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4.1 Equivalente mecânico de caloria
A relação entre energia mecânica e calor foi estabelecida por Joule em meados do
século XIX, estudando o aquecimento da água quando a mesma era mexida por um
agitador, como ilustrado na figura 4.1. Ele utilizou um recipiente contendo água e
constituído de paredes adiabáticas <ABRIR LINK> As paredes adiabáticas não
permitem troca de calor com o meio externo, constituindo um sistema termicamente
isolado. <FECHAR LINK>, o movimento das pás era controlado pelo trabalho de subida
e descida das massas conectadas ao eixo de giro, permitindo dessa forma calcular o
trabalho realizado pelas pás.
m m
Figura 4.1: Esboço do esquema utilizado por Joule para determinar o equivalente
mecânico de caloria. Consiste de um recipiente com paredes adiabáticas contendo água,
constituído de pás giratórias para agitar a água.
2
4.2 Trabalho adiabático
Paredes
adiabáticas
m
Pi ,Vi
Pf , V f
(a) (b)
3
ou seja, em um sistema termicamente isolado, a variação da energia interna ∆U é igual
ao trabalho realizado Wi→ f do estado inicial ao estado final. O sinal negativo aparece por
definição histórica do estudo de máquinas térmicas onde padronizou-se que o trabalho é
positivo, W > 0 , quando é realizado pelo sistema e negativo, W < 0 , quando é realizado
sobre o sistema. Portanto, como o trabalho realizado pelo sistema diminui a energia
interna , então coloca-se o sinal negativo na equação (4.2).
A força que as moléculas do gás exercem sobre as paredes de um recipiente está
relacionada com as colisões momentâneas das moléculas com a parede. O trabalho, por
sua vez, na mecânica está associado como um deslocamento durante a aplicação de uma
força. Então, o trabalho é identificado apenas quando ocorre um deslocamento da parede,
que é observado no caso do pistão do exemplo acima.
Considerando A como sendo a área do pistão, a força F sobre ele pode ser
expressa por:
F = P. A, (4.3)
onde, P é a pressão que o gás exerce sobre o pistão <ABRIR LINK> No próximo
capítulo, sobre a teoria cinética dos gases, veremos como a pressão é definida do ponto
de vista microscópico. <FECHAR LINK>. Desta forma, para um deslocamento
infinitesimal dx , o trabalho relativo a esta força é:
d ′W = Fdx = P. Adx,
mas Adx = dV , que representa uma pequena variação de volume, então:
d ′W = PdV . (4.4)
<ABRIR QUADRO-DESTAQUE> A notação d ′W é utilizada para identificar que d ′W
representa apenas uma variação infinitesimal de trabalho, não sendo uma diferencial
exata. Como veremos mais adiante, isso está relacionado com o fato que o trabalho não é
uma função de estado termodinâmico e, portanto, o trabalho realizado depende do tipo de
processo (se adiabático, se isotérmico, etc...). <FECHAR QUADRO-DESTAQUE>.
Então, para uma variação finita de Vi até V f , o trabalho é dado pela integral da
equação (4.4) nestes limites:
Vf
Wi→ f = ∫ PdV .
Vi
(4.5)
4
P
1 c
P1
P2 2
a
a
V1 V2 V
P2
2
V1 V2 V
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Figura 4.4: Representação de um processo termodinâmico cíclico num diagrama
PV . A área achurada dentro da curva indica o trabalho total realizado neste processo.
Através da figura acima podemos ver que o trabalho total será negativo se o ciclo
ocorrer no sentido horário e negativo quando ocorrer no sentido anti-horário. Nestes
processos é correto escrever a equação (4.5) na forma:
Wciclo = ∫ PdV , (4.6)
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ocorrer de forma quase-estática. Para um processo ser quase-estático, ele deve obedecer
duas condições:
- Ocorrer muito lentamente: esta condição é necessária para se ter uma sucessão
infinitesimal de estados de equilíbrio termodinâmico, com P e V bem definidos;
- O atrito ser desprezível: esta condição é necessária para não haver dissipação de
energia por atrito.
