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A SECA DE 1958
A SECA DE 1958
Banco do
Nordeste r-Cf,':',,j lÍ;,: I', 'I
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Presidente:
Byron Costa de Queiroz -------_. __ .._-
Ernp0!!ho
Diretores:
Ernani José Varela de Meio
Osmundo Evangelista Rebouças
Raimundo Nonato Carneiro Sobrinho
Marcelo Pelágio da Costa Bomfim
www.banconordeste.gov.br
CDD: 574.526 52
SUMÁRIO
APRESENTAÇAO ••.••••.•••.•••••••.••••••••••••••.••••••••••••.•.••••.•••..••...
7
PARTE 1
A SECA DE 1958: UMA AVALIAÇÃO PELO ETENE
1 - APRESENTAÇAO •••••••••••••••••••••••••••••..••••.••••.••••••••••••• Ii 27
2 - METODOLOGIA •••••••••••••.••••.•••.••••.•.•..••••..••••.••••.•••••••••
28
3 - O POLÍGONO DAS SECAS •.•...•.•••.••..••........................ 3 O
4 - A POPULAçÃO DA ÁREA SECA ••..•••••••••••••••.•••••••••.•••••31
5 - ATIVIDADES ECONÔMICAS ..•••••.~•.••••••..•.•••...•••.••••••••31
6 - O PROBLEMA DA SECA •••••••••..••••.•••••••••.•••••••••••••••••••• 33
7 - MEDIDAS DE ENFRENTAMENTO DAS SECAS •.•.•••.•.••• 34
8 - LOCALIZAÇAO •••.••.••••••..•••..•••••••.•.•••..•••..••••••••••••••••••••35
9 - POPULAçÃO ATINGIDA E EMIGRAÇÃO ..•.••••••..•.••..•.• 38
10 - ESTIMATIVA DOS PREJUÍZOS ..••••••••..•.••••••....••••••••.41
11 - MEDIDAS GOVERNAMENTAIS •••••••••.•••••••.••••••••••••••• 43
PARTE 3
A SECA DE 1958: INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
AO RELATÓRIO PUBLICADO EM AGOSTO - RELATÓRIO 2
PARTE 4
Ef-EITOS DA SECA SOBRE A ECONOMIA AGROPECUÁRIA
DO NORDESTE - 1958 - RELATÓRIO 3
REFERENCIAS 199
APRESENTAÇÃO
7
governamentais efetivas e eficazes. É justo reconhecer, por outro
lado, que, à falta de soluções duradouras - várias delas, por sinal,
apontadas no primeiro volume desta série, referente à seca de
1958 -, as administrações federais do momento responderam, com
maior ou menor agilidade, à necessidade de se implementarem
medidas emergenciais de socorro aos flagelados das secas. Embora
aquelas medidas tenham sido inquestionavelmente paliativas e
temporárias, não se pode desconhecer a sua dimensão social e
humanitária. Não havendo como impedir as privações a que fica
sujeita a população mais vulnerável aos efeitos do desastre natural,
cabe às autoridades constituídas a responsabilidade pela atenuação
do sofrimento das pessoas vitimadas.
Lamentavelmente, a seca é um fenômeno recorrente e
impossível de evitar. Não obstante os avanços nos métodos de
previsão da ocorrência daquele desastre natural, sabe-se que a
zona semi-árida do Nordeste continuará a sofrer os seus efeitos
destrutivos. Entretanto, graças a outros avanços que se verificaram
em vários campos do conhecimento, sabemos que é possível adotar
ações para melhorar a convivência humana com a seca.
Os documentos que compõem esta série de estudos
mostram, por outro lado, que existe, hoje, um apreciável acervo
de conhecimentos técnicos e de propostas de políticas públicas que
permitem uma convivência menos traumática da população do semi-
árido nordestino com a inelutabilidade das secas periódicas.
8
PARTE 1
A SECA DE 1958:
UMA AVALIAÇÃO PELO ETENE
1- OS RELATÓRIOS DO ETENE SOBRE A SECA DE 1958
1.1 - Introdução
11
abrangente dos efeitos econômicos e sociais que podem transformar
uma seca severa em calamidade pública. Na verdade, os relatórios
elaborados pelos técnicos do ETENE sobre a seca de 1958 vão
mais além da identificação da abrangência territorial daquele desastre
natural e das perdas econômicas por ele provocadas. Além das
informações colhidas in loco acerca das perdas materiais, aqueles
relatórios retratam o diagnóstico já formado pelo ETENE, naquela
época, sobre as fragilidades físico-climáticas e agroeconômicas da
área do Políqono das Secas, bem como a magnitude do debilitamento
causado pelas secas na economia do Nordeste. As análises
econômica e demográfica contidas naqueles relatórios constituem
diagnósticos relativos a uma extensa área da região nordestina,
excluídas apenas a Zona da Mata e o Litoral Oriental e a Zona
Fisiográfica do Meio Norte (basicamente o Estado do í-taranhão),
que naquela época não fazia parte do Nordeste.
Dois dos mais completos documentos contendo diagnósticos
e propostas sobre a economia do Nordeste foram elaborados na
década de 1950: o estudo do economista inglês Hans H. Singer e o
texto apresentado pelo Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento
do Nordeste (GTDN) ao então presidente da República, Juscelino
Kubitschek, no segundo semestre de 1959. Ademais da importância
que têm aqueles documentos como diagnósticos do atraso relativo
do Nordeste comparativamente às regiões Sudes:e e Sul, eles
apresentam uma característica comum: as muitas coincidências na
abordagem dos problemas a que estava sujeita a economia do
semi-árido nordestino. Em princípio, nada haveria a destacar no
tocante às convergências nos diagnósticos e nas orcccstas, que,
aliás, se mostravam criativas, consistentes e reatistas à luz dos
conhecimentos técnico-científicos daquela época, e rc contexto da
realidade política e econômica do Brasil na década de 1950.
A questão que o autor destas notas preterce .evantar é
que os conhecimentos (e as propostas) demonstrad:::s nos relatórios
elaborados pelos técnicos do ETENE, em 1958, perrite""'" entrever
que aquele núcleo já se havia convertido em um centro ae reflexões,
análises, discussões e coleta de informações sobre o deservclv'mento
do Nordeste. A cronologia das principais publicações Çe:2s na década
de 50 do século passado leva a essa constataçàc. C eccncrnlsta
Hans Singer, na qualidade de especialista da Orqanizacàc ::::S "lações
12
Unidas (ONU), oferecendo consultoria ao BNDE (atual BNDES), colheu
no ETENE grande parte das informações apresentadas no seu
relatório. A leitura atenta do documento escrito por Singer leva à
percepção de que a maior parte dos dados e informações nele
contidas lhe foi oferecida pelos técnicos do BNDE e do ETENE. Isso
não representa um demérito ao trabalho de Singer, que, sendo
estrangeiro, não tinha porque conhecer as estatísticas e as
peculiaridades da economia nordestina. A propósito, é isso que afirma
Celso Furtado na seguinte referência a Singer:
13
1953, deixou claro que houvera uma antecipação, por parte do
economista inglês, de vários aspectos da problemática econômica
do Nordeste na década de 1950. Ao abordar o problema das
disparidades interregionais nos níveis e nos ritmos de crescimento
da renda, Singer chamou a atenção - como o fez posteriormente o
GTDN - para a tendência observada em outras partes do mundo,
de cristalização da concentração espacial, que implicava uma reversão
difícil de concretizar. As causas apontadas pelo GTDN para o atraso
relativo do Nordeste vis-à-visa região Sudeste - quocientes menores,
no Nordeste, entre população, terras aráveis e capital, menor
produtlvidade média da mão-de-obra nas atividades agrícolas e não-
agrícolas - haviam sido lembradas por Singer no seu estudo. Singer
foi ainda mais longe do que o GTDN, ao fazer um exercício de
quantificação da influência de cada um daqueles fatores sobre o
nível da renda per capita do Nordeste.
Uma questão que ocupa especial atenção do GTDN - a
triangulação nas relações comerciais do Nordeste com o exterior e
o resto do país - havia sido analisada por Singer, que, inclusive,
chegou a estimar a perda anual média da região nas suas relações
de troca. Outra antecipação do estudo do especialista das Nações
Unidas foi quanto à penalização sofrida pelo Nordeste em decorrência
da política tributária em vigor no Brasil da década de 1950, que era
claramente regressiva e, por isso, prejudicava a região mais pobre,
que era submetida a uma carga tributária relativamente maior do
que a região mais rica. Em relação ao problema das secas, Singer
também se antecipou ao GTDN, ao apontar a existência de um
excedente populacional de 14,9% da população agrícola do Nordeste,
da mesma maneira como havia identificado um "volume ponderável
de subemprego nas cidades". No seu empenho de quantificação
dos problemas e das necessidades do Nordeste, Singer estimou o
potencial de irrigação da região em cerca de 200 mil hectares, uma
avaliação pessimista também adotada pelo GTDN. Uma importante
estratégia do plano de ação proposto pelo GTDN era o deslocamento
da fronteira agrícola do Nordeste para áreas não afetadas pelas
secas, devendo os fluxos migratórios se direcionar, em maior escala,
para o Estado do Maranhão. Igual sugestão havia sido feita por
Hans Singer no seu estudo de 1953. Ao justificar o plano de ação
para o desenvolvimento do Nordeste, o GTDN propôs um "ataque
14
simultâneo em um conjunto de frentes consideradas vitais", enquanto
que Singer (1953), com a mesma visão, havia sugerido um 'esquema
de desenvolvimento [ ...] traçado com base nas relações entre várias
zonas".
Entre as propostas apresentadas pelo economista inglês para
a atenuação dos efeitos negativos das secas, podem ser
mencionadas, além dos deslocamentos populacionais e da irrigação,
o cultivo de lavouras xerófilas e o melhoramento genético das
plantas, a fim de torná-Ias adaptadas às estiagens prolongadas.
