando se usa produto
 Drogas muito lipossolúveis; medicamentoso farmacêutico direcionado para tal efeito,
 Pacientes inconscientes; por exemplo um implante), mas constante provocando
 Irritação da mucosa; efeito duradouro.
 Dificuldade em pediatria.
Via intradérmica
Retal Os medicamentos são administrados na pele entre a
Vantagens derme e a epiderme. O volume injetado é muito pequeno e
 Praticável em comatosos, paciente; varia entre 0,05 a 0,18 ml. A região da injeção é
com vômitos e incapacidade de deglutir; normalmente a região da face anterior do antebraço. É de
Menor efeito de 1ª passagem. fácil acesso, normalmente as ações farmacológicas
esperadas são locais ou sistêmicas; é uma via para a
Desvantagens administração das vacinas e testes alérgicos cutâneos.
 Absorção irregular e incompleta;
 Irritação da mucosa retal; Via pulmonar (inalatória)
 Expulsão; Os fármacos gasosos e voláteis podem ser inalados e
 Incômodo. absorvidos pelo epitélio pulmonar e pelas mucosas do trato
respiratório, sendo o acesso à circulação sistêmica rápido
Endovenosa (imediato) e não havendo a perda causada pela eliminação
Vantagens: pré-sistêmica hepática, porém há pequena capacidade de
 Efeito imediato; dosagem adequada e administração trabalhosa; quanto
 Biodisponibilidade 100%; aos aerossóis o efeito desejado é local e dependendo do
 Possibilita a administração de grandes volumes; tamanho das partículas na fase gasosa (ver o conceito de
 Possibilita a administração de substâncias aerossol escrito anteriormente) pode-se ter retenção das
irritantes por outras vias. partículas na região nasofaríngea,(diâmetro:100μm),
traqueia e brônquios (10 μm) e brônquios e alvéolos (0,1-1
Desvantagens: μm). As partículas abaixo de 0,1 μm são eliminadas com o
 Material estéril; ar expirado. Normalmente somente 10% de todo o
 pessoa capacitada; medicamento aerossol inalado alcançam o tecido-alvo, os
 Incômoda para o paciente; outros 90% passam pelo TGI.
 Menor segurança – riscos elevados de efeitos
adversos (injeção lenta de solução); O uso da via de administração tem uma importância capital
 Imprópria para substâncias insolúveis ou oleosas na farmacoterapia como mostrado na figura abaixo.
(suspensões);
 Riscos de flebite, infecção e trombose.

Intramuscular
Vantagens:
 Início mais rápido que a oral;
 Possibilita a administração em pacientes
incapacitados de deglutir, com vômitos e diarreia;
 Mais segura que a endovenosa;
 Não sofre efeito de primeira passagem.

Desvantagens:

 Efeitos adversos locais: dor, desconforto,


hematoma e lesão muscular.
 Impossibilita a administração de substâncias
muito irritantes com pH fora da neutralidade.

A absorção pela via intramuscular depende do fluxo


sanguíneo local e do tipo de preparações farmacêuticas
(solução aquosa ou suspensão). FIGURA 2.1: Concentração plasmática x vias de administração
A via endovenosa possui maior concentração plasmática
Via subcutânea
Por via subcutânea ou hipodérmica os medicamentos são por não submeter-se ao metabolismo hepático de primeira
administrados debaixo da pele, no tecido subcutâneo. Os passagem, permitindo, com isto, um grau máximo de
locais para injeção subcutânea incluem as regiões controle dos níveis do fármaco circulante, porém apresenta
superiores externas dos braços, o abdômen entre os um menor tempo de atuação no organismo, por estar
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diretamente na circulação – é útil em fármacos com relacionar esse entendimento com o que o organismo faz
estreito índice terapêutico, já a via oral, por com os nutrientes, que além de absorvê-los e distribuir,
obrigatoriamente passar pelo TGI, submete-se ao também os elimina.
metabolismo hepático de primeira passagem, diminuindo, Na verdade, a eliminação diz respeito aos dois processos
com isto, sua concentração plasmática, contudo, farmacocinéticos Biotransformação (metabolismo) e
aumentando o tempo de atuação; na via intramuscular, excreção; Portanto, o metabolismo e a excreção são
ambos os parâmetros são intermediários. geralmente englobados no conceito dos processos
irreversíveis responsáveis pela eliminação do fármaco do
A tabela abaixo relaciona as vias de administração com as organismo. E, a distribuição e a eliminação, em conjunto,
respectivas formas farmacêuticas: são também chamadas de disposição.
Tabela 2.2: vias x formas farmacêuticas
oral Comprimidos, Cápsulas, Absorção
soluções, xaropes, elixires,
suspensões, magmas, A absorção é a transferência do fármaco do seu sítio de
géis, pós administração para a circulação sistêmica; portanto, é
Sublingual Comprimidos, Pastilhas ou importante para todas as vias de administração (com
trociscos exceção da via intravascular (endovenosa e arterial) ou de
Parenteral Soluções, Suspensões todas as vias por intermédio das quais os fármacos são
Epidérmica/transdérmica pomadas, cremes, bombas depositados diretamente no seu local de ação, por
de infusão, pastas, exemplo, a via intratecal onde o fármaco é colocado
emplastros, pós, aerossóis, diretamente no líquido cefalorraquidiano). Quando o
loções objetivo terapêutico é sistêmico, o fármaco necessita
Discos transdérmicos penetrar no plasma para alcançar o seu local de ação. A
(patches), soluções eficiência e a taxa de absorção (velocidade) dependem da
Conjuntival Inseridos na lente de via de administração, da solubilidade e de outras
contato, Pomadas propriedades físico-químicas do medicamento. Em geral,
Intra-ocular/intra-auricular Soluções, suspensões nas vias de administração extravasculares, pode ocorrer
Intranasal Soluções, sprays, absorção apenas parcial, o que diminui sua
inalantes, pomadas biodisponibilidade (fração do fármaco que atinge a
Inalatória Aerossóis circulação sistêmica de forma intacta). Portanto, os
(respiratória/pulmonar) fármacos entram na circulação geral de duas maneiras:
Retal Soluções, pomadas, diretamente, sem enfrentar barreiras, por injeção
supositórios intravascular, ou indiretamente, quando introduzidas por
Vaginal Soluções, pomadas, vias extravasculares. Quando os fármacos são
espumas em emulsão, administrados por vias extravasculares, eles necessitam
comprimidos, inserções, atravessar barreiras, que são representadas pela
óvulos, esponjas bicamada fosfolipídica das membranas biológicas, desde o
seu sítio de aplicação até a circulação sistêmica. Essa
uretral Soluções, velas travessia dos fármacos pode acontecer por diversas
maneiras como apresentado na figura abaixo:

3. FARMACOCINÉTICA

O conceito de equilíbrio farmacocinético e a descoberta de


que a concentração plasmática de um fármaco tem relação
com seu efeito farmacológico permitiu o amplo
desenvolvimento da Farmacocinética. Entende-se por
equilíbrio farmacocinético um equilíbrio dinâmico que
significa que a concentração plasmática é um reflexo
quantitativo do que ocorre em todo o organismo. Pode-se
utilizar a concentração plasmática como uma medida
indireta da concentração do fármaco no sítio de ação. Gradiente
A Farmacocinética pode ser compreendida como o estudo eletroquímico
dos processos de absorção (A), distribuição (D),
metabolismo (M) (biotransformação) e Excreção (E) de um
FIG.3.1: travessia dos fármacos pelas membranas
fármaco e do modo pelo qual esses processos determinam
seu destino no organismo. O termo biotransformação Fatores que influenciam a absorção:
geralmente é utilizado no caso de xenobióticos (moléculas
exógenas), enquanto metabolismo refere-se às mesmas Propriedades químicas do fármaco:
reações que ocorrem com substâncias endógenas. Nesse 1. Grau de ionização do fármaco – pka vs pH do meio;
contexto, é comum referir-se à Farmacoinética como a 2. Lipossolubidade / hidrossolubilidade;
disciplina que estuda os processos ADME. 3. Tamanho das partículas;
A Farmacocinética ainda pode ser entendida como o 4. Formulação farmacêutica.
estudo e a caracterização, em função do tempo, dos
processos ADME e sua relação com os efeitos Variáveis fisiológicas:
terapêuticos e tóxicos no organismo. Uma maneira simples 1. pH e fluxo sanguíneo no sítio de absorção;
de compreender o que é a farmacocinética é defini-la como 2. Área de superfície disponível para absorção;
sendo o que o organismo faz com o fármaco. Com efeito, o 3. Tempo de esvaziamento gástrico;
organismo absorve o fármaco, distribui o fármaco, 4. Tempo de contato com a superfície de absorção;
biotransforma o fármaco e excreta o fármaco; Pode-se 5. Interação do medicamento com os constituintes do TGI;
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6. Eliminação pré-sistêmica = Metabolismo de primeira curva (ASC), também conhecida de área abaixo da curva
passagem. (AAC), ou ainda, em inglês, area under the curve (AUC),
que reflete a extensão da absorção do fármaco.
Fatores que modificam a absorção pela via oral: Na verdade, o percentual de biodisponibilidade depende
da taxa de absorção do fármaco e do efeito da eliminação
Propriedades químicas do fármaco: pré-sistêmica, levando em consideração fatores de
1. Preparações líquidas; absorção e metabolização. Várias enzimas podem inativar
2. Preparações sólidas; o fármaco ainda na parede intestinal e também no fígado,
3. Velocidade de dissolução; estes fatores que limitam a absorção, também irão limitar a
4. Tempo de desintegração. biodisponibilidade.

Variáveis fisiológicas:
1. Esvaziamento gástrico;
2. Tempo de trânsito;
3. pH do meio;
4. Interação com alimentos;
5. Área de superfície; Cmax
6 Pico Tempo no qual
6. Fluxo sanguíneo mesentérico.
, ocorre o pico
. (Tmax)
Via regra, todo fármaco é um eletrólito fraco, ou seja,
contêm grupos ácidos ou básicos fracos que, em meio
aquoso, se dissociam parcialmente, isto é, ionizam-se
mantendo uma fração neutra e uma fração ionizada.

Concentração sérica média µg/ml


Geralmente, a fração neutra é a que possui maior 4 Área sob a curva de
lipossobulidade, por isso ela é chamada de lipossolúvel, ou , □ concentração sérica-
lipofílica, ou hidrofóbica, ou ainda apolar; enquanto a parte tempo (0-12 horas)
□ µg/ml x horas
ionizada é chamada de fração hidrossolúvel, hidrofílica ou

lipofóbica, ou ainda polar. □
A influência do grau de ionização sobre a absorção diz
respeito a essas duas frações. Como as barreiras 2 □

biológicas são, em sua maioria, as bicamadas lipídicas ,
membranares, a fração neutra, então, é a que mais
apresenta maior capacidade de atravessar as barreiras, AUC □
pois ela é lipofílica; enquanto que a fração ionizada é a que □
menos atravessa as barreiras por ser hidrossolúvel e
lipofóbica. Portanto, quanto mais prevalentes as formas
neutras de um fármaco eletrólito fraco, maior sua ½ 1 2 3 4 6 8 10 1
Tempo depois da administração do fármaco (horas) 2
absorção.
Em geral, quanto menos polar for uma substância, mais Fig.3.2 : Curva de concentração-Tempo
lipossolúvel ela será. O caso extremo de polaridade é
representado pelos íons, os quais, não possuindo
lipossolubilidade, não passam pela barreira lipídica, que é Metabolismo hepático de primeira passagem
o mosaico fluido das membranas plasmáticas celulares.
Por isto, é importante a influência do pH na absorção de Também já tinha sido conceituado anteriormente,
ácidos e bases fracos. Assim, as drogas compostas por representa a passagem do fármaco pelo fígado através da
íons funcionam como eletrólitos fracos, ou seja, contêm circulação porta, após ter sido absorvido pelo trato
grupos ácidos ou básicos que podem ionizar-se em pH gastrintestinal e antes de atingir a circulação sistêmica,
fisiológico. sofrendo biotransformação que pode limitar
Com efeito, a absorção depende do pH do meio e da consideravelmente sua biodisponibilidade, contudo, há
constante de ionização da substância (pKa). E, a partir casos em que a capacidade metabólica do fígado pode
desses dois parâmetros químicos, entendemos que um sofrer alterações, gerando variações na biodisponibilidade:
fármaco ácido fraco será melhor absorvido em meio ácido quando há redução no fluxo sanguíneo hepático, como por
com um pH < pKa, pois estará menos ionizado, o contrário exemplo na cirrose hepática, aumentando, com isto, a
se aplica a um fármaco base fraca, a qual, quanto menor o biodisponibilidade; quando há diminuição na atividade
pH, mais ionizada estará e será menos absorvida. metabólica das enzimas hepáticas, como na insuficiência
hepática ou com o uso de substâncias que inibem as
Biodisponibilidade enzimas do metabolismo hepático, havendo também um
aumento da biodisponibilidade; quando há fármacos ou
Como já havia sido mencionada, a biodisponibilidade é a outras substâncias, como os barbitúricos, que aumentam a
fração do fármaco administrado que alcança a circulação atividade de enzimas de metabolização do fígado,
sistêmica quimicamente inalterada, ou seja, é a fração de diminuindo, assim, a biodisponibilidade (a discutir
fármaco que atinge o seu local de ação ou fluido biológico, posteriormente).
a partir do qual o fármaco tem acesso ao seu local de
ação. Suponhamos que 100 mg de um certo fármaco
sejam administrados por via oral e 70 mg cheguem
inalterados à circulação sistêmica, pode-se inferir que sua
biodisponibilidade é de 70%. Na via endovenosa, 100% do
fármaco administrado atingem o plasma.

Analisando-se as concentrações plasmáticas em relação


ao tempo, em um gráfico, pode-se calcular a área sob a
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características químicas (polaridade (grau de
Tab.3.1: Fatores que influenciam sobre a ionização) e lipossolubilidade) do composto;
biodisponibilidade dos fármacos  do grau de ligação do fármaco a proteínas
plasmáticas e teciduais.

(a) Fluxo sanguíneo: varia de órgão a órgão;


(b) Permeabilidade capilar: depende da estrutura
capilar, por exemplo, fármacos lipossolúveis
penetram facilmente no SNC mesmo na ausência
de fenestrações entre as células endoteliais
adjacentes;
(c) Ligação de fármacos a proteínas: muitos
fármacos encontram-se no plasma, em
concentrações terapêuticas, ligados a proteínas,
sendo a fração não-ligada (fração livre) a forma
farmacologicamente ativa; quando ocorre a
ligação, esta é relativamente não-seletiva quanto
à estrutura química, ocorrendo em sítios da
molécula proteica e à medida que a concentração
do fármaco livre decai por distribuição, eliminação
(biotransformação ou excreção), o fármaco ligado
Bioequivalência se dissocia da proteína, mantendo a
concentração do medicamento livre, como se
Um estudo de bioequivalência tem por objetivo comparar fosse uma fração total constante do fármaco no
as biodisponibilidades de dois medicamentos considerados plasma.
equivalentes farmacêuticos ou alternativas farmacêuticas e
que tenham sido administrados na mesma dose molar. Tab.3.2 : Ligação dos fármacos à proteínas
Entende-se por equivalentes farmacêuticos os plasmáticas
medicamentos que contêm a mesma substância ativa, na
mesma dose e na mesma forma farmacêutica. Se nestas
condições as biodisponibilidades de dois medicamentos Fármaco Liga-se a:
forem consideradas similares, os seus efeitos, no que diz Ácido fraco albumina
respeito à eficácia e segurança dos mesmos serão
essencialmente os mesmos. Básico fraca α-1-glicoproteína
Em resumo, o teste de bioequivalência é um método
indireto de avaliar a eficácia e a segurança de qualquer No que diz respeito à ligação às proteínas plasmáticas,
medicamento contendo a mesma substância ativa que o algumas situações fisiológicas e/ou fisopatológicas podem
medicamento original, cuja ação seja dependente da alterar este acoplamento fármaco-proteína. Por exemplo, a
entrada na circulação sistêmica. O teste de bioequivalência hipoalbuminemia provocada por desnutrição, doença
consiste na demonstração de que o medicamento genérico hepática e último trimestre da gravidez, aumenta a
e seu respectivo medicamento de referência (aquele para concentração plasmática livre de fármacos ácidos livres; e,
o qual foi efetuada pesquisa clínica para comprovar sua o câncer, artrite, infarto agudo do miocárdio aumentam a
eficácia e segurança antes do registro; muitas vezes é concentração plasmática de α-1 glicoproteína, diminuindo
chamado de medicamento de marca) apresentam a a concentração plasmática de fármacos básicos.
mesma biodisponibilidade no organismo. A Com efeito, os fármacos mais ligados às proteínas
bioequivalência, na grande maioria dos casos, assegura plasmáticas são os que sofrem alteração no seu perfil
que o medicamento genérico é equivalente terapêutico do farmacológico quando deslocados dos seus sítios de
medicamento de referência, ou seja, que apresenta a ligação com a proteína-alvo. Assim, a warfarina que se liga
mesma eficácia clínica e a mesma segurança em relação em torno de 95 a 99% pode provocar hemorragia interna
ao mesmo. quando em uso concomitante com fármacos ácidos fracos
Assim seja, a definição legal do “medicamento genérico” é: que têm afinidade para com a albumina tais como
aquele que contém o mesmo fármaco (pincípio ativo), na salicilatos (ácido acetil salicílico – AAS).
mesma dose e forma farmacêutica, é administrado pela
mesma via e com a mesma indicação terapêutica do Alguns fármacos se acumulam nos tecidos em
medicamento de referência no país, apresentando a concentrações mais altas que aquelas dos fluidos
mesma segurança que o medicamento de referência no extracelulares e sangue, formando potenciais reservatórios
país, podendo este ser intercambiável. O Ministério da medicamentosos. Este mecanismo cria um reservatório
Saúde através da ANVISA, avalia os testes de que prolonga a ação do fármaco.
bioequivalência entre o genérico e seu medicamento de
referência, apresentados pelos fabricantes, para Eliminação dos Fármacos
comprovação da sua qualidade.
Perda irreversível dos fármacos do corpo através de dois
Distribuição processos: metabolismo (biotransformação/metabolização)
e excreção.
É um conjunto de processos pelos quais um fármaco é
transferido, reversivelmente, da circulação sistêmica para A- Biotransformação
todos os tecidos, passando para o interstício e/ou interior
das células; ou seja, é um processo de distribuição através Alguns fármacos, para serem excretados, necessitam
do sangue/linfa dependente de: sofrer transformações químicas, já que estes, em sua
 fluxo sanguíneo; forma ativa, tendem a ser lipofílicos e a permanecer não-
 permeabilidade capilar; ionizados, dificultando a excreção pela urina. Em alguns
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casos, os fármacos só se tornam farmacologicamente de oxigênio reativo é transferido para o fármaco, com
ativos, após terem sofrido metabolização. reciclagem do citocromo P450 oxidado no processo. .
Assim sendo, É um termo usado para indicar as alterações
químicas que ocorrem com os fármacos no interior do
organismo, quando são metabolizados e alterados por
diversos mecanismos bioquímicos que os tornam:
 Compostos mais ionizados;
 Compostos menos capazes de ser armazenados
em tecido adiposo;
 Compostos menos capazes de atravessar a
membrana celular;
 Compostos hidrossolúveis (polares).

