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O

e seus bairros

(5a Edição)
revisada e ampliada

Carlos Bezerra Cavalcanti

Recife - 2012
Copyright ©
Carlosbezerracavalcanti
Contato (e-mail): carbezerra2@yahoo.com.br
(81) 3426-6782 / 9336-1868

Projeto Gráfico e capa:


Sérgio Siqueira

Revisão:
Do autor

C397r Cavalcanti, Carlos Bezerra, 1949-


O Recife e seus bairros /Carlos Bezerra Cavalcanti.- 5.e'd. revista
e ampliada. - Camaragibe : CCS Gráfica e editora, 2012.
391p.: il.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-60917-21-1

1. RECIFE (PE) - HISTÓRIA. 2. BAIRROS (P E )- RECIFE (PE)


- HISTÓRIA. 3. RECIFE (PE) -DESCRIÇÃO -VISITAS. 4. RECIFE (PE):-
- GUIA. I. Título.

CDU 918.34
CDD 981.34
P eR -B P E 12-0197
ÍNDICE

Introdução.........................................................................................9
Aflitos ..........................................................................................220
Afogados...................................................................................... 299
Água Fria.......................................................................................296
Alto do Mandu............................................................................358
Alto do Pascoal...........................................................................365
Alto José Bonifácio..................................................................... 357
Alto José do Pinho............................................................. ........298
Apipucos ..................................................................................... 376
A reias............................................................................................ 316
Arruda ..........................................................................................294
■B arro.............................................................................................. 319
Beberibe ........................................................................................362
Boa Viagem ................................................................................. 261
Boa V ista.......................................................................................130
Bode................................................................................................ 255
Bomba do Hemetério................................................................ 364
Bomba Grande............................................................................ 332
Bongi.............................................................................................. 275
Brasília Teimosa.......................................................................... 258
Brejo da Guabiraba.....................................................................361
Brejo de Beberibe.........................................................................370
Cabanga........................................................................................257
Caçote............................................................................................ 317
Caiara.............................................................................................330
Cajueiro.......................................................................................... 367
Campina do Barreto................................................................... 365
Campo Grande ........................................................................... 244
Capunga........................................................................................193
Casa Am arela.............................................................................. 347
Casa Forte...................................................................................... 278
Cavaleiro........................................................................................387
Caxangá......................................................................................... 340
Chão de Estrelas...............................................................................365
Cidade Universitária....................................................................... 335
Coelhos...............................................................................................158
Coque..................................................................................................272
Coqueiral........................................................................................... 386
Cordeiro............................................................................ ........... 321
Córrego do Jenipapo....................................................................... 361
Curado............................................................................................... 386
Derby...................................................................................................183
Dois Irmãos.......................................................................................379
Dois Unidos...................................................................................... 359
Encanta Moça....................................................................................255
Encruzilhada.....................................................................................235
Engenho do Meio..................................... .......................................333
Espinheiro......................................................................................... 289
Estância.............................................................................................. 316
Fundão..........................................................................................367
Graça.................................................................................................. 195
Hipódromo........................................................... :......................247
Ibura....................................................................................................371
Ilha do Leite.................................................... ..................................161
Ilha do Retiro....................................................................................212
Imbiribeira......................................................................................... 312
IPSEP............................................................................................. 311
Iputinga............................................................................................. 329
Jaqueira......................... .................................................................... 228
Jardim São Paulo............................................................................. 317
Jiquiá........................................ .......................... ............................... 306
Joana Bezerra............................................................. ......... .......162
Jordão...... ...........................................................................................374
Linha do Tiro....................................................................................368
Macaxeira......................................................................................357 ~
Madalena........................................................................................... 205
Mangabeira....................................................................................... 349
Mangueira......................................................................................... 273
Manguinho........................................................................................202
Monteiro................... .286
Morro da Conceição .350
Mustardinha............ .274
Nova Descoberta.... .356
Paissandu.................. .160
Pamamirim.............. .233
Passarinho................ .369
Peixinhos.................. .370
Pina..................... :...... .249
Piranga..................... .303
Poço da Panela........ .283
Ponto de Parada..... .293
Porto da Madeira.... .297
Prado.......................... .211
Recife........................ ...21
Remédios.................. .303
Rosarinho................. .224
San Martin................ .277
Sancho....................... .385
Santana..................... .232
Santo A m aro............ .163
Santo Antonio........... ...83
São José..................... . .115
Setúbal...................... . .272
Sítio dos Pintos........ .346
Soledade................... . ,151
Tamarineira............... ,291
Tejipió.......................... ,384
T orre........................... ,214
Torreão..................... . ,243
Torrões...................... ,327
Totó........ .................... ,387
V árzea...................... . ,337
Vasco da Gama....... . ,354
Vila da COHAB....... ,373
Zumbi........................ . ,219
Bibliografia................ ,389
Carlos Bezerra Cavalcanti

INTRODUÇÃO

A área do Recife abrange 219, 493 km2, o que


corresponde à cerca de 0,2% da extensão territorial do Estado
de Pernambuco.
Sua população totaliza cerca de mil e quinhentos
habitantes, no entanto, a de sua área urbana (O Grande Recife)
é iima das maiores do país.
O centro da cidade está situado, a dois metros acima do
nível do mar, segundo levantamento altimétrico realizado
pelo Engenheiro Victor Foumié, quando Diretor de Obras
Públicas, (1874-75) com aferição nos seguintes pontos bases,
posteriormente, anotados pelo pesquisador Napoleão
Barroso, em " Cartas Recifenses":

1. No frontispícid da Matriz de N. S. da Conceição


dos Militares, na Rua Nova - 2,62 m.
2. Matriz de N.S. do Rosário dos Pretos - 4,16 m.
3. Igreja da Ordem Terceira de São Francisco - Rua do
Imperador -2,8m
4. Ginásio Pernambucano - Rua da Aurora - 2,81 m
5. Rua do Riachuelo, na casa n. 677 - 3,54 m
6. Av. Conde da Boa Vista - Sobrado n. 1.242 -3,63m,
entre outros.

A hidrografia do Recife é tão importante quanto sua


história, não é a toa que ela é chamada de cidade d as águas,
pois, além de se encontrar praticamente no mar, ela é a foz de
dois importantes rios: O Capibaribe e o Beberibe, além desses,
segue-se o Tejipió que chega às terras centrais da cidade, no
bojo do Capibaribe. Vejamos, pois cada um desses rios:

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O Recife e seus bairros

Capibaribe - Rio das Capivaras - Existem divergências


quanto ao município onde ele nasce porém o certo é que tem
origem nos confortes da Serra do Jacarará, no olho d'água do
gavião e lagoa do angu. Corta vários municípios do Agreste e
da Mata Centro de Pernambuco até chegar ao Recife através
do bairro da Várzea de onde sai margeando e é margeado pelos
bairros de Caxangá, Apipucos, Monteiro, Casa Forte, Poço da
Panela, Santana, Jaqueira, Torre, Graça, e Madalena, quando
bifurca em dois braços, o do lado direito - que segue rumo ao
sul e à direita, era chamado antigamente de Rio dos Afogados
que vai confundir-se com o Rio Tejipió, lançando suas águas
na bacia do Pina. O outro, primitivamente denominado de
Rio dos Cedros, corre banhando as localidades dos Coelhos
e da Boa Vista, separando-as dos bairros de Santo Antonio e
São José até encontrar-se com o Beberibe, na parte de trás do
Palácio do Governo.
Beberibe - Tem origem no município de São Lourenço da
Mata no lugar denominado "Cara de Cavalo", daí segue em
direção Oeste e vai até a Cova da Onça de onde deflete para o
Poço da Panela, seguindo serpenteando entre os municípios de
Olinda e do Recife, passando por Beberibe, Porto da Madeira
Peixinhos e Salgadinho de onde converge para encontrar-se
com o Capibaribe no ponto que citamos anteriormente.
Tejipió - Nasce um pouco abaixo do bairro a quem deu
o nome, na antiga localidade Mamucaia. Corre nas divisas
do sul e, prosseguindo, recebe o ribeiro Pacheco, depois de
adentrar pelas terras dos antigos engenhos Peres, Uchoa
e Ibura ele passa a receber água do riacho Jiquiá, dai segue
serpenteando até Afogados e vai despejar na Bacia do Pina.
Coordenadas Geográficas: Latitude 8° 04' 03" S e
Longitude 34a 55' 00" W ■
Limites - O Município do Recife se limita: a Leste, com o
Oceano Atlântico, ao Norte e Noroeste com Olinda e a Oeste
com os Municípios de Camaragibe e São Lourenço da Mata e
a Sudeste e Sul, com Jaboatão dos Guararap.es.

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Carlos Bezerra Cavalcanti

Conforme preceitua a Lei Municipal n.B 9. 691, 12 de


Março de 1537, foi a data escolhida como a da criação da
cidade do Recife, uma vez que o Foral de Duarte Coelho a ele
se refere, pela primeira vez, justamente naquela dia.
"Povo", era a sua denominação, com seus casebres, em
volta da Ermida de Santelmo, o Santo protetor dos pescado­
res que, ao se perderem em tenebrosas tempestades, eram por
ele guiados, através de um fogo azul. De ermida, a capela pas­
sou a Matriz do Corpo Santo, da Freguesia de São Frei Pedro
Gonçalves , demolida por ocasião dos trabalhos de reforma
que "modernizaram" todo o bairro portuário.
Embora também importante, principalmente, sob
o ponto de vista econômico, o fluxo de crescimento do
Recife no sentido centrípeto (periferia-centro), foi menos
marcante que o fluxo centrífugo (centro-periferia) ou seja, a
influência financeira e a transposição populacional no sentido
rural-urbano foi menos significativa que a dispersão dos
moradores, no sentido urbano-rural, não se devendo negar,
que os núcleos urbanos do Recife brotaram de forma social,
religiosa e financeiramente, dispersas e independentes,
porém, sempre atrelados político, social e economicamente,
aos bairros centrais.
Mesmo equiparando os dois sentidos, o Profs José
Antônio Gonsalves de Melo (O Recife-QUATRO SÉCULOS
DE SUA PAISAGEM) pgs. 266/67, trata desse assunto da
seguinte forma:
"Assim, a área que viria a ser a do Recife, tem um
povoamento disperso em vários núcleos: o do porto, já
defendido desde o século XVI pelo Forte de São Jorge e, no
início do seguinte, pelo do Picão, sobre os arrecifes da barra
principal; o da outra banda, na ilha de Antônio Vaz; e o de vários
engenhos localizados de um lado e outro do rio, na Várzea
do Capibaribe: o da Madalena, o da Torre, o de Casa Forte, o
do Monteiro, o de Apipucos, e tantos outros. Esses engenhos
eram, realmente, núcleos de população, pois contavam cerca

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O Recife e seus bairros

de 100 a 200 moradores cada um: o senhor de engenho com


sua família; os lavradores, que cultivavam pequenas parcelas
da área dos canaviais e que formavam torna classe média na
hierarquia da sociedade açucareira, também com suas famílias;
o capelão; os profissionais das várias atividades, sobretudo
industriais do engenho: feitores, mestres de açúcar, banqueiros,
escumeiros, purgadores, caixeiros, carreiros, etc... abaixo de
todos, os escravos dos serviço doméstico e do campo, é a prova
de que esses engenhos constituíram núcleos de população, é
que muitos deles vieram a se transformar em bairros.
Após a ocupação holandesa, o Recife desenvolveu-se
rapidamente. Até então, a capital de Pernambuco estava
em Olinda: a sede da administração da Capitania, política,
fazendária, jurídica, militar, etc.; os conventos de varias
ordens religiosas; o centro do comercio com Portugal e
outros países da Europa e com as demais capitanias do Brasil.
Com os holandeses todas essas: atividades transferem-se
para o Recife. Transferem-se e ampliam-se. Os holandeses
tinham uma grande tradição urbana e, na grande maioria, se
estabeleceram no Recife, de preferência na zona açucareira
de Pernambuco. Além disso, as necessidades militares, da
administração civil e do comercio, trouxeram para aqui
número avultado de holandeses, alemães, franceses, ingleses,
escoceses, dinamarqueses, etc., a serviço da Companhia da
índia Ocidental ou sob a jurisdição desta. Um recenseamento
feito em 1645 revela que no Recife residiam 8.000 pessoas.
Expulsos os holandeses, tentou-se transferir para Olinda
a sede do Governo. Mas, não se obteve o apoio do Rei,
que determinou que o governador e as demais autoridades
residissem ali, na verdade, o Recife oferecia tamanha
superioridade locacional, de comodidade e de serviços sobre á
antiga capital, que as determinações régias não prevaleceram.
E se o Recife só veio a ser oficialmente capital de Pernambuco
em 1827, isso decorreu da inércia da burocracia.

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Carlos Bezerra Cavalcanti

Com a expansão da população, no começo do século


XVm, iniciou-se a ocupação da área da Boa Vista, através
do aterro que veio a ser a Rua da Imperatriz. Ficava assim
incorporado ao perímetro urbano mais um bairro recifense, e
a cidade se apresenta, desde então, com sua fisionomia atual,
excluindo-se, é claro, os enormes aterros que foram sendo
realizados ao longo dos tempos, alguns dos quais deram
origem a trechos bem característicos de nossa cidade: todo
espaço entre a Rua do Bom Jesus e o Cais do Apoio, todo o
terreno entre a antiga Rua das Florentinas e a Rua do Sol, toda
a Rua da Aurora e daí para trás, até a Rua do Hospício, etc...
Na segunda metade do século XVIII divulgam-se
informações sobre a importância medicinal dos banhos
do Rio Capibaribe. Segundo uma noticia da fundação do
povoado do Poça da Panela, os médicos do Recife, por volta
de 1758, por observações feitas, concluíram que havia no uso
de banhos no rio Capibaribe grande vantagem para debelar
certa febre epidêmica que desde 1746 aparecera aqui. Com
esta descoberta e o gosto da população pelos banhos de rio,
as grandes propriedades ribeirinhas começaram a sofrer as
primeiras divisões e foram surgindo os sítios ou chácaras
recifenses, muitos deles com suas capelas, na sua maioria
do século XVIII: a da Sagrada Família, no Chora Menino, a
de São José do Manguinho, a dos Aflitos, a da Jaqueira, a do
Rosário, etc."
Já o movimento de ocupação popular da então periferia do
Recife só teve início a partir de 1931, quando foi registrada, em
cartório, a Liga Mista dos Proprietários da Vila de São Miguel,
em Afogados. Dos quarenta e cinco mil mocambos que existiam
no Recife, do início dessa década, cerca de 12,5 mil foram
demolidos entre 1939/45, esses localizados, principalmente nos
mangues das proximidades do futuro Canal Derby/Tacaruna e
que iriam permitir justamente com a dragagem desse último, a
drenagem dos alagados do centro da cidade.

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O Recife e seus bairros

É oportuno frisar que, não obstante a derrubada de


todos esses mocambos, apenas cerca de cinco mil casas
foram construídas para substituí-los e atender à crescente
demanda por habitação, fazendo com que o enorme número
de excedentes fosse deslocado para as áreas urbanas
periféricas que iam surgindo, principalmente nos morros da
zona noroeste, dando origem aos atuais bairros do Morro da
Conceição, do Alto de Santa Teresinha, do Vasco da Gama,
do Alto José Bonifácio, de Nova Descoberta e de outros
núcleos de palafitas, nas margens da Rua da Aurora, Ponte do
Maduro, dos Coelhos, do Coque, e das Hhas de Joaneiro, de
João de Barros, e do Chié.
Em termos geológicos e geográficos, os bairros centrais
da cidade (Recife, Santo Antônio, São José, e também Boa
Vista), são o resultado do assoreamento de matérias aluviais
transportadas, principalmente, pelos rios Capibaribe e
Beberibe e de numerosos aterros realizados pelo homem em
diversas épocas e que ainda continuam e, ao que tudo indica,
continuarão, estreitando os caminhos fluviais e alargando as
ilhas e penínsulas.
A divisão dos bairros surgiu, inicialmente, embora sem
delimitar rigorosamente as áreas, com as escolhas religiosas
das "FREGUESIAS", primeiro a de São Frei Pedro Gonçalves,
que hoje corresponde ao bairro do Recife, depois as de Santo
Antônio, São José e a da Boa Vista, que, com o passar do
tempo, foi aumentando, tomando terras de Olinda, assim
vieram as Freguesias de Santo Amaro, de Afogados, Várzea,
Poço da Panela, da Graça, posteriormente, subdividas em
muitas outras, como Encruzilhada, Campo Grande, Cordeiro,
Pina, e Boa Viagem.
Somente a partir de 1936, com "O Regulamento da
Construção" é que surgiu o primeiro conjunto de normas
articuladas e que abrangia os elementos fundamentais de
produção da cidade. Este regulamento dividiu o Recife em
quatro zonas: a principal, a urbana, a suburbana e a rural,

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Carlos Bezerra Cavalcanti

e definiu para cada uma dessas zonas usos permitidos,


proibidos e tolerados.
Em 1949, o zoneamento atualizava as delimitações das
quatro zonas. Essas normas permaneceram vigorando até
serem substituídas pela lei de 19 de outubro de 1961, que
dividiu o Município do Recife em três setores: Urbano,
Suburbano e Rural, cada um, subdividido em zonas e núcleos
denominados de acordo com suas utilizações. Do Setor
Urbano faziam parte 3 Zonas Comerciais: (ZCl-Centro, ZC2-
Encruzilhada, ZC3- Afogados), a Zona Portuária ZPl=Porto,
as Zonas Industriais (ZI4-Santo Amaro e parte da ZI5-São José/
Cabanga), e a Zona Residencial (ZR2, de uma Zona Portuária
(ZP2-aeroporto), uma Zona Comercial (ZC4-Casa Amarela) e
três Zonas Industriais (ZIl-Afogados/Mustardinha, parte da
ZI3-Casa Amarela e parte da ZI5-Imbiribeira). O Setor Rural
abrangia todas as demais localidades.
Em 1997, chegou-se, finalmente, a atual divisão dos
bairros que teve origem com a lei ns 16.293, de 4 de fevereiro
daquele ano, distribuindo a área da cidade em 6 Regiões
Político-Administrativa (RPAs) que, por sua vez, englobariam
os 94 bairros, estabelecidos pelo decreto de 26 de outubro de
1988, da seguinte forma:
A cada RPA corresponde uma sede regional, assim
distribuída:
RPA-1_ (onze bairros)
Recife, Santo Antonio, São José, Boa Vista, Santo Amaro,
Coelhos, Soledade, Joana Bezerra, Cabanga, Ilha do Leite e
Paissandu.
RPA- II_ ( dezoito bairros)
Arruda, Campina do Barreto, Campo Grande,
Encruzilhada, Ponto de Parada, Hipódromo, Peixinhos,
Rosarinho, Torreão, Água Fria, Bomba do Hemetério, Alto
Santa Terezinha, Cajueiro, Fundão, Beberibe, Dois Unidos,
Linha do Tiro e Porto da Madeira.

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O Recife e seus bairros

RPA-III_ (vinte e nove bairros)


Aflitos, Alto do Mandu, Sítio Grande, Apipucos, Casa
Amarela, Casa Forte, Derby, Dois Irmãos, Espinheiro, Graça,
Jaqueira, Monteiro, Pamamirim, Poço da Panela, Tamarineira,
Sítio dos Pintos-São Bráz, Alto José Bonifácio, Alto José do Pinho,
Mangabeira, Morro da Conceição, Vasco da Gama, Brejo da
Guabiraba, Brejo do Beberibe, Córrego do Jenipapo, Guabiraba,
Macaxeira, Nova Descoberta, Passarinho e Pau Ferro.
RPA-IV_ (doze bairros)
Cordeiro, Hha do Retiro, Iputinga, Madalena, Prado,
Torre, Zumbi, Engenho do Meio, Torrões, Caxangá, Cidade
Universitária e Várzea.
RPA- V_ (dezesseis bairros)
Afogados, Bongi, Mangueira, Mustardinha, San Martin,
Areias, Caçote, Estância, Jiquiá, Barro, Coqueiral, Curado,
Jardim São Paulo, Sancho, Tejipió, Totó.
RPA- VI- (oito bairros)
Boa Viagem, Pina, Brasília Teimosa, Imbiribeira, IPSEP,
Ibura, Jordão e Ibura de Cima.
Ao realizarmos este trabalho bibliográfico tivemos
o objetivo de dissertar sobre cada uma das localidades
Recifenses, de forma mais compartimentada e, ao mesmo
tempo, abrangente possível.
Essa abordagem seguirá o roteiro das RPAs, focalizando
cada bairro de forma isolada, basicamente, sobre três aspectos,
quais sejam:
1. Histórico.
2. Turístico.
3. Pitoresco.
Começaremos com o Bairro Portuário do Recife, nosso
primeiro núcleo urbano, passando, posteriormente, através
da Ponte Maurício de Nassau, para o Bairro de Santo Antônio,
e da Ponte 12 de Março, no local da antiga Giratória, para o
Bairro de São José, depois, virá a ponte da Boa Vista, também

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Carlos Bezerra Cavalcanti

nassoviana, que nos levava ao antigo aterro da Boa Vista,


hoje bairro do mesmo nome.
Em seguida falaremos das povoações mais afastadas e
antigos arrabaldes como: Apipucos, Poço da Panela, Casa Forte,
Dois Irmãos e das localidades menos distantes do centro como:
Graça, Madalena, Torre, Santo Amaro e Encruzilhada, entre
outras. Nessa oportunidade, realizaremos uma verdadeira
viagem pelo Recife, em seus tempos pretérito e presente,
ou seja, numa visão histórica (do passado) e turística (da
atualidade), cultuando esta maravilhosa cidade, cognominada
de "Veneza Americana", cada vez mais Pernambucana,
entrecortada pelos rios e protegida pela amurada natural,
que lhe deu o nome e que se faz esbarrar nas cálidas águas
oceânicas, contendo a fúria atlanticana de Netuno, jogando ao
ar espumas flutuantes como um "champanhe" ao ser aberto
para festejar a gênese de O RECIFE E SEUS BAIRROS.

Recife, 12 de Março de 2012

Carlos Bezerra Cavalcanti

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O Recife e seus bairros

NOVENTA E QUATRO BAIRROS FAZEM O RECIFE

1. Aflitos 50. Imbiribeira


2. Afogados 51. Iputinga
3. Água Fria 52. Ipsep
4. Alto do Mandu 53. Jaqueira
5. Alto Jo s é Bonifácio - 54. Jardim S ã o Paulo
6. Alto Jo s é doPinho 55. Jiquiã
7. Alto Santa Terezinha 55. Jordão
8. Apipucos 57. Linha do Tiro
9. Areias 58. Macáxeira
10. Arruda 59. Madalena
11. Barro SÒ. Mangabeira
12. Beberibe 61. Mangueira
13. Boa Viagem 62. Monteiro
14. Boa Vista 63. Mcrro da Conceição
15. Bòmba do Hemetério 54. Mustardinha
16. Bongí 65. Nova Descoberta
17. Brasília Teimosa 66. Paissandu - ----
18. Brejo da Guabiraba 67. Pamamirim
19. Brejo de Beberibe 68. Passarinho
20. Cabanga 69. Pau Ferro
21.rCaçote 70. Peixinhos
22. Cajueiro 71. Pina
23. Campina do Barreto 7 2 . Poço da Panela
24. Campo Grande 7 3 . Ponto de Parada
25. Casa Amarèla 74. Porto da Madeira
26. Casa Forte 75. Prado
27. Caxangã 76. Recife
28. Cidade Universitária 77. Rosarinho
29. Coelhos 78. Sancho
30. Cohab 79. San Martin
31. Coqueiral 80. Santana
32. Cordeiro 81. Sanfo Amaro
33-,-Córrego do Jenipapo 82. Santo Antônio
34. Curado 33. São Jo s é
35. Derby 84. Sítio dos Pintos
36. Dois Inmãos 85. Soledade
37. Dois Unidos 8S. Tamarineira
33. Encruzilhada 87. Tejipió
39. Engenho do Wisio 88. Torre
40. Estância 89. Torreão
41. Espinheiro 90. Torrões
42. Fundão 91. Totò
43. Graças 92. Várzea
44. Guabiraba 93. Vasco da Gama
45. Hipódromo S4. Zumbi
46. Ibura
47. Ilha do Leite
48. Ilha do Retiro Fonte: DIRCON/PCR
49. Ilha Joan a Bezerra Divisão d e Geoprocessamento

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Carlos Bezerra Cavalcanti

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Carlos Bezerra Cavalcanti

O BAIRRO DO RECIFE

Planta atualizada

Da amurada que encantou Charles Darwin e


deslumbrou Maria Graham e Tollenare, nasceu o Recife
e, mais precisamente, o porto, esse ancoradouro por onde
escoava o produto da atividade agro-açucareira de Olinda e,
posteriormente, de quase todo o nordeste brasileiro.
O Bairro do Recife ou de São Frei Pedro Gonçalves, hoje
mais conhecido como Recife antigo, é, na verdade, o pioneiro
da Veneza Americana.
Segundo Pereira da Costa (Anais Pernambucanos
Vol.n - pag. 114) "Tendo em vista a presença de grande
quantidade de navios do trato comercial da Colônia, veio a
necessidade da construção de armazéns para a recepção dos
seus carregamentos, de depósitos de gêneros coloniais de
exportação e de casas para a habitação da gente empregada
em tais serviços

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O Recife e seus bairros

O Recife, como a vida em nosso planeta, surgiu das


águas, a lingüeta, protegida pela amurada, verdadeira
couraça protetora, fez do local posição privilegiada para tão
necessário cais, ponto de contato com a metrópole, de onde
tudo de necessário vinha e para onde tudo de produzido ia.
Segundo o historiador Vanildo Bezerra Cavalcanti, no
seu "RECIFE DO CORPO SANTO " PAG. 52:
"Sabido é que a vida da nossa Capital, até mais da
metade do século XX, girou em função do comércio. E foi sob
este signo que o Bairro do Recife teve o seu nascimento. Os
embarques de pau-brasil e dos açúcares determinaram suas
primeiras construções. Inicialmente, foram as feitorias ou os
passos, em seguida, os fortes garantindo-lhe a defesa. Depois
vieram as casas comerciais.
Paralelamente a tudo isso, formava-se o POVO, que ia,
carregar os barcos, ir e voltar do mar, fiscalizar ou cobrar o dízimo,
matar e morrer nas suas Fortalezas ou, contritamente, rezar na
ermida sob invocação do Padroeiro Santelmo.Fôr isso mesmo,
o atual Bairro do Recife, inicialmente chamado de Arredfe dos
Navios foi, por muito tempo denominado de O POVO
Geograficamente, vemos o surgimento do bairro no final
do Istmo de Olinda, espremido entre o mar e os rios, no fim
da primeira metade do século XVI. No nascer de 1600 para
Francisco de Brito Freire, escritor daquela época: "Era uma
estreita língua de terra com cinqüenta passos de largo, isto
contando alguns terrenos "
A partir do domínio holandês, evidentemente, com a
chegada a Pernambuco do Conde alemão "JOHAN MQRITZ
VON NASSAU SIEGEN", o Recife recebeu verdadeira injeção
de progresso, vivendando um crescimento que seria responsável,
por radicais mudanças da vida urbana do eixo Olinda - Recife.
Foi num perímetro de proporções inferiores a mil metros
quadrados que os holandeses se amontoaram. O problema,
segundo José Antônio Gonsalves de Mello, exposto em "
Tempo dos Flamengos ", era o seguinte:

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Carlos Bezerra Cavalcanti

"Se já em 1637 Chijselin se referira à dificuldade em obter


alojamento, alguns anos depois a dificuldade passaria a ser
impossibilidade. Lançou-se mão de todos os expedientes para
remediar o caso. Construíram-se salões e sobrados pôr cima
dos armazéns da Companhia para aposentar mais gente. Em
1641 a situação parece que atingiu o auge: os almirantes JOL
e LICHTHARDT não encontraram onde se alojar: tiveram de
se arranjar de "qualquer jeito". Para os pobres funcionários da
Companhia, a coisa é descrita - em documento oficial - com
cores negras: "as casas da Companhia devem ser chamadas
de pocilgas, no alto dos Armazéns onde todos os bens da
Companhia devem ser guardados, em um só quarto, ou
melhor, dito pocilgas; caixeiros, assistentes e escriturários
são alojados em número de 3,5,7 e 8 como se fosse numa
enfermaria, e se não os mais vis bordéis do mundo; os que ali
moram apesar de todas as reprimendas e castigos que se lhe
aplicar, nunca mais podem ser conduzidos a bom caminho,
mas a natureza toma-se senhora deles até a perdição". E mais
adiante: "a casa em que mora o Presidente KENINCK pode ser
vendida, uma vez que em cima da farmácia há lugar em que
o predicante poderá morar, provisoriamente, ou o alojamento
dos marinheiros da Rua do Senhor que caiu inteiramente e
não pode ser mais usado, poderá ser vendido; e marinheiros,
tanto doentes como os que trabalham em terra, deverão ser
transportados para junto de outros, em outro local."
Na realidade, a densidade demográfica do atual bairro
do Recife, naquela época, era das maiores que se tem notícias
na história da humanidade, superior mesmo à atual faixa de
Gaza e de algumas Regiões do Sudeste Asiático.
Na lingüeta de, aproximadamente, dez hectares, estava
alojada uma população nunca inferior a 2.700 habitantes, ou
seja, 2.700 / 100.000 m2 o que eqüivale dizer: 27 mil pessoas
por quilômetro quadrado.
"Dizem que as construções da primitiva ribeira do mar
dos arrecifes dos navios, com suas praias, admitidas como da

23
O Recife e seus bairros

segunda metade do século XVI, não seguiam plano algum,


eram feitas ao Deus dará ou conforme a conveniência dos que ali
se fixaram. Somente depois de 1636 foram elas disciplinadas,
contando o povoado, após aquela data, de acordo com a
planificação dos invasores e principais impulsionadores do
seu desenvolvimento, umas 15 ruas, uma praça e vários
becos. As ruas eram estreitas salvo a do Bode ( dos Judeus)
que era longa e larga.
Depois, com os aterros, primeiramente em direção
sul para os lados do Lamarão, em seguida para o Norte, em
busca da Igreja do Pilar, cresceu o bairro para 750.000 metros
quadrados."
Em Janeiro de 1654, quando os holandeses foram embora,
o Bairro do Recife contava com 300 prédios incluindo-se, entre
eles, a Igreja do Corpo Santo, a Cadeia, a Casa da Câmara e
alguns Armazéns.
Em 19 de Novembro de 1709, o Recife receberia da coroa
lusitana os foros de vila, construindo-se então, nesse bairro, o
pelourinho, derrubado posteriormente. (Guerra dos Mascates)
Com o passar do tempo e o crescimento do Recife, o
porto tomara-se obsoleto. A população clamava, já no século
XIX, por melhoramentos. D. Pedro II, ao visitar nossa cidade,
assim se referiu às obras do Porto.
"A vista de Olinda e do Recife é muito bela, e deixando
a esquerda o baixio do. inglês e o farol, que é pequeno e de
refletores, viemos fundear às 6 e 25 defronte da torre do
observatório do Arsenal da Marinha, que aqui chamam de
Malakoff e sobre a coroa d'areia, onde deve trabalhar a 2a
máquina de escavações, que o porto possa dentro de dois
anos a permitir entrada de navios do calado dos vapores de
carreira do Southampton. O Recife, que muito se tem alterado ~
artificialmente, resguarda inteiramente o Porto do embate
das ondas do Lamarão, ainda que muitas vezes elas o estejam
galgando. Já tomei algumas informações a respeito do
melhoramento do Porto, mas é assunto que indicarei depois

24
Carlos Bezerra Cavalcanti

de o haver estudado tanto quanto me for possível".


Os navios alimentavam em quantidade e tamanho, o povo
clamava pelas necessárias reformas e melhoramento portuário.
Finalmente, em 1908, era assinado o contrato das obras.
Mário Sette, em seu livro "Arruar História Pitoresca do
Recife Antigo", comenta o empreendimento: "No Teatro Santa
Isabel estava uma Companhia Lírica. Na noite da assinatura
do contrato, a orquestra tocou, antes de subir o pano para o
Fausto, o Hino Nacional. Nas ruas ainda vibrava o povo e
estrugiam os foguetes. Os Cafés do Vicente, do Crispim, do
Giráo, e o Cascata, continuavam com suas mesinhas repletas,
abrindo-se cervejas e ouvindo-se brindes. Um entusiasta do
Porto exclamava:
Se a morte me levasse hoje, eu ia completamente felizl
A 29 de julho de 1909, iniciam-se as obras. Há uma
solenidade inaugural, com a presença do Governador
Herculano (Bandeira) e toda a gente que, na época, pôr títulos
e dinheiro, andava no galarim da fama.
Movimentavam-se dragas, areeiros, o guindaste titã, os
rebocadores.
A Sociedade de Construction du Port de Pernambuco instala
escritórios, armazéns, galpões A fiscalização, ao lado, vigia-
lhe os passos contratuais. Pêlos arrecifes corre a locomotiva
puxando lastros com blocos de pedra vindos das pedreiras de
comportas. Ao longo do velho cais aterraram-se outros trechos
para neles surgirem em breve os arcabouços metálicos dos
armazéns. E começa a desaparecer aos olhos dos Recifenses: O
Forte do Picão (antigo Castelo do M ar), a praia do Brum com
seus banheiros de palha e seus banhistas de trajes de baeta,
o casarão da Companhia Pernambucana de Navegação, que
ali substituíra os baluartes do Forte do Matos, o Trapiche, o
casarão da Rua São Jorge e, dali a pouco, o Corpo Santo, os
Arcos, a Rua da Cadeia ...
Em 1924, o Bairro do Recife era bem diferente daquele que
viu sair os holandeses (1654 ), da edificação do Pelourinho (

25
O Recife e seus bairros

1710), da visita de Dom Pedro II (1859) e do tempo dos Arcos


da Conceição e de Santo Antônio, demolidos, respectivamente,
em 1914 e 1917. Modemizara-se, junto com seu Porto.
No entanto, a partir de 1944, a cidade iria sofrer novas
mudanças, agora não mais no aspecto urbano-paisagístico,
porem nos modos, procedimentos sociais e costumes de sua
vida noturna. Essa mudança brusca teve como responsável a
presença de tropas norte-americanas na cidade, por ocasião
da ü Guerra Mundial.

" Agora que chegaste, partiremos


E vamos conhecer a madrugada
Escondida por trás dessa amurada
Chamada de arrecife dos navios
Deitada ou submersa em mar profundo
Recebe prazenteira, marinheiros
Descuidados, buscando novo mundo".

Essa estrofe inicial da poesia de Vanildo Bezerra


Cavalcanti, intitulada: "NOTURNO TURÍSTICO DO
RECIFE", mostra bem o que representa a cidade no contato de
quem chega com quem aqui está, nas andanças boêmias pela
madrugada. A paisagem Redfense convida e até estimula a
boêmia, a luz da lua, duplicada nas águas dos rios e do mar. A
brisa marinha que penetra pelas Avenidas Marquês de Olinda
e Rio Branco e pelas Ruas da Moeda, do Bom Jesus e Vigário
Tenório; os casarões com seus sobrados; as torres das Igrejas;
O clima brando e as noites tropicais fazem do Bairro do
Recife, ao mesmo tempo, bucólico e cosmopolita, religioso e
profano; triste e, paradoxalmente, alegre, pêlos séculos de sua
heróica existência.
A vida noturna do Bairro Portuário sempre foi ligada
à boêmia, às mulheres, à música, e, pôr que não dizer,
também à prostituição, por sinal bem antiga em nossa velha
metrópole.