Dentro de uma perspectiva ampla dos requisitos para o
desenvolvimento do Nordeste, Singer apontou - como o fez
posteriormente o GTDN - a necessidade de industrialização, partindo-
se da utilização de matérias-primas existentes na região. O
economista inglês destacou também a precariedade da oferta de
energia elétrica e revelou a sua estranheza pela inexistência de
incentivos fiscais que contrabalançassem as desvantagens naturais
e artificiais enfrentadas pela região Nordeste. .
A menção relativamente alongada, nestas notas, ao trabalho
de Hans Singer, tem uma motivação: mostrar que havia no Nordeste,
particularmente no ETENE, um grupo de técnicos dotados de amplo
conhecimento sobre a realidade econômica do Nordeste e que se
dedicava, ademais, à tarefa de produzir estatísticas e outras
informações sobre a economia da região. Seguramente, havia um
intercâmbio de idéias e de dados estatísticos entre o BNDE e o
BNB, sendo sintomático, a propósito, que o economista Rômulo de
Almeida, primeiro presidente do Banco, tenha sido um influente
integrante do GTDN. A existência" no ETENE de técnicos
conhecedores da realidade econômica e das estatísticas sobre a
economia nordestina explica a alta qualidade técnico-científica dos
três relatórios que compõem este primeiro volume da "Série: Estudos
sobre as Secas no Nordeste". Os três trabalhos mencionados nestas
notas introdutórias permitem que se elabore, a partir dos respectivos
anos em que foram divulgados, a seguinte ordem cronológica dos
estudos seminais sobre a economia e os efeitos das secas no
Nordeste: 1) Estudo realizado por Hans Singer; 2) Relatórios do
ETENE sobre a seca de 1958; 3) Documento preparado pelo GTDN.
Porém, sendo Singer desconhecedor - o que, aliás, era natural e
compreensível - das peculiaridades da economia nordestina, como
15
afirmou Celso Furtado, é razoável aceitar que muitas das idéias
expostas nos relatórios do ETENE sobre a seca de 1958 já vinham
sendo discutidas naquele mesmo núcleo de estudos econômicos. A
ser aceita essa dedução lógica, fica caracterizada a importância
histórica, técnica e documental dos três relatórios elaborados pelos
especialistas do ETENE sobre a seca de 1958.
16
(de ciclo curto e dependentes das chuvas), o algodão (principalmente
o arbóreo, denominado "mocó") e a pecuária extensiva
(principalmente os rebanhos bovino, caprino e ovino), que
representava mais da metade do valor da produção pecuária total
do Nordeste. Essas fontes de renda - que ensejavam formas de
coexistência e interpendência peculiares - eram, então, objeto de
análises feitas pelos especialistas sobre a economia agropecuária da
região, tendo sido, inclusive, objeto de detalhada apreciação por
parte do GTDN.
Os relatórios elaborados pelos técnicos do ETENE em 1958
apontavam a persistência do problema % anteriormente identificado
na zona rural do Polígono das Secas % de concentração na estrutura
fundiária como sendo resultante, quer do incremento do número
das grandes propriedades, quer do aumento na quantidade dos
pequenos estabelecimentos rurais. Aqueles relatórios destacam os
dois problemas mais visíveis do processo de concentração fundiária:
de um lado, a tendência que têm as grandes propriedades pecuárias
de utilizar muita terra e pouca mão-de-obra; de outro, o fato de as
pequenas propriedades, em decorrência das condições físico-
climáticas do sem i-árido, serem desprovidas de condições de evitar
as perdas econômicas provocadas pelas secas mais severas. De
qualquer maneira, os textos elaborados pelo ETENE chamam a
atenção para a característica discriminatória - assunto ao qual o
GTDN dedicou especial atenção - das secas, seja em relação às
atividades econômicas praticadas, na zona semi-árida - as culturas
alimentares sendo as mais vulneráveis e, quando necessário, as
que serão sacrificadas para servir de alimento aos rebanhos -, seja
nos efeitos que provocam nas diversas categorias ocupacionais ali
predominantes. Isso ocorria porque os pequenos proprietários e os
trabalhadores sem terra não conseguiam, em anos de inverno
normal, formar reservas em dinheiro ou em alimentos, de que se
valessem para sobreviver nos períodos de seca; já os médios e
grandes proprietários dispunham dos meios, na agropecuária ou
fora dela, para atravessar as longas estiagens.
De acordo com os três relatórios divulgados pelo ETENE, as
secas apenas acentuavam os problemas causados pela baixa
produtividade média da economia rural, decorrente da insuficiência
do capital utilizado por hectare, do uso de métodos tradicionais na
17
agropecuária e dos elevados índices de analfabetismo predominantes
entre os habitantes da zona rural do Políqono das Secas. Assim, os
relatórios do ETENE identificaram elevadas densidades demográficas
em algumas áreas da zona semi-árida onde os recursos naturais
(solos agricultáveis, existência de fontes de água) eram insuficientes.
Em algumas daquelas áreas, segundo cálculos feitos pelos técnicos
do ETENE, a densidade demográfica chegava a mais de 20 habj
krn-, tida como alta, considerando-se as condições ambientais do
semi-árido nordestino. Também em algumas áreas, de acordo com
aqueles relatórios, os rebanhos bovinos existentes superavam a
capacidade de produção de forragens para alimentá-Ias, o que sugeria
a ocorrência de rendimentos decrescentes de escala em relação à
pecuária bovina.
Talvez a maior contribuição feita pelo ETENE através das
pesquisas realizadas em 1958 tenha sido o esforço de quantificação
dos efeitos negativos da seca para a economia regional e para os
agropecuaristas. Relativamente à queda da renda real (estimada a
preços de 1957) nos cinco Estados pesquisados, os técnicos do
ETENE chegaram aos seguintes valores aproximados: perda total
de Cr$ 10 bilhões, dos quais Cr$ 8 bilhões decorreram dos prejuízos
nas lavouras e Cr$ 2 bilhões provieram das perdas na pecuária.
Aqueles especialistas compararam o montante dos recursos
extraordinários alocados pelo governo federal nos programas de
socorro às vítimas da seca de 1958 com o valor da renda regional
naquele ano, tendo chegado à conclusão de que as transferências
governamentais representaram cerca de metade do valor da renda
perdida, naquele ano, pelos cinco Estados em decorrência da seca.
Outra estimativa inovadora do ETENE foi o cálculo do valor dos
gastos governamentais por flagelado da seca e por alistado nas
frentes de trabalho. Algumas estimativas feitas pela equipe do ETENE
em 1958 não foram repetidas pelos responsáveis por pesquisas
realizadas nas secas subseqüentes, ocorridas em 1970, 1979-19802,
1993 e 1998-2000. Aquele esforço de estimativa de valores e
quantidades - queda na renda das áreas atingidas, gastos públicos
por habitante e por trabalhador inscrito nas frentes de trabalho, por
2 Essa foi uma das secas mais prolongadas de quantas já atingiram a zona serní-
árida do Nordeste, tendo durado cinco anos, entre 1979 e 1983.
18
exemplo - feitas pela equipe do ETENE em 1958 foi facilitada pela
metodologia adotada: consultas a pessoas de diversas categorias
econômicas, sociais, políticas e técnicas nas áreas afetadas,
utilização das experiências e conhecimentos pessoais dos integrantes
das equipes responsáveis pelas pesquisas e uma avaliação crítica
dos valores encontrados. As pesquisas realizadas a partir da seca
de 1970 enfatizaram as causas e os efeitos daqueles desastres
naturais sobre as populações afetadas, bem como a evolução dos
métodos de previsão das secas, a sua duração e as áreas mais
sujeitas aos seus efeitos destrutivos. É importante ressaltar, a esta
altura, que uma parte expressiva das estimativas feitas pelo ETENE
vieram a se mostrar bastante próximas do que efetivamente ocorreu
em 1958, como demonstram os dados estatísticos publicados pelo
IBGE.
Os relatórios do ETENE abordam, também, a ação das frentes
de trabalho - tanto as criadas em 1958 quanto as anteriores. Além
de revelar a tendência crescente nos números de trabalhadores
alistados durante as secas que ocorreram depois da grande estiagem
de 1932 e de informar as quantidades de trabalhadores inscritos
pelos diversos órgãos públicos - IFOCSjDNOCS, DNER, CODEVASF,
entre outros - responsáveis pela administração das frentes, os
relatórios do ETENEfazem avaliações sobre o funcionamento daquele
programa de socorro aos flagelados da seca de 1958. Uma primeira
observação encontrada nos três relatórios - e que lamentavelmente
permanece atual- diz respeito ao desperdício de recursos financeiros
decorrente da falta de planejamento das obras de engenharia
(construção de açudes, barragens e' obras complementares;
construção de estradas). A ausência de uma política de formação
de estoques de instrumentos de trabalho, de alimentos para os
alistados e de forragens para os animais também é mencionada
nos relatórios como conseqüência da falta de um sistema de
planejamento para o funcionamento das frentes de emergência. A
título de contribuição, os relatórios apresentam uma série de
sugestões para a diminuição dos impactos econômicos e sociais ria
seca: são idéias voltadas para o que hoje se costuma chamar de
"políticas para a convivência da população do sem i-árido com as
secas".
19
1.4 - Propostas do ETENE para o Enfrentamento das Secas
20
do Nordeste (SUDENE), com aquelas atribuições. Os relatórios do
ETENE insistem também na necessidade de industrialização do
Nordeste como contraponto às desvantagens físico-climáticas,
principalmente na zona semi-árida. Para desenvolver esta última, os
relatórios apontam a necessidade de políticas que propiciassem o
desenvolvimento de uma agropecuária com níveis de produtividade
satisfatórios. Os relatórios sugerem ainda - como o faria
posteriormente o documento do GTDN - uma ação simultânea visando
à industrialização do Nordeste e a emigração controlada, para áreas
de colonização, de parte da população mais vulnerável aos efeitos da
seca. Os relatórios justificam essa política tanto como uma forma de
aliviar a pressão demográfica em extensa área do Políqono das Secas,
como uma solução para o povoamento dos espaços vazios então
existentes no país. A proposta de um plano articulado de industrialização
e colonização (a par de medidas voltadas para a diminuição da
economia de subsistência na zona semi-árida e para o aumento da
produtividade da agricultura canavieira na Zona da Mata) é tida como
uma importante contribuição apresentada, também pelo GTDN, para
o desenvolvimento da região.