Em geral, os medicamentos hidrossolúveis são facilmente


excretados pelos rins sem muitas vezes precisar passar
pelo processo de biotransformação.
Em suma, a biotransformação dos fármacos constitui
processos complexos que o fármaco sofre no organismo
receptor em algum ponto entre a absorção e a excreção
renal, sendo o fígado, o principal órgão envolvido no
metabolismo, mas ocorrendo também no plasma e em Fig.3.3 Mecanismo da reação do citocromo P450.
outros tecidos. Quadro Reações de oxidações do Citocromo P40

A biotransformação envolve basicamente dois tipos


principais de reações bioquímicas conhecidas como Quadro.3.1 Reações não-pertencentes ao Citocromo P450
reações de fase I e de fase II. Essa terminologia é
imprecisa e implica incorretamente uma ordem cronológica
das reações. Essas reações são geralmente mediadas por
enzimas, que convertem o fármaco em um composto
diferente do originalmente administrado (metabólito). Na
fase I as enzimas Introduzem ou expõem um grupo
funcional que leva à perda da atividade farmacológica
embora haja exemplos de aumento da atividade.
Tipicamente, as reações de fase I são reações de
oxidação, redução e hidrólise; as reações de oxidações
transformam o fármaco em metabólicos mais hidrofílicos
pela adição ou exposição de grupos funcionais polasres,
como grupos hidroxila (-OH), tiol (-SH) ou amina (-NH2).
As reações de oxidação envolvem enzimas associadas a
membranas, que são expressas no retículo
endoplasmático (RE) dos hepatócitos e, em menor grau,
das células de outros tecidos. As enzimas que catalisam
essas reações de fase I são tipicamente oxidases; essas
enzimas são, em sua maioria, hemoproteínas
monooxigenases da classe do citocromo P450. As
enzimas P450 (algumas vezes abreviadas por CYP) são
também conhecidas como oxidases de função mista Quadro.3.2 Reações não-pertencentes ao Citocromo P450
microssômicas. Essas enzimas estão envolvidas no
metabolismo de cerca de 75% de todos os fármacos
atualmente utilizados. (o termo P450 refere-se à
característica de pico de absorção em 450 nm dessas
hemoproteínas quando se ligam ao monóxido de carbono,
dando uma coloração pink (rosa em inglês), donde o
número 40 e a letra “P” de P450). O resultado final de uma
reação de oxidação que depende do citocromo P450 é o
seguinte:
Quadro.3.3 Reações de Redução
Fármaco + O2 + NADPH + H+ → Fármaco-OH + H2O + NADP+

A reação prossegue quando o fármaco liga-se ao


citocromo P450 oxidado (Fe3+), formando um complexo
que, a seguir, é reduzido através de duas etapas de
oxidação/redução sequenciais, conforme delineado na
Fig.3.3 O fosfato de nicotinamida adenina dinucleotídio
(NADPH) é o doador dos elétrons em ambas as etapas,
através de uma flavoproteína redutase. Na primeira etapa,
o elétron doado reduz o complexo citocromo P450-
fármaco. Na segunda etapa, o elétron reduz o oxigênio Quadro 3.4 reações de Hidrólise
molecular, formando um complexo de oxigênio ativado-
citocromo P450-fármaco. Por fim, à medida que o
complexo se torna mais ativo através de rearranjo, o átomo
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degradação, o que é chamado de indução enzimática. A
indução resulta em uma aceleração do metabolismo do
substrato e em geral em uma redução da ação
farmacológica do indutor e dos fármacos co-administrados.
A indução também pode levar a aumento de metabólitos
tóxicos, ou aumento do efeito terapêutico do fármaco
quando este é um pró-fármaco. Alguns poluentes
(hidrocarbonetos aromáticos policíclicos) como
componentes do tabaco e da carne grelhada do carvão
induzem a isoforma CYP1A, e alguns fármacos (por
exemplo, os barbitúricos –Fenobarbital-) induzem a
isoforma CYP3A.
Algumas substâncias inibem a atividade das enzimas do
citocromo P450, reduzindo sua síntese ou aumentando
sua taxa de degradação, o que é chamado de inibição
enzimática. A inibição resulta em uma desaceleração do
metabolismo do substrato e em geral em um aumento do
tempo da ação farmacológica do inibidor e dos fármacos
co-administrados substratos da enzima inibida. A inibição
também pode levar a um aumento de toxicidade dos
fármacos administrados repetidamente num regime
posológico de manutenção, devido ao acúmulo no
organismo; também pode levar a uma redução do efeito
terapêutico do fármaco quando este é um pró-fármaco. Por
Fig.3.4 Localização e estrutura da CYP450 exemplo, a codeína que é usada clinicamente como um
A seguir, um quadro que diferencia as reações de fase I analgésico de ação central em associação com o
das reações de fase II: paracetamol (paracetamol 500 mg + fosfato de codeína 30
mg) é substrato da isoforma CYP2D6 que pode ser inibida
Quadro.3.5: fase I X fase II pelo antidepressivo Fluoxetina, o que pode reduzir o efeito
terapêutico da codeína, pois sua conversão em morfina no
Reações Conceito organismo é grandemente impedida pela inibição da
enzima CYP2D6 pela fluoxetina; o que resulta num efeito
São reações (oxidação, redução ou analgésico reduzido. Fármacos como a cimetidina, ligam-
hidrólise) catabólicas e preparatórias se ao heme-ferro e reduzem o metabolismo de substratos
para as sínteses de fase II; conver- endógenos (testosterona). O Grapefruit, o suco de toranja,
tem o fármaco original em é um potente inibidor das enzimas do citocromo P450,
metabólitos mais polares, inclusive a isoenzima CYP3A4, o que faz com que vários
frequentemente mais reativos, medicamentos têm sua metabolização alterada quando em
algumas vezes mais tóxicos ou uso concomitante com o consumo desse suco.
mais carcinogênicos do que o
composto-base (substância original). Fatores que afetam o metabolismo
Em geral as reações são catalisadas
pelo sistema citocromo P450, mas  Variações inter-individuais (polimorfismos
também há enzimas mitocondriais ou genéticos*);
citosólicas responsáveis pela  Fatores ambientais;
biotransformação de um pequeno  Dieta;
grupo de compostos; ex.: MAO  Substâncias químicas (pesticidas, álcool, nicotina
(mono-amina oxidase) metaboliza etc.);
aminas simpaticomiméticas e álcool  Condições patológicas (hepatite, cardiopatia etc.);
desidrogenase que convertem os  Idade e sexo;
álcoois em seus aldeídos  Outros fármacos.
Fase I correspondente.
Envolve a conjugação, resultando *A resposta farmacológica em si é considerada
normalmente em compostos inativos; característica fenotípica. No componente genômico
se um metabólito oriundo da fase I responsável pela variedade de respostas, é relevante o
estiver suficientemente polar será polimorfismo genético, presente em cerca de 1% de
eliminado pelos rins, caso contrário, algumas populações, com distribuição étnica heterogênea.
sofrerá reações de conjugação Pequenas modificações em agentes metabólicos, como
subsequentes, até se tornar mais isoformas do citocromo P450, podem acarretar grandes
hidrossolúvel; a glicuronidação é a alterações em respostas a fármacos. Essas relações são
reação mais comum desta fase que estudadas pela farmacogenética, recente e promissor
contém também a Acetilação; ramo da terapêutica farmacológica. Convém salientar que
Conjugação de glutationa; não só a magnitude de efeitos terapêuticos é suscetível a
Conjugação de aminoácidos; essas influências, mas também a frequência e a gravidade
Fase II Sulfatação e a Metilação. de efeitos adversos.

B) 1. Excreção
Indução e Inibição enzimáticas
O organismo tende a eliminar xenobióticos que nele sejam
Algumas substâncias, sob administração repetida, induzem introduzidos e o faz através de diversas vias, as principais
o P450, aumentando sua síntese ou reduzindo sua taxa de vias são renal, pulmonar, o sistema hepatobiliar e o leite
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materno; a via excretória mais importante é a renal, por mecanismo mais eficaz para excreção de
meio da urina, mas existem outras vias secundárias, tais fármacos pelos rins.
como: fezes e glândulas (suor, saliva e lágrima). Os
fármacos podem ser eliminados inalterados ou convertidos Os fármacos básicos numa urina ácida estão
em metabólitos, a grande maioria, porém sofre predominantemente ionizados, o que faz com que eles
biotransformação parcial ou total. Como discutido no item tenham dificuldade de atravessar as membranas
metabolismo, a substância então quanto mais polar for, tubulares, ou seja, têm restrição à reabsorção tubular
mais facilmente será excretada, pois a lipofilicidade passiva; devido a essa ionização na urina ácida, os
proporciona à substância maior facilidade de reabsorção fármacos básicos sofrem o que é denominado de
pelas mucosas dos sistemas excretores. sequestro iônico ou aprisionamento iônico. Assim
quando a urina é ácida as substâncias básicas são
A eliminação de medicamentos e metabólitos pela urina melhor eliminadas (anfetaminas, cocaínas, heroínas
envolve os seguintes processos: filtração glomerular, etc.). Pode-se raciocinar da mesma sorte acerca dos
secreção tubular ativa e reabsorção tubular passiva. fármacos ácidos. Quando a urina é básica as
substâncias ácidas são melhor eliminadas. Por
(a) Filtração glomerular: os fármacos livres exemplo, diante de uma intoxicação com o ácido acetil
penetram nos rins pelas artérias renais, as quais salicílico (AAS), o clínico pode lançar mão da
se dividem para formar o plexo glomerular, alcalinização da urina com o bicarbonato de sódio
atravessam a rede capilar para o espaço de para aumentar a excreção do tóxico, pois assim ele
Bowman como parte do filtrado glomerular. A promove o sequestro iônico.
quantidade de fármaco que entra na luz tubular
por filtração é dependente da ligação fracionada Alguns fatores podem interferir na excreção renal dos
deste fármaco com as proteínas plasmáticas. fármacos tais como insuficiência Renal; redução do
Quando um fármaco se liga a albumina fluxo sanguíneo renal: hemorragias; insuficiência
plasmática, por exemplo, sua concentração no cardíaca; competição de dois fármacos pelo mesmo
filtrado é menor que a concentração plasmática, mecanismo de secreção; pH da urina e a idade.
pois a albumina não atravessa livremente a
barreira. A filtração glomerular corresponde a
20% do fluxo sanguíneo renal (240 ml/min) que B) 2. Exreção Biliar e Fecal
chega ao glomérulo através da arteríola aferente.
O líquido filtrado é isento de proteínas e
As células hepáticas transferem diversas substâncias,
elementos celulares. 80 % do fluxo sanguíneo
inclusive fármacos, do plasma para a bile por meio de
continuam pela arteríola eferente. O que
sistemas de transporte semelhantes aos do túbulo renal,
teoricamente significa dizer que somente as
OCTs e OATs e glicoproteínas P (P-gp). Vários
moléculas dos fármacos contidos nesses 20%
conjugados hidrofílicos de fármacos (especialmente
sofrerão filtração glomerular, o grande restante
glicuronídeos) são concentrados na bile e levados para o
continuará no plasma com os 80% do sangue que
intestino, onde o glicuronídeo é hidrolisado, liberando o
não sofreram filtração glomerular.
fármaco ativo novamente; o fármaco livre pode então ser
(b) Reabsorção tubular passiva: à medida que o
reabsorvido e o ciclo se repetir (circulação êntero-
filtrado glomerular chegue ao túbulo, a água é
hepática). Esse processo cria um “reservatório” de fármaco
reabsorvida no túbulo proximal, sendo que o
recirculante que pode representar até cerca de 20% do
volume que emerge como urina é apenas 1%
total de fármaco presente no organismo, prolongando sua
daquele filtrado (aproximadamente 2 l dos 180
ação. Exemplos em que isso é importante incluem a
l/dia de um paciente de 70 kg). O restante dos
morfina e etinilestradiol. Diversos fármacos são eliminados
99% do filtrado glomerular sofre a reabsorção
pela bile em quantidades consideráveis. A rifampicina é
tubular passiva. Fármacos lipossolúveis são mais
absorvida no intestino e desacetilada lentamente, retendo
reabsorvidos por atravessarem mais facilmente as
sua atividade biológica. As duas formas são secretadas na
membranas das células tubulares. Se, por outro
bile, mas a forma desacetilada não é reabsorvida e, assim,
lado, o fármaco for polar (hidrossolúvel) o mesmo
com o passar do tempo, a maior parte do fármaco
permanecerá nos túbulos renais e sua
abandona o organismo nessa forma através das fezes.
concentração aumentará até ficar cerca de 100
vezes mais alta na urina que no plasma. O
Parâmetros farmacocinéticos
gradiente de concentração para a difusão
retrógrada é criado pela reabsorção de água com
(a) “Steady State” (Concentração no Estado de
sódio e outros íons inorgânicos.
Equilíbrio - Css): é o estado em que a quantidade
de fármaco administrada é igual à quantidade de
(c) Secreção tubular ativa: Nos túbulos proximais fármaco eliminada dentro de um intervalo de
os fármacos são transferidos para a luz tubular doses, resultando num platô ou nível sérico do
mediante dois sistemas transportadores fármaco constante. O atingimento desse platô
independentes e relativamente não-seletivos. Um ocorre em volta da quarta a quinta meia-vida do
deles transporta substâncias ácidas fármaco quando usao num regime de dose
(transportadores de ânions orgânicos – OAT) e, o períodoca (dose de manutenção).
outro, substâncias básicas orgânicas (b) “meia-vida” Trata-se de um conceito crono-lógico,
(transportadores de cátions orgânicos – OCT). indicando o tempo em que uma grandeza
Esses sistemas podem reduzir a concentração considerada se reduz à metade do valor inicial,
plasmática do fármaco a quase zero, sendo, portanto, em farmacocinética, o tem-po
transportando-o contra um gradiente necessário para a concentração de determinado
eletroquímico. Como, pelo menos, 80% do medicamento no corpo ser reduzido pela metade.
fármaco que chega ao rim é apresentado ao É um índice básico que origina dados importantes
transportador, a secreção tubular representa o para a interpretação dos efeitos tera-pêuticos ou
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tóxicos das drogas, da duração do efeito o fármaco proporciona maior benefício quando atinge a
farmacológico e do regime posológico adequado. concentração plasmática terapêutica de equilíbrio, aquela
(c) “Volume de distribuição (Vd)” relaciona a que é chamada de concentração plasmática de steady
quantidade total de fármaco no corpo (Dose) com state (estado de equilíbrio).
a concentração do fármaco (Css) no plasma ou Daí a importância clínica da curva de biodisponibilidade na
no fluido medido. Não se trata de um volume terapêutica farmacológica. Nessa curva concentração x
fisiológico identificado, mas meramente um tempo, pode-se determinar a dose terapêutica, o início e a
volume de fluido que seria necessário para duração da ação, o efeito máximo. Com essa curva,
armazenar todo o fármaco contido no corpo na determina-se a concentração plasmática mínima eficaz
mesma concentração presente no plasma. Para Nível
ser mais fidedigno com a distribuição dos plasmático
Cp mínimo
fármacos no organismo, poderia-se chamar esse (mg/ Concentração tóxico
parâmetro de Espaço de distribuição. máxima
dl)
(d) “Clearance” ou depuração é o volume de sangue
totalmente depurado de um fármaco por unidade JANELA
de tempo (ml/min). Há uma equação que TERAPÊUTICA
relaciona o clearance com o Vd e a meia- vida
que é a seguinte: Início de ação
Nível
plasmático
, 693 Duração da ação mínimo eficaz

