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COPYRIGHT © 2019 Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular

DIREITOS RESERVADOS. É proibida a reprodução total ou parcial da


obra, de qualquer forma ou por qualquer meio sem a autorização prévia
e por escrito do autor. A violação dos Direitos Autorais (Lei no 9610/98) é
crime estabelecido pelo artigo 48 do Código Penal.

1ª Edição MARÇO 2019


Categoria: Medicina

Projeto Gráfico e Diagramação


Conexão Propaganda e Editora

A313p
Akaishi, Patricia.
1º manual de condutas blefaroplastia / Patricia Akaishi, Roberto
Murillo Limongi, Filipe José Pereira e Allan Pieroni. – Goiânia : Conexão
Propaganda e Editora, 2019.
72 p. ; il.
Inclui referências bibliográficas
ISBN
1. Blefaroplastia. 2. Plástica ocular. I. Limongi, Roberto Murilo. II. Perei-
ra, Filipe José. III. Pieroni, Allan. IV.Titulo.

CDU 617.7

Índice para catálogo sistemático


1. Blefaroplastia ............................................................ 617.7

Tiragem
2.000 exemplares

Impresso no Brasil
Printed in Brazil
2019
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

PREFÁCIO

Roberto Murillo Limongi


Presidente SBCPO 2018-2020

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular tem como premissa principal


“aprimorar e difundir o estudo da Plástica Ocular através de reuniões, congressos, cur-
sos, pesquisas e publicações referentes à especialidade.” (Art. 6°, Capítulo III, estatuto
da SBCPO).
Como presidente e ciente do dever de fazer cumprir o estatuto da sociedade, antes
mesmo de tomar posse, procurei os colegas Patrícia Akaishi, Suzana Matayoshi e Ana
Rosa Pimentel para compor um livro inédito: Estética Periocular, um divisor de águas na
abordagem estética da região periocular, na qual pela primeira vez a SBCPO reúne seus
melhores experts no tema em uma só obra que englobou conhecimentos de anatomia,
técnicas cirúrgicas e procedimentos na importante região ao redor dos olhos.
Movido pela excelente repercussão do livro, idealizei a elaboração de uma série de
manuais de conduta que pudessem ter a opinião de sócios experientes sobre temas
relevantes, que pudessem auxiliar a conduta cirúrgica dos praticantes desta sub-es-
pecialidade. Para coordenar o Primeiro Manual de Condutas da SBCPO, sobre o tema
Blefaroplastia, escolhi a Dra. Patrícia Akaishi, vice- presidente da SBCPO, que aceitou
prontamente o meu convite. Durante o 62° Congresso Brasileiro de Oftalmologia, em
setembro de 2018, reunimos em Maceió, os maiores experts em blefaroplastia, entre
ex-presidentes e membros ativos da SBCPO, para colocar em votação os vários tópicos
abordados neste livro.
Parabenizo a Dra. Patrícia Akaishi e todos os participantes do 1° Manual de Condutas
da SBCPO pelo belíssimo trabalho e pelo comprometimento em difundir conhecimen-
tos e aprimorar o ensino e pesquisa científica.
Agradeço ao Laboratório Genon pelo total apoio na construção desta importante obra.

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1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

PREFÁCIO

Patricia Akaishi
Vice-Presidente SBCPO 2018-2020

A idéia de elaborar manuais de conduta em cirurgia oculoplástica surgiu da neces-


sidade de discutir sobre as condutas práticas que utilizamos em nosso dia-a-dia. Sabe-
mos que há particularidades relacionadas ao preparo do paciente para a cirurgia, pe-
quenas modificações de técnicas tradicionais e mesmo condutas pós-operatórias que
ajudam a melhorar o resultado cirúrgico. Muitas dessas condutas são baseadas nas ex-
periências pessoais, testadas na prática por quem realiza rotineiramente tais cirurgias.
Assim, o manual representa um guia de orientações para auxiliar os cirurgiões e não um
texto científico de condutas baseado em evidências.
Os tópicos apresentados na sessão interativa representam temas que frequente-
mente suscitam discussões informais entre os cirurgiões oculoplásticos. Cada tópico
traz à tona um compartilhamento de experiências pessoas cujo valor é inestimável pois
representam as “dicas” que fazem a diferença.
O manual de condutas em Blefaroplastia é o primeiro de uma série de manuais que
será elaborado pela SBCPO. O trabalho, idealizado pelo nosso atual presidente, Dr Ro-
berto Murilo Limongi, foi resultado do esforço e colaboração dos membros da SBCPO,
da produção artística notável do Grupos Luz que juntamente com as modelos nos per-
mitiram transmitir o conceito do projeto desde a capa deste manual.
As informações contidas neste livro serão úteis para todos os cirurgiões que realizam
a blefaroplastia, com o objetivo de melhora estética da área periocular mas sem perder
de vista a função palpebral, essencial para a saúde ocular.

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AUTORES

PATRICIA AKAISHI
Doutora em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP
Chefe dos setores de Estética Periocular e Vias Lacrimais, departamento de Oftalmologia, Otorrinola-
ringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço do HCFMRP-USP

ROBERTO MURILLO LIMONGI


Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular
Professor da Pós-Gradução em Ciências da Saúde da UFG

FILIPE JOSÉ PEREIRA


Secretário da SBCPO
Mestrado e especialização em Plástica Ocular, Vias Lacrimais e Órbita pela Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto –USP

ALLAN PIERONI
Professor de Pós-Graduação da disciplina de Oftalmolgia da Faculdade de Medicina da USP
Chefe do serviço de Plastica Ocular da Faculdade de Medicina do ABC

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COLABORADORES

SUZANA MATAYOSHI
Professora associada de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

SIMONE BISON
Profa Afiliada Chefe do Setor de Vias Lacrimais do Departamento de Oftalmologia da UNIFESP
Mestre e Doutora em Oftalmologia pela UNIFESP

IVANA CARDOSO PEREIRA


Doutora em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina USP
Assistente Colaboradora do Setor de Cirurgia Plástica Ocular da USP e UNICAMP

ANA ESTELA SANT’ANNA


Mestre e doutora pela EPM- Unifesp
Colaboradora do setor de Cirurgia Plástica Ocular EPM Unifesp

SHEILA DE PAULA CECHETTI


Doutorado e Médica assistente FMRP-USP
Docente da Faculdade de Medicina do Centro Universitário Estacio de Sá

ANTONIO AUGUSTO VELASCO E CRUZ


Professor Titular de Oftalmologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
Membro da ASOPRS e Orbital Society

GUILHERME HERZOG NETO


Prof. Titular de Oftalmologia da Universidade Federal Fluminense
Chefe do Setor de Cirurgia Plastica Ocular do Serviço de Oftalmologia do Hospital Univetsitario Antô-
nio Pedro da Universidade Federal Fluminense

FERNANDO PROCIANOY
Professor Adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Coordenador Fellowship Oculoplástica - Hospital das Clínicas de Porto Alegre

RUBEM AUGUSTO FONTES DE LIMA


Médico do Departamento de Plástica Ocular do Hospital de Olhos de Pernambuco (HOPE)
Preceptor de Plástica Ocular da Fundação Altino Ventura (FAV) - Recife-PE

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JOSÉ VITAL FILHO
Presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia em Oftalmogia- 2008- 2010
Chefe da Órbita da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo

ROBERTA LILIAN FERNANDES DE SOUZA


Doutora em Bases Gerais da Cirurgia pela Faculdade de Medicina de Botucatu
Professora associada do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu Hospital Esta-
dual de Bauru

FERNANDO CENCI GUIMARÃES


Mestrado e Doutorado na área de Medicina pela FMRP-USP
Diretor técnico do St Raphael Day Hospital S/C Ltda

ELIANA FORNO
Doutora pela FMUSP
Especialista em Cirurgia Plástica Ocular pela FMUSP

DAVI ARAF
Doutor em Oftalmologia e Colaborador do Setor de Cirurgia Plástica Ocular do Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)
Chefe do Setor de Cirurgia Plástica Ocular, Órbita e Vias Lacrimais do Hospital Cema- São Paulo

GEORGE CARNEIRO
Chefe do serviço de Plástica Ocular da Hospital de Olhos Leiria de Andrade e da Santa Casa de Mise-
ricórdia de Fortaleza
Presidente da Sociedade Cearense de Oftalmologia

ANA PAULA XIMENES ALVES


Doutorado em Oftalmologia pelo HC da FMRP
Professora da Faculdade de Medicina UNICHRISTUS

MIDORI OSAKI
Coordenadora da Divisão de Estética Palpebral e Periorbital, Setor de Oculoplástica, Departamento
de Oftalmologia e Ciências Visuais, Universidade Federal de São Paulo– EPM
Chefe do Setor de Oculoplástica do Departamento de Oftalmologia e Ciências Visuais, Universidade
Federal de São Paulo – EPM (2005-2016)

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RICARDO MORSCHBACHER
Professor Adjunto de Oftalmologia - Universidade Federal das Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)
Coordenador de Ensino - Hospital Banco de Olhos de Porto Alegre

MARIA ANTONIETA GINGUERRA


Graduação Médica e Residência em Oftalmologia pela FMUSP
Assistente Colaboradora do Setor de Plástica Ocular do Departamento de Oftalmologia HCFMUSP

TAMMY OSAKI
Chefe do Setor de Oculoplástica do Departamento de Oftalmologia e Ciências Visuais da Escola Paulis-
ta de Medicina/ Universidade Federal de São Paulo (EPM/ UNIFESP)
Professora Afiliada do Departamento de Oftalmologia e Ciências Visuais da EPM/ UNIFESP

ANDRÉ BORBA
Doutor em Ciencias Médicas pela USP
Membro da SBCPO

CÉLIA SATHLER
Chefe do Setor de Plástica Ocular do Hospital de Olhos Paulista
Médica Assistente do Setor de Plástica ocular da Santa Casa de São Paulo

VICTOR MARQUES DE ALENCAR


Ph.D pela FMRP-USP
Coordenador do Ambulatório de Patologias Orbitárias da Santa Casa de Misericórdia de BH

ADRIANO BACCEGA
Mestrado e Doutorado em Ciências Médicas pela FMRP USP
Membro da SBCPO e American Academy of Ophthalmology

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1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

ÍNDICE
CAPÍTULO 1
CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS EM BLEFAROPLASTIA 13

CAPÍTULO 2
BLEFAROPLASTIA SUPERIOR 33

CAPÍTULO 3
PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS COMPLEMENTARES À
BLEFAROPLASTIA SUPERIOR 45

CAPÍTULO 4
BLEFAROPLASTIA INFERIOR 55

CAPÍTULO 5
PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS COMPLEMENTARES À
BLEFAROPLASTIA INFERIOR 67

CAPÍTULO 6
BLEFAROPLASTIA EM SITUAÇÕES ESPECIAIS:
ORIENTAIS, ORBITOPATIA DE GRAVES, XANTELASMA 79

CAPÍTULO 7
CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS 93

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1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

CAPÍTULO 1

CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS
EM BLEFAROPLASTIA

Suzana Matayoshi
Simone Haber Bison
Ivana Cardoso Pereira
Filipe Pereira

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CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS EM BLEFAROPLASTIA

1. INTRODUÇÃO
Avaliação pré-operatória do paciente que irá se submeter à blefaroplastia é impor-
tante para o planejamento e sucesso do procedimento cirúrgico. Constitui ainda um
período onde se forja a relação médico-paciente e se estabelece os laços de confiança
que permitem o ato operatório.

