Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Decido aqui pela análise do poema "Sobre escrever" de Ricardo Aleixo, publicado
em seu livro "Antiboi".
Lançado em 2017, esta obra se estabelece como mais um marco na caminhada de
resistência deste poeta tão politicamente engajado.
O livro não se resume, no entanto, a somente um significante de resistência. Existe
também uma dimensão pessoal-familiar e um "eixo-espiral amoroso", como denomina
esse último o professor Fábio Belo. Entre poemas como "Monstra" e "Grau zero", "Sobre
escrever" a princípio parece fugir da unidade consolidada de poesia que é "Antiboi", pois
não transita em nenhum desses dois eixos. Ao invés disso, "Sobre escrever" se apresenta
como uma reflexão metapoética e metalinguística, na qual o eu-lírico trava um debate
interno consigo mesmo a respeito das razões de escrever... ou não!
Olhando de outra maneira, no entanto, podemos visualizar "Antiboi" a partir de um
eixo interno e externo. Divido aqui, entre interno e externo, a ideia do eu-lírico que olha
para si e o eu-lírico que olha para um mundo que o cerca, e postula sobre ele. Embora
alguns dos poemas do livro operem sob apenas um ou outro eixo, como por exemplo
"Homens" e "Por Dentros", a maioria deles apresenta estas duas dimensões em seu
corpo. O poema "Perspectivismo" é um bom exemplo desta dualidade, no qual, ao mesmo
tempo em que explicita o conceito antropológico do perspectivismo ameríndio, o poeta
também faz uma auto-reflexão a partir desta perspectiva: Eu era feliz e não sabia.
eu era felino
e não sabiá
Bibliografia: