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Antitruste do CADE
Módulo
2
Noções Gerais Sobre o
Programa de Leniência
Antitruste
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Presidente
Diogo Godinho Ramos Costa
Conteudista/s
Amanda Athayde (conteudista, 2019)
Enap, 2019
• 5 questões avaliativas.
Sugerimos que você veja o conteúdo dos módulos e responda às questões na ordem em que
estão dispostas. Você é livre para cursar os módulos na ordem que achar melhor - dentro do
período de duração do curso, mas as questões devem sempre ser respondidas para que você
possa avançar dentro de cada módulo. Tenha certeza de que fez tudo, módulos e questões, para
não ter problemas com a obtenção do certificado ao final do curso!
Lembrando: você navegará por todo o conteúdo e atividades em sequência, podendo avançar e/
ou retornar sempre que achar necessário.
Vamos nessa!
Sabendo o conceito de Acordo de Leniência, questiona-se: por que fazer esse tipo de acordo? As
justificativas para a instituição de um programa estatal que concede tais benefícios em sede de
acordo são pelo menos sete:
O “truque da leniência” é fazer com que cada um dos potenciais delatores saiba que o incentivo
da cooperação (a “cenoura”) foi oferecido para todos os participantes do ilícito, forçando-os a
decidir se e quão rápido devem “mudar de lado” e receber a rara recompensa: certa e completa
segurança contra a persecução judicial. Caso não cooperem, as sanções serão aplicadas a todos
os demais coautores (“o bastão”). Essa estratégia é conhecida como instrumento da “cenoura e
do bastão” (“carrot and stick approach”).
2. Obtenção de Provas
Saiba mais
Confira alguns exemplos das possíveis informações e documentos que podem
ser obtidos de um colaborador sobre uma determinada reunião.
4. Cessão da Infração
Pode-se dizer que o Programa de Leniência aumenta os riscos da prática ilícita, uma vez que
facilita a sua detecção, torna a investigação mais rápida e robusta e, por consequência, aumenta
as chances de condenação. Ao tornar os riscos de praticar o ilícito maiores do que as vantagens
Compromisso, por parte das agências, de investigar vigorosamente as práticas que serão objeto
de acordo.
Importante
Nesse sentido, é importante notar que os Programas de Leniência se tornam
especialmente eficazes quando são complementados por outros instrumentos.
Em outras palavras, deve haver uma ameaça crível, para a empresa envolvida
em atividades ilegais, de que a conduta ilícita também será descoberta por
outros meios.
Assim, é importante que as autoridades não contem apenas com os chamados “métodos
reativos”, mas também com “métodos proativos” de detecção de ilícitos. Os métodos reativos
estão relacionados à identificação de infrações com base em algum evento externo à autoridade
investigadora. Os métodos proativos, por sua vez, são aqueles iniciados pelas próprias
autoridades investigadoras, não dependendo de um evento externo. O ideal é que os métodos
reativos e proativos sejam utilizados de forma complementar pelas autoridades, para ampliar as
oportunidades de detecção das infrações e, consequentemente, aumentar o temor dos infratores
de que a autoridade seja capaz de detectar a conduta. Segundo a Organização para Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a experiência da maioria das autoridades indica que
métodos mistos de detecção de infrações, ou seja, que contam tanto com instrumentos reativos
quanto com mecanismos proativos, contribuem mais com o combate às infrações.
Compromisso, por parte das agências, de investigar vigorosamente as práticas que serão objeto
de acordo.
Isso passa tanto pela aplicação de multas severas às empresas infratoras, como pela persecução
criminal das pessoas envolvidas. A responsabilização individual aumenta os custos de
implementação de um ilícito, já que a empresa (e seus acionistas atuais) não será capaz de “arcar”
Saiba mais
Há tempos, a divisão antitruste do Departamento de Justiça dos Estados
Unidos (DOJ) apregoa o tempo de cumprimento de pena de prisão (“jail time”)
como a forma mais eficaz de dissuadir a “tentação de trair o sistema e lucrar
com a colusão”. O foco na penalização das pessoas se justifica na medida em
que uma das formas mais efetivas de combate a infrações corporativas é a
responsabilização.