2. ASPECTOS FUNDAMENTAIS
2.1. Avaliação clínica pré-operatória do paciente
Devemos estabelecer comunicação clara para entender melhor a proposta da cirur-
gia. A comunicação paciente-médico deve transformar queixa subjetiva em objetiva para
poder mensurar o efeito da cirurgia. Assim, é interessante pedir para o paciente se olhar
no espelho e apontar as áreas onde se quer melhorar. As demandas do paciente assim
observadas, serão os pontos que o cirurgião deverá focar para obter o resultado esperado.

2.2. Avaliação de fotos antigas


A análise de fotos antigas, por outro lado, permite ao cirurgião observar se deter-
minadas características já eram evidenciadas no passado: assimetrias, proptose, ptose
palpebral, retração palpebral, entre outros (Figura 1).

Figura 1: A. Paciente de 62 anos com ptose bilateral assimétrica, sendo mais intensa a direita. B. Fotografia
da mesma paciente aos 23 anos evidencia ptose mínima a direita e ausência de ptose a esquerda.

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1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

2.3. Avaliação oftalmológica com ênfase em superfície ocular


Pacientes com histórico de olho seco e baixa secreção lacrimal não são bons candi-
datos à blefaroplastia pois a cirurgia pode piorar o quadro de olho seco.
Na anamnese, o paciente deve ser questionado sobre sintomas de olho seco (resseca-
mento, hiperemia, dor e desconforto ocular que são aliviados com uso de colírios lubrifi-
cantes), cirurgia refrativa prévia (que também a longo prazo está associada muitas vezes
a quadros de olho seco), doenças reumatológicas (artrite reumatóide, lúpus – associadas
com ceratoconjuntivite sicca) e uso de medicações (anti-hipertensivos, benzodiazepíni-
cos, colírios antiglaucomatosos – também causam diminuição na produção da lágrima).
O teste de Schirmer, embora seja muito citado, só tem valor quando o resultado
aponta para uma hiposecreção (Figura 2). Muitas vezes pode indicar normalidade e o
paciente ser sintomático. Teste de rompimento da lágrima (Break-up time), piscar com-
pleto, presença de lagoftalmo e observação de irregularidades da superfície córneo-
-conjuntival à biomicroscopia também são outros dados que devem ser considerados.

Figura 2: Teste de Schirmer. A fita de papel apropriado é posicionada no terço lateral da


fenda palpebral e o resultado, em milímetros, é registrado após 5 minutos.

2.4. Avaliação específica periocular


Deve compreender as seguintes regiões:
Pele: observar textura e qualidade, presença e localização de rítides, discromias, li-
nhas, sulcos de expressão e sinais de fotoenvelhecimento (ceratoses,melanoses).
Fronte: observar margem de implantação dos cabelos e presença de sulcos e rugas
horizontais (Figura 3).

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CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS EM BLEFAROPLASTIA

A B C

Figura 3: A região frontal deve ser avaliada quanto a altura e características implantação capilar em relação
ao supercílio, em posição primária (B) e laterais direita (A) e esquerda (B),
além da presença de sulcos e rugas horizontais.

Supercílio: existe diferença na posição do supercílio entre o homem (supercílios


mais retos, baixos e com pelos mais abundantes), quando comparados aos supercílios
mais arqueados temporalmente e mais finos da mulher.
Ptose de supercílio deve ser registrada levando-se em conta a sua posição compara-
da à reborda orbitária superior. A posição normal do supercílio, em geral, situa-se um
pouco para cima da reborda orbitária superior.
Observar ainda que o movimento do supercílio é independente da pálpebra superior,
mas é influenciado pela posição palpebral. Nos casos de ptose severa, os supercílios
em geral estão mais elevados, com contração do músculo frontal que em consequência
causa aumento das rugas horizontais da região frontal. Nos casos de paresia/paralisia
da porção frontal do nervo facial, a fronte é mais lisa e o supercílio mais baixo (Figura 4).

Figura 4: Paciente com paresia do ramo frontal do nervo facial a esquerda. A fronte apresenta menos rugas e
o supercílio é mais baixo a esquerda devido a ausência de contração do músculo frontal do lado afetado.

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1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

Pálpebra superior: os seguintes aspectos devem ser verificados: excesso de pele, bolsas
de gordura, anomalias da prega palpebral (pregas múltiplas, altas, atenuadas, assimétricas
ou ausentes), ptose palpebral, retração (atentar para a possibilidade de orbitopatia disti-
reoidiana), depressão supratarsal e ptose de glândula lacrimal. É relativamente frequente
encontrar ptose leve associada à dermatocálaze. Nesses casos, o teste da fenilefrina 2,5% ou
10% pode ser útil para associar a conjuntivomullerectomia à blefaroplastia (Figura 5).

A B

Figura 5: A. Paciente com ptose palpebral bilateral. B. Mesma paciente 5 minutos após
receber 1 gota de fenilefrina 10% em ambos os olhos. Note a melhora da posição palpebral.

Pálpebra inferior: excesso de pele (em geral quantidade menor à superior), bolsas
de gordura, flacidez tarsoligamentar, retração e alterações de margem palpebral (ectró-
pio e entrópio).
Região malar: anotar a presença e profundidade da goteira lacrimal (Tear Trough); ede-
ma malar, festoon e ptose de terço médio (Figura 6).

Figura 6: Paciente com festoon bilateral.

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CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS EM BLEFAROPLASTIA

2.5. Fotodocumentação
A fotodocumentação é essencial não somente para o médico como para o paciente.
É utilizada no prontuário médico como registro temporal da evolução, para o planeja-
mento pré-operatório, como referência no pré-operatório, como uma ferramenta para
a auto-avaliação do cirurgião, no compartilhamento de informações com colegas, em
apresentações e publicações. É muito considerada também para propósitos de seguro
médico e questões médico-legais.

Requisitos fundamentais para obtenção de fotografia médica:


- Câmera com sensor de imagem grande igual aos acima de 22,3 mm x 14,9 mm (mo-
delo da Canon) que produz uma qualidade melhor de imagem.
- Entre os tipos de câmeras, não se recomenda câmeras que não permitam de troca
de lentes (câmeras compactas), as melhores para uso em Oculoplástica são as câmeras
reflexas digitais de lentes simples (DSLR) (mais pesadas e caras) (tipo Canon) ou as câ-
meras digitais sem espelho (Sony modelos alfa)
- Lente ideal é a macro (permite reprodução do objeto na proporção 1:1, com uma
lente de 60 a 90 mm).
- Iluminação: o ideal é que seja padrão, com duas fontes luminosas dispostas a 45
graus do paciente com cerca de 5500 K
- Parâmetros de ajuste de câmera: o ideal é o ajuste manual, usando -se os parâme-
tros de ISO 200, abertura de f/16a f/22 e velocidade de 1/60 em média.

3. INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
3.1. Cuidados pré-operatórios para evitar complicações durante a cirurgia
3.1.1. Suspensão de medicações
Cabe ao cirurgião incluir na sua anamnese a lista de medicamentos e hábitos ali-
mentares do paciente a fim de alertá-lo sobre quais deles devem ser usados até o dia da
cirurgia e quais devem ser suspensos ou reduzidos. Sempre que possível, a suspensão
deve ser realizada pelo profissional responsável pela sua prescrição.

• Hipertensão arterial: Manter os medicamentos de uso rotineiro, controlar a ingesta


de sal e ansiedade. Limites toleráveis: PAS (pressão arterial sistólica) <180mmHg
ou PAD (pressão arterial diastólica) <110mmHg. Mais do que a hipertensão arterial
em si, a labilidade da PA é um fator de risco para complicações cardiovasculares.
Dependendo do caso, ter cautela em relação ao uso de vasoconstritor.

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1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

• Hipercolesterolemia: suspender estatinas 7 dias antes.


• Anticoagulantes (Warfarim, Dabigatrana, Rivaroxabana, Apixabana): suspender 5
dias antes. Pacientes com alto risco para TVP (duração da cirurgia maior do que
uma hora, AVC, idade acima de 55 anos, obesidade, tabagismo, quimioterapia):
considerar a terapia substitutiva por heparina e avaliar coagulograma.
• Antiagregantes plaquetários/TVP (AAS 100mg/dia, ticlopidina, clopidogrel, tica-
grelor, cilostazol, Vit E): suspender uma semana antes
• Fitoterápicos: orientar a suspender a ingesta dos que têm ação anticoagulante
(Arnica, boldo, camomila, castanha da India, gengibre, salsa, tamarindo, etc) ou
antiagregante (alho, gingko biloba, resveratrol, salgueiro, etc).
• Neuropsiquiatria: atentar para múltiplas interações e necessidade de suspensão:
1. antidepressivos tricíclicos (amitriptilina) - 3 dias antes
2. inibidores da recaptação da serotonina e norepinefrina como a fluoxe-
tina, sertralina, paroxetina, citalopram, escitalopran -10 dias antes.
3. o inibidores do apetite (Sibutramina) e fórmulas emagrecedoras (Anfe-
pramona, femproporex, manzidol: - 15 dias antes.
• Hipoglicemiantes orais: não tomar no dia da cirurgia.
• Insulina NPH: personalizar cada caso.
• Manter medicamentos para tireóide.
• Estrogênios (TRH ou ACO) aumentam o risco de eventos tromboembólicos: sus-
pender um mês antes.

3.1.2. Escolha do tipo de anestesia e drogas utilizadas


A escolha do tipo de anestesia e drogas anestésicas utilizadas: recomenda-se a anestesia local
com sedação, alguns autores preferem bupivacaína 0,5% com epinefrina devido maior potência
e meia-vida mais longa que a lidocaína, o que reduz desconforto no pós-operatório imediato.
Pode-se preferir a ansiólise e a sedação leve, isto é, paciente calmo e responsivo ao
comando verbal ou a sedação profunda sem qualquer participação do paciente e ir-
responsivo aos comandos. A função cognitiva e a coordenação ficam alteradas. Drogas
comumente utilizadas para sedação: alprazolam, diazepam, midazolam, flumazenil,
propofol e fentanil.
Entre as drogas para infiltração disponíveis, destacam-se:
- Lidocaína 1 ou 2%: latência 10-15 minutos, duração 40-60 minutos, menor toxicidade ao SNC.
- Bupivacaína 0,25 ou 0,50 ou 0,75%: latência 15-20 minutos, duração 160-220 minutos,
maior toxicidade ao SNC.

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CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS EM BLEFAROPLASTIA

- Levobupivacaína 0,50 ou 0,75%: latência 15-20 minutos, duração 160-220 minutos, to-
xicidade intermediária ao SNC
- Ropivacaína 0,20 ou 0,75 ou 1%: latência 15-20 minutos, duração 140-180 minutos,
toxicidade intermediária ao SNC.
As 3 primeiras drogas estão disponíveis com ou sem vasoconstritor. A ropivacaína já
tem um efeito vasoconstritor intrínseco e, portanto, sua apresentação é sem vasocons-
tritor. A toxicidade se manifesta com inquietação, gosto metálico, vertigem, alteração da
fala, convulsões, hipotensão, hipóxia, bradicardia, parada cardiorrespiratória.
A anestesia infiltrativa é dolorosa se sedação for mais superficial pois as soluções
anestésicas disponíveis comercialmente são ácidas. A alcalinização com bicarbonato
sódico 8,4% diminui a dor e aumenta a fração ionizada da droga o que potencializa o
seu efeito e permite a sua diluição diminuindo a sua toxicidade. Essa prática é pouco
difundida em nosso meio e, portanto, a maioria dos cirurgiões oculoplásticos não utiliza
o bicarbonato com essa finalidade.

