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ISSN 1984-9354
Gratien Mesnard
(LATEC/UFF)
Resumo
Os custos de implantação de um sistema ERP no Brasil são acrescidos
por inúmeras exigências fiscais. Uma delas é o método de avaliação
dos estoques que em muitos casos obriga a uma customização de
sistemas utilizados globalmente. O artigo pprocura elencar
dificuldades e mostrar caminhos para sistemas de custos. Após duas
implantações em multinacionais e uma análise do cenário tributário
brasileiro no que tange aos métodos de custeio e de avaliação dos
estoques, são apresentadas soluções encontradas para que filiais
brasileiras de empresas multinacionais que implantaram instâncias
globais de seus sistemas ERP pudessem conciliar as exigências de
demanda de informações da matriz respeitando as restrições impostas
pela legislação tributária brasileira. Apesar dos avanços da
harmonização das normas contábeis brasileiras ao padrão
internacional, o método de avaliação dos estoques pelo custo padrão,
apesar de ser uma opção mais moderna, adotada comumente em todo o
mundo por agregar uma ferramenta de análise e controle
orçamentário, esbarra no Brasil na legislação tributária.
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1.1. Objetivos da pesquisa
1.1.1. Objetivo geral
O presente trabalho se propõe a analisar aspectos fiscais e contábeis da implantação de um
sistema integrado de custos respeitando a legislação fiscal brasileira, além de apresentar
formas alternativas de contabilidade de custos usadas internacionalmente, tentando explicar
como harmonizar esses dois aspectos em um mesmo sistema.
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2. Revisão da Literatura
2.1. Contabilidade de Custos e sistemas
ERP
A contabilidade de custos se configura hoje como importante ferramenta gerencial. No
entanto, era considerada até recentemente como muito complexa e trabalhosa por causa do
alto volume de informações que manipula. Devido a este volume, foi certamente a área da
contabilidade que mais ganhou com o advento da informática como ferramenta moderna de
tabulação de informações. Qualquer um que trabalhe com contabilidade de custos ao menos já
ouviu falar, mesmo que anedoticamente, se é que em algum momento não trabalhou com elas,
das temíveis tabelas de cálculo de custos, elaboradas à mão em folhas de papel imensas.
Hoje, ferramentas simples como editores de planilhas eletrônicas possibilitam realizar estes
cálculos árduos em poucos segundos, e manter os dados de anos em poucos megabytes de
espaço em disco. Bancos de dados e sistemas integrados, ferramentas mais poderosas,
permitem emitir relatórios de custos em tempo real, mantendo a integridade da informação
com outros setores, como almoxarifado, produção e vendas.
Se acompanharmos essa evolução, do papel aos monitores LCD, veremos que Sistemas
integrados do tipo ERP (Enterprise Resource Planning ou Planejamento de Recursos da
Empresa) surgiram a partir dos MRP (Material Requirements Planning ou Planejamento de
Requisições de Materiais), que posteriormente se tornaram MRPII (Manufacturing Resources
Planning ou Planejamento de Recursos de Fabricação) (STAIR, 1998). Ou seja, antes de se
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Considerando esse cenário global, torna-se interessante estudar quais as possíveis soluções
aplicáveis a implantações de sistemas em empresas multinacionais no Brasil, procurando
sempre harmonizar as exigências da legislação fiscal brasileira às necessidades de
informações da matriz.
Quais soluções podem ser utilizadas por empresas que por motivos técnicos (limitações do
programa) ou gerenciais (exigência da matriz) necessitam conciliar em um mesmo sistema
integrado diferentes métodos de custeio e de avaliação dos estoques ?
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própria contabilidade, desde que sejam feitos os ajustes ao custo real por absorção, para efeito
de publicação (lei societária) e atendimento à legislação fiscal.” No entanto, o autor fala sobre
a lei das S.A., aplicável ao Brasil. Para órgãos internacionais como o IASB (International
Accounting Standards Board) e o IFRS (International Financial Reporting System), é
permitida a presença de contas de variação (PPV – Purchase Price Variance ou Variação do
Preço de Venda e Mf Var – Manufacturing Variance ou Variações de Fabricação) acima da
CM (Contribution Margin ou Margem de Contribuição), integrando o COGS (Cost of Goods
Sold ou CPV, Custo dos Produtos Vendidos) dentro da Demonstração do Resultado e em
muitos países também na apuração do lucro fiscal.
Por se basear em um padrão comparável ao real apurado, a avaliação dos estoques se constitui
também, quando se usa este método, em uma ferramenta gerencial e de acompanhamento
orçamentário muito eficiente. Por esse motivo, e por ser permitido para fins contábeis e
fiscais, a avaliação dos estoques pelo custo padrão é a mais comumente usada por empresas
em todo o mundo.
A avaliação dos estoques pelo custo médio ponderado móvel requer que a cada entrada de um
determinado material no estoque, seu custo material seja recalculado pela média das compras
presentes no estoque. Pode ser calculado entrada a entrada (custo médio ponderado móvel),
ou uma vez por período (custo médio ponderado fixo). Da mesma forma, os custos do período
são alocados pelo valor real apurado.
No Brasil, o motivo que leva à adoção do custo médio como norma é o mesmo que leva à
adoção do custeio por absorção: a imposição da autoridade tributária. O artigo 295 do RIR/99
determina que o valor dos estoques “poderá ser o custo médio ou o dos bens adquiridos ou
produzidos mais recentemente”, apenas por, conforme o artigo 294, “contribuinte que
mantiver sistema de contabilidade de custo integrado e coordenado com o restante da
escrituração” de usar o custo apurado por tal sistema. O que leva Martins a afirmar que no
Brasil, “Para efeito de Imposto de Renda só são aceitos o PEPS e o preço médio ponderado
móvel. O médio fixo só pode ser usado se considerar apenas as compras do prazo da última
rotação de estoque.” Continua explicando que “Ao se utilizar o PEPS, acaba-se por apropriar
ao produto, via de regra, o menor valor existente do material nos estoques.” Ou seja, como
explicado anteriormente, é desvantajoso para a empresa pois o menor valor apropriado
significa um maior lucro tributável. O método PEPS, portanto, não é utilizado por não ser
interessante para a empresa.