No Brasil, cartel é crime, nos termos do art. 4o da Lei 8.137/90, punível com
pena de reclusão de dois a cinco anos e multa. Nesse sentido, o Cade reconhece
que a pena de prisão pode dissuadir futuros cartéis e vem, consequentemente,
incrementando sua cooperação com as Polícias Federal e Civil e com os
Ministérios Públicos para assegurar que quem não participar do Programa de
Leniência esteja sujeito à investigação e à condenação criminal.
Assim, ainda que uma infração esteja sujeita a sanções criminais, civis e administrativas, se as
empresas e seu corpo executivo não forem adequadamente dissuadidos e informados acerca do
poder punitivo das autoridades, podem entender que as possíveis penalidades são compensadas
pelas potenciais recompensas da infração. Daí a relevância de haver, também, decisões,
condenações prévias e sanções efetivas, as quais, além de punir quem infringir determinada
conduta, enviam uma mensagem bem clara ao mercado: “não admitimos esse tipo de conduta e
a iremos punir com severidade”.
Nesse sentido, entende-se que algumas dúvidas que podem pairar sobre quem decide por
3- Existem vedações?
6- Existem cláusulas-padrão?
10- Existe uma expectativa dos benefícios ou eles são completamente discricionários?
Saiba mais
Nesse sentido, deve estar claro quem é a equipe responsável pela negociação
(quem é a cara com quem eu vou negociar?); como vai ser o manuseio das
informações e dos documentos; como se dará a entrega dos documentos e
informações (material digital ou material impresso?); quem vai ter acesso ao
banco de dados que contém as informações fornecidas pelo leniente; como
vai ser franqueado o acesso dos servidores a esse material (cada um vai ter
um login e senha?); se esses documentos estarão em uma sala-cofre ou não
No Brasil, o Programa de Leniência foi introduzido pela Lei nº 10.149/2000, que alterou a Lei nº
8.884/94 (artigos 35-B e C), com o objetivo de fortalecer a atividade de repressão de infrações
à ordem econômica do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC). Atualmente, o
Programa de Leniência Antitruste brasileiro encontra-se previsto nos artigos 86 e 87 da Lei nº
12.529/11.
A Lei nº 12.529/11, que entrou em vigor em maio de 2012, trouxe algumas sutis, mas importantes,
modificações em relação ao Programa de Leniência Antitruste da lei anterior, da Lei nº 8.884/94.
As principais modificações são: 1) a alteração da autoridade competente para celebrar o acordo;
2) o fim do impedimento para que o líder do cartel seja proponente do acordo; e 3) a ampliação
dos ilícitos penais cobertos pela imunidade concedida ao signatário do acordo.
Incluída na Lei nº 12.529/11, a opção de impedir que o líder do cartel proponha o Acordo de
Leniência Antitruste parece ter sido sensata. Embora exista o risco já mencionado, entende-se
que o acordo é mitigado em prol da segurança jurídica. Ora, seria difícil estabelecer quais seriam
os critérios para se definir quem é o "líder do cartel", como mostram as questões do quadro
abaixo.
Seria aquele que foi mais ativo na conduta, enviando e-mails, agendando reuniões,
manifestando-se oralmente?
Todos esses que, em algum momento, tiveram participação mais ativa, poderiam vir
a qualificar-se como líderes e, portanto, teriam vedada a celebração de um acordo
de leniência?
A exclusão da vedação de que o líder do cartel celebre Acordo de Leniência também é benéfica,
porque reforça outro pilar de um Programa de Leniência, que é o alto risco de detecção. Ora,
qualquer participante da conduta colusiva tem o potencial de delatar aquele cartel às autoridades
a qualquer momento dos contatos anticompetitivos. Assim, empresas e/ou indivíduos, desde
o primeiro contato de cunho anticoncorrencial, sejam elas líderes ou não, podem reportar
tais fatos à autoridade antitruste, o que tem como condão aumentar a insegurança entre os
partícipes e desincentivar novas condutas colusivas.