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ARTE DA TECNOLOGIA DO HIDROGÊNIO - Review

Rafael Silva Capaz - Graduando em Engenharia Ambiental /


Universidade Federal de Itajubá
Dr. Valdecir Marvulle - Professor Titular do Instituto Recursos Naturais /
Universidade Federal de Itajubá

Resumo
A era em que vivemos, desde há muito é denominada “era do petróleo”, uma vez que suas
bases ainda se fazem dependentes deste “ouro negro”. Sabe-se, entretanto, que por mais otimista
que seja a estimativa, o petróleo irá se extinguir algum dia. Basta recorrermos a esta afirmação para
justificar o fato da ciência ter lançado mão de pesquisas sobre novas fontes de energia, que se
apresentam como alternativas geralmente renováveis e com o menor impacto ambiental possível.
A arte da tecnologia do hidrogênio, crescente nos dias atuais, envolve etapas de produção
desde reações de gaseificação até decomposições térmicas e termoquímicas; armazenamento na
forma gasosa, líquida e em compostos intermediários, transporte e ainda utilização, especialmente em
células a combustível.

Abstract
The age we are, since many years ago is called “petroleum age”, because its bases are
dependents on “black gold”. It’s thought, however, that for more optimists the estimates are, the
petroleum will be over on day. It’s necessary to justify the fact science to look for new energy’s
sources, which appear as renewable alternatives and with less and possible environmental impact.
The art of hydrogen’s technology, increasing nowadays, involves production’s steps since
gasification reactions to thermal decomposition; storage in gas and liquid state, in intermediary
compounds, transport, and utilization, especially in fuel cells.

1) Introdução

O hidrogênio tem sido cada vez mais visto como uma possibilidade energética, devido ao seu baixo
impacto ambiental e seu alto valor energético. O fato de poder ser armazenado e consumido quando
necessário, além de poder ser convertido na fonte primária original (eletricidade, por exemplo), ou em
outra forma de energia, faz do hidrogênio “um excelente vetor energético, servindo de elo de ligação e
de conversão entre diferentes fontes e formas de energia”. (SILVA, 1991)

O hidrogênio, apesar de conhecido desde o século XVI, só a partir do desenvolvimento do processo


de síntese da amônia em 1913 e da I Guerra Mundial, passou a apresentar um interesse industrial,
sendo produzido em maior quantidade. Entretanto, apenas a partir da II Guerra Mundial através da
redução dos custos devido ao desenvolvimento tecnológico e aos baixos preços do gás natural é que
passou a ser produzido em longa escala. As tecnologias modernas de geração do hidrogênio são
ainda mais recentes, datando dos anos 60, a partir dos programas espaciais. (SILVA 1991)

Atualmente, um grande número de pesquisadores e recursos é envolvido em estudos com o


hidrogênio, promovendo avanços em sua arte e permitindo-o cada vez mais ser visto como uma
“moeda energética” forte para os tempos de hoje e vindouros.

2) Geração de Hidrogênio
Hidrogênio pode ser produzido a partir de fontes primárias de energia, tais como os combustíveis
fósseis (carvão, petróleo, gás natural), a partir de intermediários químicos (tais como os produtos de
refinaria, amônia, etanol) e a partir de fontes alternativas de energia tais como a biomassa, biogás e
gás de lixo. (PIETROGRANDE; BEZZECCHERI, 1993)
Para obtê-lo é necessário extraí-lo de substâncias onde ele está presente, como a água e os
compostos orgânicos. Existem vários processos de extração do hidrogênio e todos eles requerem
energia. (TOLMASQUIN, 2003).

A Figura 1 seguinte explicita os principais processos utilizados, segundo o Centro Nacional de


Referência de Hidrogênio (CENEH), sediado na Universidade de Campinas (UNICAMP).

Figura 1: Alternativas de produção do hidrogênio (CENEH)

Como dito anteriormente, a produção de H2 necessita de insumos energéticos razoáveis. Na 1ª coluna


da figura 1, observa-se em verde os insumos energéticos renováveis que, de maneira geral, se
apresentam como fortes alternativas para os combustíveis fósseis. Atenta-se aqui para a reforma a
vapor de combustíveis líquidos ou gasosos provenientes da biomassa, como o etanol e o biogás.
Devido a grande capacidade de biomassa no Brasil e a considerada simplicidade no método de
reforma a vapor, tais processos são vistos com grande consideração. Em laranja estão explicitados os
insumos não renováveis. Percebe-se em acordos internacionais de cooperação científica e em
Congressos Internacionais que as companhias energéticas baseadas em combustíveis fósseis
sugerem fortemente a produção de hidrogênio proveniente de insumos fósseis, alegando maior
conhecimento e segurança da tecnologia.