Podemos imaginar uma situação prática disso, considerando o pistão da figura 4.2
(b), onde a massa m é substituída por um monte de areia de igual massa. Se retirarmos
um grão de areia, o sistema tende a buscar uma nova condição de equilíbrio, após o
equilíbrio ser atingido retiramos outro grão de areia e assim por diante, lembrando que
entre a retirada de um grão de areia e outro, esperamos o sistema atingir o equilíbrio
termodinâmico. Se a cada grão retirado medirmos a pressão e o volume, conheceremos os
pontos que ligam os estados inicial e final, e seremos capazes de desenhar a curva
P = P (V ) . Este procedimento permite determinar o caminho que leva do estado inicial ao
estado final, tornando assim possível a utilização da equação (4.5) para cálculo do
trabalho realizado.
Nos processos irreversíveis apenas os estados de equilíbrio inicial e final são
conhecidos (como o exemplo da figura 4.2, onde o caminho de i até f não é conhecido),
sabemos apenas que o trabalho realizado equivale à variação da energia interna, mas não
podemos calculá-lo diretamente com a equação (4.5).
A transferência de calor num processo reversível obedece às mesmas condições
descritas acima, mas agora é a quantidade de calor que deve ser transferida lentamente,
onde a transformação do estado inicial ao final deve passar por uma sucessão densa de
estados de equilíbrio termodinâmico intermediários, permitindo a determinação das
variáveis termodinâmicas durante o processo. Neste caso, podemos utilizar a expressão
para determinação da quantidade de calor, estudada no capítulo anterior:
d ′Q = CdT , (4.9)
onde integrando temos:
Tf
Q = ∫ CdT , (4.10)
Ti
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A forma infinitesimal da primeira lei da termodinâmica para um número de moles
fixo é dada por:
dU = d ′Q − d ′W
(4.11)
dU = CdT − PdV .
Neste processo não existe troca de calor com o meio externo, ou seja, Q = 0 . Isso
usualmente é conseguido isolando-se termicamente o sistema num recipiente de paredes
adiabáticas. Então a equação (4.8) fica simplesmente:
∆U = −Wi → f . (4.12)
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A variação da energia interna está relacionada apenas com a realização de
trabalho (neste caso, chamado de trabalho adiabático). Como vimos na seção 4.2, no
caso de um gás confinado num recipiente com paredes adiabáticas e um pistão móvel,
quando é realizado trabalho sobre o sistema, tem-se que ∆U > 0 e a energia interna
aumenta, e quando o sistema realiza trabalho, tem-se que ∆U < 0 e a energia interna
diminui. Geralmente este processo resulta também na variação da temperatura.
Processos termodinâmicos suficientemente rápidos, em que não há tempo para
ocorrer uma troca significativa de calor, também podem ser considerados adiabáticos. Por
exemplo: a expansão de vapor numa máquina térmica, o aquecimento do ar quando
bombeamos um pneu de bicicleta, etc...
Neste processo o volume não varia, em geral isso significa que o sistema não
realizou trabalho com a sua vizinhança, ou seja, Wi→ f = 0 . Logo pela primeira lei:
∆U = Q. (4.13)
Temos então que a variação da energia interna depende apenas da transferência de
calor, sendo que U aumenta ( ∆U > 0 ) quando é fornecido calor ao sistema e U diminui
( ∆U < 0 ) quando é retirado calor do sistema. Um exemplo disso é o aquecimento de
água em um recipiente cujo volume é mantido fixo.
É importante notar que a realização de trabalho não está vinculada apenas à
variação de volume. É possível realizar trabalho num sistema por agitação, como foi
demonstrado no experimento de Joule, na seção 4.1. Neste exemplo, apesar de se tratrar
de um processo isocórico Wi→ f ≠ 0 .
Uma outra situação interessante de análise é a expansão livre de um gás <ABRIR
LINK> A expansão livre de um gás é um experimento onde um recipiente contendo gás
está ligado por uma válvula com outro recipiente mantido a vácuo. Quando a válvula é
aberta, o gás se expande livremente para o recipiente com vácuo, como o ar não
empurra nenhuma parede no seu movimento o trabalho realizado pelo gás é nulo, apesar
de variar o volume. <FECHAR LINK>. Este não é um processo isocórico, pois o volume
do gás aumenta; entretanto, o gás não realiza trabalho porque não empurra uma parede.