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4. Conclusão
O custeio por absorção é a forma mais correta, de um ponto de vista contábil, de se calcular os
custos, e portanto, o lucro de uma empresa. Sendo assim, é a forma de custeio mais adotada
em todo o mundo, e inclusive no Brasil, tanto pela Contabilidade quanto pela autoridade
tributária.
No entanto, outra faceta do módulo de custos, a avaliação dos estoques pelo custo médio
ponderado móvel, apesar de ser a mais correta de um ponto de vista contábil, não pode mais
hoje, ser a única alternativa. Em uma economia com a inflação controlada, as variações ao
longo do período são pequenas o suficiente para que, ao se analisá-las à luz do princípio da
materialidade, seja razoável adotar-se o custo padrão para fins contábeis. Justificado em uma
economia inflacionária, em que o custo dos estoques necessita ser reavaliado periodicamente,
o custo médio pode ser trocado pelo padrão no Brasil de hoje, ganhando-se assim uma
ferramenta gerencial e de acompanhamento orçamentário.
O que impede o uso do médio então ? Graças aos esforços do Comitê de Pronunciamentos
Contábeis, que nos últimos anos vem convergindo as normas contábeis brasileiras à normas
internacionais de contabilidade promulgadas pelo International Accounting Standards Board
(IASB), e pelas mudanças na lei 6.404/76 (leis 11.638/07 e 11.941/09) a Contabilidade vem
se modernizando muito rápido. A Contabilidade brasileira, até pouco tempo atrás voltada
quase que exclusiavemente a atender um sem-número de obrigações fiscais e tributárias,
tomou uma tal dianteira em relação à legislação tributária, e o resultado contábil pode hoje
diferir a tal ponto do resultdo fiscal, que alguns autores defendem a criação do LALUC (Livro
de Apuração do Lucro Contábil), proposto pelo professor Eliseu Martins. Do ponto de vista
contábil, é totalmente possível o uso do custo padrão na avaliação dos estoques. No entanto,
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os artigos 289 a 298 do RIR/99 vedam completamente esse método para fins de apuração de
lucro tributável.
Em implantações de sistemas integrados do tipo ERP em filiais brasileiras de empresas
multinacionais, é cada vez mais comum que a matriz exija a adoção de um padrão global. O
sistema é o mesmo para toda a empresa em diversas regiões do mundo. Com a crescente
tendência à harmonização das normas contábeis internacionais (padrão IFRS do IASB), as
dificuldades contábeis para tal, mesmo no Brasil, se vêem reduzidas. Mas a legislação fiscal e
tributária não acompanha essa tendência.
Hoje, na implantação de sistemas integrados do tipo ERP, que representam um investimento
alto para as empresas, além da obrigatoriedade da transmissão à receita de diversas
informações em formato digital, através de meios eletrônicos (nota fiscal e SPED, por
exemplo), que gera por si só uma necessidade por serviços especializados para todos os
setores de atividade, pouco importa o porte da empresa; além da complexidade e da
quantidade dos tributos nas esferas federal, estadual e municipal; temos ainda o aspecto dos
custos. É fundamental determinar se o método de avaliação dos estoques adotado pela matriz
e por boa parte do mundo pode ser aplicado à filial brasileira, e se não podem, de que forma a
matriz está disposta a conviver com o custo médio no Brasil, e quais os impactos das
customizações necessárias.
Há uma grande variedade de estudos sobre o custo da carga tributária brasileira, seu efeito em
investimentos internos e externos em produção, e na vida de pessoas físicas e jurídicas.
Também se avaliou, por ser recente e ter causado um impacto muito forte nos últimos anos, os
custos relativos à introdução de novas obrigações acessórias digitais como nota fiscal
eletrônica e os diversos SPED.
Há também muitos estudos comparativos interessantes do número de horas de profissionais de
Contabilidade dispendidas em diversos países para se fechar a Contabilidade de um período
em uma empresa. Em todos o Brasil aparece em primeiro lugar, gastando um tempo bem
superior a todos os outros países elencados.
No entanto, os efeitos da profusão de impostos no Brasil, e de uma subseção do RIR/99,
“Custo dos Bens ou Serviços” – apenas dez artigos (de 289 a 298) – , sobre a implantação de
sistemas de informação caros e cada vez mais internacionais e globalizados, é pouco estudada.
Em um mundo moderno, com sistemas de informação que abrangem as operações de uma
organização em todo o mundo, os custos de customização gerados pela adoção do custo
médio devem ser medidos e incluídos como mais um argumento favorável à tão necessária
reforma tributária no Brasil.
BIBLIOGRAFIA
AUGUSTO, Alexandre. Customizações Custam Caro e Atrasam Projetos de ERP. CIO/USA:
Setembro de 1999.
COLANGELO FILHO, Lúcio. Implantação de sistemas ERP: um enfoque de longo prazo.
São Paulo: Editora Atlas, 2001.
DAVENPORT, Thomas H. Living with ERP. CIO Magazine, 01/12/1998.
HABERKORN, Ernesto. Teoria do ERP – Enterprise Resource Planning. São Paulo: Editora
Makron Books, 1999.
HORNGREN, Charles T., SUNDEM, Gary L., STRATTOM Willian O. Contabilidade
Gerencial. 12 ed. São Paulo: Editora Prentice Hall, 2004.
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