3) Armazenamento e Transporte do Hidrogênio

Abaixo na Figura 2 explicitam-se as diversas maneiras que o hidrogênio pode ser armazenado e
transportado, tendo como principal base os estudos de SILVA (1991).
Figura 2: Possibilidades de armazenamento e transporte de Hidrogênio

Estado Suportes de Armazenamento Comentários


Este é o estado natural mais freqüente em que o hidrogênio é
-Gasômetros: Embora acessível economicamente, é utilizado
produzido, armazenado, transportado e utilizado.O transporte possui
para armazenamentos estacionários devido o tamanho do
como principal problema a baixa densidade do fluido e
reservatório.
conseqüentemente da quantidade de energia transportada, o que
-Cilindros: O armazenamento em cilindros pressurizados
pode inviabilizar o processo. Atualmente existem duas principais
implica em uma maior densidade volumétrica do gás no
formas de transportar o hidrogênio gasoso: em gasodutos e em
reservatório. Com pressões de operação dos compressores
cilindros pressurizados por rodovias. Em gasodutos, a tecnologia é
Gasoso sendo em torno de 150 a 200 atm, um gasto extra de energia
perfeitamente aplicável e os únicos problemas poderiam advir quanto
pode inviabilizar o processo.
a estanquidade das vedações, uma vez que a difusibilidade do
- Subsolo: O armazenamento subterrâneo é obviamente o
hidrogênio é maior que a do gás natural. Porém a inconveniência do
menos convencional; pois além de depender da existência de
processo está na mísera relação massa de hidrogênio e massa do
cavernas e fatores locais e geográficos, as perdas do gás
cilindro, que fica com um máximo em torno de 0,81%, isto devido à
armazenado são grandes devido ao alto coeficiente de
baixa densidade do gás.
difusibilidade do gás hidrogênio.
Quanto aos containers criogênicos, o formato e construção Em geral os processos consistem, em sua essência, na compressão,
dependem fundamentalmente da capacidade e da pressão de resfriamento e expansão do gás, terminando na região de duas fases
trabalho. líquido-gás. No processo de liquefação do hidrogênio ocorre a
Líquido passagem de ortohidrogênio a parahidrogênio. No transporte, a
quantidade considerável de energia gasta no processo de liquefação,
o custo dos containers e a perda do gás por evaporação de 0,5% a
1% ao dia são razoáveis desvantagens.
Deve-se atentar para certas propriedades de bons hidretos, O hidrogênio liga-se quimicamente com quase todos os elementos e
como: alta densidade de hidrogênio por unidade de volume, um grande número de substâncias formando compostos. De maneira
altas taxas de reação (cinética) de absorção / dessorção, baixos geral, para uma dada pressão: o processo de armazenagem de
custos e facilidades de produção, baixa densidade do hidreto hidrogênio no metal é um processo exotérmico e favorecido com o
(alta densidade energética por unidade de massa). aumento de pressão, já a dissociação do hidrogênio é um processo
endotérmico. Com tal análise explicita-se o principal requisito para um
Compostos
bom hidreto: os calores de formação (ΔHf) devem ser menores que o
Intermediários
zero, de forma a manter estável o hidrogênio armazenado.A baixa
densidade energética por massa do composto, dado peso do metal /
peso do hidreto e maiores custos dos tanques de armazenamento –
uma vez que se deve computar o preço da liga metálica a ser
convertida em hidreto – tornam-se desvantagens para este processo.
4) Utilização do Hidrogênio

Apresentam-se abaixo as aplicações mais usuais do hidrogênio.

Combustível térmico
A utilização do hidrogênio como combustível térmico não é comum, exceto quando constitui parte
do gás produzido em gaseificadores e reformadores. O poder calorífico do gás depende da
composição do mesmo. Entretanto seu uso mais tradicional, segundo SILVA (1991), seja
residencial, para fins de cocção, uma vez que constitui cerca de 40 a 50% do “gás de rua”
distribuído nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.

Combustível para transporte


Atualmente, a utilização regular e convencional do hidrogênio como combustível para transporte se
restringe a foguetes e naves espaciais. Já nos meios de transporte terrestres, embora o hidrogênio
possua grande poder calorífico (superior a todos os combustíveis usuais) e densidade energética
(superior às bateras eletroquímicas), seu custo é muito alto, os tanques para armazenamento são
grandes e pesados, e a densidade volumétrica na forma gasosa é muito baixa.

