ÉTICA PROFISSIONAL DO FISIOTERAPEUTA A RESPEITO DA
CONDUTA CINESIOLÓGICA DO OMBRO
Arileide Pereira da Conceição¹; Jorge Tude de Almeida Neto¹; Maria Alves de Santana¹; Thais Araújo de Oliveira²; Vanessa Rodrigues Gomes³
¹Graduandos do Semestre II - ²Graduanda do Semestre III - ³Graduanda do Semestre VI do
Curso de Fisioterapia - Faculdade Regional de Alagoinhas - UNIRB, 2017
Resumo
O trabalho propõe uma discussão sobre a conduta ética do fisioterapeuta relacionada a
intervenção em afecções decorrentes do complexo do ombro no âmbito da cinesiologia, de modo que suas práticas devem nortear os valores agregados ao conhecimento cientifico, uma condição necessária para atuação competente. Em que o profissional tem o dever de aprimorar o seu conhecimento e atualizar-se para assegurar um atendimento satisfatório no exercício da sua função, visando a ressocialização e integração do indivíduo às condições regulares antes praticadas. Para elaboração do trabalho utilizou-se como metodologia, a pesquisa de revisão bibliográfica, com método dedutivo e qualitativo, que possibilitou através das leituras reconhecer e identificar a articulação do ombro por apresentar características próprias quanto a sua estabilidade e função, permitindo maior uso regular nas atividades do dia a dia, consequentemente, esta estrutura se torna susceptível a lesões. Portanto, a conduta do profissional de fisioterapia deve obedecer às normas e regras regidas pelo código de ética numa perspectiva de promover a saúde e a qualidade de vida.
O termo cinesiologia remonta ao grego antigo (Kínesis: movimento; logos: estudo) e
significa a ciência que estuda e analisa o movimento. Desde a antiguidade a compreensão do movimento humano fascinava o homem, uma vez que sua história evolutiva o moldou de acordo com a sua sobrevivência. A partir dessa concepção, muitos dos grandes filósofos e físicos da humanidade, contribuíram com grandes descobertas, deixando vários registros que com o passar dos séculos impulsionaram o desenvolvimento de inúmeros avanços pertinentes à análise anatômica e fisiológica do corpo humano. Dentre várias descobertas a introdução de termos que são utilizados até hoje na terminologia da artrologia, como diartrose e sinartrose, promovendo dessa forma o reconhecimento da cinesiologia como uma ciência (PORTELA, 2017). A essência da cinesiologia é compreender o movimento, as forças externas e internas que atuam no corpo humano, respeitando sempre os seus limites e seu desempenho. Nesse contexto, podemos destacar o complexo do ombro como modelo a ser discutido. A estrutura articular do ombro permite maior liberdade de amplitude de movimento de todo o corpo humano, pois o seu formato esferoide (bola e soquete) é responsável por essa mobilidade (FLOYD, 2016). Entretanto, há pouca estabilidade óssea em razão desta forma anatômica, porque há discrepância entre o tamanho da cabeça do úmero, da cavidade rasa e inclinada glenoidal, ocasionando a sua frouxidão capsular, de forma que o ajuste dessa articulação se dá através da sustentação dos tecidos moles circundantes; ligamentos e tendões trabalham em sincronia com a cápsula da articulação do ombro, afim de garantir sua estabilidade (METZKER, 2010). Uma das especificidades do ombro é o fato de que, durante o movimento, sua estabilidade advém não apenas dos ligamentos que restringem os movimentos finais, mas também dos músculos que, simultaneamente, produzem movimentos para essas mesmas articulações que estão estabilizando. Os músculos desta região participam significativamente em movimentos de habilidades específicas dos membros superiores, tais como: escrita, empurrar, puxar, arremessar, entre outras. Por isso é essencial que o profissional fisioterapeuta, no processo de prevenção, promoção e reabilitação dessa estrutura descrita, deve ter o domínio do conhecimento de todas as estruturas que compõem a articulação do ombro (HOUGUM & BERTOTI, 2014). O Fisioterapeuta possui um papel primordial na intervenção, de modo a realizar uma avaliação minuciosa, detectando variáveis que contribuam para o surgimento da lesão, traçando um plano de ação de acordo com a fase da doença, adotando condutas e procedimentos adequados a cada indivíduo. As condutas desenvolvidas por esse profissional devem seguir o regulamento do Código de Ética da Fisioterapia, que tem por finalidade aplicar os conhecimentos requeridos das suas capacidades, conforme seu Conselho Federal. Eles devem realizar seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e respeitando a margem dos valores éticos, buscando a resolução do problema de saúde tanto coletivo como individual (FIGUEIREDO, 2013). Segundo a resolução do COFFITO nº 424, o Código de Ética e Deontologia visa garantir em seus termos vigentes, autonomia para este profissional exercer um importante papel social na busca da qualidade de vida a partir da prevenção, promoção e reabilitação das lesões que acometem a estrutura do ombro frequentemente utilizado nas funções diárias a partir do conhecimento fisioanatômico. O trabalho tem como objetivo geral promover uma discussão acerca da ética profissional do fisioterapeuta a respeito da conduta cinesiológica do ombro.