1/2

O clearance é inversamente propor-cional à meia-


vida de eliminação (t1/2) e diretamente propor-
cional ao volume aparente de distribuição (Vd); Fig.3.4: Janela Trapêutica
para qualquer valor de Vd, quanto maior for o
clearance da droga, maior será a sua eliminação; (CPME), que representa a concentração a partir da qual o
para qualquer valor de meia-vida de eliminação fármaco age clinicamente no organismo receptor. Abaixo
(t1/2) quanto maior o volume de distribuição (Vd), da CPME, têm-se concentrações subterapêuticas que não
maior será o clearance do fármaco. apresentam praticamente nenhum efeito
farmacoterapêutico. Acima da CPME as concentrações
Os princípios farmacocinéticos relacionam a concentração são terapêuticas até um nível que é representado pela
do medicamento à variação do tempo, particularmente no concentração plasmática mínima tóxica (CPMT), também
plasma, soro e sangue total. A resposta produzida por um conhecida como concentração máxima tolerada. Acima da
fármaco que age de forma sistêmica é relacionada, de CPMT, o fármaco já apresenta efeitos tóxicos. Entre a
qualquer sorte, à quantidade do fármaco que entra no CPME e a CPMT (entre o nível plasmático mínimo eficaz e
organismo e ao tempo que o medicamento permanece o nível plasmático mínimo tóxico), as concentrações
plasmáticas ali contidas constituem a janela terapêutica
nele. Raramente se pode medir o fármaco diretamente no
sítio de ação, tal como o cérebro ou o coração. De (ver fig.3.4). O grande objetivo de todo esquema
preferência, volta-se para locais mais acessíveis a fim de posológico médico é o medicamento alcançar a janela
avaliar a exposição do fármaco. Vários locais são usados terapêutica e ali permanecer enquanto perdurar o
para avaliar a exposição de fármacos, incluindo o plasma, tratamento medicamentoso.
o soro, o sangue total e a urina. Os três primeiros desses Assim sendo, existe uma relação dose-efeito (pois para
fluidos são obtidos por técnicas invasivas. Leite, saliva e que haja uma concentração no plasma é mister haver uma
urina são obtidos de forma não-invasiva. Na prática, o dose que outorga tal concentração) que consiste em
plasma é preferível ao sangue total primeiramente porque estabelecer quantos indivíduos de uma população
este causa interferências em muitoss métodos de respondem com determinada intensidade de efeito a uma
quantificação. O plasma e o soro produzem dada dose de fármaco (relação quantal). Assim se calcula
essencialmente concentrações equivalentes do fármaco, a dose efetiva média ou DE50, com a qual 50% dos
mas o plasma é considerado de mais fácil preparo porque indivíduos testados mostram resposta. Quando se avaliam
para a obtenção do soro é necessário que o sangue seja efeitos indesejáveis, fala-se em dose letal média (DL50) ou
coagulado. Durante esse processo pode ocorrer hemólise, dose tóxica média (DT50), se o efeito não é morte. Esses
produzindo uma concentração que não é nem a do plasma parâmetros são determinados em animais de
nem a do sangue; ou, ainda, a hemólise pode causar experimentação. Em pessoas é muito difícil, senão
interferência nos métodos de quantificação do fármaco. Ao impossível, a sua determinação. Na terapêutica
quantificar o fármaco no plasma (ou soro), a concentração farmacológica são conhecidas concentrações eficazes (às
total que inclui fármaco livre e ligado às proteínas vezes também as tóxicas) de muitos medicamentos, mas
determina o perfil de exposição sistêmica por tempo que é não de todos. Isso impede que relações entre esses
uma função da taxa e da extensão de entrada (absorção), parâmetros tenham aplicação generalizada.
distribuição e eliminação do fármaco. Todo fármaco produz respostas terapêuticas e reações
Aplicado à terapêutica, os princípios farmacocinéticos adversas. Uma forma aproximada de estabelecer sua
ajudam na seleção e ajuste da dose do fármaco, dos segurança relativa é comparar DT50 (ou DL50) com DE50.
A razão entre as duas doses é chamada de índice
esquemas de dose e facilitam a interpretação das
terapêutico (IT). Quanto maior for a diferença entre a dose
concentrações plasmáticas (ou séricas) medidas.
Estes princípios têm uma ampla utilidade como guia da terapêutica média e a que pode intoxicar (IT =
DT50/DE50), maiores serão o IT e a segurança do
terapêutica, considerando o organismo um compartimento
medicamento. O IT reflete, numericamente, o tamanho da
único – modelo cinético elementar. Sendo assim,
empreende-se que o efeito farmacológico e, janela terapêutica; fármacos que apresentam índices
consequentemente, o efeito terapêutico estão mais terapêuticos muito pequenos, como digitálicos e sais de
relacionados às concentrações plasmáticas do fármaco lítio, são de difícil manejo clínico, sendo frequentes as
que à dose administrada, ou seja, do ponto de vista clínico, intoxicações. Um mesmo fármaco pode apresentar mais
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de um índice terapêutico se for utilizado em situações comprovada a sua eficácia, segurança e qualidade e
clínicas que requeiram doses diferentes. A janela designado
terapêutica do AAS, por exemplo, decresce em usos pela denominação comum brasileira (DCB) (denominação
antiplaquetário, analgésico e anti-inflamatório porque as do fármaco aprovada pelo órgão federal responsável pela
doses necessárias para os tratamentos são, vigilância sanitária) ou, na sua ausência, pela
respectivamente, pequenas, médias e grandes. denominação comum internacional (DCI) (denominação do
fármaco recomendada pela Organização Mundial de
Saúde).
Mini glossário
4. FARMACODINÂMICA
Equivalentes Farmacêuticos
A farmacodinâmica é uma ciência experimental que estuda
São medicamentos contendo a mesma substância ativa, quantitativamente os efeitos bioquímicos e fisiológicos dos
na mesma quantidade e forma farmacêutica. Devem fármacos e de seus mecanismos de ação, por meio da
cumprir com as mesmas especificações atualizadas da combinação do fármaco com uma macromolécula celular
Farmacopéia Brasileira e, na ausência destas, com a de
que se liga ao fármaco e medeia as suas ações
outros códigos autorizados pela legislação.
farmacológicas. Essa macromolécula é denominada
Medicamentos bioequivalentes receptor. Atualmente temos quatro principais tipos de
receptores bem conhecidos e estudados:
Medicamentos equivalentes farmacêuticos ou alternativas  Receptores ligados a canais iônicos, também
farmacêuticas, que ao serem administrados na mesma chamados de ionotrópicos (ex.: receptor nicotínico
dose molar e condições experimentais, não demonstram de Acetilcolina;
diferenças estatisticamente significativas em relação à  Receptores ligados à quinase, também conhecidos
biodisponibilidade. como receptores transmembrana com domínios
citosólicos enzimáticos (ex.: receptor d insulina);
Alternativas farmacêuticas  Receptores intracelulares ligados à transcrição
gênica (ex.: receptor de estrogênio);
São medicamentos contendo a mesma substância ativa ou
 Receptores acoplados à proteína G, também
seu precursor, mas não necessariamente na mesma
quantidade ou forma farmacêutica. Devem cumprir com as chamados de metabotrópicos (ex.: receptor beta-
mesmas especificações atualizadas da Farmacopéia adrenérgico).
Brasileira e, na ausência destas, com a de outros códigos
autorizados pela legislação. Ex. fenacetina e paracetamol. Em geral, os receptores existem por existirem algumas
substâncias endógenas que se ligam a eles; essas
Medicamento similar substâncias que se acoplam aos receptores são chamadas
de ligantes ou ligandos endógenos. Os receptores, na
Aquele que contém o mesmo ou os mesmos princípios verdade, são os elementos sensores no sistema de
ativos, apresenta a mesma concentração, forma comunicações químicas que coordenam a função de todas
farmacêutica, via de administração, posologia e indicação as diferentes células do organismo, sendo mensageiros
terapêutica, preventiva ou diagnóstica do medicamento de químicos os vários hormônios, transmissores e outros
referência registrado no órgão federal responsável pela mediadores. Quando, por exemplo, a acetilcolina se liga à
vigilância sanitária, podendo diferir somente em subunidade α do receptor nicotínico, o canal é aberto,
características relativas ao tamanho e forma do produto, permitindo a passagem de sódio. Já outros receptores, que
prazo de validade, embalagem, rotulagem, excipientes ou não são canais iônicos, desencadeiam uma cascata de
veículos, devendo sempre ser identificado por nome eventos pela ação de segundos mensageiros, conduzidos
comercial ou marca por proteínas intermediárias. Por exemplo, nos receptores
metabotrópicos, as proteínas G (vários tipos) medeiam as
Medicamento inovador ações que culminam à formação de segundos
mensageiros. As proteínas G foram assim denominadas
Medicamento apresentando em sua composição ao menos devido a sua interação com os nucleotídeos de guanina,
um fármaco ativo que tenha sido objeto de patente, mesmo trifosfato de guanosina (GTP) e difosfato de guanosina
já extinta, por parte da empresa responsável pelo seu (GDP). Elas consistem em três subunidades α, β e γ. Os
desenvolvimento e introdução no mercado no país de núcleotides ligam-se á subunidade α, que tem atividade
origem, e disponível no mercado nacional. enzimática, catalisando a conversão do GTP em GDP. As
subunidades β e γ permanecem unidas na forma de um
Medicamento de referência complexo βγ. No estado de repouso, a proteína G aparece
como um trímero αβγ não ligado, com o GDP ocupando o
Medicamento inovador registrado no órgão federal sítio na subunidade α. Quando um receptor acoplado à
responsável pela vigilância sanitária e comercializado no proteína G é ativado por uma molécula ligante (ligando) no
País, cuja eficácia, segurança e qualidade foram domínio extracelular, ocorre uma mudança conformacional
comprovados cientificamente junto ao órgão federal envolvendo o domínio citoplasmático do receptor, levando-
competente, por ocasião do registro. o a adquirir uma alta afinidade para αβγ. Assim, os
receptores acoplados á proteínas G, quando estimulados,
Medicamento genérico causam a dissociação do GDP ligado e sua substituição
por GTP (permuta GDP-GTP), o que por sua vez causa a
Medicamento similar a um produto de referência ou dissociação do trímero da proteína G, liberando as
inovador, que pretende ser com este intercambiável, subunidades α-GTP e βγ; estas são as formas ativas da
geralmente produzido após a expiração ou renúncia da proteína G, que se difundem na membrana e podem agir
proteção da patente ou de outros direitos de exclusividade, diretamente nos canais iônicos (receptores para adrenalina
e noradrenalina são acoplados à proteína G), ou ativar
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uma enzima alvo adenilciclase (pode ser estimulada ou máximo mais intenso que B; os medicamentos A e B
inibida por diversos receptores através das proteínas G), a produzem curvas de dose-respostas paralelas. A CE₅₀ do
qual catalisa a transformação de ATP em AMPc, que, por medicamento B é maior que a CE₅₀ da curva do
sua vez, ativa as enzimas quinases, que irão fosforilar medicamento A, em consequência, por isso que se pode
diversas proteínas, resultando na abertura dos canais de dizer que A é mais potente do que B.
cálcio e modulação de outras enzimas. Outra enzima alvo
é a fosfolipase C que leva à formação de inositol trifosfato
e diacilglicerol que, por sua vez, ativam outros alvos. Com
efeito, o estímulo dos receptores leva à transmissão de
uma série de reações bioquímicas que coordenam a
maioria dos efeitos fisiológicos (Fig.4.1). A

50

100
Log [agonista]

Fig.4.2: diferença entre potência e eficácia

É importante ressaltar que a potência e a eficácia se


Fig.4.1: A função da proteína G.
confundem muito na terminologia médica – no entanto, na
terapêutica farmacológica a eficácia é mais importante do
Na Farmacodinâmica, alguns parâmetros são variáveis que a potência, pois um mediamente mais potente é
importantes que norteiam o entendimento dessa ciência aquele que tem menos dosagem para ser administrado,
que, junto com a Farmacocinética, representa a base de isto significa que o paciente terá somente que tomar
toda a Farmacologia. A seguir, a Tab.4.1 mostra as comprimidos com dosagens pequenas.
vaiáveis e seus conceitos.
Algumas substâncias podem ser quimicamente atraídas ao
A maior parte dos fármacos difere dos alimentos e de receptor, isto é, ter afinidade para com o receptor da
substâncias químicas inertes por suas variáveis farmaco- mesma forma que o ligante endógeno. Por exemplo, uma
dinâmicas. Um medicamento é potente quando tem grande substância química semelhante à acetilcolina (Ach) pode
atividade biológica por unidade de peso. Quando se se ligar ao receptor nicotínico da mesma forma do que a
dispõem a dose de um fármaco em escala logarítmica, Ach e promover, desta forma, a contração muscular; assim
contra um efeito mensurável, se obtém uma curva age a nicotina. Na farmacodinâmica, as substâncias que
sigmoide (semilogarítmica) – curva dose-resposta – onde interagem com um receptor e desencadeiam uma resposta
para indicar a potência de um fármaco, considera-se a celular, são denominadas agonistas; a acetilcolina e a
dose (ou a concentração) que proporciona 50% do efeito nicotina são agonistas dos receptores da placa terminal
máximo (DE50 ou CE50) (Fig.4.2).
muscular esquelética (receptores nicotínicos). Por outro
O gráfico abaixo mostra a diferença entre potência e lado, há substâncias que, apesar de serem semelhantes à
eficácia. O medicamento A é muito mais potente que o acetilcolina (ou não) interagem com o receptor, mas não
medicamento B, e também apresenta um efeito maior do são capazes de induzir uma alteração necessária para
que o do medicamento B; A não é somente mais potente,
mas também possui maior eficácia, produzindo efeito

Tabela 4.1 - Variáveis da Farmacodinâmica


Mede a força de ligação entre fármaco e receptor, é determinada pelos tipos e
números de ligações químicas; reflete a tendência de um fármaco se ligar ao
Afinidade receptor.
É o efeito máximo, ou a habilidade de um fármaco, uma vez ligado ao receptor (por
ter afinidade), modificar a sua função; refere-se à resposta terapêutica máxima
Eficácia potencial que um medicamento pode produzir. Depende da quantidade de complexo
(efeito fármaco-receptor que é formado e da capacidade com que o receptor ativado produz
máximo) a ação celular.
Sensibilidade de um órgão ou tecido ao fármaco ou a habilidade de determinada
dose provocar uma resposta biológica; expressa como a quantidade de fármaco que
desencadeia 50% da resposta máxima (CE50); comparando dois fármacos, pode-se
afirmar que quanto menor a dose necessária, mais potente é o fármaco. Em geral,
fármacos de alta potência apresentam alta afinidade pelo receptor, ocupando
Potência proporção significativa deste.
Agonista Fármaco que modifica a atividade de um receptor específico.
Uma substância química que se liga a um receptor mas não produz resposta
Antagonista biológica.
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aos receptores, mas ao contrário dos agonistas, não os
provocar a entrada de sódio na célula, com isso, a ativam, ou seja, apresentam teoricamente nenhuma
contração da fibra não é desencadeada, contudo, por eficácia (pequena ou nula) exercendo seus efeitos ao
ocupar o sítio ativo do receptor, a substância inibe a impedirem a ligação do agonista ao receptor, normalmente
interação da acetilcolina com o mesmo – este tipo de do agonista endógeno.
fármaco é denominado de antagonista.

Com base na resposta farmacológica máxima (eficácia), (a) Antagonismo Farmacocinético: um fármaco eu afeta a
quando todos os receptores estão ocupados, os agonistas absorção, o metabolismo ou a eliminação de outro;
podem ser divididos em:
(b) Antagonismo fisiológico (funcional): Interação entre dois
(a) Agonista integral (agonista pleno ou agonista total): fármacos agonistas que atuam de forma independente,
agonista clássico que quando em concentração suficiente, mas que geram efeitos opostos, sendo que cada um deles
provoca resposta máxima desencadeada pela ativação do tende a cancelar ou reduzir o efeito do outro. Ex.:
receptor; acetilcolina e adrenalina apresentam efeitos opostos em
(b) Agonista parcial: mesmo com uma ocupação total dos várias funções corporais
receptores, produz uma resposta menor que o agonista
integral; (c) Antagonismo químico: envolve uma interação química
direta entre o antagonista e o agonista de forma a tornar o
agonista farmacologicamente inativo, tem-se como
exemplo, o emprego de agentes quelantes que se ligam a
metais pesados e, assim, reduzem sua toxicidade –
dimercaprol se liga ao mercúrio e o composto inativo é
excretado na urina.

(d) Antagonismo competitivo: Quando o agonista e o


antagonista competem pelo mesmo sítio de ligação no
receptor, o antagonismo é chamado de competitivo. Nesse
caso o antagonismo pode ser:
 Competitivo reversível
Quando a ligação do antagonista com o receptor pode ser
revertida, isto é, o antagonista pode ser deslocado pelo
agonista da sua ligação, dependendo da dose do agonista.
O antagonismo aumenta à medida que a concentração do
Fig.4.3: Agonista parcial vs agonista pleno.
antagonista aumenta, contudo, a ação deste antagonista
(c) Agonista inverso: mutações podem ocorrer pode ser superada aumentando-se a concentração do
espontaneamente ou em processos patológicos e agonista para os receptores; ex: atropina antagonista
resultarem na ativação de receptores, mesmo sem ligantes reversível da acetilcolina;
(ex: receptores dopamina); um agonista inverso pode ser
considerado como droga de eficácia negativa,
diferenciando-se do agonista que possui eficácia positiva e
do antagonista com eficácia nula.

Antagonismo ocorre quando o efeito conjunto de dois


fármacos é menor que a soma dos efeitos isolados de
cada uma delas, ou seja, ocorre quando duas substâncias
podem interagir com um mesmo receptor, e uma delas
impede a ação máxima da outra. Na farmacologia, quando
uma substância é denominada de antagonista, trata-se de
uma substância que tem finidade para com o receptor, liga-
se ao receptor, porém não produz nenhum efeito biológico,
ou seja, não tem eficácia biológica; sendo assim, por
ocupar o sítio ativo do receptor, impede o agonista de ligar- Fig.4.4: Interação agonista vs antagonista
se e produzir seus efeitos biológicos adequadamente, competitivo
diminuindo ou anulando suas ações.
A - agonista isolado; B – agonista em presença de
Os antagonismos medicamentosos podem ser de diversos antagonista reversível; C – agonista em presença de maior
tipos: concentração de antagonista reversível; se tiverem várias
 Antagonismo farmacocinético; curvas, a primeira sem antagonista e as outras com
 Antagonismo fisiológico; concentrações crescentes de antagonista, paralelas e cujo
 Antagonismo químico. efeito máximo se iguala, tem-se um antagonismo
 Antagonismo competitivo reversível, ou seja, o antagonista desvia a curva para a
 Antagonismo não-competitivo direita, mas o efeito máximo continua a ser possível, sendo
necessária uma concentração maior de agonista para
Todavia, o mais comum entre os fármacos encontrados na alcançá-la;
prática clínica, é o competitivo; estes antagonistas se ligam  competitivo irreversível
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A curva não é desviada para a direita com este tipo de
antagonista e a concentração para se atingir metade da
Tabela 4.2: Antagonistas resposta máxima (potência) mantém-se.

Nem todos os alvos proteicos para a ação de fármacos


Reversíveis Afetam somente a potência; sobre as células de mamíferos diz respeito a receptores.
Outros alvos farmacológicos podem ser, no geral, canais
iônicos, enzimas e moléculas carregadoras
Competitivos Irreversíveis Afetam potência e eficácia; (transportadoras).

O efeito de uma substância pode diminuir gradualmente


Não - competitivos Afetam somente a eficácia; quando administrada de modo contínuo ou repetidamente.
Alguns mecanismos podem ser a causa disso: alteração
se a ligação é covalente (firme), a combinação do dos receptores; perda dos receptores; exaustão dos
antagonista é denominado “competitivo irreversível”. mediadores; aumento de degradação metabólica;
adaptação fisiológica e exaustão ativa das substâncias das
células.

5. MECANISMOS DE
BIOTRANSFORMAÇÃO DE
XENOBIÓTICOS
Xenobióticos:
substâncias químicas ou moléculas que são estranhas
para o sistema biológico, tendo uma origem externa (ex.:
suabstâncias tóxicas no meio ambiente, fitoquímicos,
fármacos)

Detoxificação:
todo processo com o intuito de diminuir o impacto negativo
de xenobióticos (substâncias tóxicas e não tóxicas) nos
Fig.4.5: Interação do agonista vs antagonista processos corporais. O processo de detoxificação envolve
irreversível a biotransformação de moléculas endógenas e exógenas
em metabólitos excretáveis. O termo detoxificação é às
Nas curvas, mesmo aumentando a concentração de vezes usado para se referir especificamente ao processo
agonista, não existe quantidade de agonista capaz de intracelular de biotransformação.
alcançar de alcançar de novo uma resposta máxima.
A biotransformação, como discutida anteriormente,
 Antagonismo não-competitivo submete o fármaco a reações químicas, geralmente
Ocorre quando o antagonista bloqueia, em algum ponto, a mediadas por enzimas, que o convertem em um composto
cascata de eventos da resposta desencadeada pelo diferente do originalmente administrado (metabólito).
agonista, dessa forma, o antagonista não compete com o Introduzem ou expõem um grupo funcional – FASE I que
agonista pelo sítio de ligação no receptor, mas bloqueia o leva perda da atividade farmacológica embora haja
sinal que o agonista desencadeia. exemplos de aumento da atividade. As reações oxidantes
incluem hdroxilação, desaminação. Formação de uma
ligação entre o grupo funcional com ácido glicurônico,
sulfato ou glicina representa a etapa da Fase II; o fármaco
geralmente torna-se inativo e é excretado.