3.2. Cuidados intra-operatórios


3.2.1. Escolha de antissépticos
Considerações em relação ao preparo da pele: o banho pré-operatório com água e sa-
bão é preconizado em toda cirurgia, pois previne a infecção, já que reduz a flora bacte-
riana local. A antissepsia da pele pode ser feita preferencialmente com solução aquosa
de gluconato de clorexidina 2%, que é incolor, permitindo boa visualização da pele e da
sua vitalidade e ainda tem boa ação residual. Porém, é tóxica para a córnea e tímpano.
Alternativamente, pode-se usar o iodopovidina (PVPI) aquosa a 10%, que não têm boa
ação residual, é inativada por sangue e colore a pele, dificultando a avaliação de sua
vitalidade. É tolerada na superfície ocular, mas é mais alergênica.

3.2.2. Antibioticoterapia profilática


O uso de antibiótico não é necessário, pois a blefaroplastia é uma cirurgia limpa e de ca-
ráter ambulatorial. O uso equivocado de antibióticos pode trazer prejuízos ao paciente
e propiciar a seleção de bactérias resistentes. Pode ser considerada nos casos de he-
matoma severo, uso de implantes ou em pacientes mais suscetíveis à infecção (desnu-
trição, glicemia acima de 200mg/dl durante o ato operatório e nas primeiras 48 horas,
obesidade, tabagismo- idealmente deve-se suspender o cigarro por 30 dias antes e após
o procedimento, infecções à distância.
Jamais negligenciar os princípios básicos de prevenção de infecção: adequada lava-
gem das mãos, paramentação e sala cirúrgica dentro dos padrões, além de minimizar o
trauma e duração do procedimento.

20
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

3.3. Marcação da pele para incisões


A marcação correta e precisa do sítio das incisões da blefaroplastia é um passo que
deve ser sujeito à atenção constante porque a inobservância pode acarretar assimetrias
que geram insatisfação do paciente. Assim, recomenda-se que a marcação seja realiza-
da preferentemente antes da infiltração anestésica, preferentemente com o paciente
sentado. Sempre que possível as incisões devem acompanhar as linhas de força da pele
e camufladas nos sulcos e linhas (Figura 7). Canetas marcadoras de violeta de genciana
são as mais comumente utilizadas.

Figura 7: A marcação da blefaroplastia superior é posicionada no sulco palpebral e segue


as linhas naturais da pele. Os pontos da pálpebra inferior marcam o rebordo orbital.

3.4. Uso de oxigênio x fontes de ignição durante a cirurgia


Fogo em campo operatório pode ocorrer quando 3 elementos estão envolvidos:
fonte de ignição (bisturi elétrico monopolar, radiofrequência, bipolar, drill, cabo de fi-
bra óptica, laser) material combustível (cabelos e pelos dos pacientes, cateter nasal e
máscara de oxigênio, esponjas, gaze, campos cirúrgicos, vestimentas, soluções deger-
mantes contendo componentes voláteis (como álcool ou acetona),) e o comburente ou
oxidante (o oxigênio, que forma uma atmosfera enriquecida, com concentração maior
do que a do ar ambiente (20,9%).
A situação mais comum é aquela onde o paciente sedado, com máscara, respirando
alta concentração de O2, previamente higienizado com solução alcoólica de povidine

21
CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS EM BLEFAROPLASTIA

ou clorhexidine. No momento em que o cirurgião utiliza o monopolar, a chama irrompe


e queima o paciente.
Assim torna-se necessário algumas medidas preventivas básicas, como solicitar ao
anestesista que reduza a concentração de oxigênio para ar ambiente antes de utilizar o
cautério e não utilizar antissépticos alcoólicos.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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siology 2011.

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Fleisher LA, Beckman JA, Brown KA et al – 2009 ACCf/ AHA Focused Update on perioperative
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gists Task Force on Operating Room Fires. Anesthesiology, 118, n. 2; 271-90, 2013.

23
SEÇÃO INTERATIVA
CAPÍTULO 1
CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS EM BLEFAROPLASTIA

Os gráficos representam a porcentagem das respostas para cada questão. Considera-


mos valores iguais ou superiores a 70% como concordância, positiva ou negativa.

1. É fundamental avaliar fotografias antigas para planejamento cirúrgico?

Sim 44%

Não 56%

Abstenções 0%

Nota: Observa-se que não há concordância em relação a necessidade de análise de fotos


antigas para o planejamento cirúrgico da blefaroplastia.

2. É importante avaliar a presença de olho seco antes da blefaroplastia?

Sim 100%

Não 0%

Abstenções 0%

Nota: A avaliação do olho seco faz parte da avaliação oftalmológica. Identificar os casos de olho seco é im-
portante no planejamento da blefaroplastia. Pacientes com olho seco se beneficiam
de colírios lubrificantes desde o pré-operatório.

26
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

3. O teste de Schirmer é o exame mais indicado para avaliação


lacrimal pré-operatória?

Sim 45%

Não 55%

Abstenções 0%

Nota: O teste de Schirmer avalia a produção lacrimal aquosa basal e reflexa. No entanto há outros testes que
podem ser usados para avaliar a qualidade lacrimal, o que justifica o baixo
índice de concordância das respostas.

4. A ptose de supercílio é diagnosticada quando sua posição


é inferior a do rebordo orbital.

Sim 100%

Não 0%

Abstenções 0%

Nota: Para identificar a presença de ptose do supercilio, os cirurgiões concordam que o exame deve ser
realizado com o músculo frontal relaxado. O controle do relaxamento do músculo frontal é essencial durante
a medida e a documentação fotográfica das cirurgias palpebrais que afetam a posição do supercílio
(blefaroplastia, elevação do supercilio, ptose palpebral).

27
CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS EM BLEFAROPLASTIA

5. O teste de fenilefrina está indicado em todos os casos de


ptose associada a dermatocálaze.

Sim 46%

Não 54%

Abstenções 0%

Nota: O teste da fenilefrina auxilia no diagnóstico etiológico da ptose e no planejamento terapêutico. Nos
casos de ptose leve identificada durante a avaliação da blefaroplastia, o resultado do teste é especialmente
útil para cirurgiões que utilizam a técnica de conjuntivomullerectomia para correção da ptose.

6. A documentação fotográfica deve ser realizada


preferencialmente com câmeras digitais semi-profissionais.

Sim 85%

Não 10%

Abstenções 5%

Nota: As câmeras digitais semi-profissionais são preferidas para documentação devido


ao bom custo-benefício e excelente resolução que oferecem.

28
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

7. A suspensão do uso de anticoagulantes deve ser orientada pelo


profissional responsável pela sua prescrição.

Sim 90%

Não 10%

Abstenções 0%

Nota: O uso de anticoagulantes orais tem indicações específicas e seu uso ou


interrupção deve ser criterioso .

8. As soluções antissépticas da pele Iodo ou Clorexidina aquosos não


devem entrar em contato com a superfície ocular.

Sim 90%

Não 10%

Abstenções 0%

Nota: As soluções antissépticas cutâneas em geral não devem ser aplicadas em mucosas.
O contato com a superfície ocular pode causar danos importantes a córnea.

29
CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS EM BLEFAROPLASTIA

9. Para evitar combustão durante a cirurgia, recomenda-se


uso intermitente de oxigênio.

Sim 69%

Não 0%

Abstenções 31%

Nota: A suplementação de oxigênio é utilizada nas anestesias com sedação endovenosa. Uma das medidas
para reduzir o risco de combustão é interromper o fluxo do oxigênio antes de
utilizar o eletrocautério durante a cirurgia.

10. A exposição da face durante as cirurgias perioculares em que se utiliza suple-


mentação de oxigênio por meio de cateter nasal, reduz o
risco de combustão e queimadura.

Sim 91%

Não 0%

Abstenções 9%

Nota: Outra maneira simples de evitar combustão é expor toda a face durante a blefaroplastia,
evitando-se assim a alta concentração localizada de oxigênio.

30
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

11. Para reduzir a dor durante a infiltração do anestésico local nas pálpebras,
deve-se adicionar bicarbonato sódico 8.4% à solução anestésica.

Sim 17%

Não 56%

Abstenções 27%

Nota: A alcalinização da solução anestésica é uma das várias medidas conhecidas para reduzir a dor durante
a infiltração. Essa é uma opção pouco frequente entre os cirurgiões oculoplásticos.

31
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

CAPÍTULO 2

BLEFAROPLASTIA
SUPERIOR

Ana Estela Besteti P. P. Sant’Anna


Allan Pieroni
Sheila Cecchetti

33
BLEFAROPLASTIA SUPERIOR

1. INTRODUÇÃO
A blefaroplastia começou desde o início do século I quando Celsius descreveu a reti-
rada do excesso de pele das pálpebras superiores.
O termo blefaroplastia foi incialmente descrito por von Graeffe em 1818 para desig-
nar reconstrução palpebral por tumores.
Hoje blefaroplastia é usada para a retirada do excesso de pele da pálpebra por moti-
vos estéticos ou patológicos.
A blefaroplastia superior é a cirurgia estética mais realizada no Brasil, depois da ci-
rurgia de mama e lipoaspiração. Como as complicações afetam os olhos, é importante
fazer esta cirurgia de modo cauteloso.

2. ASPECTOS FUNDAMENTAIS
Inicia-se a cirurgia, geralmente sob anestesia local com sedação, raramente é indi-
cada a anestesia geral. Mesmo sob anestesia geral, faz parte do procedimento infiltrar o
tecido subcutâneo com anestésico associado a adrenalina.
A primeira etapa é a marcação da área de pele a ser retirada. É realizada uma marca-
ção seguindo a prega palpebral superior, geralmente em torno de 10 mm de altura ou
1 mm a menos da área desejada. O excedente de pele é marcado e, com auxilio de uma
pinça, prendemos a pele a ser retirada, quantificando assim o excesso (Figura 1A). Po-
demos ou não avançar esticando a cicatriz lateral, seguindo uma das rugas laterais num
ângulo de cerca de 15º. Esta angulação pode ser maior em mulheres para promover um
“olhar de gato”, amendoado (Figura 1B) e menor em homens para não deixar o olhar fe-
minino. A marcação não deve ser muito extensa em homens e mulheres com tendência
a má cicatrização pois a cicatriz lateral ficará evidente. A marcação superior da pele a
ser retirada deve ter as mesmas proporções em relação ao supercílio.

A B

Figura 1: A. Quantificação da pele a ser removida na blefaroplastia superior.


B. Angulação da marcação lateral em mulheres.

34
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

Devemos preservar as medidas e deixar simétrica as marcações da incisão em rela-


ção aos 2 lados.
Em indivíduos orientais a prega deve ser colocada não maior que 7 mm de altura e
tomar o cuidado para deixar um excedente de pele para cobrir a cicatriz.
Depois de marcada cuidadosamente e com réguas e compassos, a pele a ser retirada
é infiltrada com anestésico local. Procurar não diluir as soluções anestésicas e dar pre-
ferência a de maior duração para promover uma analgesia no pós-operatório imediato.
Quando há uma maior quantidade de pele na região medial, podemos prolongar a
incisão para promover uma melhor correção, seguindo as linhas de força. Deste modo a
marcação final da cirurgia se assemelha a uma asa de gaivota.
Após retirar o excesso de pele, promovemos a retirada de um segmento horizontal
estreito de músculo orbicular da região pré-septal, se for assim desejado.
A incisão e retirada da pele pode ser realizada com lâmina 15 ou radiofrequência ou
laser de acordo com a experiência e indicação do cirurgião (Figura 2).