Metodologia
Na construção do trabalho, utilizou-se como metodologia, a pesquisa de revisão
bibliográfica que se realiza a partir de registros disponíveis, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses etc. Elaborado através do método dedutivo e qualitativo; dedutivo é um método lógico que pressupõe que existam verdades gerais já afirmadas e que sirvam de base para se chegar através dele a conhecimentos novos; a abordagem qualitativa opõem-se ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências, já que as ciências sociais tem sua metodologia própria, este método recusa o modelo positivista, uma vez que o pesquisador não pode fazer julgamentos nem permitir que seus preconceitos e crenças contaminem as pesquisas (LAKATOS & MARCONI, 2011). As informações foram construídas por meio de estudo sistematizado, desse modo possibilitando ao leitor uma percepção pontual dos aspectos abordados sobre o assunto proposto. As fontes pesquisadas para construção do trabalho foram Scientific Electronic Library Online (SciELO), Google Acadêmico, Biblioteca da Universidade de Brasília, acervo e livros da biblioteca da UNIRB, dos anos de publicação entre 2011 e 2016, sendo excluídos os materiais que possuem mais de seis anos e de língua estrangeira. Utilizando-se das palavras chaves: cinesiologia, fisioterapia e normatização. Tendo como proposta reconhecer as condutas éticas baseadas no código do fisioterapeuta, atrelado as práticas adotadas no atendimento do complexo do ombro. Resultados e Discussões
A articulação do ombro é frequentemente lesionada por conta do seu desenho
anatômico e da sua funcionalidade regular nas atividades diárias. Vários fatores contribuem para proporcionar uma instabilidade a esta articulação. No entanto a cápsula frouxa e fina recobre a borda glenoidal até o colo anatômico do úmero, revestida internamente por uma membrana sinovial que encontra-se reforçada por vários ligamentos resistentes nos planos superior e inferior garantindo seu funcionamento adequado (METZKER, 2010). O complexo articular do ombro é composto por quatro articulações, sendo três verdadeiras e uma pseudoarticulação, respectivamente: esternoclavicular, acromioclavicular, escapuloumeral e escapulotorácica de modo que, essas estruturas apresentam amplitudes e ângulos específicos que estão presentes nos movimentos realizados pelas estruturas ósseas (HOUGUM & BERTOTI, 2014). A amplitude total da articulação do ombro é alcançada, em virtude da contribuição do cíngulo do membro superior. A musculatura do cíngulo formada pelo trapézio, romboides, levantadores da escápula, peitoral menor e serrátil anterior é essencial para produzir um efeito estabilizador na escápula, a fim de que ela funcione como um eixo de sustentação a partir da qual os músculos da articulação do ombro possam gerar força para realizar os mais variados movimentos que envolvem o úmero. Dessa forma eles possuem uma relação sinergística, denominada de ritmo escapuloumeral (FLOYD, 2016). Conforme Figueiredo et al. (2013) o profissional de Fisioterapia tem o dever de aprimorar o seu conhecimento e atualizar-se para assegurar um atendimento satisfatório no exercício da sua função, visando a ressocialização e integração do indivíduo às condições regulares antes praticadas. Este profissional deve conhecer e identificar com propriedade as estruturas envolvidas provenientes de afecções ou irregularidades na dinâmica fisioanatômica. Nesse contexto é imprescindível conhecer o complexo do ombro e os elementos que o compõem destacando relação harmoniosa entre eles. De modo geral, a conduta ética profissional está atrelada aos padrões convencionais estabelecidos pela sociedade e pelo grupo de trabalho em que o indivíduo se insere. Consequentemente há elementos que são universais, por isso aplicáveis a qualquer atividade profissional como a honestidade, responsabilidade, competência, igualdade, entre outros. No que diz respeito à ética, cada profissão possui seu próprio código a obedecer, cujo principal objetivo é nortear os profissionais de uma mesma categoria, assim como da relação entre eles e a sociedade, tendo fundamentação legal para executar sua atividade sem desrespeitar os direitos humanos. De acordo com a resolução nº 424, de 08 de Julho de 2013, do Código de Ética do Fisioterapeuta, capítulo 2 - das responsabilidades fundamentais, no seu artigo 4º:
“O Fisioterapeuta presta assistência ao ser humano, tanto no plano individual quanto
coletivo, participando da promoção da saúde, prevenção de agravos, tratamento e recuperação da sua saúde e cuidados paliativos, sempre tendo em vista a qualidade de vida, sem discriminação de qualquer forma ou pretexto, segundo os princípios do sistema de saúde vigente no Brasil.”