Os xenobióticos altamente lipofílicos e metabolicamente


estáveis, normalmente, se acumulam no tecido adiposo.
Qunaod passam pela Fase I sofrem bioativação ou
bioinativação. Em seguida, se forem polares, são
excrtados pela excreção renal. Mas, frequentemente, se
ainda têm certa lipofilicidade, sofrem as reações de Fase II
para se tornarem mais hidrofílicos e em seguida
excretados pela bile ou pelos rins. Em geral, os
xenobióticos hidrofílicos não necessitam de
biotransformação, já são detoxificados pela eliminação
renal.

Fig.4.6: interação agonista vs antagonista não-


competitivo
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TABELA 5.1 A seguir ão listados os tipos de reações Este intermediário é conjugado com a glutationa reduzida
de Fase I. do pool intracelular, permitindo assim a sua destoxificação
(Xu et al., 2008). Em caso de sobredosagem ou baixos
níveis de glutationa, o NAPQI livre rapidamente se liga
covalentemente ao grupo tiol de proteínas celulares e
induz uma série de eventos, tais como a oxidação de
lípidos membranares e fragmentação de DNA e RNA,
resultando na morte da célula (Fig.5.1)

FIG.5.1 Biotransformação do paracetamol


Fig.: biotransformação do paracetamol.
Na Fase II, há seis principais vias de detoxificação que são
a sulfaação, a glicuronidação, a conjugação à glutationa, a
acetilação, conjugação a aminoácidos e metilação.

A seguir, cinco das seis vias de detoxificação da Fase II e


suas considerações:

TABELA 5.2 As principais atividades de detoxificação


da Fase II:

Para entender como funciona a detoxificação, vamos


tomar como exemplo a molécula do paracetamol
(acetaminofeno):
Em condições normais, menos de 10% do paracetamol é
metabolizado pelas isoenzimas do citocromo P450,
sobretudo as CYP 2E1, 1A2 e 3A4, resultando na
formação de um intermediário hepatotóxico, o N-acetil-p-
benzoquinoneimina (NAPQI).
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Tabela 5.3: reações de Fase II e suas considerações


Via Responsável para a conjugação de: Considerações do trabalho

Glutationação Pesticidas Precursores da glutationa (cisteína,


Uma via significativamente usada que Paracetamol glutamina, glicina)
é dependente do tripeptídeo (cisteína, Metais tóxicos (Hg, Cd, Pb) Metionina, DIM/vegetais crucíferos,
glutamina, glicina). Penicilina vitaminas B2, B6, C, Selênio, cardo-
Os indivíduos com diagnóstico de Tetraciclina de-santa-maria.
artrite, diabetes, ou doença cardíaca Álcool
podem ter níveis de glutationa mais
baixos do que os indivíduos sadios.

Sulfatação Hormônios esteroides (estrogênios, amino-ácidos contendo enxofre


dependente de suprimento depletável progesterona, DHEA e melatonina). (cisteína, metionina, taurina) comidas
do sulfato inogârnico. A sulfatação é Fenóis (grupos hidroxila aromáticos ricas em enxofre; Molibdênio (co-fator
“taxa limitada” pela quantidade de incluindo histamina, dopamina, ácido para oxidase sulfite) Auxilia outras vias
sulfato disponível no fígado. gálico e cumarina) Catecolaminas quando necessário
Mecanismo compensatório para (adrenalina, noradrenalina)
outras vias da Fase II

Glicuronidação Hormônios sexuais (especialmente D-glucarato de cálcio, Magnésio,


estimada em 33% de todas as drogas estrogênios), Paracetamol, AINES Zinco, Vitaminas do complexo B,
metabolizadas pela detoxificação da Benzodiazepínicos Ácidos graxos essenciais
Fase II

Glicinação Os ácidos salicílicos, por exemplo, a Glicina, Vitamina B6, Magnésio,


Predominantemente envolvida na Aspirina salicilatos reduzidos
conjugação de salicilatos. Ácidos benzoicos (achados em alguns
óleos e conservantes de alimentos)
Ácidos fenilacéticos (achados em
nozes e cigarros)

Obs.: O complemento dessa parte está nos slides da aula


sobre mecanismos de biotransformação de xenobióticos. O mecanismo de ação dos anabolizantes mimetiza o
. mecanismo da testosterona, ou seja, as ações dos
6. ANABOLIZANTES androgênios. As ações biológicas dos androgênios são
classificadas de acordo com os sítios (órgãos e sistemas
do corpo humano) em que estes interagem. Assim, efeitos
O uso abusivo de anabolizantes está reacionado com um androgênicos estão relacionados com o aparelho
transtorno psiquiátrico chamado de VIGOREXIA que é reprodutor e caracteres sexuais secundários, enquanto a
caracterizado pelo culto ao corpo, com uma obsessão por atuação sobre outros tecidos, como o tecido muscular,
torná-lo musculoso, nunca se satisfazendo com o estado refere-se a efeitos anabólicos. Logo, a diversidade das
alcançado (Transtorno dismórfico corporal, presente respostas observadas é determinada pelos órgãos onde se
também nos anoréxicos). processa a atividade hormonal, a partir do mecanismo de
ação molecular proposto para esses compostos.
Os Anabolizantes são hormônios responsáveis pela
homeostase das funções vitais do organismo e mimetizam Então o que são os anabolizantes que todo mundo
os efeitos anabólicos da testosterona, possuem a fala?
propriedade de ativar o metabolismo proteico, retêm o  São drogas fabricadas para substituírem o
nitrogênio e aumentam a atividade do mRNA. hormônio masculino Testosterona;
 São usados como medicamentos para tratamento
O anabolismo é a parte do metabolismo que se refere à de pacientes que não produzem quantidade
síntese de substâncias em um organismo, ou seja, a partir suficientes de Testosterona. Os principais
de precursores pequenos e simples, são biossintetizadas medicamentos esteróides anabolizantes utilizados
moléculas maiores e mais complexas, incluindo lipídeos, no Brasil são: Durasteton® , Deca-Durabolin® ,
polissacarídeos, proteínas e ácidos nucleicos. As Androxon®;
reações anabólicas necessitam de energia, geralmente na  Auxiliam no crescimento dos músculos (efeito
forma de potencial de transferência do grupo fosforil do anabólico) e no desenvolvimento das
ATP e do poder redutor de NADH, NADPH e FADH. características sexuais masculinas (voz grossa,
Também chamado de Biossíntese. E, Ocorre pela própria não desenvolvimento das glândulas mamárias,
reação natural do corpo (atividade física, nutrição e a desenvolvimento do tórax, pelos, barba, etc.
suplementação adequada, ou pelo introdução de drogas) (efeito androgênico).
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Essas drogas podem ser encontradas comercialmente em 7. FÁRMACOS PARA O TRATAMENTO
formações farmacêuticas comprimidos, intramuscular e
cápsulas.
DA OBESIDADE

Quais os efeitos a curto e a longo prazo dos Resinas de troca iônica (sequestradores de ácidos
anabolizantes no corpo? biliares)

Homens e adolescentes: Capturam o colesterol no lúmen intestinal diminuindo sua


 calvície e crescimento irreversível das mamas absorção e interrompendo a circulação êntero-hepática;
(ginecomastia); Não reduzem a absorção dos triglicerídeos podendo
 dificuldade ou dor em urinar; aumentá-la, sobretudo em pacientes com
 redução da produção de esperma Impotência hipertrigliceridemia; Reduzem o LDL-c de forma dose-
dependente. Por exemplo, Colestiramina (Questran Light
Mulheres e adolescentes: ®).
aparecimento de sinais masculinos como:
 crescimento excessivo de pelos no corpo; Orlistat
 crescimento dos pelos faciais (bigode e barba); Inibidor das lipases intestinais. Atua ligando-se
 perda de cabelo; covalentemente aos sítios catalíticos das lipases gástrica e
 engrossamento da voz; pancreática. Diminui a absorção de triglicerídeos ingeridos
 diminuição dos seios. em 30%. Dose recomendada de 360 mg/dia

Em pré-adolescentes e adolescentes de ambos os Anorexígenos


sexos: Muitos dos fármacos anorexígenos podem causar
Inibem precocemente o crescimento levando-os a ter uma dependência química, insônia, irritabilidade, taquicardia e
estatura baixa para sempre. hipertensão arterial, além de estar relacionadas à
incidência de depressão, crises de ansiedade e pânico.
Em homens e mulheres (qualquer faixa etária):
 desordem na coagulação do sangue; “Os supressores do apetite de ação no sistema nervoso
 oleosidade do cabelo e aumento de central não têm real valor no tratamento da obesidade uma
agressividade; vez que não melhoram a perspectiva de tratamento a
 tumores (câncer) no fígado; longo prazo. Eles são simpaticomiméticos e a maioria tem
 alteração no colesterol; intenso efeito estimulante para o sistema nervoso central.”
 hipertensão, doença cardíaca, acné, Muitos desses fármacos foram retirados do mercado
devido seus efeitos deletérios no SNC e no SCV
Em altas doses (qualquer faixa etária): (anfetaminas e seus congêneres).
 aumentam a irritabilidade e agressividade (luta
física); Sibutramina
 euforia, aumento da energia, alteração de humor; Agente serotoninérgico. Inibidor central da recaptação de
 distração, esquecimento e confusão. serotonina, norepinefrina e dopamina. Aumenta a
saciedade e a termogênese, facilitando o gasto de energia.
Os usuários podem desenvolver dependência a essas Diminui os triglicerídeos plasmáticos, VLDL e efeitos
drogas. Essa dependência pode ser percebida no usuário benéficos na hiperinsulinemia e glicemia. O Risco
que continua tomando anabolizantes mesmo depois das cardiovascular supera os benefícios, por isso, foi
consequências. A abstinência acarretam muitos sintomas retirada no mundo inteiro e no Brasil sua prescrição
desagradáveis. depende do termo de responsabilidade assinado tanto pelo
prescritor como pelo paciente.
Essas drogas são medicamentos, portanto, não são ilícitas
no Brasil. Para utilizá-las é necessário existir uma receita 8. ANTIANÊMICOS
médica. Contudo, o COI (Comitê Olímpico Internacional)
proíbe o uso. A anemia se estabelece quando há

A retirada abrupta ou a descontinuação a insônia, fadiga,  Diminuição do número de eritrócitos por mm 3


desejo ardente de continuar usando anabolizantes, perda (hematócrito em homens < 41% e em mulheres < 36%);
do apetite, redução do desejo sexual e depressão. Com
efeito, o sintoma mais perigoso que pode surgir quando da  Ou diminuição da concentração de hemoglobina
parada dessas drogas é a depressão que em casos abaixo das necessidades para a adequada
extremos pode levar à tentativa de suicídio. Nesses casos oxigenação (hemoglobina em homens < 12 g
é necessária a ajuda de um profissional para parar de usar ⁄100ml e em mulheres < 11 g ⁄100ml
anabolizantes.
Causas da anemia

1- Deficiência de nutrientes necessários à hematopoiese


 Ferro, Vitamina B12, Ác. fólico
2- Depressão da medula óssea, causada por:
 Toxicidade farmacológica;
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 Radioterapia; Obs.: Como o ferro ferroso é absorvido com mais
 Doença da medula óssea (ex. Leucemia); eficiência, devem-se utilizar apenas sais ferrosos. Os
 Redução da eritropietina (IRC, AIDS, artrite diferentes sais de ferro fornecem diferentes quantidades
reumatóide). de ferro elementar.
3- Destruição excessiva de eritrócitos – Anemia hemolítica
4- Defeitos genéticos  200 mg de ferro elementar por dia (cerca de 25%
é absorvido);
Tipos de anemia  2-3 x dia para melhorar a tolerabilidade;
 Aplástica (aplasia de medula);  Tomar próximo as refeições;
 Perniciosa;  Manter o tratamento com ferro por 3-6 meses
 Hemolítica; após a normalização da hemoglobina
 Sideroblástica; (Restabelece as reservas de ferro);
 Falciforme;  Interações medicamentosas: Antiácidos,
 Talassemia; Tetraciclinas, Hormônios tireoideanos;
 Ferropriva;  Efeitos adversos: Náuseas, desconforto
 Megaloblástica epigástrico, constipação ou diarréia, Fezes
escuras.
Anemia por deficiência de ferro
Ausência de ferro em quantidades adequadas leva à Somente cerca de 25% desse ferro elementar serão
formação de pequenos eritrócitos com hemoglobina absorvidos. Os efeitos adversos podem ser superados ao
insuficiente o que acarreta a anemia microcítica reduzir a dose e prolongar o tratamento. Ou ao tomar os
hipocrômica (anemia ferropriva). comprimidos com as refeições ou logo após. Alguns
pacientes também podem se beneficiar com a mudança do
Indicação para uso de ferro. agente farmacológico.
 Tratamento e prevenção da anemia ferropriva;
 Grupos de risco: lactentes, gestantes, indivíduos Tratamento – Via parenteral
com gastrectomia ou doença grave do intestino
delgado; Produtos por via IM ou IV:
 Aumento das necessidades ou perda de ferro -  Ferrodextrana (hidróxido férrico + dextrana) –
Pacientes em hemodiálise e/ou fazendo uso de contém 50mg/ml de Fe elementar;
eritropoietina.  Reações adversas: cefaléia, tonteira, nausea,
rubor, urticária, reação anafilática;
Tratamento  Risco de reação de hipersensibilidade grave:
necessário uma pequena dose de teste.
Não farmacológico
 Carnes; Outros agentes:
 Vitamina C aumenta a absorção;  Complexo ferro-sacarose e o complexo de
 Chá e café reduzem a absorção. gliconato sódico de ferro (Administração IV);
 Possuem menos tendência do que a
Farmacológico ferrodextrana a provocar reações de
Reposição de ferro hipersensibilidade;
 Deve-se proceder monitoração periódica dos
níveis de armazenamento do ferro em pacientes
Tratamento – escolha da via de administração tratados cronicamente com ferro parenteral:
ferritina sérica e saturação da transferrina.
Indicações:
Via oral: Se a absorção do ferro pelo TGI estiver normal. Anemia megaoblástica

Via parenteral:  Manifestação clínica característica da deficiência


 Má absorção de ferro (Afecções pós- da vitamina B12 ou do ácido fólico.;
gastrectomia, ressecção do intestino, Doença de  Ambas as vitaminas são necessárias para a
Crohn); síntese de DNA e consequentemente para
 Intolerância ao ferro por via oral; proliferação celular (hematopoiese).;
 Perda sanguínea extensa e crônica ;  Deficiência de Vit. B12 ou ác. fólico leva à
 Pacientes em hemodiálise e/ou fazendo uso de hematopoiese megaloblástica o que provoca a
eritropoietina. diferenciação eritroblástica alterada culminando à
eritropoiese defeituosa;
Tratamento – via oral  Achados clínicos: anemia macrocítica é
Tabela 8.1 Produtos medicamentosos via oral frequentemente associada a leucopenia ou
trombocitopenia;
 A deficiência de vitamina B12 provoca a síndrome
neurológica, não observada na deficiência de
ácido fólico.
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Ações bioquímicas interdependentes do folato e Vit. Quase todos os casos de deficiência são provocados por
B12. má absorção (Falta de fator intrínseco ou perda do
A deficiencia de uma das vitaminas irá provocar a mesma mecanismo específico de absorção no íleo distal).
anemia, pois participam de forma inter-relacionada da Portanto, são necessárias injeções parenterais de vitamina
mesma via. A vit. B12 (metilcobalamina) atua como B12 para o tratamento.
intermediária (na transferência de um grupo metila n5- Fármacos (IM): cianocobalamina ou hidroxocobalamina
metiltetraidrofolato para homocisteína formando a Terapia inicial: 1000 g por via IM, a cada dois ou três
metionina) na conversão do principal folato da dieta e de dias, até normalização do hemograma.
armazenamento, o n5- metiltetraidrofolato, em Dose de manutenção: 1000 g por via IM ao mês pelo
tetraidrofolato, o precursor dos co-fatores de folato. Esses resto da vida (no caso de anemia perniciosa).
co-fatores de folato, por sua vez, são necessários para
síntese de desoxitimidilato (dTMP) e das purinas Ácido fólico
necessárias para síntese de DNA. O ác. Fólico em sua  Esta deficiência é mais comum que a por vitamina
forma inalterada pode ser reduzido a diidrofolato pela B12 ;
enzima folato redutase e, portanto, atua como fonte de  Necessidades diárias: 50-100 mcg;
tetraidrofolato.  Estoque corporal de 5-20 mg (Os folatos são
excretados na urina e nas fezes e também são
Vitamina B12 destruídos por catabolismo);
 Fonte dietética: Leveduras, fígado, rins e
 A desoxiadenosilcobalamina e a metilcobalamina verduras;
constituem as formas ativas da vitamina;  A deficiência de folato ultrapassa o problema da
 A cianocobalamina e a hidroxocobalamina anemia, visto que está associada a malformações
encontradas em alimentos são convertidas nas congênitas em recém-nascidos.
formas ativas;
 Necessidades diárias: 2g/dia; Obs.: Como o ácido fólico é facilmente excretado e as suas
 A vitamina B12 é avidamente armazenada no reservas são relativamente baixas e as suas necessidades
fígado, somente pequenas quantidades são altas, a deficiência de ácido fólico é mais comum e pode vir
perdidas nas fezes e urina; de 1 a 6 meses após a interrupção de sua ingestão. Já na
 Fonte dietética: carnes, ovos e laticínios. vitamina B12 levaria cerca de três a cinco anos para haver
deficiência.
Ações bioquímicas da vitamina B12
O ácido fólico na sua forma inalterada sofre absorção
A Reação enzimática que exige a presença de vit. B12 é a rápida e completa na porção proximal do jejuno. Já os
conversão da metilmalonil-CoA em succinil-CoA. folatos dietéticos consistem principalmente de
poliglutamato de N5 –metiltetraidrofolato. Antes de sua
A administração de ácido fólico não irá impedir as absorção, os resíduos de glutamil são hidrolizados pela
manifestações neurológicas, apesar de corrigir, em grande enzima α2glutamil transferase gerando o monoglutamato
parte, a anemia causada por deficiência de B12. de N5 metil.. No interior das células, o N5–
metiltetraidrofolato é convertido em tetraidrofolato pela
Uma vez estabelecido o diagnóstico de anemia reação de desmetilação que exige a presença de vitamina
megaloblástica é necessário determinar se a causa reside B12.
na deficiência de vit. B12 ou ac. Fólico. Em geral, isso
pode ser determinado pela dosagem dos níveis séricos Causas de deficiência de ácido fólico:
das vitaminas.
Ao contrário da deficiência de vit. B12, a deficiência de ác.
Causas da deficiência de vitamina B12 Fólico é frequentemente causada pela ingestão
inadequada de folato.
Ingestão inadequada (rara)
 Vegetarianos estritos. Ingestão inadequada
 Alcoolismo;
Diminuição da absorção:  Hepatopatias
 Devido a falta de fator intrínseco  Anemia
perniciosa, Gastrectomias; Má absorção intestinal
 Perda do mecanismo específico de absorção no  Síndrome de má-absorção;
íleo distal, por exemplo quando há Ressecções  Drogas que interferem na absorção ou no
intestinais, Doença de Crohn. metabolismo do folato;

Tratamento – escolha da via de administração Aumento da demanda


 Mulheres grávidas;
Via oral  Anemia hemolítica;
Somente nos casos de insuficiência dietética.  Diálise renal (perda de folatos do plasma durante
Dose: 2 mg de Vitamina B12 cristalina ao dia o procedimento).