Figura 2: Aspecto intraoperatório da blefaroplastia superior, após a excisão da pele.

Para retirada das bolsas de gordura, podemos abrir todo o septo ou localmente
para expor as bolsas que devem ser excisadas cuidadosamente. A quantidade a ser re-
tirada não deve ser em excesso, pois pode promover o aspecto esquelético da pálpe-
bra. Não esquecer de excisar as bolsas mediais que tem uma coloração mais esbran-
quiçada (Figura 3), pois promovem uma melhor estética no canto interno palpebral.

35
BLEFAROPLASTIA SUPERIOR

Figura 3: Exposição da bolsa medial. Note a coloração mais clara


em relação a bolsa central.

Hoje em dia damos preferência a fazer exérese das bolsas palpebrais através de cau-
tério monopolar com eletrodo tipo Colorado.
A sutura da pele deve ser feita cuidadosamente para minimizar ao máximo as cica-
trizes. Fios de nylon 6-0 ou 7-0, seda 6-0, ou mesmo fios absorvíveis podem ser usados.
Pontos podem ser separados ou simples ou mistos de acordo com a vontade do cirur-
gião (Figura 4).

Figura 4: Sutura cutânea interrompida com seda 6-0.

36
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

3. INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
A prevenção de trombose utilizando meias próprias e aparelhos para bombear a
panturrilha são recursos utilizados pelos cirurgiões em diversas cirurgias. Sua utilização
deve ser avaliada para cada caso.
Um curativo na pálpebra inferior com fita do tipo Steri Strip, tamanho médio, que
se estende ao canto lateral e superior deve ser mantido por 48 horas para evitar edema
excessivo com distensão dos tecidos das pálpebras inferiores (Figura 5).

Figura 5: Curativo compressivo na pálpebra inferior e canto lateral.

Este curativo ajuda a manter o canto lateral em posição. Por fim, uma sutura de “pseu-
do Frost” pode ser feita para prevenir danos ao globo ocular, ajudando a manter a oclusão
das pálpebras no pós-operatório imediato até que o efeito do anestésico local acabe.
No pós-operatório compressas com soro gelado sobre as pálpebras com os olhos
fechados, colírios de associação de antibióticos e corticóides, lágrimas artificiais e anal-
gésicos orais são preconizados. Não há necessidade de terapia com antibióticos sistê-
micos no pós-operatório, exceto quando a cirurgia tiver alguma intercorrência e em
pacientes imunodeprimidos. A antibioticoterapia preventiva endovenosa deve ser feita
quando o paciente adentra a sala de cirurgia.
As complicações para esta cirurgia são diversas: hematomas, lagoftalmo, ptose pal-
pebral, deiscência de sutura, cicatriz inestética, epicanto, olho seco, reações alérgicas,
locais e sistêmicas, síndrome de Stevens-Johnson, paresias e paralisias oculares, he-
morragia retrobulbar e cegueira.

37
BLEFAROPLASTIA SUPERIOR

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Stewart, WB. Surgery of the eyelid, orbit and lacrimal system, volume 2, American Aca-
demy of Ophthalmology, San Francisco, CA, 1994.

Murube J. Ojos eco. Quito-Equador: Technimedia, S. L.; 1997.

Lima CGMG, Siqueira BG, Cardoso IH, Sant’Anna AEBPP, Osaki MH. Avaliação do olho seco
no pré e pós-operatório da blefaroplastia. Arq Bras Oftalmol. 2006; 69(3):377-82.

Limongi R, Matayoshi S, Akaishi P, Pimentel AR. Estética periocular. Rio de Janeiro: Cultura
Médica, c2018.

ASPS. Plastic Surgery statistics Reports. American Society of Plastic Surgeons; 2017; Avai-
lable from: https://www.plasticsurgery.org/documents/News/Statistics/2017/cosmetic-
-procedures-women-2017.pdf.

38
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

SEÇÃO INTERATIVA
CAPÍTULO 2

39
BLEFAROPLASTIA SUPERIOR

Os gráficos representam a porcentagem das respostas para cada questão. Considera-


mos valores iguais ou superiores a 70% como concordância, positiva ou negativa.

1. A marcação da blefaroplastia deve ser realizada antes da infiltração anestésica.

Sim 95%

Não 5%

Abstenções 0%

Nota: Um dos cuidados com a marcação da blefaroplastia superior é realiza-la antes da infiltração anesté-
sica, quando não se adiciona hialuronidase a solução. Essa medida evita que a marcação seja afetada pela
distorção tecidual produzida pelo volume do anestésico.

2. O músculo orbicular pré-tarsal nunca deve ser removido durante a blefaroplastia.

Sim 100%

Não 0%

Abstenções 0%

Nota: O músculo orbicular pretarsal é importante no funcionamento da bomba lacrimal e sua remoção
causa prejuízos funcionais e estéticos.

40
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

3. A remoção tecidual deve ocorrer por planos (pele e músculo orbicular pré-septal).

Sim 52%

Não 48%

Abstenções 0%

Nota: A remoção da pele e do músculo orbicular pré-septal pode ser feita por planos
ou em bloco, de acordo com a preferência do cirurgião.

4. Em pacientes com déficit volumétrico palpebral superior o músculo


orbicular pré-septal deve ser preservado.

Sim 100%

Não 0%

Abstenções 0%

Nota: Além da dermatocalaze, a perda de volume é um dos sinais de envelhecimento da pálpebra superior. A
blefaroplastia, nesses casos, deve ser conservadora, com remoção do excesso cutâneo, porém sem remoção
do músculo orbicular para não acentuar o déficit volumétrico.

41
BLEFAROPLASTIA SUPERIOR

5. O bloqueio nasociliar é fundamental para completa


anestesia das bolsas adiposas.

Sim 5%

Não 95%

Abstenções 0%

Nota: Embora o bloqueio nasociliar promova analgesia das bolsas adiposas, outros métodos podem ser
utilizados para promover a remoção das bolsas sem dor. A infiltração anestésica direta das bolsas, principal-
mente se associada a sedação do paciente é suficiente na maioria dos casos.

6. A incisão cutânea é preferencialmente realizada com bisturi de lâmina fria.

Sim 80%

Não 20%

Abstenções 0%

Nota: A incisão fria (com bisturi) produz bordas mais regulares, diferente da incisão com
eletrocautério ou com laser, que causam evaporação tecidual.

42
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

7. A sutura cutânea contínua com fio inabsorvível 6-0 está associada a menor taxa
de complicações (deiscência, granuloma).

Sim 92%

Não 8%

Abstenções 0%

Nota: A maioria dos cirurgiões que realiza a sutura continua na blefaroplastia concorda que
há menor taxa de deiscência e granuloma com esse tipo de sutura.

43
BLEFAROPLASTIA SUPERIOR

44
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

CAPÍTULO 3

PROCEDIMENTOS
CIRÚRGICOS
COMPLEMENTARES À
BLEFAROPLASTIA SUPERIOR

Antônio Augusto Velasco e Cruz


Guilherme Herzog Neto
Fernando Procianoy
Rubem Leite

45
PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS COMPLEMENTARES À BLEFAROPLASTIA SUPERIOR

1. INTRODUÇÃO
Em 1913, a American Encyclopedia and Dictionary of Ophthalmology definiu blefa-
roplastia como a modificação, substituição, ajuste ou transplante de qualquer tecido
palpebral. Atualmente, essa definição mudou e o termo blefaroplastia refere-se à re-
moção de redundância da lamela anterior com ou sem excisão de gordura orbitária.
Embora haja indicações funcionais para a realização da blefaroplastia, na maioria dos
casos a cirurgia é realizada por motivos estéticos.
Com a evolução da cirurgia oculoplástica, diversos procedimentos complementares
foram acrescidos à técnica básica da blefaroplastia.

2. ASPECTOS FUNDAMENTAIS
PROCEDIMENTOS COMPLEMENTARES EMPREGADOS NA BLEFAROPLASTIA SUPERIOR
2.1. Correção do prolapso da glândula lacrimal
A glândula lacrimal está situada no ângulo súpero-externo da órbita. Ela é uma estru-
tura única formada por dois lobos unidos por um estreito istmo tecidual situado lateral-
mente ao corno lateral da aponeurose do músculo levantador da pálpebra superior. O
lobo orbitário se encontra entre acima da aponeurose e o palpebral entre a aponeurose
e a conjuntiva palpebral. Clinicamente, o prolapso do lobo orbital é visto, em muitos
pacientes como uma protrusão nodular na porção lateral da pálpebra. Muitos pacientes
que desejam blefaroplastia mencionam essa protuberância como algo inestético a ser
corrigido durante a cirurgia (Figura1A-D).

A B

C D
Figura1: A. Prolapso importante do lobo orbitário da glândula lacrimal em paciente com Orbitopatia de Gra-
ves. B-D Reposicionamento da glândula ao rebordo orbital interno com sutura absorvível 5-0.

46
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

2.2. Remoção parcial da gordura retro-orbicular do supercílio no ato da blefaro-


plastia superior
Esse procedimento era muito frequente há duas décadas, mas vem sendo menos
empregado e de maneira mais conservadora para se evitar a queda da cauda do super-
cílio bem como o “emagrecimento” exagerado do rebordo orbitário superior (Figura 2).

Figura 2: Gordura retroorbicular do supercílio – ROOF (Retro-orbicularis oculi fat).

2.3. Emprego da sutura de Brassiere


A denominada sutura de Brassiere (palavra inglesa cujo significado original é sus-
tentação) tem por objetivo fixar o orbicular pré-septal no rebordo orbitário superior
e assim suspender ou aumentar o volume da cauda do supercílio. A sutura de “Bras-
siere” tem como objetivo usar o músculo orbicular para elevar a gordura do supercílio
e criar uma barreira para a queda dos tecidos da região do supercilio. Isto resulta em
um maior volume e projeção anterior da porção lateral do supercílio que é mais aceito
esteticamente. A sutura de Brassiere também ajuda a preservar o contorno do sulco
palpebral superior diminuindo visualmente a quantidade de pele que recobre a re-
gião do tarso lateral que fica portanto, mais aparente (Figura 3A e B).

47
PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS COMPLEMENTARES À BLEFAROPLASTIA SUPERIOR

A B
Figura 3: A. Sutura de Brassiere. O músculo orbicular pré-septal é fixado ao rebordo orbital.
B. Aspecto após enodamento das suturas.

2.4. Correção do “Hooding” ou “tenda” lateral


Esse procedimento diz respeito à excisão de prega cutânea que se estende lateral-
mente ao limite palpebral superior (Figura 4). A remoção dessa prega é considerada
um procedimento complementar realizado ao se aumentar a incisão da blefaroplastia
para a fossa temporal.

Figura 4: Hooding lateral. Prega cutânea que se estende


lateralmente ao limite palpebral superior

2.5. Uso de toxina botulínica


A toxina botulínica é largamente usada na área periocular para suavizar rugas di-
nâmicas geradas pela contração dos músculos frontal, corrugadores, procerus e orbi-
cular. Quando injetada na porção lateral do orbicular orbital promove a elevação da
cauda do supercílio.

48
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

2.6. Remoção do excesso medial de lamela anterior.


Não é incomum que muitos candidatos à blefaroplastia apresentem um excesso
desproporcional da lamela anterior na porção medial da área pré-septal da pálpebra
superior. A remoção desse excesso é um procedimento complementar que implica em
mudança do tradicional desenho elíptico da excisão da lamela anterior.