A pressão é mantida constante neste processo. Neste caso, em geral nenhuma das
grandezas ∆U , Q e Wi→ f é nula. Entretanto, o cálculo do trabalho é simples, pois a
pressão sai da integral na equação (4.5), resultando na relação:
Wi→ f = P(V f − Vi ) . (4.14)
Isso ocorre, por exemplo, no processo de ebulição da água numa panela aberta,
onde a pressão atmosférica é constante ( Patm = 1, 0atm ). Neste exemplo, a variação da
energia interna é dada por:
∆U = mLV − Patm (Vvapor − Vágua ),
onde, m é a massa de água e LV o calor latente de vaporização da água. Esta variação de
energia interna é interpretada como a energia necessária para romper as forças de atração
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das moléculas no estado líqudo, na transição para o estado gasoso. Obs: Resolva o
problema 2 da lista no final deste capítulo.
Num processo cíclico o sistema volta sempre para o seu estado inicial. Como a
variação da energia interna depende apenas dos estados inicial e final, então ∆U = 0 num
ciclo completo, logo:
Q = Wi→ f , (4.15)
ou seja, a transferência de calor é igual ao trabalho realizado. Este resultado se aplica no
estudo de máquinas térmicas que operam em ciclos repetidos, este é o objeto de estudo da
segunda lei da termodinâmica.
Uma outra situação bem particular em que ∆U = 0 ocorre para um sistema
isolado, que não permite nem troca de calor nem realização de trabalho, ou seja,
Q = Wi→ f = 0 , resultando que a energia interna de um sistema isolado permanece
constante.
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c∆T (4,18 ×103 J / Kg.K )(1, 0 K )
h= = = 426,5metros.
g 9,8 N / Kg
É interessante notar que a altura não depende da quantidade de água, ou seja, da massa
m.
2x105
c
Etapa Q(J) W(J) ∆U ( J )
ab 500 800 300
bc -750 -950 -200
ca 0 -100 -100 1x105
abca -250 -250 0 a b
a
5x10-3 10x10-3 V (m3)
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Qbc = ∆U bc + Wb→c = −200 J − 750 J = −950 J .
Bom, agora basta somar as colunas para encontrar os valores de:
Wabca = −250 J ,
Qabca = −250 J .
As condições físicas ou estado físico de um dado material são descritas pela sua
pressão ( P ), volume ( V ), temperatura ( T ) e sua quantidade (relacionada à massa m ),
sendo que, em geral, não podemos introduzir variações em nenhuma dessas grandezas
sem afetar as outras. Existem casos em que a relação entre estas variáveis é bastante
simples, o que torna possível explicitá-la em termos de uma equação matemática,
chamada de equação de estado. Quando esta relação é complicada, usualmente utilizam-
se gráficos ou tabelas numéricas para facilitar a visualização, mas de qualquer forma a
relação entre as variáveis existe. A seguir vamos discutir a equação de estado de um gás
ideal, que é muito utilizada para explicar o comportamento termodinâmico dos gases.
O conceito de gás ideal traz a idéia que estes gases tendem a apresentar a mesma
relação entre as variáveis P , V , T e m , em qualquer condição. Este é um conceito
idealizado, que na verdade não existe, mas experimentalmente observou-se que os gases
reais seguem uma mesma relação em situações de densidade baixa (quando a distância
entre as moléculas do gás é muito grande) e quando a velocidade de deslocamento das
moléculas que constituem o gás é alta. Isso ocorre quando a pressão é baixa e a
temperatura elevada. <ABRIR QUADRO-DESTAQUE> Veremos no capítulo 5 que
existe uma relação entre a temperatura e a velocidade instantânea de deslocamento das
moléculas do gás <FECHAR QUADRO-DESTAQUE>.
No caso dos gases, é geralmente mais fácil descrevê-los em termos do número de
moles n ao invés da massa. Por definição, um mol de qualquer substância pura equivale a
massa dessa substância (em gramas) igual à massa molecular M . Nas Condições
Normais de Temperatura e Pressão (CNTP), que corresponde a T = 273,15K = 00 C e
P = 1, 0atm = 1, 013 ×105 Pa , a Lei de Avogadro <ABRIR LINK> A principal
contribuição de Avogadro foi perceber que volumes iguais de todos os gases, nas
mesmas condições de temperatura e pressão, contêm o mesmo número de moléculas.
<FECHAR LINK> leva ao resultado importante que 1, 0mol de qualquer gás ocupa
sempre o mesmo volume V = 22, 415litros ; além disso, 1, 0mol de qualquer substância
tem sempre o mesmo número de moléculas, dado pelo chamado Número de Avogadro
N 0 = 6, 023 × 1023 moléculas / mol .