Via parenteral
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Tratamento consistem em hormônios que regulam a proliferação e
a diferenciação de células hematopoiéticas da medula
Via oral x Via parenteral: Administração parenteral óssea.
raramente é necessária, visto que o ácido fólico é bem
absorvido por via oral (mesmo em síndromes de má
absorção). 9. ANTILIPEMIANTES
Tratamento via oral: Definição de hiperlipidemia
 Dose: 1 mg⁄dia de ácido fólico;
 5-10 mg⁄dia por VO na má absorção intestinal; As hiperlipidemias representam uma alteração de uma ou
 Manter o tratamento até correção da causa várias frações de lipídios circulantes:
subjacente;  colesterol e frações;
 Em pacientes com má-absorção ou dieta  triglicerídeos
inadequada o tratamento pode ser permanente;
 Em paciente de alto risco (Gravidez, alcoolismo, Importância: A hipercolesterolemia está diretamente
correlacionada à aterosclerose que está na origem das
díalise renal) deve-se considerar o uso de
causas mais comuns de morte (ex. infarto do miocárdio) e
suplementação de ácido fólico. icapacidade (ex. acidente vascular cerebral) nos países
industrializados.
Eritropoietina
Principais classes de lipídios plasmáticos
 Foi o primeiro fator de crescimento  Colesterol;
hematopoiético humano a ser descoberto;  Éster de colesterol;
 Endogenamente, é produzida pelo rim em  Fosfolipídios;
resposta à hipóxia;  Triglicerídios;
 Estimula a diferenciação e a proliferação das  Acidos graxos
células eritróides ao interagir com receptores
A baixa solubilidade no sangue faz com que os lipídios
específicos existentes nos progenitores dos
sejam transportados na forma de complexos de lipídios e
eritrócitos proteína, conhecidos como: lipoproteínas.
 Normalmente, existe uma relação inversa entre o
hematócrito ou hemoglobina e o nível sérico de As lipoproteínas diferem Quanto: Composição (lipídios e
eritropoietina; proteínas), tamanho e densidade. As mais importantes são:
 Em geral, os pacientes com anemia apresentam  Quilomícrons;
níveis de EPO na faixa de 100 a 500 UI/l e  Lipoproteínas de alta densidade - HDL colesterol;
indivíduo não anêmicos apresentam níveis  Lipoproteínas de baixa densidade - LDL colesterol;
séricos < 20 UI/l;  Lipoproteínas de muito baixa densidade - VLDL
 Em pacientes com IRC, os rins não produzem colesterol;
 Lipoproteínas de densidade intermediária – IDL
eritropoietina, que deve ser administrada
colesterol.
exogenamente;
 Os pacientes com níveis de EPO < 100 UI/l tem Principais tipos de hiperlipidemia:
mais probabilidade de responder ao tratamento. 1. Hipercolestrolemia isolada: aumento do CT
 Utiliza-se a EPO por via IV ou SC de 50 – 150 UI/ e/ou LDL e LDL-C
Kg 3x na semana. Deve-se também fazer 2. Hipertrigliceridemia isolada: aumento do TG
suplementação de ferro e, em alguns casos, de 3. Hiperlipidemia mista: aumento do CT e TG
ácido fólico; 4. Diminuição isolada: de HDL ou associada a
 A EPO também tem sido utilizada no tratamento aumento de TG e/ou de LDL
de pacientes com insuficiência medular, mieloma
Classificação etiológica das hiperlipidemias
múltiplo, HIV;
 É uma droga proibida pelo comitê olímpico  PRIMÁRIAS:
internacional, sendo considerada dopping  de origem genética (familiar) e que algumas vezes se
aumentar a resistência física; manifesta em função de influências ambientais.
 Efeitos adversos: hipertensão, complicações  SECUNDÁRIAS:
trombóticas. aparecem como resultado de alterações metabólicas
generalizadas decorrentes:
Obs.: Os fatores de crescimento hematopoiéticos
Tabela 9.1 Classificação de Frederickson / OMS da hiperlipidemia
Tipo Lipoproteína Colesterol Triglicerídeos Risco de causas
elevada aterosclerose
I Quilomícrons + +++ NE Deficiência na LPL
IIa LDL ++ NE Elevado alteração genética no receptor
de LDL
IIb LDL + VLDL ++ ++ Elevado superprodução de VLDL pelo
fígado
III VLDL ++ ++ Moderado metabolismo anormal de VLDL
IV VLDL + ++ Moderado aumento da síntese hepática de
VLDL e/ou um déficit na
depuração de VLDL por parte de
outros tecidos
V Quilomícrons e VLDL + ++ NE aumento da produção ou
diminuição da depuração de
VLDL e QM
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1. DOENÇAS: hipotireoidismo, diabetes , sínd. Nefrótica Tipo III) Disbeta-lipoproteinemia familiar;
2. DROGAS: corticóides, anabolizantes, diurét. Tiazídicos Tipo IV) Hipertrigliceridemia familiar;
Tipo V) Hipertrigliceridemia familiar mista
Classificação das hiperlipidemias:
Tipo I) Hiperquilomicronemia familiar;
Tipo IIa) Hipercolesterolemia familiar;
Tipo IIb) Hiperlipidemia familiar;

• Atorvastatina
Tratamento • Sinvastatina

As medidas dietéticas são sempre as primeiras a serem As estatinas têm uma semelhança com a molécula de
instituídas, podendo eliminar a necessidade de fármacos. HMG-CoA
Uma redução na ordem de 10% do peso corporal reduz o
colesterol em 7% aproximadamente. Moderar o consumo
de álcool (aumentam os TG). Ingerir alimentos ricos em
fibras. Reduzir a ingestão de gorduras: gorduras devem
representar 25-35% das calorias totais.

Composição da dieta:

1. Ác. Graxos saturados < 7%


2. Ác. Graxos poliinsaturados (omega 3 e 6) até 10% -
peixes, soja, linhaça
3. Ác graxos monoinsaturados (omega 9) até 20%
- azeite de oliva, azeitona,nozes, amêndoas, óleo de
canola, gergelin
4. Colesterol < 200 mg / dia Fig 9.1 estrutura de estatina
5. Proteínas 15%
6. Fibras 20 – 30 gramas por dia
7. Carboidratos 50 - 60% Mecanismo de ação das estatinas

Fig 9.2 síntese d colesterol


Tratamento farmacológico
A redução hepática na síntese de colesterol leva ao
 Principais classes de drogas antihiperlipidêmicas: aumento de nº receptores de ldl superficiais com
consequente aumento da depuração do ldl, o que levaà
1. Estatinas: Inibidores da HMG-CoA redutase diminuição do nível colesterol plasmático (reduzem as
(3-hidroxi-3-metilglutaril-coenzima A); taxas de ldl-c em 20-60%)
2. Fibratos;
3. Resinas que se ligam aos ácidos biliares; Reações Adversas:
4. Niacina (ácido Nicotínico);  aumento das transaminase entre a 3a. e 12a.
5. Óleo de Peixe. Semanas ( se houver um aumento crescente e
permanente – suspender a medicação);
1) ESTATINAS  Miopatia (fraqueza muscular);
São eficazes na redução de LDL. Além disso, ocorrem  Cefaleia;
reduções moderadas dos níveis plasmáticos de TG e  Insonia;
pequenos aumentos no HDL  GI: náuseas, diarréia, constipação, flatulência

Principais Representantes: São análogos estruturais da 2) FIBRATOS


HMG-CoA
Produzem acentuada redução nos níveis de VLDL
• Lovastatina circulantes e, por conseguinte, dos triglicerídeos.
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 Principais Representantes: Bezafibrato,  Reduzem agregação Plaquetária, reduzindo risco
ciprofibrato e fenofibrato trombótico.

Mecanismo de ação dos Fibratos: Obs.: A etimiba pertence ao grupo de azetidinonas


inibidoras da absorção de colesterol e é usada como
adjuvante á dieta e ao uso de estatinas na
hipercolesterolemia. N duodeno, inibe a absorção de
colesterol (e de etanóis vegetais) por bloqueio de ua
proteína transportadora (NPC1L1) nas microvilosidades
(borda de escova) dos enterócitos, sem afetar a absorção
de vitaminas lipossolúveis, triglicerídeos ou ácidos biliares.

DISLIPIDEMIAS SECUNDÁRIAS CONSEQÜENTES AO


USO DE MEDICAMENTOS - EFEITOS ADVERSOS

MEDICAMENTO ALTERAÇÕES LIPÍDICAS

Diuréticos Aumento dos TG e diminuição


do HDL-c

Betabloqueadores Aumento dos TG e diminuição


Fig. 9. 3 Mecanismo de ação dos fibratos. do HDL-c

 Diarréia; Anticoncepcionais Aumento dos TG


 Dores musculares;
 Astenia; Corticosteróides Aumento do CT e dos TG
 Erupção cutânea;
 Litíase biliar; Anabolizantes Aumento do CT e diminuição
 Elevação discreta das enzimas hepáticas; do HDL-c
 Miopatia;
 Redução da libido.

3) NIACINA (ÁCIDO NICOTÍNICO):


reduzem os níveis plasmáticos de Colesterol e
Triacilglicerol e aumenta o HDL.

Mecanismo de Ação: Inibe a lipólise nos tecidos adiposos:


os produtores primários de ácidos graxos livres. Causando 10. TOXICOLOGIA DOS METAIS
então: diminuição da síntese hepática de Triacilglicerol PESADOS
(necessário à formação de VLDL). Por outro lado: aumento
o HDL, sendo o agente + potente p/ esse fim. Os homens vivem em um ambiente químico e inalam,
ingerem ou absorvem pela pele muitas substâncias
Efeitos Adversos: rubor facial (aspirina), prurido, dor químicas. A toxicologia estuda os efeitos deletérios desses
abdominal, hiperglicemia. Hiperuricemia. agentes químicos sobre todos os sistemas vivos. A
toxicologia é a ciência que estuda o efeito nocivo
4) RESINAS QUE SE LIGAM AOS ÁCIDOS BILIARES decorrente da interação entre um agente tóxico e um
sistema biológico, com a finalidade principal de prevenir o
Principais representantes: Colestiramina e Colestipol aparecimento desse efeito, estabelecendo, assim
condições seguras de exposição a essas substâncias.
Mecanismo de Ação:
Alguns termos que merecem ser mencionados são
Ligam-se aos ácidos biliares no intestino levando à apresentados abaixo:
redução da absorção de colesterol exógeno e aumento do Agente tóxico, toxicante ou xenobiótico: É uma substância
metabolismo do colesterol endógeno em ácidos biliares, o química ou agente físico capaz de causar dano a um
que culmina ao aumento de nº receptores de LDL sistema biológico, alterando seriamente uma função ou
superficiais com consequente aumento da depuração do levando-o à morte, sob certas condições de exposição.
LDL. A maioria das substâncias consideradas como agente
tóxico é exógena (xenobióticos), sem papel fisiológico
Efeitos Adversos: conhecido.
 Desconforto abdominal, náuseas, constipação, Toxina: refere–se à substância tóxica produzida por um
flatulência; organismo vivo (microrganismo, animal ou planta). Existe
 Redução de Absorção: A,D,E,K, ácido fólico e um campo de estudo específico, denominado Toxinologia,
ascórbico. que estuda os efeitos nocivos dessas substâncias.
Veneno: termo de uso popular que, embora em princípio,
5) ÓLEO DE PEIXE possa ser utilizado como sinônimo de agente tóxico, é
reservado especificamente para designar substâncias de
Ácidos Graxos 3: origem animal ou vegetal, utilizadas para autodefesa ou
 Reduzem os TG; predação, como o caso dos venenos ofídicos, de abelhas,
 Reduzem o VLDL; entre outros.
 Aumento do Colesterol;
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Intoxicação: É o conjunto de efeitos nocivos representados Refere-se aos ensaios experimentais feitos em
por manifestações clínicas (sinais e sintomas) ou diferentes espécies animais de laboratório, de
laboratoriais que revelam o desequilíbrio orgânico acordo com normas de comitês de ética nacionais
produzido pela interação entre o agente tóxico com o e internacionais, para tentar entender os
sistema biológico. Por envenenamento, entende-se o possíveis mecanismos tóxicos de uma substância
transtorno produzido por toxinas. para prever se ela é provavelmente tóxica aos
humanos. Para avaliar os efeitos tóxicos de
A toxicologia pode ser dividida em: prováveis toxicantes, os toxicologistas realizam
experimentos subcrônicos (3 meses de
 Toxicologia de alimentos; tratamento em roedores) e crônicos (2 anos de
Estudo de agentes tóxicos presentes em alimentos de tratamento em roedores) em pelo menos dois
origem natural ou sintéticos, inerentes ou adicionados modelos animais diferentes. Enquanto os
ao alimento. Também é conhecida como área da experimentos crônicos são usados para
toxicologia que estabelece índices de segurança para conjecturar os efeitos da exposição em longo
que os alimentos, sejam de origem natural ou prazo (por toda a vida) às substâncias presentes
industrial, possam ser ingeridos sem causar danos à nos alimentos ou no ambiente, os subcrônicos
saúde. representam modelo para exposição ocupacional.

 Toxicologia ambiental e ecotoxicologia;  Toxicologia Analítica


Refere-se ao impacto potencialmente nocivo de É o ramo da toxicologia que trata de detectar o
substâncias químicas (poluentes ambientais) sobre os toxicante ou algum parâmetro bioquímico
organismos vivos. O termo ambiente inclui tudo aquilo relacionado com sua exposição em fluidos
que circunda o organismo, principalmente o ar, a água biológicos, alimentos, ar, água e solo, visando
e o solo. Tanto os seres humanos (de interesse sempre ao diagnóstico ou à prevenção das
particular) quanto as outras espécies têm importância intoxicações. A importância das análises
considerável como alvos biológicos potenciais. toxicológicas pode ser visto no aspecto forense
Na toxicologia ambiental entende-se que além da (médico-legal), na monitorização terapêutica ou
exposição à poluição do ar oriunda de produto de acompanhamento do paciente submetido a
industrialização, desenvolvimento tecnológico e tratamento prolongado com medicamentos que
urbanização crescente, a humanidade também pode tenham índices terapêuticos estreitos, na
ser exposta a substâncias químicas usadas na monitorização biológica da exposição ocupacional
agricultura (pesticidas) ou no processamento de às substâncias químicas, no controle
alimentos, e que podem ser resíduos ou ingredientes antidopagem em competições esportivas, no
em produtos alimentares. diagnóstico da intoxicação aguda ou crônica na
A ecotoxicologia estuda os efeitos tóxicos dos agentes medicina.
químicas e físicos sobre populações ou comunidades
de organismos vivos dentro de ecossistemas definido. 10.1 Fases da intoxicação

