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Maria Esmael Zangarote

Selemane Chale

Heraméutica, Fenomenologia e Existencialismo

Licenciatura em Ensino de Filosofia com Habilitações em Ética

Universidade Rovuma

Extensao de Cabo Delagdo

2021
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Maria Esmael Zangarote

Selemane Chale

Heraméutica, Fenomenologia e Existencialismo

Trabalho de carácter avaliativo


recomendado pelo docente da cadeira de
HFC, a ser apresentado ao Departamento de
letras e Ciências Humanas no curso de
Licenciatura em Ensino de Filosofia com
habilita-ções em ética 2º ano II° semestre.

dr. Faruk Amade

universidade Rovuma

Extensão de Cabo Delago

2021
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Índice
Introdução..........................................................................................................................4

Fenomenologia..................................................................................................................5

Uma doutrina da existência...............................................................................................5

A vertigem da liberdade....................................................................................................6

O desamparo essencial......................................................................................................7

A caminho da existência autêntica....................................................................................7

Da hermenêutica clássica à hermenêutica filosófica.........................................................8

Conclusão........................................................................................................................10

Referências Bibiograficas................................................................................................11
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Introdução

Neste presente trabalho o nosso objectivo é apresentar a abordagem positivista da


ciência. A fenomenoligia, hermeneutica, como sabemos, corrente de pensamento que
durante o século XIX teve uma repercussão na Europa, e assentava-se na ideia de que a
ciência é o nosso único meio de construção do conhecimento verdadeiro, ou seja,
pregava uma espécie de primazia da ciência em detrimento de outras formas do
conhecimento humano. Baseado no enorme avanço que as ciências naturais vinham
conquistando, o positivismo vai encontrar nessas ciências o único método de conhecer
digno de confiança, qual seja: a construção de leis que possam explicar os fatos.

Objectivo Geral

Objctivos especificos

Comprender a fenomenologia e as suas principais ideias

Descrever a Hermeneutica
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Fenomenologia

Dentre as correntes mais influentes da filosofia do século XX, a fenomenologia aparece


como uma das mais importantes. Inúmeros filósofos se valeram do método
fenomenológico como fundamento para pensar e elaborar suas filosofias. Assim, a partir
da leitura e interpretação do método fenomenológico formulado por Husserl, autores
como Max Scheler, Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty, Lévinas e outros desenvolveram
suas filosofias à luz desse “método de investigação”, como diz Heidegger em Ser e
tempo. Ou seja, “a expressão ‘fenomenologia’ significa, antes de tudo, um conceito de
método” (HEIDEGGER, 2006, p. 66).

Em Kant, segundo Samabria (1988), já se encontra uma fenomenologia, em sentido


filosófico, pois, ao analisar a estrutura do sujeito e das funções do espírito, ele
estabelece que o conhecimento se reduz ao que aparece, isto é, a fenômenos. Hegel usa
o termo na sua obra Fenomenologia do Espírito, entendendo a fenomenologia como
ciência da experiência e da consciência. É em Hegel, portanto, que o termo entra
definitivamente na tradição filosófica. A diferença fundamental entre a fenomenologia
de Hegel e a de Kant reside na concepção das relações entre o fenômeno e o ser ou o
absoluto.

[...] em toda filosofia precedente não existe nenhum problema com


sentido nem existe problema sobre o ser em geral que não possa ser
considerado no âmbito da fenomenologia transcendental (MOURA,
2001, p. 133).

A fenomenologia como método radical, no sentido de abrir caminho para a realidade


mais fundamental, as essências, converte-se na disciplina que justificará todas as
ciências de maneira mais rigorosa.

Uma doutrina da existência

Embora algumas das reflexões contidas no Existencialismo sejam tão antigas quanto o
nascimento da própria consciência humana, foram necessários muitos séculos desde o
surgimento da Filosofia para que surgisseo conjunto de ideias que configuraram a
doutrina existencial. Essa doutrina que põe em foco o existir em si mesmo, para além de
meras elucubrações sobre o que é o homem e sua essência.

