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Cantigas de Amor

As cantigas de amor surgiram entre os séculos XI e XIII influenciadas pela arte


desenvolvida na região da Provença, no sul da França.

A influência do lirismo provençal foi intensificada com a chegada de colonos franceses


na Península Ibérica e que foram lutar contra os mouros ligados a Provença. Além
disso, destaca-se o intenso comércio entre a França e a região ocidental da Península
Ibérica, alcançando o Atlântico Norte.

Nesse contexto, surge o "amor cortês", baseado num amor impossível, onde os
homens sofrem de amor, pois desejavam mulheres da corte que geralmente eram
casadas com nobres.

Esse conceito é mais intenso na voz dos trovadores da Galiza e Portugal, que não se
limitam a imitar, mas a "sofrer de maneira mais dolorida".

Características e exemplos de cantigas de amor


As cantigas de amor são escritas em primeira pessoa do singular (eu). Nelas, o eu
poético, ou seja, o sujeito fictício que dá voz à poesia, declara seu amor a uma dama,
tendo como pano de fundo o formalismo do ambiente palaciano. É por este motivo que
ele se dirige a ela, chamando-a de senhora.

“Cantiga da Ribeirinha” de Paio Soares de Taveirós


No mundo non me sei parelha,
mentre me for' como me vai,
ca ja moiro por vós - e ai!
mia senhor branca e vermelha,
Queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia!
Mao dia me levantei,
que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, des aquelha
me foi a mí mui mal di'ai!,
E vós, filha de don Paai
Moniz, e ben vos semelha
d'haver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d'alfaia
nunca de vós houve nen hei
valía dũa correa.
Esse tipo de cantiga mostra a servidão amorosa nos mais puros padrões da
vassalagem.

Dessa forma, a mulher é vista como um ser inatingível, uma figura idealizada, a quem
é dedicado um amor sublime também idealizado.
Cantiga “A dona que eu am’e tenho” de Bernardo de Bonaval
A dona que eu amo e tenho por Senhor
amostra-me-a Deus, se vos en prazer for,
se non dade-me-a morte.

A que tenh'eu por lume d'estes olhos meus


e porque choran sempr(e) amostrade-me-a Deus,
se non dade-me-a morte.

Essa que Vós fezestes melhor parecer


de quantas sei, a Deus, fazede-me-a veer,
se non dade-me-a morte.

A Deus, que me-a fizestes mais amar,


mostrade-me-a algo possa con ela falar,
se non dade-me-a morte.
Essas características justificam a presença de um forte lirismo. Esse é
representado pela "coisa d'amor" (o sofrimento amoroso); e "coita", que em
galego-português, significa "dor, aflição, desgosto". Para os trovadores, esse
sentimento é pior que a morte, e o amor é a única razão de viver.

Dirigindo-se a Deus, o trovador pede-lhe que lhe permita ver a sua senhora ou
então que lhe dê a morte. Na última estrofe, o pedido inclui a possibilidade de
esse encontro ser num lugar onde lhe possa falar.
Parte A
1. Indica o assunto desta composição poética.
2. Caracteriza a «dona», apoiando-te em expressões do texto.
Através das expressões “A que tenh'eu por lume d'estes olhos
meus
e porque choran sempr(e)(…)”, “Essa que Vós fezestes melhor
parecer de quantas sei (…)” e “me-a fizestes mais amar, (…)”, o
sujeito poético realça o amor incondicional, hiperbolizando o
sentimento por ela, referindo que é a dona que mais amou e que
mais lhe bem parece.
3. Identifica dois recursos expressivos e explica a sua
expressividade.
Hipérbole - Essa que Vós fezestes melhor parecer de quantas sei
Apóstrofe – chamada de atenção “Deus”
4. Classifica a composição poética e insere-a no contexto
literário onde se insere, justificando com expressões textuais.
A composição poética da cantiga insere-se na lírica trovadoresca,
pois é uma cantiga de amor. Trata-se de um senhor que declara
o amor por uma “dona”, como podemos analisar no verso “A
dona que eu amo e tenho por Senhor amostra-me-a Deus (..)”.
Cantiga “Ai eu de min, e que será?” de Nuno
Fernández
Ai eu de min, e que será?
Que fui tal dona querer bem (amar)
a que non ouso dizer ren (nada)
de quanto mal me faz haver. (sofrimento/dor)
E feze-a Deus parecer
melhor de quantas no mund'ha.
Mais en grave día nací,
se Deus conselho non m'i der;
ca destas coitas (dor) qual-xe-quer
m'é min mui grave d'endurar,
como non lh'ousar a falar,
e ela parecer assí,
Ela, que Deus fez por meu mal! (deus culpado)
Ca ja lh'eu sempre ben querrei, (ama muito a dona)
e nunca end'atenderei (amor não correspondido)
con que folgu'o meu coraçón,
que foi trist', ha i gran sazón,
polo seu ben, ca non por al.

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