26
Carlos Bezerra Cavalcanti

A boêmia no Recife, com suas peculiaridades e


decorrências, teve seu apogeu entre os anos 30 e 60 do século
passado, e como principal referência o período da II Guerra
Mundial, aumentando o número e dando novas feições a
vários bares e outros lugares de diversões que existiam, mesmo
no período anterior ao segundo conflito bélico internacional,
quando a interferência ianque ficou patenteada em muitos
deles mas, não ligados apenas a esse prisma, iremos citar
alguns de ontem e de hoje.
Informações colhidas na matéria do Diário de
Pernambuco de 7 de Dezembro de 1994, subscrita por João
Hélio Mendonça, nos dão conta de que: " a palavra BAR vem
do Inglês e é uma espécie de lugar obrigatório de encontro,
ponto de parada, assim como PUB, que também é palavra
britânica, resultado da abreviação de PUBLIC (público), que
significa: de todos, onde todos se reúnem. Da balaustrada
ou da BARRA que existe entre o balcão e os clientes, vem o
nome BAR..
Muitos eventos e fatos importantes de uma cidade
acontecem nos bares ou pubs que são pontos obrigatórios de
encontro de inúmeras pessoas. Os bares existem isoladamente
ou agregados, às vezes fazendo parte de um hotel, de tuna
instituição ou de um teatro, etc..."
No Recife, amaioria dos Bares tradicionais desapareceram.
Fazia gosto ir a eles, dizem os mais antigos. Confundiam-
se e se identificavam com os lugares e seu tempo, por isso
marcaram época, influenciando na vida e na história da
cidade. Entre eles se destacava o " The Britsh Shipchandler",
fundado em 1865, pelo sueco Herman Thodor Lundgren,
inicialmente para abastecer os navios chegados ao Recife, por
isso se chamava Shipchandler, palavra que, na língua inglesa,
significa "abastecer navios", (depois ele passou a abastecer,
também, os marinheiros.)
Outro tradicionalBar-Restaurante do Bairro, reminiscente
da fase áurea da boêmia, é o:

27
O Recife e seus bairros

GAMBRINUS

Sua origem remonta ao mês de Agosto de 1930, quando


foi fundado pelo alemão Hermet Fritz.
O BAR GAMBRINUS, cujo nome homenageia um frade
germânico que teria desenvolvido estudos sobre a técnica de
produção de cerveja, começou a funcionar como uma pequena
casa. na Rua Álvares Cabral, nos fundos do prédio ns. 222,
que dava para a Av. Marquês de Olinda. No início, era um
bar tipicamente alemão, onde se vendia Chope em canecas
de louça de um litro e meio. O estabelecimento era famoso,
principalmente pela qualidade do Chope que servia tirado de
forma perfeita, com colarinho de dois dedos, acompanhado
de queijos e salsichas procedentes da Europa.
Em 1932, com o falecimento de sua esposa, o Sr Fritz/
desgostoso, vendeu o bar para o português José Pereira da
Silva, que, na época, possuía a Leiteria Recife.
Em 1945, no final da II Guerra Mundial, o GAMBRINUS
passou a funcionar também como restaurante e, para isso,
suas instalações foram ampliadas e reformadas, ocupando
todo o prédio com a frente voltada para a Av. Marquês
de Olinda. A partir de então viveria seus melhores dias, e
noites, principalmente.
Reduto de boêmios e figurões da política e da
intelectualidade recifense: Silvino Lopes, Eugênio Coimbra
Júnior, Samuel MacDowell, Ascenso Ferreira, Antônio Maria,
Pelópidas Silveira e Gilberto Osório, eram alguns dos seus
ilustres freqüentadores, que para lá se dirigiam a fim de
deliciarem-se com o gostoso chope e com apetitosos petiscos
onde se destacavam os enormes pitus, cujas cabeças eram -
sempre solicitadas por Ascenso que gritava: Deixa a cabeça
para mim!
As instalações do GAMBRINUS eram agradáveis, não
tinham luxo... simples, com plantas domésticas... palmeiras

28
Carlos Bezerra Cavalcanti

dentro, com essas divisões feitas de treliças. Uma, duas


divisões. Uma mesa comprida onde alguns fregueses ficavam
sentados de costas para a rua, com as portas abertas. As
pessoas sentavam-se nos mesmos lugares e os garçons já
sabiam o que elas queriam...
Em 1960 o Sr. Pereira inaugurou a filial na Av. Rio Branco n. 86.
Em 31 de maio 1962, o GAMBRINUS mudou-se para o
atual prédio da Av. Marquês de Olinda n. 263.
Hoje esse aprazível Bar-Restaurante, como testemunha
dos belos tempos, fala através de seu atual proprietário o Sr
Fernando Pereira, que o herdou de seu saudoso pai, passando-
nos importantes informações que nos permitem avaliar a fase
áurea da boêmia redfense e o que o GAMBRINUS representou
para ela e o que ainda representa para aqueles que admiram e
valorizam o Bairro do Recife, afinal de contas a lua é a mesma, o
mar e os rios são os mesmos e até a paisagem urbana é idêntica,
assim como a boêmia e a filosofia do BAR GAMBRINUS.

O VALDEMAR DRINK'S

Valdemar Tavares de Araújo, o Valdemar Marinheiro deixou


a marinha e criou, ao lado do "28", o Bar Internacional, com um
estilo mais ao gosto dos boêmios, reunindo velhos amigos para
consumir o legítimo "Scotch", eleita a bebida oficial do lugar.
Apesar do Bar ter se localizado em uma das mais famosas
zonas de prostituição do Recife, em tempos passados,
Valdemar garante que lá as prostitutas não entravam.
Seguindo a tradição de acomodar, num só espaço,
figuras de renome da cidade, no passado se poderia encontrar
os poetas Carlos Pena Filho e Ascenso Ferreira. Silvio Caldas,
quando vinha ao Recife, não deixava de visitar esse Bar.
Hoje influentes personalidades da política e
intelectualidade, amantes do bom "Scotch" mantêm o costume
de freqüentar esse local boêmio do Bairro do Recife.

29
O Recife e seus bairros

B A R D O 28 / S C O T C H B A R

Na Avenida Alfredo Lisboa, em frente ao antigo Armazém


11, existem dois bares especializados em uísque escocês, a
exemplo do Valdemar Drink's, são eles o Bar do 28 e o Scotch
Bar.
Pouca gente sabe, no entanto, que 28 era o número da
chapa do carregador do Porto, Antônio Cândido que fundou
o estabelecimento com as facilidades aduaneiras. No local se
consome, há vários anos, uísque bom, de gosto e de preço. O
pessoal, ao programar a ida àquela Casa dizia: Vamos ao Bar
do 281
Atualmente o Sr. Cândido é o proprietário do 28, aberto
no início dos anos cinqüenta e seu filho, Antônio Cardoso, é o
dono do "Scotch".
Cândido instalou o seu bar no antigo "Shipchandler",
comprando o local aos senhores John William e Willian
John Ayres, de origem inglesa, proprietários do prédio do
antigo estabelecimento e da firma Ayres & Son, localizada na
Domingos José Martins, 48. O mister Jack Ayres, nome de rua
em Boa Viagem, foi um dos maiores entusiastas e fundador
do Caxangá Ágape.

AS GALERIAS

Reminiscentes dos anos trinta, quando foi criada pelo


cubano Fidélio Lago "As Galerias" como é conhecida essa
casa de lanches madrugadora, serve o mais famoso maltado
da cidade do Recife. Localizou-se, durante muitos anos, desde,:
1928 até a década de 1990, entre as Avenidas Marquês de
Olinda e Rio Branco, num prédio que funcionou como depósito
da Pernambuco Tramways. Depois, mais recentemente, o
estabelecimento foi transferido para o início da Rua do Bom Jesus

30
Carlos Bezerra Cavalcanti

A Casa notabilizou-se por ficar à noite e à madrugada,


funcionando com um número considerável de fregueses, que
entravam e saiam pelas suas portas largas, uma de um lado,
na Av. Rio Branco e a outra do outro, na Marquês de Olinda
O maltado e o bolo de chocolate polvilhado de amendoim,
apelidado de pó de serra, lhe deram fama até hoje.
Outra opção das Galerias, que ajudou a tomá-la mais
conhecida, principalmente, entre os jovens daquela época, era
a gasosa, o refrigerante da década de quarenta, preparada na
frente do freguês, essências de morango, groselha, framboesa
e guaraná da Amazônia, sem falar na famosa vitamina de
banana, servida com sorvetes de vários sabores. Desde 1955
esta casa comercial está sob a responsabilidade do filho de
Fidélio, Antônio Gomes
O Gambrinus, O Valdemar Drink's, o Bar do 28, o Scotch
Bar e as Galerias são as poucas casas de lazer que atravessaram
os anos quarenta, cinqüenta e sessenta, chegando até nossa
época, quando o bairro começou a perder o brilho, nos anos
setenta, e que praticamente, se apagou nos anos oitenta.
Naquela metade do século passado os principais bares
se situavam, em sua maioria, na Marquês de Olinda e
proximidades.Por essas passagens, o transeunte, por certo,
encontraria aquele que, nas décadas de 1950/60, era marca
registrada do local:

L O L IT A

Figura pitoresca da chamada Z B M - Zona do Baixo


Meretrício, que costumava dizer - quem n ão conhece L olita,
n ão conhece o R ecife !
Na realidade, tratava-se de —■ Ivo Alves da Silva de
quem/através de reportagem do Jornal da Cidade, publicada
em 6 de julho de 1975, temos as seguintes informações:

31
O Recife e seus bairros

Veio ainda adolescente para o Recife, onde passou a trabalhar


como servente e cozinheiro. Por sua irreverência, e dotes, passou a
participar de alguns programas de calouro na Radio locaL, porém,
adquiriu sua verdadeira popularidade quando caiu nas graças da
estudantada. Homossexual assumido, era a estrela das meretrizes
Viveu vários anos cantando e dando pequenos shows
pelas ruas do Recife, aglomerando curiosos e fãs, motivo
normalmente da presença de truculentos policiais que subiam
as escadas das pensões que funcionavam, geralmente, nos
andares superiores aos bares.
Por falar em Pensão, vale a pena trazer para essas linhas
depoimentos de Fernando Ribeiro Pereira, encontrado no livro
de Levy Madureira (Bairro do Recife, Porto Seguro da Boêmia):
"Em tempos de Pensão elas praticamente se eqüivaliam,
compreende? Porque a norma era a seguinte: cada pensão tinha
a sua cafetina. E as mulheres eram aquilo que nós sabemos.
Vinham do interior, jovem, etc. iam ser exploradas por elas.
Agora, como é que elas tinham as suas diferenças? as mulheres
mais velhas, as mais decaídas, iam descendo, (...) começavam
na Marques de Olinda, naquelas pensões melhores e depois
terminavam na rua da Guia, Vigário Tenório e do Bom Jesus...
a pensão da Alzira era a mais famosa e, naquele tempo até a
mais elegante das pensões, a mais fina"
Tínhamos também na Rua da Moeda a pensão da Baiana.
Existiam ainda o "Silver Star", o "Texas Bar", freqüentado por
vários intelectuais, políticos e jornalistas, o "Escandinávia",
na Alfredo Lisboa, o "Vitória, na Rua da Moeda, o "Cubano",
que depois passou a ser o "Tropical", o "Charles Drink's",
onde depois funcionou o "São Francisco", o Duas Américas"
o "Cova da onça" (que vendia aguardente) o "Bar da
Charque" que funciona por mais de 60 anos o "Flamengo" o~
"Bar da Guia", o "Astória", o "Lambreta", o "Para Todos", o
"Califórnia", o "Lanche Porto", o "Ibiá", e, mais recentemente,
o "Black Tié" e o "Tonys Drink's",no entanto, da segunda
metade dos anos setenta, até o início dos anos noventa,

32
Carlos Bezerra Cavalcanti

o Bairro do Recife viveu em completo abandono, à noite


chegava a lembrar uma cidade fantasma: esquecida, inerte,
oca. Muitas vezes íamos tarde da noite ao Bar São Francisco,
um dos poucos que ainda funcionava, e pedíamos ao garçom
para colocar uma mesa com cadeiras na calçada e ficávamos
admirando os velhos prédios, desertos e desamparados, que o
tempo teimava em esquecer. Nem pareciam aqueles edifícios
construídos no inicio do século, durante a reforma urbana,
modernos, limpos, alegres que em seu conjunto, lembravam
Paris na "belle èpoque» e que nos anos quarenta e cinqüenta,
ali estavam, iluminados, irradiando alegria e prosperidade,
num passado tão recente e, ao mesmo tempo, tão ausente,
tão perto e, paradoxalmente, tão longe, cobertos por um
verdadeiro manto tecido de esquecimento, tristeza e solidão.
Porém, a partir de 1987, algumas deliberações tomadas
pela Prefeitura da Cidade iriam começar a mudar aquele
triste quadro, e o «Recife Antigo» começaria a deixar de ser o
«Recife velho e sombrio». O Bairro Portuário de nossa Capital,
começou a receber melhorias consideráveis que praticamente
o ressuscitaram.
O processo de remodelação da área começou, como
vimos, em 1987. Naquela ocasião a Prefeitura da Cidade
lançou o Plano de Reabilitação da Área. Foi instituído, então,
o Escritório de Revitalização do Bairro, que até hoje coordena
as ações e intervenções na localidade.

33
O Recife e seus bairros

AS PONTES

Com muita propriedade, disse Vanildo Bezerra


Cavalcanti (ob. cit. Pág. 53) : "Como se vê, foi o bairro do
Recife um dos poucos que não surgiram em conseqüência da
fundação de um engenho, mas em função dos produtos deles
todos. Verdadeiramente se fez dos navios, lá no fim do istmo
e, coincidentemente, depois que se tomou ilha, por força da
promessa de construção da Base Naval, nos faz lembrar um
magnífico transatlântico, ancorado no seu próprio porto,
amarrado na popa pela Ponte de Limoeiro, a estibordo, pelas
Pontes Buarque de Macedo e Maurício de Nassau e na proa,
pela Ponte 12 de Setembro".

PONTE DE LIMOEIRO

Essa ponte tem seu nome ligado a uma longínqua cidade


do agreste pernambucano, a simpática cidade de Limoeiro,
uma vez que por ela passava o trem que se dirigia àquele
município e que saía da antiga Estação do Brum, localizada
quase em frente ao forte do mesmo nome.
Inicialmente era apenas ferroviária e foi inaugurada em
24 de Outubro de 1881, com a passagem do primeiro trem da
linha férrea norte, também chamada de "Ferrovia do Algodão".
Possuía então 1cento e oitenta metros de comprimento
No final dos anos cinqüenta, início dos anos sessenta,
o então Prefeito do Recife, Dr. Miguel Arraes, que ■havia
alargado o trecho final da Rua da Aurora, acabando com as
insalubres palafitas, determinou a construção da atual Ponte
de Limoeiro, desta feita para o tráfego rodoviário e edificada
em concreto armado. Quando, Liberato Costa Júnior assumiu
o legislativo, na condição de Presidente da Câmara, (Janeiro a
Dezembro de 1963) tratou de dar inicio a esse empreendimento
Sua inauguração, no entanto, só viria acontecer em 30 de

34
Carlos Bezerra Cavalcanti

Julho de 1966, na gestão do laborioso Prefeito Augusto Lucena,


sendo a concorrida solenidade presidida pelo então Senador
Francisco (F) Pessoa de Queiroz. Atravessa o Rio Beberibe e é
a única que liga o Bairro do Recife ao Continente.
Ao contrário da primeira, que era ferroviária, a nova ponte,
com a desativação da linha férrea norte é, exclusivamente,
rodoviária. Durante os seus 34 anos de existência passou
por várias reformas. A última ocorreu na gestão do Prefeito
Roberto Magalhães.

PONTE BUARQUE DE MACEDO

É a mais comprida do centro da cidade, com cerca de


duzentos e oitenta e três metros. Seu nome é uma homenagem
ao principal responsável pela sua construção, Ministro
Manoel Buarque de Macedo, nascido no Recife a lo de Março
de 1837. Graduou-se bacharel pela antiga Escola Central
(depois politécnica) e, em 1859, doutor em Ciências Políticas e
Administrativas pela Universidade de Bruxelas. Em 1860, foi
nomeado engenheiro fiscal da ferrovia Recife / São Francisco,
neste período ocupou ainda o cargo de chefe da Diretoria de
Obras Públicas. Em 1880 foi nomeado Ministro da Agricultura
Comércio e Obras Públicas do Império. Foi Deputado à
Assembléia Geral por três vezes. Faleceu, prematuramente,
aos 44 anos, no dia 29 de Agosto, após haver inaugurado, em
companhia do Imperador Pedro II, os cem Km da Estrada de
Ferro Oeste de Minas, na cidade de São João Del Rei.
No local da atual ponte existia outra chamada de
provisória, que era de madeira e foi construída em 1856
Em 1882 se deu o início da sua construção, que ficou sob a
responsabilidade do Engenheiro Antônio Vicente Feitosa até
1885, quando passou para o Dr. Alfredo Lisboa que a concluiu.
Foi aberta ao público em 1890 e reconstruída em 1923. Está
edificada sobre onze pilares revestidos de cantaria e erguida
sobre uma base de cimento armado e tem super estrutura toda

35
O Recife e seus bairros

de ferro composta de seis vigas contínuas unidas por traves


robustas, suspensas por forte madeiramento.
Foi fonte de inspiração do poeta Augusto dos Anjos:

"Recife, Ponte Buarque de Macedo


Eu indo de encontro a Casa do Agra
Assombrado com minha sombra magra
Pensava no destino e tinha medo."

PONTE MAURÍCIO DE NASSAU______________


(Antiga Ponte do Recife-1644)

Uma ponte, quaisquer que sejam suas dimensões,


localidade, material e época de construção, tem como singular
objetivo ligar, fisicamente, dois lugares separados entre si. Com
a primeira ponte construída no Brasil, mais precisamente entre o
istmo do Recife e a Ilha de Antônio Vaz, não foi diferente.
Sua construção era uma reivindicação antiga dos
moradores como se pode observar na Ata de Reunião da
Assembléia dos Escabinos de Io de Setembro de 1640,
presidida por Maurício de Nassau, onde consta o seguinte:
"A Câmara e o povo da cidade Maurícia propõem a este
Supremo Conselho doze artigos concernentes ao bem público
e pede que sejam aprovados neste Conselho para valer como
decreto desta Assembléia.
...Artigo 3.Q Como construção de pontes é uma coisa
indispensável a todo o Estado, S. Excia. e o Supremo Conselho
resolveram, no fim desta Assembléia, sobre o que cada Câmara
há de dar para a construção de tais obras."
O local onde ela começava chamava-se Porta da Balsa
(Weerpoort), porque ficava próxima do ponto de partida
do serviço de transporte fluvial entre o "Povo" e a Uha de
Antônio Vaz.

36
Carlos Bezerra Cavalcanti

A necessidade da construção dessa ponte, segundo José


Antônio Gonsalves de Mello (Tempo dos Flamengos), não
se originou do fator trânsito, como era de se prever, mas do
transporte de água.
"A ponte propriamente dita, já havia sido idealizada
em 1630, pelos conselheiros políticos, mas as obras só foram
iniciadas no tempo do Governo de Ceulen e Chiselen (1633-
34) e continuou no início do período de Nassau, porém muito
vagarosamente"
Ela foi inaugurada pelo próprio Conde no dia 28 de
Fevereiro de 1644, portanto bem próximo de suas despedidas
do Brasil.
O episódio da inauguração desta importante obra urbana
ficou marcado pela bizarra e lendária participação do Boi
Voador, o boi de Melchior, que acabou sendo o primeiro pedágio
que se tem notícia no Novo Mundo.
Eis como Fernandes Gama, com relação a esse
acontecimento, se exprime nas suas Memórias Históricas de
Pernambuco:
"Tendo o Conde Maurício de Nassau deliberado
entregar o Governo de Pernambuco e havendo concluído a
Ponte do Recife__franqueou ao público o seu trânsito; mas
começando esse por uma farsa imprópria do caráter de um
Príncipe, onerando sua memória do ridículo que essa farsa
lhe imprimiu:
Fez anunciar que em dia no qual havia de ser franqueado
ao público o trânsito pela ponte, ver-se-ia uma maravilha em
Mauristadt (Maurícia) até então nunca vista: isto é, ver-se-ia
um boi voar!
Publicado este anúncio em Olinda e nas outras partes
onde pode ser levado, numeroso concurso de povo atraído
pela novidade dirigiu-se para o Pátio do Palácio (hoje
Campo das Princesas) a fim de ver o pesado e tardo animal,
transformado em volátil.
Melchior Alvares, proprietário abastado, morador à rua,

37
O Recife e seus bairros

hoje do Imperador, possuía um boi tão manso e domesticado


que entrava pelas casas livremente e todos o afagavam; e se o
conduziam, subia escadas sem grandes dificuldades.
De um boi igual a este na cor e grandeza, mandou
Maurício aproveitar a pele em todas as suas partes, de maneira
que depois de seca, cozida e cheia de palha representasse
perfeitamente o boi de Melchior Alvares.
Feito isto, em grande segredo, mandou o príncipe pedir
ao dito Melchior que lhe emprestasse o seu boi domesticado,
dizendo que era aquele que seus engenheiros fariam voar, e
no dia designado para se expor ao público essa maravilha,
estando reunido o povo que tinha concorrido fez aparecer na
galeria do seu jardim o referido boi emprestado, o qual sendo
apresentado ao público, e dando alguns passeios pela galeria
foi dissimuladamente introduzido pela porta de uma câmara
onde estava oculto o couro cheio de palha.
Imediatamente, viu-se que pela corda que saía da
referida câmara, que ia prender-se a um mastro colocado em
suficiente distância, se elevava o boi por meio de um aparelho
muito fraco em verdade para resistir ao peso do animal, se
vivo o portasse, mas forte bastante para suspender e mover
ligeiramente um couro cheio de palha.
Desta sorte iludida a curiosidade pública, conseguiram
os holandeses por meio de semelhante burla, que a ponte do
Recife rendesse nessa tarde destinada para o boi voar 1.800
florins, não pagando cada pessoa mais do que duas placas
quando passava pela ponte."
A ponte sofreu reformas em 1683 e 1742, naquela ocasião
foram instalados alguns compartimentos que funcionaram
como lojinhas, em ambos os lados da mesma.
Outras modificações foram realizadas nessa ponte, que ~
através dos tempos se chamou Ponte do Recife por não dispor
de nenhum outro nome até 1865, ocasião em que recebeu,
solenemente, o de Ponte 7 de Setembro, após passar por grande
reforma, quando ganhou estrutura de ferro à semelhança da

38
Carlos Bezerra Cavalcanti

atual Ponte da Boa Vista.


Em 1917, no dia 19 de Dezembro, inaugurava-se a atual
Ponte Maurício de Nassau, justo preito àquele que primeiro
construiu uma ponte de grande porte no Brasil.
Possuía, desde muito tempo, dois arcos, espécies
de pórticos originários dos primitivos, construídos pelos
holandeses que, com o passar do tempo mais se robusteceram
e se embelezaram. Um deles reverenciava Nossa Senhora da
Conceição que foi ao chão em 1913 o outro, o de Santo Antônio,
do lado da Primeiro de Março, foi demolido em 1917.
Na última reforma que sofreu, foram colocadas em suas
cabeceiras quatro estátuas de bronze confeccionadas na França,
na Fundição Vale do Rio Osne (VALDOSNE). Representam
quatro divindades: no lado leste, Cais da Alfândega MINERVA;
à esquerda: uma mulher símbolo da sabedoria e da inteligência.
Ao lado direito, a Deusa da Lavoura (DEMETER-CERES)
padroeira dos campos cultivados, ramos de trigo na cabeça e
na mão direita. Do lado oeste ( Primeiro de Março), à esquerda,
outra estátua de mulher, desta feita, representando o Comércio
e, finalmente, do lado direito, a estátua que representa a
Deusa da Justiça, com espada e balança, no canto, uma placa
colocada pelo Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico
Pernambucano, referencia a antiga ponte construída por
Nassau e o Arco de Santo Antônio, demolido, segundo ela, pela
exigência do trânsito.

39
0 Recife e seus bairros

Ponte M aurício de Nassau

___ PONTE 12 DE SETEMBRO_____________________


(No local da antiga Giratória)

Bem próximo à atual Ponte 12 de Setembro existiu uma


outra que talvez tenha sido a única no Recife que não teve
seu nome ligado a personagens, a datas ou a itinerário de
seu tráfego. O nome Giratória decorreu justamente de seu
mecanismo. Ficava em frente à antiga barreta que foi vedada
com as obras do porto. Essa barreta era a passagem natural
das embarcações, único meio de transporte de vários locais
da zona da mata e que se destinavam normalmente aos Cais
da Alfândega, do Colégio, de Santa Rita e de José Mariano,
entre outros.
A Ponte Giratória, inaugurada em 1923, era formada
de três lances, dois fixos e um central, que girava este
funcionamento no meio e deixava ao guia duas passagens
para as embarcações que se dirigiam, ou que regressavam do

40
Carlos Bezerra Cavalcanti

mar. Quando fechava permitia o tráfego dos trens da região


açucareira da mata sul, pela faixa do meio que era ferroviária.
Lateralmente, franqueava o trânsito de veículos e de pedestres.
O movimento de embarcações, que tanta poesia e beleza
dava aos rios, caiu em desuso provocando a desativação e
a quebra da maquinaria, tomando-a então obsoleta, ela que
tanta sensação causara quando da sua instalação, virou sucata,
sendo afinal esquecida e posteriormente substituída por uma
outra ampla e de concreto armado, aberta ao público em 10
de Março de 1971, que tomou o nome de 12 de Setembro, em
homenagem à data da inauguração das grande obras do Porto
do Recife: 12 de Setembro de 1923

Ponte Giratória (aberta)

O Bairro do Recife não é apenas o mais antigo, é também


o mais relevante sob o ponto de vista histórico e turístico,
entre todas as localidades da Capital Pernambucana.
Neste trabalho literário iremos tratar de seus
monumentos; tanto dos que fazem parte de sua atual paisagem
urbana como daqueles que tombaram, por diversos motivos,
principalmente pela vontade das autoridades que acham ser
imprescindível demolir o passado, em nome da construção

41
O Recife e seus bairros

do futuro, por isso, procuramos resgatar no tempo, os


monumentos de ontem. Passemos então a descrevê-los:

FORTE DO PICÃO

Também conhecido como "Forte do Mar", "Forte da


Laje", "Forte da Barra" e ainda como "de São Francisco",
combateu bravamente os holandeses em 1630.
Era destinado à defesa da barra e do porto do Recife. Foi
construído, segundo o livro "Razão do Estado do Brasil", em
1612, às custas dos moradores e do senhor da Terra, o quarto,
donatário Duarte de Albuquerque Coelho.
Embora de pequenas proporções, era de bela arquitetura.
Tinha a forma eneagonal e foi demolido em 1910 a fim de dar
lugar à passagem da larga muralha levantada sobre os recifes,
então em construção.

FORTE DO QUEBRA PRATOS

Foi edificado ao lado do antigo Arco do Bom Jesus,


no trecho intermediário da rua que hoje tem seu nome.
Oficialmente era chamado de "Forte do Bom Jesus", mas era
conhecido, popularmente, como "Forte do Quebra Pratos",
isso por se encontrar próximo a várias residências e quando
suas baterias eram acionadas, o estampido das detonações
quebravam os vidros das janelas das casas vizinhas, assim
como várias peças de louças.
Esse reduto foi construído durante o domínio holandês,
junto à antiga Porta Norte da cidade que depois foi chamada,;,
de Arco do Bom Jesus, em homenagem ao Arraial Novo do
Bom Jesus, símbolo da Restauração Pernambucana.

42
Carlos Bezerra Cavalcanti

FORTE DO MATOS

No final do século XVII foi edificado na parte sul do


istmo do Recife e ficou conhecido pelo nome do seu construtor
Antônio Fernandes de "Matos".
Foi chamado de Forte da Madre de Deus e de São Frei
Pedro Gonçalves, por se localizar próximo às igrejas da
Madre de Deus e de São Frei Pedro Gonçalves, depois Matriz
do Corpo Santo.
O Forte do Matos também não resistiu ao tempo, sendo
demolido já no século XIX
Não foram só as Fortificações que desapareceram da
paisagem do Bairro do Recife, as reformas portuária e urbana
das primeiras décadas do século XX, colocaram no chão
quarteirões inteiros de prédios e entre eles alguns que muito
tinham a ver com a história e a tradição da cidade como:

A MATRIZ DO CORPO SANTO

Uma das maiores desfeitas ao passado do Recife,


realizada em nome do progresso, foi a demolição da Matriz
do Corpo Santo que representava a própria origem, não só do
bairro, como de toda a cidade e bem frisou Vanildo Bezerra
Cavalcanti em seu "Recife do Corpo Santo", Pág. 67:
"O Bairro vive e sempre viveu sobre o padroado de
Santelmo, do Corpo Santo ou de São Frei Pedro Gonçalves.
A lenda desta devoção é de um belo fantástico emocionante.
Dizem os mareantes que nas noites de tempestade, quando um
barco está em perigo e o Santo é invocado, aparece um facho
estéreo que se toma um manto protetor, acalmando a procela,
trazendo aos embarcados paz e segurança. É Helena. É o
Corpo Santo, velando e cuidando da salvação da marinhagem.
Por essa razão, os argonautas do século XVI, que vinham para
os arrecifes dos navios, ou neles tinham base, ergueram, na

43
O Recife e seus bairros

ponta sudeste da península, uma capelinha ou ermida sob a


invocação de Santelmo, que depois cresceu e virou Matriz,
mas foi criminosamente destruída pelos urbanistas que não
conhecem moral e cívica, que não têm sensibilidade artística
nem cultura histórica e, sobretudo, não possuem imaginação
para problemas viários e, finalmente, aptidão profissional. O
ato de vandalismo foi aprovado pela Diocese, que talvez, em
represália às críticas recebidas por tal despropósito, esqueceu
o original culto e nem sequer pensou em aproveitá-lo noutro
local, ficando no esquecimento a poética devoção ao santo do
fogo azul dos marinheiros.
Um traçado merecedor de elogios por um lado tomou-
se deveras condenável por outro. Decretada a destruição das
magníficas, históricas e artísticas construções, como da Igreja
do Corpo Santo e dos Arcos para só citar as principais que
inteligentemente poderiam ser preservados, com desvios
e outras soluções arquitetônicas. "Encheu-se de negras
manchas as brancas plantas organizadas para tão louváveis
transformações."

Largo do Corpo Santo vendo-se, ao lado direito, a antiga M atriz


edificada no local da Ermida de Santelmo.

44
Carlos Bezerra Cavalcanti

Obras de dem olição da M atriz ão Corpo Santo (1913)

ARCO DA CONCEIÇÃO

Existiu até o ano de 1913 na cabeceira leste da antiga


Ponte do Recife, depois Sete de Setembro e, posteriormente,
Maurício de Nassau. O Arco da Conceição edificado,
primitivamente, em 1644 como um dos portais que fechava a
ponte inaugurada naquele ano, nas despedidas de Nassau do
Brasil e reconstruída no governo de Henrique Luís Pereira
Freire (1737-1746)
Segundo Pereira da Costa em seus Anais Pernambucanos
vol. VI pág.328, foram as "velhas portas substituídas por
dois arcos de cantaria, de igual arquitetura e disposições,
como se via da fachada posterior de ambos, voltados para
a ponte, perdendo, porém a do lado do Bairro do Recife o
cunho primitivo da que olhava para a Avenida Marquês de
Olinda, pelo aumento que teve com as obras suplementares
da capela que avançaram um pouco. Neste Arco foi colocada
uma imagem de N. S. da Conceição.
No frontão do arco havia um escudo das armas reais
portuguesas, em relevo as quais foram mandadas picar pelo
governo em 1824"

45
O Recife e seus bairros

Após a demolição do Arco da Conceição em 1913, a


imagem da santa, que é de autoria do entalhador João Pereira,
foi levada em procissão para a igreja da Madre de Deus, no
mesmo Bairro do Recife.

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Arco da Conceição

Até 1850, destacavam-se na paisagem urbana do Recife,


três arcos que foram reminiscentes de antigas portas que
existiam em logradouros da cidade, como vimos.
O primeiro a ser demolido foi o Arco do Bom Jesus,
no lugar da antiga Porta Norte do Recife e que, depois de
demolido, deu lugar ao prédio por algum tempo ocupado
pelo comando do 3a Distrito Naval e, posteriormente, pela
Capitania dos Portos, no início da Rua do Bom Jesus a quem
emprestou seu nome.
O segundo, demolido em 1913, foi o Arco da Conceição
de que falamos anteriormente, e o terceiro foi o Arco de Santo
Antonio (1917), responsável pela denominação do bairro e

46
Carlos Bezerra Cavalcanti

que correspondia à antiga porta oeste da cabeceira da Ponte


do Recife (1644).
Até o inído do século passado, era grande a disputa entre
os comerdantes e os moradores das Freguesias do Recife e de
Santo Antônio nas comemorações das datas festivas de N. S. da
Conceição (Oito de Dezembro) e de Santo Antonio (13 de junho).

___ A SINAGOGA________________________________
(Primeira das Américas)

Pernambuco, comprovadamente, é pioneiro em


vários fatos e instituições na historiografia brasileira e, até
mesmo, Americana.
A Feitoria de Cristóvão Jacques, (1516), a Igreja mais
antiga do Brasil, Igarrassu, (1535), o Primeiro Hospital e Casa
de Misericórdia, (1535), a primeira Câmara e o primeiro Foral
(1537) os primeiros Conventos de São Francisco e do Carmo,
(1577 e 1588, respectivamente), todos em Olinda. O primeiro
serviço de extinção de incêndios (1636), a primeira Assembléia
Legislativa, o primeiro Observatório Astronômico, o primeiro
Jardim Zoobotânico, os primeiros estudos sobre a fauna e a
flora brasileiras (todos em 1640 no Recife) e o Primeiro Grito
de República (1710), em Olinda, são alguns dos pioneirismos
pernambucanos na formação histórica do Brasil.

A primeira Sinagoga das Américas fundonou, também,


em Pernambuco, mais precisamente na atual Rua do Bom Jesus,
antiga Rua dos Judeus, sendo um importante pioneirismo em
nossa história.
De acordo com José Antonio G. de Mello, em Gente de
Nação (1989), pág. 230: "... a Sinagoga fora construída pela
comunidade Zur Israel na rua que, ao tempo dos holandeses,
era chamada do Bode ou dos Judeus. O inventário dos prédios
organizado em 1654, após a capitulação dos invasores, indica-a

47
O Recife e seus bairros

como ocupando uma das casas grandes de sobrado, da banda


do rio, com ponteira para a Rua dos Judeus... a qual é de pedra
e cal com duas lojas por baixo, que de novo fabricaram ditos
judeus (inventário de holandeses)
Sua construção é dos anos 1640/41, pois na generale missive
do Governo do Brasil ao Conselho dos XIX, de 10 de Janeiro
de 1641, se diz que os predicantes se queixavam de que os
judeus estavam a construir uma sinagoga, fato que foi levado
ao conhecimento da Classe da igreja reformada, reunida
no Recife, em 17 de Outubro deste ano com a declaração
de terem os judeus aqui construído no Recife uma sinagoga
sem consentimento da autoridade suprema contra o que
protestavam os ministros dela participantes..."
Segundo depoimento verbal do arquiteto, urbanista e
pesquisador, Prof. José Luiz Mota Meneses, "se tinha conhecimento
de que a antiga Sinagoga ocupou os prédios números 12 e 14 da
atual Rua do Bom Jesus, só que, a numeração mudou e a relação
entre os números de antigamente e de hoje, se perdeu."
Posteriormente, o próprio José Luiz, trabalhando com
algumas plantas antigas do Bairro do Recife, encontrou, com
bastante clareza, a localização dos prédios 12 e 14 da antiga
Rua da Cruz, atual do Bom Jesus, daí para frente, a questão
para autenticar a veracidade das descobertas, foi apenas um
trabalho de campo. Passou-se a contar os prédio da rua e os
que eram 12 e 14 corresponderiam então aos que instalaram a
primeira Sinagoga. Essa descoberta conduziu todo o processo
de restauração que giraria em tomo da própria restauração do
"Mic Ve" (poço de purificação) existente em toda sinagoga, e
as intervenções que deixassem bem claro o que era, no século
dezessete, aquilo que, na realidade, veio a ser ampliações
posteriores, resquícios do funcionamento da primeira
Sinagoga das Américas. Foi quando então se executou o
projeto de restauração do prédio, após ser criado um grupo
gestor, composto entre outras pessoas por Boris Berestein,
José Luiz Mota Menezes, José Antônio Gonsalves de Mello,

48
Carlos Bezerra Cavalcanti

Germano Haivt e José Alexandre Ribemboim, para iniciar uma


prospecção arqueológica nas paredes e nos pisos das duas
casas. Essa prospecção foi iniciada a cargo do Prof. Marcos
Albuquerque, com poucas perspectivas de se encontrar algo
muito significativo, no entanto, grata surpresa os esperava,
ou seja, foram encontrados, em vários níveis, diversos pisos
entre o principal, a cerca de oitenta centímetros abaixo do
nível atual da Rua do Bom Jesus. Paralelamente, as paredes
tiveram removidas os seus rebocos, surgindo uma série de
informações valiosas, mas não suficientes, ainda, para vestir
uma restauração anterior. A descoberta mais importante foi
a de ter se encontrado, em uma das casas, um antigo poço
com o diâmetro de quase oitenta centímetros, chegando
até o nível do lençol freático, a 2,80 m. aproximadamente.
Ao lado desse poço, construído em pedra seca, estavam os
indícios claros da existência de um grande tanque, que tinha
sido destruído e seu material entulhado. A descoberta, sem
dúvidas, despertou o interesse dos israelitas, uma vez que
representava claramente o Mic vê, ou seja, o poço e a piscina
de purificação, obrigatória a todos os judeus: aos homens, uma
vez por ano e às mulheres, todas as vezes que menstruassem.
Essa descoberta deveria ser conclamada, ou seja, confirmada
e essa confirmação se deu com a presença no local da antiga
sinagoga de quatro rabinos, trazidos pelo Banco Safra, que
patrocinou todo o empreendimento, sendo um dos rabinos,
inclusive, especialista em Mic vê, que confirmaram toda
a veracidade e importância da descoberta, sendo a notícia
divulgada através de ampla cobertura da imprensa nacional.