Através de experimentos com vários gases diferentes, que foram inseridos em
cilindros onde era possível controlar P , V e T , mantendo-se fixo o número de moles n
para uma densidade suficientemente baixa de moléculas, observou-se que:
a) Quando a temperatura era mantida constante, a pressão variava inversamente com o
volume ( P ∝ 1/ V ). Daí tiramos que P.V = cte ( cte quer dizer constante), conhecida
como Lei de Boyle.
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b) Quando a pressão era mantida constante, o volume variava diretamente com a
temperatura ( V ∝ T ). Daí tiramos que V / T = cte , conhecida como Lei de Charles e
Gay-Lussac.
Juntando-se as duas observações anteriores, a) e b), podemos escrever uma única
relação entre P , V e T , para o caso de n fixo:
PV PV Pf V f
= cte → i i = , (4.16)
T Ti Tf
onde os índices i e f referem-se aos estados inicial e final do gás. Como o volume
ocupado por um gás, com P e T , é proporcional a sua massa (que está relacionada com
o número de moles), então a constante cte na equação (4.16) deve ser proporcional a n ,
ou seja:
PV = nRT . (4.17)
A princípio R é uma constante a ser determinada para cada gás, mas na condição
de densidade baixa, observou-se que ela tem o mesmo valor para todos os gases.
Portanto, a equação (4.17) é chamada de equação de estado dos gases ideais, onde R é a
constante universal dos gases ideais, dada por R = 8,314 J / mol.K .
<ABRIR QUADRO-DESTAQUE> Na resolução de problemas através da equação (4.17)
é necessário utilizar as unidades do sistema internacional de medidas (SI), para o qual foi
obtido o valor de R = 8,314 J / mol.K . No SI a temperatura é dada na escala Kelvin, o
volume é dado em m3 (lembrando que 1, 0m3 = 1000litros ) e a pressão é dada em Pascal,
1, 0 Pa = 1, 0 N / m2 (lembrando que 1, 0atm = 1, 013 ×105 Pa ). <FECHAR QUADRO-
DESTAQUE>.
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4.7.1 Energia interna de um gás ideal
Vamos realizar aqui uma discussão qualitativa para chegar a conclusões sobre a
energia interna de um gás ideal <ABRIR LINK> No capítulo seguinte, que trata da
Teoria Cinética dos Gases será apresentada uma dedução um pouco mais rigorosa.
<FECHAR LINK>. Para isso, consideremos a expansão livre de um gás, neste processo o
gás é mantido num recipiente com um determinado volume conectado por uma válvula a
outro recipiente no qual foi produzido vácuo. Consideremos ainda que este sistema está
isolado termicamente através de paredes adiabáticas. Quando a válvula é aberta o gás se
expande livremente, ocupando assim um volume maior, portanto, percebe-se uma
variação do volume e da pressão do gás. Como o gás não realiza trabalho porque não
empurra nenhuma parede e como não há troca de calor com meio externo, pela primeira
lei da termodinâmica a variação da energia total do gás é nula, ∆U = 0 . Se suposermos
que a temperatura do gás se manteve constante neste processo, é possível afirmar que a
energia interna depende unicamente de T , e não tem relação alguma com P e V , mas
isso é verdade?
É importante perceber que as considerações acima são válidas para qualquer gás,
seja ele ideal ou não, pois baseiam-se unicamente na primeira lei da termodinâmica.
Medidas realizadas com o experimento de expansão livre de um gás trouxeram a resposta
para a questão acima e comprovaram que para gases reais ocorre uma pequana
diminuição da temperatura, apesar da energia interna permanecer constante. Neste caso, a
energia interna depende também de P e V . Entretanto, a variação da temperatura cai pra
zero quando a densidade do gás for pequena, ou seja, para um gás ideal. Portanto, para
gases ideais, a energia interna depende unicamente da temperatura, U = U (T ) . Esta
propriedade combinada com a equação de estado dos gases ideais (4.17) constituem o
modelo de um gás ideal.
No capítulo anterior discutimos que as capacidades térmicas para gases podem ser
bem diferentes, dependendo de como a variação de temperatura ocorre: a pressão
constante ou a volume constante; o que está relacionado com os calores específicos cP e
cV . Vamos discutir estas diferenças através dos dois caminhos ( a e b ) pelos quais é
possível passar da isoterma T1 para a isoterma T2 , onde T2 > T1 , como ilustrado na figura
4.5. O caminho a representa um processo isocórico ( V constante) enquanto o caminho
b um processo isobárico ( P constante).