O Existencialismo enquanto doutrina nasceu no século XIX, e expandiu suas raízes ao


longo de todo o século XX. Foi uma Filosofia, mas também se traduziu em dramas
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humanos reais, quer nas trajetórias peculiares de seus autores, quer em suas produções
escritas. Estas transpuseram os limites da Filosofia, ampliando suas produções para a
literatura, terreno fértil onde puderam encontrar uma maior correspondência com a vida
humana em si, em toda a sua complexidade.

O “homem novo” a que se refere o Existencialismo é o resultado da tomada de


consciência do sujeito sobre sua própria trajetória de vida, na qual ele é o grande
responsável por redigir os capítulos da sua narrativa existencial.

Nisso reside a busca pelo si mesmo, apesar das muitas prescrições sociais que versam
sobre quem é o homem e o que ele deve fazer.

Esta busca pelo meu lar, ó Zaratustra, tu sabes que esta busca tem sido
a minha provação e está me consumindo. ‘onde fica – o meu lar?’
Pergunto, procuro e procurei-o sem encontrá-lo. A eterna busca em
todos os lugares, a eterna busca em lugar nenhum - ó eterno em vão!
(NIETZSCHE, 2014, p. 366).

Essa é uma busca repleta de ansiedades e incertezas. Encontrando a consciência de si


mesmo enquanto um projeto que se faz diariamente a partir das suas escolhas, o sujeito
fica à mercê do desamparo fundamental do existir. Para o Existencialismo, não é um
Deus quem escolhe a trajetória do homem, tampouco a sociedade pode ser traçar o seu
destino. Eis uma doutrina ancorada na responsabilidade do próprio homem sobre os
seus atos.

A vertigem da liberdade

Jean-Paul Sartre, filósofo francês do século XX, fala da condenação humana à


liberdade. Não há como eximir-se da liberdade para escolher. Mesmo diante das grandes
influências que a sociedade e seus valores nos imputam, não adianta culpabilizá-la por
uma vida de infortúnios. O Existencialismo é, portanto, uma doutrina de ação, que
pretende colocar o “homem novo” como o verdadeiro responsável por se construir,
sendo ele livre para escolher dentre inúmeras possibilidades no decorrer da sua
trajetória. Pensava:

Será isso a liberdade? Ele agiu, agora não pode mais voltar atrás; deve
parecer-lhe estranho sentir atrás de si um ato desconhecido, que ele já
não compreende e que vai transformar-lhe a vida. (SARTRE, 1979, p.
363)

Se escolher não é fácil, assumir as consequências decorrentes disso é algo ainda mais
desafiador. Embora o homem deseje ser livre, emerge uma grande angústia da
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necessidade de escolher – e do tempo limitado de vida que transforma uma escolha na


impossibilidade de realizar tantas outras. Diante disso, muitos recaem na tentativa de
recusar a liberdade, atribuindo o poder de escolha a outrem. Entretanto, não há saída. A
recusa à liberdade é um exercício da liberdade em si, e os resultados dela também são
advindos dessa escolha.

O desamparo essencial

No Existencialismo, a angústia é constitutiva do homem, um resultado natural para


aquele que necessita fazer escolhas. Ela exige uma ação, que é a escolha em si mesma.
A angústia é ainda mais acentuada pelo desamparo, que brota da constatação de que
estamos sós: nem Deus nem qualquer outro ser escolhe por nós; no final, a escolha é
sempre solitária, da própria pessoa, aquela que assume as consequências pelo que
elegeu e por aquilo o que deixou para trás. Em suas formas agudas, a angústia pode se
converter na melancolia e no desespero.A consciência da limitação também pode
conduzir ao tédio– a percepção de uma limitação extrema de possibilidades de vida, que
faz com que o sujeito se enxergue sempre preso dentro da mesma cadeia de
possibilidades.

O tema da morte é um dos mais amplamente discutidos na literatura existencial.