Geração de eletricidade
Atualmente o hidrogênio, como foi dito na introdução, é muito visto como um vetor energético, a
possibilidade de ser armazenado e consumido posteriormente faz com que o hidrogênio seja um
elo de ligação entre uma forma de energia e outra. O processo onde o hidrogênio transforma-se
em eletricidade e calor ocorre nas chamadas células á combustível, as quais tem chamado a
atenção da ciência devido o alto rendimento em comparação com os motores térmicos.

Síntese da amônia e metanol


A reação que caracteriza este processo é:
N2 + 3H2 → 2NH3 ΔH=-91,22 kJ / mol
CO + 2H2 → CH3OH ΔH=-92,0 kJ / mol

Utilização na petroquímica
Segundo a PETROBRAS, a principal utilização do hidrogênio no Brasil, produzido principalmente a
partir da reforma catalítica de nafta e gás natural, é do hidrotratamento de diesel, querosene, nafta,
óleos lubrificantes, parafinas e normal parafinas. (TOLMASQUIN, 2003)

Células a Combustível
As células a combustível (Figura 3) são dispositivos eletroquímicos que produzem energia elétrica
a partir do combustível hidrogênio. O combustível hidrogênio suprido constantemente em um dos
eletrodos (anodo) reage eletroquimicamente com um oxidante (em geral, oxigênio) suprido no
outro eletrodo (catodo). Entre os eletrodos, encontra-se o eletrólito, composto de material que
permite o fluxo dos íons entre os eletrodos, mas impede a passagem de elétrons, que são
obrigados a percorrer um circuito externo, produzindo assim uma corrente elétrica. (REIS, 2003)

De maneira geral, a reação será: H2 + O2 Æ H2O + calor

A classificação das células a combustível é feita principalmente de acordo com o eletrólito usado,
como também de acordo com a temperatura de operação e o catalisador empregado para
promover as reações eletródicas. As tecnologias atuais são:
- AFC (Alkaline Fuel Cell);
- PACF (Phosforic Acid Fuel Cell);
- SPFC (Solid Polymer Fuel Cell);
- MCFC ( Molten Carbonate Fuel Cell);
- SOFC (Solid Oxide Fuel Cell);

As três primeiras tecnologias são chamadas de 1ª geração, devido à razoável faixa de temperatura
que operam (até 200ºC). Já as duas últimas tecnologias são chamadas de 2ª geração, (600ºC a
1000ºC), nestas é possível fazer a reforma interna à vapor do combustível de onde se produzirá o
hidrogênio. O rendimento das células varia a partir de 45%.

Figura 3: Funcionamento de um célula à combustível

5) Impactos Ambientais
O uso do hidrogênio, como combustível, provoca, em geral pouquíssimos impactos ambientais,
sendo justamente este o fator eu tem promovido os estudos que objetivam uma presença mais
significante deste elemento no consumo de energia de inúmeros países. A queima do hidrogênio
junto ao ar provoca praticamente a emissão de NOx. Mesmo assim as quantidades emitidas são
inferiores aos teores medidos no caso dos combustíveis tradicionais. No uso em células à
combustível, a baixa temperatura a emissão de poluentes é quase nula, resultando
significativamente apenas água no processo. (TOLMASQUIN , 2003)

Porém, para uma análise ambiental mais profunda do uso do combustível como um todo, deve-se
considerar as emissões provocadas na sua geração, armazenamento e transporte, enfim todo seu
ciclo de vida.

5) Conclusão

O relacionamento com os aspectos teóricos da tecnologia do hidrogênio faz concluir que: a


utilização do H2 como vetor energético, considerando os pontos positivos de usá-lo para isto –
baixo impacto ambiental, alta densidade energética, possibilidade de ser armazenado e
transportado... – torna o H2 uma forte possibilidade energética no futuro. Pesquisas que envolvam
os mais variados aspectos de sua arte devem ser fomentadas para a maior viabilização de suas
tecnologias e possível introdução deste combustível nas matrizes energéticas do globo.
Palavras-chave

Hidrogênio, Arte do; Tecnologia do;

Referências

• SILVA, E.P., Introdução à Economia de Hidrogênio, 1a Ed., Editora da Unicamp, 204 p.,
1991.
• TOLMASQUIM, M.T., Fontes Renováveis de Energia no Brasil, 1a Ed., Editora
Interciência, 2003.
• PIETROGRANDE, P.; BEZZECHERI, M., Fuel Processing. In: BLOMEN, L.J.M.J.;
MUGERWA, M.N. (Eds). Fuel Cell System, 1a Ed., New York: Plenum Press, Cap 9, 1993.
• REIS, L.B., Geração de energia elétrica: tecnologia, inserção, planejamento, operação
e análise de viabilidade, 3a Ed., Manole, 2003.

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