49
O Recife e seus bairros

Primeira Sinagoga áas Américas

A CASA DE BANHOS

Funcionou no Recife no período de 1887 a 1924 e marcou


época como um dos estabelecimentos mais pitorescos, ao
mesmo tempo, célebre e alegre, surgido na fase áurea dos
banhos medicamentosos, inicialmente denominado de
"Grande Estabelecimento Balneário de Pernambuco", depois
chamado apenas de " CASA DE BANHOS".
Foi inaugurado em 7 de setembro de 1887, sendo
responsável pelo costume pernambucano da abeirtura de
temporada de praia no dia da Independência.
Seu proprietário tinha verdadeira admiração pelo mar
tanto é que, além da moradia, em plena paisagem marítima,
com refeições de frutos do mar onde se destacava a peixada
de cavala perna de moça, batizou sua filha com o nóme de
"Marina".
Chique no inicio do século passado, a Casa de Banhos
acomodava hóspedes famosos, possuía restaurante que usava
porcelana Inglesa e logotipo do próprio estabelecimento.
Dispunha de 102 compartimentos para toalete dos banhistas,
sala e um gabinete para leitura. O Almanaque de 1902 dizia

50
Carlos Bezerra Cavalcanti

que ela era bastante procurada pela elite da nossa sociedade.


Para lá se ia de botes a remo ou escaleres, que se tomava
com certa facilidade.
Em I a de Julho de 1924, um inexplicável incêndio
encerrou as atividades desse importante local de lazer do
Recife de ontem.

A Casa de Banhos

A CRUZ DO PATRÃO

Falamos até agora de monumentos que não mais existem


na paisagem urbana do Recife. O motivo dessas ausências no
presente é normalmente o descaso daqueles que seriam os
responsáveis por mantê-los em nosso convívio urbanístico.
A Cruz do Patrão, por bem pouco, também não pertence
só ao passado, uma vez que jaz no "ostracismo" por conta do
descaso, junto aos antigos depósitos de combustíveis do Brum.
Fica localizada próximo às ruínas do antigo Forte do
Buraco, no antigo istmo de Olinda. Sua construção remonta a
meados do século XVH[.

51
O Recife e seus bairros

Seu nome provem de Patrão Mor, timoneiro de


embarcação, encarregado de suas manobras, principalmente
nas entradas dos portos, uma vez que essa cruz servia como
referência para as naus que atracavam nos cais interiores do
Recife: Mosqueiro, Poço e Lingüeta.
O enquadramento pelos timoneiros (patrões) que
adentravam na barra portuária era feito no alinhamento da
cruz da capela de Santo Amaro das Salinas na antiga área
então coberta por vasto manguezal. Após apontar a proa
das embarcações para a cruz, alinhada com a igrejinha, o
PATRAO, manobrava para boreste ou bombordo, conforme o
cais que ele fosse atracar (Lingüeta, Mosqueiro ou Poço)
A sua construção lembra um obelisco arredondado,
com cerca de seis metros de altura e dois de diâmetro, na base.
É encimada por uma cruz, com as iniciais INRI, substituiu
outra de madeira e o registro mais antigo de sua existência
vamos encontrar numa gravura dó Padre Caetano datada de
1759, reproduzida por Rocha Pita, quando a vemos ainda na
estreita lingüeta.
As imediações desse monumento, segundo a crença
popular, eram mal assombradas, uma vez que ali se
martirizavam alguns escravos faltosos.

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Carlos Bezerra Cavalcanti

Cruz do Patrão

Gravura de 1759 Pe. Caetano, vendo-se à direita, no plano


-

inferior, a Cruz do P atrão na estreita lingüeta.


(José Luis M ota Menezes)

Outro monumento que esteve prestes a desaparecer foi a:

TORRE MALAKOFF

Se não fossem os jornalistas Aníbal Fernandes e Mário


Melo, coadjuvados pelo Desembargador Arthur da Silva Rego,
então Presidente do IAHGP, esse belo monumento teria sido
impiedosamente demolido pelo Governo Federal, em 1929, com
a efêmera justificativa de alargamento da Rua São Jorge, mas os
argumentos transcritos abaixo no ofício do Inspetor Estadual
de Monumentos Nacionais, Jornalista Aníbal Fernandes evitou
mais ttma desfeita à paisagem urbana de nossa Capital:
"... não obstante se tratar de um edifício de 1855, a Torre
Malakojf tinha para a cidade uma certa tradição e estava intimamente
ligada à sua phisyonomia.
Nella funcionara primitivamente o extincto Arsenal de
Marinha, sendo o edifício o ultimo remacescente do velho
Recife. (Sic)

53
O Recife e seus bairros

Com uma ligeira rectificação no alinhamento da Rua São Jorge,


parece que a Torre poderia ser mantida."

Aníbal Gonçalves Fernandes


Inspetor Estadual de Monumentos Nacionais
As notícias da Guerra da Criméia, entre a Rússia e a
Turquia, chegaram, com destaque, ao Recife, justamente
durante a construção dessa Torre que iria servir de
Observatório Astronômico e de Arsenal de Marinha.
As batalhas no interior da trincheira da Torre de
Malakoff, na Rússia e de Sebastopol, em 8 de Setembro de
1855, serviram de inspiração, ao recifense, para "batizar"
esse importante monumento que se constitui num minarete
quadrangular, com janelas estreitas, relógios, ameias nos
ângulos e pequena cúpula abobadada. Depois de funcionar,-
como observatório astronômico, passou a instalar a Capitania
dos Portos. Está localizada na Praça Artur Oscar, ainda
chamada de "ARSENAL DE MARINHA". '

Torre M a la k off

54
Carlos Bezerra Cavalcanti

O FAROL DA BARRA

Foi no Recife, mais precisamente em uma das torres do


Palácio de Friburgo, construído por Nassau, com a frente
voltada para o mar, onde funcionou o primeiro farol do litoral
brasileiro. Posteriormente a sinalização náutica da entrada da
barra do porto do Recife funcionou nas instalações do Forte
do Mar ou do Picão, na entrada da barra, como podemos
constatar na gravura do padre Caetano de 1759.

55
O Recife e seus bairros

O Farol da Barra, no entanto, só começou a ser construído,


em 1819, no governo de Luiz do Rego Barreto. Sua alvenaria
foi composta, em parte, por pedras vindas de Lisboa e outra
da praia de Pontas de Pedra.
"Em junho de 1821, chegou da Inglaterra o aparelho de
iluminação, com todo o material necessário, vindo também um
artista hábil para dirigir os trabalhos de assentamento, os quais
começaram no dia 29 daquele mês, quando ficou concluída a
torre de alvenaria que tinha de receber o referido aparelho"
(Pereira da Costa - Vol. VIU - anais Pernambucanos. O farol,
no entanto, só foi inaugurado em primeiro de fevereiro de
1822, no ano de nossa independência política. Ele simboliza o
porto e também a capital pernambucana, tanto é que faz parte
do escudo da cidade, juntamente com abarra e o forte do picão.
Segundo informações colhidas no livro de Rubem Franca
«Monumentos do Recife» pág. 31 o escudo do Recife tem
como autores o pintor Baltazar da; Câmara e o historiador
Mário Melo que ganharam o concurso instituído pelo então
prefeito Lauro Borba, em 1931.
Esse farol possui aproximadamente dezoito metros de
altura, e está assentado em base quadrada. Assemelha-se a
um fortim, com ameia.
Rubem Franca não atenta para o detalhe,' mas o atual
farol, não corresponde ao original haja vista que aquele foi
demolido por ocasião da reforma portuária (1910-23) este,
portanto, foi reconstruído nos arrecifes artificiais colocados
sobre a proteção primitiva.

O CAIS DO LAMARÃO

Até antes da reforma do porto (1923), além dos cais


internos, que citamos anteriormente, (Mosqueiro, Poço e
Lingüeta) os navios de maior calado que chegavam ao Recife,
normalmente vindos da Europa, fundeavam no Lamarão,
ou seja, fora da barra, com um detalhe curioso: os ricos

56
Carlos Bezerra Cavalcanti

passageiros, normalmente muito bem vestidos, eram obrigados


a desembarcar em um cesto, espécie de gereré (puçá) pulando
para o barco que os transportaria para o porto, numa cena
hilária e grotesca, assim descrita por alguns contemporâneos:
"... paquetes que não entravam no porto, que ficavam
dançando no Lamarão, se destacam com os das minhas leituras,
entre os maiores prazeres que me foi dado fluir nesse segundo
ano em Pernambuco. Só a operação de ser içado da lancha
e jogado na cesta, enorme cilindro que descia de bordo pelo
guindaste para nos apanhar no bote, no meio da gritaria dos eh,
eh! dos marujos, sob a galhofa dos passageiros e tripulação, só
isso era uma festa. A cesta, às guinadas, lançava-nos uns sobre
outros, desarrumando gravatas e fazendo crepitar os espartilhos
das senhoras, cujos seios, imprensados naquele embrulho, se
chocavam com os peitilhos engomados das nossa camisas. Ao
desprender-se do guindaste, a cesta abatia-se no fundo do bote
ou da lancha, num golpe brusco." (Gilberto Amado).
"Os botes pulavam nas vagas, quase sempre ariscas, e
o acesso a bordo requeria primores de destreza nos saltos
para a escada. Na melhor das hipóteses, um banho salgado"
(Mário Sette).

57
O Recife e seus bairros

O FORTE DO BRUM

Com a chegada dos holandeses a Pernambuco, em


Fevereiro de 1630, os portugueses estavam construindo o
Forte Diogo Paes, que deu lugar a essa nova fortificação com o
nome do conselheiro batavo Johan Bruyne. O Forte do Brum,
embora totalmente reformado, é uma das poucas construções
do tempo dos flamengos. Nele funciona o

MUSEU MILITAR

^o século XVEI, o Forte do Brum passou à


responsabilidade do Exército, sofrendo, a partir de então,
diversas adaptações. No início do século XX, abrigou a 3a
Bateria Independente.
Em 1915, a Bateria foi extinta sucedendo-lhe um
destacamento. Durante a II Guerra Mundial, o forte serviu para
acantonamento de diversas unidades de Artilharia de Formação.
Nesse prédio, que é tombado pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), passou a funcionar, a
partir de 5 de janeiro de 1987, o Museu Militar, que possui em
seu acervo documentos e peças valiosas da história brasileira
que vão desde a construção do próprio forte, passando pela
fase da Insurreição Pernambucana, Revolução de 1817, até a
heróica atuação da Força Expedicionária Brasileira ( FEB), no
segundo conflito mundial.
Em frente ao Forte do Brum está o:

MONUMENTO AO INFANTE D. HENRIQUE

A península ibérica deve muitas homenagens a esse


lusitano que, de forma singular e pioneira, aprofundou
e propagou os conhecimentos náuticos, que vieram ser

58
Carlos Bezerra Cavalcanti

responsáveis pela descoberta do caminho marítimo para as


índias e a chegada dos portugueses no Brasil.
A colônia lusa em Pernambuco não o esqueceu, tanto é
que, em 1940, no quinto centenário de morte daquele célebre
príncipe, ocorrida em Sagres, no ano de 1440, mandou
edificar esse monumento, que consta de um padrão com
coluna delgada, prisma quadrangular e que tem na sua parte
superior, uma Cruz de Malta de ferro.
Bem próximo a esse monumento, nas cercanias da
Fábrica de Biscoitos Pilar, encontra-se a:

ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DO BRUM

O edifício resistiu, milagrosamente, ao tempo e às


depredações. Está localizado nos limites territoriais da Fábrica
de Biscoitos Pilar sendo este o verdadeiro motivo para ter
sobrevivido até nossos dias.
Foi dessa Estação Ferroviária que, em outubro de 1881,
saiu o primeiro trem da Estrada de Ferro Norte, ou linha
férrea do algodão.
O simpático prédio da antiga Estação do Brum foi
construído em alvenaria e coberto de telhas francesas
sustentado por uma estrutura metálica. "O notável, no
entanto, é o terraço que envolve a edificação pelo lado oeste,
por ser executado em ferros ornamentados, vindos da Europa
e, depois, montados no Recife". A partir de 1997, recebeu
importantes reformas, estando nele instalado o Memorial do
Judiciário. Bem próximo a essa antiga estação temos a:

FÁBRICA DE BISCOITOS PILAR

Em 12 de Outubro de 1875, nascia nesse bairro a Padaria


e Fábrica de Biscoitos Pilar que, naturalmente, deve seu
nome à igreja existente bem próximo às suas instalações, a

59
O Recife e seus bairros

Empresa foi fundada pelo português Francisco Oliveira que


já em 1885 adquiria seus primeiros equipamentos indústrias
à Firma Inglesa Joseph Backer & Sonds que se tomaria
pioneira empresa do gênero no Brasil, coincidindo o fato com
o ingresso na sociedade do Engenheiro Mecânico Britânico
Joseph Turton que, juntamente com o fundador, lançaria as
bases da grande indústria em que se transformou, nas décadas
seguintes, a panificadora.
Após grande trajetória de sucessos a firma é hoje
denominada: Companhia de Produtos Pilar, sendo a
responsável pelo cheirinho gostoso que sentimos ao passar
nas imediações da sede da:

PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE

A atual sede do Governo Municipal do Recife é o


espaçoso prédio de quinze andares localizado na Avenida
Cais do Apoio.
Sua inauguração oficial data de 10 de janeiro de 1977,
embora já estivesse parcialmente ocupada desde 1975, ainda
na segunda gestão do Prefeito Augusto Lucena, principal
responsável pela sua construção.
Antes de ocupar esse edifício, a Prefeitura funcionava
num casarão da Rua da Aurora e as Secretarias Municipais
estavam distribuídas em vários pontos da cidade.
Em homenagens aos seus administradores, colocamos
abaixo, em ordem cronológicas, aqueles que ocuparam o
cargo de Prefeito a partir do advento da República.

60
Carlos Bezerra Cavalcanti

P R E F E IT O S D O R E C IF E
(1891-2001)

MANOEL PINTO DAMASO


Nomeado no lugar de Dr. José Mariano, cassado antes
de assumir, Manuel Pinto Damaso administrou o Município
entre 1891 e 1893, quando faleceu, em 22 de junho. Teve como
principal bandeira saldar um empréstimo de 336 mil réis
contraído ao Banco do Brasil, em 1872.

JOSÉ MARCELINO DA ROSA E SILVA


Assume como vice de Pinto Damaso e governa até 1896 sob
uma série de crises que culminou com o assassinato do grande
chefe político da oposição Dr. José Maria de Albuquerque
Mello, Ex-Presidente da Câmara, que, nessa condição assumiu
a Presidência da Província de Pernambuco em 1896.

JOSÉ CUPERTINO COELHO CINTRA


Depois de ocupar o cargo de inspetor Geral de Terras e
Colonização, no II Império, é nomeado Prefeito do Recife, em
1896. Em seu Governo, inaugurou a Escola de Engenharia e foi
quem negociou com Delmiro Gouveia a concessão do Mercado
do Derby, chamado oficialmente de Mercado Coelho Cintra

ESMERALDINO BANDEIRA
Nomeado pelo governo de Sigismundo Gonçalves foi,
como aquele, grande opositor de Delmiro Gouveia. Na ocasião
de sua nomeação, Esmeraldino Olímpio de Torres Bandeira
(nome de uma rua na Graça) se se encontrava no Rio de Janeiro
tendo assumido, interinamente o Governo municipal, na
qualidade de subprefeito, Luiz Cavalcanti de Albuquerque.

61
O Recife e seus bairros

MANUEL MOREIRA
Assumiu a Prefeitura ainda no século XIX. Sua
administração foi responsável pela instalação do dispensário
Otávio de Freitas, do asilo Magalhães Bastos e do monumento
à Imaculada Conceição no morro do mesmo nome e de que
trataremos ao abordarmos aquele bairro.

MARTINS DE BARROS
Este Prefeito foi o precursor das reformas urbanas do
centro do Recife. Já ao assumir, em 1905, iniciou as reformas
do antigo Cais do Colégio dando origem, nos moldes atuais, à
rua que tem seu nome, no Bairro de Santo Antonio. Promoveu
à demolição de todo quarteirão da antiga Rua do Cabugá,
que ligava a Primeiro de Março à Rua Nova, dando outras
dimensões a Praça da Independência, e andamento às obras
da Capela de Nossa Senhora de Piedade, em Santo Amaro,
construiu o forno de incineração de lixo, no Pombal (Santo
Amaro) e instalou o Circulo Católico e o Instituto de Proteção
à Criança, na Estrada de João de Barros.

ARQIUMEDES DE OLIVEIRA
Em seu Governo ( 1908 - 1911) foi inaugurado o Novo
Prédio do Senado Estadual (antiga residência do Conde da
Boa Vista, na Rua da Aurora) e dado início, pelo Governo
Federal, às grandes reformas do Porto e do Bairro do Recife.
Com os problemas políticos da campanha Rosismo X
Dantismo, ele renunciou ao cargo, assumindo, em seu lugar:

EUDORO CORREIA
Administra a cidade durante quase todo o Governo de
Dantas Barreto, quando teve a oportunidade de realizar o
primeiro recenseamento demográfico dõ Recife. Eletrifica o
serviço de bondes da capital, ligando-o a Olinda e inaugura
o serviço de esgoto da cidade, projetado pelo engenheiro
Saturnino de Brito.

62
Carlos Bezerra Cavalcanti

M.A. DE MORAES REGO


Em 1915, o engenheiro chefe da fiscalização do Porto é
nomeado pelo Governador Manoel Borba para administrar
o Recife. Em seu governo, que se estende até 1918, ele
constrói o Grupo Escolar Manoel Borba (Pátio de Santa
Cruz), o Matadouro Público de Peixinhos e promove diversos
melhoramentos na cidade, como o calçamento da Rua da
Aurora (antigo pântano do Cassimiro), do Largo do Hospício
(em frente ao Quartel do 21 BC), da Avenida Visconde de
Suassuna e da Rua Princesa Isabel.

LIMA CASTRO
Governa de 1919 até 1922, tendo à frente do Estado aquele
que o nomeou, José Rufino Bezerra Cavalcanti, construiu a
ponte que, como veremos, hoje tem seu nome, a Vila Popular
de Casa Amarela, deu início à construção do Parque 13 de
maio, e inaugurou os jardins da Faculdade de Direito.

ANTONIO A. R. PESSOA
Nomeado no final do Governo de José Rufino, teve no
curto período de sua gestão, um bom desempenho, realizando
diversas obras na cidade. Exonerou-se do cargo no mesmo
ano em que assumiu, deixando a vaga para o engenheiro:

ANTONIO DE GÓES
Prefeito em duas ocasiões (1922/25 2 1931/34) esse
engenheiro notabilizou-se pelo arrojo administrativo nas suas
duas gestões. Preocupo-se não apenas como embelezamento da
cidade, mas sobre tudo com sua melhoria. Um detalhe curioso
sobre Antonio de Góes é que ele, junto com os colega Coimbra
e Boickman, são responsáveis pela criação do COBOGÓ

ALFREDO OSÓRIO
Nomeado pelo governador Sérgio Loreto, Alfredo Osório
assumiu a administração da cidade já no final daquela gestão,

63
O Recife e seus bairros

no entanto foi responsável por relevantes obras de infra-


estrutura urbana. Dá início ao calçamento da antiga Estrada
dos Aflitos, atual Conselheiro Rosa e Silva, e cria o acesso ao
Morro da Conceição.

JOAQUIM PESSOA GUERRA


Mais conhecido como Pessoa Guerra, como está
consignado em rua que lhe reverencia no Bairro de Caxangá,
esse Prefeito desempenhou sua administração por dois anos,
quando construiu escolas, mercados públicos e pavimentou
diversas ruas, além de ter feito diversos benefícios aos
funcionários públicos.

JF. COSTA MALA


Nomeado prefeito do Recife em 1928, Costa Maia
promove até a Revolução de 1930, importantes intervenções
urbanas na capital. Foi esse administrador o responsável
pelo transporte da estrutura de ferro do antigo Mercado de
Caxangá para o de Casa Amarela, além disso construiu por
sobre a antiga estrada de João de Barros, a atual Avenida.

LAURO BORBA
Importante político Pernambucano, Lauro Borba teve
uma pequena passagem como Prefeito do Recife, sua gestão
estende-se de 1930 a 1931, quando, por força de interesses
revolucionários, entregou o cargo para o segundo mandato
do engenheiro Antonio de Góes.

J. PEREIRA BORGES
Governou de 1934 até 1937. Nesse período, criou a comissão
do Plano da Cidade, elaborando o anteprojeto da construção da
sede da Prefeitura. Desapropria vários pardieiros do bairro de
Santo Antonio, possibilitando as futuras reformas iniciadas por
Novais Filho. Edita o Guia da Cidade e promove melhorias no
serviço de iluminação pública.

64
Carlos Bezerra Cavalcanti

ANTONIO NOVAIS FILHO


Por ato do Interventor Agamenon Magalhães, de 1937,
Novais Filho é nomeado Prefeito do Recife tendo uma das mais
longa e profícua administração que se viu nessa capital. Durante
sua gestão, constrói a ponte Duarte Coelho, começa a abertura
da Dantas Barreto e abre a Avenida Guararapes, inicialmente
chamada de 10 de Novembro, em homenagem ao golpe de 1937.

JOSÉ DOS ANJOS


Assumiu os destinos do município em 1945,
vivenciando, portanto o fim da II Guerra e a Campanha pela
redemocratização do País, bastante movimentada no Recife.
Durante o seu Governo, deu continuidade às obras iniciadas
pelo seu antecessor e promoveu programa de valorização do
servidor público.

CLÓVIS DE CASTRO
Nomeado em 1946 pelo Gen. Demerval Peixoto,
Interventor Federal após a derrubada do Governo Vargas,
assumiu a administração municipal e deu continuidade
às obras de Pelópidas Silveira que o havia antecedido em
meteórico porém profícuo mandato.

ANTÔNIO ALVES PEREIRA


Assume seu primeiro mandato em 1947 e o desempenha
até 1948. Esteve mais uma vez à frente do Executivo Municipal
no período de 1951, novamente com Agamenon. Além
de vários obras e reconstrução de pontes, foi no mandato
do Prefeito Antônio Pereira que surgiu uma importante
deliberação, que ainda hoje perdura, qual seja a de proteger os
nomes dos logradouros redfenses já consagrados pelo povo. A
partir de então, as mudanças nos nomes de ruas e praças em
nossa capital só poderem acontecer com parecer conclusivo do
Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano,
IAHGP. ( Lei. Na 1.223, de 12 de junho de 1951).

65
O Recife e seus bairros

MANOEL DE MORAES REGO


Conhecido como o Prefeito das Pontes — são de sua época
as construções da nova (não a atual) Ponte da Torre, assim
como a do Derby (idem). Na gestão do engenheiro Moraes
Rego (1948 - 1950) foram pavimentados vários logradouros
onde destacamos: as estradas de Belém, e dos Remédios.
Em três anos de sua administração, dedicando tempo
integral, ele inaugurou a Estação Rodoviária de Santa Rita e o
novo Mercado da Encruzilhada tendo também restaurado os
de São José, da Boa Vista e de Afogados.

JORGE MARTINS
Assumiu o Governo Municipal em setembro de 1952,
nomeado por Etelvino Lins que havia substituído Agamenon
Magalhães recentemente falecido, em pleno mandato (24
de agosto de 1952). Durante sua gestão, deu continuidade a
diversas obras iniciadas por seu antecessor.

PELÓPIDAS SILVEIRA
Um dos políticos mais respeitados do século XX, em
Pernambuco. Durante seus três mandatos à frente do Executivo
Municipal foi responsável por algumas das mais importantes
obras realizadas na capital pernambucana, onde destacamos: o
alargamento da então Rua Conde da Boa Vista, pavimentação
da Avenida Norte e da então Estrada da Imbiribeira.
Preocupou-se com o aspecto social dos moradores pobres da
cidade, sobretudo na área de saúde. Foi Vice-Govemador de
Pernambuco e, finalmente, em pleno gozo de seu mandato
conferido pelo povo em 1962, foi deposto pelo golpe Militar de
1964, afastando-se, definitivamente da Política.

JOSÉ DO REGO MACIEL


Governou de 1953 até 1955, sua gestão foi marcada por
iniciativas voltadas para a educação popular, como a fundação
da Biblioteca de Afogados. Seu grande mérito, no entanto, foi

66
Carlos Bezerra Cavalcanti

ter dado continuidade às obras de seu antecessor, o que não é


muito comum, inclusive nos dias atuais.

DJA1R BRINDEIRO
Nomeado pelo Governador Etelvino Lins,
assume o cargo de prefeito do Recife, em junho de 1955,
governando até dezembro do mesmo ano. Notabilizou-se
pelas obras de embelezamento do Recife onde destacamos: As
restaurações das fontes do Parque 13 de maio e das praças da
República, do entroncamento e Maciel Pinheiro.
Preocupado com as condições de saúde da população,
cria o Comando Sanitário pára combater as muriçocas, além
de aparelhar o serviço de Defesa Sanitária.

MIGUEL ARRAES
Eleito pelo voto popular em 1960, fica no cargo até 1962,
quando se licencia para disputar a eleição ao Governo do
Estado, de onde sai vitorioso.
Durante sua administração pavimentou centenas de
ruas, com sensíveis melhorias das avenidas Sul e Boa Viagem.
Introduziu o serviço de caçambas coletoras de lixo e criou a CTU
Companhia de Transportes Urbanos e o Movimento de Cultura
Popular. No seu Governo aconteceu o Primeiro Baile Municipal.

LIBERATO PEREIRA DA COSTA JÚNIOR


Prefeito constitucional no período de janeiro a dezembro
de 1963, Liberato, com grandes serviços prestados ao
legislativo municipal, onde destacamos a lei que instituiu o
ensino curricular da história do Recife nas escolas municipais,
e a obrigatoriedade da colocação de uma obra de arte em
frente dos novos edifícios construídos na cidade, é hoje o
decano da Casa José Mariano e o Vereador mais antigo do
Brasil. Na sua gestão à frente da Prefeitura, foi responsável
por inúmeros benefícios ao Recife, onde destacamos:

67
O Recife e seus bairros

Criações da EMPREL, e da CODECIR, melhoramentos e


calçamentos em mais de cem ruas, e a construção da Ponte de
Limoeiro, inaugurada na gestão posterior.

AUGUSTO LUCENA
Eleito vice-prefeito independente assumiu a Prefeitura
com a deposição de Pelópidas Silveira (1964). Em dois
períodos esteve à frente dos destinos da administração pública
da capital pernambucana, perfazendo, nas duas gestões, um
total de quase nove anos.
Foi um dos prefeitos mais laboriosos que o Recife
conheceu: Duplicou as avenidas Caxangá, Abdias de
Carvalho e Agamenon Magalhães, construiu o edifício sede
da Prefeitura do Cais do Apoio, um de seus grandes sonhos,
criou a Companhia Municipal de Habitação e a Fundação de
Ensino Guararapes, alargou e/ou construiu várias pontes e,
finalmente, instalou a Empresa de Urbanização do Recife -
URB. Augusto da Silva Lucena é, no entanto, um dos prefeitos
mais injustiçados, vítima de uma campanha revanchista
liderada pelos governos pós-revolucionário, foi "crucificado"
pela demolição da Igreja dos Martírios, o que aconteceria, de
qualquer forma, por certo, haja vista o descaso e abandono
em que se encontrava, tanto que o povo costumava dizer,
alguns anos depois: se ele não fizesse Antônio Faria.

GERALDO MAGALHÃES
Assumiu a Prefeitura do Recife em 1969 e governou até
1970. Seu nome está bastante vinculado ao Ginásio de Esportes
Geraldo Magalhães (Geraldão), no entanto esse Prefeito, que
era Engenheiro, foi o responsáveis por importantes obras de
infra-estrutura urbana de nossa capital, onde destacamos: a
construção dos viadutos João de Barros e das Cinco Pontas, os
planos urbanísticos da faixa de praia de Boa Viagem e da Avenida
Agamenon Magalhães e o alargamento da Domingos Ferreira.

68
Carlos Bezerra Cavalcanti

ANTÔNIO FARIAS
Inicia sua gestão em março encerrando-a, exatamente,
quatro anos depois. Urbanizou as ruas da Imperatriz, Nova,
Duque de Caxias e a Praia do Pina.Concluiu o Edifício
sede da PCR, construiu os Centros Sociais Urbanos de
Campina do Barreto e Mustardinha, além do viaduto da
Cabanga, segunda ponte do Pina (Paulo Guerra), criou o
Projeto Pixinguinha em convênio com a Funarte e o projeto
Cura - Comunidade Urbana de Recuperação Acelerada,
através do qual fez, em Boa Viagem, remanejamento da rede
d'água, alargamento do Canal de Setúbal e arborização e
pavimentação de 53 logradouros.

GUSTAVO KRAUSE
Administra o Recife entre 1979 e 1982. Instala o Instituto
da Cidade com a finalidade de examinar, discutir e analisar
os problemas do Recife, Cria o Conselho de Defesa do Meio
Ambiente da Cidade e o SAC - Sistema de Ação Social, a
fim de promover a participação das comunidades de baixa
renda no planejamento e execução dos programas e projetos
da PCR. Executa os projetos Cunicultura - criação de coelhos
para o corte e hortaliça, com a finalidade de melhorar os
hábitos alimentares nas populações de baixa renda. Com o
projeto Um Por Todos, realiza obras de infra-estrutura nas
áreas carentes com a participação da comunidade.

JORGE CAVALCANTE
Governa o Recife entre maio de 1982 e março de 1983.
nesse curto período, cria o programa Sacolão com o objetivo
de promover a revenda de produtos hortifrutigranjeiros
a preço populares, fez o ajardinamento da Avenida
Agamenon Magalhães e instalou os canteiros divisórios da
Avenida Caxangá.

69
O Recife e seus bairros

JOAQUIM FRANCISO
Na sua primeira gestão, entre 1983 e 85, construiu mais
de duas mil casas populares e importantes obras de infra-
estrutura, como o viaduto Tancredo Neves e os parques da
Jaqueira, do Caiara e de Santana, implantou o 14Qsalário para
os professores municipais e criou o serviço de epidemiologia e
o Centro de Saúde Pública Veterinária. No segundo mandato,
criou o Projeto Cura, que pavimentou cerca de 300 ruas,
urbanizou seis mil quilômetros da Av. Boa Viagem. Joaquim
Francisco fez, ainda, obras em dezoito canais e, mostrando
sua preocupação com as classes menos favorecidas e de forma
inédita, distribuiu quatro mil títulos de posse de terra.

JARBAS VASCONCELOS
Assume a Prefeitura, pela primeira vez, em 1986 e nela
permaneceu até 1988. No seu primeiro mandato, criou o projeto
"Prefeitura nos Bairros" para democratizar as decisões sobre
obras e melhorias. Instalou o escritório para Revitalização do
Centro, visando, primeiramente o Bairro do Recife, construiu
13 novas escolas e reativou a COMPARE - Companhia de
Abastecimento do Recife com grande profundidade social. A
segunda gestão dedicou-se com mais afinco a programas de
saúde popular, não se esquecendo das grandes obras viárias
como a Ponte Gilberto Freyre. Por várias vezes consecutivas,
foi escolhido o melhor prefeito do Brasil.

GILBERTO MARQUES PAULO


Embora curta, sua administração foi das mais produtivas.
Revitalizou o centro da cidade, realocando os ambulantes
para áreas mais apropriadas. Levou para os bairros pobres
concertos de sinfônicas e criou o projeto Dançando e Serenata
nas Ruas. Criou, ainda o Projeto "Mesa Popular" e o Feirão do
Recife, com mercadinhos ambulantes, preocupou-se, também
com as praças inaugurando inclusive a Praça Vanildo Bezerra
Cavalcanti no sítio do Forte, no Bairro do Cordeiro.

70
Carlos Bezerra Cavalcanti

ROBERTO MAGALHÃES
Eleito em 1996 em aliança com o PMDB e empossado em
1997, o ex-govemador Roberto Magalhães, desempenhou o
mandato até 2001, como estava previsto. De personalidade
arrojada e empreendedora, Roberto Magalhães foi um dos
maiores prefeitos que o Recife conheceu, preocupando-se,
principalmente, com as obras viárias e com os setores de
saúde e educação, além de ter realizado melhorias em quase
todas as praças da capital.
Seguindo o nosso roteiro pelo Bairro do Recife, vamos
encontrar agora o:

TEATRO APOLO

Esse teatro, localizado no Bairro de Recife, é o mais


antigo da cidade, superando, inclusive o de Santa Isabel
que completou no ano dois mil, o seu sesquicentenário. Ele
foi criado em 1835, por Antonino José de Miranda Falcão,
aquele mesmo que em 1825 fundou o Diário de Pernambuco,
juntamente com José Joaquim dos Reis e Antônio José da
Silva Magalhães que o incorporaram à "Sociedade Harmônica
Teatral"
O casarão, inaugurado em 19 de Dezembro de 1846, foi
construído por Joaquim Lopes de Barros Cabral, pintor e
arquiteto da Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro. Foi
nele que, em 3 de novembro de 1850, se instalou o Gabinete
Português de Leitura, transferido posteriormente para a Rua
do Imperador.
O Teatro Apoio, devido a sua importância, deu seu nome
a alguns logradouros do bairro, no entanto, ficou desativado
durante certo período, servindo, inclusive, de armazém para
estocagem de soda cáustica. Foi reativado em 1982.

71
O Recife e seus bairros

IGREJA DA MADRE DE DEUS

Igreja de Nossa Senhora da Madre de Deus da


Congregação do Oratório de São Felipe Nery, ou apenas
da Madre de Deus, passou a receber essa denominação por
autorização da Carta Régia de 5 de Abril de 1707. É de estilo
barroco, aliás um dos mais significativos existentes no Brasil.
Não foi a primeira dessa Congregação em Pernambuco, uma
vez que a primitiva foi erguida ainda no século XVI, no local
conhecido na época como Estância de Leonardo Froés, hoje
Bairro de Água Fria.
Segundo Flávio Guerra no seu Velhas Igrejas e Subúrbios
Históricos (1961), pág. 88 "... A construção da atual Igreja
da Madre de Deus teve início em Março de 1706, quando
foi colocada a primeira pedra da obra, e concluído o seu
frontispício em 24 de Março de 1720,... para a construção da
nova igreja dos Padres de São Felipe Nery, foi aproveitado
um banco de areia que ficava no extremo sul da península e
somente aterrada a parte que lhe era necessária e bem assim a
casa contígua para residência provisória dos padres.
Prolongando-se depois esse aterro atingiu um estreito
para a entrada à velha ponta do Recife, que ao tempo,
terminava ao meio da Rua da Cadeia, hoje Avenida Marquês
de Olinda.
Com a demolição da Igreja do Corpo Santo, em 1913,
passaram as Irmandades do S. S. Sacramento do Senhor dos
Passos e de N. S. do Rosário e de Santana a funcionar na Igreja da
Madre de Deus, sendo para ela também transferidas ás imagens
de alguns recintos religiosos que existiam no Bairro do Recife.