Vejamos alguns trechos de uma das obras em que a morte aparece como o personagem
principal.

Ele então ia para seus aposentos, deitava-se e outra vez ficava a sós
com ela. Cara a cara com ela. E não havia nada que ele pudesse fazer
com ela, a não ser olhar e estremecer. (TOLSTÓI, 2014, p. 67)

É no encontro de Ivan Ilitch com a morte que Tolstói descreve a angústia de um


aristocrata que revisita a sua vida, concluindo pelo vazio da sua existência. É nesse
processo que, finalmente, o personagem encontra a si mesmo. Acompanhemos seu
processo.

O horrível, terrível ato de sua morte, ele via, estava sendo reduzido
por aqueles que o rodeavam ao nível de um acidente fortuito,
desagradável e um pouco indecente (mais ou menos como se
comportam com alguém que entra em uma sala de visitas cheirando
mal), e agiam assim em nome do mesmo decoro ao qual ele próprio
subjugara-se a vida inteira. (p. 73)

A caminho da existência autêntica

Não conheço o parece. Não é apenas o meu manto negro, boa mãe,
Minhas roupas usuais de luto fechado, Nem os profundos suspiros, a
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respiração ofegante. Não, nem o rio de lágrimas que desce de meus


olhos, Ou a expressão abatida do meu rosto, Junto com todas as
formas, vestígios e exibições de dor, Que podem demonstrar minha
verdade. Isso, sim, parece, São ações que qualquer um pode
representar. (SHAKESPEARE, 2014, pp. 21-22).

Nesse trecho de Hamlet, Shakespeare coloca em evidência a distinção entre o que


“parecemos” – algo que bem pode ser representado – e o que de fato somos. Essas duas
facetas são um objeto de análise do Existencialismo, que se dedicou amplamente à
discussão entre o viver na inautenticidade das aparências e o descobrir-se numa
trajetória pessoal.

A autenticidade é constituída pela consciência da escolha de uma trajetória existencial


própria, pela qual é preciso responsabilizar-se ao invés de justificar as consequênciasdos
atos escolhidos no exterior. É um processo dinâmico, mutável e contínuo, no qual o
homem se vê diante das suas próprias exigências e sofre ainda toda a pressão decorrente
do exterior, da sua vida em sociedade. Nela, a “multidão” dita as regras e não raramente
o sujeito sucumbe sem questionar aos ditames que vem de fora.

Da hermenêutica clássica à hermenêutica filosófica

Para entendermos a hermenêutica filosófica de Gadamer e o debate que se estabeleceu


entre ele e Habermas uma pergunta se faz necessária: o que é a hermenêutica? Segundo
Ramberg & Gjesdak (2005), o termo se refere tanto à arte quanto à teoria de
compreender e interpretar expressões linguísticas e nãolinguísticas. Enquanto teoria da
interpretação, a hermenêutica remonta à antiga filosofia grega.

O próprio termo hermenêutica é uma versão latinizada do grego hermeneutice, muito


utilizado por Platão em seus diálogos1 e também por Aristóteles.

A diferença fundamental entre a hermenêutica tradicional e a moderna, de acordo com


Ramberg & Gjesdak (2005), consiste no fato de que a hermenêutica moderna toma para
si a defesa da integridade das ciências humanas, num patamar distinto das ciências
naturais, ao mesmo tempo em que se preocupa com o problema do sentido dos textos do
passado. A junção desses dois pilares ocorre justamente no romantismo e no idealismo
alemão, movimentos associados à tradição do Verstehen.