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Friedhofer H, Orel M, Saito FL, Alves HR, Ferreira MC. Lacrimal gland prolapse: manage-
ment during aesthetic blepharoplasty. Review of the literature and case reports. Aesthe-
tic Plast Surg. 2009;33(4):647-53.

May Jr JW, Fearon J, Zingarelli P. Retro-orbicularis oculus fat (ROOF) resection in aesthe-
tic blepharoplasty: a 6 year study in 63 patients. Plast Reconstr Surg. 1990;86(4):682-9.

Milind N Naik, Santosh G Honavar, Sima Das, Savari Desai & Niteen Dhepe. Blepharo-
plasty: an Overview, Journal Cutan Surg. 2009 jan-jun: 2(1): 06-11. Doi: 10.4103/0974-
2077.53092

von Graeffe CF: De Rhinoplastice, p 13. Berlin, Reime, 1818.

Wood CA (ed): The American Encyclopedia of Ophthalmology. Chicago, Cleveland Press, 1913.

Zarem HA, Reznick JL, Carr RM, et al. Browpexy: lateral orbicularis muscle fixation as an
adjunct to upper blepharoplasty. Plast Reconstr Surg. 1997; 100 (5): 1258-61.

49
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

SEÇÃO INTERATIVA
CAPÍTULO 3

51
PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS COMPLEMENTARES À BLEFAROPLASTIA SUPERIOR

Os gráficos representam a porcentagem das respostas para cada questão. Considera-


mos valores iguais ou superiores a 70% como concordância, positiva ou negativa.

1. O prolapso do lobo orbital da glândula lacrimal é tratado com reposicionamento


da glândula ao rebordo orbital superolateral com sutura 6-0.

Sim 70%

Não 10%

Abstenções 20%

Nota: A grande maioria dos participantes corrige o prolapso da glândula


lacrimal fixando o lobo orbital na parede da loja lacrimal.

2. O ROOF (retroorbicularis oculi fat) pode ser removido


parcialmente em casos de hipertrofia.

Sim 85%

Não 10%

Abstenções 5%

Nota: A hipertrofia da gordura sub-orbicular do rebordo superior é objeto de


manipulação cirúrgica para a maioria dos especialistas.

52
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

3. A sutura de Brassiere promove efeito imediato de sustentação


do terço lateral do supercílio.

Sim 60%

Não 15%

Abstenções 25%

Nota: Quanto à sutura de Brassiere, parcela significativa dos especialistas (40%) não
tem convicção firmada sobre o efeito do procedimento na posição do supercílio.

4. Para tratar a dermatocalaze lateral (lateral hooding) a


incisão deve ser ampliada lateralmente.

Sim 96%

Não 0%

Abstenções 4%

Nota: Já em relação ao excesso de pele lateral é consensual a sua


remoção com a extensão da incisão .

53
PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS COMPLEMENTARES À BLEFAROPLASTIA SUPERIOR

5. O uso de toxina botulínica, quando indicado, deve ser


feito 2 semanas após a blefaroplastia.

Sim 0%

Não 80%

Abstenções 20%

Nota: Nesse caso, não houve quem defendesse o emprego de toxina


botulínica no pós-operatório precoce (2 semanas) da blefaroplastia.

6. Para tratar o excesso cutâneo medial é necessário


ampliar a incisão superomedialmente.

Sim 93%

Não 0%

Abstenções 7%

Nota: A maioria dos especialistas é partidária da ampliação superior da


incisão para a remoção de excesso de pele medial.

54
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

CAPÍTULO 4

BLEFAROPLASTIA
INFERIOR

Roberto Murillo Limongi


José Vital Filho
Fernado Cenci Guimarães
Roberta Lilian Fernandes de Souza

55
BLEFAROPLASTIA INFERIOR

1. INTRODUÇÃO
A pálpebra inferior é uma estrutura complexa da região orbitária que possui a função
de, juntamente com a pálpebra superior, proteger o globo ocular de agentes externos,
além de auxiliar na lubrificação do olho feita pela lágrima. Além disso, é muito importante
na estética facial, visto que seu envelhecimento contribui sobremaneira em criar na face
uma “aparência cansada”, seja pelo excesso de pele ou pela herniação das bolsas de gor-
dura orbitárias. A blefaroplastia inferior visa tratar uma séria de alterações que ocorrem
nessa região, dentre elas: blefarocalaze, dermatocalaze, herniação das bolsas de gordura
orbitárias, rítides palpebrais, ectrópio, lagoftalmo, dentre outras (Figura 1).

Figura 1: Paciente com excesso de pele e frouxidão dos tecidos palpebrais.

E algumas das alterações da pálpebra inferior também podem ser causadas por
essa cirurgia – principalmente se a técnica cirúrgica for inadequada, tais como ectrópio
(eversão da pálpebra com afastamento da mesma do globo ocular), lagoftalmo (fecha-
mento incompleto das pálpebras) e esclera aparente (esclera situada entre o limite infe-
rior da íris e a margem ciliar exageradamente visível). A blefaroplastia inferior pode ser
realizada por meio de dois acessos: o transcutâneo e o transconjuntival. A escolha da
técnica cirúrgica depende da experiência do cirurgião e do paciente a ser submetido à
blefaroplastia inferior. Como existe a possibilidade de apresentar o ectrópio como com-
plicação da técnica transcutânea, hoje existe uma certa preferência de alguns cirurgiões
pela a técnica transconjuntival (Figura 2). A quantidade de pele e gordura a ser retirados
depende de cada caso, sempre devendo ser feito com certa economia. Deve–se ser lem-
brado que na pálpebra inferior existem três compartimentos adiposos, o medial, central

56
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

e lateral (Figura 3). Ainda pelo acesso transconjuntival, temos a opção de simplesmente
retirar os bolsões de gordura ou transferí-los para a região do arco marginal no rebordo
inferior, que corresponde à área de depressão conhecida como goteira lacrimal ou “tear
trough”, melhorando o sulco nasojugal (região das olheiras”).

Figura 2: Exposição das bolsas de gordura pelo acesso transconjuntival.

Figura 3: Bolsas de gordura retiradas e posicionadas no plano cutâneo, de acordo


sua topografia de origem (medial, central e lateral).

2. ASPECTOS FUNDAMENTAIS
Na avaliação pré-operatória, a pálpebra inferior é avaliada quanto à existência de ex-
cesso de pele, herniação de gordura orbital, retração, concavidade inferior e frouxidão.

57
BLEFAROPLASTIA INFERIOR

Em pacientes jovens portadores de bolsas de gordura, a blefaroplastia inferior pratica-


mente não requer remoção de pele e músculo, mas apenas o excesso de gordura retro-
-septal. Já em indivíduos mais idosos, geralmente é necessário remover pele, orbicular
e gordura. A avaliação do grau de tensão da pálpebra inferior é indispensável pois na
presença de qualquer atonia sua correção deve ser acrescentada a blefaroplastia estéti-
ca. São dois os testes para se identificar a atonia palpebral: snap-back test consiste em
afastar a pálpebra inferior do globo ocular com dedo indicador e soltá-la. Se a pálpe-
bra permanecer distante, ou retornar lentamente ao contato com o olho, fica claro que
existe algum grau de flacidez palpebral (Figura 4A-C). O segundo denominado distrac-
tion test consiste em apreender a pele da porção mediana da pálpebra com os dedos
indicador e polegar e afastá-la do globo ocular. Se a distância for igual ou maior que
8mm fica comprovada a existência de atonia palpebral (Figura 5). Avalia-se a flacidez do
tendão cantal lateral puxando este canto em direção nasal. Alguns pacientes apresen-
tam esclera aparente (scleral show) que pode ser considerada normal ou constitucional;
no entanto pode as vezes ser o primeiro sinal de exoftalmia ou manifestação de atonia
palpebral. Estes pacientes, também conhecidos como portadores de “vetor negativo”,
requerem cuidados especiais durante a blefaroplastia inferior.

A B

Figura 4: Snap back test. A. Paciente em repouso. B. Distensão das pálpebras inferiores sob tração.
C. Frouxidão palpebral moderada evidenciada pelo teste. A pálpebra não retorna espontaneamente
a posição de repouso após a interrupção da tração.

58
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

Figura 5: Distraction test. Teste da distensibilidade palpebral.

3. INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES – TÉCNICAS CIRÚRGICAS


3.1. Blefaroplastia inferior transcutânea
3.1.1. Marcação da incisão
A demarcação da pálpebra inferior pode ser realizada de duas formas. Na primeira
desenha-se uma linha a 2mm da margem ciliar que se inicia próximo ao ponto lacrimal
inferior e se prolonga lateralmente até o nível da comissura externa, ou, nas pessoas mais
idosas, 4 a 5mm além da mesma. A seguir, pede-se ao paciente abrir os olhos e com uma
pinça delicada quantifica-se o excesso de pele e desenha-se uma segunda linha inferior-
mente a primeira (Figura 6A-C). Essa técnica é denominada “pinch technique”. A segunda
forma de marcação consiste em se desenhar apenas uma linha subciliar e proceder a dis-
secção cutânea ou miocutânea, removendo o tecido excedente após a dissecção.

A B C

Figura 6. A. Marcação inicial da incisão na blefaroplastia inferior. B. O excesso cutâneo é marcado com auxilio
de pinça, enquanto o paciente olha para cima. C. Aspecto final da marcação com delimitação
da área de pele a ser removida.

59
BLEFAROPLASTIA INFERIOR

3.1.2. Incisão da pele e dissecção, que pode ser cutânea ou miocutânea


3.1.3. Exposição e remoção da gordura orbital. As bolsas palpebrais inferiores situam-
-se em lojas nos terços medial, mediano e lateral. Realiza-se abertura do septo orbitário
nestes locais, e com pressão suave sobre o bulbo ocular a gordura se move anteriormente
para que se proceda a excisão. A gordura exposta pode ser removida e esculpida usando a
ponteira de agulha do cautério ou a tesoura de Westcott. O lobo de gordura herniada deve
ser então tracionado com pinça e clampeado e o pedículo coagulado antes da sua secção.
Geralmente a gordura lateral é mais difícil de visualizar e remover, sendo necessária muita
atenção nessa região.
3.1.4. Hemostasia, remodelamento e excisão da pele. Após cuidadosa hemostasia, o
retalho cutâneo ou miocutâneo é posicionado sobre a incisão subciliar. Pede-se que o
paciente olhe para cima e abra a boca, se a pálpebra continuar bem posicionada pode-se
remover o excesso de pele acima da incisão com segurança.
3.1.5. Fechamento da pele: O fechamento da pele é concluído com suturas interrompi-
das ou contínuas de fio de mononylon 6-0.

3.2. Blefaroplastia transconjuntival


3.2.1. Inicia-se com a infiltração anestésica com 1ml de anestésico em cada bolsa de
gordura (medial, central e lateral);
3.2.2. Incisão com o laser de CO2, eletrocautério ou lâmina fria a mais ou menos 6 ou
7mm da margem palpebral incisando-se a conjuntiva do canto medial ao lateral e incluin-
do os retratores (Figura 7);

Figura 7: Incisão conjuntival com o laser de CO2


(foto gentilmente cedida pelo Prof Dr Eurípedes da Mota Moura).