72
Carlos Bezerra Cavalcanti

CAPELA DO N. S. PILAR

Construída sobre os escombros do antigo Forte de


São Jorge, ou Forte Velho como ficou sendo chamado até
sua demolição, a Capela do Pilar foi entregue às práticas
religiosas em 1683.
Como escreve iam cronista da época da Guerra dos
Mascates, a imagem da sua padroeira era muito milagrosa e,
por isso mesmo, muito procurada pelos habitantes de Fora de
Portas e de outras localidades do Recife de então.
Segundo Pereira da Costa (Ob. cit.): "A tradicional
capela ainda conserva internamente o tipo de sua construção
original, em que figura a abóbada semi-esférica da capela
mor, revestida de azulejos; mas exteriormente é quase que
toda nova a sua feição, por várias obras executadas, sendo
que a maior dessas obras foi a que se procedeu nos anos de
1898-1906, pelo Vigário da Paróquia, o Padre João Augusto,
auxiliado pelos moradores de Fora de Portas.

A ALFÂNDEGA

Depois dos devidos reparos, o antigo prédio do Convento


dos Padres de São Felipe Nery, localizado ao lado da Igreja
da Madre de Deus, de que tratamos anteriormente, passou a
instalar, em 17 de junho de 1826 a Alfândega de Pernambuco.
Conforme José Pires Ferreira, no Almanaque de
Pernambuco (1909) pág. 51. "Graças aos esforços do
magnânimo pernambucano Francisco do Rego Barros, o
futuro Conde da Boa Vista, todo o Convento foi adquirido
e ai se fizeram as modificações exigidas, ficando as obras
concluídas em 1841".

73
O Recife e seus bairros

P a la c e te d a A s s o c ia ç ã o C om ercial

A Associação Comercial de Pernambuco surgiu por


iniciativa e esforço do Comendador José Ramos de Oliveira,
seu pioneiro Presidente, sendo instalada solenemente em
primeiro de Agosto de 1839, num edifício localizado no
antigo Largo do Corpo Santo.
Em 1865, a entidade foi transferida para um prédio
próprio que desapareceu com a construção de um outro que,
por sua vez, também foi demolido para atender ao novo plano
de urbanização do Bairro, ocasião em que foi substituído pelo
atual, inaugurado em 16 de Dezembro de 1915.
Segundo Sebastião de Vasconcelos Galvão, no seu
Diccionario Chorographico, o Edifício da Associação
Comercial de Pernambuco "...estava situado na Praça Barão
do Rio Branco, entre os do London e River Plate Bank. (1917)
São três os seus pavimentos. O primeiro, eleva-se ao nível
da soleira, a uma altura de 1 m, 90 cm. É todo ladrilhado de
cerâmica americana, que é quase uma porcelana muito fina e
de gosto apurado e esquisito.

74
Carlos Bezerra Cavalcanti

As fundações são em alvenaria de pedra e o embasamento


em cantaria da Noruega e em alvenaria revestida de cimento
Lafarge, vulgarmente conhecido como cimento branco. A
parte externa é trabalhada de alvenaria recortada com relevos
que lhe dão um aspecto sóbrio e ao mesmo tempo distinto.
A fachada mais importante é a que dá para o mar. No alto
do frontão destaca-se um grupo de estátuas esculpidas em
cimento, simbolizando o Comércio, a Agricultura e a Indústria.
Cada iima mede treze metros. A do Comércio sustenta na
mão direita um coduceu e fixa-se na atitude de quem marcha.
É esbelta e dominadora. À entrada dessa fachada fica no
vestíbulo, com uma escadaria de mármore branco, o qual
foi até vencer-se a altura do embasamento. Daí para cima
continua uma elegante escada de ferro, até o 3° andar, com
degraus e corrimões de carvalho. No alto da escadaria de
mármore, de cada lado, há uma figura alegórica, empunhando
um alamparado de luz elétrica. À esquerda do vestíbulo nota-
se o espaço destinado ao elevador. Não é só essa a única escada
nem o único ascesor para se subir ao pavimento superior do
edifício. Como no palacete há quatro fachadas, cada uma tem a
sua escadaria e seu vestíbulo. O pavimento nobre fica situado
no l s andar. Tanto o assoalho desse como do 2a andar são de
acapu amarelo. Todo o l fl andar foi estucado, paredes e teto,
pelo decorador Paschoal Florentino.
O teto é de cimento armado, assentado em colunas
de ferro.O hall central forma duais galerias e vai desde
o embasamento até o teto, rematado por uma clarabóia,
circundada de cimento armado, com estuque e no centro feita
de vitrais em cores vitrais e rosáceas guarnecem igualmente
os quatro cantos abertos no hall. Essas peças de vidro colorido,
que custaram na Inglaterra 10 contos de rés, trazem desenhos
adequados à significação do edifício: ao café, a cana, ao cacau,
ao algodão, ao fumo etc.

75
O Recife e seus bairros

TERMINAL MARÍTMO DE PASSAGEIROS


NELCY DA SILVA CAMPOS

Justa homenagem esta prestada ao prático da barra do


Porto do Recife, Nelcy da Silva Campos, verdadeiro herói,
que numa manhã de 12 de maio de 1985, arriscou sua vida
para salvar o bairro portuário do Recife, que ameaçava ir
pelo ares, caso o navio " Jatobá" que se encontrava no cais,
próximo aos tanques de combustíveis do Brum, explodisse,
debaixo de imensas labaredas.
Naquela ocasião, o prático Nelcy que se encontrava em
casa, sabendo da notícia, por telefone, não hesitou em deixar
seus familiares e seguir para o porto do Recife. As nove
horas da manhã, em companhia do mestre Armindo e mais
quatro marinheiros, o Prático Nelcy, num rasgo de coragem
e destemor, rebocou o navio sinistrado para tuna distância de
quatro milhas da costa, salvando a cidade de juma catástrofe
sem precedentes, assim, quase vinte anos após o episódio,
a Câmara Municipal do Recife, atendendo proposta do
Vereador Roberto Andrade, denominou de Prático Nelcy
Campos o terminal marítimo de passageiro, instalado no
antigo Armazém 11.

76
Carlos Bezerra Cavalcanti

AS PRAÇAS

Castro Alves, quando estudante no Recife, no apogeu de


suas criações poéticas, talvez motivado pelo amor à Eugênia
Câmara e aos ares pitorescos e democráticos desta cidade,
declarou: "A praça, meus senhores, é do povo, como o céu é
do condor".
Canções como Domingo no Parque de Gilberto Gil e A
Praça de Carlos Imperial, demonstram a importância urbana,
social e até mesmo política desses logradouros.
Cidadezinha do interior que se preza tem que ter a
sua Pracinha com coreto, em frente da Matriz, onde casais
passeiam exibindo Roupas de Domingo.
O Recife, há muito deixou de ser uma bucólica
cidadezinha, no entanto teve sua origem ao redor da antiga
Ermida de Santelmo, que depois virou Matriz (Do Corpo
Santo), onde se formou, posteriormente, o Largo do Corpo
Santo, próximo ao local onde atualmente existe a:

PRAÇA RIO BRANCO

Também conhecida como do Marco Zero uma vez que,


por sua localização, recebeu, na década de trinta, um marco
do Automóvel Clube de Pernambuco que diz ser ali, o quilômetro
zero das principais rodovias do Estado, que iniciam no Bairro
Portuário.
O local é testemunha de grandes noitadas boêmias, pois
nele iniciam as Avenidas Marquês de Olinda, Rio Branco e
Barbosa Lima. É o verso do triângulo, ou seja, o leque que
se abre para os corredores viários, por onde escoavam os
principais produtos que chegavam ao Porto do Recife.
"...Dizer ser ela a antiga PRAÇA DO SICULÉ, depois
DA LUMGÜETA, DO COMÉRCIO e, finalmente SANTOS
DUMONT, não é localizar bem a atual. A antiga, tendo tais

77
O Recife e seus bairros

denominações, ficava um pouco mais para o norte, pois,


pelo menos, metade da atual Praça Rio Branco era ocupada
por velhos edifícios. Confrontando as novas plantas com as
anteriores à remodelação, verificamos, por exemplo, estar a
estátua do Barão de Rio Branco (até 1999) colocada naquele
logradouro, mais ou menos no local ocupado então pelo prédio
da Associação Comercial Beneficente, demolido, justamente,
para dar espaço à Praça. Mais próximo estaria o LARGO DO
CORPO SANTO, inicialmente chamado de TERREIRO DO
PALÁCIO, depois do TRAPICHE e do PELOURINHO. O que
parece certo é que nela ficava a PORTA DO MAR (Waterpoort)
e que também era ocupada, nesse tempo dos holandeses, pelo
Palácio do Alto Conselho, como se vê em plantas da época e na já
referida, publicada e organizada para "Tempo dos Flamengos".
Vinha desse edifício a primeira denominação de TERREIRO DO
PALÁCIO. Quando a Casa foi ao chão, passaram a chamá-la de
LARGO DO CORPO SANTO, mas apareceram os trapiches da
Companhia de Pernambuco e suas construções formaram uma
rua, a DO TRAPICHE e o terreiro, diminuindo de tamanho,
passou a se chamar TERREIRO DO TRAPICHE.
Em 1711, implantaram num de seus cantos, o pelourinho
e deram-lhe a denominação de PRAÇA DO PELOURINHO.
Mas a Igreja nunca era esquecida e a praça desapareceu com
ela, embora aquele templo tenha cedido as pedras que protegia
seu átrio central para a contração de toda a balaustrada que
guarnece o cais da atual Praça Rio Branco, entre os vãos dos
Armazéns do Porto."
A Praça Rio Branco, portanto, é fruto da grande reforma
urbana do Bairro que teve início em 1909. Ao ser inaugurada,
em 1917, lhe foi colocada a estátua do Barão, confeccionada
pelo escultor francês Feliz Carpentear e possui quase três
metros de altura.
No início do ano 2.000, um novo empreendimento veio
se juntar às intervenções lideradas pela municipalidade, trata-
se do "Projeto Eu Vi o Mundo Ele Começava no Recife" que

78
Carlos Bezerra Cavalcanti

teve apoio da iniciativa privada e visa a recuperação da área


da Praça Rio Branco ( Marco Zero) e dos arrecifes do cais do
porto, com vocação cultural, diversional e turística do bairro.
Segundo o Arquiteto Fernando Borba, um dos
responsáveis pelo "Projeto Arrecifes": junto com seu colega
e também Arquiteto, Reginaldo Esteves: "O plano integra-se à
intervenção do Bairro do Recife, porém sem nada destruir, trazendo
novos elementos de enriquecimento da área, pelo tratamento plástico
e pela acentuação de seu pendor monumental, caracterizando-se
como uma homenagem dos pernambucanos à sua capital, na chegada
do terceiro milênio.
O arrecife que se estende em frente ao porto deverá ser agenciado
na extensão de um quilômetro de frente à Praça Rio Branco ( Marco
Zero). Sobre ele será construída uma plataforma pavimentada com
cerca de cem metros por vinte, destinada a acolher eventos culturais
e áiversionais os mais variados.
Sua característica de grandiosidade e simbolismo será uma
escultura representando o congraçamento a paz e a união no
terceiro milênio assim como o acolhimento dos pernambucanos aos
seus visitantes.
Vinte outras esculturas estão ao longo da plataforma. Sugere-
se a participação de escultores que trabalham em pedra como os de
Fazenda Nova, Bezerros e Recife, sem prejuízo do emprego de outros
materiais como cerâmica, concreto, os metais, etc.
Um sistema de flutuantes articulados será previsto ao lado da
plataforma do molhe para receber o piiblico por ocasião de eventos
de grande massa (Shows, Desfiles de Moda, Espetáculos Teatrais,
Cinema, entre outros)
Haverá instalações especiais para iluminação não apenas da área
da plataforma e dirigida para as esculturas, como para a realização de
magníficos espetáculos interligados à música (tipo som- et lumière)
Duas pequenas áreas semi-enterradas no molhe proporcionarão
setores de camarins e bastidores de espetáculos e serviços como casa
de força, depósitos e W. C.
A Praça Rio Branco será redesenhada, havendo-se a execução

79
O Recife e seus bairros

de um mirante com 50 metros de altura, permitindo a visão de todo


o porto, o molhe com seus quatro quilômetros e meio, o alto mar,
Olinda, Boa Viagem e o próprio Bairro do Recife.
Sugere-se como motivo escultórico para alguns exemplares,
a utilização das sereias, conforme a interpretação original da
lenda milenar (a sereia como mulher pássaro), muito mais rica em
possibilidade estética e que tornará, sem dúvida, o Recife conhecido
como primeira cidade a adotar essa versão.
Os diversos "Tours" náuticos que percorrem a costa serão
estimulados a visitar o molhe, podendo-se criar programações
especiais para isso.
O projeto construído será apreciado de dia e de noite por
tripulantes e passageiros dos navios que aqui aportarem vendo
atraída sua atenção de modo positivo e gerando uma publicidade
espontânea em outras cidades e países, do nosso Recife.

PRAÇA ARTUR OSCAR __________ ________


(Arsenal de Marinha)
Segundo ainda o autor de RECIFE DO CORPO SANTO,
PÁG 81: "__Até a metade do século XVIII, o local onde hoje
está esta praça era ocupado pelos bastiões da porta norte, ou
da cidadela, a LANTPOORT dos flamengos.
Na planta Genográfica constam as cotas 11 e 12
assinalando, respectivamente "reduto que existe e o que
está demolido, ambos ladeando a porta. Esta que ficava em
frente à Rua do Bom Jesus, findou se transformando em
Arco. O reduto que existe era conhecido popularmente como
o Forte do Quebra Pratos...- Oficialmente era chamado de
Forte do Bom Jesus e com o seu desaparecimento e os aterros
procedidos naquela área, foi ao leste da mesma construído o
chamado Arsenal de Marinha, que, por longo tempo, deu seu
nome à praça.
Nela o Batalhão dos Voluntários da Pátria formou quando
partiu e quando voltou da gloriosa campanha na Guerra do

80
Carlos Bezerra Cavalcanti

Paraguai, embora lamentando os irmãos que ficaram nos


campos do sul. Daí porque a municipalidade, na vereação de 11
de Abril de 1870, fez esquecer a denominação popular de Praça
do Arsenal de Marinha pela de Praça de Voluntários da Pábia. Diz
então Pereira da Costa: "Vem depois uma nova geração de edis
que, ingratamente, esquecendo os assinalados serviços militares
de nossos bravos voluntários, resolve a revogação daquela
patriótica denominação, impondo à praça o estranho nome de
um general, que nos trouxe como troféu das suas glórias, os
tristes louros da chadna de Canudos que passa à posteridade
sob os protestos__em nome da humanidade e da civilização, de
escritores militares do quilate de Euclides da Cunha e de nosso
ilustre conterrâneo, o general Dantas Barreto".
O general assim repudiado pelo nosso historiador era
justamente Artur Oscar, ainda hoje rememorado naquele
logradouro.
Havia, no meio da praça, um obelisco assinalando o local
e as homenagens que prestamos aos nossos V oluntários da
Pátria, monumento esse erguido graças a uma subvenção
pública que teve como um dos principais patronos, o sempre
lembrado professor Cândido Duarte; mais tendo ruído,
talvez, pela incúria daqueles que esqueceram o glorioso
batalhão pernambucano, foi o local aproveitado para nele se
render outra homenagem ao herói nacional de nossa Marinha
de Guerra, o Almirante Tamandaré...

PRAÇA DO A PO LO

Na década de 1960, antes da construção do edifício sede


do Banco de Desenvolvimento do Estado de Pernambuco -
BANDEPE-, esse logradouro era muito mais extenso, indo
da antiga sede do Banco do Brasil, defronte da atual, no final
da Avenida Rio Brando, até a Rua Álvares Cabral. Na década
de setenta foi nela colocado o busto do poeta palmarense
Ascenso Ferreira.

81
O Recife e seus bairros

Essa Praça, que surgiu com a construção da Ponte Buarque


de Macedo, de que falamos neste mesmo trabalho, deve seu
nome, à exemplo da rua e da travessa, ao Teatro Apoio.
Por volta de 1888, em planta de Alfredo Lisboa, observa-
se que a antiga Praça do Apoio abrangia um grande semi­
círculo no final da Avenida Central ( atual Rio Branco) e na
cabeceira do lado oeste da Ponte Buarque de Macedo, onde,
em parte dele, foram construídos os edifícios sede do Banco
do Brasil e do BANDEPE, como vimos anteriormente.

___ PRAÇA PADRE MACHADO___________________


(Largo do Chaco)

O alargamento da Rua de São Jorge é chamado de Praça


Padre Machado, que, segundo Rubem Franca, trata-se de
abnegado Vigário, amigo dos pobres e dos trabalhadores do
porto, na década de 1930.
Está localizada em frente à Igreja do Pilar.
Para Pereira da Costa a atual praça corresponde ao
antigo Largo Fora de Porta que recebeu a nova denominação
em 1870, para reverenciar o feito relacionado à Guerra do
Paraguai, no episódio dos pampas sul americanos.
A exemplo do Campo da Honra, rebatizado pelos
patriotas de 1817, esse logradouro foi denominado de Campo
dos Patriotas, por informação de Vanildo Bezerra ( Ob. dt. Pág.
97) baseado no "ultimaüxm" ai lavrado no dia 7 de março e
dirigido ao Governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro,
refugiado na Fortaleza do Brum, impondo sua capitulação.

82
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DE SANTO ANTONIO

Antes da invasão holandesa, (1630) existiam na então


"Dha dos Navios", depois de "Antônio Vaz", apenas alguns
casebres de pescadores e o Convento Franciscano onde os
neerlandeses instalaram o "Forte do Ernesto".
A ilha tinha a denominação de "Porto dos Navios",
por nela existir um estaleiro onde se construía algumas
embarcações. Já foi conhecida como Dha do Governador, por
ter em seus limites o "Palácio de Friburgo", edificado por
Nassau e o Colégio dos Jesuítas que, posteriormente, serviu

83
O Recife e seus bairros

de morada aos Governadores de nossa Província. Foi também


nessa localidade que Maurício de Nassau se Instalou ao chegar
ao Recife (1637). A sua primeira residência em Pernambuco
estava situada nas proximidades da confluência das atuais
Ruas Primeiro de Março e do Imperador chamadas no século
passado de "Rua do Crespo" e do "Colégio", respectivamente.
Primitivamente a Rua do Imperador se subdividia em três
pequenas vias: A Rua do Colégio, que ia das imediações da
atual- Praça 17 onde existia o Colégio dos Jesuítas, à atual
Primeiro de Março. O outro trecho, que ia da Primeiro de
Março até o Arquivo Público era denominado de Rua da
Cadeia Nova, uma vez que no prédio do Arquivo funcionou
primitivamente como Cadeia Pública, e a terceira parte que
era conhecida como Rua de São Francisco, por causa da Igreja
e da Irmandade ali existentes.
Na Rua do Imperador, justamente nesse último trecho,
existiu o famoso Teatro Capoeira, chamado, oficialmente de
Casa da Ópera ou Teatro de São Francisco, que começou a
funcionar em 1772, num edifício térreo e acaçapado
Em meados do século XIX as senhoras da sociedade se
queixavam das "mundanas" que faziam ponto em frente a
esse Teatro.
No final daquele século, funcionou naquela artéria, que
se chamava, então "15 de Novembro ", mais precisamente
na casa n. 30, o Clube Nove e Meia do Arraial. Nesse Clube,
além de jogos e danças havia também a presença de algumas
"mariposas" destacando-se, entre elas : "Laura Passos" que
teve vários amantes e cafetões, sendo motivo de desavenças
e até de crimes de morte envolvendo alguns freqüentadores,
motivo pelo qual era conhecida como "Laurinha Cemitério".
Nesse Bairro, em tempos mais recentes, funcionaram
algumas boates, sendo a mais famosa delas a "BOITE MAUÁ",
na Rua do Rangel, com música ao vivo e acesso ao primeiro
andar por um velho elevador e o:

84
Carlos Bezerra Cavalcanti

GRANDE HOTEL

Foi o hotel mais importante em meados do século


passado, hospedando, inclusive, alguns Presidentes da
República como Getúlio Vargas, João Goulart, Castelo Branco
e Costa e Silva e, figurões internacionais como Charles De
Gaulle e até Evita Perón. Houve também quem nele fixasse
residência, como o escritor Câmara Cascudo.
"Para atrair tanta gente famosa, O Grande, como os
americanos o chamavam, tinha seus toques especiais. O prédio
em estilo moderno para a época em que foi inaugurado, deu
nova imagem ao Bairro de Santo Antonio . De suas janelas era
possível avistar o Rio Capibaribe e o casario do Bairro do Recife
ou, até mesmo, os hidraviões da Condor, no Cais de Santa Rita.
No início da década de 1940, os cassinos eram as
principais atrações noturnas do Recife que então só contava
para a concorrência, o Cinema do Parque e o Café Lafayette.
No Grande Hotel funcionava, no Salão Azul, o mais seleto
deles, freqüentado pela alta sociedade. Foi inaugurado em 25
de junho de 1938, com um majestoso baile de gala, com show
de Francisco Alves e duas orquestras do Rio de Janeiro.

O Grande H otel e o Monumento a Gago Coutinho e Sacaãura


Cabral, ainda no centro da Martins de Barros.

85
O Recife e seus bairros

A CAPELA DOURADA

Pouco conhecida dos Pernambucanos, a Capela Dourada


é merecedora dos maiores elogios, pela sua exuberância e
beleza. Pertence à venerável Ordem Terceira de São Francisco.
"A capela deve seu apelido de dourada ao fato de cada
polegada de seu interior, não ocupado por pintura de Santos
Mártires da Ordem Terceira Franciscana, ou azulejos, estar
revestida de talhas cobertas de ouro. A ausência aqui daqueles
detalhes policromados, ocasionais, tão comuns na decoração
de Igrejas do mesmo período, talvez tenha influenciado na
escolha de seu cognome particular"( Robert C. Smith, In
Igrejas, casas e móveis).
Segundo a mesma fonte, o emprego da decoração
esculpida nos seus altares, altar-mor, púlpito, portas
emolduradas das pinturas da Capela Dourada, bem como no
forro e nas duas comijas principais do interior, é produto de
estilo barroco, em voga em toda parte, em Portugal e no Brasil,
no fim do século XVII. Também é digna de nota a ausência
de antropomorfos e símbolos da Ordem Terceira. A Capela
é dedicada à imposição mística das chagas de Cristo sobre o
corpo de São Francisco..
Entretanto, não há referência ao milagre da Stigmata, em
qualquer pormenor da escultura".

___ A IGREJA DE SANTO ANTÔNIO_____________

Esse templo é assim descrito por Rubem Franca


(Monumentos do Recife pg. 59 :
"Cativamente bela, a Igreja do Convento de Santo
Antônio, que o povo se acostumou chamar de São Francisco.
No átrio, um cruzeiro de pedra, primitivamente.
Os dois leões chineses (um de cada lado), em cima da
parede do átrio.

86
Carlos Bezerra Cavalcanti

A fachada da Igreja tem cinco arcos romanos de pedra


lavrada; três sustentam o frontispício do Templo, um do
lado norte, de acesso à portaria do Convento e um do lado
da Ordem Terceira em frente ao nicho de Santo Antônio o
casamenteiro, padroeiro do Recife, tão querido do povo.
As janelas da fachada são belamente emolduradas, três
óculos. A data "ANNO1770". Frontão profusivamente ornado
de volutas e de conchas. O emblema da Ordem. Enormes
tochas. A cruz, toda de pedra .
A Torre da Igreja, única bela e tímida, fica meio
escondida, ao lado e atrás, é como um campanário, torcendo
barrocamente a composição. Revestida de azulejos, a torre
tem um relógio alemão, certo na hora, na face voltada para o
Norte."
O início da construção desse templo data de 1585 e já
em quatro de outubro daquele ano os frades Franciscanos se
transferiram para ela. A igreja foi posteriormente concluída
sendo a ela anexado o convento, utilizado pelos holandeses,
como vimos, que ali instalaram o Forte do Ernesto (1630-54)
para a proteção da parte sul da então ilha de Antônio Vaz
Junto a essa Igreja funciona o importante Museu de Arte
Sacra, um dos mais relevantes do ramo, em terras brasileiras.

GABINETE PORTUGUÊS DE LEITURA

87
O Recife e seus bairros

Fundado, em 3 de novembro de 1850, no salão nobre do


Teatro Apoio. Passou a funcionar, desde 1912, num suntuoso
prédio localizado na Rua do Imperador, ns 290.
"O Gabinete Português de Leitura mantém viva a tradição
de ser uma instituição portuguesa no Brasil a serviço, tanto
de brasileiros como de portugueses, abrindo os seus salões,
franqueando a suabiblioteca a centenas de assíduos freqüentadores
— estudantes, professores, artistas, escritores,— que, na velha e
prestigiosa instituição lêem, aprendem, estudam, pesquisam."

ARQUIVO PÚBLICO ESTADUAL

Próximo ao Gabinete Português de Leitura, na mesma


Rua do Imperador, está o Arquivo Público Estadual que,
posteriormente, veio a se chamar "Jordão Emereciano". É
quase, uma decorrência do Arquivo Geral do Estado criado
em 4 de dezembro de 1945, pelo decreto lei ns 1.265, com a
responsabilidade pela guarda e preservação da memória
documental de Pernambuco e que passou a funcionar no
Palácio do Governo. Em 1971, se instalou no prédio da antiga
Biblioteca Pública, que já foi cadeia.
Possui essa Entidade Cultural o mais importante acervo
bibliográfico da História de Pernambuco, onde se encontram
manuscritos de séculos passados e ordens e portarias
Governamentais.

O JORNAL DO COMMERCIO

Com sua sede localizada ao lado do antigo Recife Hotel, o


Jomal do Commercio foi fundado por João Pessoa de Queiroz,
em 3 de Abril de 1919.Dedicou-se, inicialmente, à campanha
Presidencial de Epitácio Pessoa. Naquela época o Recife
gozava a invejável condição de capital política, econômica e
intelectual do Nordeste Brasileiro.

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Carlos Bezerra Cavalcanti

DIÁRIO DE PERNAMBUCO

Situa-se na Praça da Independência, por isso mesmo


também conhecida como " Pracinha do Diário" esse, que é o
Jomal mais antigo em circulação da América Latina e de língua
portuguesa, no mundo. O Diário de Pernambuco foi criado
por Antonino José de Miranda Falcão, em 7 de novembro de
1825, na Rua Direita.
Em 1828, a Tipografia do Diário ou Tipografia Miranda
& Companhia mudou-se, indo instalar-se na Rua das Flores,
onde funcionou até 1831.
Da Rua das Flores foi para a Rua da Soledade, ns 498 e daí
para a casa D l, da Rua do Sol, depois pára o Pátio da Matriz
de Santo Antonio. Mudou-se ainda para a Rua das Cruzes,
(atual Rua Diário de Pernambuco), depois para a Rua Duque
de Caxias, nB 42 e,finalmente, em 1903, para o seu endereço
mais famoso, um edifício de estilo neoclássico onde o diário
funcionou por cento e um anos.

Antigo prédio do Diário

89
O Recife e seus bairros

O CAFÉ LAJFAYETTE

Antigo depósito de cigarros da Fábrica Lafayette, o


prédio do Café era de estilo remanescente do final do século
XIX. Tendo em vista seu posicionamento, no cruzamento das
ruas Primeiro de Março com Imperador Pedro n, junto às
redações dos principais jornais da época, Jornais Pequeno, do
Commercio e Diário de Pernambuco os jornalistas, intelectuais
e homens públicos eram seus principais freqüentadores,
principalmente nos finais de tarde.
O local era essencialmente masculino, onde seus
fregueses decidiam o futuro da cidade como lembrou certa
vez o saudoso Capiba, em entrevista ao Diário de Pernambuco
de 7 de novembro de 1993. " Além do tradicional café a CASA
servia cerveja e outras bebidas. As instalações não chegavam
a ser confortáveis, mas eram sóbrias, diz a matéria. " Os
homens se serviam, na maioria das vezes, em pé, observando
o movimento dos transeuntes"
O Café Lafayette era a nossa Confeitaria Colombo
compara o Arquiteto Hélvio Pólito, Professor da
Universidade Federal de Pernambuco. Não chegava a ser
tão bonito, mas nunca deixou de ser um dos lugares mais
freqüentados da época..."
Outros "cafés" desse período também não sobreviveram
às mudanças impostas pelo tempo com as inovações nos
usos e costumes dos bairros centrais do Recife, que perderam
seu perfil misto de residencial e comercial, afastando seus
moradores para novos aglomerados urbanos. O Vitória, O
Glória, na Rua da Palma, com a Rua Nova, onde João Pessoa
foi assassinado ou ainda o Café Chile, na Pracinha do Diário
onde também foi ferido mortalmente o deputado Júlio
Brasileiro, fato que deu origem ao lamentável acontecimento
que ficaria na história como "Hecatombe de Garanhuns.

90
Carlos Bezerra Cavalcanti

O C afé Lafayette (foto Liberato Costa Júnior)

RESTAURANTE DOM PEDRO

Antes de existir o Restaurante D. Pedro, na Rua do Imperador


do mesmo nome, funcionava no local o Restaurante Continental,
que abrangia uma área mais ampla, indo ao encontro do antigo
e famoso "Café Lafayette", de que acabamos de falar.
O Restaurante D. Pedro, posicionado logo em frente ao
prédio do Arquivo Público Estadual, ao lado do Jornal do
Commercio, próximo ao Gabinete Português de Leitura e
ao quase bicentenário Diário de Pernambuco tinha, por isso
mesmo, na sua freguesia, importantes jornalistas e intelectuais
da época, como Mauro Mota, Vanildo Bezerra Cavalcanti e
muitos outros que, infelizmente não mais o freqüentam, por
não mais pertencerem a este transitório mundo.

PRAÇA DEZESSETE

Esse Logradouro chamou-se inicialmente de Praça do


Colégio, por ficar próxima ao Colégio dos Jesuítas, como vimos.

91
O Recife e seus bairros

Depois passou a chamar-se Praça do Governador, uma vez


que, com a demolição do Palácio de Friburgo, os Governadores
passaram a residir no antigo Colégio, abandonado pela extinta
Ordem de Santo Inácio de Loyola. Em seguida denominou-se
Passeio Público, quando recebeu importantes melhoramentos,
na administração do Conde da Boa Vista.
A Praça homenageia a Revolução de 181 7 .0 local
foi testemunha de dois fatos de grande relevância para a
nossa' história:
Em 22 de Novembro de 1859, desembarcava no cais
fronteiriço à praça, o Imperador D. Pedro n, para uma
longa visita a Pernambuco, motivo pelo qual passou aquele
logradouro a chamar-se Praça 22 de Novembro.
Em 5 de junho de 1922, descia no Recife após a primeira
travessia aérea do Atlântico Sul, os portugueses Gago
Coutinho e Sacadura Cabral.
Para homenagear esse importante feito a comunidade lusa
em Pernambuco, fez erguer um lindo monumento nessa Praça:
Em frente ao grande pedestal, todo em pedra portuguesa,
na face voltada para o rio estão de cima para baixo, as armas
de Portugal, as figuras dos dois aviadores protagonistas do
grande feito.
E as inscrições:
"Aqui desembarcaram em 5 de junho de 1922 os aviadores
da Marinha de Guerra Portuguesa tendo atravessado o
Atlântico. Offerta dos portugueses de Pernambuco à cidade
do Recife no ano de 1927."
A Praça foi posteriormente restaurada, encontrando-se,
atualmente, em perfeito estado de conservação. Foram limpos
e reformados os seus monumentos, que são duas belíssimas
obras de arte:
O primeiro foi ali colocado pela Companhia do Beberibe
então responsável pelo abastecimento d'água da cidade, em
Julho de 1846. Trata-se de uma fonte monumental, feita de
mármore branco e fabricada em Gênova, na Itália.

92
Carlos Bezerra Cavalcanti

O segundo foi implantado no outro lado da Praça,


inicialmente na faixa de rolamento da Av. Martins de Barros e
dedicado ao vôo transatlântico de que tratamos ainda há pouco.
Também na Praça Dezessete podemos encontrar a Igreja
do Divino Espírito Santo, que pertencia ao antigo Colégio
dos Jesuítas.
Segundo José Antônio Gonsalves de Mello e Fernando
Pio, a primitiva Igreja foi construída em 1642, com o nome de :
"Igreja dos Franceses", financiada pelo Conselho dos Dezenove
e pelo próprio Maurício de Nassau, atendendo pedido dos
reverendos franceses Lá Raviere e Auton, Deputados do sindo
que, naquele ano, se realizou em Det Holanda.
Em 1654, após a Restauração Pernambucana, pôr
informação de Rubem Franca (ob. Cit.) Francisco Barreto
de Meneses doou o "Templum Gal Lucin" aos sacerdotes
iniciados a fim de que nele se instalasse o Colégio dos Jesuítas
com a expulsão dos Jesuítas pelo Marquês do Pombal, em
primeiro de Maio de 1760, a Igreja foi abandonada.
Só em 1855 o Presidente da Província, José Bento
Figueiredo, ordenou que a antiga igreja dos Jesuítas fosse
entregue à Irmandade do Divino Espírito Santo."
Outro logradouro de grande importância deste Bairro de
Santo Antônio é a:

PRAÇA DA REPÚBLICA

Foi em sua primitiva área que Nassau construiu,


não apenas o seu famoso Palácio de Friburgo, chamado,
popularmente, de Palácio das Torres, como um suntuoso
Jardim Zoobotânico, aliás, diga-se de passagem, o primeiro
do Brasil, onde Marcgrave, realizou, em 1641 importantes e
pioneiros estudos sobre a fauna e a flora nordestinas. Nele
funcionou o primeiro farol da costa brasileira.