Este volume contém, além dos três relatórios elaborados
pelos técnicos do ETENE - um deles sob a forma de depoimento do
presidente do Banco do Nordeste, Raul Barbosa, à Comissão Especial
de Estudos das Secas, do Senado Federal -, esta nota introdutória
escrita pelo organizador da Série: Estudos sobre as Secas no Nordeste
e o documento intitulado Contribuição à bibliografia das secas,
publicado pelo ETENE em setembro de 1957. Trata-se, como se
verá, de um amplo levantamento do que até então havia sido
publicado sobre as secas que periodicamente assolam a zona semi-
árida do Nordeste.
21
PARTE 2
A SECA DE 1958:
CONSEQÜÊNCIAS E SUGESTÕES
PARA SE MINIMIZAREM
OS SEUS EFEITOS
(Relatório 1)
NOTA EXPLICATIVA
Rubens Costa
Economista-Chefe
25
1- APRESENTAÇÃ03
3 Este relatório foi apresentado por Carlos Brandão da Silva, da equipe do ETENE.
Resulta de documentá rio recolhido em viagens feitas por três grupos de técnicos
do ETENE nas áreas afetadas pela seca de 1958. Muitas das observações e idéias
são frutos de relatórios parciais feitos segundo descrição no parágrafo 2. Outras
surgiram de discussões com o Dr. George W. Barr, da Food and Agriculture
Organization (FAO), das Nações Unidas, em missão técnica junto ao BNB. A
cooperação do Dr. Barr foi de inestimável valor à feitura do presente documento
e o autor agradece penhorado; deseja, porém, esclarecer que os conceitos e
fatos emitidos e citados são de sua exclusiva responsabilidade.
4 O primeiro, a cargo do Dr. George W. Barr, e o segundo sob a responsabilidade
do Dr. Gerard Cormier.
27
conseqüências mais importantes na economia da região; 3) Identificar
medidas adequadas à redução das conseqüências da seca.
2 - METODOLOGIA
5Constituíram o primeiro grupo: Dr. George W. Barr (FAO), Carlos Brandão da Silva
e J. Franácio de Castro; o segundo grupo: Mário Rocha e Pedro Guimarães Mariz
Filho e o terceiro: Eduardo de Castro Bezerra Neto e Pedro Hudson de Paiva
Silveira.
28
ESTUDO DAS SECAS - ÁREA COBERTA PELA PESQUISA
DE CAMPO
LEGENDA
3:) GRUPO-
VIA. AEREA
FIGURA 1
29
3' - O POLÍGONO DAS SECAS
30
nas matas do Orobó, na Bahia. Vale mencionar, ainda, as áreas
irrigadas nas proximidades de alguns açudes públicos, de alguns
açudes particulares e em trechos de regadio do médio e baixo São
Francisco.
5 - ATIVIDADES ECONÔMICAS
31
carnaúba, mamona, feijão, milho, agave, café, mandioca e banana,
com mais de Cr$ 6,1 bilhões de um total de Cr$ 8,2 bilhões para o
Nordeste, em 1955.
A distribuição dos diversos rebanhos dentro do Políqono das
Secas, pode ser estimada nos seguintes montantes, partindo-se de
levantamentos do Serviço de Estatística da Produção (em números
arredondados) :
TABELA 1
REBANHOS DO NORDESTE E DO POLÍGONO DAS SECAS - 1956
FONTE: Estimativas feitas pelo ETENE com base nos dados do SEP.
32
podendo-se citar a bacia leiteira de Fortaleza como uma das de
maior relevo na área do Polígono das Secas.
Algumas zonas de maior umidade relativa do ar dentro do
Polígono, particularmente a zona de São Bento do Una, os Cariris
Paraibanos e parte da caatinga úmida de Alagoas, vêm
experimentando, há alguns anos, a criação de gado selecionado,
de aptidão leiteira. Pode-se mencionar, também, a zona do Seridó,
no Rio Grande do Norte. As forragens básicas nas duas primeiras
áreas são a palma forrageira, a torta do caroço de algodão, a
vegetação nativa e uma incipiente ensilagem de milho ou de sorgo.
O gado predominante é o mestiço de holandês com zebu. No Seridó,
os fazendeiros se orientam mais para a mestiçagem do Schwitz
com zebu, e a forragem básica é a torta e os capins das vazantes
dos açudes.
6 - O PROBLEMA DA SECA
10 Ver constituição dos Estados Unidos do Brasil, art. 50, nO XIII e art. 198.
33
7 - MEDIDAS DE ENFRENTAMENTO DAS SECAS
34
e obras complementares; 2) Intensificação da construção de
estradas de rodagem e de ferro; 3) Transferência de pessoas para
outros Estados.
A construção de açudes e rodovias do programa de longo
prazo é consideravelmente ativada nas épocas de seca, a fim de
ocupar a grande massa de desempregados. Além dessas, são
intensificadas as obras de emergência, conforme a gravidade na
zona afetada e as peculiaridades locais.
A emigração, fenômeno normal mesmo as épocas de chuva,
aumenta consideravelmente durante as secas. Processa-se de dois
modos: por conta própria, por meio de caminhões, ônibus, navios
ou trens, pagando o próprio retirante a passagem (cerca de Cr$ 2
mil por pessoa até São Paulo) e demais despesas; assistida pelo
governo, sendo, neste caso, os transportes mais usuais o navio, o
trem ou o avião.
As obras executadas em regime de emergência, em que
pesem os maiores gastos e deficiências resultantes da improvisação,
de modo geral cumprem a sua finalidade: conservar a grande massa
rural desempregada em suas próprias zonas e assegurar-Ihes meios
de subsistência. A emigração é outra possibilidade. Muitos preferem
deixar a região e tentar a vida em outras áreas.
8 - LOCALIZAÇÃO
35
população de 7 milhões de habitantes. A Zona 2 extende-se por
cerca de 120.000 krn", com aproximadamente 7 milhões de
habitantes. A última área, não afetada pela seca, a Zona 3, tem
área de 450.000 km2 e 5 milhões de habitantes".
Dentro da Zona 1, a intensidade do fenômeno não foi a
mesma em toda parte. As áreas de serras, os vales úmidos e as
pequenas áreas de irrigação apresentam situação consideravelmente
melhor que a das caatingas circunvizinhas. Nesses pequenos espaços
verdes, o problema foi agravado, no entanto, pela chegada de
pessoas e animais provenientes de área secas. Na Chapada do
Araripe, por exemplo, a afluência de bovinos de outras zonas reduziu
consideravelmente a possibilidade de engorda do rebanho local. Essa
é uma saída a que os proprietários têm recorrido, secularmente,
para salvar os seus rebanhos.
Dentro da zona seca, as áreas menos afetadas foram a
Chapada do Araripe, o Vale do Cariri Cearense, a Chapada da
Ibiapaba, as serras de Baturité (CE) e do Teixeira (PB), as partes
mais elevadas do sistema da Borborema (RN, PB e PE) e outros
pequenos trechos serranos isolados, como as serras da
Ur.rburetarna (CE), do Doutor, de Santana e dos Martins (RN),
entre outras.
12 Os dados da população são extrapolações feitas a partir dos dados dos Censos
de 1940 e de 1950, para o ano de 1958.
36
ZONA 3
FIGURA 2
37
9 - POPULAçÃO ATINGIDA E EMIGRAÇÃO
13A distribuição, entre os diversos órgãos, era a seguinte: DNOCS, 300 mil; DNER,
131 mil; 10 Grupamento de Engenharia do Exército, 30 mil trabalhadores. De
acordo com estimativas baseadas nesses dados, o número de flagelados era de
cerca de 1.844 mil pessoas. Incluindo-se pequenas obras municipais e estaduais,
chegaríamos ao total apresentado no texto.
38
e trabalhadores avulsos, que não contam com reservas materiais
ou financeiras para enfrentar a crise. A falta de chuvas nas
épocas adequadas ao plantio significa o desemprego e a fome.
39
manter o mesmo nível de ocupação atual. Como a expansão industrial
é ainda tênue, o grosso desses empregos - cerca de 70% - deverá
ser criado nas lides do campo.
Porém, o que se tem verificado atualmente, são duas
tendências nas propriedades agrícolas do Nordeste:
40
os adultos, deixando os inativos como um peso para os que ficam e
trabalham".
41
TABELA 2
ESTIMATIVA DA PRODUÇÃO AGRíCOLA DE 1958 EM RELAÇÃO A
1957, NOS ESTADOS DO PIAUí, CEARÁ, RIO GRANDE DO NORTE,
PARAíBA E PERNAMBUCO
Produção de 1958 Quantidade em 1.000t
Produtos Relativamente à 1957 1958
de 1957 (%)
Milho 15 591 80
Feijão 15 295 45
Algodão 40 152'B 60
Mamona 40 59 25
Mandioca 50 3.188 1.590
Banana 50 956 480
Café 50 28 15
Laranja ' 50 100 50
Agave 90 82 75
Cana-de-Açúcar 90 11.135 10.000
TOTAL - - -
FONTE: Serviço de Estatística da Produção, 1957.
OBS: A tabela acima foi feita à base de entrevistas com fazendeiros, técnicos e outras
pessoas ligadas ao setor agrícola. A estimativa dada no texto do trabalho não se
cingiu estritamente aos dados acima, mas resultou dessas informações, das
estatísticas oficiais e de uma análise crítica do autor.
o
prejuízo na produção bovina, em termos de carne, foi
estimado em cerca de 100 mil toneladas, correspondentes à perda
de peso dos rebanhos, entre janeiro e julho. Aos preços de 1957,
ak'ançariam cerca de Cr$ 2 bilhões (US$ 26 milhões).
O prejuízo real da produção animal é consideravelmente maior
se examinarmos o problema em termos de valor do rebanho bovino.