<ABRIR QUADRO-DESTAQUE> As isotermas são obtidas considerando-se a
1
temperatura constante na equação (4.17), de onde obtemos que P ∝ T . É fácil ver que
V
as curvas T1 e T2 na figura 4.5 representam temperaturas constantes, onde T2 > T1 , e são
obtidas quando representamos a função P = P (V −1 ) num diagrama PV . <FECHAR
QUADRO-DESTAQUE>.
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P
P2
a
P1 b T2
T1
V1 V2 V
15
A equação (4.21) mostra que para gases ideias a capacidade térmica molar a
pressão constante é sempre maior que a capacidade térmica a volume constante. Isso vem
do fato que no processo isobárico existe também realização de trabalho. Além disso, a
diferença entre as duas capacidades térmicas é dada pela constante universal dos gases
ideais ( R ).
Na tabela 1 apresentamos os valores de CMP e CMV medidos para alguns gases a
baixa densidade. De acordo com o modelo cinético teórico (o qual será visto em detalhes
3 5
no próximo capítulo) CMV = R , resultando que CMP = R e, por conseguinte:
2 2
CMP 5
γ= = = 1, 67 . Este modelo considera que as moléculas do gás possuem apenas
CMV 3
energia cinética de translação, o que atende muito bem para gases monoatômicos. Para
gases constituídos de moléculas com mais de um átomo, outros efeitos precisam ser
considerados, como a rotação e vibração das moléculas, resultando num aumento da
5 7
energia interna do gás. Para gases diatômicos: CMV = R → γ = = 1, 40 , o que também
2 5
concorda com os valores medidos. Portanto, vemos que o modelo de gás ideal apresenta
boa concordância para gases monoatômicos e diatômicos, mas começa a falhar para gases
mais complexos.
Tabela 1: Valores experimentais de CMP e CMV para alguns gases com densidade
pequena.
Tipo de gás Gás CMP CMV CMP - CMV =R CMP
γ=
(J/mol.K) (J/mol.K) (J/mol.K) CMV
Monoatômico He 20,78 12,47 8,31 1,67
Ar 20,78 12,47 8,31 1,67
Diatômico H2 28,74 20,42 8,32 1,40
N2 29,07 20,76 8,31 1,40
O2 29,17 20,85 8,31 1,40
Poliatômico CO2 36,94 28,46 8,48 1,30
SO2 40,37 31,39 8,98 1,29
H 2S 34,60 25,95 8,65 1,33
CMP
A constante adimensional γ = é sempre maior do que 1 para gases; esta
CMV
grandeza desempenha um papel importante no processo adiabático de um gás ideal, o que
será visto a seguir.
Vamos analisar uma expansão isotérmica de um gás ideal, por exemplo: de V1 até
V2 ao longo da curva T1 na figura 4.5. Como a temperatura não varia ao longo da
isoterma, a energia interna permanece constante ( ∆U = 0 ), pois U = U (T ) . Então pela
primeira lei temos que Q = Wi → f , ou seja, a quantidade de calor transferida é igual ao
trabalho realizado, que é determinado por:
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V2 V2
1
W1→2 = ∫ PdV = nRT ∫ dV ,
V1 V1
V
V
W1→2 = nRT [ ln V2 − ln V1 ] = nRT ln 2 . (4.22)
V1
V2
Pela equação (4.22) vemos que quando V2 > V1 o logaritmo neperiano de é
V1
positivo, o que significa que o sistema realiza trabalho ( W1→ 2 > 0 ) e quando V2 < V1 o
trabalho é negativo, como era de se esperar.
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−γ
Pf Vf Vf
ln = − γ ln = ln ,
Pi Vi Vi
logo, aplicando-se a operação exponencial em ambos os lados:
γ
Pf V
= i → Pf V f γ = PV i i .
γ
(4.27)
Pi V f
A equação (4.27) nos diz que PV γ = cte num processo adiabático. Uma
conseqüência do fato que γ > 1 para gases ideais é que num diagrama PV as curvas
adiabáticas são sempre mais inclinadas que as isotermas <ABRIR LINK> Lembrando
que para temperatura constante a equação de estado dos gases ideais pode ser escrita
como PV = cte , o que equivale a ter γ = 1 . <FECHAR LINK>. Portanto, uma expansão
adiabática de um gás ideal é sempre acompanhada por uma redução da temperatura, por
causa da diminuição da energia interna provocada pelo trabalho realizado pelo sistema. Já
numa compressão adiabática observa-se um aumento da temperatura do gás, devido ao
trabalho realizado sobre ele, aumentando assim a sua energia interna.