93
O Recife e seus bairros

Palácio de Friburgo (das Torres)

Essa Praça, foi chamada inicialmente de Praça do Palácio


Velho, com a execução dos principais heróis de 1817 nesse
local, no curto período revolucionário, deram-lhe o nome de
Campo dA Honra, denominação logo substituída pôr "Campo
do Erário" e, com a visita de D. Pedro n, em 1859, de "Campo
das Princesas". Recebeu seu jardim em 19 de Outubro de 1872.
Dezessete anos depois, com a queda do Império e a nova
forma de governo, foi finalmente denominada de " Praça da
República."
Nela foi bento o Pendão da Revolução Pernambucana de
1817, cem anos depois, adotado como Estandarte do Estado
de Pernambuco, por Decreto nQ459 de 23 de Fevereiro de
1917 do então Governador do Estado, Dr. Manuel Borba,
atendendo solicitação do IAHGP.
O Pavilhão foi idealizado pelo Padre João Ribeiro Pessoa
de Melo Montenegro, e possuía, originalmente, três estrelas,
representando as Províncias de Pernambuco, Paraíba e Rio ^
Grande do Norte que protagonizaram aquele movimento
revolucionário. E bicolor, azul escuro e branco, sendo as cores
partidas horizontalmente, em seções desiguais. No retângulo
branco inferior uma pequena cruz referência ao nome Santa

94
Carlos Bezerra Cavalcanti

Cruz, dado ao Brasil, na época do descobrimento; no retângulo,


maior e de cor azul, um sol significando que os Pernambucanos
são filhos do sol e vivem sob ele. O Astro Rei é cercado de um
arco-íris tricolor, simbolizando paz, amizade e união.
Acima do arco-íris uma estrela, em lugar de três.
Já o hino de Pernambuco é de autoria do poeta Oscar
Brandão da Rocha com música do maestro italiano Nicolino
Milano. Foi vencedor de um concurso instituído em 1908,
no final do Governo de Sigismundo Gonsalves. O Brasão
de Pernambuco, por sua vez, resultou de mensagem do
governador Alexandre José Barbosa Lima, em 21 de maio
de 1895, que teve em seu bojo o texto da lei encaminhada ao
Governador do Estado por José Marcelino da Rosa e Silva,
sendo sancionada em 25 de maio de 1895, especificando:
"O escudo que deve servir como selo de Pernambuco,
para autenticar os atos oficiais, conterá uma faixa estreita
elíptica, ornada de tantas estrelas quantos forem os municípios
do Estado e cercando o desenho ao extremo norte do Recife
que confronta a capital com o farol e o fortim da barra,
destacando-se, ao longe, a cidade de Olinda e à direita, o sol,
erguendo-se sobre o oceano. Encimando o escudo, ver-se-á o
Leão em repouso, à esquerda e aos lados, a cana de açúcar
e o algodoeiro em flor, enlaçados, na extremidade inferior,
por uma fita azul e branca, tendo as datas 1710,(Criação da
Vila) 1817(Revolução Pernambucana), 1824 (Confederação do
Equador) e 1889 (Proclamação da República).
Em 1889, segundo Sebastião de Vasconcelos Galvão,
estavam situados nessa Praça: o Palácio do Governo , no
local do antigo Erário Público, o Teatro de Santa Isabel, um
dos mais belos do Brasil, a Escola de Engenharia, construída
na administração do Dr. Alexandre José Barbosa Lima e
inaugurada em 6 de março de 1896; o Senado Estadual, o Liceu
de Artes e Ofícios e o belo edifício, onde, no final do século,
passou a funcionar a Biblioteca Pública (1875) e o Tribunal de
Relação, demolido na década de quarenta do século passado,

95
O Recife e seus bairros

para dar lugar, em nome da modernidade, ao atual prédio da


Secretaria da Fazenda.
Atualmente existem nessa Praça os seguintes monumentos:

1. Estátua do conde da Boa Vista


2. Monumento a Augusto dos Anjos.
3. Estátua de Vauthier.
4. Fonte Luminosa.
•5. Baobá (Monumento Natural).
6. Monumento aos Heróis de 1817.
7. Monumento a Nassau

PALÁCIO DO GOVERNO

O Palácio do Governo, cujo nome oficial é "Palácio-


do Campo das Princesas", em homenagem às filhas do
Imperador Pedro II que ali se hospedou (Sozinho) durante
sua visita nos meses de novembro e dezembro de 1859, foi
construído no local do antigo Erário Público por iniciativa do
então Presidente, o Barão da Boa Vista, em 1841.Em 1922, no
Governo do Dr. José Rufino Bezerra Cavalcanti, passou por
grande reforma e, nessa ocasião, ganhou o terceiro pavimento.
O seu interior possui dependências amplas e harmoniosas,
onde se destacam seis salões, ricamente decorados e com
belíssimo mobiliário.
Em frente à imponente escadaria, que dá acesso ao
primeiro pavimento, há um vitral com datas significativas dos
anais pernambucanos.

TEATRO DE SANTA ISABEL

Projetado e construído pelo arquiteto francês Louis Leger


Vauthier, um dos responsáveis pela confecção da Estátua da
Liberdade, essa magnífica casa de espetáculo foi também uma

96
Carlos Bezerra Cavalcanti

iniciativa do grande pernambucano, Francisco do Rego Barros,


o Futuro Conde da Boa Vista. Suas obras foram concluídas em
1850, já sob a responsabilidade do Engenheiro José Mamede
Alves Ferreira.
Seu estilo é neoclássico. Uma arcada de cinco vãos, tiês
para frente e dois laterais dá ao teatro ares de nobreza. Possui
robustas pilastras decoradas com arabescos e magníficas
colunas, acrescidas de harmoniosas varandas. Seu frontão é
triangular, onde se podem vislumbrar, no alto, dois graciosos
óculos. O salão nobre abriga duas telas valiosas de Murilo
La Greca. O interior é ricamente decorado, salientando-se os
espelhos do salão nobre e os camarotes.
Era nesse teatro que se realizavam os grandes bailes
da sociedade recifense inclusive, mais recentemente, os das
formaturas de Direito (Baile do Rubi) e de Medicina (Baile da
Esmeralda)

Teatro de Tanta Isabel, visto da cúpula do:

PALÁCIO DA JUSTIÇA

O local onde está edificado o suntuoso Palácio da Justiça,


foi primitivamente ocupado por um viveiro de peixes do

97
O Recife e seus bairros

Jardim Zoobotânico do Palácio de Friburgo, de que falamos


anteriormente.
No início do século passado, existiam no local dois
edifícios: um voltado para a Rua do Imperador, ao lado do
Convento de São Francisco, que abrigava nos primeiros
pavimentos, dois Corpos de Polícia, transferidos, em 1924,
para o Forte das Cinco Pontas e no terceiro andar o "Senado
Estadual", que se mudou, em 1909, para a Rua da Aurora,
antigà residência do Conde da Boa Vista, atual sede da Polícia
Civil, o outro, voltado para a Praça da República, esquina com
a antiga Rua das Florentinas, atual Dantas Barreto, abrigava a
Cia. de Cavalaria da Força Policial, que se transferiu, em 1918
para a Av. João de Barros, num casarão demolido em 1975,
para dar lugar ao atual quartel do Corpo de Bombeiros.
Na escadaria nobre do edifício, existem três vitrais de
autoria do artista alemão Heinrich Moser e representam a
cena da abertura do primeiro Parlamento Democrático da
América Latina, pelo Conde Maurício de Nassau. Na sala do
pleno, antes do júri, pintou Moser a figura da justiça
O prédio do Palácio da Justiça tem estilo "renascentista"
com projeto original do grego, naturalizado italiano, Giácomo
Palumbo, construído a partir de 1924, ainda na gestão do
laborioso Governador Sérgio Loreto e inaugurado em 7 de
setembro de 1930, no final do segundo Governo de Estácio
Coimbra.

O LICEU DE ARTES E OFÍCIOS

Esse Liceu, que veio até nossos dias, surgiu por iniciativa
de nove operários, liderados por Isidoro Santa Clara que o
fundaram em 1836, com o propósito de ensinar as primeiras
letras, artes e ofícios às classes populares.
Segundo matéria publicada no DP de 6 de julho de 1991:
"Apesar de não contar mais com os cursos de carpintaria,
serralharia e tipografia, essa entidade conserva o privilegio de

98
Carlos Bezerra Cavalcanti

ter sido o pioneiro estabelecimento, no Recife, a se dedicar à


formação profissional de seus alunos.
Começou a funcionar na Rua da Imperatriz e depois na
sacristia da Igreja de São José do Ribamar, com recursos da
Sociedade de Artífices e Mecânicos Liberais
Sua atual sede foi erguida, com muito sacrifício sendo,
por fim, inaugurada em novembro de 1880. Segue o estilo
neoclássico francês e possui dois pavimentos, estando
incluído, pela sua localização e valor histórico/urbanístico, no
conjunto arquitetônico da Praça da República.

PRAÇA DA INDEPENDÊNCIA

No Bairro de Santo Antônio encontramos também a


Praça da Independência, sua área foi inicialmente conhecida
como "Terreiro dos Coqueiros" onde foi construído um
grande Mercado, sendo, por esse motivo denominado de
Praça do Mercado, posteriormente, foi chamada de "Praça da
Polé" tendo em vista um instrumento de tortura introduzido
pelos portugueses, instalado naquele logradouro; depois
foi apelidada de "Praça Grande" e, segundo o historiador
Vanildo Bezerra Cavalcanti (Recife do Corpo Santo Pag. 166)
denominou-se em seguida "Praça da Independência" ou
"Pracinha do Diário" uma vez que nela se encontra o edifício
do Diário de Pernambuco.
No início deste século, por volta de 1905, a Praça foi
ampliada com a demolição dos prédios da Rua do Cabugá
e da parte norte da Larga do Rosário que cruzava a Praça e
se estendia até as imediações do atual Edifício J.K. Com essa
reforma a Praça aumentou, consideravelmente, o seu espaço.
Nos dias atuais, mais do que nunca, é para ela que
confluem algumas das importantes vias do Bairro, onde
destacamos a Primeiro de Março, a Duque de Caxias, a
Nova, Larga do Rosário e a Dantas Barreto. Ela já foi palco de
importantes eventos, principalmente nos Carnavais, quando

99
O Recife e seus bairros

passa a se chamar, ou pelo menos se chamava antes da invasão


dos ritmos Jamaico-Baianos, de "Quartel General do Frevo" e
nos movimentos Políticos Revolucionários, como aquele de
3 de Março de 1945.0 episódio teve repercussão nacional, o
assassinato do jovem estudante de direito, de apenas 24 anos,
Demócrito de Souza Filho (Democrinho), na noite daquele dia
fatídico, quando a vítima encontrava-se na sacada do prédio
do Diário de Pernambuco, ao lado do sociólogo Gilberto
Freyré, que na ocasião discursava para o povo que lotava a
"pracinha" em um comício em prol da redemocratização do
país, no final da ditadura Vargas.
Demócrito foi atingido, mortalmente, em pleno rosto,
por uma bala (para alguns destinada ao sociólogo), caindo na
redação do Diário. Depois desse fato, seguiu-se um tiroteio
que também vitimou Manuel Elias. (Manuel Carvoeiro).
A partir de 1975 a Praça passou a dispor de um bonito
lago artificial e estátuas de importantes Jornalistas: ASSIS
CHATEAUBRIAND BANDEIRA DE MELO E ANÍBAL
FERNANDES, vindo, posteriormente se somar a eles a de
ANTÔNIO CALADO.
Bem próximo a esta praça encontra-se a

MATRIZ DE SANTO ANTÔNIO

A Igreja Matriz de Santo Antônio, padroeiro do Recife, teve


sua pedra fundamental lançada em 3 de janeiro de 1753, sendo
inaugurada trinta anos depois com muita festa e solene Te Deum.
" O estilo desse templo religioso é o barroco colonial, e,
seu interior é, sem dúvidas, de rara beleza. O altar-mor e os
laterais são em talhas douradas. No altar principal destaca-
se um solene trono onde fica depositada a venerável imagem
do crucifixo, ladeado por nichos com as preciosas imagens
de Santo Antônio e do mártir São Sebastião, no mesmo altar
mostra-se o sacrário que guarda o Santíssimo Sacramento. Na
entrada da Igreja, duas capelas chamam a atenção: a capela

100
Carlos Bezerra Cavalcanti

de N.S. da Piedade e o batistério, com sua tradicional pia


batismal. Do forro destaca-se um lindo lustre. A decoração é
completada com preciosos painéis do pintor pernambucano,
do século XIX, Sebastião da Silva Tavares.
A fachada é majestosa, mostrando o esplendor do barroco
brasileiro — duas torres com volutas profundas e conchas
nos portais, e três óculos que são próprios do estilo colonial.
No frontão, um primoroso ostensório, símbolo eucarístico
que indica que a igreja pertence ao Santíssimo Sacramento
e, no alto do frontispício, uma cruz com raios e dois jarros
de cantaria, um de cada lado. Nos dois óculos das torres,
um relevante torçal manuelino." (Padre Antônio Barbosa-
Relíquias de Pernambuco).
Nesse Bairro também está localizada a:

PRAÇA JOAQUIM NABUCO

Largo da Concórdia, era assim que se chamava,


anteriormente, aatualPraçaJoaquim Nabuco, quehomenageia
um dos mais ilustres Pernambucanos o abolicionista Joaquim
Aurélio Nabuco de Araújo. Nessa Praça encontrava-se, até
bem pouco tempo, o Cinema Moderno, que a modernidade
acabou. Nela está, já há algum tempo, o Restaurante Leite, um
dos mais tradicionais da cidade, e onde realizou-se o primeiro
baile de debutantes do Recife e que tinha ao seu lado, até o
início da década de 1940, a saudosa Sorveteria Gemba, que
após a II Guerra Mundial, passou a funcionar na Rua da
Aurora, deixando de existir no início da década de 60.
Nessa localidade, funcionou, ainda, a Confeitaria Glória,
instalada no cruzamento das Ruas Nova e da Palma. Foi na
confeitaria Glória que em 26 de junho de 1930, foi assassinado o
Governador da Paraíba, João Pessoa. Nas proximidades temos
ainda a Sorveteria Botijinha, que se localizava anteriormente na
Pradnha do Diário e pertencia ao Pai do grande Poeta Carlos Pena
Filho, assíduo freqüentador do Bar Savoy e autor desses versos:

101
O Recife e seus bairros

Na Avenida Guararapes
O Recife vem marchando
O Bairro de Santo Antônio
Tanto se foi transformando
Que, agora, às cinco da tarde
Mas se assemelha a um festim
Nas mesas do bar Savoy
O refrão tem sido assim:

São trinta copos de chope


São trinta homens sentados
Trezentos desejos presos
Trinta mil sonhos frustrados.

20 de dezembro de 1960

BAR SAVOY

Este tradicional bar recifense foi fundado em l s de julho


de 1941 pelo espanhol Manoel Alvarez. A Avenida Guararapes
acabara de ser aberta, com a demolição do hospital e da igreja
do Paraíso e ainda se chamava "Dez de Novembro", em
homenagem ao Golpe de 1937.
O Edifício dos Bancários, recém construído, era, então,
o Quartel General das tropas americanas, no Recife, pois o
Brasil havia entrado na II Guerra Mundial. A época, portanto,
era bem propícia para a criação do bar nos moldes do Savoy e
o local, com certeza, o mais adequado.
Esse Bar, até meados da década de sessenta, foi o
principal reduto de boêmios, jornalistas e comerciantes,
apreciadores do bom papo, regado ao chope e às vistas de
belas transeuntes.

102
Carlos Bezerra Cavalcanti

Posteriormente, o Savoy passou para o Português


Manoel Simões, que teve dois sócios que o mantiveram por
algum tempo. Depois, cada um fez sua opção.
Um deles abriu o Café Nicola, muito famoso e com
grande freqüência, principalmente aos sábados, por causa
do encerramento da semana e às segundas-feiras, para os
comentários e conferências dos resultados das apostas sobre o
futebol do domingo.
O outro abriu o Bar "Uirapuru", no térreo do Hotel
Guararapes, ao lado do antigo Cinema Art Palácio, próximo
à antiga Sertã e da Rosa de Ouro, estabelecida junto a Casa
Sloper, situada na esquina das Ruas das Flores e da Palma.

O saudoso Bar Savoy

Outro lugar muito famoso e reduto de boêmios,


principalmente na década de 1950, ficava no Rio Capibaribe
quase na cabeceira (oeste) da Ponte Maurício de Nassau, bem
próximo da Livraria Ramiro Costa, trata-se de:

103
O Recife e seus bairros

O FLUTUANTE

Esse pitoresco e tradicional recinto era montado em


uma balsa cujos resquícios ainda podem ser vistos no local
durante a maré baixa. O Restaurante flutuante era uma casa
eminentemente aquática onde ficava a orquestra, o dandng
e um salão destinado ao restaurante que, por sua vez, era
encimado por um aprazível terraço onde os freqüentadores
eram servidos ao ar livre, descortinando a beleza do
Capibaribe e, às vezes, à luz das estrelas e do luar tropical,
refletido em suas águas. O restaurante era pintado nas cores
do Náutico (vermelha e branca) e decorado com logomarcas
do Ron Montilla e da Pepsi Cola.

O Flutuante dava mais vida e beleza à paisagem fluvial


recifense e, ao mesmo tempo, exemplo aos empresários e
os "homens" do turismo de hoje que não vislumbram o
verdadeiro potencial de nossos rios que podem e devem ter

104
Carlos Bezerra Cavalcanti

outras destinações além de receptores de entulhos, como


sejam atividades aquáticas, transportes e diversas opções de
lazer para a população e visitantes que só a nossa "Veneza
Americana", pelas suas peculiaridades, pode oferecer. Bem
junto a ele ficava a:

LIVRARIA RAMIRO COSTA

focalizada já no início da Rua Primeiro de Março,


esquina com a Martins de Barros. Uma das mais tradicionais
Livrarias da nossa Capital. Funcionou por 127 anos (1888-
2005) chamada, oficialmente, de "Livraria Contemporânea"
mas era conhecida por todos pelo nome de seu proprietário,
tanto que mudou para "Livraria Ramiro Costa". Colada a ela,l
já na Rua do Imperador, existiu por algum tempo a famosa
"Joalharia Krause".

PONTE DA BOA VISTA

Essa Ponte surgiu quase simultaneamente à primeira, que


corresponde hoje à Ponte Maurício de Nassau (1644) de que já
tratamos. Embora não tenha a mesma configuração da outra,
inicialmente servia mais ao Palácio da Boa Vista de Nassau.
Não seguia rumo certo, isto é, não era em linha reta como é
comum nestas construções. Formava um ângulo obtuso. Na
verdade, a "PONTE HOLANDESA DA BOA VISTA", como
foi inicialmente chamada, partindo da frente do Palácio,
seguia até ao atual Cais José Mariano.
"Em 1876 foi edificada a ponte com as características
atuais, projetada pelo então jovem engenheiro Francisco
Pereira Passos ( que mais tarde viria a ser o dinâmico Prefeito
do Rio de Janeiro). A Ponte da Boa Vista foi adquirida na
Inglaterra pelo Governador da Província Henrique de Lucena,
futuro Barão de Lucena" ( Monumentos do Recife, Rubem
Franca, pg.135).

105
O Recife e seus bairros

í
I
•8

Ponte Duarte Coelho

Justíssima homenagem ao primeiro donatário da


Capitania de Pernambuco, o nosso "Fazedor de Nações", o
abnegado Duarte Coelho, é prestada pelos Pernambucanos,
através da denominação dessa ponte.
Antes da atual construção desse logradouro que liga a
Av. Guararapes à Av. Conde da Boa Vista, existiu no local
uma outra cuja função era limitada ao tráfego das viaturas
da "Transporte Carril Urbano". O primeiro desses serviços
implantado na América Latina, mais conhecido como
"Maxambombas" que se dirigia ao subúrbio de Caxangá. No
início era só uma passagem para o trenzinho, porém em 1884,
estava assentada a conhecida Ponte da Maxambomba, por
onde transitavam os trens no vão central e os pedestres por
suas laterais isso até 1914, quando foi desativa com à criação do
sistema de bondes elétricos. Dizem que quem decretou o seu
desaparecimento, embora ela já estivesse muito ameaçada,
"foi uma alvarenga que lhe deu um encontrão e lhe deixou
quase inválida e depois disso ela se mantinha em pé só por
costume" (Mário Sette). Finalmente caiu ou foi vendida como
ferro velho e 26 anos se passaram para outra vir substituí-la

106
Carlos Bezerra Cavalcanti

(1943) tendo em vista as reformas urbanas sofridas nos bairros


de Santo Antônio e Boa Vista.

Antiga Ponte da M axam bom ba

Era num pequeno cais da Rua do Sol, que atracava a


lancha vinda da Holanda, na década de 1970, batizada de
"Comandante Garcia D'Ávila", em homenagem ao Capitão
de Fragata Garcia D'Ávila Pires de Carvalho Albuquerque,
Comandante do Cruzador Bahia, sinistrado no litoral
brasileiro. O transporte ficou conhecido como:

LANCHA DA C.T.U.

A vinda dessa lancha para a "Veneza Americana" foi


uma das poucas tentativas do Governo de valorizar o potencial
aquático do Recife e que, por falta de maior empenho ou até
de cultura, não deu certo.
Sobre ela temos importantes dados colhidos em "Recife do
Corpo Santo", pág. 303, baseados em informações fornecidas
aos jornalistas pelo então presidente daquela companhia,
General Viriato de Medeiros:

107
O Recife e seus bairros

"A CTU (Companhia de Transportes Urbanos) acabara


de adquirir na Holanda uma embarcação a motor com
capacidade para oitenta e seis pessoas, destinada ao transporte
de passageiros no Capibaribe. A lancha será embarcada em
dois de outubro (ou seja embarcou anteontem), devendo
chagar a Pernambuco dentro de dez dias. A embarcação
tipo "Amsterdã", fabricada nos estaleiros J. H. Bergman tem
dezesseis metros de comprimento por quatro de largura. Seu
calado é de cinqüenta e oito centímetros, linha d7águas de um
metro e setenta centímetros, pesa vinte toneladas e desenvolve
uma velocidade de dezoito nós horários" — o barco seria o
primeiro de uma série de outros a serem adquiridos pela CTU no
referido país, dentro do programa-destinado a facilitar o transporte
de passageiros aos diferentes pontos da cidade. "As informações
prestadas pelo general Viriato de Medeiros adiantam ainda
que o primeiro barco vai fazer o transporte de Brasília Teimosa
para a Praça 17, e que o seu custo foi de 25.000,00 dólares, mas
que com as despesas de fretes e impostos, subirá a 30.000,00
dólares. Como uma defesa prévia contra os pensamentos de
alguns derrotistas, as informações explicam porque o barco
ou barcos foram comprados na Holanda, em vez de fabricados

108
Carlos Bezerra Cavalcanti

no Brasil, explicações justas e convincentes visto que nossos


estaleiros, preocupados com o programa de construção naval,
não puderam atender às solicitações da CTU. Adianta, ainda
a informação que " a lancha adquirida poderá ser empregada
também, como turismo e servirá para passeios aos domingos
e feriados", pois se trata de uma embarcação das mais
modernas que se conhece no gênero, com visão panorâmica e
foi adquirida através de facilidades proporcionadas pelo City
Bank do Recife."
Em tempos não muito distantes, quase em frente ao
pequeno cais, onde atracava aquela lancha e onde hoje temos
o prédio da Procuradoria Geral do Estado, funcionou o:

U.S.O.

Como vimos, a presença Americana, no Brasil, foi


responsável por profundas mudanças na vida e nos costumes
da Terra. Nessa época, funcionou, na Rua do Sol, no local
onde hoje está o prédio da Procuradoria, um clube social
freqüentado pela elite das tropas dos Estados Unidos, o
United States Organization (USO). A presença de garbosos
oficiais era o motivo para ali freqüentarem algumas moças da
nossa sociedade, com a certeza de um "namoro" e o sonho de
um casamento. Aos homens recifenses, no entanto, o acesso
ao clube era dificultado, por essa e outras razões, a juventude
masculina do Recife dizia que a sigla do clube queria dizer,
na realidade: União das Senhorinhas Oferecidas.

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O Recife e seus bairros

Recife - D écada de 1940 - vendo-se o prédio do U.S.O.

PONTE PRINCESA ISABEL

A Rua, o Teatro, a Ponte, todos homenageiam a Redentora,


aquela que, em 13 de maio, assinou a chamada Lei Áurea,
erradicando do Brasil a escravidão negreira, què manchava a
face desse País, que permanecia como o único reduto do Novo
Mundo a adotar esse sistema de exploração humana.
Essa Ponte, projetada por Wilhams Martineua, foi aberta
ao público no dia 2 de dezembro de 1873.
No entanto, já em 1845, durante a construção do Teatro de
Santa Isabel, propunha o engenheiro francês, Louís Vauthier a
construção de uma ponte no local.
O Teatro, o Palácio do Governo, o Ginásio Pernambucano,
e a Casa da Câmara, foram motivos para a construção desse
elo que liga Santo Antônio à Boa Vista, nesse trecho.
O Bairro de Santo Antônio é servido por um Hotel de
3 Estrelas que é o 4 de Outubro, localizado na Rua Floriano ;-
Peixoto, próximo a Casa da Cultura, tem dois outros de 2
estrelas, o Recife Plaza e o Hotel Nassau, localizado na Rua
Larga do Rosário junto à:

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Carlos Bezerra Cavalcanti

IGREJA DO ROSÁRIO DOS PRETOS

Construída no ano de 1725 pelos negros devotos de


Nossa Senhora Mãe do Brasil. E um dos mais belos Templos
setecentistas de nossa Cidade. No altar-mor e no nicho
existente no alto do Templo estão as imagens seculares de
Nossa Senhora do Rosário, que vem da fundação da Igreja.
Nela também existe uma imagem de São Benedito (1753),
podendo ser localizada no consistório ao lado desse Templo.

IGREJA CONCEIÇÃO DOS MILITARES

Está localizada na Rua Nova constituindo-se numa


belíssima construção em estilo barroco. "Teve sua edificação
iniciada após o ano de 1720, estando seus alicerces já
concluídos cinco anos depois.
Segundo relatórios da célebre irmandade, ela foi
organizada no início do século XVIII por oficiais, sargentos e
praças dos corpos de fuzileiros e de cavalaria. O altar-mor, o
retábulo e o arco-central, são decorados em primorosas talhas
douradas. No centro do altar, um belíssimo nicho guarda a
venerada imagem de Nossa Senhora da Conceição. Acima do
arco do presbítero, destaca-se um magnífico brasão colorido da
irmandade secular. Dois altares laterais entalhados em madeira
têm imagem do século XVHI, um grande crucifixo e São João
Batista; entre os citados altares e o forro aparecem dois painéis
sacros. O púlpito e as tribunas são em talhas D. João V.
Sem sombra de dúvidas, o forro dessa igreja é o mais
ornamentado do Recife e talvez do Brasil. As portas e janelas da
nave são decoradas com safenas trabalhadas. O forro do coro
é único em Pernambuco, por sua pintura histórica, de pintor
anônimo, que retrata a Primeira Batalha dos Guararapes."
(Padre Antônio Barbosa, ob. cit.)

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O Recife e seus bairros

BASÍLICA DO CARMO

A primazia dos Conventos do Carmo, nestas plagas da


América Austral, pertence à Olinda, foi nela que, em 1588, se
fundou o primeiro Convento Carmelita do Brasil.
A Basílica do Carmo do Recife, no entanto, só começou a
ser construída um século depois, ou seja, em 1687 e concluída
após 80 anos (1767), data estampada em seu frontispído.
Em sua imponente fachada podem ser vislumbrados nas
portas e janelas, os omatos, e volutas e a imagem da Santa do
Carmelo, no nicho central.
O interior do Templo foi restaurado pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, nele se pode admirar
um majestoso e imponente Altar-Mor, totalmente revestido de
ouro. Na parte posterior, está a imagem de N. S. do Carmo, em
tamanho natural, em cedro, sobre um fundo celestial.
Segundo alguns historiadores "após o calvário do herói
e mártir da Confederação do Equador, seu corpo foi jogado
em frente a esse Templo, por seus executores e recolhido por
membros daquela irmandade, daí se presume haver sido ele
sepultado nessa Igreja ou no Convento do Carmo a que se tem
acesso por um pórtico de pedra, artisticamente trabalhado. Há
no saguão uma imagem em gesso de Bom Jesus atado, junto à
coluna do suplício, nas paredes são vistas cenas da Via Sacra.
Esse Convento muito contribuiu, durante sua História,
com as Instituições e Entidades Pernambucanas, chegando
mesmo a abrigar algumas delas como: A Biblioteca Pública, O
Hospital Militar, O Liceu Provincial, e o Instituto Arqueológico
Histórico e Geográfico Pernambucano.
Embora sem confirmação documentada é costume se dizer
que o antigo "Palácio da Boa Vista", o "SCHOONZICHT",
também construído por Maurício de Nassau, tem sua Torre
correspondente ao do atual Convento.

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Carlos Bezerra Cavalcanti

CASA DA CULTURA

A antiga Casa de Detenção, obra do Engenheiro Mamede


Ferreira, teve iniciada a sua construção no ano de 1850, sendo
inaugurada em 25 de abril de 1855, embora suas obras só
tenham sido concluídas em 1867.
Os seus traços arquitetônicos, baseiam-se no sistema
"PANOPTYCON" (VÊ TUDO). As suas linhas, até hoje
inalteradas, podem ser classificadas como de tendências
neoclássicas. Com capacidade para instalar duzentos apenados,
a Casa de Detenção do Recife recebeu os presos da antiga cadeia
localizada na Rua do Imperador (atual Arquivo Público)
No início do século passado, começaram a construir no
perímetro dos seus muros várias oficinas para as atividades dos
detentos, toda a produção era destinada ao Estado como móveis
escolares e até os cotumos e o fardamento da Brigada Militar.
Em 15 de março de 1973 a Casa de Detenção foi desativada
e os presos transferidos, na sua maioria, para o Presídio
Barreto Campeio.
Como bem observou o historiador Vanildo Bezerra
Cavalcanti, um dos incentivadores da instalação da Casa da
Cultura naquele Prédio,__que bom se pudéssemos trocar todos
os Presídios por Casas de Cultura !
O muro que cingia a antiga cadeia foi demolido, sendo
preservado, dele, apenas as guaritas.
A construção do prédio, em forma de cruz, possui os
chamados raios Sul, Leste e Oeste, cada um deles com três
pavimentos. A casa da administração, onde funcionava a
antiga diretoria do presídio, é encimada por uma cúpula de
pintura metálica.
A Casa da Cultura constitui-se, já há algum tempo, num
dos principais centros turísticos da cidade, onde os visitantes
de todas as partes do Brasil e do mundo podem ter contato
com o artesanato, o folclore, a comida e outras peculiaridades

113
O Recife e seus bairros

que tão bem representam o povo de Pernambuco e as


manifestações nordestinas.
Existem em suas dependências cerca de cento e vinte
lojas compreendendo, galerias de antiquários e artesanatos
além de lanchonetes, onde encontramos grande variedade de
comidas típicas.
Durante o ano, ali são comemorados os ciclos folclóricos
(carnavalesco, junino e natalino)

114
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DE SÃO JOSÉ

O local, em seus primórdios, correspondia, junto com


Santo Antônio, à Cidade Maurícia e representa o que já foi a
ilha de Marcos André.
Posteriormente, essa área pertenceu ao dono do Engenho
Cordeiro, Sr. Ambrósio Machado. Nela, em 1630, os holandeses
construíram o "Forte Frederich Hendrick " conhecido por nós
como "FORTE DAS CINCO PONTAS", com o objetivo de
preservar para si as águas das cacimbas ali existentes. Outro
proprietário dessa localidade foi o Sr. Taborda que, também,
deu seu nome à Campina.
Depois de vários aterros e outros melhoramentos, São
José começou a receber um número maior de moradores
principalmente a partir de 1875, quando, em 7 de Setembro,
inaugurado o majestoso Mercado de São José, na antiga
Ribeira do Peixe.
Até a década de 60, do século passado, essa localidade
ainda conservava suas características de bairro tipicamente
residencial, onde não faltavam festejos populares nos períodos
carnavalescos, juninos e nas comemorações de final de ano. A
Rua da Concórdia, por exemplo, de que trataremos daqui a
pouco, possuía em quase toda sua extensão, casas de portas
e janela, parede e meia e muitas de suas fachadas ostentavam
azulejos portugueses e franceses, acostumados a presenciar as
famílias com cadeiras nas calçadas, em animadas conversas,
as crianças brincando, alguns namoros, muitos flertes, serestas
à luz da lua, hoje destronada pela televisão, e a internet, mas
que, naquela ocasião, era a atração e a inspiração maior.
Foi nesse Bairro, mais precisamente na Rua Direita, que
Antonino José de Miranda Falcão, montou uma tipografia e
fundou, em 1825, o Diário de Pernambuco.
Conforme ainda Berguedof (ob. Cit.) "não se pode separar
o nome do maestro Nelson Ferreira da Rua da Concórdia.

115
O Recife e seus bairros

Ele sempre era solicitado para exibir-se ao piano com valsas


inesquecíveis, suas e de Alfredo Gama.
Nas calçadas, comprimia-se a turma que compunha
o Sereno integrada pelos curiosos e não convidados que
disputavam, junto ao dono da casa, uma oportunidade de ter
acesso à festa.
Pelo Carnaval, a Rua da Concórdia era a mais festiva,
onde os folguedos populares adquiriam maior autenticidade,
por onde passavam todos os blocos e clubes com belas
fantasias e suas excelentes orquestras (Bloco das Flores,
Pirilampos, Apois Fum, Clubes Vassourinhas, das Pás
Douradas, Lenhadores e, por último, o Bloco Batutas de São
José, (campeoníssimo de vários Carnavais).
Nem por isso se desviava o Corso, constituído pelos
carros ornamentais repletos de jovens exuberantes, alegres,
que promoviam batalhas de confetes e lanças-perfume. Seu
nome primitivo era Rua do Fernandes, em homenagem ao
ourives José Fernandes, que construiu as primeiras casas do
logradouro. Depois o carpinteiro Manoel José ali edificou novas
casas e sentiu-se com o direito de ter o seu nome na rua. Houve
uma querela que se refletiu na Câmara Municipal, dividindo as
opiniões em clima de intransigência. Nessa ocasião o Presidente
do Órgão, Maciel Monteiro, propôs solução conciliatória: Rua
da Concórdia, esse nome ficou, a despeito de certo período em
que lhe deram a designação de Marquês do Herval. Já foi a
Rua mais alegre do Recife. Raro era o sábado em que não havia
um ou dois saraus familiares; reuniões dançantes, ao som de
piano, interrompidas pelas chamadas hora de arte em que se
declamava versos com acordes da Dalila em surdina".
O prestígio da Rua da Concórdia começou a cair quando
deixou de ser residencial. O comércio descaracterizou-a,
expulsando seus velhos moradores.
Na área hoje ocupada pelo Bairro de São José existiam as
famosas Cacimbas de Ambrósio Machado onde, bem próximo a
elas os holandeses construíram o:

116
Carlos Bezerra Cavalcanti

FORTE DAS CINCO PONTAS

Os invasores tinham necessidade de água potável para


a sua manutenção, uma vez que, limitados à Península do
Recife e à Ilha de Santo Antônio, sem poderem adentrar ao
Continente, podiam dispor apenas de água salgada, e essa,
por sinal, eles dispunham em todo Oceano Atlântico.
Foi portanto esse líquido precioso que motivou a
construção desse forte, chamado pelos batavos de "Fredrich
Hendrik" e conhecido entre nós como Forte das Cacimbas
ou de Santiago e depois, "Das Cinco Pontas". Nele tremula,
24 horas por dia, a Bandeira do Recife, aos cuidados do
Museu da Cidade. Ao ser construído, possuía 5 pontas,
fato esse que deu o nome não só ao Forte, mas também, ao
Largo e ao Viaduto existentes em suas adjacências.
Atualmente, após receber providenciais reformas,
passou a dispor de apenas quatro pontas, sendo, nos tempos
de hoje, com muita propriedade, a sede do:

MUSEU DA CIDADE DO RECIFE

Essa entidade cultural foi instalada no Forte das Cinco


Pontas no ano de 1982.
Possui em seu acervo, mapas originais, réplicas de
projetos holandeses, portugueses e ingleses sobre o traçado
do sistema de drenagem e das primeiras edificações do Recife,
elaborados nos séculos XVH, XVIII, e XIX; objetos de valor
histórico inestimável como azulejos, cerâmicas, telhas, fotos,
gravuras, bem como a porta principal da Igreja dos Martírios,
demolida em 1971, para a passagem da Av. Dantas Barreto.
O visitante terá muito que ver, e a aprender, nesse Forte
Museu que tem ao seu lado o:

117
O Recife e seus bairros

MONUMENTO A FREI CANECA

Nesse ponto turístico e histórico de Pernambuco, o


Instituto Arqueológico de nosso Estado, afixou uma placa
com os seguintes dizeres:
"Nesse Largo, foi espingardeado, junto à forca, em 13 de
janeiro de 1825, por não haver réu que se prestasse a garroteá-
lo, o patriota FREI JOAQUIM DO AMOR DIVINO CANECA,
Republicano de 1817 e a figura mais notável da Confederação
do Equador, em 1824".
Outra homenagem a esse grande herói e mártir
pernambucano foi de iniciativa do Curso Radier, que ali
colocou um escultura de seu busto, obra do escultor Vamberto
Araújo, inaugurada em 2 de julho de 1981.
Desta forma, até certo ponto modesta, é homenageado
aquele que se constituiu no maior Revolucionário Brasileiro,
tendo participado, ativamente, não apenas da Revolução
Pernambucana de 1817, como de todas as fases da confederação
do equador: nos jornais; nas ruas, nos púlpitos, nas batalhas,
no Calabouço, no patíbulo e, finalmente, no Paredão.
Frei Caneca nasceu em 20 de agosto de 1779, na casa •
de seu pai, na antiga Rua dos Tanoeiros (profissão de seu
genitor), Freguesia de São Gonçalo (atual bairro do Recife)
Carlos Bezerra Cavalcanti

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Bem próximo a esse monumento encontramos a:

IGREJA DE SÃO JOSÉ

Em 1864 foi edificada essa Igreja cujo Padroeiro deu seu


nome ao Bairro.
Vinte anos antes, ou seja, em 1844, era criada a Paróquia
de São José, desmembrada da de Santo Antônio.
"Enquanto se realizava a construção do bonito Templo
que lhe serviria de Matriz, o Santíssimo Sacramento da nova
Paróquia abrigou-se primeiro na Igreja de São José do Ribamar,
que levou mais de um século para ser construída e que,
posteriormente, ainda em caráter provisório, instalou-se na
Igreja de Nossa Senhora do Terço". (Orlando Parahym, Traços
do Recife, ontem e Hoje)

O OBELISCO DA PRAÇA DO PIRULITO

"em cerca de seis metros de altura, antigamente, segundo


registra Rubem Franca (ob. cit.), havia no monumento uma
placa com os seguintes dizeres:

119
O Recife e seus bairros

"Nas imediações desse local ficava a porta sul da Cidade


Maurícia, onde a XXVII-I-MDCLIV, o General Francisco
Barreto de Menezes, recebeu dos invasores, capitulados na
véspera, as chaves do Recife.
Memória da cidade do Recife por intermédio do Instituto
Arqueológico em MCMXXVIL"
O Instituto, no entanto, se equivocou, não era esse o local
da redenção e sim outro, mais ao Norte.
O Recife e, principalmente, seus bairros mais centrais,
como o de São José, possui muitas Igrejas, ao ponto de ter
duas sob a invocação de São José, de uma, já falamos, a outra
é a de:

SÃO JOSÉ DO RIBAMAR ________________

Localizada próximo ao cais de Santa Rita, por trás da


antiga Estação Rodoviária, essa Igreja, de larga fachada, foi
recentemente restaurada.
O templo foi construído pêlos artífices da cidade, para
cultuar o seu padroeiro, no local então chamado de "BAIRRO
BAIXO" ou "FORA DE PORTAS DE SANTO ANTÔNIO"
Segundo o historiador Vanildo Bezerra Cavalcanti
(ob. Cit.) "foi graças a ela que tiveram os seus construtores
o apoio do Governador D. Tomás José de Melo, apoio esse
que motivou o estratagema de se mandar buscar os ferros
deixados ou perdidos pelos navios, no nosso ancoradouro e
posto em leilão, em benefício das obras da Igreja, limparam
assim o Porto e ajudaram a construção do Templo". -
O pátio que existe em sua frente não se pode comparar ao
concorrido alegre e iluminado:

120
Carlos Bezerra Cavalcanti

PÁTIO DE SÃO PEDRO

Conforme observa, com muita propriedade, o historiador


Tadeu Rocha: "foi a velha igreja que salvou o Pátio de São
Pedro das sucessivas devastações urbanísticas, iniciadas em
1850 com a demolição do Arco do Bom Jesus e neste meado do
Século XX, ainda é a Igreja de São Pedro dos Clérigos, agora
também concatedral arquidiocesana, que vai livrar o Pátio
das ameaças do comércio e da indústria, que até racharam sua
alvenaria e enegreceram a sua fachada imponente (Roteiro do
Recife 3. Ed. Pg. 61).