Entre 1~ de Janeiro e 30 de junho, o valor estimado desse rebanho
reduziu-se à metade, devido à perda de peso e às perspectivas de
escassez de forragens nos meses seguintes. O rebanho da área
seca nos cinco Estados mencionados é de aproximadamente 4
milhões de cabeças. Tomando um valor médio de Cr$ 3.000,00 por
cabeça, em 1.1.1958, o valor total do rebanho seria de Cr$ 12
bilhões (US$ 93 milhões) em janeiro e Cr$ 6 bilhões (US$ 46 milhões)
em julho.
42
Excluindo outros possíveis fatores negativos, poder-se-ia
estimar em cerca de Cr$ 16 bilhões (US$ 124 milhões) os prejuízos,
de difícil ou impossível recuperação, causados à produção e ao
estoque de capital do setor agrícola, em decorrência da atual seca.
Utilizaremos, entretanto - para evitar superestimação - como
estimativa dos prejuízos da atual seca, no setor agropecuário, o
total mencionado no começo deste subtítulo: Cr$ 10 bilhões (US$
77 milhões).
Segundo dados pluviométricos levantados, registraram-se,
de 1912 a 1958, nove secas na Zona 1. Cada ano de seca deveria
ser compensado por um ano de chuvas regulares, a fim de que o
peso perdido pelos rebanhos fosse recuperado. Sendo assim, dos
47 anos que compreendem aquele período, 18 foram praticamente
inúteis para a produção animal - anos secos ou anos de
compensação.
Mesmo nos anos de chuvas regulares há perda de peso do
gado durante o verão. Isto revela, entre outras causas, a falta de
previsão e de planejamento na atividade rural. Sabemos, através
de estudos feitos no ETENE, que o custo da forragem ensilada e
fenada é bastante econômico. Os custos de ensilagem são bem
menores do que os prejuízos que seriam ocasionados pela perda de
peso do gado durante o verão. No entanto, aquelas práticas são
quase desconhecidas entre os pecuaristas da zona semi-árida do
Nordeste.
11 - MEDIDAS GOVERNAMENTAIS
43
As providências governamentais estão contribuindo para
manter a população atingida em suas próprias áreas de residência,
assegurando-lhe a subsistência. Verifica-se, é verdade, a emigração
de muitas pessoas. Observa-se, às vezes, desperdício de recursos
financeiros em trabalhos de irrelevante significação econômica, por
serem mal planejados. Algumas obras de interesse local são
abandonadas, uma vez passado o período da crise, perdendo-se,
muitas vezes, todo ou quase todo o investimento feito. Essas são
constatações feitas a partir das secas anteriores e, também, da
atual.
Os planos de emergência poderiam dar maior atenção ao
processo migratório. Carecem eles de medidas objetivas, nesse
aspecto. O Nordeste tem-se apresentado, há várias décadas, como
uma área de emigraçãà. Se não há planejamento adequado, o
nordestino continua, todos os anos - e mais intensamente nos
anos secos - a deixar, desordenadamente, a região. Torna-se
necessário o planejamento, em bases sólidas, de uma política
migratória interna adequada às condições e oportunidades das novas
frentes de colonização do país, especialmente nas áreas contíguas
à região.
A atual seca ainda surpreendeu a região. Não havia estoques
de gêneros alimentícios, nem de forragens que atendessem as
necessidades pelo menos até o meio do ano. Os reservatórios de
água existentes concorreram para aliviar, em muitos lugares, os
efeitos das secas, tanto para a população humana como para os
rebanhos. A existência de uma razoável rede de transportes, por
outro lado, facilitou tanto o abastecimento de víveres como o
movimento migratório de pessoas e de animais.
Nas três viagens de campo empreendidas nas áreas atingidas
pela seca, uma das maiores preocupações foi de se recolher das
pessoas mais diretamente em contacto com o fenômeno, sugestões
de medidas visando atenuar os danos ocasionados pela calamidade.
Baseados nas sugestões, críticas e idéias apresentadas, e
nas observações in loco, passaremos a considerar os seguintes
pontos:
44
b) Preparo da Produção Animal para os Anos Secos.
f) Planejamento de Emigração.
45
ser adotadas medidas de amparo à população potencialmente
atingida, conforme as propostas apresentadas mais à frente.
46
nos meses de verão. A forma de estimular a construção de silos
será discutida no item seguinte.
47
d) Subsídios e Obras nas Empresas Agrícolas
f) Planejamento da Emigração
48
é, no entanto, uma das formas possíveis de se aliviar a pressão
demográfica. Países de alta renda per capita, como a Holanda, a
Bélgica e outros que já atingiram um nível razoável de
desenvolvimento, como a Itália e o Japão, recorrem normalmente
à emigração - embora disponham de recursos de capital
incomparavelmente maiores que o Nordeste - para resolver o
problema do desemprego.
A orientação dascorrentes emigratórias poderiatrazer grandes
benefícios, tanto de ordem social como econômica. Atualmente,
segundo ouvimos várias referências nas áreas visitadas, muitos
retirantes deixam mulher e filhos devido aos altos custos e à própria
dificuldade de encontrarem meios de transporte para os
deslocamentos. A emigração da mão-de-obra produtiva, deixando
para trás os dependentes, pode ser prejudicial tanto à economia
regional como à própria família dos emigrantes.
A emigração poderia ser orientada para núcleos coloniais
organizados dentro da própria região, nas áreas ainda virgens e de
reais possibilidades econômicas. Fora da região, as áreas mais
próximas e complementares à sua economia, como as zonas
pioneiras que vêm sendo ocupadas, desordenadamente, no sul do
Maranhão e no norte de Goiás, deveriam merecer prioridade. Já
existe uma corrente regular de emigração naquelas direções. A
construção de estradas, o loteamento das terras e o auxílio ao
migrante nessas novas áreas, seriam medidas positivas para a
concretização do desenvolvimento econômico regional e nacional.
49
PARTE 3
A SECA DE 1958:
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
AO RELATÓRIO PUBLICADO
EM AGOSTO
(Relatório 2)
NOTA EXPLICATIVA
53
DEPOIMENTO DO DR. RAUL BARBOSA, PRESIDENTE
DO BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S.A., PERANTE
A COMISSÃO ESPECIAL DE ESTUDOS DAS SECAS,
DO SENADO FEDERAL, NO DIA 1º/12/1958
55
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FIGURA 3
56
1- ASPECTOS ECONÔMICOS DA SECA
57
Há, entretanto, exemplos de criadores que se preparam
para a ocorrência das secas, acumulando água e rações. Em
pesquisas realizadas no mês de outubro passado, quando os efeitos
da estiagem sobre a pecuária se apresentavam mais intensos,
observou-se que muitos fazendeiros não só mantiveram seus
rebanhos em razoáveis condições, como, em vários casos, chegaram
a aumentá-Ios. O êxito de tais criadores decorre da preparação das
fazendas para resistirem à seca, através do cultivo de forrageiras
xerófilas como a palma, da reserva de pastos, da silagem etc.
Aparte essas exceções, o que se observa é a inexistência
generalizada do hábito de guardar forragem para alimentar os
rebanhos nas épocas difíceis, tornando a pecuária nordestina cada
vez mais vulnerável aos efeitos das estiagens. De fato, o crescimento
do rebanho bovino, quede 6,5 milhões de cabeças em 1920 passou
a 11,5 milhões em 1956, e a considerável melhoria do gado (pela
mestiçagem com raças superiores, da qual resulta o aumento dos
valores comerciais dos animais) ampliam consideravelmente o
patrimônio sujeito ao desgaste ou à destruição na emergência de
uma seca. Os prejuízos decorrem das perdas diretas, da transferência
dos animais para outras zonas - quando já se encontram em
precárias condições - e do atraso mínimo de dois anos provocado
pelo impacto de uma estiagem à pecuária, através da perda de
crias, da atrofia dos animais que sobrevivem, da morte de matrizes
etc.
O problema da pecuária nordestina cresce de importância
numa crise climática. E bom recordar que a criação é uma das
atividades econômicas mais importantes do Poliqono das Secas,
seja pelo volume de recursos nela investidos, seja pela renda que
gera e, ainda, pela utilização de fatores de produção sem outras
alternativas de emprego. Há necessidade de que seja criado um
sistema racional e efetivo de ajuda aos fazendeiros para a salvaguarda
dos rebanhos e a redução das perdas, assegurando-se, por
conseguinte, um mínimo de estabilidade a uma atividade econômica
tão importante para a região. O sistema deve ser formulado e
executado de modo a atingir realmente os objetivos desejados,
evitando-se medidas que possam redundar em maiores prejuízos
para aqueles a quem se pretende assistir.
58
2 - A SECA DE 1958
59
3 - POPULAÇÕES AFETADAS PELAS SECAS
60
500 ~~,.~-'~--~~~~~-'~-~~-'~. 450
450 400
400
350
350 I 300
300
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50 50
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NOV./1932 JUL./1942 DEZ./1951 JAN./1952 MA /1953 MAR./1957 OUT./1958
FIGURA 4
DNOCS - FREQÜÊNCIA MÁXIMA MENSAL DE ALISTADOS NAS FRENTES DE TRABALHO
(J'\
,..... FONTE: Relatório do DNOCS.
Q'I
N
1932
1942
1951
1952
1953
1958
FIGURA 5
PERCENTAGEM DA POPULAçÃO AFETADA PElAS SECAS EM RELAÇÃO À POPULAçÃO
TOTAL DO NORDESTE
FONTE: Relatório do DNOCS.
A atual Carta Magna, de 1946, consolidou a dotação
permanente de recursos para a assistência federal às populações
atingidas pela seca, atribuindo à União, no artigo 5 inciso XIII, a
Q
,
63
1953, quando ocorreu uma seca-". quando atingiram essa
percentagem. As despesas per capita atingiram Cr$ 43,00.
Na atual seca, o esforço do governo federal eleva-se a 5%
da receita da União, situando-se em quase Cr$ 350,00 o gasto
anual por habitante do Nordeste, em Cr$ 2.700,00 (US$ 20) por
nordestino flagelado e em Cr$ 13.000,00 (US$ 100) por trabalhador
nas obras contra as secas (Ver FIGURA 6).
20Essa seca constituiu, na realidade, a fase mais aguda de uma estiagem que
havia começado em 1951.