60
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

3.2.3. Ao pressionar levemente o globo, as bolsas sofrem herniamento e são então


clampeadas e ressecadas.
3.2.4. Ao terminar a remoção das bolsas de gordura, faz-se revisão da hemostasia e os
tecidos são reposicionados apenas tracionando a pálpebra inferior para cima. O contorno
palpebral também deve ser revisado e se houver algum abaulamento, deve-se reabordar
o local em busca de alguma gordura residual. Não há necessidade de sutura pois a cicatri-
zação ocorre de maneira fácil e rápida.
3.2.5. Nos pacientes com grandes excessos de pele, esta pode ser removida através de
fuso subciliar, avaliado pela “pinch technique”.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Lacrimal e Oculoplástica, CBO, 3ed, 2013.

61
SEÇÃO INTERATIVA
CAPÍTULO 4
BLEFAROPLASTIA INFERIOR

Os gráficos representam a porcentagem das respostas para cada questão. Considera-


mos valores iguais ou superiores a 70% como concordância, positiva ou negativa.

1. Quando há indicação de remoção de pele, a marcação é realizada antes da infil-


tração anestésica pela técnica do pinçamento (pinch technique).

Sim 20%

Não 60%

Abstenções 20%

Nota: Há diferentes métodos para remoção da pele na blefaroplastia inferior,


inclusive sem a necessidade de marcação pré-operatória.

2. Nas blefaroplastias transconjuntivais é comum realizar menos


ressecção e mais transposição das bolsas?

Sim 16%

Não 74%

Abstenções 10%

Nota: A concordância negativa indica que a maioria dos cirurgiões utiliza a blefaroplastia transconjuntival
com o objetivo de remover das bolsas de gordura, embora a transposição possa ser
realizada por essa via em casos selecionados.

64
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

3. A remoção de pele é sempre acompanhada da remoção do orbicular pré-septal?

Sim 24%

Não 76%

Abstenções 0%

Nota: Quando se realiza a dissecção subcutânea na blefaroplastia inferior, é comum remover somente a pele
excedente, preservando o músculo orbicular que pode ser tracionado e fixado ao rebordo lateral. Quando a
dissecção é miocutânea, parte do músculo orbicular é removido com a pele excedente.

4. Em pacientes com vetor orbital negativo é fundamental associar técnicas de


SOOF (suborbicularis oculi fat) lifting e/ou cantoplastias a fim de evitar retração
palpebral e anomalias do contorno palpebral?

Sim 65%

Não 0%

Abstenções 35%

Nota: O vetor orbital é determinado pela relação entre a superfície ocular e a eminência malar. Considera-se
vetor negativo quando o plano da córnea está anteriorizado em relação a projeção malar, seja por hipoplasia
da eminência malar ou por exoftalmia. A blefaroplastia inferior nesses casos requer atenção especial.

65
BLEFAROPLASTIA INFERIOR

5. A remoção das bolsas por via conjuntival previne a formação


de tecido cicatricial e retração palpebral?

Sim 70%

Não 0%

Abstenções 30%

Nota: A técnica transconjuntival permite acessar as bolsas retroseptais sem danos a lamela anterior (pele e
músculo orbicular), o que diminui a chance de produzir tecido
cicatricial responsável pela retração palpebral.

66
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

CAPÍTULO 5

PROCEDIMENTOS
CIRÚRGICOS
COMPLEMENTARES À
BLEFAROPLASTIA INFERIOR

Eliana Forno
Davi Araf
George Carneiro
Ana Paula Ximenes Alves

67
PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS COMPLEMENTARES À BLEFAROPLASTIA INFERIOR

1. INTRODUÇÃO
A blefaroplastia inferior é indicada quando se deseja melhorar o aspecto estético das
pálpebras inferiores. A depender de cada caso, pode-se remover os tecidos que estejam
em excesso como pele, bolsas de gordura e, em alguns casos, parte do músculo orbicu-
lar, caso este esteja hipertrófico.
Nas últimas duas décadas o conceito de apenas remoção tecidual vem se transfor-
mando e atualmente procura-se não apenas remover, mas também reposicionar e re-
forçar as estruturas palpebrais.

2. ASPECTOS FUNDAMENTAIS
Há vários aspectos fundamentais a serem observados quando se indica uma blefa-
roplastia inferior. O entendimento e decisão do que será realizado deve ser explicado
claramente ao paciente, apontando as alterações verificadas durante o exame clínico,
mostrando assimetrias, caso sejam observadas e dizendo o que pode ser corrigido e até
o que não é possível melhorar com a cirurgia. Esta conduta ajuda a prevenir insatisfa-
ções e frustrações no pós- operatório.
Para a melhor indicação de um procedimento cirúrgico complementar a blefaroplastia
inferior, devemos avaliar os seguintes fatores:
Frouxidão palpebral inferior: como descrito no capítulo anterior, a adequada análi-
se da presença de flacidez ligamentar horizontal pode sugerir um procedimento cirúrgi-
co associado com intuito de evitar resultados inadequados como o ectrópio pós-opera-
tório. Os testes que devem ser feitos rotineiramente para verificar a função do orbicular
e tensão horizontal das pálpebras inferiores são o snap back test e distraction test.
Bolsas palpebrais inferiores: a quantidade e localização das bolsas são importantes
na programação cirúrgica para ressecar ou não, e realizar transposição nos casos em
que se deseja preencher sulcos profundos, como o sulco nasojugal (“tear trough”) e a
rima orbital inferior (Figura1).
Terço médio da face: quando o paciente apresenta queda do terço médio da face,
pode-se associar a sua elevação por técnicas de “midface lifting”, principalmente “SOO-
F-SMAS lift” pré-periosteal.
Qualidade da pele: em pacientes que possuem dermatocalaze leve e rugas, com fo-
totipo de Fitzpatrick até 3, procedimentos podem ser associados para melhorar a qua-
lidade da pele sem ressecá-la como: “peeling” químico, laser de CO2 e radiofreqüência
(fracionada e pulsada).

68
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

Figura 1: Paciente com projeção das bolsas inferiores e sulcos nasojugal e orbitomalar evidentes

Informações complementares (técnicas cirúrgicas):


Aqui abordaremos algumas técnicas cirúrgicas mais comumente realizadas em con-
junto com as blefaroplastias inferiores.
Flacidez horizontal das pálpebras:
- Casos com flacidez horizontal leve:
Nestes casos, pode-se proceder a uma cantopexia simples fazendo um encurtamento
da porção inferior do tendão cantal lateral junto ao periósteo da rima lateral da órbita.
Outra opção semelhante seria a pexia do retináculo lateral tracionando-o com um pon-
to em “U e fixando o ponto junto ao rebordo supero lateral da rima orbital (Figura 2A e 2B).

A B

Figura 2: Cirurgia de pexia do retináculo lateral tracionando-o com um ponto em “U e fixando o ponto junto
ao rebordo súpero lateral da rima orbital.

69
PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS COMPLEMENTARES À BLEFAROPLASTIA INFERIOR

Em alguns casos também pode ser feita a fixação do músculo orbicular junto ao peri-
ósteo lateralmente.
- Casos com flacidez horizontal acentuada:
Nestes casos uma simples cantopexia não é suficiente para manter o posicionamento
adequado da pálpebra inferior, podendo acarretar o ectrópio pós-cirúrgico. Impõe-se a
necessidade de um encurtamento palpebral que pode ser realizado pela técnica da tira
tarsal ou “tarsal strip” ou mesmo pela técnica de “Bick” original. Ambas as técnicas encur-
tam a pálpebra inferior proporcionando bom posicionamento do canto externo quando
realizadas com cuidado (Figura 3).

Figura 3: Técnica da tira tarsal para encurtamento da pálpebra inferior nos casos de frouxidão acentuada.

Transposição de gordura: pode ser realizada por via cutânea ou transconjuntival.


Na técnica transconjuntival, a incisão é realizada a aproximadamente 2mm da borda
inferior do tarso em toda extensão palpebral. Realiza-se dissecção romba para exposição
da rima orbital inferior, preferencialmente no plano pré-septal. A dissecção procede no
plano pré-periosteal, 6 a 8mm inferiormente ao arcus marginalis, liberando-se a inserção
dos músculos elevadores da asa do nariz e do lábio superior com exposição total do arcus
marginalis e confecção de espaço pré-periostal.
O septo é então aberto com exposição de gordura medial e central, totalmente libera-
das do septo e fáscias musculares e mantendo-se o pedículo das bolsas.
A gordura lateral é totalmente ressecada. As bolsas medial e central podem ser res-
secadas parcialmente e então são posicionadas ao longo da rima orbital e suturadas com

70
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

pontos em “U” junto ao periósteo da face anterior da maxila preenchendo toda a depres-
são na projeção do sulco nasojugal. Pode-se utilizar fio absorvível 5-0 ou 6-0 de poliglac-
tina (Vicryl).
Não há necessidade de suturar a conjuntiva.
Elevação do terço médio da face: Há várias técnicas para o “midface lifting, mas o
conceito atual privilegia técnicas mais conservadoras que elevam em vetores verticais e
superolaterais, por via cutânea subciliar (Figura 4) ou transconjuntival. O objetivo é criar
um retalho de SMAS/orbicular e/ou SOOF por dissecção subcutânea do músculo orbicular
e extensão inferior no plano pré-periostal até o rebordo orbital inferior, lateralmente ao
ligamento retentor orbital após sua liberação. O retalho é encurtado se necessário e avan-
çado superolateralmente e suturado com fios inabsorvíveis (como o polipropileno 5-0) na
fáscia temporal ou periósteo do rebordo lateral.

Figura 4: Acesso transcutâneo subciliar. Dissecção e exposição do rebordo orbital inferior.

Tratamento da pele: nos casos de dermatocalaze leve e/ou presença de rugas palpe-
brais inferiores, pode-se evitar a retirada de pele e realizar o tratamento dessa região pro-
porcionando rejuvenescimento cutâneo.
Os métodos mais utilizados associados à blefaroplastia inferior são o laser de CO2 e a
radiofrequência fracionada, mas o peeling químico também pode ser usado. A associação
cirúrgica mais frequente é a blefaroplastia inferior transconjuntival com ressecção e/ou
reposicionamento das bolsas e aplicação do método desejado para melhorar a qualidade
da pele no intra-operatório.

71
PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS COMPLEMENTARES À BLEFAROPLASTIA INFERIOR

Em relação ao laser, o fracionado ablativo de CO2 é o mais comumente utilizado. Ge-


ralmente se realiza uma única aplicação no ato operatório, mas novas sessões podem ser
feitas após intervalo variável. (Figura 5)

Figura 5: Aplicação do laser de CO2 na pálpebra inferior.

A radiofreqüência fracionada é a mais utilizada associada à blefaroplastia transconjun-


tival, em 1 a 3 aplicações no intra-operatório, mas em casos de necessidade de maior re-
tração cutânea, pode-se usar a radiofrequência pulsada com multiagulhas em aplicação
única (Figura 6A e B).

A B

Figura 6: A. Paciente com bolsas palpebrais proeminentes com mínima dermatocalaze e presença de rugas.
B. Após a remoção das bolsas pelo acesso transconjuntival, a pele foi tratada com radiofrequência
pulsada com multiagulhas em aplicação única.

72
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Akaishi P, Pimentel AR. Estética periocular. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2018. P 85-96.

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Tao JP, Limongi RM. Short-Incision Midface-Lift In Lower Blepharoplasty. JAMA Facial
Plast Surg 2016;18(4):313-4.