Igreja e P átio de São Pedro

O local, "... da horta e das 6 moradas situadas no meio da Rua


das Águas Verdes, compradas pela irmandade de São Pedro dos
Clérigos, em 1719, transformar-se-ia, 250 anos depois, no ponto
mais movimentado da ddade superando em freqüência os seus

121
O Recife e seus bairros

áureos tempos das noites gloriosas quando o Recife todo para


ali se deslocava para ouvir, do púlpito da bela Igreja, as palavras
eloqüentes de um Padre Miguelinho ou de um D. Vital."
O Pátio é circundado por casario colonial que forma pequena
praça retangular. Na década de sessenta, do século passado,
transformou-se em centro turístico, ali passaram a funcionar
bares, restaurantes típicos, lojas de artesanatos e livraria.
Nos fins de semanas e em datas especiais, principalmente
nos festejos juninos, natalinos e carnavalescos, são realizados
folguedos populares, aliás, não é à toa que ali se instalou o:

MUSEU DE ARTE POPULAR

Esse Museu surgiu em decorrência da aquisição, por


parte do governo do estado, da coleção de obras de arte do
mestre Vitalino, desta forma se evitou que importantes peças
museográficas, de incalculável valor para a arte popular
Pernambucana, fossem parar em outro centro, como aconteceu
em ocasião anterior, com uma outra coleção.
Assim, tendo as belas peças do mestre Vitalino como pano
de fundo de seu acervo, foi essa casa cultural inaugurada em
27 de julho de 1986, sob a égide do BANDEPE.
Um dos locais que mais caracterizam esse bairro é o:

122
Carlos Bezerra Cavalcanti

MERCADO DE SÃO JOSÉ

Na segunda metade do século XIX a Câmara Municipal do


Recife mandou construir a estrutura em ferro de um magnífico
Mercado para a capital pernambucana. O local escolhido foi a
antiga Ribeira do Peixe, no terreno fronteiro ao Convento da
Penha. A construção ficou a cargo do engenheiro J. L. Victor
Leuthier, com adaptações de seu colega Vauthier, e teve início
em 1872. As obras civis estiveram a cargo do empresário José
Augusto Araújo, tendo sua inauguração acontecido em 7 de
setembro de 1875. Com o correr do tempo e haja vista sua
localização no Bairro de São José, o Mercado recebeu o nome
do Santo marceneiro.
O prédio guarda ainda hoje os traços originais, sua área
possui três mil e quinhentos metros quadrados formado por
pavilhões, com trezentos e setenta e dois compartimentos para
o comércio de diversos produtos, a maioria regional, além de
vários boxes para a venda de comidas típicas, peixes e crustáceos.
Na primeira gestão do Prefeito Jarbas Vasconcelos
(1986/90), foi o Mercado interditado a fim de ser inteiramente

123
O Recife e seus bairros

reformado o que só veio efetivamente acontecer, na segunda


gestão daquele Prefeito.
Próximo a esse Mercado encontra-se a :

PRAÇA DOM VITAL ______________________

Essa Praça vem homenagear o Arcebispo de Olinda


e Recife, protagonista da famosa questão religiosa com o
Segundo Império, que culminou com sua prisão.
O logradouro, tendo em vista sua proximidade com
o Mercado de São José, é comumente chamado de Praça
do Mercado.
A Praça se enche, diariamente, de camelôs, repentistas,
fotógrafos "lambe-lambe", pessoas de todas as origens e
procedências, inclusive muitos turistas, interessados em
produtos e no folclore da Região.
Existe, também nessa Praça a majestosa Basílica da
Penha e o famoso Cinema Glória, vejamos cada um desses
pontos isoladamente:

BASÍLICA DA PENHA

Construída num terreno doado, em 1656, por Melchior


Álvares e sua esposa Joana Bezerra, graças ao esforço e dedi­
cação dos frades capuchinhos franceses e à generosidade da
população do Recife, através de donativos, o que proporcio­
nou a construção, não apenas da igreja como do convento dos
frades, anexo. Suas linhas arquitetônicas fogem totalmente
aos demais templos católicos do Recife, justamente por se­
guir, em parte, o estilo da ordem artística coríntia.

Sua configuração é de uma cruz latina, contendo três


naves, com um suntuoso zimbório, tendo no alto uma elegante
clarabóia, bonitos altares e painéis pontificais muito antigos
em edição de luxo de Viseu.

124
Carlos Bezerra Cavalcanti

Segundo o Pe Antônio Barb osa, "Relíquias dePemambuco",


págs 55 e 56: "...Questões políticas entre Portugal e França
provocaram a expulsão dos frades franceses, nos primórdios
do século XVm, o que implicou no abandono da igreja e de
sua obra. Nos idos de 1709, a coroa portuguesa autorizou
a volta dos capuchinhos, desta feita, oriundos da Itália, para
reassumirem as suas obras.
A igreja era dotada de grande simplicidade, portanto,
destituída dos requintes barrocos.
A primeira imagem, sendo de pequenas dimensões, foi
substituída por outra de tamanho natural, que ainda hoje se
encontra no altar-mor.
Com o fortalecimento da devoção da virgem da Penha,
os frades sentiram a necessidade de aumentar o templo, e o
fizeram com ares basílicais, à semelhança da basílica de Santa
Maria Maior de Roma, e em estilo coríntio, único exemplar no
Recife. O arquiteto foi frei Vicente de Vienzio, e a conclusão
das obras se deu aos 22 de janeiro de 1882, quando foi
solenemente inaugurada.
Seu interior, imponente, é de grande esplendor, encimado
por uma grande cúpula. Entre as arcadas que a rodeiam, estão
as pinturas dos quatro evangelistas, de autoria de Murilo La
Greca. Há vários altares de grande valor estético, destacando-
se aquele onde se acha o mausoléu de Dom. Vital, o qual soube
defender a fé e a sagrada doutrina em obediência ao Papa Pio
IX, na famosa "Questão Religiosa" da Igreja contra a maçonaria.
A construção de seu túmulo contou com desenho artístico
do arquiteto Giacomo Palumbo e execução de João Barete de
Carrara, e a sua inauguração ocorreu aos 4 de julho de 1887..."
Nesta basílica foi velado, em 1997, o corpo do Frei
Damião de Bozzano, um dos religiosos mais adorados da
Região Nordestina, juntamente com o Padre Cícero. Nela
foi sepultado o corpo do irreverente poeta baiano Gregório
de Matos.

125
O Recife e seus bairros

Numa sala ao lado direito do templo, funciona o


Museu D. Vital, com várias peças de vestimentas e de uso
generalizado do religioso, a que nos referimos no assunto
anterior.

CINEMA GLÓRIA

Das salas de projeção do Recife essa é a mais popular


e tradicional. Famosa pelas suas sessões da tarde, tinha
seu público bastante influenciado pelos freqüentadores do
Mercado de São José e Praça Dom Vital.
Foi inaugurado em 4 de setembro de 1926, com a exibição
do filme "Flores, Mulheres e Perfumes".
O prédio, localizado na Rua Direita, 127, tem sua frente
voltada para a PraçaD. Vital e é tombado pêlo Patrimônio Histórico
Estadual (pelo Decreto ns 8.443 de 28 de fevereiro de 1983).
No Pátio do Terço n. 61, existiu o "Cine Ideal", inaugurado
em 1915.
Esse Cinema tinha uma peculiaridade interessante, possuía
primeira classe, com 250 assentos e Segunda Classe, com 217.
Também localizado no Pátio do Terço encòntra-se a:

IGREJA DE NOSSA SENHORA DO TERÇO

"No início do século XVIII, existia, no local, apenas um


nicho, com a imagem de Nossa Senhora, onde os viajantes da
Vila do Recife, ao chegarem de suas viagens, se ajoelhavam,
piedosamente para rezar um terço à Virgem Maria, em sinal de
agradecimento. Desaparecendo esse oratório, foi substituído
pela pequena capela de Nossa Senhora do Terço, no ano de
1710, sendo sua confraria instalada em 19 de setembro de
1726". (Pe.Antonio Barbosa, ob. Cit.)
Foi em frente a Igreja do Terço, ou melhor, no Pátio, que,
em janeiro de 1825, se realizou o ato de exaustação do caráter
religioso de Frei Caneca.

126
Carlos Bezerra Cavalcanti

Nesse Bairro marcou presença o:

TERMINAL DE SANTA RITA

A Estação de Santa Rita foi o primeiro Terminal Rodoviário


do Recife. Construído em 1952 pelo empresário Leopoldo
Casado, que se notabilizou, também, como desportista.
Possuía, inicialmente, um só pavimento, onde funcionava
um concorrido restaurante. Graças a esse terminal, ponto
de contato entre o Recife e outros centros urbanos e interior
nordestino, sua área circunvizinha recebeu um grande
impulso comercial, principalmente de miudezas, que passou
a abastecer esses pontos de consumo.
Em 1986, com a inauguração do T.I.P. (Terminal
Integrado de Passageiros), no Curado, essa Estação Rodoviária
foi desativada, abrigando hoje, em suas instalações a Empresa
de Transportes Urbanos e um Batalhão da Polícia Militar.
Outro Terminal de Passageiros que existiu no Bairro foi a:

ESTAÇÃO CENTRAL

Belíssimo prédio esse inaugurado em 1888, projetado


pôr Herculano Ramos. Em sua imponente fachada se pode
vislumbrar dois torreões, e sobre cada um, quatro grandes
grifos de bronze, de asas abertas, no meio, um relógio, tão
útil aos transeuntes, formosamente emoldurado, na frente
de tudo a marquise de ferro com as letras R.F.N. Rede
Ferroviária do Nordeste, como passou a ser chamada essa
Companhia a partir de 1950, ao ser revertida ao domínio
da União.
Atualmente, constitui a Superintendência Regional do
Recife (SR-1) da Rede Ferroviária Federal S.A. (REFESA).
Na entrada daquele prédio público podem ser vistas
quatro coroas de metal, com excêntricos símbolos, em cada
uma das coroas lê-se os nomes, respectivamente de:

127
O Recife e seus bairros

1-Vioilet-le-Duc
2-W. Uonvg
3-F. Shimidt
4-Polonceau

o Prédio da Estação Central está localizado na Praça


Visconde de Mauá, onde uma placa registra:
PRAÇA VISCONDE DE MAUÁ - HOMENAGEM A
CAPACIDADE CRIADORA DO HOMEM PÚBLICO QUE
VIU NO PASSADO, O BRASIL DE HOJE.
No edifício da Estação Central funciona o :

MUSEU DO TREM

Em 25 de outubro de 1972, foi criado, pela então


Superintendência Regional do Nordeste. Contando com a
colaboração da Fundação Joaquim Nabuco de Pesquisas
Sociais (FUNDAJ) o Museu do Trem, instalado na extinta
Estação Central, símbolo da passagem por Pernambuco
da administração inglesa, representada pela "Great
Western Of Brazil Railway Company", um marco histórico
do ferroviarismo brasileiro e de grande influência no
desenvolvimento regional.
O Museu do Trem do Recife abriga cerca de400 peças entre
documentos históricos, instrumentos e utensílios diversos,
e faz parte de um dos maiores complexos museológicos da
América Latina, dentro de uma mesma temática: o Trem, "Ele
é recreativo, lúdico, histórico, sociológico - juntando, assim,
as características dos maiores museus culturais" no dizer de
Gilberto Freire, seu paraninfo.
No final do século XIX, existiam nesse Bairro diversas
Sociedades Recreativas sendo quase todas destinadas às
"soerês" dançantes, não só para os sócios, como também para
os convidados desses.

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Carlos Bezerra Cavalcanti

Segundo Barbosa Viarrna "Recife, Capital do Estado de


Pernambuco pags. 136/37, "uma das mais remotas, se não a
mais antiga, era a Recreativa Juventude, com sede no Io andar
do Palacete N.s 2 do Pátio de São Pedro, que ali se instalou em
14 de Agosto de 1864.
O Bairro de São José é famoso pêlos folguedos populares
sobressaindo-se entre eles o Carnaval, comemorado com
bastante euforia pelo povo, destacando-se entre os blocos
Carnavalescos atuais: BATUTAS DE SÃO JOSÉ, ESCOLA DE
SAMBA ESTUDANTES DE SÃO JOSÉ E O INSUPERÁVEL
GALO DA MADRUGADA que arrasta multidões pelas ruas e
pelos rios, no sábado de Zé Pereira.

"Carnaval Começa no Galo da Madrugada"

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O Recife e seus bairros

BAIRRO DA BOA VISTA


O panorama visto das janelas do segundo Palácio
de Nassau, no Recife, era, dizem os contemporâneos,
maravilhoso, ao se vislumbrar as terras continentais de
Pernambuco, proporcionando uma bela visão, ou seja, uma
"Boa Vista".
Em 1806, a Câmara de Olinda cedeu ao senhor Casimiro
Antônio de Medeiros: " 140 palmos correntes de um termo
alagado da Boa Vista, junto à ponte e na direção norte,... " Ele
aterrou a área, construindo, no local, as primeiras casas da
futura Rua da Aurora emprestando o nome ao lugar Casimiro".
Foi essa área, a quarta localidade do centro do Recife a ter
inidada o seu povoamento, prindpalmente depois do dtado
aterro, quando recebeu três importantes logradouros: Rua do
Aterro, atual da Imperatriz, Rua da Aurora, que é assim chamada
por só dispor de casas voltadas para o nascente, recebendo, assim,
os primeiros raios do sol nascente, e Rua Formosa, depois do
alargamento, chamada de Conde da Boa Vista, em homenagem
ao grande Pernambucano, nasddo no Cabo, em 1802, um dos
prindpais Governantes de nossa Provínda, FRANCISCO DO
REGO BARROS, o "CHICO MACHO".
Segundo Flávio Guerra in "O Conde da Boa Vista e
o Recife", comentando a situação da localidade, nos idos
de 1837: "as ruas eram intransitáveis nos dias de chuva
precisando os moradores usar pernas de pau para atravessá-
las. O Beco do Tambiá, partindo do antigo Largo da B. Vista,
era um aglomerado de casas infectas, servindo ai de baixo
meretrício. Depois é que se alargou, transformou-se na Rua
da Intendência e depois, na Avenida Manoel Borba.
"Esse Bairro da Boa Vista, (continua Flávio Guerra),
embora oferecendo as faladas boas casas de residências,
ainda era quase um conjunto de arruados não indo além do
Pátio de Santa Cruz, havendo apenas no segmento desse,

130
Carlos Bezerra Cavalcanti

um caminho que chegava à chamada Trempe, onde se unia


com o descampado que iria ser o beco do cotovelo, dando
motivo a denominação tão familiar na boca de nossos avós.
Essa Trempe correspondia à zona onde atualmente se situa
a confluência da antiga Rua do Sebo, (Barão de São Borja)
com O Beco do Cotovelo (atual Visconde de Goiana). Outro
caminho dava início à futura Rua Gervásio Pires, seguindo
pela Corredor do Bispo, até atingir o Palácio Episcopal, ainda
em construção. No mais, outros logradouros, surgindo sem
edificações de monta, terrenos baldios, imensos sítios, e, para
diante, o mato."
Em 1837, através da mesma fonte, temos conhecimento
de que "a Boa Vista, embora algum varejo já começasse a
aparecer pelo velho aterro, era considerada mais como bairro
de moradias de famílias abastadas, em face das estradas que
se foram rasgando para o Manguinho, Aflitos, Caxangá e Casa
Forte. Na zona de São José era localizado o núcleo residencial
da classe média".
Foi na antiga freguesia da B. Vista que, por volta de 1840,
residiram os engenheiros franceses, Vauthier e Boletreau, que
se instalaram em casarões da antiga Rua Formosa.
Em 1844, sessenta anos após iniciada sua construção,
eram finalmente inauguradas as obras que colocaram na
paisagem recifense uma das mais belas Igrejas do Brasil, a:

MATRIZ DA BOA VISTA

Se custosas foram as tarefas para edificação desse


imponente prédio, mais difícil ainda foi a confecção de seu
frontispício, levando-se em conta a abrangência da obra.
Segundo Fernando Pio, em trabalho sobre essa Matriz,
A sua bela fachada fo i construída pelo estatuário Francisco d 'Assis
Rodrigues que executou toda a obra manualmente, na longínqua
Lisboa. Esse artista era um vulto de escol nas terras de Portugal.
Nascido em Lisboa em 1810 e ali falecido em 1877. Era Diretor da

131
0 Recife e seus bairros

Academia de Belas Artes e um dos mais célebres artistas de sua


época. E para dar maior valorização a esse magnífico frontispício,
que não duvido afirmar ser dos mais lindos e artísticos do Brasil, a
gente do Recife, certamente por não ter conhecimento do seu mérito,
passa todo dia, por sua frente sem se quer (sic) levantar os olhos
para admirá-lo". Em 1881 (o. cit.) se encontrava quase pronto o
frontispício, faltando tão somente as torres, no entanto, em 1887,
pode a irmandade terminá-lo, de uma vez, ficando concluída a torre
leste em 1888 e a torre oeste, em 1889.
Ao lado dessa Igreja encontra-se a:

PRAÇA MACIEL PINHEIRO

Conforme se comprova em planta da época, parte da


área que corresponde hoje à Maciel Pinheiro, já foi a primitiva
Praça N. S. da Conceição da Boa Vista, anteriormente
chamada de Largo do Aterro ou do Moscoso, em louvor ao
laborioso médico e vereador Pedro de Athaíde Lobo Moscoso,
ali residente.
Até 1869 foi chamada de Praça da Boa Vista porém, devido
aos acontecimentos da Guería do Paraguai, recebeu o nome do
Comandante das tropas brasileiras, que substituiu o Duque
de Caxias, o Conde D'Eu. No entanto, com a Proclamação da
República, vinte anos depois, a Praça abandonava o Império,
mas não deixava de homenagear um dos heróis brasileiros
daquele conflito internacional, o paraibano Maciel Pinheiro.
O primeiro ornamento deste logradouro foi um belo
chafariz, mandado construir pela Companhia do Beberibe.
Em 28 de Setembro de 1846, um aviso do Ministro do Império,
reiterava as ordens anteriores emitidas para a construção de
uma fonte pública, no centro da Praça da Boa Vista.
A fonte, construída no antigo local do chafariz, dispõe,
na sua parte inferior, de quatro leões que tem sobre as cabeças
as bordas da primeira bacia circular, em cima dessa, quatro
belas ninfetas seminuas, em posição simétrica, em baixo da

132
Carlos Bezerra Cavalcanti

segunda bacia de proporções maiores, depois, mais acima, ao


prolongamento da coluna central, se localiza a última e menor
entre as três bacias, sob três máscaras de cujos poços jorram
água que enchem, simultaneamente, as bacias e o tanque da
parte inferior.
Nela, no sobrado ne 387, viveu parte de sua infância, a
grande jornalista e escritora Clarice Lispector, como se observa
numa placa afixada no local pela Associação de Imprensa de
Pernambuco. Próximo a esse logradouro, mais precisamente,
em frente à Matriz da Boa Vista, inicia a Rua do Hospício,
assim chamada por nela ter sido instalado o Hospício dos
Esmoleres, e onde se encontra, no ne 130, o:

INSTITUTO ARQUEOLÓGICO, HISTÓRICO E


GEOGRÁFICO PERNAMBUCANO

Sob a égide republicana e dos princípios iluministas


do século XVffl, era instalada numa das dependências do
Convento do Carmo do Recife, em 28 de janeiro de 1862,
reverenciando a rendição holandesa ocorrida no dia anterior,
do ano de 1654, a Sociedade Arqueológica Pernambucana,
sendo seus fundadores, cinco importantes figuras do mundo
cultural e social do Recife:
Joaquim Pires Machado Portela
José Soares de Azevedo
Antonio Witrúvio Bandeira de Vasconcelos
Salvador de Albuquerque
Antonio Rangel Bandeira
O primeiro presidente da entidade foi, justamente,
um contemporâneo da Revolução Pernambucana de 1817,
Monsenhor Muniz Tavares.
A biblioteca do instituto é uma das mais interessantes do
país, dispondo de milhares de livros de edições nacionais
e internacionais, onde podemos destacar, no setor de obras

133
O Recife e seus bairros

raras: " História dos feitos recentemente praticados durante


oito anos no Brasil, sobre Nassau, edição original (1647),
pranchas cartográficas de Vigingboons (1647) coleção José
Hygino, no dizer de José Honório Rodrigues, " o maior acervo
de documentos sobre a história do Brasil holandês, fora da
Holanda, desconhecida das pesquisas desenvolvidas por
Netschen e Vamhagen que ali trabalharam antes de 1856,
e, ainda, documentação da Câmara da Zelândia, Braven en
papirien uit Brasilie ( treze volumes) e as Dagelisjche Notulen
(doze volumes), afora quatro volumes encadernados e quatro
maços manuscritos, perfazendo cerca de 13.200 páginas,
além do trabalho de José Antonio Gonsalves de Melo que se
constitui no maior levantamento de documentação recolhida,
já realizada, até hoje, do Brasil, no exterior.
O museu do Instituto foi franqueado ao público já em
1866 e entre suas peças mais importantes encontramos: o
marco divisório, em pedra lioz, que marcava o limite entre
as capitanias de Itamaracá e de Pernambuco,, assentado em
1535, quando da chegada de Duarte Coelho ao porto, depois
chamado de Pernambuco velho. Outra peça museográfica de
grande valor ali encontrada é o p relo em que fo ra m im pressos
os prim eiros exem plares do D iário de Pernam buco; a espada
com que o " Leão Coroado" matou o Brigadeiro Barbosa,
estopim da Revolução de 17 e um estrado de madeira sobre
o qual " descansou" o cadáver de Joaquim Nunes Machado,
líder popular da Revolução Praieira, executado em 2 de
fevereiro de 1849.
Destacam-se ainda no museu o grande acervo
iconográfico e uma raríssima coleção numismática, onde se
encontra grande variedade de medalhas e moedas nacionais
e estrangeiras como um ducado holandês, de ouro, cunhado
em Pernambuco, em 1645, sendo, portanto, parte do mote das
primeiras moedas cunhadas no Brasil.

134
Carlos Bezerra Cavalcanti

Os ducados holandeses

O Primeiro Prelo do Diário

TEATRO DO PARQUE

Idealizado e construído pelo Comendador Bento de


Aguiar, foi inaugurado na noite de 24 de agosto de 1915 pela

135
O Recife e seus bairros

Companhia Portuguesa de Operetas e Revistas, do Teatro


Avenida de Lisboa.
Seis anos depois (1921) passou a funcionar no mesmo
local o Cinema do Parque. A sua festa de inauguração angariou
fundos para a construção de uma Maternidade.
Ao lado do Cine-Teatro do Parque funcionou nas
primeiras décadas deste século, o "Hotel do Parque", com sua
fachada de azulejos e balaustrada.
Ma Rua do Hospício tivemos ainda o Cinema Veneza,
inaugurado em 15 de Dezembro de 1970 com o filme
"Aeroporto". Constituía-se num dos mais luxuosos e bem
aparelhados do Recife, com suas 800 poltronas.
Posteriormente foram inaugurados mais dois Cinemas, já no
bairro de Santo Amaro, ambos desativados, o "Ritz" e o "Astor".

FACULDADE DE DIREITO

Nesse Bairro da Boa Vista, na Praça Adolpho Cime, foi


edificado, a partir de 1889 (pedra fundamental) o majestoso
prédio da Faculdade de Direito que ocupa uma área de três mil
e seiscentos metros quadrados, no centro de um belo jardim,
segundo o Engenheiro Civil e Bacharel em Direito, Antônio
de Almeida Pernambuco, construtor do edifício, já o arquiteto
Andreo de Pietro, em sua obra "O Palácio da Faculdade",
assim se reporta a esse prédio:
" Tudo aqui é no estilo clássico, nobre, dignificado e
completo nas proporções as mais harmoniosas, obedece esse
edifício ao estüo palladio..."
O projeto do prédio é do arquiteto francês Gustave Varin.
O Curso de Direito, ao se transferir para o Recife, em 1854,
se instalou no casarão particular da Rua do Hospício, esquina
com a Rua do Príncipe, onde hoje se acha o prédio que serve
de "hall" de entrada para o Hospital Geral do Exército. Daí
passou para o antigo Colégio dos Jesuítas, no ano de 1882,
para, em 1911, se instalar na atual sede.

136
Carlos Bezerra Cavalcanti

Foi nessa Faculdade que floresceu em 1860/80 o


movimento intelectual, poético crítico, conhecido como
Escola do Recife, liderado pelo sergipano Tobias Barreto
de Menezes. Dela fizeram parte outras relevantes figuras
do mundo intelectual da época como: Sílvio Romero, Artur
Orlando, Clóvis Beviláqua, Capistrano de Abreu, Graça
Aranha, Martins Júnior, Phaelante da Câmara, Urbano Santos,
Abelardo Lobo, Vitoriano Palhares, José Higino, Araripe
Júnior e Gumercino Bessa.

Praça do H ospício vista do alto do prédio da Faculdade de Direito

COLÉGIO MAKISTA

Criado pelos irmãos franceses, originário que foi do


Colégio São Luís, na antiga Rua Formosa, em 1924, esse
tradicional estabelecimento de ensino deixou de funcionar no
início do século XXI.
O Bairro da Boa Vista, pôr sinal, é pródigo em bons
colégios, se destacando entre eles o:

COLÉGIO SALESIANO

Instalado sob o amparo dos padres salesianos,


estabelecidos no Recife em 1894, com o nome de Liceu de
Artes e Ofícios do Santíssimo Coração de Jesus.
O Recife e seus bairros

"Nesse Educandário são notáveis em suas


dependências o edifício do teatro, e o vasto e belíssimo
santuário consagrado ao Coração de Jesus, que bem pode ser
considerado como um dos mais belos templos da cidade."
(Rubem Franca, ob. Cit.)
O prédio onde está instalado o Colégio Salesiano é
um dos mais suntuosos do Bairro da Boa Vista, localizado,
justamente, na Rua Dom Bosco.
Confronte ao prédio havia, segundo Pereira da Costa
(Anais Pernambucanos), um sítio murado e todo arborizado,
o qual dava saída para a "Trempe" e Soledade, até onde
chegavam os seus extremos, o local era então conhecido como
Mondêgo, onde na primeira década do século XIX, residia o
Governador das Armas e Capitão-Mor Luís do Rego Barreto,
antipatizado pelo povo Pernambucano, chegando, inclusive,
a sofrer um atentado na Ponte da Boa Vista.
No cruzamento da Rua Dom Bosco, com a Manuel Borba
temos o prédio do antigo Cinema Boa Vista, que funcionou até
a década de 70 e o conjunto de edifícios onde outrora existiu o
Palacete do Empresário José Pessoa de Queiroz, (fundador do
Jornal do Commercio) depredado na Revolução de 30.
Ainda na Rua Dom. Bosco iremos encontrar a sede
da Federação Pernambucana de Futebol "Palácio Rubem
Moreira", um dos principais Presidentes daquela Entidade
e ainda o Quartel da Rádio Patrulha, antiga Faculdade de
Química e que fora residência do grande usineiro e proprietário
do Diário de Pernambuco, Carlos Lira., o pioneiro no Brasil a
introduzir álcool na gasolina.
Destaca-se nesse bairro a Igreja das Fronteiras, cuja
primitiva foi edificada pelo herói negro da Restauração
Pernambucana, Henrique Dias, e onde posteriormente residiu
o Arcebispo Emérito de Olinda e Recife, Dom. Hélder Câmara.

138
Carlos Bezerra Cavalcanti

Igreja das Fronteiras (D. Hélder com visitantes)

Na Av. João de Barros (Correia) encontram-se o Quartel


do Comando Geral do Corpo de Bombeiros vizinho às
instalações do 13° BPM e ao Museu da Polícia Militar, ambos
na Rua Tabira, onde também se localiza a Academia de Polícia
Civil.Continuando na Av. João de Barros iremos encontrar o
Clube dos Oficiais da Polícia Militar.
Outro logradouro de grande importância nesse Bairro é
a Rua da Aurora, nela podemos vislumbrar o edifício Duarte
Coelho na cabeceira da Ponte do mesmo nome, no terreno
onde existiu a:

IGREJINHA DOS INGLESES

Em 1808, com a fuga da Família Real Portuguesa para o


Brasil e a conseqüente Carta Régia assinada em 28 de janeiro
daquele ano, franqueando os portos brasileiros ao comércio com
as nações amigas, a Inglaterra, monitora das finanças mundiais
daquela época, passou a ser a protagonista da vida econômica
e dos grandes acontecimentos sociais em Pernambuco.

139
O Recife e seus bairros

É justamente por essa razão, que a partir das primeiras


décadas do século XIX, os ingleses começaram a instalar
nestas plagas, seus grandes estabelecimentos bancários (Bank
Of London & South América, London River Plate Bank, Royal
Bank...) suas empresas comerciais (Boxwel & Cia, William
& Cia, White Martins...), seus clubes sociais (Pernambuco
Cricket Club, British Club, Caxangá Golf Club, British Country
Club...) e os serviços públicos, através da Great Western, da
Ferro Carril, da Pernambuco Tramways Pouwer Company...
Com toda essa marcante presença britânica no Recife, de
costumes e religiosidade a ela peculiar, se fazia necessária a
adoção de medidas de apoio ao seu bem estar, principalmente
espiritual. Assim, já em 1814, era liberado o terreno,
localizado em Santo Amaro, para a construção do "BRITISH
CEMITERY". Dezesseis anos mais tarde, se começava os
trabalhos para a edificação daquela que viria a ser a: "HOLY
TRINITY CHURCK" ou, a "Igrejinha dos Ingleses", como era
carinhosamente chamada pelos pernambucanos, e que fez
parte de nossa paisagem urbana por mais de um século, ou
seja: de 1838, quando foi inaugurada, até ser demolida, por
volta de 1943, a fim de possibilitar o alargamento da então
Rua da Boa Vista, transformada em avenida por Pelópidas
Silveira, uma vez que a igrejinha se situava, aproximadamente,
no local do atual Edifício Duarte Coelho (Cinema São Luiz).
Informações do notável Historiador Pereira da Costa, nas
páginas 367 a 370 do Vol. IX dos "Anais Pernambucanos" nos
dão conta de que essa igreja, de feições simples, mas de rara
beleza arquitetônica: " possuía doze metros de largura, por
dezessete de extensão, independentemente do santuário que
se abria no fundo, tendo, dos dois lados, duas sacristias.
No santuário, de uma bela pintura e ladrilhos de mosaico,
ficava ao fundo, um altar sobre o qual se ostentavam umas
alegorias de boa pintura representando a Agnus Dei e os
quatro Evangelistas; e aos lados, escrito em inglês, caracteres
góticos, o Decálogo e a Oração Dominical sobre lâminas

140
Carlos Bezerra Cavalcanti

metálicas como também aquelas alegorias e, no alto, abria-


se uma alterosa janela de vidraça colorida, formando, no seu
todo, um belo conjunto ornamental pelos seus caprichosos
louvores e sobre cuja arquivolta se lia essa legenda em inglês,
como que de consagração do templo. Louvai a Deus neste
santuário na majestade do seu poder.
A sala de oração, com seu ladrilho de mármore branco, era
bastante clara pela luz que recebia de oito grandes janelas, que
eram de um belo efeito pela sua vidraça colorida, e nas quais se
estampavam, destacando-se das suas ornamentações, os Passos
do Senhor e alguns painéis de fatos notáveis da sua vida.
No coro, com sua varanda volteada, de balaústre de
madeira envemizada, ostentava-se ao centro, sobre um
comijamento geral, que servia de base à mesma varanda, um
escudo das armas reais da Grã-Bretanha, dourado e em relevo,
figurando num laço em que se inscrevia a legenda__Diet et
mon droit__a data de 1838, alusiva à construção do templo;
e em baixo do coro, e junto a uma das escadas de ascensão,
estava a pia batismal, de mármore branco, de um belo trabalho
artístico pelos seus primorosos lavores em relevo.
A um lado do santuário erguia-se o púlpito, isoladamente,
de forma octogonal, deixando ver, em cada uma das suas faces
lindas, ornamentações de talha, e na própria cor da madeira
de que era feita toda a peça. Foi construído em Pernambuco,
e inaugurado em 1897, como se via de uma inscrição em latim
sobre uma placa de metal colocada na base da mesma peça. .
No centro da entrada do santuário, e voltada para a sala
de oração, erguia-se uma alterosa estante de latão polido, e
de um primorosíssimo trabalho de modelação e cinzel. Uma
grande águia, de asas distendidas e com as garras apoiadas
sobre a parte superior da coluna, era, propriamente dita, a
estante, sobre a qual se via uma Bíblia in-folio, de primorosa
edição inglesa e luxuosa encadernação. Esta bela e importante
peça, cujo custo atingiu a quantia superior a um conto de reis,
foi oferecida em 1882 pelos filhos de David William Bowman

141
O Recife e seus bairros

e sua consorte Eliza Gilroy, em memória de seus pais, como


se via de uma inscrição aberta no extremo superior da coluna,
sobre a qual a águia se ostentava.
Nas paredes da sala de oração, e em altura superior,
figuravam várias placas de mármore branco com inscrições
abertas, e algumas combrasões de armas, emrelevo, consagradas
à memória de pessoas notáveis da colônia inglesa, falecidas em
Pernambuco, quer particularmente, como benfeitores da igreja,
quer por outra ordem de serviços e distinções.
Destacamos, para figurar em primeiro lugar, a placa
consagrada ao cavalheiro Eduardo Watts, cônsul da Inglaterra
em Pernambuco, falecido em 24 de Dezembro de 1840, cujo
nome se acha intimamente ligado à história da fundação do
templo, porquanto lhe coube na sua gerência consular lançar os
seus fundamentos em 1838, dirigir as obras da sua construção,
e solenemente realizar a sua inauguração no ano seguinte;
consignando então as demais inscrições consagradas à memória
de outras pessoas, nomeadamente o benfeitor Allan Herbert,
falecido em 1843; o vice-cônsul Joshna Goring, em 1850; o capitão
William Ding, em 1893; Joseph How, mestre-de-capela, em
1901; o capelão W. E. Macray, em 1900; e, um de suas maiores
benfeitores: Dr John Loudon, em 23 de maio de 1843."
O primeiro capelão da Igreja Anglicana em Pernambuco
e que aqui chegou, com sua esposa e três filhos, em 1835,
foi o Reverendo Charles Adye Austin que por cerca de
30 anos, pastoreou o rebanho anglicano no Recife e que
residiu, por muitos anos, na antiga Freguesia da Boa Vista,
na localidade chamada, posteriormente, de Caminho No.vo,
num logradouro, por isso mesmo chamado de: Beco, depois,
Rua do Padre Inglês.
Um detalhe curioso e, a nosso ver, gratificante, é que o
gradil original, que ficava em frente à igrejinha, confeccionado
pela Fundição Aurora, de propriedade do inglês Chistopher
Starr, foi reutilizado na nova Igreja Anglicana da Rua Carneiro
Vilela, no Bairro dos Aflitos

142
Carlos Bezerra Cavalcanti

A Igrejinha dos Ingleses

No local do atual Edifício Pessoa de Melo, onde se instalou


o Recife Plaza Hotel, existia um grande sobrado que pertencia
ao Barão de Beberibe. Em 1942 foi demolido sendo construído
em seu lugar o Palácio de Alumínio, sede provisória do Sport
Clube do Recife, posteriormente, também demolido.
Na casa da Rua da Aurora, n 2 455 que já foi sede do
Senado Estadual (1909-1930) e hoje abriga parte da Polícia Civil,
viveu, até o seu falecimento, em 4 de outubro de 1870, o grande
Estadista Francisco do Rego Barros, o Conde da Boa Vista, que
recebera o casarão como lenitivo do Povo pernambucano. Por
esse motivo, um dispositivo legal de autoria do Deputado
Antônio Morais, atendendo nossa sugestão, denominou o
prédio de Palacete Conde da Boa Vista.(2008).
Já o prédio da esquina da Rua da Aurora com a Princesa
Isabel, que hoje também abriga parte da Polícia Civil, tem sua
origem no final do século XIX, servindo, a partir de 24 de junho
de 1870, como Estação da Maxambomba de Olinda, com apenas
um pavimento, posteriormente (13 de maio de 1925), após sofrer
uma reforma que lhe atribuiu mais dois andares, passou a sediar
a Pernambuco Tramways, que ali permaneceu até ser substituída

143
O Recife e seus bairros

pela CELPE, esta, por sua vez, permaneceu no casarão até o ano
de 1976 quando veio ocupar sua atual sede na avenida João de
Barros. Com a saída da CELPE, o prédio passou a sediar alguns
departamentos da Polícia Civil de Pernambuco

Pontilhão da Rua da Aurora (início da atual Av. Mário Melo)

Por trás da sede da FUND ARPE, temos, na Rua da União,


n.s 263 a casa onde, viveu parte de sua infância, 1892/96 o
Poeta Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho que assim
se refere àquele logradouro, nesse trecho de "Evocação do
Recife", de 1925:
Rua da União...
Como eram lindos os nomes
das ruas da minha infância
Rua do Sol
tenho medo que hoje se chame
Dr. Fulano de tal.
Atrás da casa ficava a Rua da
Saudade...onde se ia fumar escondido
Do lado dela era o Cais da Aurora ...onde
se ia pescar escondido.