Para obtermos uma relação entre a temperatura e o volume num processo
adiabático de um gás ideal, basta substituir a pressão na equação (4.27) utilizando-se a
nRT
equação de estado dos gases ideais: P = . Faça as contas e mostre que:
V
T f V f γ −1 = TV
i i
γ −1
→ TV γ −1 = cte. (4.28)
Vamos determinar agora o trabalho realizado por um gás num processo
adiabático, para variar a temperatura de um estado inicial até um estado final. Como
d ′Q = 0 , temos que d ′W = − dU , sendo que podemos utilizar a equação (4.23) para dU .
Então:
d ′W = − nCMV dT .
Diferenciando a equação acima temos: W f →i = − nCMV (T f − Ti ) , ou seja,
Wi→ f = nCMV (Ti − T f ) . (4.29)
Dessa forma, sabendo-se o número de moles e as temperaturas inicial e final
pode-se calcular o trabalho a partir da equação (4.29). Esta equação pode ser reescrita
utilizando-se a equação de estado dos gases ideais para torná-la dependente da pressão e
PV PV PV
do volume: T = , ou seja, Ti = i i e T f = f f , logo:
nR nR nR
CMV
Wi→ f =
R
( PVi i − Pf V f ) ,
C 1
mas, MV = (esta expressão pode ser obtida através da equação (4.21) e a relação
R γ −1
C
γ = MP , faça esta demonstração como exercício). Então:
CMV
1
Wi→ f =
γ −1
( PVi i − Pf V f ) . (4.30)
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Analisando-se as equações (4.29) e (4.30), vemos que se o processo adiabático for
uma expansão a temperatura do gás diminui ( T f < Ti → Pf V f < PV i i ), resultando num
trabalho positivo, que por sua vez diminui a energia interna do gás. No caso de uma
compressão ocorre o inverso e o trabalho é negativo. Vemos portanto, que estes
resultados condizem com as definições iniciais dos sinais do trabalho a partir da primeira
lei da termodinâmica.
3
Exemplo 5: Um mol de gás Hélio, com CMV = R , inicialmente a 10atm e 00 C , sofre
2
uma expansão adiabática reversível, como primeiro estágio num processo de liquefação
do gás, até atingir a pressão atmosférica. Vamos considerá-lo como sendo um gás ideal.
(a) Calcule a temperatura final do gás. (b) Calcule o trabalho realizado na expansão.
Solução: (a) Neste processo, todas as três variáveis termodinâmicas variam ( P , V e T ).
Então, para determinar a temperatura final, precisamos inicialmente calcular os volumes
inicial e final. Para isso, vamos recorrer a equação de estado dos gases ideais:
PV = nRT , lembrando que 10atm = 1, 013 × 106 N / m 2 e 00 C = 273K , logo:
nRTi (1mol )(8,31J / mol.K )(273K )
Vi = = 6 2
= 2, 2 × 10−3 m3 = 2, 2litros.
Pi 1, 013 × 10 N / m
3 5
Sendo CMV = R e usando a equação (4.21) obtemos que CMP = R , e portanto,
2 2
CMP 5
γ= = . Então, podemos utilizar a equação (4,27) para encontrar o volume final.
CMV 3
5 2 5/ 3
i i → (1, 013 × 10 N / m )V f
Pf V f γ = PV γ
= (1, 013 × 106 N / m 2 )(2, 2 × 10−3 m3 )
V f = (10)3/ 5 (2, 2 × 10−3 m3 ) = 8, 75 ×10−3 m3 = 8, 75litros.
Agora podemos utilizar novamente a equação de estado dos gases ideais para achar a
temperatura do estado final,
PV (1, 013 × 105 N / m2 )(8, 75 × 10−3 m3 )
Tf = f f = = 107 K = −1660 C.
nR (1mol )(8,31J / mol.K )
(b) Numa expansão adiabática d ′Q = 0 , ou seja, dU = − d ′Wi→ f , então podemos utilizar a
equação (4.23):
3
dU = nCMV dT = (1mol ) × 8,31J / mol.K (−1660 C )
2
dU = −2.069 J .