64
16,0
15,0
14,0
13,0
12,0
11,0
10,0
9,0
~ 8,0
7,0
6,0
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
Anos'
FIGURA 6
PERCENTAGENS DAS DESPESAS, DO DNOCS SOBRE A ARRECADAÇÃO DA UNIÃO
(1909/1958)
o- FONTE: BNBjETENE, janeiro de 1959
U1
Mercê dessa orientação, foi possível dotar o Nordeste de
importante rede rodoviária e de uma quantidade de açudes que
transformaram o panorama doloroso da seca, não se registrando,
nos dias correntes, mortes de seres humanos por inanição. A rodovia,
por sua vez, conquistou o Nordeste e leva a civilização a seus mais
recônditos rincões.
A açudagem assegura água para uso das populações e dos
ar.imais, Seus efeitos diretos sobre o aumento da produção e sobre
a fixação de nordestinos são modestos. Até agora, a área irrigada
pelos açudes públicos é de 6 mil hectares, atingindo 18 mil se incluídas
as culturas de vazantes e da faixa seca. As possibilidades teóricas
máximas de irrigação, consideradas as diversas fontes de água,
como rios perenes, açudes presentes e futuros, lençóis subterrâneos,
lagoas e poços, não chega a 2% da área dos estabelecimentos
agrícolas do Nordeste. Essa percentagem corresponde a 800 mil
hectares, suficientes para fixar 80 mil famílias, ou seja, cerca de
400 mil pessoas, número inferior ao crescimento demográfico do
Nordeste em um ano (Ver FIGURA 7).
Os benefícios dos açudes não podem ser avaliados apenas
em função da área irrigável. As águas represadas servem para
matar a sede e atender a outras necessidades das populações, e
asseguram a sobrevivência de rebanhos, além de possibilitarem a
criação de peixes e, em alguns casos, constituírem potencial para a
geração de eletricidade. Além disso, a construção dos açudes, em
épocas de calamidade, garante ocupação para milhares de flagelados.
66
Area Provável de Irrigação
1,81%
FIGURA 7
IRRIGAÇÃO NO NORDESTE
67
o incremento da população nordestina requer que sejam
criadas, todos os anos, novas oportunidades de emprego na região.
Entre os anos de 1950 e 1960, o Nordeste apresentava a mesma
estrutura de emprego existente em 1950, devendo ser criados
cerca de 917 mil novos empregos na agricultura e 370 mil nos
outros setores, ou seja, quase 1,3 milhão de novos postos de
trabalho. Essa estimativa é feita supondo-se que a população
economicamente ativa continue representando 30% da população
total.
Se, entretanto, consideramos o problema sob o ângulo da
oferta de mão-de-obra, verificaremos que, naqueles dez anos, mais
de 2,8 milhões de pessoas, das quais 1,9 milhão residiam no campo,
atingiram a idade de trabalhar. Essa diferença é fácil de explicar,
pelo fato de que grande parcela da população feminina permanece
sempre na condição de potencialmente ativa, não conseguindo
emprego remunerado que a transferiria para a categoria de População
Economicamente Ativa, conforme as definições censitárias.
Se desejássemos ir mais além, poderíamos projetar o
crescimento da população ativa entre 1960 e 1970, e verificaríamos
que seria necessário criar mais de 1,1 milhão de empregos nas
atividades rurais ao longo do decênio. A população potencialmente
ativa, ou seja, aquela em idade de trabalhar, aumentaria de 3,5
milhões de pessoas, das quais mais de 2,3 milhões nos quadros
rurais (Ver FIGURA 8). Essa perspectiva nos leva a indagar se a
economia nordestina, especialmente a agricultura, tem condições
de absorver tão elevados contigentes adicionais de mão-de-obra.
Os números citados e os fatos referidos conduzem a duas
conclusões: a) O Nordeste é uma região com grande potencial
emigratório, o qual pode ser utilizado para integrar na economia
brasileira novas áreas do território nacional; b) As migrações de
nordestinos têm sido relativamente pequenas, representando menos
de meio por cento da população.
68
MLI-IPRESCE !lllAOOCOLA !lllW\O AffiÍCOLA
PESSO'S
LIOXJ
35XJ
3CüJ
25:XJ
2JJJ
15:XJ
1M
5:XJ
- 196')!l9/D-
AI'D)
FIGURA 8
INCREMENTO DECENAL DA FORÇA DE TRABALHO "ECONOMICAMENTE ATIVA" E
"POTENCIALMENTE ATIVA" DO NORDESTE 1950/1960 - 1960/1970
Q)
~
8 - PROBLEMAS DE SUBDESENVOLVIMENTO
9 - PLANEJAMENTO GLOBAL
70
tais regiões na economia moderna, requer uma revisão, com
o aperfeiçoamento, quando não superação, dos métodos
tradicionais. O próprio título de 'obras contra as secas'
expressa uma limitação, focalizando o problema sobretudo
pelo ângulo das obras de engenharia. É tempo de, à luz da
experiência passada e da moderna técnica do planejamento
regional, imprimir-se ao estudo a solução do problema uma
definida diretriz econômico-social.
71
larga envergadura, como a grande açudagem, a regularização dos
rios, e realização dos projetos maiores de irrigação e colonização, a
criação de fontes de energia e o desenvolvimento orientado de
núcleos de produção agrícola e industrial.
As diretrizes básicas voltadas para a busca de solução para
os problemas do Nordeste estão traçadas. Resta agora formular o
plano global de desenvolvimento da região à base dos indispensáveis
estudos e pesquisas e aparelhar os órgãos de execução, não só
com recursos financeiros, mas, igualmente, com o necessário pessoal
técnico.
72
SUGESTÕES DE UM PROGRAMA PARA REDUZIR
PERDAS NO SETOR PECUÁRIO NOS ANOS DE SECA
NO NORDESTE DO BRASIL
George W. Barr' *)
73
sobras da safra de 1957, diversas centenas de empregados ficariam
sem trabalho. A produção de oiticica, provavelmente, será pequena.
Novamente, o número de trabalhadores deverá ser reduzido. Em
escala maior, no Estado do Ceará, a safra de algodão, que poderá
não exceder um terço da normal, implicará a redução das atividades
de beneficiamento e de transporte do produto em menores
quantidades a serem embarcadas nos portos marítimos, em menor
processamento de sementes para a produção de óleo e em menor
quantidade de concentrados destinados ao gado. Tal alimento é,
em grande parte, subproduto das sementes de algodão utilizadas
na fabricação de óleo.
Dos prejuízos ocasionados pela seca no interior sem i-árido, a
inexistência de boas safras na primeira parte do ano seco de 1958
atraiu, inicialmente, a atenção pública. A falta de feijão e milho, a
diminuição da quantidade de mandioca e da colheita de arroz
ocasionaram a demanda imediata de alimentos de outras áreas e a
necessidade de o governo federal dar empregos que
proporcionassem meios para a aquisição de alimentos.
Os agricultores tiveram também de enfrentar o problema da
falta de forragem e de água para ser fornecida ao gado. Os rebanhos
vêm perdendo peso desde janeiro - em alguns casos, desde
dezembro de 1957 -, tendo sido pouco o que se fez relativamente
ao problema, antes que o gado começasse a morrer. A esse tempo
já se havia registrado grande perda no peso dos animais. Pode ser
grosseiramente estimado que o gado disponível, em 1 de janeiro,
Q
74
para reprodução. Quando as chuvas voltarem e houver nova
disponibilidade de forragem, serão necessários muitos meses para
esses animais recuperarem as suas energias e o peso normal.
Finalmente, devemos chamar a atenção para a perda de fêmeas e
de animais jovens, mantidos para fins de reprodução. A maior parte
dessas novilhas nunca atingirá o peso normal. Em outras palavras,
foi prejudicado o crescimento dos animais que sobreviveram, visto
que, por vários anos, eles terão a sua capacidade produtiva
retardada.
Com referência à agropecuária, o maior prejuízo causado
pela seca não diz respeito propriamente à redução (ou inexistência)
da colheita de produtos alimentícios para o consumo humano. A
drástica redução das safras dessas culturas anuais muito prejudicou
o agricultor, que deixou de produzir alimentos para a sua família e
para o mercado. Nesse ponto, a principal perda recaiu sobre o
elemento humano, pela desnutrição que acarretou. Além disso, a
queda das safras de algodão, mamona e mandioca pode ser
recuperada em poucos meses após o reinício das chuvas. Os
algodoeiros não morreram e haverá safra no próximo ano. O mesmo
se pode dizer da mamona e da mandioca. A perda econômica,
nesse caso, foi de um ano. Ela foi séria, afetando a renda de
grande número de pessoas, mas, de modo geral, não uma perda
completa. Em alguns casos, as perdas foram em parte
contrabalançadas pelos preços mais elevados obtidos pelos produtos.
Por outro lado, o maior prejuízo causado à agropecuária do
Nordeste foi a perda de gado bovino e, em grau menor, a perda de
ovinos e suínos. A pecuária exigirá, certamente, todo o ano de
1959, admitindo-se colheitas abundantes, para restabelecer-se nas
mesmas bases do início do mês de janeiro de 1958, sendo bem
provável que a recuperação ainda não esteja totalmente consolidada
no início de janeiro de 1960.
Portanto, o problema, do ponto de vista da agropecuária, é
primariamente de reorganização da produção do gado bovino,
obedecendo a um plano que precisa ser considerado pelos criadores,
mas que deve ser liderado pelo governo central. Deverá ser um
plano que minimize a perda do número de cabeças de gado no
75
decorrer de secas futuras". Um plano satisfatório para o manejo
do gado, nos anos em que houver ameaça de seca, dependerá da
ação a ser tomada não após diversos meses de contínua perda de
peso, mas logo após o primeiro mês de seca.