144
Carlos Bezerra Cavalcanti

A casa é um sobrado de gosto neoclássico do segundo


quartel do século XIX, das mais imponentes dessa rua
caracterizada por sobrados estreitos e casas térreas ou de
mansarda, mostra-se com tres janelas e uma porta, no térreo e
4 janelas com peitoril, no pavimento superior
O nosso grande poeta, no entanto, nasceu na antiga Rua
do Ventura, hoje Rua Joaquim Nabuco, na Capunga.

FAJFIRE

A Faculdade Franssinete do Recife(FAFIRE) ao ser criada


em 1940, chamava-se Faculdade de Filosofia do Recife sendo
reconhecida através de decreto de 5 de outubro de 1948.

COLÉGIO PADRE FÉLIX

Esse importante educandário originou-se do antigo


Ginásio do Recife, criado pelo Mons. Fabrício, em 1919, num
casarão ainda hoje existente, localizado na esquina das ruas
do Riachuelo e do Hospício.
Com o falecimento de seu fundador o ginásio foi
adquirido pelo seu Vice-Diretor, o Pe. Félix Pimentel Barreto,
pernambucano, nascido na cidade dos Palmares em 1892, um
dos maiores símbolos do ensino no Recife.
No final de 1929, início de 1930, o Ginásio do Recife veio se
instalar no prédio n° 315 da então Rua Nunes Machado, hoje dá
Soledade, na esquina da Av. Conde da Boa Vista (Caminho Novo).
Em 1948, com a morte do seu diretor, o estabelecimento foi
adquindo pelo grande jurista e Prof. Rodolfo Aureliano que o
manteve até a década de 1960, já com a denominação de Colégio
Padre Félix. Entre os principais integrantes do seu corpo docente
tivemos os professores Othon Paraíso, Waldemar de Oliveira,
Cônego Xavier Pedrosa e Syzenando Silveira. No rol de seus
alunos mais ilustres, podemos destacar: Gilberto Osório, Mauro

145
O Recife e seus bairros

Mota, Cid Sampaio, Pelópidas Silveira e Luiz Delgado.


Na Boa Vista tivemos outros importantes estabelecimentos
de ensino como o Prytaneu, o Ayres Gama (Rua do Hospído), o
Manuel Borba, além das Faculdades de Medicina, Odontologia,
(Rua Barão de São Borja), Engenharia e Administração, (Rua do
Hospício) Geologia e Química ( Rua Dom Bosco), Arquitetura
(Conde da B. Vista) e ainda o famoso Colégio Nossa Senhora
do Carmo, em plena atividade.
Fòi justamente um ex-aluno do Ginásio do Recife,
Pelópidas Silveira, que na sua segunda gestão como Prefeito
concluiu o último trecho da Av. Conde da Boa Vista. Muito
antes, porém, quando do seu avanço, partindo da Soledade,
nos idos de 1852, foi o armamento traçado dentro de um
grande sítio ali existente, que pertencia ao cirurgião Manuel
Pereira Teixeira, abrindo, assim, passagem para o Manguinho
e recebendo o nome de "Caminho Novo".
Sobre esse assunto temos os belos versos de Mota de
Albuquerque Filho, que viveu na bucólica localidade:

CAMINHO NOVO

Caminho novo, caminho novo,


Caminho novo dos meus anelos
Caminho novo dos meus desvelos
Meu velho amigo da mocidade

Naquele tempo, já vai tão longe.


Tu eras novo, cheio de flores,
Eu era moço cheio de amores,
Flores amores, hoje saudades,
Agora és nobre, chamam-te conde,
Deram-te foro de fidalguia.
Mas eu te vejo, como te via,
Naquela doce simplicidade

146
Carlos Bezerra Cavalcanti

Apenas falta no teu percurso


Mas sinto ouvi-lo, constantemente,
O trilo agudo, forte, estridente,
Do trem que vinha da Soledade.

Caminho novo das esperanças


Que se perderam na mocidade
Se te percorro, quantas lembranças
Se te revejo, quantas saudades.

A Conde da B oa Vista com o Colégio Padre Félix

CINEMA SÃO LXáZ

Essa importante casa de espetáculos funcionou até o ano


de 2007, após 55 anos ininterruptos, proporcionando alegria
à sociedade recifense. Inaugurada, precisamente, em 6 de
setembro de 1952, com o filme " O Falcão dos Mares", com
Gregory Peck, ocupou o térreo do edifício Duarte Coelho, no
local onde anteriormente, existiu o "Templo" ou Igrejinha dos
Ingleses, de que tratamos há pouco. Possuía a maior sala de
projeções da cidade, com mil duzentas e sessenta poltronas,
distribuídas em dois pavimentos. Mostrando a influência
européia nos costumes da época, até a década de sessenta, era
obrigatório o uso de roupa formal pelos seus freqüentadores,

147
O Recife e seus bairros

os homens não podiam entrar sem paletó.


De acordo com o trabalho de pesquisa realizado em 18
de fevereiro de 1999, por Kleber Mendonça Filho, a decoração
desse cinema, como destaca o próprio convite da solenidade
de inauguração, era a sua parte mais marcante: " na sala
de espera Lula Cardoso Ayres pintou um lindo painel. O
ornamento da platéia representa o interior de uma tenda
real; vastas tapeçarias suspensas, bordadas com três lírios de
França, sobre os quais repousam dezesseis escudos de guerra
em lembrança das cruzadas. O teto é como um imenso véu de
rede que grossas cordas amarram.
Na frente do palco, os variados omatos simbolizam as
grandes virtudes de Dom Luiz que desceu do trono para subir
a um altar; a palma (o prêmio da eterna boa aventurança); a
concha (o brasão do peregrino); os besantes ((os arautos do
valor); a flor de lis ( orgulho da Casa de França) e os dois
ramos policromados, (o perfume de todas as virtudes), em
cujo colorido, os nossos olhos descansam.
Finalmente, as duas colunas esguias e as marquises
moldurando a tela cinematográfica indicam, na sua
simplicidade técnica, a era arquitetônica moderna e constituem
como que uma ligação entre o passado e o presente entre o
longínquo século XHI, em que .viveu o grande rei e o século
XX, em que vivemos, representado, dignamente, pela imagem
animada, colorida e sonora."

HOTEL CENTRAL

Informações colhidas nas páginas 127 e 128 do belo trabalho


de Rostand Paraíso "Charme e magia dos antigos hotéis e
pensões redfenses", nos dão conta de que o prédio desse hotel
foi o precursor, junto com o da "Pradnha" entre os arranha-céus
da capital pernambucana, ambos com oito andares.
No caso do Hotel Central, construído pelo empresário
grego Constantin Aristide Sfezzo, foi o principal

148
T
|

Carlos Bezerra Cavalcanti

estabelecimento do ramo hoteleiro até o ano de 1938, quando


foi destronado pelo Grande Hotel.
O prédio do Hotel Central começou a ser construído em
1927 e, depois de inaugurado, serviu de sede da primeira Loja do
RotaryClubemPemambuco,em8deabrildel931entãopresidida
pelo Sr. José Bezerra Filho.

O H otel Central (primeiro arranha céu do Recife)

TEATRO VALDEMAR DE OLIVEIRA

"O florescimento do teatro pernambucano, com uma


companhia estável local, viria acontecer com o Grupo Gente
Nossa, criado por Samuel Campeio e Elpídio Câmara,
marcado, no entanto, pelo semiprofissionalismo e que teve um
relativo sucesso comercial, com um repertório conservador.
Com a morte de Samuel Campeio, o "Nosso Teatro" passou
a ser dirigido por Valdemar de Oliveira, que, logo em seguida
(1941) fundaria o Teatro de Amadores de Pernambuco
(TAP). Outras Companhias, de forma mais efêmera, também
marcaram essa época, como foi o caso do Teatro dos Bancários,

149
0 Recife e seus bairros

o Grupo Lídiche, o Teatro do Estudante de Pernambuco tendo


à frente Hermilo Borba Filho."
Na década de sessenta, surgiria o Teatro Popular do
Nordeste(TPN)/ com os encontros de jovens e intelectuais no
" ARUEIRA", cuja bebida oficial era a cachaça com limão.
Falecendo o seu fundador, em 1977, o Teatro adotou seu
nome, passando a chamar-se: Valdemar de Oliveira" , estando
localizado NA sOLEDADE, na Praça Oswaldo Cruz, Em frente à
sede da Secretaria de Saúde e do Restaurante "Ilha de Kós".
É nas proximidades dos limites da Boa Vista, que se
encontra a Igreja da Capunga, construída no período de 1928 a
1967, em estilo neoclássico, com colunas jônicas e torre lateral.
Ao seu lado, no final da Rua Dom. Bosco, temos o:

COLÉGIO AMERICANO BATISTA

Já no início do século passado, em 1905, era fundado, por


missionários da América do Norte, uma escola para alfabetizar
e educar crianças pobres. Treze anos depois esse colégio, com
mais estrutura, passou a funcionar em uma antiga chácara no
final da futura Rua Dom Bosco, onde ainda hoje se encontra.
O novo local era perfeito pois estava situado no percurso
de que morava nos bairros da Boa Vista, Casa Forte, Aflitos,
Madalena e Encruzilhada, entre outros.
Na nova área do estabelecimento foram construídos
vários edifícios, todos em estilo romano, sendo que, o primeiro
deles, com sua fachada voltada para a Rua Dom Bosco, que
leva o nome do Prof. Alfredo Freyre, antigo diretor do colégio,
tem seu frontispício inspirado no estilo arquitetônico da Casa
Branca, sede do Governo Americano.
Esse importante educandário recifense tem como principal
característica a inovação, uma vez que foi o primeiro colégio
misto de nossa capital além de ter sido, também, o primeiro a
possuir Jardim da Infância, uma equipe de "voley-boll", um
curso de datilografia e outro de técnica de enfermagem.

150
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DA SOLEDADE

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Chefe de família com mais d e l i anos


de estudo: 58,6%

Pouca gente sabe, mas a Soledade é, depois das


modificações municipais de 1988, um dos 94 bairros do
Recife. Sua área bem pequena está, praticamente, dentro da
Boa Vista. Seu nome vem da Igreja da Soledade que fica bem
perto do antigo local onde tombou mortalmente ferido, em 2
de fevereiro de 1849 o grande herói da Revolução Praieira,
Joaquim Nunes Machado, que deu seu nome à uma modesta
rua da localidade e que teve, em sua esquina, a famosa Fábrica
de Refrigerantes Fratelli Vita.

151
O Recife e seus bairros

A Fratelli Vita( la salute e Vigiene)

Naqueles idos da "Praieira" a área da Soledade, já perto


da atual Rua Joaquim Felipe, era chamada de "olho do boi" e
o beco então passou a ter o nome popular da parte "traseira"
do boi, ou seja "Beco do _ _ do boi, até hoje assim conhecido.
O nome "Soledade" é de origem espanhola, mas,
em português, deu origem a "saudade", palavra, que,
curiosamente, só existe na nossa língua.
A Paróquia da Soledade foi criada em 14 de janeiro
de 1928, sendo o seu primeiro pároco o Mons. Francisco
Apolônio Jorge Sales. Esta localidade, embora bem restrita,
possui importantes instituições como, a

CELPE

Antes, muito antes da criação da Companhia


de Eletricidade de Pernambuco (CELPE), no ano, da
Independência do Brasil (1822), os lampiões de azeite de
carrapateira começaram a iluminar as noites recifenses,
cabendo ao Inspetor de Obras Públicas a incumbência desse
serviço que, até então, se limitava às freguesias centrais.
Dezessete anos depois (1839), surgiu a proposta para
se implantar o novo sistema de iluminação a gás carbônico,
como, de certo, já existia em São Paulo e no Rio de Janeiro.

152
Carlos Bezerra Cavalcanti

Vem dessa época a figura do Acendedor do Lampião


de Gás protagonizada por escravos. O poeta Jorge de Lima,
vendo-o tantas e tantas vezes, na sua faina crepuscular, nele
inspirou-se e fez o seu célebre Alexandrino:

Lá vai o acendedor de lampiões de rua!


Este mesmo que vem, imperturbavelmente,
Parodiar o sol e associar-se à lua.
Quando a sombra da noite enegrece o presente.

Um, dois, três lampiões acende e continua


Ou mais a acender ininterruptamente
A medida que a noite aos poucos se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente

Triste ironia, atroz que senso humano irrita


Ele que doira a noite e ilumina a cidade
Talvez não tenha luz na choupana em que habita

Tanta gente, também nos outros insinua


Crenças, religiões, amor, felicidade
Como o acendedor de lampiões de rua.

Em 26 de abril de 1858 foi finalmente inaugurada a


iluminação a gás do Recife abastecida pelo Gasômetro,
instalado nas proximidades da atual Casa da Cultura.
Em 1914, muitos progressos chegaram à capital de
Pernambuco, as obras de modernização do porto, e do Bairro
do Recife estavam bem adiantadas. Assim, neste mesmo
ano, receberia o Recife a sua iluminação à luz elétrica, com
as lâmpadas de filamento que, posteriormente, foram
substituídas pelas de vapor de mercúrio implantadas em
1965, pelo então prefeito Augusto Lucena. Nessa época, o
Recife, de tão iluminado, era chamado de "Cidade Luz", (a
Paris brasileira).

153
O Recife e seus bairros

A Companhia de Eletricidade de Pernambuco (CELPE)


foi criada justamente nessa época, 10 de fevereiro de 1965,
com sede na esquina das ruas da Aurora e Princesa Isabel,
(atual Polícia Civil) vindo ocupar o seu atual prédio na Av.
João de Barros ns 111, dez anos depois.

O acendedor de lampiões de rua

HOSPITAL GERAL DO EXÉRCITO

Informações de Pereira da Costa (ANAIS


PERNAMBUCANOS VOL. VII) nos dão conta de que o
Hospital Militar que antecedeu o atual (Geral do Exército),
"funcionou no Convento do Carmo do Recife, no período de
1817-33". foi nessa ocasião (em 1817) que o futuro Patrono da

154
Carlos Bezerra Cavalcanti

Medicina Brasileira e introdutor do Ensino Médico em nossa


terra, o pernambucano Dr. Corrêa Picanço, realizou, nas
dependências desse hospital, a primeira operação cesariana
no Brasil. Aliás, diga-se, de passagem, o primeiro brasileiro
a obter láurea de doutor em medicina foi o pernambucano,
contemporâneo de Marcgrave (período holandês) Jacob de
Andrade Velosino (Revista do APHGP de 1927, pág. 307)
"Para o Regimento do Hospital foi mandado observar o
regulamento que baixou o alvará de 27 de março de 1805 pelo
físico-mor do Exército, em 30 de abril de 1817, como Regimento
do Hospital da Divisão destinada a Pernambuco. Até que, por
decreto de 7 de agosto de 1820, foi aprovada e confirmada a
criação dos hospitais regimentais que se haviam estabelecido.
Por aviso do Ministério da Guerra de 19 de Dezembro de
1853, foi mandado construir um novo edifício para servir de
Hospital Militar, tratando-se de um excelente prédio que hoje
abriga o Hospital Geral do Exército, situado na Rua Gervásio
Pires e inaugurado em 1854.

COLÉGIO NÓBREGA

Fundado em 19 de março de 1917, começou a funcionar


no antigo Palácio do Bispo, situado na atual Av. Oliveira Lima.
O prédio do Palácio foi construído em 1731, protagonizando
importantes acontecimentos de nossa história: foi sede
do Governo Revolucionário de 1817 e serviu de prisão ao
Arcebispo Dom Vital, ali detido por ordem do Imperador D.
Pedro II, durante a chamada "Questão Religiosa".
A sua bela Igreja foi inaugurada em 8 de setembro de
1935 e invoca N. Sâ de Fátima sendo o primeiro templo do
mundo a homenagear aquela santa, fora de Portugal.
Outros colégios de destaque existiram nessa localidade
como o Eucarístico, o Diocesano, e a Escola Normal Pinto
Júnior. Um deles que começou a funcionar ao lado da Igreja
da Soledade, num casarão ainda hoje existente foi o:

155
O Recife e seus bairros

COLÉGIO DE SÃO JOSÉ

Em 1867 foi o edifício cedido, mediante aluguel, às irmãs


de Santa Dorotéia, para o seu estabelecimento.
Posteriormente, o Colégio de São José foi transferido
para um casarão da Conde da Boa Vista, construído em 1878,
para a residência do Barão do Livramento, no qual funciona
até nossos dias.
O edifício ocupado por esse pioneiro Colégio de Moças do
Nordeste, antes de receber essa entidade escolar, foi sede do Jockey
Qub de Pernambuco , quando era denominado pela sociedade
redfense de "Palácio Azul" de animados e inesquecíveis Bailes

UNIVERSIDADE CATÓLICA

A idéia da criação desse núcleo de ensino superior


começou a germinar por volta de 1916, quando Dom. Sebastião
Leme assumiu a Arquidiocese.
No entanto, somente em 1957 era inaugurada a
Universidade Católica de Pernambuco instalada na Rua
do Príncipe. Não obstante, já em 1943, era fundado pelo
Padre Abranches a Faculdade de Filosofia Padre Manuel da
Nóbrega, atualmente Faculdade de Filosofia da Universidade
Católica de Pernambuco.
Próximo a essa Faculdade, na Rua Oliveira Lima, na casa
onde nasceu esse grande historiador e diplomata funciona o:

CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA

Criado em 1967, no centenário de nascimento de Oliveira


Lima. Foi seu primeiro Presidente o sociólogo Gilberto Freire.
O objetivo dessa entidade cultural é zelar pôr assuntos
de natureza cultural, em Pernambuco, incluindo-se entre
eles: dar e julgar pareceres de tombamento de patrimônios de

156
Carlos Bezerra Cavalcanti

prédios considerados de interesse artístico-cultural.


Bem próximo à sede desse Conselho encontra-se o
busto de Oliveira Lima, numa pequena Praça onde outrora
funcionou a fabrica de sorvetes "XAXÁ," com sabores
inigualáveis, vendidos nas ruas da cidade pôr sorveteiros
uniformizados de branco empurrando carrocinhas amarelas
com letras vermelhas e a garotada brincava : "Quem chupa
xaxá faz xixi p'ra chuchu".

157
O Recife e seus bairros

BAIRRO DOS COELHOS

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A área, por volta de 1817, era de propriedade dò abastado


colono João Santos Coelho, ancestral do ex-Prefeito do Recife,
(1898) Cupertino Coelho Cintra a quem pertencia o então
Sítio dos Coelhos, no final do Século XIX. Nela, no período
holandês, existiu o Cemitério dos Judeus, o pioneiro em todo
o continente americano.
Em 13 de agosto passou a funcionar ali o Matadouro,
sendo, em 1846, deliberada a construção do Hospital Pedro H ;-
No ano seguinte era apresentado o projeto do edifício do
hospital pelo engenheiro José Mamede Alves Ferreira o mesmo
que projetou a Casa da Cultura, o Ginásio Pernambucano, e a
Capela do Cemitério de Santo Amaro, entre outras edificações.

158
Carlos Bezerra Cavalcanti

A 25 de março foi lançada sua pedra fundamental, pelo


então Presidente da Província Antônio Pinto Chichorro da
Gama. Suas obras de construção civil, no entanto, foram
bastante morosas. Só em 10 de março de 1861,14 anos depois,
foi o nosocômio parcialmente inaugurado.
A localidade dos coelhos, situada às margens do Rio
Capibaribe, é ligada ao Bairro de São José, pela Ponte Velha, cujo
verdadeiro nome é Ponte 6 de Março, em homenagem ao dia
de 1817 em que rompeu nossa heróica Revolução Republicana.
Embora chamada de Ponte Velha, talvez pela semelhança
à configuração da antiga ponte que dava acesso ao Palácio
Nassoviano da Boa Vista, não é das mais antigas, uma vez que
foi inaugurada em 6 de março de 1921, sofrendo importantes
reformas na gestão do Prefeito Antônio Farias.

OIMIP

É no Bairro dos Coelhos, ao lado do centenário Hospital


Pedro II que se localiza o Instituto Materno Infantil de
Pernambuco (IM3P).

159
O Recife e seus bairros

BAIRRO DO PAISSANDU
Situado à sudoeste do Bairro da Boa Vista, entre o antigo
"MONDÊGO" e a antiga Praia do Cajueiro, onde, em 16 de
setembro de 1855 passou a fundonar o Real Hospital Português
do Redfe. Esse novo bairro redfense tem seu nome atrelado à
Rua do Paissandu que o limita pelo lado direito e que, por sua
vez, homenageia um episódio da Guerra do Paraguai, o Forte
de Paissandu (Padre Sandu). Esse logradouro tem inído na
Praça Chora Menino, nome popular vindo de uma lenda em
que se acreditava ouvir-se o choro de crianças pelos mortos da
Setembrizada, Revolução ocorrida no Recife em Setembro de 1831.
Na extremidade do bairro, já próximo à antiga Passagem
da Madalena, encontra-se a Casa de Saúde São Marcos, onde,
nas décadas de 40 e 50, funcionou o SAMDU (SERVIÇO DE
ATENDIMENTO MÉDICO DOMICILIAR DE URGÊNCIA),
que tantos e importantes serviços desempenhou junto às
comunidades do Recife. Na mesma Av. Portugal, fundonou,
durante muitos anos, a Casa da Estudante Universitária,
posteriormente transferida para a Cidade Universitária.

160
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DA ILHA DO LEITE

Em seus primórdios, essa localidade era conhecida como


"Ilha de Manoel Gonçalves.
De meados do século XIX, até o inicio do século passado,
passou a ser chamada de " Hha do Suassuna", uma vez que foi
adquirida por Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque,
o Visconde de Suassuna.
Segundo informações de moradores as terras da antiga
Hha de Suassuna eram entrecortadas por vários braços de
maré, de maneira que, na preamar, ou mesmo durante o
período chuvoso, a água, os chies, e os caranguejos invadiam
os inúmeros barracos cobertos de palha que ali eram bastante
freqüentes.Numa das porções da ilha, veio se instalar, com
seus descendentes, dona Maria Leite. Com o passar do tempo,
duas outras porções da ilha foram, também, ocupadas, desta
feita, por pessoas mais humildes. Essas últimas porções,
ficaram conhecidas,, a primeira, como "Viveiro da Hha", onde
se destacavam, como lideranças populares: "Mãe Chiquinha"
e o pescador "Mestre Ivo", e a segunda era chamada de
"Correia da Hha", onde lideravam os populares "Abá", Preá",
e " Biu Madeira".
Já em 1914, eram criados ali dois clubes sociais, um
carnavalesco " Cachorro do homem do Miúdo", e o outro
esportivo: o "Bahia Futebol Clube", que foram os grandes
responsáveis pela união dos moradores da localidade e pelo
surgimento de três grandes jogadores de futebol, que se
destacaram no cenário nacional, através do Sport Club do
Recife, os irmãos Manga, Alemão e Dedé. Foi próximo ao
campo do Bahia que os populares construíram a primeira
capela da localidade, bem antes da atual, na Praça Miguel de
Cervantes. O nome Ilha do Leite, no entanto, deve-se ao fato
da criação de gado leiteiro na localidade que abastecia quase
toda a freguesia da Boa Vista.

161
O Recife e seus bairros

Posteriormente, a Ilha do Leite teve grande progresso


urbanístico recebendo, por isso, importantes moradores,
inicialmente o Senhor Marques do Amorim (Cabelo de Fogo)
hoje, nome de rua, confundido por "Marquês". Também
foram moradores dessa localidade o Prefeito Augusto
Lucena, o Professor Airton Porto Campos e o grande
jornalista Luís Beltrão.

Ilha do Leite (1921)

BAIRRO DE JOANA BEZERRA

Localidade antiga que pertenceu à Dona Joana Bezerra,


esposa de Melchior Alvares, de quem tratamos quando nos
referimos ao "Boi Voador" e à Igreja da Penha. Esse bairro,
inserido na ZPA I, se destaca, atualmente, pelas novas
construções, do Viaduto, da Estação do Metrô, do Fòrum
Estadual e de vários hospitais da rede particular.
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DE SANTO AMARO

limites do bairro: Começa na cabeceira da Ponte Princesa


Isabel, do lado da m a do mesmo nome, por onde segue
cruzando a Rua do Hospício, até chegar à Rua do Príncipe,
seguindo por toda a sua extensão, até encontrar a Av. João
de Barros, segue até tocar o pontilhão do mesmo nome, na
Av. Agamenon Magalhães onde deflete à direita e vai até a
pontezinha da Tacaruna, limite Olinda - Recife, daí deflete
novamente à direita e segue pela margem direita do Beberibe
até chegar ao ponto inicial.
Origem: Após a expulsão dos holandeses, resolveu o
Major Luís do Rego Barros, em 1681, construir sobre, as ruínas
do Forte das Salinas, uma capela sob a invocação de Santo
Amaro das Salinas.
Aquele reduto holandês foi tomado pelos Pernambucanos
em 15 de janeiro (dia de Santo Amaro) de 1654, doze dias,
portanto, antes da rendição dos batavos. No local do antigo
Forte existiam umas salina. De acordo com Pereira da Costa
(Anais Pernambucanos, vol. II pag. 518: "do Forte das
Salinas, nem vestígios restam (1910), entretanto, segundo
uma notícia que encontramos"__"ainda era visto em 1816, já
desmoronado".
O Bairro de Santo Amaro receberia o seu primeiro
cemitério em 1814, no terreno doado pelo Governo, ao Cônsul
Inglês, sendo o mais antigo do Recife, trata-se do "BRISTISH
CEMETERY", popularmente conhecido como Cemitério dos
Ingleses, onde foi sepultado, em março de 1869 o General
Abreu e Lima, filho do Padre Roma, mártir da Revolução de
1817.0 seu túmulo naquele cemitério é assim descrito pôr
Rubem Franca, ob. Cit. Pag. 258:
"Logo à esquerda de quem entra no Cemitério dos
Ingleses, ergue-se o túmulo-monumento ao " General das
Massas:" cruz num círculo, sobre a coluna torcida em espiral,
que repousa numa base onde se lê o epitáfio:

163
0 Recife e seus bairros

"aqui jaz o cidadão General José Inácio de Abreu e Lima,


propugnador esforçado da liberdade de consciência".
Negaram-lhe sepultura no cemitério público - ordens do
senhor Bispo Cardoso Ayres - porque o general mantivera
polêmica sobre a maçonaria e religião, com o Monsenhor
Pinto de Campos.
Em 1° de março de 1851 passa a funcionar no mesmo Bairro,
o mais importante Cemitério Público de Pernambuco, construído
num terreno comprado, uma parte pelo governo e outra cedida,
pelo seu proprietário, Norberto Joaquim José Guedes.
Na gestão do Prefeito Augusto Lucena, recebeu o
cemitério um considerável aumento em seu espaço físico, bem
como outros melhoramentos, ( pavimentação e iluminação de
algumas ruas.)
A bonita capela ali existente foi concluída em 1855, sendo
projetada pelo Engenheiro Mamede Ferreira.Existem, no
interior dessa necrópole, túmulos dos mais variados, alguns
verdadeiros monumentos ou mausoléus entre os quais
destacamos:
Os de Joaquim Nabuco, José Mariano, AgamenonMagalhães,
Nunes Machado e do Conde da Boa Vista., entre outros.
O Bairro de Santo Amaro não tem apenas as cruzes
dos cemitérios que lhe deixaram famoso, como uma de suas
principais artérias destacamos além da Av. Norte, a Av.
Cruz Cabugá, herói da Revolução de 1817, que viajou para
os Estados Unidos numa missão diplomática (a primeira do
Brasil) que objetivava comprar armamentos e conseguir a
adesão Norte Americana ao novo Governo Revolucionário
implantado em Pernambuco. O nome "Cabugá" vem do pai
desse herói que, ainda menino, perguntava aos fregueses de
seu genitor que negociava com ouro, operação chamada então
de "exbugar":__Qué Bugá ? daí o apelido que virou o nome
da família.
Em 23 de Junho de 1866, o Coronel José Gonçalves Ferreira
da Costa solicitou provisões para erguer, na localidade, uma

164
Carlos Bezerra Cavalcanti

capela sob a invocação de N.S. da Piedade. Em 1904, era então


celebrada a primeira missa na nova Igreja de Nossa Senhora
da Piedade, no antigo Sítio do Araça, (atual Rua Cap. João
Lima), ficando a freguesia da localidade com a denominação
de "Nossa Senhora da Piedade de Santo Amaro, conhecida
popularmente, como "Cidade Nova".
Justamente, por volta de 1940, essa área, fora as obras
públicas (cemitérios e hospitais) e templos religiosos, era
um aglomerado de cerca de 100 mocambos e pequenas casas
com sua população completamente desassistida, vivendo
nos alagados, entre coqueiros e lamaçal, em sua maioria
pescadores, lavadeiras e costureiras, misturados aos não mais
afortunados operários da Tacaruna e pequenos funcionários
da Tramways.

M ocam bos de Santo Amaro (1940)

Foi nessa localidade que, em 15 de novembro de 1926,


iniciava sua missão permanente frei Casimiro, grande
benfeitor daquela área nas precárias construções, no sítio da
macaxeira (Santo Amaro). Na grande palhoça, onde surgiu
então a Igreja de São Sebastião e a escola que ainda hoje
funciona e que tem seu nome...

165
0 Recife e seus bairros

No final da década de 1930, atendendo insistentes


reivindicações do Frei Casimiro, o Interventor Agamenon
Magalhães, deu início ao trabalho de humanização da
área, procedendo aterros e construindo as necessárias vilas
populares, através do Serviço Social Contra o Mocambo que
passou a ter sede em edifício construído nesse bairro, na
Avenida Cruz Cabugá, onde se encontra a:

CAPELA DE SANTO AMARO DAS SALINAS

Esta Capela serviu no século XIX como referência junto à


Cruz do Patrão para as manobras dos navios que chegavam
ao Porto do Recife. Construída por Luís do Rego Barros,
demonstra sua antiguidade pelo seu posicionamento em
relação aos prédios e o ordenamento das ruas atuais. Em
frente a esse importante Templo, cujo padroeiro deu seu nome
ao Bairro, que tinha seu dia festejado na segunda semana de
janeiro, ficando a área toda iluminada, com brinquedos de rua,
os fogos de artifício, cavalhada, comidas típicas, novenários,
quermesses...
O pequeno prédio foi tombado pela FUNDAJRPE em 1984.
o templo se localiza. Precisamente, na Rua Alexandre Moura,
entre as Avenidas Cruz Cabugá e Artur Lima Cavalcanti. Em
seu interior se encontram, além da imagem de Santo Amaro,
as de Santa Luzia e de N. S. da Angústia, além da cruz de
madeira que anteriormente omava seu frontispício.
As primeiras informações sobre essa capela, com a
denominação de Santo Amaro das Salinas, datam .de 1774
referindo-se, também, a um casario em seu redor que se
constituía a reminiscência do Morgadio de Santo Amaro das
Salinas, instituído em 1681 por Luís do Rego Barros, de que
falamos anteriormente...
Em 1800, os moradores da povoação organizaram uma
irmandade e adquiriram a capela e o seu patrimônio. A feição
atual do templo, no entanto, 1894 é a data da sua construção

166
Carlos Bezerra Cavalcanti

PRAÇA GENERAL ABREU E LIMA

Homenagem ao "General das Massas", Luiz Inácio de


Abreu e Lima, herói da América do Sul e filho do Padre Roma.
Esse logradouro esta situado na Avenida Norte por trás
do Cemitério dos Ingleses.
Próximo a ele, foi depositado, pelo Presidente da
Venezuela, Hugo Chaves, como reconhecimento de seus feitos
ao lado de Simon Bolívar, o busto do General Abreu e Lima,
olhando para o cemitério e tendo, na retaguarda, uma grande
estátua de Santo Amaro, obra do escultor Carbiniano Lins.