73
SEÇÃO INTERATIVA
CAPÍTULO 5
PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS COMPLEMENTARES À BLEFAROPLASTIA INFERIOR

Os gráficos representam a porcentagem das respostas para cada questão. Considera-


mos valores iguais ou superiores a 70% como concordância, positiva ou negativa.

1. A cantopexia deve ser realizada de rotina em pacientes com frouxidão


leve a moderada da pálpebra inferior.

Sim 95%

Não 0%

Abstenções 5%

Nota: Em casos de frouxidão palpebral diagnosticada durante o exame pré-operatório, técnicas


de cantopexia são rotineiramente associadas a blefaroplastia inferior.

2. A cantoplastia com encurtamento palpebral lateral está indicada para todos os


pacientes com frouxidão grave da pálpebra inferior.

Sim 85%

Não 15%

Abstenções 0%

Nota: A maioria dos cirurgiões prefere realizar cantoplastia nos casos de frouxidão importante da pálpebra
inferior durante a blefaroplastia. A conduta alternativa é realizar cantopexia associada a outras técnicas de
sustentação da região malar, como a elevação do SOOF (suborbicularis oculi fat).

76
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

3. A transposição das bolsas palpebrais é preferencialmente realizada no plano pré


periosteal, com utilização de suturas transcutâneas, removíveis.

Sim 40%

Não 50%

Abstenções 10%

Nota: Observa-se que não há concordância em relação a técnica preferida para transposição das bolsas em
blefaroplastia inferior, que pode ser realizada no plano sub ou pré-periosteal.

4. O SOOF lifting pré-periósteo promove adequada elevação malar na maioria dos


casos onde não há retração palpebral importante.

Sim 100%

Não 0%

Abstenções 0%

Nota: A técnica da elevação do SOOF com dissecção pré-periosteal é considerada


eficaz para correção de retrações palpebrais leves.

77
PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS COMPLEMENTARES À BLEFAROPLASTIA INFERIOR

5. Em pacientes com fototipos menores que 3, a radiofrequência ou LASER CO2 são


suficientes para tratamento da dermatocalaze discreta.

Sim 11%

Não 18%

Abstenções 72%

Nota: O alto índice de abstenções nessa questão indica que os cirurgiões não utilizam com frequência os
tratamentos ablativos cutâneos como radiofrequência ou laser de CO2 para correção da dermatocalaze.

78
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

CAPÍTULO 6

BLEFAROPLASTIA EM
SITUAÇÕES ESPECIAIS:
ORIENTAIS, XANTELASMA E
ORBITOPATIA DE GRAVES

Midori H. Osaki
Ricardo Morschbacher
Tammy H. Osaki
Maria Antonieta Ginguerra

79
BLEFAROPLASTIA EM SITUAÇÕES ESPECIAIS: ORIENTAIS, XANTELASMA E ORBITOPATIA DE GRAVES

1. INTRODUÇÃO
A blefaroplastia é um dos procedimentos cirúrgicos mais realizados no mundo. Para
que se obtenha os melhores resultados, o cirurgião deve realizar uma avaliação pré-ope-
ratória e planejamento cirúrgico cuidadosos, além de atentar a algumas situações espe-
ciais, como no caso de pacientes de origem asiática, e naqueles que apresentam xantelas-
ma palpebral e orbitopatia de Graves.
Este capítulo visa fornecer aos cirurgiões oculoplásticos um guia prático referente à
blefaroplastia nessas situações especiais, baseado na experiência de membros da SBCPO.

2. ASPECTOS FUNDAMENTAIS
2.1. Blefaroplastia em orientais
Devido às diferenças anatômicas entre a pálpebra asiática e a não-asiática, a blefaro-
plastia em orientais apresenta algumas particularidades.
É importante notar que Asiáticos que se submetem a uma blefaroplastia desejam
manter suas características étnicas e, por isso, o conhecimento dessas diferenças é fun-
damental para que se atinjam resultados satisfatórios.
Uma das principais diferenças está relacionada à prega palpebral, ausente em cerca
de 40 a 60% dos asiáticos, dependendo da etnia (Figura1).

Figura 1: Dermatocalaze e ausência da prega palpebral em pálpebra oriental.

Quando presente, esta apresenta-se em posição mais baixa. Por este motivo, a marca-
ção da incisão inferior da blefaroplastia superior em asiáticos é realizada em posição mais
baixa, quando comparada com caucasianos. Nos indivíduos que não apresentam a prega
palpebral, esta pode ser confeccionada durante a blefaroplastia superior ou isoladamen-
te, por meio de várias técnicas. O cirurgião deve discutir com o paciente sobre as carac-

80
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

terísticas desejadas para a prega (altura, formato) e a indicação da técnica dependerá de


uma avaliação individualizada de cada paciente.
Epicanto é uma dobra semilunar de pele que recobre parcialmente o canto medial ver-
ticalmente e é uma característica comum entre Asiáticos (Figura 2). Nos pacientes que o
apresentam, costumamos confeccionar a prega palpebral originando-se deste. Em casos
em que o epicanto é muito exacerbado, tornando-se inestético, pode ser realizada epican-
toplastia associada à blefaroplastia.

Figura 2: Epicanto medial em pálpebra oriental jovem.

Além disso, os orientais apresentam pálpebras com maior quantidade de gordura, lo-
calizadas em diversos planos (subcutâneo, sub-orbicular e epitarsal), além das bolsas de
gordura pré-aponeuróticas.
Na blefaroplastia em orientais, em geral, marca-se a prega palpebral de 4-6 mm em ho-
mens e de 6-8 mm em mulheres, a partir da linha ciliar (Figura 3). Deve-se evitar estender
a marcação lateral acima de 5 a 8 mm da rima lateral, pois orientais tendem a apresentar
cicatrização mais evidente nessa região, devido à maior espessura cutânea. Caso o ex-
cesso de pele lateral seja abundante, considerar associar a remoção cutânea abaixo do
supercílio durante a blefaroplastia (Figura 4).

81
BLEFAROPLASTIA EM SITUAÇÕES ESPECIAIS: ORIENTAIS, XANTELASMA E ORBITOPATIA DE GRAVES

Figura 3: Marcação da blefaroplastia superior com confecção de prega palpebral em paciente oriental jovem.

Figura 4: Variante da técnica de blefaroplastia em orientais: remoção da dermatocalaze


com incisão abaixo do supercílio.

É importante lembrar que a dieta dos orientais costuma ser rica em alimentos e er-
vas que podem alterar a coagulação, como gingko biloba, gengibre, alho, ginseng e chá
verde. Assim, é recomendável orientar os pacientes que reduzam o consumo destes 2 se-
manas antes do procedimento cirúrgico. Além disso, os Asiáticos costumam apresentar
edema pós-cirúrgico mais prolongado, quando comparados com caucasianos, e devem
ser orientados quanto a isso.

2.2. Xantelasma palpebral


Caracteriza-se pela presença de pápula ou placa amarelada nas pálpebras superiores
ou inferiores (Figura 5), podendo ser isoladas ou coalescentes. Resulta da migração dos
lípidos dos vasos sanguíneos aos tecidos circundantes e é mais comumente observado
após os 40 anos, com um pico entre a quarta e a quinta décadas de vida. Em cerca de me-

82
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

tade dos casos está relacionado com hiperlipedemias e, por este motivo, recomenda-se
que pacientes com xantelasma palpebral realizem perfil lipídico sérico. Caso constatada
hiperlipidemia, esta deve ser tratada clinicamente antes do tratamento local.

Figura 5: Xantelasma palpebral. Note lesões amareladas em regiões mediais das


pálpebras superior e inferior.

Há várias modalidades para o tratamento do xantelasma e a escolha depende da localiza-


ção, do tamanho da lesão e da preferência do cirurgião. As principais formas de tratamento
incluem aplicação de ácido tricloroacético (ATA), radiofrequência, laser e exérese cirúrgica.
O tratamento cirúrgico dos xantelasmas pode ser realizado via remoção direta da lesão
ou associado à blefaroplastia. Excisão cirúrgica de lesões extensas e difusas constitui um
desafio para o cirurgião, principalmente quando estas se localizam fora da área de inci-
são da blefaroplastia ou quando se localizam na pálpebra inferior. Podem ser necessários
enxertos ou retalhos, ou podem-se realizar tratamentos combinados: ATA, laser ou radio-
frequência fracionada, com o intuito de reduzir as lesões e a necessidade de enxertos/
retalhos, seguido de blefaroplastia.

2.3. Blefaroplastia em orbitopatia de Graves


A sequência cirúrgica clássica de reabilitação funcional e estética de pacientes com
orbitopatia de Graves pode incluir, nesta ordem: descompressão orbitária, cirurgia de es-
trabismo, cirurgia de retração palpebral e por último a blefaroplastia. Estas cirurgias de-
vem ser realizadas somente na fase cicatricial da doença. A blefaroplastia deve ser evitada
na fase ativa da orbitopatia, principalmente em pacientes com edema palpebral, pois o
procedimento pode estimular e aumentar ainda mais a inflamação. Pacientes, tanto das
formas leves, como severas da doença, podem necessitar de blefaroplastia superior e/ou
inferior para readquirir uma aparência mais próxima à original.

83
BLEFAROPLASTIA EM SITUAÇÕES ESPECIAIS: ORIENTAIS, XANTELASMA E ORBITOPATIA DE GRAVES

Nada impede, entretanto, conforme a experiência do cirurgião, que a blefaroplastia


seja realizada junto com a descompressão, cirurgia de retração palpebral ou até a cirurgia
de estrabismo em um mesmo tempo cirúrgico.
Na orbitopatia de Graves pode ocorrer um aumento volumétrico dos tecidos orbitá-
rios, principalmente às custas de gordura e/ou musculatura extra-ocular, além da própria
glândula lacrimal, e peri-orbitários, como a gordura junto ao rebordo orbitário temporal
superior (ROOF ou retro orbicular oculi fat) (Figura 6). Este aumento volumétrico da órbi-
ta, além de produzir proptose, pode tornar as bolsas de gordura palpebrais ainda mais
proeminentes, sendo necessária uma exérese mais radical desta gordura
Como regra geral, não se deve remover músculo orbicular nestes pacientes, tanto na
blefaroplastia superior como na inferior, para se evitar aumento da retração e da fenda pal-
pebrais, além de lagoftalmo, aumentando a sintomatologia de ressecamento da superfície
ocular. A remoção de pele, geralmente mais espessada, deve ser ainda muito mais criteriosa
e muito mais conservadora na pálpebra superior e na inferior pelos mesmos motivos.

Figura 6: Orbitopatia de Graves. Note o aumento volumétrico na região do supercílio devido ao aumento do
ROOF (retro-orbicularis oculi fat), além da retração palpebral superior e inferior características da doença.

84
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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86
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

SEÇÃO INTERATIVA
CAPÍTULO 6

87
BLEFAROPLASTIA EM SITUAÇÕES ESPECIAIS: ORIENTAIS, XANTELASMA E ORBITOPATIA DE GRAVES

Os gráficos representam a porcentagem das respostas para cada questão. Considera-


mos valores iguais ou superiores a 70% como concordância, positiva ou negativa.

1. Em orientais a incisão deve ser sempre posicionada a menos


de 8 mm da margem palpebral.

Sim 100%

Não 0%

Abstenções 0%

Nota: O sulco palpebral em homens e mulheres orientais, quando presente, é naturalmente baixo. Dessa
forma, a incisão da blefaroplastia nesses pacientes deve ser mais baixa para preservar
as características naturais da pálpebra oriental.