Schwandt (2006:195) nos lembra que no centro das reações dos historiadores e dos
sociólogos alemães neokantistas ao positivismo e ao positivismo lógico, entre o fim do
século XIX e o início do século XX, estava a defesa de uma diferença entre as ciências
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humanas e as ciências naturais. A ação (social) humana se diferencia do movimento dos


objetos físicos porque é essencialmente significativa, necessitando, portanto, que seja
interpretada individualmente, de forma singular:

Os defensores do interpretativismo afirmavam que o objetivo das


ciências humanas era compreender a ação humana. Aqueles que
defendiam o positivismo e aqueles que propunham a unidade das
ciências mantinham-se fiéis à ideia de que a finalidade de qualquer
ciência (se ela de fato deve ser chamada de ciência) é oferecer
explicações causais de fenômenos sociais, comportamentais e físicos.
(SCHWANDT, 2006:195)

Com os idealistas alemães da escola de Baden (Windelband, Lask, Rickert) surge uma
importante distinção entre as ciências nomotéticas (que operam leis ou que procedem de
forma generalizadora) e as ciências idiográficas, de procedimento individualizador.
Schwandt cita nominalmente Dilthey, Rickert, Windelband, Simmel e Weber como
representantes dessa tradição do Verstehen nas ciências humanas, que teria dado origem
ao interpretativismo e à hermenêutica. Eu citaria mais um, Ernst Cassirer, da escola
neokantista de Marburgo.

Segundo Ramberg & Gjesdak (2005), Schleiermacher queria utilizar a hermenêutica


para entender não apenas textos, mas também povos e culturas. Para tanto, era preciso
haver uma abertura para o fato de que o que parece racional, verdadeiro ou coerente
pode, na verdade, estar encobrindo algo que não nos é familiar. E essa abertura só é
possível na medida em que nós examinamos minuciosamente nossos próprios
preconceitos hermenêuticos, pois “O esforço da compreensão surge toda vez que não se
dá uma compreensão imediata, e assim toda vez que se deve contar com a possibilidade
de um mal-entendido” (GADAMER, 2005: 247). Segundo o próprio Gadamer, esse
contexto envolvendo a estranheza e o mal-entendido enquanto elementos universais é o
que determina a ideia de uma hermenêutica universal em Schleiermacher2 . Ele dizia
que “em todo lugar onde houver qualquer coisa de estranho, na expressão do
pensamento pelo discurso, para um ouvinte, há ali um problema que apenas pode se
resolver com a ajuda de nossa teoria”, isto é, com a ajuda da hermenêutica
(SCHLEIERMACHER, 2008:31).
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Conclusão

O conceito de hermenêutica mudou muito ao longo dos séculos. Na Grécia antiga, era
considerada a arte e a teoria de interpretar textos. Na Idade Média, vira sinônimo de
exegese bíblica. Em sua versão moderna, toma para si a defesa das ciências humanas
enquanto forma de conhecimento distinta das ciências naturais, calcada na interpretação
e não na explicação. Essa tradição avança com Schleiermacher e com Dilthey, mas só
ganharia um status ontológico a partir de Heidegger e seu discípulo Gadamer. É quando
deixa de ser tratada como método e passa a ser encarada em sua amplitude, referindo-se
ao todo da experiência do ser humano no mundo.
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Referências Bibiograficas

DOSTOIÉVSKI, Fiódor. O duplo. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34,
2011.

GADAMER, H.G. Verdade e método. Petrópolis: Vozes, 2005.

HEIDEGGER, M. Ser e tempo. Tradução Márcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis:


Vozes, 2006.

MOURA, C. A. R. Racionalidade e crise: ensaios de história da filosofia moderna e


contemporânea. São Paulo: Discurso Editorial, 2001.

NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém.
Tradução de Carlos Duarte e Ana Duarte. São Paulo: Martin Claret, 2014.

SARTRE, Jean-Paul. A idade da razão. Tradução de Sérgio Milliet. São Paulo: Abril
Cultural, 1979.

SCHLEIERMACHER, F. D. E. Hermenêutica: arte e técnica da interpretação. Bragança


Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2008.

SHAKESPEARE, William. Hamlet. Tradução de Millôr Fernandes. Porto Alegre:


L&PM, 2014.

TOLSTÓI, Leon. A morte de Ivan Ilitch. Tradução de Vera Karan. Porto Alegre:
L&PM, 2014.

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