Nas partes secas dos Estados do Ceará, Rio Grande do
Norte, Paraíba e na maior parte de Pernambuco e do Piauí, as
principais chuvas ocorrem em quatro meses: de janeiro a abril. Nas
partes secas da Bahia, Sergipe, Alagoas, sudoeste de Pernambuco
e sudeste do Piauí (vide FIGURA 9), normalmente chove em
novembro e continua a chover até abril ou maio. Foi traçado pelo
governo federal, um programa através do qual é possível determinar,
imediatamente após o fim de janeiro, se há seca em qualquer parte
do polígono, bem como a sua extensão e gravidade. Se houver
falta de chuvas até o final de janeiro, ainda poderá chover em
fevereiro, março ou abril. Porém, a estação chuvosa provavelmente
não produzirá, em três meses de chuva, a mesma quantidade de
forragem e de culturas para pastagens que produziria em quatro
meses. Se não houver chuvas em janeiro ou, digamos, se chover
menos de dois terços do normal, criar-se-à imediatamente uma
situação séria, por causa da prática, comumente adotada pelos
criadores, de manterem tantas cabeças de gado bovino, ovino e
caprino quantas a área comportar em um ano de precipitação normal.
Isto significa que faltará forragem, a menos que haja redução no
tamanho do rebanho.
Deve ser salientado, aqui, que a pequena pluviosidade em
um posto pluviométrico não indica necessariamente uma área seca,
por duas razões: (1) O relatório de um posto poderá não indicar
exatamente a pluviosidade total de uma área; (2) Falta de chuva
em uma pequena área não induz a intervenção governamental,
porque o gado pode ser facilmente transferido para outras áreas. O
governo deve se manter atento às áreas secas com raio de 250km,
em círculos, cujo centro é a área seca, e incluindo pelos menos
cinco postos de observação meteorológica mencionados na lista
76
LL
30
3<iti:;'
anexa, e com uma pluviosidade - em todas as estações incluídas no
círculo - de menos de dois terços das chuvas normais acumuladas
até o mês da observação mais recente. Os dados básicos para
esse cálculo encontram-se no quadro anexo.
A redução no número de cabeças de gado deve iniciar-se
imediatamente após a caracterização da seca. Os criadores devem
ser informados, no início de fevereiro, quais deverão ser as áreas
secas, qual a sua extensão, e para onde poderá ser transferido o
gado, ou seja, onde deverá haver forragem. Se não houver
excedentes de forragem disponíveis em lugar acessível, os criadores
e os marchantes deverão ser encorajados e, se necessário,
subsidiados pelo governo para que aumentem o abate do gado
para ser vendido no mercado. Depois de fevereiro, um segundo
relatório dos postos meteorolóqlcos mostrará as áreas secas em
janeiro e fevereiro (ou apenas em fevereiro). Aqui, novamente, há
uma oportunidade para os criadores se ajustarem à situação
emergencial. Se dentro de dois meses ocorrer uma seca severa, o
governo deverá insistir para que as medidas sejam tomadas pelos
pecuaristas. Poderá ser necessário, inclusive, aumentar os subsídios
e encorajar o transporte do gado para fora da área, pagando-se,
por exemplo, o combustível dos caminhões utilizados, de modo a
diminuir o custo dos fretes.
A medida acima deverá ser mantida até o mês de abril.
Depois de abril, se uma determinada área permanecer seca, o
plano governamental não só deverá compreender apenas um mês,
mas todo o período até a próxima estação chuvosa. O início de
maio é a época para o governo iniciar a execução de um plano
sazonal completo, visando a atenuação da crise provocada pela
seca e que, sem a ajuda oficial, aqravar-se-á cada vez mais, mês
após mês, até a estação chuvosa seguinte.
78
OX~N:V
TABELA 3
PRECIPITAÇÕES EM 28 ESTAÇÕES 00 NORDESTE, SELECIONADAS PARA REPRESENTAR TODAS AS
PARTES DO POLÍGONO DAS SECAS - EM MIÚMETROS
Mediana de 1912/1956 Qualquer A no - A no 1958 Usado como Exempio
Estações Acumulados Por mês Acumulados Por Mês % Acumulados Por Mês Divididos PeI3Medtma
Jan. F ev. Mar. Abr. MaL Jan. Fev. Mar. Abr. MaL Jan. Fev. Mar. Abr. MaL
Piauí
1. Barras (11) 167 447 786 1.115 1.273 144 315 546 691 813 86 70 . 69 -62 -64
2. Valença do Piauí (9) 132 322 515 659 676
3. Jaicós (10) 109 233 394 470 485 115 168 285 106 72 72
4. São R. Nonato (8) 285* 444 554 624 631 218* 76
Ceará
5. Sobral 59 192 418 641 773 62 69 116 150 185 105 -36 -28 -23 -24
6. C rateús (1) 68 212 419 572 603
7. Q uixeramobim (1) 34 149 313 490 601 17 30 67 103 103 -50 -20 -21 -21 -37
8. Limoeiro (1) 47 152 367 505 598 6 6 11 11 -02 -43 -4 -2 -2 -10
9. Iguatu (1) 57 224 420 618 672 28 103 182 270 396 -49 -46 -43 -44 -59
10. C rato (1) 121 314 667 816 867 65 185 401 431 517 -54 -60 -60 -53 -60
Rio Gra nde do Norte
11. A ngicos (2) 20 93 196 324 407 2 65 90 98 110 -15 71 -46 -30 -27
12. Currais Novos (1) 14 76 178 267 287 O 21 21 21 79 -o -28 -12 -8 -28
paraíba
13. Pombal (1) 50 168 359 518 633 3 83 95 186 233 -6 -49 -26 -36 -27
14. Soledade 10 49 145 220 239 O 55 61 61 70 O 112 -42 -28 -29
Pemarnbuco
15. O uricuri (1) 74 161 264 374 383 103 132 180 200 206 139 82 68 -53 -54
16. 5ertânia (2) 27 108 194 268 324 10 54 93 127 161 -37 -50 -48 -47 -50
17. Pesqueira (3)* * 77* 159 200 304 396 51* 184 247 268 365 -66 116 124 88 92
18. Petrolândia (14) 139* 155 165 227 231 65* 113 196 186 219 -47 73 119 86 95
A la90<15
19. Piranhas (15) 83* 112 158 237 317 76* 111 117 127 191 92 99 74 54 -60
20. Pi,o de Açúcar (2) 89* 139 183 222 309 10* 14 28 31 44 -11 -10 -15 -14 -14
- -~ - -- -~ - -~ ----- - -- -
CXJ
I-'- (continua)
co TABELA 1
N
r>RECIPITAÇÕES EM 28 ESTAÇÕES DO NORDESTE, SELECIONADAS PARA REPRESENTAR TODAS
AS PARTES DO POLÍGONO DAS SECAS - EM MILÍMETROS
-~.._._~-~
Mediana de 1912/1956 Oualcuer Ano - Ano 1958 Usado como Exemplo
Estações Acumulada Por mês Acumulados Por Mês % Acumulados Por Mês Divididos Pela Mediana
Jan . Fev. Mar. Abr. Mai. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai.
.6.il..!J.lo.
21. Xique-Xique (5) 264* 386 499 529 529
22. Senhor do Bonfim 227* 300 369 453 511
23. Queimadas (2) 162* 238 289 338 384 125* 180 241 264 279 77 76 83 78 73
24. Cipó (6) 155* 195 268 299 364 81* 166 217 274 386 -52 85 81 92 106
25. Mundo Novo (7) 221* 282 343 449 570
26. Andaraí (12) 433* 427 699 811 830 444* 607 747 791 810 103 142 107 98 98
27. Carinhanha (13) 465* 558 681 737 766 548* 642 721 839 839 118 115 106 114 10
28. 8rumado (1) 322* 411 504 531 535 413 499 511 511 511 128 122 102 96 36
FONTE: Os dados históricos, e a maior parte das informações, relativas ao ano de 1958, foram obtidos no Serviço de Pluviométrico do Ministério da Agricultura, no Rio de Janeiro.
Em alguns casos, os dados referentes aos primeiros meses de 1958 foram fornecidos, via telegráfica, pelos Agentes Municipais de Estatística.
Notas: (-) Os números com sinais negativos, representam o período de seca.
(*) Inclusive novembro e dezembro do ano anterior.
(**) Os dados relativos aos meses de novembro e dezembro de 1957, e ao ano de 1958, foram diretamente copiados dos boletins meteoro lógicos existentes
no posto de Pesqueira(PE).
O período a que se refere o presente registro foi determinado pela disponibilidade de dados, no Ministério da Agricultura, relativamente as seguintes anos:
1. 45 anos, 1912/1956.
2. 44 anos.
3. 36 anos.
4. 35 anos.
5. 24 anos.
6. 21 anos.
7. Janeiro, abril e maio, 42 anos; fevereiro, março, junho e novembro, 41 anos e dezembro 39 anos.
8. Janeiro, março, novembro e dezembro, 40 anos; fevereiro, maio e junho, 41 anos e abril, 39 anos.
9. Janeiro, maio, junho, novembro e dezembro 39 anos; fevereiro, março e abril, 38 anos.
10. Janeiro, 42 anos; fevereiro, março, abril e maio, 43 anos; junho, 39 anos; novembro 40 anos e dezembro, 37 anos.
11. Janeiro, fevereiro, abril e maio, 39 anos; março, 37 anos; junho, 41 anos; novembro, 40 anos e dezembro, 35 anos.
12. Janeiro, fevereiro, março, abril, maio e junho, 44 anos; novembro e dezembro, 43 anos.
13. Janeiro, 43 anos; outros meses, 44 anos.
14. Janeiro a junho, 21 anos; novembro e dezembro, 20 anos.
15. Janeiro, fevereiro, março, abril, maio e dezembro, 43 anos; junho e novembro, 44 anos.
TABELA 4
- - - - - - - - - - -
Rio Grande do Norte 85.565 22.730 114.628 145.586 68.769 586.183 58,77 33,05 19,55
Paraíba 137.968 35.860 187.281 268.577 119.982 1.035.069 51,37 29,89 18,09
Pernambuco 243.562 267.263 269.838 432.006 564.407 1.841.895 56.38 47,35 14.65
Alagoas 68.232 42.645 73.407 129.1351 116.821 664.022 52,84 36,50 11,05
Sergipe 71.395 '22.755 63.122 118.229 56.318 360.181 60,39 40.40 17,53
Bahia 508.152 89.251 505.826 819.859 256.665 2.975.525 61,98 34,77 17,00
Nordeste 1.314.977 634.106 1.636.810 2.256.273 1.556.926 10.018.341 58,28 40.73 16,34
São Paulo 2.579.190 647.272 1.400.867 3.235.602 983.844 3.577 .411 79,71 65,79 39.16
Brasil 8.290.306 2.742.372 7.556.044 11.334.4161 4.919.275 27.319.826 73,14 55,75 27,66
FONTE: Censo Demográfico - 1950
co
w
PARTE 4
(Relatório 3)
NOTA EXPLlCATIVA
87
1- LOCALIZAÇÃO E INTENSIDADE
89
de três anos - colocaram-nas na lista das mais graves dentre as
registradas na reqião".
