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Pedro Alberice e Robson Lopes Especial
Pedro Alberice e Robson Lopes Especial
Resumo
Este trabalho visa a apresentar aspectos históricos da literatura infanto-juvenil e mostrar suas
relações com a Pedagogia. Inicialmente, há uma tentativa de conceituação da literatura para crianças
e adolescentes. A seguir, busca-se apresentar alguns dados históricos sobre o surgimento e evolução
dessa literatura no Ocidente e no Brasil, passando por Monteiro Lobato, que é um divisor de águas
no panorama literário brasileiro. Um breve comentário sobre o que se escreveu, dos anos setenta do
século passado até hoje, termina a exposição histórica. Finalmente, há um breve discorrer a respeito
das relações entre a literatura e a formação da criança.
Palavras-chave: literatura infanto-juvenil, história, pedagogía.
Resumen
Este trabajo tiene como objetivo presentar aspectos históricos de la literatura infantojuvenil y
mostrar sus relaciones con la Pedagogía. Inicialmente hay un intento por conceptuar la literatura
para niños y adolescentes. A continuación, se busca presentar algunos datos históricos sobre la
aparición y evolución de esta literatura en Occidente y en Brasil, pasando por Monteiro Lobato,
que es un punto de inflexión en el panorama literario brasileño. Un breve comentario sobre lo que
se ha escrito, de los años setenta del siglo pasado hasta la actualidad, termina la exposición histórica.
Por último, hay un breve discurso sobre la relación entre la literatura y la educación de los niños.
Palabras-clave: literatura infantojuvenil, historia, pedagogía.
Introdução
Denomina-se literatura infantil o conjunto de obras escritas, muitas vezes ilustradas, que na
maioria das vezes são lidas com mais freqüência por crianças. A literatura, como se sabe, tem como
matéria prima a palavra.
Para entendermos melhor o que é literatura infantil, é preciso, ao menos, tentar conceituá-
la. Neste sentido, temos que verificar se ela aponta a realidade com uma roupagem nova e criativa,
contendo o fantástico, o mágico, o maravilhoso e o poético. É, portanto uma linguagem
instauradora de realidade e exploradora dos sentidos, a qual possui uma capacidade de gerar
inúmeras significações, uma leitura após outra.
Através da obra literária, a criança terá uma compreensão muito maior de si e do outro. Por
isso é importante que desde cedo, ela tenha esse contato com o mundo mágico da literatura escrita,
que é importante e fundamental para o desenvolvimento delas. Isso porque a literatura é capaz de
transportar a criança para o mundo da fantasia e da imaginação. Por estar carregada de simbolismo,
prepara a criança para lidar com a vida, transmitindo valores a esse processo de formação, social,
pessoal, intelectual, cultural e político. A obra literária é composta de realidade e fantasia,
permitindo que a criança crie condições para lidar com suas emoções e sentimentos.
Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e
Ciências Sociais – Ano 12 Seção Especial - Dezembro – 2016 ISSN 1809-3264
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Assim pode-se afirmar que a literatura infantil foi uma facilitadora para o aprendizado na
educação infantil, como lembra Cademartori:
A visão de mundo oferecida pela literatura infantil tem contribuído para uma constante
renovação e descoberta. Além disso, sendo toda a interpretação, em principio, válida - porque vinda
da revelação do universo representado na obra - ela impede a fixação de uma verdade anterior e
acabada.
O mundo fictício dos contos de fadas, da magia, dos finais felizes, expresso nos livros
infantis, possibilita às crianças a idealizarem um mundo de paz, sonhos, amor e
brincadeiras. A leitura proporciona uma fuga da realidade, penetrando-se em um
mundo em que o leitor torna-se o personagem com o qual ele mais acredita se
identificar. (idem. p. 54)
Para que a literatura infantil provoque a interação participativa do aluno com a obra, é
necessário que o professor interprete a sua simbologia. E para isso, é necessária uma formação do
professor que contemple o conhecimento da literatura infantil e um sólido aprofundamento na
teoria do seu ensino. O professor precisa desenvolver o gosto e o hábito pela leitura, pois a postura
pedagógica do educador é de fundamental importância no desenvolvimento da experiência crítica
do aluno.
Como se sabe, as mudanças ocorridas com a sociedade, nos séculos XVII e XVIII,
influenciaram a forma de perceber a criança, que até então era percebida como um adulto em
miniatura. A partir de então, ela passou a ser compreendida como pessoa e com necessidades e
características próprias.
Segundo Lajolo & Zilbermann que a criança de então “passa a deter um novo papel na
sociedade, motivando o aparecimento de objetos industrializados (o brinquedo), e culturais (o livro)
ou novos ramos da ciência (a psicologia infantil, a pedagogia ou a pediatria) de que ela é
destinatária” (1998, p. 17). Com a interpretação desta nova imagem de criança, todas as instituições
relacionadas a elas sofreram transformações, buscando-se compreender esse novo olhar sobre a
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figura infantil.
Tem-se como verdade que o surgimento da literatura infantil no contexto mundial ocorreu
no século XVII, com Charles Perrault e a publicação de Contes de ma mère l’oyé (1697). As lendas e
tradições folclóricas transmitidas oralmente de geração em geração, foram as principais fontes
inspiradoras do trabalho desse intelectual francês. O resultado foi uma grande atração por parte das
crianças por essas histórias, que acabaram por constituir-se a primeira grande expressão da literatura
infantil no Ocidente. Perrault, aliás, não poderia prever que suas histórias infantis, por natureza e
estrutura, constituiriam um novo estilo dentro da literatura e que ele seria considerado inaugurador
desse novo momento. Suas histórias costumam ser reconhecidas como portadoras de considerável
riqueza imaginativa, agradando plenamente às crianças ao retratar a sociedade de seu tempo, isto
numa atmosfera de fantasia e jogo lúdico, entre fadas e bruxas. A literatura deixou de ser apenas um
jogo verbal para se caracterizar pela busca do conhecimento, passando a ser usada para instruir. Os
livros se tornaram, então, quase como manuais, pois a preocupação didática passou a ser uma das
característica dos novos tempos. E, assim, esse singular fazer literário passou servir para a
divulgação de novos valores, servindo, ao mesmo tempo, para serem alcançadas finalidades
pedagógicas.
