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jusbrasil.com.br
15 de Novembro de 2021

O papel do juiz na colaboração premiada

Por Paula Yurie Abiko

O artigo 4º, § 6º da Lei nº 12.850/2013 aduz que o Juiz não participará


das negociações para a homologação dos acordos de colaboração, em
decorrência de uma inspiração no sistema Norte Americano. Conforme
ressalta Morais da ROSA (2018, p. 150).

o problema é que, como veremos, na cooperação premiada à


brasileira, o Juiz pode confundir seus papéis e funções, em um
mix de atividade inconciliáveis democraticamente,
especialmente quando participa do jogo oculto de se alinhar ao
acusador mediante o deferimento combinado de cautelares
(prisão, condução coercitiva, sequestro, interceptações etc).

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Nesse sentido, vislumbra-se que a função do Magistrado nas negociações


é a de garantir o prosseguimento regular do processo, analisando se
houveram nulidades e vícios aptos a invalidar a persecução penal,
devendo sempre ser observado o princípio da imparcialidade sob pena de
comprometer o andamento processual nos casos concretos.

Portanto, conforme a disposição legislativa, o Juiz poderá participar dos


atos processuais nas negociações concluídos os atos relativos ao termo,
com a indicação de oitiva do delator, sendo fundamental a presença de
defesa técnica em todos os atos processuais, evitando coações e
ilegalidades para posterior homologação dos acordos de colaboração
premiada, nos quais deverão ser observados os requisitos formais na
celebração do negócio jurídico (ROSA, 2018, p. 151.)

No tocante ao princípio do Juiz natural, e caso haja pluralidade de


autores e de crimes, aduz VERÍSSIMO (2017. p. 118),

é necessário atentar, ainda, para outro princípio, o da unidade


de jurisdição, a fim de evitarem-se decisões contraditórias, por
exemplo, sobre os mesmos fatos criminosos.

Observa-se também que o envolvimento de pessoas com foro privilegiado


alteram a competência para homologação dos acordos de colaboração
devendo ser estritamente observados.

Ainda, analisando a importância do princípio do Juiz natural, observa


Jacinto Nelson de Miranda COUTINHO (2018, p. 32),

a visão tradicional tem a larga desvantagem de desconectar a


matéria referente à competência do princípio do Juiz natural, o
que é inconcebível. Basta ver que em nome da relativização de
tal princípio os nossos tribunais têm livremente alterado a
competência em processos já constituídos, em flagrante violação
à garantia constitucional do cidadão acusado.

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Observa-se, então, o papel do Juiz como elemento fundamental na


homologação dos acordos, no qual

o juiz precisa se consolidar como um ator garantidor das regras


do devido processo e dos direitos fundamentais dos acusados,
conforme orientação constitucional e convencional.
(VASCONCELLOS, 2017, p. 94)

Referente a natureza dos crimes, competência e o colaborador, há alguns


aspectos relevantes a serem observados pelo Magistrado.

Como a colaboração premiada é um meio de obtenção de prova, no qual


os depoimentos apresentados pelos colaboradores, bem como provas e
demais documentos constituem esses meios de prova, é fundamental que
a homologação dos acordos ocorra pelo juízo competente para análise dos
casos, pois ao mesmo caberá autorizar os meios de produção de provas,
como as quebras de sigilo, interceptações telefônicas, buscas e
apreensões, prisões temporárias, bem como caberá ao mesmo julgar os
fatos delitivos cometidos pelos colaboradores na aplicação da pena
VERÍSSIMO (2017, p. 119). Assim aduz VERÍSSIMO:

A identificação do juiz natural parte da Constituição, na qual


estão estabelecidos os critérios ratione materiae e ratione
personae, quanto ao mais, remete-se à legislação ordinária a
definição da competência em razão do lugar, a natureza do
crime (varas especializadas), seguindo-se o critério da
prevenção e da distribuição’’. Outra questão de suma
importância relativa as fases do processo é a competência para
homologação dos acordos de colaboração premiada na fase pré
processual ou processual em instâncias diversas.

Observa-se que se a negociação e homologação do acordo de colaboração


for fechado na fase de investigação preliminar e o colaborador não possui
prerrogativa de foro, a homologação deve ser realizada pelo juiz da

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primeira instância, podendo ser estadual ou federal, dependendo dos


delitos cometidos especificados nos casos concretos.

Nos casos nos quais os colaboradores possuem foro privilegiado, o mesmo


deverá ser homologado no juízo competente. No que tange aos
colaboradores com prerrogativa de função, vislumbra-se a necessidade e
previsão constitucional de defender o cargo ou a função pública que o
indivíduo ocupa e não sua pessoa (VERÍSSIMO, 2017. p. 121).

Ainda, há a possibilidade e é algo recorrente na homologação dos acordos


de colaboração o cometimento de crimes em distintas jurisdições
territoriais.

Nesse sentido, poderá haver mais de um juiz competente para julgar o


caso específico, sendo ideal que haja um acordo de colaboração negociado
em conjunto por esses membros do Ministério Público nas diversas
circunscrições judiciárias, possibilitando uma investigação mais efetiva na
persecução penal (VERÍSSIMO, 2017, p. 122).

Há ainda os casos de modificação de competência, e questões relativas a


conexão e continência processual. Nesse sentido aduz VERÍSSIMO (2017,
p. 123):

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a conexão e a continência têm por fundamento a necessidade de


reunir delitos conexos ou diferentes agentes num mesmo
processo, para julgamento simultâneo. Enquanto na conexão o
interesse é probatório, na continência o que se pretende é
manter a coerência diante de um mesmo fato praticado por
duas ou mais pessoas. A colaboração premiada tem um efeito
multiplicador de investigações preliminares, o que pode gerar
novas colaborações, que levarão a mais investigações. Nesse
quadro, a ideia de reunir delitos conexos num mesmo processo
não é viável. A racionalidade da regra da conexão significa,
então que as investigações e ações penais de delitos conexos
sejam julgadas pelo mesmo juízo, em razão, principalmente, do
conhecimento do material probatório e dos esquemas
criminosos que se desvelam.

Nesse sentido, vislumbra-se a importância de analisar todos os requisitos


de competência na homologação dos acordos de colaboração premiada,
garantindo um julgamento efetivo na persecução penal, observado o
princípio do juiz natural e a importância para a consolidação do que
preceitua a Constituição da República, em seu art. 5º, LIII:

'ninguém será processado nem sentenciado senão pela


autoridade competente’, garantindo-se um julgamento em
consonância com o devido processo legal.

REFERÊNCIAS

COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. Observações sobre os


sistemas processuais penais. Escritos do Professor Jacinto Nelson de
Miranda Coutinho. Organizadores: SILVEIRA, Marco Aurélio Nunes da;
PAULA, Leonardo Costa de. Observatório da Mentalidade Inquisitória.
Curitiba, 2018.

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VERÍSSIMO, Carla. Principais questões sobre a competência para


homologação do acordo de colaboração premiada. Colaboração
premiada. Coordenação MOURA, Maria Thereza de Assis; BOTTINI
Pierpaolo Cruz. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2017.

VASCONCELLOS, Vinicius Gomes. Colaboração premiada no


Processo Penal. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2017.

ROSA, Alexandre Morais da. Para entender a delação premiada


pela teoria dos jogos: táticas e estratégias do negócio jurídico.
Empório Modara: Florianópolis. 2018.

Fonte: Canal Ciências Criminais

Disponível em: https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/622919493/o-papel-do-juiz-


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