Então, d ′Wi→ f = 2.069 J .
7
Exemplo 6: 1, 0litro de H 2 , para o qual γ = , a pressão de 1, 0atm e temperatura de
5
27 0 C , é comprimido adiabaticamente até o volume de 0,5litro e depois resfriado a
volume constante até voltar à pressão inicial. Finalmente, por expansão isobárica, volta
ao estado inicial. Considere como sendo um gás ideal. (a) Represente o processo no plano
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PV , indicando P (atm) , V (litro) e T ( K ) para cada vértice do diagrama. (b) Calcule o
trabalho total realizado.
Solução: (a) Inicialmente, precisamos identificar os vértices do diagrama e os dados que
já constam no problema. Assim vamos chamá-los de A , B e C onde:
- Em A : VA = 1, 0litro , PA = 1,0atm e TA = 27 0 C = 300 K ;
- Em B : VB = 0,5litro , PB e TB ;
- Em C : VC = 0,5litro , PC = 1, 0atm e TC .
Além disso, é importante identificar os processos que levam de um vértice para outro:
- A → B : compressão adiabática;
- B → C : resfriamento a volume constante (isocórico);
- C → A : expansão a pressão constante (isobárico).
Agora podemos começar a calcular os valores que faltam.
No processo A → B usamos a equação (4.27) para encontrar PB :
PBVB γ = PAVA γ → PB (0,5 × 10−3 m3 )7 / 5 = (1, 013 × 105 N / m 2 )(1, 0 × 10−3 m3 )7 / 5
PB = (2)7 / 5 (1, 013 × 105 N / m2 ) = 2, 67 ×105 N / m 2 = 2, 64atm.
Agora para encontrar TB , podemos utilizar a equação (4.16):
PBVB PAVA PV
= → TB = TA B B
TB TA PAVA
(0,5litro)(2, 64atm)
TB = (300 K ) = 396 K .
(1, 0litro)(1, 0atm)
A única variável que ainda falta calcular é TC , e como o processo B → C ocorre a
volume constante, então podemos utilizar a relação:
P P P
= cte → C = B
T TC TB
PC 1, 0atm
TC = TB = (396 K ) = 150 K .
PB 2, 64atm
O diagrama PV deste processo está representado na figura abaixo:
P(atm)
B TB=396K
2,64
TA=300K
C
1,0 A
TC=150K
20
(b) O trabalho total é igual a soma dos trabalhos em cada uma das etapas:
Wtotal = WA→ B + WB →C + WC → A .
Na etapa A → B , trata-se de um trabalho adiabático, portanto podemos utilizar tanto a
equação (4.29) como a equação (4.30), vamos usar aqui a primeira opção e fica sugestão
para você conferir o resultado com a outra equação.
WA→ B = nCMV (TA − TB ) , o número de moles pode ser determinado através da equação de
PAVA 7 5
estado dos gases ideais, onde n = , além disso vimo que para γ = → CMV = R ,
RTA 5 2
logo:
5 PV 5 (1, 013 × 105 N / m 2 )(1, 0 × 10−3 m3 )
WA→ B = A A (TA − TB ) = (−96 K ) = −81J .
2 TA 2 300 K
O trabalho na etapa B → C é nulo, WB →C = 0 , porque o volume não varia.
Na etapa C → A , a pressão é constante, então utilizamos simplesmente a equação:
WC → A = P (VA − VC ) = (1, 013 × 105 N / m 2 )(0,5 × 10−3 m3 ) = 50, 6 J .
Portanto, o trabalho total é dado por:
Wtotal = WA→ B + WC → A = −81J + 50, 6 J = −30, 4 J .
Observe que o trabalho total é negativo, isso condiz com o fato de ser um processo
cíclico no senti anti-horário, como discutido anteriormente.
4.8 Resumo
21
b) Isocórico: o volume permanece constante, em geral, Wi→ f = 0 ;
c) Isobárico: a pressão permanece constante;
d) Isotérmico: a temperatura permanece constante;
e) Cíclico: o sistema retorna ao estado inicial, ∆U ciclo = 0 .
- A equação de estado dos gases ideais é dada por:
PV = nRT ,
onde R = 8,314 J / mol.K é a constante universal dos gases ideais e n é o número de
moles.
- A energia interna de um gás ideal depende apenas da temperatura: U = U (T ) .
22