2. A remoção da gordura pré-tarsal superior é necessária para a confecção


do sulco palpebral em orientais.

Sim 60%

Não 30%

Abstenções 10%

Nota: A pálpebra oriental apresenta, entre outras características, a presença de gordura epitarsal. Embora
não seja necessária para confecção do sulco, a remoção parcial dessa gordura associada a sutura de confec-
ção do sulco, promove adesões permanentes e estáveis.

88
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

3. Em pacientes com oftalmopatia de Graves, a remoção


cutânea deve ser conservadora.

Sim 95%

Não 0%

Abstenções 5%

Nota: A oftalmopatia de Graves cursa com anomalia do mecanismo do piscar e disfunção lacrimal.
A blefaroplastia, nesses casos, deve ser bastante conservadora para prevenir danos a superfície ocular.

4. O músculo orbicular não deve ser removido na blefaroplastia de pacientes


com Oftalmopatia de Graves.

Sim 20%

Não 20%

Abstenções 60%

Nota: Essa é uma questão controversa, uma vez que até pequenas remoções do músculo orbicular
pré-septal podem afetar o mecanismo do piscar nesses pacientes.

89
BLEFAROPLASTIA EM SITUAÇÕES ESPECIAIS: ORIENTAIS, XANTELASMA E ORBITOPATIA DE GRAVES

5. O xantelasma superior que ultrapassa o limite da marcação da blefaroplastia


deve ser removido com outra incisão, perpendicular a incisão da blefaroplastia.

Sim 40%

Não 25%

Abstenções 35%

Nota: Quando o xantelasma da pálpebra superior ultrapassa os limites da marcação da blefaroplastia, a


remoção da lesão residual com uma incisão perpendicular a da blefaroplastia permite o fechamento
cutâneo direto. Em casos mais extensos, muitas vezes é necessário enxerto cutâneo.

6. Após a remoção do xantelasma inferior, a área deve receber


enxerto proveniente da própria dermatocalaze.

Sim 59%

Não 0%

Abstenções 41%

Nota: O déficit tecidual gerado pela remoção do xantelasma pode necessitar de enxerto cutâneo. A pele
removida durante a blefaroplastia pode ser utilizada para essa finalidade.

90
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

7. O xantelasma pode ser tratado com eficácia por meio de acido tricloroacético
(ATA), laser de CO2 ou radiofrequência fracionada, antes da blefaroplastia.

Sim 35%

Não 22%

Abstenções 43%

Nota: O tratamento não cirúrgico do xantelasma é uma alternativa terapêutica que pode ser
oferecida ao paciente, em casos selecionados.

91
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

CAPÍTULO 7

CUIDADOS
PÓS-OPERATÓRIOS

André Borba
Célia Simões Cardoso de Oliveira Sathler
Vitor Marques de Alencar
Adriano Baccega

93
CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS

1. INTRODUÇÃO
Atualmente, com o crescente aumento da expectativa de vida, a população tem se
mantido profissionalmente ativa até uma idade mais avançada. Assim, estar fisicamente
bem, mantendo a jovialidade, está associado a uma melhor imagem de produtividade e
inserção profissional. Esse fato tem levado a uma procura crescente por cirurgias plásti-
cas, incluindo a blefaroplastia, além de procedimentos minimamente invasivos, princi-
palmente em indivíduos após os 45 anos.
Diversos trabalhos publicados demonstram o aumento da auto-estima após a reali-
zação da blefaroplastia. Porém, a realização de uma cirurgia plástica está, quase sempre,
associada a um variável grau de ansiedade por parte do paciente ou de seus familiares.
Uma das formas de minimizá-lo é informar minuciosamente sobre a evolução do período
pós-operatório. O paciente e a família devem seguir corretamente a prescrição médica. O
presente capítulo tem o objetivo de fornecer recomendações dos cirurgiões oculoplásti-
cos aos casos operados de blefaroplastia.

2. ASPECTOS FUNDAMENTAIS
Algumas orientações gerais são de grande importância após a cirurgia e devem ser
observadas para melhorar a recuperação e resultado cirúrgico.
2.1. Manter a cabeceira da cama elevada num ângulo de 30º por pelo menos 3 dias
pode acelerar a diminuição do edema na área operada;
2.2. Curativos compressivos devem ser evitados após a blefaroplastia. Eles podem
ocultar hemorragias importantes.
2.3. Bolsas de gelo ou compressas geladas com água mineral ou soro fisiológico de-
vem ser prescritas para minimizarem o edema e prevenir equimoses no pós-operatórios
e devem ser utilizadas nas primeiras 48 horas, pelo menos 5 vezes/dia por 30 minutos.
2.4. Colírios lubrificantes devem ser utilizados várias vezes ao dia, de acordo com os
sintomas irritativos dos pacientes.
2.5. A antibioticoterapia profilática endovenosa durante a indução anestésica está
indicada nas blefaroplastias com procedimentos associados. Entende-se portanto, que
a antibioticoterapia oral é desnecessária nos casos de blefaroplastia superior e inferior
na ausência de procedimentos associados, como: laser de CO2, lipoenxertias, suspen-
são de supercílio e peelings químicos faciais.
2.6. O tratamento local com pomadas oftálmicas sem corticóide melhoram a cicatriz
da blefaroplastia quando utilizadas na primeira semana da cirurgia.
Recomenda-se que as suturas inabsorvíveis sejam removidas de 5 a 7 dias após a cirurgia.

94
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

2.7. Os esforços físicos devem ser evitados por pelo menos por 30 dias após a cirur-
gia. Recomenda-se a não exposição ao sol por pelo menos 60 a 90 dias. Quando inicia-
rem pequenas exposições ao sol, usar protetor solar com FPS igual ou superior a 30,
óculos escuros, chapéus ou boné.

Figura 1: Foto do pós-operatório de Blefaroplastia Superior + Suspensão direta de cauda de supercílio +


Peeling de ATA nas pálpebras inferiores. Curativo realizado com Steri-strip.

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Friedland, Jack A. M.D.; Lalonde, Don H. M.D.; Rohrich, Rod J. M.D. An Evidence-Based
Approach to Blepharoplasty.Plastic and Reconstructive Surgery. V. 126, Issue 6, p 2222-
2229, Dec 2010

ISHIZUKA, Carlos Koji. Autoestima em pacientes submetidas a Blefaroplastia. Rev. Bras.


Cir. Plást., São Paulo , v. 27, n. 1, p. 31-36, Mar. 2012 . .

Lelli, Gary J. Jr; Lisman, Richard D. Blepharoplasty Complications


Plastic and Reconstructive Surgery. 125(3):1007-1017, March 2010.

Pacella, Salvatore J.; Codner, Mark A. Minor Complications after Blepharoplasty: Dry
Eyes, Chemosis, Granulomas, Ptosis, and Scleral Show.Plastic and Reconstructive Sur-
gery. 125(2):709-718, February 2010.

95
CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS

VIANA, Giovanni André Pires; OSAKI, Midori Hentona; NISHI, Mauro. Blefaroplastia in-
ferior: poderia a cirurgia proporcionar satisfação aos pacientes?. Arq. Bras. Oftalmol.,
São Paulo , v. 75, n. 6, p. 402-406, Dec. 2012 .

96
SEÇÃO INTERATIVA
CAPÍTULO 7
CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS

Os gráficos representam a porcentagem das respostas para cada questão. Considera-


mos valores iguais ou superiores a 70% como concordância, positiva ou negativa.

1. Curativos oclusivos compressivos devem ser evitados após blefaroplastia?

Sim 90%

Não 0%

Abstenções 10%

Nota: Os curativos compressivos devem ser evitados porque em caso de sangramento importante após a
blefaroplastia, há risco de hematoma orbital e perda visual.

2. Antibioticoterapia oral é desnecessária nos casos de blefaroplastia superior e


inferior na ausência de procedimentos associados?

Sim 85%

Não 7%

Abstenções 8%

Nota: A maioria dos cirurgiões não prescreve antibióticos de rotina após a blefaroplastia
tradicional sem intercorrências e sem procedimentos associados.

98
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

3. Antibioticoterapia profilática endovenosa durante a indução anestésica está indi-


cada na blefaroplastia com procedimentos associados?

Sim 90%

Não 10%

Abstenções 0%

Nota: Nas cirurgias de blefaroplastia com procedimentos associados (elevação do supercílio, miectomia
do corrugador, elevação do SOOF, lipoenxertia, laser CO2, peelings químicos, etc.) a maioria dos cirurgiões
indica antibioticoterapia profilática endovenosa durante a indução anestésica.

4. Bolsas de gelo ou compressas geladas reduzem o edema e equimose


pós-operatória e devem ser utilizadas nas primeiras 48 horas.

Sim 100%

Não 0%

Abstenções 0%

Nota: A utilização de compressas gelada é utilizada por todos os cirurgiões, devido ao seu efeito benéfico,
podendo ser iniciada durante a cirurgia com soro fisiológico estéril gelado.

99
CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS

5. Quem usa pomada oftalmológica na incisão da blefaroplastia no pós-operatório?

Sim 60%

Não 30%

Abstenções 10%

Nota: Alguns cirurgiões utilizam pomadas oftalmológicas na incisão da blefaroplastia com o objetivo de
aumentar a umectação da pele e melhorar a cicatrização. Devemos lembrar que a higienização da ferida
cirúrgica é fundamental para uma cicatrização adequada.

6. As suturas absorvíveis devem ser removidas entre 5 e 7 dias após a cirurgia.

Sim 100%

Não 0%

Abstenções 0%

Nota: As suturas não devem ser removidas antes do 5º dia devido ao risco de deiscência e não devem ser
mantidas após o 7º dia pelo risco de induzirem a formação de granulomas na incisão.

100
1º MANUAL DE CONDUTAS - BLEFAROPLASTIA

7. Colirios lubrificantes são indicados no pós-operatório?

Sim 90%

Não 10%

Abstenções 0%

Nota: Os colírios lubrificantes são benéficos no pós-operatório da blefaroplastia, para prevenir sintomas de
olho seco após a cirurgia, principalmente em pacientes portadores de blefarite crônica. A blefarite deve ser
controlada antes da cirurgia em todos os casos para reduzir o desconforto ocular. Produtos para higiene da
margem palpebral como Blephagel® devem ser mantidos no pós-operatório da blefaroplastia.

101
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Referências Bibliográficas: 1) Rolando M et al. The correct diagnosis and therapeutic management of tear dysfunction: recommendations of the P.IC.A.S.S.O. board. Int Ophthalmol (2017). doi:10.1007/s10792-017-
0524-4. 2) Ang BCH et al. Sodium Hyaluronate in the Treatment of Dry Eye Syndrome: A Systematic Review and Meta Analysis. Sci Rep 2017;7:9013. 3) Schmidl D et al. Tear film thickness after treatment with artificial tears
in patients with moderate dry eye disease. Cornea 2015;34(4):421-6. 4) Park Y et al. A randomized multicenter study comparing 0.1%, 0.15% and 0.3% sodium hyaluronate with 0.05% cyclosporine in the treatment of dry
eye. J Ocular Pharmacol Therap 2017;33(2):66-72. 5) Sanchez MA et al. Comparative analysis of carmellose 0.5% versus hyaluronate 0.15% in dry eye: a Flow cytometric study. Cornea 2010;29(2):167-71. 6) Guillaumie
F et al. Comparative studies of various hyaluronic acids produced by microbial fermentation for potential topical ophthalmic applications. J Biomed Materials Res 2010 doi:10.1002/jbm.a.32481. 7) Bula do produto.
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