A intoxicação envolve os processos que começam no


 Toxicologia social; momento em que o toxicante entra em contato com o
Estudo dos efeitos nocivos decorrentes do uso organismo até a manifestação de sinais e sintomas, ou
não médico de drogas ou fármacos, com resultados laboratoriais. Assim sendo, para facilitar o
prejuízos ao usuário e à sociedade. É o ramo da estudo dos complexos eventos envolvidos, a intoxicação é
toxicologia que estuda das chamadas “drogas de dividida didaticamente em quatro fases.
abuso”, lícitas ou não.
 Fase I – Exposição
 Toxicologia ocupacional; Corresponde à medida do contato entre o agente
É a área que trata das substâncias químicas e a superfície corporal do organismo.
encontradas no ambiente de trabalho, visando A intensidade da exposição depende de
principalmente à identificação dos agentes tóxicos frequência, duração, via de exposição e
e às doenças agudas e crônicas que estes concentração do toxicante no ambiente. No que
causam. Trata também de definir as condições diz respeito à frequência, a exposição pode ser
nas quais os agentes tóxicos podem ser usados pontual, intermitente ou contínua. Nem sempre as
com segurança e de prevenir a absorção de manifestações clínicas são imediatas após a
quantidades nocivas dessas substâncias exposição. Com efeito, as reações tóxicas diferem
químicas. qualitativamente em função da duração da
Determinados grupos governamentais e exposição: As exposições crônicas - São as que
supragovernamentais elaboraram, mundialmente, duram entre 10% a 100% do período de vida do
normas de segurança e saúde, incluindo limites organismo exposto (homens: entre 7 e 70 anos e
de exposição a curto e longo prazos que têm animais: acima de 90 dias; exposições
poder de lei (PEL – permissible exposure limits); e subcrônicas – São aquelas de curta duração,
valores limiares máximos (TLV – threshold limit inferiores a 10% do período de vida. (animais: 3
values) semanas a 3 meses; exposições subagudas).-
São as que ocorrem por no mínimo mais de um
 Toxicologia médica (clínica); dia e por no máximo três semanas; exposições
Área que se ocupa do atendimento de pessoas agudas.- São múltiplas exposições ou exposição
expostas ao agente tóxico ou intoxicadas, a fim única que geralmente ocorrem em breve espaço
de prevenir, diagnosticar a intoxicação ou aplicar, de tempo variando de segundos a 1 ou 2 dias.
caso necessário, uma terapêutica específica. As vias de entrada dos xenobióticos no organismo
diferem nas distintas situações de exposição. No
 Toxicologia Experimental; ambiente industrial, a inalação é a principal via de
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entrada. A via transdérmica também é muito exposição crônica a agentes tóxicos é a prevenção
importante, mas a ingestão oral é relativamente primária e a nutrição.
de menor importância. Desse modo, a prevenção Uma classe de toxicantes ambientais para os quais há
primária deve ser projetada para reduzir ou fármacos disponíveis para prevenir a doença é a dos
eliminar a absorção por inalação ou por contato metais pesados. No entanto, em geral, estes fármacos
tópico. Similarmente, os poluentes da água e do chamados de quelantes (discutidos mais adiante), são
solo são absorvidos por inalação, ingestão e eficazes somente contra exposição aguda a altas doses e
contato com a derme. tem pouco efeito ou até pioram a toxicidade nas condições
de exposição a baixas doses que são as mais comumente
 Fase II – Toxicocinética encontradas no ambiente.
Nesta fase o agente tóxico se movimenta pelo
organismo atravessando membranas até atingir o 10.2. O que são os metais pesados?
sítio de ação e/ou ser eliminado ou armazenado
em tecidos de depósitos. Trata-se, na verdade, da Primeiramente, vamos definir o termo “metais”, os metais
participação dos processos de absorção, são definidos como sendo substâncias com alta
distribuição, biotransformação e excreção, condutividade elétrica, maleabilidade e brilho, que
envolvendo reações recíprocas entre o agente voluntariamente perdem seus elétrons para formar cátions.
tóxico e o organismo receptor, conduzindo à Metais são encontrados naturalmente na crosta terrestre e
biodisponibilidade do toxicante. suas composições variam entre diferentes localidades. O
termo “metal pesado” é aplicado a um grupo heterogêneo
 Fase III – Toxicodinâmica de elementos, incluindo metais, semimetais e ametais, que
Representa o estudo da natureza da ação que o possuem número atômico maior que 20, ou massa
agente tóxico exerce sobre o sistema biológico, específica maior que 5 g/cm3 (MALAVOLTA, 2006), ou
sob o ponto de vista biomolecular. Alcançando o massa atômica entre 63,546 e 200,590 (Kennish, 1992).
alvo, o agente tóxico ou o seu metabólito interage Essa definição tem sido considerada inadequada, já que
biologicamente com os componentes que ali se inclui elementos ametálicos, como, por exemplo, o arsênio
encontram, causando alterações morfológicas, ou o flúor (DUFFUS, 2002); No entanto, essa definição
bioquímicas e/ou fisiológicas, produzindo danos. baseada na densidade atômica ainda se usa na literatura
acadêmica e nós também vamos utilizar essa definição
 Fase IV – Clínica (por enquanto).
Fase na qual aparecem as manifestações clínicas Portanto os metais pesados são aqueles metais com
e/ou laboratoriais resultantes da ação do agente números atômicos médios ou altos que, geralmente,
tóxico sobre o organismo receptor. participam de reações químicas com íons positivos de
enzimas no metabolismo (LEE et al., 1985), sendo
Além desses conceitos básicos sobre a toxicologia, é conhecidos também como elementos traço ou metais traço
essencial o conhecimento sobre as seguintes propriedades (MENESES, 2008). Os mais característicos são: arsênio
para predizer, por exemplo, o impacto ambiental: (As), cádmio (Cd), chumbo (Pb), cromo (Cr), cobre (Cu),
degradabilidade da substância; mobilidade por ar, água e ferro (Fe), níquel (Ni), manganês (Mn), mercúrio (Hg) e
solo; existência ou não de bioacumulação, e transporte e zinco (Zn), por isso, são os principais elementos nos
biomagnificação por cadeias alimentares. Se a ingestão estudos de contaminação em peixes. É bom salientar que,
de um toxicante de longa duração por um organismo o fato de um elemento ser classificado como metal pesado,
excede sua capacidade de metabolizar ou excretar essa não significa que ele seja, necessariamente, tóxico em
substância, o agente químico se acumula nos tecidos do qualquer concentração, porque alguns deles tais como Cu,
organismo. A isso se dá o nome de bioacumulação. Fe, Mn, Ni e Zn são nutrientes essenciais à vida, por
Apesar de a concentração de um toxicante poder ser exemplo, de plantas e de seres humanos. Enquanto
praticamente indetectável na água, ela pode ser outros, como o Pb, estão presentes em todos os
amplificada centenas de ou milhares de vezes à medida organismos sem servir a qualquer propósito biológico; e
que o toxicante é transmitido na cadeia alimentar. A isso alguns apresentam uma dada toxicidade em
se dá o nome de biomagnificação. Então, quando o agente concentrações baixas e persistem no ambiente e podem
tóxico é incorporado á cadeia alimentar, ocorre a chamada se acumular em níveis que interrompem o crescimento das
biomagnificação, quando uma espécie serve de alimento a plantas e interferem na vida animal (Dicionário de Ecologia
outras concentrando o tóxico. Ora, os seres humanos e Ciências Ambientais, 1998).
estão no topo da cadeia alimentar, podendo ficar expostos Os metais são uma classe importante de toxicantes
a elevadas cargas de poluentes em função de ambientais; eles são agentes tóxicos ambientais
bioacumulação e biomagnificação. Dessa forma, grosso onipresentes e podem ser introduzidos em diversos
modo, os toxicantes com maior impacto ambiental são ecossistemas de maneira natural ou artificial
aqueles pouco degradáveis, relativamente móveis no ar, (antropogênica). De modo natural, por meio do aporte
água e solo, e que apresentam bioacumulação e atmosférico e chuvas, pela liberação e transporte a partir
biomagnificação. da rocha matriz ou outros compartimentos do solo onde
estão naturalmente (BOAVENTURA, 2008). De modo
Como explicado no subitem “Fase III toxicodinâmica”, para artificial, por fontes antropogênicas de diversos ramos:
que o efeito tóxico seja produzido sobre o organismo, é esgoto in natura de zonas urbanas, efluentes de indústrias,
necessário que o toxicante ou seus metabólitos atinjam os atividades agrícolas, e rejeitos de áreas de mineração e
sítios alvo no organismo e permaneçam em contato com garimpos (SATO, 2011).
os mesmos por um período de tempo suficiente para É bom destacar que vários dos metais tóxicos ambientais
produzir a ação tóxica. Essa ação tóxica pode sofrer também são carcinogênicos. E, também vários metais
intervenções farmacológicas ou pode ser prevenida, essenciais são tóxicos quando usados em dose excessiva.
apesar de que as intervenções farmacológicas nas Por exemplo, o cobre e especialmente o ferro estão
exposições ambientais crônicas continuam sendo mais um associados à toxicidade; sua toxicidade em geral resulta
objetivo do que uma realidade. Atualmente a abordagem de doenças genéticas que interferem com a regulação da
clínica mais eficaz para prevenir doenças associadas à absorção ou excreção do metal (cobre- doença de Wilson;
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ferro – hemocromatose) ou pode resultar de dosagem  Indústria siderúrgica;
excessiva aguda, particularmente com medicamentos ou  Da cerâmica;
multivitaminas contendo ferro. Na verdade, os metais  Inseticidas.
em níveis tóxicos interferem com a função de cátions
essenciais, inibem a atividade de enzimas, geram estresse A principal fonte de exposição ocupacional ao arsênico é
oxidativo e alteram a expressão de genes. Por isso, os na produção e uso de arsenicais orgânicos como
sinais e sintomas multissistêmicos são a marca da herbicidas e inseticidas. A exposição ao arsênico metálico,
intoxicação por metais pesados. arsina, trióxido de arsênico e arsetino de gálio também
ocorre em indústrias de alta tecnologia, como as fábricas
10.3 Características e Classificação dos metais de semicondutores e de chips para computadores.
pesados
Exposição extra-ocupacional
Os metais pesados são altamente reativos no ponto de  Consumo de frutos do mar com a arsenobetaína
vista químico, o que explica a dificuldade de encontrá-los (não tóxica);
em estado puro na natureza. Normalmente, apresentam-se  Fumo do cigarro;
associados a outros elementos químicos, em  Traços no ar urbano;
concentrações muito pequenas, formando mineral em  Na água.
rochas. Em geral, os metais são classificados como segue:
A fonte primária de exposição ao arsênico é a água
1. Elementos essenciais: sódio, potássio, cálcio, ferro, potável; a atividade humana como o uso de pesticidas
zinco, cobre, níquel e magnésio [são aqueles que possuem contendo arsênico, mineração e queima de carvão também
função biológica conhecida e são constituintes obrigatórios pode colaborar para a entrada no ambiente do arsênico.
do metabolismo dos indivíduos, participando de processos Os alimentos, particularmente frutos do mar, com
envolvendo compostos enzimáticos (CORRÊA, 2006)]; frequência estão contaminados com arsênico. O arsênico
2. Micro-contaminantes ambientais: arsênico, chumbo, nos frutos do mar ocorre primariamente como compostos
cádmio, mercúrio, alumínio, berílio, titânio, estanho e orgânicos (arsenobetaína) que é muito menos tóxico do
tungstênio [geralmente não possuem uma função biológica que o arsênico inorgânico. A ingestão diária média do
conhecida para o metabolismo (CASTRO, 2002)]; humano é de 10 µg/dia quase inteiramente devido a
3. Elementos essenciais e simultaneamente micro- alimento e água
contaminantes: cromo, zinco, ferro, cobalto, manganês e
níquel. Fontes naturais:
Organismos marinhos; depositado em volumes apreciáveis
Os metais pesados apresentam, em sua maioria, uma em rochas sedimentares ou ainda liberado como gás volátil
toxicocinética e uma toxicodinâmica semelhantes. A (AsH3 – arsina);
absorção dos metais pesados pode ocorrer por inalação,
por via cutânea (organometalos) ou por via oral, nessa via Fontes industriais:
aproximadamente 50 % dos intoxicados são crianças. Uma Fundições de chumbo, ouro, prata, cobre, zinco e cobalto;
vez adentrando a circulação sistêmica, os metais pesados
são distribuídos pela corrente sanguínea, e podem ser Outras fontes de exposição:
armazenados principalmente no fígado, na pele, nas Manufatura de vidros, esmaltes, tintas, tecidos e couros,
glândulas, nos ossos, músculos e rins. A percentagem de formicidas, herbicidas e preservativos de madeira.
armazenamento nos adultos (92-95%) é maior do que em
crianças (70-75%). Podem ser eliminados pela bile e pelas Em águas naturais, o arsênico está presente
fezes sem ter sofrido absorção, saliva, pele e 75% principalmente na forma de compostos inorgânicos, onde
eliminados pelos rins; Os que foram inalados e distribuídos possui as valências 3+ e 5+ (Thornton & Farago,1997).
e armazenados no trato respiratório normalmente são
eliminados pelo ar expirado. Os principais modos de intoxicação por arsênico ocorrem
Os metais pesados geralmente inibem irreversivelmente as via consumo de águas poluídas e por ingestão de solos
enzimas, diminuindo o metabolismo e alteram a contaminados (USEPA, 2000).
condutância do estímulo nervoso. As intoxicações agudas
e crônica são semelhantes e variam quanto ao tempo de Intoxicação crônica
exposição e intensidade dos efeitos. Câncer de pele, pulmão (inalação), próstata, bexiga, rim e
Quanto ao seu mecanismo de ação, muitos dos metais fígado.
pesados competem com os METAIS essenciais, alteram o
transporte de ÍONS essenciais e apresentam grande Intoxicação crônica e aguda
afinidade por SULFIDRÍLAS, proteínas e enzimas. Patologias não cancerígenas: cutâneas; gastrintestinais;
cardiovasculares: hematológicos; neurológicos;
10.3.1. Arsênico endocrinológicos; reprodutivos e de desenvolvimento como
abortos espontâneos e fetos com baixo peso
(USEPA,2000; WHO,2001a).
O arsênico é um metalóide comum em rochas e no solo.
Os compostos de arsênico foram usados por mais de 2400
Toxicocinética
anos como medicamentos e venenos. Tem uma
 absorção pela via respiratória e gastrintestinal
propriedade semi-metálica, é proeminentemente tóxico e
 distribui-se na fração eritrocitária e posteriormente
cancerígeno, e é amplamente disponível na forma de
aos tecidos do organismo; acumula-se na pele e
óxidos ou sulfetos ou como um sal de ferro, de sódio, de
anexos, pulmões, fígado, rins e músculo;
cálcio, de cobre, etc.
 Tende a se ligar aos grupos sulfidrilas;
 O As+3 pode ser oxidado a As +5 ou ser metilado
Exposição Ocupacional
para ácido monometilarsínico (MMA) ou
 Preparação de fármacos;
dimetilarsínico (MDA);
 Preparação de corantes;
 Eliminado pelos rins, na forma:
 Do vidro;
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20% inalterado O uso do arsênico em medicamentos praticamente
20% MMA desapareceu, mas o trióxido de arsênico continua sendo
60% MDA empregado como fármaco quimioterápico eficaz contra a
 O arsênico na forma inorgânica é eliminado leucemia promielocítica.
parcialmente pela bile.
 Eliminado pelo cabelo e as unhas, este refletem Tratamento
os níveis de exposição. A monitoração próxima dos níveis de líquidos é importante
porque o arsênico pode causar choque hipovolêmico
Na biotransformação do arsênico, os compostos nocivos fatal. O tratamento por quelação é eficaz após exposição
do arsênico inorgânico são metilados por bactérias, algas, aguda ao arsênico, mas tem pouco valor ou nenhum valor
fungos e seres humanos para se obter o ácido em indivíduos expostos cronicamente.
monometilarsênico (MMA) e o ácido dimetilarsínico (DMA).
Os seres humanos excretam níveis maiores de MMA do
que a maioria dos outros animais (ATSDR, 2007a). Neste 10.3.2. Chumbo
processo de biotransformação, estas espécies do arsênico
inorgânico (iAs) são convertidas por enzimas de A exposição ao chumbo (Pb) tem uma ampla faixa de
metabolização em arsenicais metilados que são os consequências para a saúde humana. A exposição crônica
metabólitos finais e o biomarcador de exposição crônica ao mesmo a muito baixas concentrações, tem efeitos
arsênico. prejudiciais graves. A toxicidade por Pb resulta da
iAs (V) → iAs (lll) → MMA (V) → MMA (lll) → DMA (V) mimetização molecular de outros metais divalentes. O Pb
altera a estrutura da proteína e pode ativar ou inibir
impropriamente a função proteica.
Mecanismo de ação:
 reage com sulfidrilas de moléculas orgânicas. Ocupacional
 supressão de substratos dependentes de NAD,  Produção de baterias
interferindo na respiração celular a nível  Corantes
mitocondrial;  Tintas a base de chumbo
 Impede os mecanismos de obtenção de energia  Ligas metálicas
(Respiração celular – ATP).  Petrolífera

O arsênico existe em três formas: forma elementar, O Pb não é degradável e permanece no ambiente
trivalente (arsenito, ácido arsenioso) e pentavalente empoeirado, no solo, e nas tintas das velhas casas.
(arsenato, ácido arsênico). Arsina é o hidrito gasoso do Crianças são expostas ao Pb, com frequência, mastigando
arsênico trivalente que exibe toxicidade distinta das outras brinquedos de gosto adocicado e pintados com tintas que
formas. Os componentes orgânicos contendo qualquer contêm Pb e/ou comendo pó e solo no interior e ao redor
estado de valência do arsênico são formados nos animais. de velhas casas. As reformas ou demolições dos velhos
Os compostos de arsênico trivalente formam ligações edifícios podem causar substancial exposição ao chumbo.
covalentes com grupos sulfidrila. O sistema piruvato
desidrogenase é particularmente sensível á inibição pelos Não-ocupacional
arsenicais trivalentes porque os dois grupos sulfidrila do  Descargas industriais
ácido lipoico reagem com o arsênico. O arsenato  Alimento contaminado
inorgânico (pentavalente) inibe a cadeia de transporte de
elétrons e parece substituir competitivamente o fosfato Fontes de Contaminação
durante a formação de ATP, formando um éster instável de  Alimentos e água contaminados;
arsenato que rapidamente é hidrolisado.  Mineração, refinamento e fundição;
 Fabricação de acumuladores elétricos;
Toxicidade:  Fabricação de cerâmicas;
A toxicidade de um determinado arsenical está relacionada  Fabricação de armas de fogo e munições;
com a velocidade de sua depuração do organismo e sua  Fabricação de PVC, fertilizantes e inseticidas;
capacidade de armazenagem nos tecidos. A toxicidade  Soldagens;
geralmente aumenta na seguinte sequência: arsenicais  Produção de antidetonantes para a gasolina;
orgânicas < As5+ < As3+ < gás arsina (AsH3).  Fabricação de tintas, vernizes, esmaltes e
Normalmente, a intoxicação crônica ocorre em ambientes corantes;
de trabalho com exposições em baixas doses,  Fabricação de cabos elétricos, tubos e
apresentando os seguintes sintomas: chapas.
 Fadiga
 Problemas gastrintestinais O Pb tetraetila foi usado como antidetonante na gasolina, o
 Melanodermia que resultou em níveis elevados de Pb no ar poluído. A
 Hiperqueratose retirada do Pb da gasolina reduziu a poluição do ar em
 Hepatomegalia que pode evoluir para uma cirrose mais de 90% entre 1982 e 2002.
 Neoplasias pulmonar, hepática e cutânea. Alimentos ácidos e bebidas dissolvem o Pb quando
armazenados em recipientes com Pb na sua liga ou nas
Os humanos estão expostos a vastas quantidades de extremidades soldadas (problema em países em
compostos arsenicais orgânicos no peixe, que são desenvolvimento).
relativamente não tóxicos. A espécie humana é a mais
sensível aos efeitos tóxicos do arsênico inorgânico. A Toxicocinética:
exposição aguda a doses elevadas de arsênico (70-180
mg) em geral é fatal. A morte imediatamente após A exposição ao Pb ocorre durante a ingestão ou inalação
envenenamento com arsênico resulta dos efeitos no GI do Pb. A absorção GI do chumbo varia
coração e TGI. consideravelmente com a idade e a dieta. A absorção do
Pb ingerido aumenta drasticamente com o jejum.
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Hidroencefalia
Absorção: Atrofia cortical
 Pele: pequena absorção. Somente produtos Edema cerebral
orgânicos (chumbo tetraetila, acetato de chumbo); Natimorto
 Pulmões: adultos absorvem 5 a 15% do Pb
inalado, e cerca de 5% do que é absorvido é ENCEFALOPATIA
armazenado; Crianças absorvem cerca de 41.5%, Irreversível
e retêm cerca de 38.1%; Alterações nervosas e cognitivas, comportamentais
 Trato gastrointestinal: adultos absorvem de 5 a E neurológicas.
10% da dose ingerida; Crianças até 50%.
Acredita-se que o Pb, o Fe e o cálcio ocupem os NEFROPATIA
mesmos sítios ativos de carreadores na mucosa Retração Renal
intestinal. Alguns alimentos aumentam e outros Fibrose Intersticial
diminuem a absorção do Pb. Atrofia Glomerular
Degeneração
As deficiências de ferro e de cálcio na dieta aumentam a Insuficiência renal
absorção de Pb. Cerca de 99% do Pb se liga à
hemoglobina. O Pb inicialmente se distribui aos tecidos Além do saturnismo, o chumbo provoca:
moles, particularmente no epitélio tubular renal e no fígado.
O Pb é redistribuído e depositado em ossos, dentes e PARALISIA
cabelos tardiamente. Cerca de 95% da armazenagem total Analgesia
de Pb no organismo adulto é encontrado nos ossos. Ossos Dores Musculares
em crescimento acumulam maiores quantidades de Pb e Debilidade dos Nervos
podem formar linhas de chumbo visíveis em radiografias. Anestesia
Câimbras
Eliminação: Alteração da velocidade
 O chumbo é excretado por várias rotas, porém só
a excreção renal e a gastrointestinal são de APARELHO REPRODUTOR
importância prática; MASCULINO
 A quantidade excretada, independente da rota, é Aterospermia
afetada pela idade, características da exposição e Hipospermia
dependente da espécie; Teratopermia
 Crianças até dois anos de idade retêm 34% da Esterilidade
quantidade total de chumbo absorvido, enquanto
que esta retenção é de apenas 1% nos adultos; APARELHO REPRODUTOR
 O chumbo da dieta ou, até mesmo, aquele FEMININA
engolido nas partículas de ar e não absorvido Disfunção Ovariana
pelo trato gastrointestinal é eliminado nas fezes, Parto Prematuro
que contêm elevado teor do metal, em torno de Abortos
90% do total excretado.
ARTICULAÇÕES
A meia-vida do Pb no soro é de 1-2 meses com estado de Enzimas Aminohidrolases Inibidas
equilíbrio alcançado em 6 meses. O Pb acumula-se nos Ácido úrico é retido e cristaliza, depositando-se e
ossos e sua meia-vida nesse tecido é estimada em 20-30 provocando Gota secundária.
anos.
NO SISTEMA HEMATOPOIÉTICO
Interações: Anemia Microcítica (hipocrômica)