A análise dos registros pluviométricos e as pesquisas de
campo efetuadas por técnicos do Banco do Nordeste, permitiram
concluir que a seca de 1958 assolou diversamente a área do Políqono
das Secas, destacando-se três zonas afetadas, conforme o mapa.
A maior ou menor precisão das linhas divisionais está, naturalmente,
na dependência do acervo de informes pluviométricos.
26 Felipe Guerra registra, entre os anos de 1959 e 1942, "uma seca de cinco
anos, cinco secas de três anos, oito de dois anos e dezesseis de um ano, a saber:
1559, 1564, 1592, 1614, 1690-92, 1723-7, 1744-6, 1766, 1777-8, 1808-9,
1814, 1817, 1825-6, 1833, 1837, 1844-5, 1860, 1868-9, 1877-9, 1885, 1888-
9, 1891-2, 1898, 1900, 1902-4, 1907-8, 1915, 1919, 1930-2 e 1942.
90
180
160
140
120
100
~
80
60
40
20
O
1912 1914 1916 1918 1920 1922 1924 1926 1928 1930 1932 1934 1936 1938 1940 1942 1944 1946 1948 1950 1952 19541956 1958
Anos
FIGURA 10
PLUVIOMETRIA - 1912-1958
MÉDIA DOS ANOS 1912-56 = 100
FONTE: ETENE/BNB Ceará - Jan., 1959
OB5: A precipitação do Ano de 1957 foi calculada por estimativa
'-D
,.... Médias das estações de Pombal, Crato, Ouricuri, Currais Novos, Iguatu, Limoeiro e Quixeramobim.
Daí admitirmos que os limites traçados no mapa já oferecem
um retrato bem aproximado da realidade. Apenas algumas lacunas,
em diferentes sub-áreas, impediram um maior rigorismo na linha
divisora das zonas. No caso, a interrupção da coleta e a pequena
densidade de postos pluviométricos relativos à região que se inicia
às margens do rio Parnaíba (ao sul da cidade de Floriano) e se
prolonga ao norte e nordeste baiano (Xique-Xique, Senhor do Bonfim
- até as proximidades de Petrolândia). Os resultados do Posto de
Pão de Açúcar (AL) divergiam substancialmente dos circunvizinhos.
A ausência de uma constelação de postos ao redor dessa área
para testar os dados divergentes impediu que se concluísse pela
existência, ali, de um microclima. Assim, prudentemente, temos de
admitir tratar-se de um resultado passível de erro, e que não retrata
a situação de toda a área. Naturalmente, essas lacunas longe estão
de invalidar o retrato geral do quadro com suas diferentes divisões
pluviométricas. Mas é importante que sejam anotadas para uma
futura e desejável correção.
São estas as quatro zonas:
92
Pernambuco e norte da Bahia - para se estreitar - subindo pelos
limites oeste de Sergipe e Alagoas. Medianamente assolada, a
pluviosidade variou de 66 a 90% do normal, de acordo com
informes dos postos de Pesqueira e Petrolândia (PE) e Queimadas
(BA).
o
levantamento das três zonas assoladas em 1958 deve
somar cerca de 500.000 km2 e afetar entre 10 e 11 milhões de
pessoas.
2 - EFEITOS DA SECA
a) Pecuária
27 Ver ANEXO 2 - a.
28 Ver ANEXO 2 - 12.
93
em razão do volume disponível nos anos abundantes, o gado vacum
disputa esse pasto competindo ainda com os rebanhos de caprinos
e ovinos.
Escasseada a pastagem no segundo semestre do ano, o
suprimento forrageiro passa a ser feito pelo manejo do rebanho de
um cercado para outro ou pela reserva dos restos culturais das
lavouras. É habitual as vacas em lactação receberem suplemento
do concentrado - normalmente torta de algodão - no seu
arraçoamento. Ao findar o período das chuvas, começa igualmente
a preocupação em prover o suprimento líquido ao rebanho, que
passa a depender do açude, poço ou cacimba mais acessível.
Quando se iniciou a seca de 1958, já estando esgotadas as
reservas proporcionadas pelo inverno anterior, os criadores apelaram
para a alternativa de transferência dos rebanhos para zonas menos
adversas, ou para o recurso da alimentação alternativa. Esta pode
compreender o aproveitamento de xerófilas forrageiras (palma,
xique-xique, cardeiro, macambira etc.), a utilização de pastos
arbóreos (juazeiro, canafístula, feijão brabo etc.) e um pouco de
culturas de vazante. Esta é, no entanto, apenas uma pecuária de
"sustentação", que reclamará um ano seguinte abundante para a
recuperação das reses remanescentes, e até mais para atingir o
estado em que se encontravam ao sobrevir a seca.
Via de regra, o algodão cultivado na grande área assolada
pela seca fornece alimentação complementar ao rebanho. Inexistindo
o hábito e a condição de preparação de reservas para fazer face às
secas, verifica-se, quando estas ocorrem, um crescimento da
demanda de torta de algodão e, consequentemente, dos seus
preços. Em 1958, o preço da torta de algodão aumentou de Cr$
2,50 no início do ano, para Cr$ 6,50 a Cr$ 8,00 por quilo, em
outubro.
Em síntese, os efeitos da seca sobre o rebanho determinaram:
94
c) Em áreas em que as transferências dos rebanhos foram maiores,
houve falta de reses para o corte e, em conseqüência, verificou-
se redução dos abates, e não o seu incremento;
95
TABELA 5
ESTIMATIVA DOS EFEITOS DA SECA DE 1958,
SOBRE A PECUÁRIA NO NORDESTE (TONELADAS DE CARNE)
Situação Situação Entre
Normal 010/1/58 e 30/09/58
I· Dezesseis Municípios Estudados
a. Situação Inicial 85.000 85.000
b. Abates 5.000
c. Transferência Para Outras Áreas 11.000 20.000
d. Inventário Final 85.000 38.000
b) Algodão
96
estiagens, aquela lavoura vem de ano a ano dilatando a área de
cultura, originariamente restrita à zona do Seridó, no Rio Grande do
Norte. Sendo a lavoura comercial básica da zona semi-árida, o algodão
foi, naturalmente, afetado no ano de 1958, vindo a constituir, em
casos extremos, recurso forrageiro para o rebanho local.
A estimativa oferecida pelas maiores firmas algodoeiras da
região, para a safra de 1958, apresenta um déficit de 55 mil toneladas
de pluma de mocó, relativamente à safra anterior:
TABELA 6
SAFRA DE ALGODÃO MOCÓ (PLUMA)
Estados Produção em 1.000t
1957 I 1958
Ceará 42 15
Rio Grande do Norte 19 11
Paraiba 26 10
Pernambuco 8 4
TOTAL 9S 40
FONTE: Pesquisa direta do BNB-ETENE, 1958.
c) Outras Culturas
97
objetivo de procurar conhecer a extensão da perda das culturas de
subsistência e dos recursos forrageiros regionais. Essa era a época
mais conveniente para aferir os efeitos da seca nesses setores,
pois seria a fase pós-colheita, caso o inverno tivesse sido normal.
Calculou-se, então, que nos Estados do Piauí, Ceará, Rio
Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco a cultura do milho havia
sido apenas 15% da safra de 1957; a do feijão, 15%; a da mandioca,
50%; a da banana, 50%; a do café, 90% e a da cana-de-açúcar,
90%.
Uma estimativa da produção do Poliqono das Secas no ano
de 1958, em milhares de toneladas, segue-se abaixo, ao lado da
pr odução em 1957, cujos números aparecem entre parênteses:
algodão em pluma, l1S (160); mandioca, 2.700 (4.300); feijão,
140 (400); milho, 240 (725); banana, 400 (860); batata doce, 170
(270).
98
3 - AÇÃO GOVERNAMENTAL
99
c) População Afetada e Migração
Ch
100
16,0
15,0
14,0
13,0
12,0
11,0
10,0
9,0
l 8,0
7,0
6,0
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
Anos
FIGURA 11
PERCENTAGENS DAS DESPESAS, DO DNOCS SOBRE A ARRECADAÇÃO DA UNIÃO
(1909/1958)
FONTE: ETENE/BNB
•......
O
•......
Ainda em abril, cerca de 220 mil pessoas estavam
empregadas em obras e serviços públicos, com o salário de Cr$
40,00 (US$ 3) por dia. Em conjunto com seus dependentes, aquelas
pessoas constituíam 14% da população total dos três Estados. No
mês seguinte, o número subiu para 400 mil trabalhadores alistados
nas obras de emergência. Tomando-se em consideração esses
trabalhadores e seus dependentes, cerca de 1,6 milhão de pessoas,
ou seja, 25% da população total da área fora afetada pela seca.
Em julho, o número cresceu para 438 mil pessoas registradas em
projetos públicos. Assim, cerca de 1,8 milhão de pessoas foram
diretamente afetadas pela seca, o que corresponde a 28% da
população dos três Estados (Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba).
Nos últimos meses do ano de 1958, o número de pessoas afetadas
havia subido para cerca de 2 milhões, ou seja, 31,7% da população
dos três Estados.
Segundo os dados mais recentes fornecidos pelo INIC, saíram
da região, durante o ano de 1958, aproximadamente 200 mil
pessoas. A grande corrente migratória dirigiu-se para o Sul - São
Paulo, Paraná e Rio de Janeiro. Número substancial tomou a direção
oeste, especialmente o Maranhão, e menor quantidade de pessoas
emigrou para Goiás, atraídas pela construção de Brasília.