As normatizações estabelecem uma conduta de responsabilidades profissionais
devendo o fisioterapeuta ter um embasamento das suas práticas no seio das formulações apresentadas por esse documento. Em Fisioterapia, seu código de ética determina que este profissional utilize recursos terapêuticos nos atendimentos e assistências, participando da promoção, tratamento e recuperação da saúde do indivíduo, explorando todos os conhecimentos técnicos e científicos a seu alcance para prevenir ou minorar o sofrimento do ser humano (COFFITO, 2013). Ainda de acordo com a resolução nº 424 do COFFITO no capítulo 2 supracitado, artigo 9º, alínea III: constituem-se deveres fundamentais do fisioterapeuta segundo sua área de atribuição específica, aprimorar, aperfeiçoar contínua e permanentemente o seu conhecimento para promover a saúde e prevenir condições que impliquem em perda da qualidade da vida do paciente/cliente/usuário. O ato ou conduta profissional que infrinja as regulamentações previstas legalmente que amparam o exercício da função do fisioterapeuta implica em incompetência, desse modo o profissional poderá responder de acordo com a gravidade das suas práticas, podendo ser afastado ou destituído da função. Visto isso o Código de Ética não é um mero manual; e sim um conjunto de normas que orientam indivíduos que compartilham associação a determinado corpo sócio-profissional e, por integrar o campo do Direito, não exigem convicção pessoal às suas normas, pois elas obrigatórias, impostas e comportam coerção estatal (FIGUEIREDO et al., 2013).
Considerações Finais
Devido a ampla capacidade de movimentos exercidos pela articulação multiaxial do
ombro, ela pode estar mais vulnerável às afecções provenientes das atividades funcionais cotidianas. De acordo com o Código de Ética de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, o fisioterapeuta apresentará competência para realizar a anamnese decorrendo de um prognóstico seguro para atuação com base no conhecimento adquirido através de uma consciência responsável, para o desenvolvimento de suas atividades funcionais, de modo a garantir assistência eficiente e precisa em virtude do domínio científico denotado por suas condutas. Sendo assim esse profissional deve conhecer e identificar com propriedade as estruturas envolvidas provenientes de afecções ou irregularidades na dinâmica fisioanatômica, em que o programa de reabilitação deverá perpassar por princípios que resultem na interligação entre anatomia e a cinesiologia da estrutura acometida numa compreensão do grau de debilidade e do potencial de recuperação do indivíduo.
Referências
CONSELHO FEDERAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL. Resolução
nº424. Código de Ética e Deontologia da Fisioterapia. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 08 de Jul. de 2013. Seção I. Disponível em <http://coffito.gov.br/nsite/?page_id=2346> Acesso em 03 de junho de 2017.
FLOYD, R.T. Manual de cinesiologia estrutural. 19 ed. Barueri, São Paulo:
Manole, 2016.
FIGUEIREDO, L. C. Abordagens bioéticas e deontológicas do código de ética
profissional para fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais no Brasil. 2013. Disponível em <http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/15026/1/2013_LeandroCorreaFigueiredo.p df> Acesso em 06 de junho de 2017. HOUGLUM, Peggy A.; BERTOTI, Dolores B. Cinesiologia Clínica de Brunnstrom. 6 ed. Barueri, São Paulo: Manole, 2014.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. 6ed.
São Paulo: Atlas, 2011.
PORTELA, J. P. Cinesiologia. 1 ed. Sobral, Ceará: INTA, 2016. Disponível em
<http://md.intaead.com.br/geral/cinesiologia/pdf/Cinesiologia.pdf>Acesso em 28 de maio de 2017.
METZKER, C. A. B. Tratamento conservador na síndrome do impacto no ombro.
Fisioter. mov, v. 23, n. 1, p. 141 - 151, 2010. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103- 51502010000100014&lng=en&nrm=iso&tlng=pt > Acesso em 28 de maio de 2017.