Absorção e intoxicação são aumentadas por: A intoxicação crônica com Pb está associada á anemia
1. Carência de cálcio ou fósforo; microcítica hipocrômica, observada mais frequentemente
2. Carência de ferro; em crianças e é morfologicamente similar a anemia por
3. Baixa ingestão proteica; deficiência de ferro. O Pb interfere com a biossíntese do
4. Altos níveis de vitamina D (muito comum devido aos heme em várias etapas enzimáticas.
alimentos fortificados);
5. Doenças renais preexistentes. TRATO GASTRINTESTINAL
Cólicas
Intoxicação crônica Constipação
Dor Abdominal
Na intoxicação crônica do chumbo diante de dos seguintes Anorexia
sintomas, temos o quadro de saturnismo. Diarreia
Gosto metálico
CRIANÇAS Orla de Burton
Retardo no desenvolvimento psicomotor
Controle de esfíncter Interações
Incoordenação motora
Percepção Sensorial A eliminação e desintoxicação são aumentadas por :
Diminuição da capacidade de aprender
1. Aumento da ingestão dietética de cálcio e fósforo (cálcio
FETO de osso e dolomita contém chumbo).
Redução do período gestacional e peso, do
desenvolvimento neuromotor, do crescimento; 2. Alta ingestão de ácido ascórbico.
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galvanoplastia, galvanização, plásticos, pigmentos corados
3. Ingestão de vitaminas do complexo B especialmente e baterias de níquel-cádmio.
piridoxina, ácido fólico, cianocobalamina e ácido nicotínico.
Ocupacional
4. Uso de cromo, pectina, algina, metionina, cisteina,  Indústria do zinco
cistina, tocoferois.  Ligas de cádmio com outros metais
 Baterias níquel-cádmio
5. Emprego de agentes quelante I.V. ou I.M. como EDTA,  Ligas de solda manganês-cádmio
BAL.  Pigmentos de tintas
 Estabilizantes de plásticos
6. A penicilamina está indicada para remoção rápida de
chumbo quando há sintomas de intoxicação em presença Extra - ocupacional
de elevados níveis de chumbo.  Adubos com fosfato
 Fumo do cigarro
7. Cálcio – baixos níveis de cálcio exacerbam os efeitos do  Proximidades de fundições de material não
chumbo. ferroso.
8. Ferro – O excesso de chumbo interfere na síntese de
porfirina, interrompendo a produção de hemoglobina com Fontes e formas de exposição
consequente anemia.  O cádmio ocorre naturalmente na superfície
terrestre em rochas e no solo
Tratamento:  Em alguns fertilizantes minerais fosfatados,
podendo ser encontrado em cereais como o arroz
 a parte mais importante do tratamento é a e o trigo;
remoção radical do chumbo;  Fusão redutora de metais;
 todos os tratamentos da intoxicação por chumbo  Extração durante a produção de cobre, chumbo e
são demorados, devendo ser rigorosamente zinco;
controlados;  Produção do fumo do tabaco;
 podem produzir muitos efeitos adversos;  Pigmentos (amarelo claro ao vermelho escuro) de
 o succimer, administrado pela via oral, liga-se ao esmalte ou de verniz para cerâmica;
chumbo e ajuda a dissolver o metal nos líquidos  Exposição ocupacional por inalação (poeira e
corpóreos, para ser excretado na urina; fumaça) e oral
 o succimer causa efeitos colaterais comuns  Exposição crônica por alimentos, ar e água.
(p.ex., erupção cutânea, náusea, vômito, diarreia,  Exposição por contato por vias inalatória e
inapetência, gosto metálico na boca e alterações digestiva.
das provas de função hepática (concentrações  Galvanoplastia consome de 45 a 60% do total
das transaminases). consumido no ano.
 Quando a concentração sérica encontra-se tão  Uso em ligas, varetas para soldagens, baterias
elevada a ponto de poder produzir uma lesão Ni-Cd, varetas de reatores, fabricação de tubos
cerebral, a hospitalização de emergência é para TV, fotografia, litografia e pirotecnia,
obrigatória. estabilizador de plásticos, fabricação de
 Dimercaprol e edetato de cálcio dissódico são semicondutores, células solares, contadores de
administrados em uma série de injeções. cintilação, retificadores e lasers.
 Após o tratamento com essas drogas ser
interrompido, a concentração sérica de chumbo Na população geral, a fonte primária de exposição ao Cd é
geralmente volta a aumentar à medida que o pelo alimento, com uma ingestão média estimada em 50
chumbo armazenado nos tecidos corpóreos é µg/dia. O Cd também é encontrado no tabaco; um cigarro
liberado. contém 1-2 µg de Cd.
 Os suplementos de ferro, zinco e cobre
geralmente são administrados para compensar a
depleção desses metais durante o tratamento Mecanismo de ação
prolongado com penicilamina.  Transporte até os rins por filtração glomerular
 Os efeitos colaterais do edetato de cálcio do complexo Cd-metalotioneína
dissódico provavelmente são causados pela  Acumula-se no córtex, ao nível dos túbulos
depleção de zinco. Eles incluem a lesão renal, a proximais, devido à reabsorção da proteína
concentração sérica elevada de cálcio, a febre e a  Supõe-se que o cádmio substitua o Zn em
diarreia. enzimas necessárias a reabsorção e
 A penicilamina pode causar erupções cutâneas, catabolismo de proteínas
presença de proteínas na urina e uma contagem  Uma das enzimas lesadas é a leucino-
leucocitária baixa. aminopeptidase, Zn dependente,
 O dimercaprol pode causar hemólise (destruição supostamente relacionada à utilização de
dos eritrócitos) em algumas pessoas. proteínas renais.
 Nenhuma dessas drogas deve ser administrada  Em ratos e coelhos, níveis menores de
com finalidades preventivas a indivíduos que proteínas são metabolizados, provocando
trabalham com chumbo, pois elas podem proteinúria tubular, o nível de Cd cessa de
aumentar a absorção do mesmo. aumentar, as células do tubo são danificadas
e o metal é eliminado.
10.3.3. Cádmio  Experimentos sugerem alterações no
metabolismo do cálcio e aumento no
É resistente à corrosão e exibe propriedades processo de osteoporose (Doença de Itai-Itai)
eletroquímicas úteis, que levaram ao seu uso em
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Por meio de mecanismo desconhecido o Cd induz a  Transferência pela placenta e a secreção pelo
formação de espécies reativas de oxigênio, resultando leite são menos importantes.
em peroxidação lipídica e esgotamento de glutationa.
Interação e antídotos
Toxicidade  Altas concentrações de chumbo e cádmio no
 O Cd liga-se a: grupos sulfidrílas das enzimas, sangue aumentam quase três vezes a
grupos carboxílicos, grupos fosfóricos, cisteína, propensão a desenvolver a doença arterial
histidina, ácidos nucléicos. periférica do que aqueles com níveis baixos
 A intoxicação por via oral: menos grave do que desses dois metais;
por via respiratória.  A exposição aos dois metais pode ser
 Via oral: náuseas, vômito e diarreia. através da fumaça de cigarros, do ar perto de
 Câimbras, vertigens, dores ósseas. áreas industriais, de fontes de combustão, de
 Proteinúria e glicosúria. certos alimentos e, às vezes, ao consumir
 Via respiratória: água;
 Rinorreia  Nas intoxicações agudas pelo cádmio não é
 Dispnéia recomendado o EDTA (agente quelante da
 Dor torácica medicina ortomolecular), que agrava o
 Edema pulmonar fatal quadro crônico, mas o NTA (ácido
 Enfisema progressivo (por inibição da antitripsina) nitrilotriacético). Em homeopatia usa-se
 Proteinúria o Cadmium em diferentes potências para
 Anemia hipocrômica. retirá-lo do organismo;
 Selênio - oligo-mineral presente nas vísceras
Efeitos e Toxicocinética de animais, castanha-do-pará, peixes e
 Absorção é o sistema respiratório. crustáceos estimula as defesas naturais do
 A dieta diária contém de 30 a 60 µg de cádmio, organismo, sendo considerado antídoto para
cuja absorção é de 2-7%, com pico de 20% nos intoxicações por Hg, Pb e Cd. O mecanismo
indivíduos com teor de ferro limitado. é desconhecido.
 O Cd embora presente em todos os tecidos,
possuem maior afinidade pelo fígado e rim, pela Tratamento
elevada presença, nesses órgãos, da Não há evidências d benefícios clínicos com o tratamento
metalotioneína. por quelação após o envenenamento por cádmio, e o
 No sangue o Cd é intra-eritrocitário. tratamento quelante pode resultar em efeitos adversos.
 O Cd é eliminado principalmente através da urina
e pouco pelas fezes 10.3.4. Mercúrio
 Meia- vida biológica
 Cádmio no sangue é de um a três meses. O Mercúrio (Hg) é um metal singular, pois é liquido na
 Cd no organismo: meia vida muito longa (10-30 temperatura ambiente. Como possui capacidade de
anos). amalgamar outros metais, o Hg foi usado massivamente
 Primeiros sintomas surgem em poucas horas com desde a antiga Grécia e a toxicidade por mercúrio já foi
irritação no local de absorção; relatada por Hipócrates. Durante séculos, o Hg foi usado
 Quando a intoxicação é oral, os sintomas são como droga terapêutica. Por exemplo, foi usado no
fortes náuseas, vômitos e diarreia, salivação tratamento da Sífilis por Paracelso (1493-1541), cujo nome
excessiva e contrações abdominais; verdadeiro era Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus
 Intoxicação grave pode levar a falência renal com von Hohenheim, médico e alquimista, e que a partir desse
depressão cardiopulmonar e consequente morte uso disse “Todas as substâncias são venenos, não
em 7-14 dias, assim como acidose metabólica e existe nada que não seja veneno. Somente a dose
morte em 24h; correta diferencia o veneno do remédio”; essa frase se
 O cádmio tem lenta excreção pelo organismo. O tornaria mais tarde um dos conceitos centrais da
órgão alvo primário em longo prazo é o rim; Toxicologia. E, o uso de mercúrio na Sífilis originou a
 Os efeitos tóxicos compreendem distúrbios célebre advertência da época “uma noite com Vênus, um
gastrintestinais, após a ingestão do agente ano com Mercúrio...”.
químico;
 A inalação de doses elevadas produz intoxicação Ocupacional
aguda, caracterizada por pneumonite e edema  Preparações de amalgamas dentários
pulmonar  Lâmpadas
 A absorção do cádmio inalado varia de 0,1 a 50%;  produção de aparelhos científicos de precisão
 A absorção pelo TGI se dá a partir de mãos (termômetros, barômetros, manômetros)
contaminadas (alimentos e fumo) e da depuração  Plantas de produção de cloro-soda
de partículas depositadas na via respiratória. Os
níveis de absorção oscilam entre 3 a 7%; A frase “louco como um chapeleiro” se originou da
 A absorção cutânea é insignificante; exposição de chapeleiros ao vapor de mercúrio metálico
 No sangue o cádmio está nos eritrócitos, ligado à durante a produção de feltro para chapéus usando nitrato
metalotioneína (à medida que os níveis de mercúrio.
sanguíneos aumentam, a proporção de cádmio no
plasma diminui); Extra-ocupacional
 O cádmio tem meia-vida biológica de 10 a 30  Água potável
anos;  Peixes
 Nas exposições por baixas concentrações, 40 a
80% depositam-se no fígado e rins (córtex), e O Hg entra na atmosfera por fontes natural e
cerca de 20% nos músculos; antropogênica. Uma vez no ar, o Hg metálico (Hg 0) é foto-
 Excreção pela urina e fezes (não absorvido); oxidado a mercúrio inorgânico divalente (Hg2+) que, então,
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pode se depositar em ambientes aquáticos durante a 10.3.5. Cromo
chuva. Estas formas de mercúrio estão presentes
amplamente em recursos hídricos, tais como lagos, rios e O cromo (Cr) é um metal importante na indústria usado em
oceanos, onde são absorvidas pelos microrganismos. inúmeras ligas, em particular, aço inoxidável, que contém
Essas bactérias aquáticas podem metilar o Hg2+ formando 11% de cromo no mínimo. O Cr pode ser oxidado a
metilmercúrio (MeHg+) dentro do seu organismo, o MeHg+ múltiplos estados de valência, sendo que as formas
concentra-se em lipídeos e bioacumula na cadeia trivalente (CrIII) e hexavalente (CrVI) são as que têm
alimentar, de forma que a concentração nos importância biológica. Na verdade, o CrIII é um metal
organismos aquáticos, no topo de cadeia alimentar, é essencial envolvido na regulação do metabolismo da
bem elevada, sofrendo biomagnificação, como glicose. O CrVI é tido como responsável pelos efeitos
tubarões e peixe-espada (espadarte), causando assim tóxicos da exposição ao cromo.
perturbações significativas para a vida aquática.
Exposição:
Sintomas de toxicidade: Parece ser de corrente ingestão de alimentos,
A exposição humana ao Hg orgânico ocorre primariamente primariamente, embora também haja exposição pela água
pelo consumo de peixe. Outros alimentos têm baixos potável e ar.
níveis de mercúrio inorgânico. O composto de Hg orgânico
de maior preocupação é o MeHg+ que se forma no Toxicocinética:
ambiente a partir de Hg2+ pelas bactérias aquáticas. Tanto Cerca de 50-85% de partículas de CrVI inalado são
o Hg2+ quanto o MeHg+ formam ligações covalentes com absorvidos, enquanto que a absorção do Cr VI ingerido é
enxofre facilmente, o que determina a reação do mercúrio menor que 10%. As maiores concentrações ocorrem no
com resíduos sulfidrila das proteínas, em baixas fígado, rins e ossos. A meia-vida do CrVI é
concentrações, provocando a perturbação nas funções das aproximadamente de 40 h, e a do Cr III cerca de 10 h, isso
proteínas. Num envenenamento agudo de Hg, a morte reflete, com efeito, a retenção tecidual que sofre o Cr VI.
pode ocorrer entre 1 a 5 dias.
Toxicidade:
Sistema Nervoso e músculos Trabalhadores expostos ao Cr inalado podem desenvolver
O SNC é o alvo primário da toxicidade do metilmercúrio muitos dos seguintes sintomas da irritação pulmonar e do
com efeitos neurocomportamentais. trato respiratório superior:
 Epistaxe
 Irritabilidade  rinorréia crônica
 Timidez  prurido nasal e coriza
 Perda de confiança  atrofia da mucosa nasal
 Nervosismo  perfurações e ulcerações do septo nasal
 Perda de memória  bronquite
 Atrofia muscular  pneumoconiose
 Fraqueza  diminuição da função pulmonar e pneumonia
 Parestesia e déficit cognitivo
 Perda da visão Por ingestão:
 Perda da coordenação  úlceras orais
 Tremores  diarreia
 Depressão e insônia  dor abdominal
 Vômitos  indigestão e êmese