102
Um plano satisfatório para o tratamento do gado, nos anos
em que houver ameaça de seca, dependerá da ação a ser tomada,
não depois de diversos meses de contínua perda de peso, mas
após o primeiro mês de seca.
Nas partes secas dos Estados do Ceará, Rio Grande do
Norte, Paraíba e na maior parte de Pernambuco e do Piauí, as
principais chuvas ocorrem em quatro meses: de janeiro a abril. Nas
partes secas da Bahia, Sergipe, Alagoas, no sudoeste de Pernambuco
e no leste do Piauí (ver FIGURA 12), normalmente chove em
novembro e continua a chover até abril, ou data posterior.
Foi idealizado um esquema por meio do qual é possível estimar
com relativa precisão, no correr dos quatro primeiros meses do
ano, a extensão e a gravidade da seca", Se houver falta de chuvas
até o fim de janeiro, ainda poderá chover em fevereiro, março ou
abril, mas a estação chuvosa provavelmente não produzirá, em
três meses de chuva, a mesma quantidade de forragem e de
culturas que produziria em quatro meses. Se não houver chuvas
em janeiro, ou digamos se chover menos de dois terços do normal,
criar-se-á imediatamente uma situação séria, por causa da prática,
comumente adotada, de manter tantas cabeças de gado bovino,
ovino e caprino quantas a área comporta em ano de precipitação
normal. Isto significa que faltará forragem, a não ser que haja
redução do número de cabeças de gado.
Se as chuvas acumuladas de janeiro e fevereiro forem
inferiores a 2/3 das chuvas normais desses dois meses, a situação
se configurará muito mais séria e se a pluviosidade acumulada de
janeiro a março for menos de 2/3 da normal, ter-se-à um ano
seco.
32 Ver ANEXO 2 d,
103
/=[:N1:<;:.,;{io A~·;:t::;: ~;};.;: -i'~:%Ji;.d:,::;
,,~,~: ::~:::) >:õ'·;.'.
FIGURA 12
104
A redução do número de cabeças de gado deve iniciar-se
imediatamente. No princípio de fevereiro, as autoridades e o público
devem ser informados, onde estão as áreas secas, qual sua
extensão e para onde poderá ser transferido o gado, a fim de
conseguir forragem. Se não houver excedentes disponíveis em lugar
acessível, os criadores e os abatedores deverão ser aconselhados,
encorajados e, se necessário, subsidiados pelo governo, para que
aumentem o abate do gado pronto para o mercado.
Depois de fevereiro, um segundo relatório dos postos
meteorológicos mostrará as áreas secas em janeiro e fevereiro ou
apenas em fevereiro. Haverá, então, nova oportunidade para os
criadores se ajustarem à situação. Se nesses meses ocorrer uma
seca severa, o governo deverá insistir mais para que medidas sejam
tomadas. Poderá ser necessário aumentar subsídios e encorajar o
transporte de gado para fora da área.
A medida acima deverá ser mantida até abril. Depois de
abril, se uma área permanecer seca, o plano governamental não
deverá compreender apenas um mês, mas todo o período até a
próxima estação chuvosa. O início de maio é a época para o governo
iniciar a execução de um plano para reduzir os efeitos da situação
criada pela seca e que, com toda a probabilidade, sem essa ajuda
oficial, aqravar-se-á cada vez mais, mês após mês, até a estação
chuvosa seguinte.
105
intensidade - sem a constância aritmética que permitisse um plano
econômico de armazenamento de forragem e alimentos.
Admite-se que em um país com a extensão territorial e a
diversidade de clima como o nosso, ao invés de se estocar alimentos
com o objetivo de atender as necessidades em um ano vindouro
seco, aconselhável seria se considerar o fato de que as áreas não
assoladas podem suprir de gêneros a faixa seca. A estiagem de
1958 ilustra bem esta afirmativa.
Naturalmente que o problema do fornecimento de gêneros
tende a se suavizar com o crescente desenvolvimento da rede de
transportes e a organização de mercados. A estocagem, além de
reclamar um aparelhamento material grande, a organização de um
sistema de classificação e uma campanha educativa especial, teria
contra si ainda as possibilidades de pressões e interferências de
ordem não econômica, sobretudo as de natureza política.
106
ANEXO I
33A região Nordeste é formada pelos Estados abrangidos pelo Políqono das Secas,
exceto Minas Gerais. Os Estados são: Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba,
Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.
107
zonas de palma forrageira (Opuntia ficus indica) com gado holandês
mestiçado com zebu, em terras altas da Paraíba, Pernambuco e
Alagoas; a zona de fumo ao redor de Arapiraca (AL); e a zona de
criação de zebu nas matas do Orobó, na Bahia. Mencionamos,
ainda, as áreas irrigadas em alguns açudes públicos, em açudes
particulares e em trechos de regadio no médio e baixo São Francisco.
b) Atividade Econômica
108
são: cera de carnaúba, mamona, feijão, milho, agave, café,
mandioca e banana, gerando mais de Cr$ 6,5 bilhões (US$ 86
milhões) de um total de Cr$ 8,2 bilhões (US$ 109 milhões) para o
Nordeste, em 1955.
Os diversos rebanhos existentes no Polígono podem ter os
valores estimados nos montantes apresentados na TABELA 7,
partindo-se de levantamentos do Serviço de Estatística da Produção
(em números arredondados):
TABELA 7
REBANHOS DO NORDESTE E DO POLíGONO DAS SECAS - 1956
Número em 1.000 Cabeças Valor em Cr$ 1 Milhão
Nordeste Polígono Nordeste Polígono
Bovinos 11.500 6.500 33.500 18.900
Suínos 7.500 6.000 6.000 4.800
Ovinos 6.000 5.000 1.500 1.500
Caprinos 8.000 7.000 1.500 1.300
109
Em algumas zonas dentro do Políqono que apresentam
umidade relativa do ar mais elevada, particularmente a zona de São
Bento do Una (PE), os Cariris Paraibanos e parte da caatinga úmida
de Alagoas, vêm-se destacando, há alguns anos, a criação de gado
selecionado de aptidão leiteira. Pode-se incluir, também, a zona do
Seridó, no Rio Grande do Norte. As forragens básicas nas duas
primeiras áreas são a palma forrageira, a torta do caroço de algodão,
a vegetação nativa e uma incipiente ensilagem de milho ou de
sorgo. O gado predominante é o mestiço de holandês com zebu.
No Seridó, os fazendeiros se orientam mais para a mestiçagem do
Schwitz com zebu e a forragem básica é a torta e os capins das
vazantes dos açudes.
A importância da açudagem se faz sentir principalmente no
uso da água para as populações e para a pecuária regional, além
do desenvolvimento da piscicultura como fonte de alimento e do
eventual aproveitamento de energia elétrica.
A FIGURA 13 ilustra a utilização da área agrícola nas fazendas
e a estimativa das possibilidades irrigáveis do Nordeste. A FIGURA
13 mostra que, presentemente, a faixa irrigada soma apenas 6 mil
hectares - ou 18 mil ha se consideradas as culturas de vazante e
da faixa seca. Estima-se ainda que as possibilidades teóricas máximas
de irrigação não atingem 2% da área dos estabelecimentos agrícolas
do Nordeste, mesmo considerando as diversas fontes de água
(rios perenes, açudes presentes e futuros, lençóis subterrâneos,
lagoas e poços). Ou seja, 800 mil hectares, suficientes para fixar
80 mil famílias, equivalentes a cerca de 400 mil pessoas. É importante
salientar que o crescimento demográfico do Nordeste, excede, em
apenas um ano, essa capacidade teórica de fixação da área irrigável.
110
Área Provável de Irrigação
1,81%
FIGURA 13
IRRIGAÇÃO NO NORDESTE
c) Crescimento Demográfico
111
de 370 mil nos outros setores, totalizando quase 1,3 milhão de
novas oportunidades, na década de 1950/6035•
Outro raciocínio concluiria que, no decorrer da década de
1950, mais de 2,8 milhões de pessoas atingirão a idade de trabalho,
sendo que dessas, 1,9 milhão residem no campo. A diferença é
explicável pelo fato de grande parte da população feminina
permanecer sempre como potencialmente ativa, não conquistando
empregos remunerados que a promoveriam à definição censitária
de economicamente ativa.
O prolongamento do cálculo para o decênio seguinte, isto é,
1960/70 - concluiria pela necessidade de mais de 1,1 milhão de
empregos nas atividades rurais. Por sua vez, a população
potencialmente ativa (em idade de trabalhar), aumentaria de 3,5
milhões de pessoas, das quais mais de 2,3 milhões nos quadros
rurais. Daí a interrogação: tem a economia nordestina, em especial
a agricultura, capacidade para absorver essa gente? De tudo, conclui-
se que:
112
ANEXO 11
Metodologia
36 Constituíam o primeiro grupo: Dr. George W. Barr (FAO), Carlos Brandão da Silva
e J. Franácio de Castro; o segundo grupo: Mário Rocha e Pedro Guimarães ~,'ariz
filho e o terceiro: Eduardo de Castro Bezerra Neto e Pedro Hudson de P~'.'2
Silveira.
~~3
5) Estimativa dos prejuízos na área em estudo, partindo do balanço
global para os 16 municípios selecionados, sabendo-se que, pelas
estatísticas da década anterior, eles representam 15% da
população pecuária bovina da área;
114
3) Considerou-se a mediana igual ao índice 100;
115
BIBLIOGRAFIA SOBRE AS SECAS
LEVANTAMENTO REALIZADO
PELO ETENE EM 1957
APRESENTAÇÃO
119
REFERÊNCIAS
LIVROS
120
BARBOSA, O. Seca de 32: impressões sobre a seca_nordestina.
Rio de Janeiro: Aderson Editores, 1935. 198 p.
121
___ o o Ceará no começo do século xx. Fortaleza, 1909.
122
ESCRITÓRIO DE PLANEJAMENTO E SERVIÇOS TÉCNICOS.
Estudos sobre a 2a zona da 3a região do polígono das secas
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123
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FUNDAÇÃO
JOAQUIM NABUCO
Ministério da Educação