E foi justamente nesse período que a literatura de aventura passou a despertar o interesse
da criança, como uma forma de se compensar a carga de ensinamentos com a ação e movimento
que caracterizavam o gênero. Os estabelecimentos de ensino foram o meio de divulgação dos
objetivos e valores da burguesia, o que prejudicou o entendimento da literatura infantil como forma
da expressão da arte e motivadora dos interesses da criança pela leitura. A reação veio do próprio
leitor, que passou a valorizar a aventura até como forma de escapar de um certo pedagogismo.
No final do século XVIII, a literatura infantil com caráter pedagógico começou a transitar
no Brasil, com obras adaptadas de Portugal. Neste período, as traduções começaram a ter maior
espaço no mercado, apesar de ser uma fase que podia ser considerada embrionária. Conforme
lembram Lajolo & Zilbermann (1998), dois autores se destacaram: Carlos Jansen e Figueiredo
Pimentel. O primeiro foi reescritor das seguintes obras: “Contos Seletos das Mil e uma Noites”, de
Daniel Defoe; “Robinson Crusoé” , de Jonathan Swift; “ As Viagens de Gulliver à terra
desconhecida”. Figueiredo Pimentel publicou os “Contos da Carochinha”, tradução dos clássicos
de Perrault.
início do século 20, a ser questionada no Brasil, especialmente por problemas causados pelo
distanciamento lingüístico, dificultando assim a compreensão e interpretação das obras, já que a
escrita se apresentava no português de Portugal, divergente do falado no Brasil. Além disso, já era
evidente, nesse momento, a diferenciação entre a representação de mundos e identidades culturais
diversas, visto que já começava a despontar o sentimento de nacionalidade dos brasileiros.
“mágico” dos computadores, que tomam o espaço em nossa sociedade contemporânea. Apesar
dessa “magia eletrônica” ou da ascensão da informática, a Literatura continuará tendo um
importante valor no mundo, permanecendo como suporte em todas as áreas das ciências humanas.
É nessa complexidade que a Literatura Infantil, vem sendo criada, atenta ao nível do leitor
a que se destina, tendo consciência de que a imaginação é o espaço ideal e que, sem sombra de
dúvidas, contribui significantemente para a formação das crianças.
A literatura tem poder de fecundar e de propagar idéias, como também padrões ou valores
que vêm servindo à Humanidade através dos tempos. Como lembra Cecília Meireles (1984, p. 54),
“não se pode evocar uma infância de outrora, sem a sentir nessa atmosfera de ensinamentos
tradicionais”. A criança precisa ser orientada, ludicamente, sem tensões ou traumas para que
consiga estabelecer relações fecundas entre o universo literário e seu mundo interior, formando
uma consciência que facilite ou amplie suas relações com o universo real que ela está descobrindo
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dia após dia, e assim situar com segurança, para poder nele agir.
O grande questionamento que se nos apresenta, é saber a ideal literatura infantil para a
criança: a realista ou a da fantasia? Acredito que nenhuma é melhor nem tampouco pior, sendo
apenas diferentes, dependendo das relações de conhecimento que se estabelecem entre homens e o
mundo. Nos primórdios, a literatura foi mais fantástica, quando as coisas eram inexplicáveis pela
lógica. Nas fábulas já se revelava a preocupação crítica com a realidade no nível das relações
humanas. A transformação em literatura infantil aconteceu, pela natureza mágica de sua matéria que
atraía espontaneamente as crianças.
A leitura dos contos ditos maravilhosos, com os seus significados simbólicos, leva o leitor a
descobrir, na obra, pessoas ou situações que, de alguma forma, iluminam sua vida, funcionando
como espelho no qual o leitor se mira e acaba encontrando a si próprio. Coelho (1987, p. 33)
lembra que o maravilhoso “sempre foi e continua sendo um dos elementos mais importantes na
literatura para crianças”. Por meio do conto de fadas, a criança lida simbolicamente com seus
temores, que são muito lógicos. Podemos afirmar que é, nesse período de amadurecimento interior,
que a literatura infantil e, principalmente, os contos de fadas podem ser decisivos para a formação
da criança em relação a si mesma e ao mundo a sua volta.
Considerações Finais
Ao concluir este trabalho, é possível perceber que o ideal é que a literatura siga o seu
caminho de promover a autodescoberta de seus leitores. Ela é o reflexo da vida. É como um
encontro lúdico com a própria existência, pois ela é o espelho da mesma.
Bibliografia
CADERMARTORI, Lígia. O que é Literatura Infantil. 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
COELHO, Nelly Novaes. A literatura infantil. São Paulo: Quirón, 1987.
FERREIRA, Laís Silva. A voz e a vez da mulher em “Memórias da Emília”, de Monteiro
Lobato. 53 f. Monografia (Graduação em Pedagogia Supervisão DAIEF - Docência dos Anos
Iniciais do Ensino Fundamental) – Fundação Universidade Federal do Tocantins, Miracema do
Tocantins, Tocantins, 2008.
LAJOLO & ZILBERMANN, Regina. Literatura infantil brasileira: histórias e histórias. 4. ed.
São Paulo: Ática, 1998.
MEIRELES, Cecília. Problemas da literatura infantil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.