Tratamento: os trabalhadores expostos ao CrVI inalado apresentam


A êmese pode ser usada até 30-60 minutos da exposição índices elevados e mortes decorrentes de cânceres
ao Hg inorgânico, desde que o paciente esteja acordado, pulmonar e nasal. A exposição ambiental na água potável
alerta e não haja perigo de lesão corrosiva. A quelação é aumenta o risco de desenvolver câncer de estômago. De
benéfica nos indivíduos com exposição aguda ao Hg fato, há muitos mecanismos potenciais para a
inorgânico ou metálico. Porém, a quelação não oferece carcinogênese. Na verdade, após captação intracelular do
vantagens e vários quelantes potencializam os efeitos CrVI, ocorre sua redução para CrIII com oxidação de
tóxicos do metilmercúrio (MeHg+). moléculas celulares concomitante. O ascorbato é o redutor
primário, mas outras moléculas, incluindo glutationa,
Devido aos efeitos conflitantes do Hg e os ácidos graxos lipídeos, proteínas e ADN também podem ser oxidadas.
ω-3, há considerável controvérsia com relação ás
restrições ao consumo de peixe por mulheres em idade Tratamento:
reprodutiva e crianças. A EPA - Environmental Protection Não há protocolo-padrão para o tratamento do
Agency –, Agência de proteção ambiental dos EUA, envenenamento agudo com Cr. Uma conduta promissora
recomenda limitar a ingestão de peixe a 350 g por semana mostrada em roedores é o uso de redutores com
(duas refeições). No entanto, a FDA – Food and Drug ascorbato, glutationa ou N-acetilcisteína para reduzir o CrVI
Administration –, Agência de alimentos e medicamentos e CrIII após a exposição, mas antes da absorção, para
dos EUA considera revisar sua recomendação afirmando limitar a biodisponibilidade (ATSDR, 2008b). Estes
que os benefícios do consumo de peixe superam os riscos. compostos e EDTA aumentam a excreção urinária de
Noutro lado, a recomendação para que as mulheres cromo após a exposição a doses elevadas, particularmente
consumam peixes com menor conteúdo de mercúrio (atum se administrados para prevenir a captação celular.
light enlatado, salmão, pescada-polaca, bagre) e evitem os
grandes predadores (cação, peixe-espada, cavala e peixe- 10.3.6. Homeostasia do ferro
batata ou lofolátilo (tilefish), é aceita por quase todos).
Como o ferro livre é extremamente tóxico, o organismo
possui sistema para regulação do ferro que utiliza
proteínas de transporte e armazenamento cujas
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concentrações são controladas pelas necessidades de  O ferro pode então ser armazenado no enterócito
síntese de hb e de reservas adequadas ao organismo. como ferritina (hidróxido férrico + apoferritina) ou
Quase todo o fe utilizado no processo de hematopoiese transferido ao plasma pela ferroportina 1.
provém da catálise da hb nos eritrócitos senescente ou  No plasma, ele circula ligado à transferrina.
lesados.  A transferrina se liga a receptores de transferrina
As necessidades de ferro são determinadas pelas perdas que são engolfados por endocitose.
fisiológicas obrigatórias e pelas necessidades impostas  O tecido hepático é rico nesses receptores e
pelo crescimento. armazena grande quantidade de ferro.
 Quando as hemácias velhas são digeridas, o ferro
Fonte dietética: torna-se disponível novamente.
carne  É o ferro do heme na Hb e mioglobina (Ferro
hêmico)  é absorvido de modo mais eficiente , sem Assim a homeostasia depende dos seguintes fatores:
necessidade de dissociação em ferro elementar.
Obs.: O ferro não hêmico (presente em cereais e vegetais)  O aumento da eritropoiese está associado a um
deve ser reduzido a ferro ferroso. aumento do número de receptores de transferrina
nas células eritróides.
O ferro é normalmente absorvido no duodeno e na porção  A depleção das reservas de ferro e a anemia
proximal do jejuno, embora a parte mais distal do intestino ferropriva estão associadas a um aumento da
possa absorver ferro, se necessário. concentração sérica de transferrina.
Após a redução enzimática do Fe+3 para Fe+2, o ferro é  Quando os níveis de ferro livre estão baixos, a
transportado de forma ativa para o interior dos enterócitos síntese de apoferritina é inibida e o equilíbrio da
(duodeno e porção proximal do jejuno) através de uma ligação do ferro é desviado para transferrina.
proteína carreadora (DMT1 ou transportador de heme).  Quando os níveis de ferro livre estão elevados,
O ferro pode então ser armazenado no enterócito como ocorre maior produção de apoferritina, evitando
ferritina (hidróxido férrico + apoferritina) ou ativamente os efeitos tóxicos do ferro.
transportado ao plasma pela ferroportina 1, dependendo
das necessidades do organismo. Toxicidade aguda

Fatores que Influenciam na Absorção de Ferro:  É observada quase exclusivamente em crianças


que ingeriram diversos comprimidos de ferro
 O tipo de alimento (ferroso ou férrico) acidentalmente.
 Combinação com sais (fitatos e fosfatos)  Sintomas → Gastroenterite necrosante, vômito,
 Presença de ácido ascórbico e acido dor abdominal, diarreia sanguinolenta, seguido de
clorídrico no suco gástrico choque, letargia e dispneia. Pode levar a uma
 Combinação com outros minerais divalentes acidose metabólica grave, coma e morte.
 A absorção de ferro aumenta em resposta à  Tratamento → Irrigação intestinal completa e
presença de baixas reservas de ferro ou de deferoxamina (potente quelante do ferro).
aumento de suas necessidades.
Toxicidade crônica
Absorção do ferro:  Deposição excessiva de ferro no coração, fígado
 Absorção → duodeno e porção proximal do jejuno e pâncreas;
 Transporte → complexo transferrina-ferro férrico  Maior frequência na hemocromatose hereditária e
 Armazenamento → ferritina (céls. da mucosa em pacientes que recebem muitas transfusões de
intestinal, fígado, baço e ossos). Os dois locais hemácias por longos períodos (Talassemia
predominantes da absorção de ferro são o Major).
sistema reticuloendotelial e os hepatócitos.  Tratamento:
 Eliminação → fezes, bile, urina, suor; não há um 1) flebotomias intermitentes (na ausência de
mecanismo específico. anemias)
 No plasma, ele circula ligado à transferrina (que 2) Uso de quelantes de ferro (deferoxamina e
se liga a duas moléculas de ferro) até as células deferasirox)
eritróides situados na medula óssea para formar
hemoglobina ou até os hepatócitos para seu
armazenamento como ferritina
 O complexo ferro-transferrina se liga a receptores
de transferrina que se internalizam por endocitose
mediada por receptores. Após liberação do ferro,
o complexo TfR-Tf é reciclado para a membrana
plasmática, com liberação de Tf de volta ao
plasma.
 O tecido hepático é rico nesses receptores e
armazena grande quantidade de ferro.
 Quando as hemácias velhas são digeridas, o
ferro torna-se disponível novamente.

Metabolismo do ferro:
 Após a redução enzimática do Fe+3 para Fe+2, o
ferro é transportado para o interior dos enterócitos
(porção proximal do jejuno) através de uma
proteína carreadora (DMT1 ou transportador de
heme).
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Desenvolvimento de agentes quelantes para
11. FARMACOLOGIA DOS AGENTES utilização clínica
QUELANTES
O quelante ideal deve ter as seguintes propriedades:
11.1. Objetivo da terapêutica por quelação
 Específico para um dado metal tóxico.
 DL50 > 400 mg Kg-1.
A resposta mais importante à exposição ocupacional ou  Formar complexos de elevada estabilidade
ambiental é eliminar a fonte de contaminação. Com com o íon a remover.
frequência o tratamento da intoxicação por metal aguda  Capaz de deslocar o íon metálico da sua
necessita do uso de quelantes. ligação a ligandos endógenos.
Pode-se definir quelante como sendo um composto que  Muito solúvel em água.
forma complexos estáveis com metais, tipicamente como  Resistente à biotransformação.
anéis de cinco ou seis membros. Portanto, o objetivo da  Capaz de atingir os locais em que o metal se
terapêutica por quelação é administrar compostos acumula.
relativamente não tóxicos que se coordenem aos íons  Capaz de formar complexos solúveis em
metálicos tóxicos mais fortemente que as macromoléculas água.
celulares, formando assim complexos não tóxicos que por  Capaz de formar quelatos não tóxicos com o
sua vez são rapidamente excretáveis. metal tóxico, facilmente excretáveis e
estáveis a pH fisiológico.
Características dos agentes quelantes  Baixa afinidade pelos metais essenciais
(cálcio, zinco).
Um ligando é uma molécula ou íons que têm um, ou mais  Pouco dispendioso.
do que um átomo doador. Estes são os átomos com pares
de elétrons disponíveis para ligação que vão coordenar ao Agentes quelantes
metal. Os átomos doadores: ex. S, N, O,
Ligandos: Monodentados e Polidentados (bidentados, Dimercaprol: (2,3-dimercaptopropanol-1 = BAL)
tridentados, ...)
Quelato: complexo formado quando um ligando O dimercaprol foi desenvolvido durante a segunda guerra
polidentado (agente quelante) se liga. mundial como antidoto a Lewisita [dicloro (2-clorovinil)
arsina], um gás de guerra vesicante arsenical; daí o nome
Aplicações da terapêutica por quelação alternativo anti levisita britânica (BAL = British-anti-
lewisite). Além da sua ação sobre os arsenicais, o
Atualmente a maior parte das intoxicações agudas e dimercaprol também protege contra outros metais.
crônicas ocorre em pequena escala.
Intoxicações que ainda ocorrem com certa frequência: As ações farmacológicas do dimercaprol resultam da
formação de complexos quelatos entre seus grupos
 intoxicações agudas por ferro em crianças sulfidrila e os metais. Além disso, a ligação enxofre-metal
(ingestão de comprimidos) pode ser lábil no líquido tubular ácido o que aumenta a
 intoxicações por compostos de Bi, Au e Pt oferta de metal ao tecido renal e aumenta a toxicidade.
usados em clínica.
 intoxicações com pesticidas à base de Tl e  Atualmente usado para tratar intoxicações por As,
As. Hg e ouro (Au) e por vezes em conjugação com
 intoxicações devidas a várias formas de Hg. Na2CaEDTA para tratar encefalopatias
 intoxicação crónica de Cd (exposição provocadas por Pb em crianças.
ambiental ou ocupacional).  Administração unicamente por via i.m.
 intoxicação aguda ou crônica por Pb (biodisponibilidade oral reduzida), a sua solução
ocupacional ou em crianças. contém óleo de amendoim, por isso não deve
ser usado em pacientes alérgicos a amendoim
Característica química dos agentes quelantes ou derivados.
 Contraindicado na intoxicação por Cd, Fe, Se e
Te. Pois aumenta a absorção tecidual do íon
metálico.
 Foi usado para quelar o Cu2+ na doença de
Wilson.
 De entre os quelantes mais usados é o único que
facilmente atravessa as membranas celulares.

Ele é mais benéfico quando usado logo após a exposição


ao metal porque ele é mais eficaz em prevenir a inibição
das enzimas sulfidrilas do que em reativá-las.
É o mais tóxico dos quelantes correntemente usados
(náuseas, vômitos, febre, hipertensão, taquicardia, etc.).
No tratamento de intoxicações por As ou Hg tem sido
substituído pelo DMPS (ácido dimercapto propanil-1
sulfônico) [Dimaval®; Unithiol®] e DMSA (ácido
dimercaptosuccínico) [Chemet®; Succimer®].
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EDTA e compostos análogos: (EDTACaNa2 (ácido
etilenodiamino- tetracético cálcico dissódico) [Versenato de Alguns pacientes podem ter intolerância aos efeitos
Ca]). adversos da penicilamina; para esses pacientes a trentina
(dicloridrato de trietilenotetramina) é a alternativa aceitável.
O EDTA cálcico dissódico é o sal de ETDA preferido para É um fármaco cupriurético eficaz em pacientes com
a intoxicação por metais, desde que o metal tenha maior doença de Wilson, porém é menos potente do que a
afinidade pelo EDTA que o cálcio. O EDTACaNa2 é eficaz penicilamina. Usado também pela via oral, podendo causar
para tratar intoxicação aguda por Pb, particularmente em deficiência de ferro. Uso adequado concomitantemente de
associação ao dimercaprol, mas não quela eficazmente o ferro pode superar a deficiência causada pela trientina; no
Hg ou o As in vivo. entanto, o ferro e a trientina não podem ser administrados
Por ser ionizado em pH fisiológico, o EDTA possui pouca com intervalo menor de 2 h entre ambos.
lipossolubilidade. EDTACaNa2 mobiliza vários cátions
metálicos endógenos, incluindo zinco, manganês e ferro. Deferoxamina; Deferasirox
Assim sendo, pode ser benéfica a suplementação adicional A deferoxamina é isolada como quelato de ferro do
com zinco após tratamento com o quelante. O uso streptomyces pilosus e tratada quimicamente para obter o
terapêutico mais comum do EDTACaNa2 é a intoxicação ligante livre do metal. A deferoxamina possui elevada
aguda por Pb. afinidade pelo ferro férrico e afinidade muito baixa pelo
Pala via oral, menos de 5% do EDTACaNa2 é absorvido, e cálcio. O ferro da hemoglobina e dos citocromos não é
também, pode aumentar a absorção do Pb no TGI por removido pela deferoxamina.
essa via. Tem uma meia-vida de 20-60 min por via A deferoxamina (mesilato de deferoxamina) é pouco
endovenosa. Aproximadamente 5% da concentração absorvida pela via oral, por isso é necessária sua
plasmática do EDTACaNa2 tem acesso ao líquido administração parenteral. Em intoxicações por ferro
cerebroespinal. (concentrações séricas acima de 500 µg/dL), prefere-se a
O EDTACaNa2 é nefrotóxico, o que é o seu principal efeito via endovenosa. Pode ser administrada pela via
tóxico. Doses elevadas podem levar á degeneração das intramuscular em casos de intoxicação moderada. (350 a
células tubulares proximais. Outros possíveis efeitos 500 mg/dL).
indesejados incluem espirros, congestão nasal e A deferoxamina não é recomendada na hemocromatose
lacrimação, glicosúria, anemias, dermatite com lesões primária; a flebotomia é o tratamento de escolha.
muito similares à deficiência de vitamina B6 (piridoxina). A Além de intoxicações por ferro, a deferoxamina também é
vitamina B6 deve ser administrada simultaneamente, pois usada para quelar alumínio em pacientes sob diálise.
a penicilamina inibe as enzimas dependentes de Ela causa várias reações alérgicas (pruridos, edemas,
piridoxina. erupções cutâneas e anafilaxia). Em tratamento
prolongado com altas doses na talassemia major
Penicilamina; Trientina: dependente de transfusão, ela pode causar
Penicilamina é um metabólito da penicilina. Por isso deve neurotoxicidade. Foi associada às doses altas (10-25
ser contraindicada para os indivíduos que têm alergia á mg/kg/h) a “síndrome pulmonar” composta por taquipnéia,
penicilina. Por ter propriedade quelante foi usado em hipoxemia, febre e eosinofilia.
pacientes com doença de Wilson (degeneração
hepatolenticular por excesso de cobre devido à excreção A deferasirox é quelante por sobrecarga de ferro,
diminuída) e intoxicações por metais pesados. administrado por via oral. Normalmente administrado a
A penicilamina é mais tóxica e menos potente e seletiva pacientes que recebem transfusões sanguíneas
para quelar metais pesados do que outros quelantes. Ela terapêuticas.
não e tratamento de primeira escolha na intoxicação aguda
por Pb, Hg ou As. No entanto, por ser disponível por via Lembrando que o tratamento com quelante pode aumentar
oral e barato, frequentemente é usada em doses baixas, os efeitos neurotóxicos dos metais pesados e só é
após o tratamento com EDTACaNa2 e/ou dimercaprol para recomendada para intoxicações agudas. Pois, após
assegurar a diminuição da concentração do metal pesado exposição crônica, a quelação não mostra benefícios
depois da alta hospitalar. Ela é usada geralmente para clínicos além dos obtidos apenas com a cessação da
tratar intoxicação por Cobre, Hg, zinco e Pb. exposição e alguns casos, prejudicam mais do que
Usado pela via oral, 1-1,5g/dia fracionado em quatro ajudam.
doses. Deve ser administrada em jejum para evitar a
interferência com os metais de alimentação. Além do
seu uso como quelante, também é usada na doença de Principais quelantes em uso clínico terapêutico e suas
Wilson, na cistinúria e raramente na artrite reumatóide. respectivas indicações
A penicilamina é bem absorvida (40-70%) do TGI. Os
alimentos antiácidos e ferro reduzem sua absorção. A
N-acetilpenicilamina (metabólito) é mais eficaz que a Metais quelados e
Agente quelante
penicilamina na proteção contra os efeitos tóxicos de outros usos
(nome científico) e [nome comercial]
mercúrio, presumidamente por ser mais resistente a terapêuticos
biotransformação.
1. Dimercaprol (BAL) ou (2,3-
O uso prolongado de Penicilamina provoca lesões na pele, As, Hg, Pb, Au
dimercaptopropanol)
tais como urticária e reação papulosa ou macular, lesões
penfigóides, lúpus eritematoso, dermatomiosite e efeitos 2. DMPS (ácido dimercapto
adversos no colágeno e outras reações menos graves, por propanil-1- sulfônico) [Dimaval®; As, Hg, Pb
exemplo, desidratação e descamação. Unithiol®]
A penicilamina é teratogênica em animais de laboratório,
3. DMSA (ácido
mas para gestantes com doença de Wilson o benefício
dimercaptosuccínico) [Chemet®; Pb, As, Hg, Al
parece superar o risco. Alguns efeitos menos graves
Succimer®]
podem incluir diarreia, êmese, dispepsia, anorexia e perda
temporária do gosto doce e salgado, o que é aliviado 4. (D-penicilamina) [Cuprimine®; Cu, Pb, As, Hg, Au
com a suplementação de cobre na dieta. Depen®] Doença de Wilson,
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cirrose biliar
5. EDTACaNa2 (ácido
etilenodiamino- tetracético cálcico Pb
dissódico) [Versenato de Ca]
6. Desferoxamina (mesilato de
Fe
desferoxamina) [Desferal®; DFO]
7. (N-acetilcisteina) [Acetilcisteina; Hg, Co,
N-acetil; Mucomyst®] Acetoaminofen
8. (N-acetil-D,L-penicilamina) Hg
9. Azul da Prússia (Fe4[Fe(CN)6]3)
[Ferrocianeto férrico; Ferrocianeto 137Cs, Ta
de K]
10. (Dihidrocloreto de trientina) Cu,
[Trientina®; Trien®] Doença de Wilson
11. DTPACaNa3 (ácido
dietilenoamino- pentacético cálcico 239Pu
trissódico)
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 Klaassen, C.D. – Casarett & Doull´s Toxicology – McGraw-Hill, 2001
 Savet,M.; Bertholle, V.; Vernardet, S. et al. Place de la pharmacocinétique clinique dans la détection, la
collecte et la déclaration des erreurs médicamenteuses en pédiatrie. Journal de Pharmacie Clinique, vol.24,
n.1, p.31-39, 2005.
 Toxicologia Forense – Teoria e Pratica; Marcos Passagli;
 TOZER, Thomas N.; ROWLAND, Malcolm. Introdução à farmacocinética e à farmacodinâmica: as bases
quantitativas da terapia farmacológica. Porto Alegre: Artmed, 2009.

“Todas as substâncias são venenos, não existe nada


que não seja veneno. Somente a dose correta
diferencia o veneno do remédio.” Paracelso.

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