MERCADO DE SANTO AMARO

Esse Mercado teve sua construção iniciada, e também


concluída, na gestão do dinâmico Prefeito Antônio de Góes
Cavalcanti. Tem 692 m2, sendo inaugurado em 11 de junho
de 1933, no aniversário da Batalha Naval do Riachuelo, data
que é também homenageada pela Praça que fica em frente ao:

PALÁCIO FREI CANECA

Inaugurado em 1967, para servir como Palácio dos


Despachos do Governo do Estado, o prédio homenageia o
maior herói-mártir Pernambucano Frei JOAQUIM DO AMOR
DIVINO CANECA, o nome Caneca vem do apelido de seu pai
que era tanoeiro (fazia canecas), ao lado desse edifício temos
a Repartição Central da COMPESA e mais para o norte o:

HOSPITAL DE SANTO AMARO

Projeto do Engenheiro José Tibúrcio Pereira Magalhães em


estilo neoclássico construído no período de 1872 a 1892. Quanto

167
O Recife e seus bairros

ao seu objetivo, teria sido ediíicado para asilo de mendiddade.


Substituído hoje pela Santa Casa da Misericórdia.
Sua escadaria, arcada e sacada são em pedras vindas de
Lisboa.
Em frente a esse nosocômio, beirando quase toda a
margem direita da Avenida Cruz Cabugá, vemos várias
Repartições ligadas à Marinha, como o Hospital Naval, Os
Clubes Marisco e dos Cisnes e a Vila da Marinha, para ofidais
e graduados daquela Força Armada, destacando-se ainda
nas cercanias o Centro de Educação Física Almirante Cocks,
o Centro Interescolar Almirante Soares Dutra e a Casa do
Marinheiro, valendo salientar que essas construções ocorreram
após a II Guerra Mundial (1945), além da Escola de Aprendizes
Marinheiros e o aterro de toda a área (antigos manguezaisj,
hoje complexo de salgadinho que acabaram pôr acelerar o
processo de invasão do mar no norte de Olinda que pelo efeito
dominó, acabou também prejudicando, não apenas a praia dos
Milagres, como também a do Farol, de Casa Caiada, de Rio
Doce, do Janga, de Maria Farinha e tantas outras.
Essa localidade teve outro marco de progresso com a
construção da Vila das Lavadeiras e de outros incentivos do
Governo de Agamenon Magalhães, através do Serviço Social
Contra o Mocambo, também instalado na Cruz Cabugá.

COMPANHIA EDITORA DE PERNAMBUCO

Localizada no prédio ns 530 da Rua Coelho Lèite,


a Companhia Editora de Pernambuco (CEPE) teve suas
instalações projetadas pelo Arquiteto Zildo Sena Caldas
e inauguradas em 25 de fevereiro de 1970, no Governo do
Dr. Nilo de Souza Coelho, por quem foi criada em 1Qde
Dezembro de 1967.

168
Carlos Bezerra Cavalcanti

Tendo como ponto de início o Jornal "Imprensa Oficial",


fundado por Manuel Borba, em 15 de janeiro de 1916, a
atual CEPE é fruto de varias transformações na divulgação
jornalística oficial dos poderes constituídos em Pernambuco.
Com a desativação do "Imprensa Oficial", em agosto de 1920,
foi criado pelo Governador Sérgio Teixeira Lins de Barros
Loreto, em 29 de março de 1924, o "Diário do Estado" que
circulou pela primeira vez em l s de junho daquele ano.
Em 1926, no segundo governo de Estácio Coimbra,
surgia com a denominação de Imprensa Oficia,1 a repartição
encarregada de editar o Diário do Estado.
Em 29 de agosto de 1944, o Interventor Agamenon Sérgio
de Godoy Magalhães transformou o "Diário do Estado"
no "Diário Oficial", foi ainda Agamenon quem transferiu a
Imprensa Oficial, que então funcionava nas precárias instalações
da Casa de Detenção, para a casa n.s 420 da Rua da Concórdia
de onde só sairia, já como Companhia Editora de Pernambuco,
para a sua atual sede na Rua Coelho Leite.

EMISSORAS DE TELEVISÃO

Santo Amaro foi o grande contemplado para sediar as


duas primeiras emissoras de televisão do Norte/Nordeste
do País. Entrou no ar, primeiramente, a TV Rádio Clube do
conglomerado dos Diários Associados e, logo em seguida, em
18 de junho de 1960, a TV Jornal do Commercio, futura líder
de audiência no Estado, pertencente ao empresário Francisco
Pessoa de Queiroz que, no entanto, é bom frisar, foi ao ar,
pioneiramente, em caráter experimental, em 17 de fevereiro
daquele ano, com uma pequena mensagem do apresentador
Luís Geraldo
As duas emissoras tinham elenco próprio e geravam
programas de alto nível como: "Noite de Black Tie" aos
sábados, sob o comando de Luís Geraldo e "Você faz o show"

169
0 Recife e seus bairros

a cargo do famoso Fernando Castelão. Os teleteatros também


faziam sucesso revelando artistas do nível de Rosa Maria,
Lúcio Mauro, Aríete Sales, Albuquerque Pereira, Carmem
Tovar, Marilene Silva, June Sarita, Ewerton Visco, Graça Melo,
Marlene Cavalcanti e os comediantes Agnaldo Silva, José
Santa Cruz, Brivaldo Franklin (Zé do Gato) Lula Queiroga,
Irandir Costa (Otrópe), Mercedes Del Prado (Dona Felomena)
e Luís Jacinto,o conhecidíssimo Coroné Ludugero.
Nesse Bairro também estão sediadas a TV Universitária,
no início da Av. Norte, a Sede do SENAI, no cruzamento dessa
com a Av. Cruz Cabugá; O Hospital Osvaldo Cruz; o Teatro e
o Ginásio do SESC, o SENAC, e a sede da

COMPANHIA DE TRANSPORTES URBANOS

No ano de 1957, através da Lei Municipal ns4.983, foi criada a


Companhia de Transportes Urbanos (CTU), uma concessionária
exclusiva do transporte urbano, na cidade do Recife.
Com o passar do tempo essa empresa cresceu ao ponto
de quase monopolizar o transporte coletivo em nossa cidade.
Seu primeiro impulso veio a partir de 1960 com a inauguração
das primeiras linhas dos chamados "Ônibus Elétricos", que
marcaram presença na paisagem urbana do Recife.
Justamente no dia 13 de maio, como se fosse uma
homenagem à Avenida em que essa companhia se instalou,
era inaugurada a primeira linha que cobria o trecho Recife/
Torre/Madalena, vindo, depois muitas outras como: Casa
Amarela, Campo Grande, Fundão, Mustardinha...
A criação da Companhia de Transportes Urbanos pelo
Prefeito Pelópidas Silveira foi um divisor de águas entre
o controle dos transportes coletivos por empresa privada
que começou com a Trilhos Urbanos implantado pela Ferro
Carril iniciando com os Bondes a Burro (Eletroburros) depois
substituídos em 1871, pelas fumacentas "Maxambombas"

170
Carlos Bezerra Cavalcanti

Em 1914, a Empresa Inglesa "Pernambuco Tramsways Power


Company," passou a explorar o sistema de bondes elétricos,
que a partir do final da II Guerra foi perdendo espaço para
os ônibus automotores, principalmente para os "Supers
Whites" da Pernambuco Autoviária, de Vivi Menezes, que,
além de serem equipados com radiofonia para controle
operacional, rodavam sob a responsabilidades de motoristas
e com cobradoras impecavelmente fardados. Por volta de
1953, com a decadência parcial da Autoviária, foi criada a
Inspetoria Geral de Serviços Públicos que atuava mais como
concessionária de linhas que na inspeção desse tipo de serviço
urbano. Nessa época, só para se ter uma idéia do descontrole,
o Recife possuía 65 Empresas com apenas vim único ônibus;
cada. Nesse período foi que surgiram as famosas lotações,
logo apelidadas pelo povo de "Sputinik", pois só faltavam
voar no transito do Recife e de Olinda.

Os saudosos ônibus elétricos

Ainda neste bairro, na Avenida Suassuna, n9. 393, pode ser


vislumbrado o casarão onde funcionou a Fábrica de Tecidos

171
O Recife e seus bairros

de Seda e Algodão de Pernambuco (TSAP), patrocinadora do


íbis Futebol Clube, que, curiosamente, tem como símbolo a
ave que se alimenta do bicho da seda.
Dois bares/restaurantes marcaram época nesta localidade:

O BURACO DE OTÍLIA

Funcionou, inicialmente, em uma das palafitas que


existiam na parte final da Rua da Aurora até a década de 1960.
O prato mais famoso desse estabelecimento "excêntrico" era
a galinha de cabidela, preparada e, muitas vezes, servida pela
própria Otília, uma cozinheira de mão cheia.
O Restaurante continuou funcionando, por muito tempo,
na mesma Rua da Aurora, não mais no casebre demolido na área
humanizada pelo então Prefeito Augusto Lucena, mas em uma
casa que já foi residência do Sr. José Pontes, proprietário do:

BAR DO ESPANHOL

No início, o espanhol José Pontes reunia alguns amigos


em sua própria residência localizada na Rua da Aurora, como
vimos. Posteriormente, motivado pelos dotes culinários
de sua conterrânea e esposa, Zé Pontes abriu um bar que
servia não somente pratos da culinária espanhola como da
terra que o acolheu. O primeiro estabelecimento se chamava
"Porta Larga" e ficava na Rua Cambôa do Carmo, onde
posteriormente se instalou o Galo D'ouro.
Tempos depois o "Espanhol" transferiu seu bar. para a,Rua
do Lima e, ai, com a costumeira freqüência de artistas ejornalistas
das redes de rádio e televisão instaladas nas proximidades não
faltavam, principalmente nos sábados, a partir do meio-dia,
os violões e os cantores que, num prolongado "almoço" com
pratos caseiros e bebidas, se estendia até à noite. Em seguida
o bar se transferiu para a Cruz Cabucá e com o falecimento de
seu proprietário, deixou de funcionar.

172
Carlos Bezerra Cavalcanti

PARQUE TREZE DE MAIO

A maior área verde do centro da cidade, teve sua pedra


fundamental lançada em 13 de maio de 1889. Cinge, em seus
limites, extensa pista de "Cooper", parque Infantil, pequeno
zoológico, vários monumentos, destacando-se entre eles os que
reverenciam a Força Expedicionária Brasileira, o poeta Faria
Neves Sobrinho, Dantas Barreto, o historiador F. A. Pereira
da Costa, entre muitos outros. Foi projetado pelo engenheiro
Domingos Ferreira e inaugurado em 1939, por ocasião do IH
Congresso Eucarístico Nacional.Nele funcionaram, até os anos
sessenta, o Bar "A Cabana" e o Restaurante " Torre de Londres"

Bar e Restaurante "Torre de Londres"

Existem em sua área algumas placas que registram as


principais homenagens no local, realizadas pelo povo e pelás
autoridades, e que se constituem em narrativas que servem
para explicar aos transeuntes a história do local e parte dos
acontecimentos da cidade.
Nas cercanias desse Parque encontram-se importantes
Instituições destacando-se entre elas a Câmara Municipal do
Recife, a Faculdade de Direito, a Biblioteca Pública Estadual e o
Instituto de Educação de Pernambuco, vejamos algumas delas:
O Recife e seus bairros

CÂMARA MUNICIPAL DO RECIFE

Conseqüência direta da Carta Regia de 19 de novembro


de 1709, que criava a Vila de Santo Antônio do Recife, era
instaurada em 15 de fevereiro do ano seguinte a Câmara
Municipal do Recife. Foram então realizadas as pioneiras
eleições sendo escolhido o primeiro Presidente o Juiz de Fora
José Inácio de Arouche.
Essa primeira Câmara recifense, teve vida efêmera em 17
de novembro de 1710 os nobres de Olinda, enciumados, com
as decisões da Corte, invadiram a Vila do Recife, derrubaram
o pelourinho e seguiram para a Câmara Municipal. Lá
chegando, agiram com total vandalismo, destruindo tudo
que representasse aquela autonomia além de atentarem
fisicamente contra os membros daquela Corte Parlamentar,
consolidando a primeira fase da chamada "Guerra dos
Mascates", que se estendeu até 18 de junho de 1711, quando os
recifenses rebelaram-se e enfrentaram os agressores em varias
contendas até 8 de outubro daquele mesmo ano, quando se
restabeleceu a paz, com a chegada do novo governador
nomeado para Pernambuco, Félix José Machado, assim, em
18 de novembro faltando apenas um dia para o segundo
aniversário da nova Vila, o Pelourinho foi reconstruído
e reaberta a Câmara Municipal que, a partir de então, teve
vida tranqüila até a Proclamação da República, em 1889,
quando foi temporariamente suspensa. Com a promulgação
da Constituição de 1891, as Câmaras foram transformadas em
Conselho de Intendência Municipal. Por essa época foi eleito
o primeiro prefeito do Recife, o grande tribuno abolicionista
considerado "o pai dos pobres" e um dos maiores líderes ~
populares da nossa história, o tribuno José Mariano Carneiro
da Cunha, que, no entanto, não chegou a assumir o cargo mas
pelo seu perfil democrático e atuação nas defesas dos ideais
populares, foi escolhido, na década de 1940 como Patrono da

174
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Carlos Bezerra Cavalcanti

Câmara Municipal do Recife, que passou, então, a denominar-


se "Casa de José Mariano".
Com a estabilidade do governo republicano as Câmaras
Municipais prosseguiram com seu funcionamento até a
Revolução de 4 de outubro de 1930, quando foram fechadas. Em
1934 com a nova Constituição foram reabertas mas a do Recife
só pode funcionar em 1936, por apenas um ano, pois o golpe de
10 de novembro de 1937 éxtinguiu mais uma vez o Legislativo
Municipal. Após um demorado processo de redemocratização,
principalmente com o fim da II Guerra Mundial, a Câmara
Municipal do Recife, reiniciou os seus trabalhos com os
vereadores eleitos para o período de 1947 a 1950.
No entanto, esse seria mais um período de turbulência
para o sonhado vôo democrático que parecia ter decolado de
vez do Ocidente, com a vitória dos aliados liderados pelos
Estados Unidos, em 1945. Três anos, depois foram cassados os
mandatos de todos os parlamentares comunistas e socialistas.
Dos trinta e um vereadores, doze perderam o mandato.
Com o golpe militar de 1964 a câmara viverianovo período
de perseguições políticas e cassações de mandatos, mas não
chegou a ser fechada.
Em sua existência atribulada e vivendo de forma itinerante,
desde 1711, a Câmara Municipal do Recife, com suas respectivas
denominações e componentes, esteve pela primeira vez
instalada no antigo Largo do Corpo Santo, no Bairro do Recife.
Com a construção da Cadeia Nova, na rua do mesmo nome
(atual Imperador) a edilidade recifense instalou-se no primeiro
andar daquele prédio, onde funcionou por vários anos. Logo
após a redemocratização a Câmara ocupou as dependências do
edifício Alfredo Fernandes, no final da Av. Barbosa Lim a, no
Bairro do Recife perpendicular a " aclamada" Rua da Guia, o
que serviu de pretexto para ser apelidada de " Casa da Rua da
Guia" , o que incomodava bastante a toda edilidade. Em 1963,
a Câmara veio, finalmente, para o belo Casarão do Parque 13 de
Maio, onde funcionou a Escola Normal

175
O Recife e seus bairros

Casa da Câmara Municipal do Recife

BIBLIOTECA PÚBLICA ESTADUAL

A maior e mais importante Biblioteca de Pernambuco,


embora não tenha sido a primeira, é a Biblioteca Pública
Estadual, com capacidade para abrigar 250 mil volumes.
Instituída em 5 de maio de 1852 incorporou, inicialmente,
o acervo do antigo Gabinete Literário, criado em 1839.
Fundonou, nos seus primórdios, no Liceu Provindal,
depois, numa verdadeira "via cruds" que era a vida errante das
antigas instituições públicas em Pernambuco, foi transferida
para o Colégio de Artes do Recife, posteriormente, para o prédio
onde hoje se localiza a Secretaria da Fazenda, daí transferiu-
se para o edifído da Cadeia Nova, na Rua do Imperador, ali
permanecendo até o ano de 1971, quando, no Governo de Nilo
Coelho, passou para o atual prédio da Rua João Lira.
Carlos Bezerra Cavalcanti

Sede atual da B.P.E.P.

INSTITUTO DE EDUCAÇAO DE PERNAMBUCO

No Brasil, foi a antiga Escola Normal a pioneira


entre os estabelecimentos de Ensino destinados à formação
de Professores primários, sendo inaugurada em 13 de maio de
1864, de acordo com a Lei Ns. 598.
A Escola começou a funcionar no bairro portuário do
Recife, no edifício da Alfândega.
Inicialmente destinava-se, exclusivamente, ao preparo
pedagógico de pessoas do sexo masculino, posteriormente se
tomou privativa na formação de lentes do sexo feminino.
Segundo informações do mestre Orlando Parahym,
essa Escola alojou-se posteriormente na Rua da Praia.
Em 1883, transferiu-se para uma dependência do Ginásio
Pernambucano, daí passou para o prédio do Parque Treze
de Maio e, finalmente, em 1962, ocupou sua atual sede, já
com a denominação de Instituto de Educação de Pernambuco
(I.E.P.), Colégio Sílvio Romero, sede essa localizada, em parte,
do terreno onde funcionou a:

177
O Recife e seus bairros

FESTA DA MOCIDADE

No período compreendido entre 1937 e o início dos anos


60, o Recife vivendou uma das mais belas e concorridas festas
populares, a famosa FESTA DA MOCIDADE. Era realizada sob
o patrocínio da Casa do Estudante de Pernambuco, e teve como
seu prindpal gestor, o Presidente daquela entidade estudantil,
no final da década de 30, GASPAR REGUEIRA COSTA.
A Festa da Mocidade funcionava por quase todo verão
(nordestino) Setembro/Fevereiro, encerrando-se no período
carnavalesco, tendo parte de sua renda revertida para a C.E.P.
responsável, como vimos, pela sua organização.
Segundo Rostand Paraíso no seu " Antes que o Tempo
Apague", 2a edição, Recife 1996 pags. 152 e 153:
"Para garantir sucesso social e financeiro, seu adminis­
trador José Luís Arantes, contratava artistas locais e do Sul, às
vezes aproveitando aqueles trazidos pela PRA 8 , que já se en­
contravam no Recife. Assim tínhamos, Ary Maranhão ( O Sa­
lomão Absalão), artista local que contracenava com Zé Coió,
baiano radicado no Rio de Janeiro e exímio cantador de em­
bolada, e, numa permanente renovação : Nelson Gonçalves e
sua Companhia de Revista, Rose Rondlli, Raul Roullien, Eva
Etachini, Colé e sua Companhia, Silva Filho e tantos outros
entre os quais o sucesso máximo daquela época, Walter Pinto
e suas lindas mulheres, vedetes do Teatro rebolado que costu­
mavam se apresentar no Hotel Serrador do Rio e que aqui en­
cenavam engraçadas e atraentes comédias musicais como..."E
de Xurrupito... e "Tembu-bu-bu no bo-bo-bó..."comédias que
praticamente encerravam o ciclo de apresentações da Festa da
Mocidade no Parque 13 de Maio, isso em tomo de 1958".
Na Festa da Mocidade funcionava, ainda, grande atração
da meninada, o Parque Xangai, com o Polvo, Auto-Pista, Roda
Gigante, Trem Fantasma, Tira Prosa, Auto Shoot, Stands de
Tiro ao Alvo, etc. Não faltava o Posto de Radio também com

178
Carlos Bezerra Cavalcanti

o tradicional "De alguém para alguém" onde, como músicas


favoritas, aqui como em outros lugares, imperavam "Lábios
que Beijei", na voz de Orlando Silva e "Fascinação", com
Carlos Galhardo.

ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA

A construção teve sua pedra fundamental colocada em 2 de


dezembro de 1870, pôr ocasião do 45° aniversário do imperador
Pedro II, sendo pomposamente inaugurado em 1875.
Segundo Rubem Franca (ob. cit.) o edifício possui
quatro estátuas e um busto que estão localizados na sala
redonda onde se reúnem os Deputados. As quatro estátuas,
mulheres em tamanhos naturais, simbolizam a "sabedoria",
a "jurisprudência", a "justiça" e a "eloqüência". O busto é
do Parlamentar, orador e abolicionista "Joaquim Nabuco"
patrono da casa (observação nossa).
O Prédio, segundo o mesmo autor é encimado pôr um
zimbório grande, sobre o qual se eleva pequena clarabóia
cilíndrica...

179
0 Recife e seus bairros

O projeto de construção desse prédio público é de autoria


do Engenheiro José Tibúrcio Pereira Magalhães, tendo estilo
dórico romano, com a forma geral de uma cruz que envolve
o corpo central do Palácio, circular, destinado às sessões
do plenário e acima desse , salão redondo de 13 metros de
diâmetro, de onde se admira a abóbada , correspondente ao
zimbório já referido.
Ao lado desse palácio, também, como o primeiro, voltado
para o rio Capibaribe encontra-se o:

GINÁSIO PERNAMBUCANO

Em virtude do alvará de 4 de junho de 1771, o Tribunal da


Mesa Consária estabelecido em Lisboa, criado por Ato Régio
de 5 de abril de 1768, para decidir todos os assuntos referentes
às escolas primárias existentes, passou as de Pernambuco à
sua alçada. j
E importante frisar que até o início do .século XIX, era
privilégio de poucos no Brasil a educação escolar e, mais
ainda, a universitária, que se restringia a uma pequena elite de
afortunados que tinham acesso aõs seminários e, ainda, alguns
poucos que freqüentavam, na Europa, o ensino superior.
O Seminário de Azeredo Coutinho em Olinda e,
posteriormente, o Ginásio Pernambucano, no Recife, eram os
únicos redutos de condicionamento às faculdades de outrora
e representavam verdadeiros oásis na cultura nordestina,
fazendo daquelas cidades, centros cosmopolitas de estudantes
e professores. Docentes e discentes se completavam,
simbioticamente, no ensinar e no aprender, honrando e dando
fama àquelas entidades de ensino, tanto que, a « Casa de
Azeredo Coutinho», foi o verdadeiro fator da multiplicação
das idéias iluministas e pensamentos libertários da Revolução
Pernambucana de 1817, por isso, com justo motivo, chamada:
«Revolução dos Padres». O Ginásio Pernambucano, por sua
vez, era uma, «Pré-Universidade", no dizer de Nilo Pereira,

180
Carlos Bezerra Cavalcanti

e que se constituiu na pedra fundamental da formação


pré-acadêmica, verdadeiro epicentro da intelectualidade
estudantil de todo o nordeste brasileiro.
O Ginásio Pernambucano tem outra grande importância
para os nossos anais, pois se constitui no mais antigo
estabelecimento de ensino público do Brasil, criado em 10 de
setembro de 1825, por decreto do Presidente da Província José
Carlos Mayrink da Silva Ferrão.
Seu primeiro Diretor foi o religioso Miguel do Sacramento
Lopes Gama, posteriormente, jornalista e deputado, o Padre
Carapuceiro que foi, também, o autor do plano para o primeiro
regulamento da nova instituição, enviado ao então presidente
da Província José Carlos Mayrink da Silva Ferrão.
Ao ser criado, como vimos, em primeiro de setembro de
mil oitocentos e vinte e cinco, o então Liceu Provincial passou
a funcionar, precariamente, nas dependências do Convento
Carmelita do Recife. Em março de 1844, o Liceu, mudou-se
para um sobrado que pertencera ao industrial Gervasio Pires
Ferreira. Segundo Olívio Montenegro, essa mudança marcou
o início de tuna série de aventuras do Liceu, a primeira delas
«ocorreu mesmo nesse prédio da rua dos Pires que, tendo o
ar de palacete, era uma misteriosa ruína, feita pelos cupins.
Assim é que, um belo dia, quando todas as classes estavam
em aula, o teto da casa começou a estalar, ameaçando vir tudo
a baixo. As comunicações oficiais não ocultam que o susto foi
grande, e parece que, não somente dos alunos.
Um comentário do Diário, exagerando um pouco em
traços de caricatura a cena desse dia, conta que os alunos
atiravam-se pelas janelas, correndo até a Soledade.
O pior, depois disso, é que o liceu passou um tempo sem teto,
e como os professores vinham com seus ordenados atrasados,
pode-se dizer que sem pão, até que se aprontassem, os Torreões
da Alfândega, para onde se passou em agosto do ano, ainda, de
1844. Nesse intervalo as aulas eram dadas nas casas dos próprios
professores. Houve, pois, aí, uma dispersão do Liceu".

181
O Recife e seus bairros

Na Alfândega, ele permaneceu pouco tempo, pois já em


fevereiro de 1845, estava se mudando para o 1Qandar da casa
que tinha sido da Companhia de Operações Engajadas, no
bairro do Recife. Ai pouco tempo demorou, transferindo-se,
logo em seguida, para o antigo casarão que servira de Colégio
aos Jesuítas e que fora, também, Palácio dos Presidentes da
Província, no local onde foi construído o Grande Hotel (1939).
Pouco tempo depois, foi o liceu, mais uma vez, transladado,
desta feita para o Hospital do Paraíso. Um ano se passou e
era transferido, novamente, agora para um prédio mais
apropriado, na Rua do Hospício, onde, posteriormente, se
instalou a Escola de Engenharia. Ali, o liceu permaneceu até
ser transferido, definitivamente, para sua sede própria, na
Rua da Aurora, em 20 de fevereiro de 1866, onde, ainda hoje,
se encontra.

182
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DO DERBY

Esse bairro, situado entre a antiga Estância de Henrique


Dias e a localidade da Graça, está separado da Boa Vista pelo
canal que tem seu nome e ligado à Madalena pela Ponte
Estácio Coimbra (Ponte do Derby).
Henrique Dias, o bravo comandante dos negros nas
Guerras Holandesas, teve sua estância nos limites do domínio
urbano dos batavos, onde construiu sua capela por isso mesmo
hoje chamada de Igreja das Fronteiras Nos idos de 1840, parte
do atual bairro pertenceu ao negociante francês "Monsieur"
L. A. Douborcq. Posteriormente, foi adquirido pelo Senhor
Antonio Gonsalves, pai do Bispo Dom Vital, ficando, então,
conhecido como "Sítio do Pai do Bispo".
Por volta de 1885, a Sociedade Hípica "Derby Club" ali
instalou seu prado que funcionou até o final de 1888, quando
foi adquirido por Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, que
construiu na área um Centro Comercial e Diversional
que tinha como carro chefe o Mercado Coelho Cintra, nome

183
O Recife e seus bairros

do então Prefeito do Recife "Cupertino Coelho Cintra" e


inaugurado em 7 de setembro de 1899. O empreendimento,
inédito no Brasil, fora inspirado na Exposição Universal de Chicago
de 1883 e o edificio do Mercado, no Fisheries Bulding, projetado por
Ives Cobb para aquela exposição. A sociedade recifense se orgulhava
da iniciativa de se colocar a cidade em sintonia com o que havia
de mais moderno e sofisticado no inundo da época. Expressão de
progresso e civilidade, o Derby era um centro de diversões modernas
que levou ao Recife os prazeres desconhecidos, produzidos com o
auxílio da técnica e da ciência.
Esse empório, no entanto, foi criminosamente incendiado
na madrugada de dois de janeiro de 1900. Nos escombros
do mercado, após algumas reformas, passou a funcionar, em
1909, a Escola de Aprendizes Artífices, o atual, Centro Federal
de Ensino Tecnológico (CEFET), que ali permaneceu até 1923,
quando o então Governador Sérgio Loreto requisitou o prédio
para nele instalar o Primeiro Batalhão de Infantaria Estadual. O
edifício do mercado foi então demolido e construído no local,
com semelhança arquitetônica, o portentoso Quartel do Derby,
inaugurado em 18 de Outubro de 1924, para sediar a grande
Feira de Exposição Comercial, Industrial e Agropecuária em
comemoração ao Centenário da Confederação do Equador.
Posteriormente, em 15 de Novembro de 1925, foi então o
prédio ocupado, definitivamente, pela Polícia Militar de
Pernambuco.

PRIMEIRO JOGO DE FUTEBOL __________ _

Foi na antiga Campina do Derby (antão abandonada após


o incêndio do Mercado) que em 1904, Guilherme de Aquino
Fonseca, aquele mesmo que fundaria o Sport Club do Recife
no ano seguinte, juntou onze jogadores e realizou o primeiro
jogo de futebol em Pernambuco, o embate ocorreu contra um
time de ingleses da "Great Western".

184
Carlos Bezerra Cavalcanti

PENSÃO DELMIRO GOUVEIA

O Hotel Internacional do Derby, (Pensão Delmiro Gouveia)


representava, naqueles idos, um dos mais requintados Hotéis
do Recife, cujos hóspedes ali chegavam conduzidos por barcos,
a exemplo da Pensão Landy, localizada do outro lado do Rio.

Pensão Delmiro Gouveia vista do Capibaríbe

A escritora americana Marie Robinson Wright em seu


livro The New Brazil (1901) descreve esses tempos assim:
"Muitos estrangeiros visitam o porto de Pernambuco todo
ano, e não é raro ver meia dúzia de nacionalidades representadas
nos hotéis de seus atraentes subúrbios, especialmente no Derby,
que é um dos mais pitorescos lugares que se pode imaginar, com
bonitas casas, sombras de arvoredos, leve movimento das águas
do rio, pequenas pontes artísticas semi-enterradas na vegetação
das margens, e canoas alegremente pintadas deslizando na
superfície da água. Este subúrbio goza da distinção de possuir
um dos melhores hotéis da América do Sul; o Hotel do Derby
é perfeitamente moderno em todos os sentidos e orientado por
um padrão metropolitano de serviço. O mercado do Derby é
um dos maiores estabelecimentos do seu tipo, no Brasil, e está
equipado para os amplos negócios que diariamente são nele

185
O Recife e seus bairros

realizados. O subúrbio deve seu aspecto atraente à empresa


de um cidadão muito progressista, Senhor Delmiro Gouveia, o
proprietário, que tem pessoalmente dirigido tudo em sintoma
com o desenvolvimento do empreendimento" (WRIGHT,
1901, 314).
Próximo ao antigo prédio desse hotel, demolido sem
nenhuma razão na década de 1920, foi edificada, em 1927, a
Escola de Medicina que, atualmente abriga o:

MEMORIAL DA MEDICINA

O prédio foi construído em 1927 sob a égide do Prof.


Otávio de Freitas, dos mais conceituados médicos de nossa
capital. Abrigou a Escola e depois a Faculdade de Medicina
até 19 de janeiro de 1958, quando foi transferida para a .
Cidade Universitária. Nele funcionaram a administração
e as Cátedras do Ciclo Básico de Medicina, Odontologia e
Farmácia. O velho casarão do Derby sediou, posteriormente,
o Colégio Militar do Recife e a 25acircunscrição Militar.
Recentemente, foi o prédio condignamente restaurado,
abrigando em suas dependências a Academia Pernambucana
de Medicina e outras entidades ligadas às ciências médicas,
como a Associação dos ex-alunos da Faculdade de Medicina
do Recife. O Instituto de Estudos de Pesquisa da Terceira
idade a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores.
Na retaguarda desse prédio funciona o Instituto dos
Arquitetos do Brasil, Departamento de Pernambuco, no
local onde funcionou o Pavilhão de Óbitos Luiz Nunes,, que
homenageia o Arquiteto do edifício, pioneiro no uso de Pilotis
no Brasil, assim como o de "cobogó", criação pernambucana
cujo nome é uma homenagem aos três engenheiros que
participaram dessa criação: Coimbra, Boikmen e Góes.
O antigo Pavilhão foi construído em 1937, como um anexo
da Escola de Medicina e destinava-se a abrigar os Serviços de
Laboratório de Anatomia Patológica daquela Faculdade.

186
Carlos Bezerra Cavalcanti

Junto a essa casa, no final das Ruas Henrique Dias e


Jéner de Sousa encontram-se as antigas instalações da Escola
Técnica Federal de Pernambuco, onde hoje funcionam o
Teatro Cavalcanti Borges e o Colégio da Polícia Militar. Vale
salientar, que a Escola Técnica Federal de Pernambuco, ao ser
criada em 1909, com a denominação de Escola de Aprendizes
Artífices, funcionou, justamente nos escombros do Mercado
Coelho Cintra, até 1923, quando o Governo do Estado solicitou
o local para construir o:

QUARTEL DO DERBY

Um dos mais tradicionais prédios públicos de nossa


paisagem urbana é, sem sombra de dúvidas, o Quartel
do Comando Geral da Polícia Militar de Pernambuco,
localizado na Praça do Derby e recentemente tombado pela
Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco
(FUNDARPE).
Quem se encarregou de sua construção foi o
Departamento Geral de Viação e Obras Públicas, à frente o
Engenheiro Civil Odilon Lima de Sousa Leão. Está situado no
mesmo local do antigo Mercado, como vimos.
Posteriormente, na década de 1930, foram edificados o
Hospital da PMPE, e o:

TEATRO D O D E R B Y

Inaugurado em 6 de setembro de 1935, pelo então


Interventor Carlos de Lima Cavalcanti, esse cine-teatro,
muito contribuiu para a divulgação da Arte Cênica na Capital
Pernambucana.
Durante as décadas de 40 e 50, essa casa de espetáculos
vivenciou seus melhores dias. Nela eram realizadas, não
apenas peças teatrais ou exibidas películas cinematográficas
como os chamados programas de auditório (novidades

187
O Recife e seus bairros

domingueiras). Um detalhe curioso sobre esse Cine-Teatro, é


que na parede que emoldura o palco foi pintado na década
de trinta por Di Cavalcanti, um afresco que representava
soldados marchando, observados por criança e uma revoada
de pombos. Infelizmente essa obra de arte, por questões de
ideologia política, no Estado Novo, foi inutilizado com tinta
apropriada para tal fim.

Também patrocinada pela Polícia Militar, outra atividade


do bairro que, há muito tempo, recebe a presença da sociedade
local é a:

MISSA DO GALO

O grande momento para os católicos no período


festivo do Natal, é a Missa do Galo que se realiza todos os
anos em várias Igrejas do Recife, Olinda e outras cidades
Pernambucanas. Porém, a mais tradicional delas, celebrada
na cidade do Recife, não acontece em nenhum Templo
Religioso, mas em frente ao portentoso Quartel do Comando

188
Carlos Bezerra Cavalcanti

Geral da Polícia Militar de Pernambuco, que tem na ocasião,


todo o seu frontispício iluminado. O ato religioso é celebrado
pelo Arcebispo de Olinda e Recife, ao ar livre com a presença,
rotineira, de altas autoridades, inclusive do Governador
do Estado e da Comunidade do Bairro. Foi realizada pela
primeira vez no natal de 1952.

A PRAÇA DO DERBY

O seu nome, assim como o do próprio Bairro, é oriundo


da antiga Sociedade Hípica Derby Club. Nas cercanias do
Mercado de que falamos anteriormente, se vislumbrava,ainda
segundo Sebastião de Vasconcelos Galvão no seu Dicionário
Chorográphico, "várias Casas de Jógos, Lanchonetes, Bares e
Cafés que permaneciam abertos, juntamente com o Mercado,
durante toda a noite, iluminados pôr luz elétrica ( a motor),
contava ainda a área englobada pela mencionada Praça, com
um local para a corrida de Bicicletas e era servida por Bondes
de tração animal."
Rjr volta de 1924, com a construção do Quartel da
então Força Pública e posteriormente, com a inauguração
da Escola de Medicina (1927), a área recebeu considerável
melhoria chegando a vivenciar grande surto de progresso. O
Governador Sérgio Loreto, não cuidou apenas das edificações.
A Praça tomou-se mais deslumbrante, circundada, cada
vez mais, pôr belas mansões. Construiu-se um coreto e criou-
se um lindo jardim, projetado pôr Roberto Burle Marx, famoso
paisagista, que tomou a Praça ainda mais bela e pitoresca,
onde passou a se destacar a concorrida "Ilha dos Amores".
No início da segunda quinzena de outubro de 1924, durante
as comemorações do IoCentenário da Confederação do Equador,
realizou-se no recém-construído Quartel do Derby e cercanias,
uma grande exposição da indústria pernambucana, com parque
de diversões, jogos, bares, etc., foi um dos acontecimentos mais
importante ocorrido naquela década, na cidade do Recife.

189
O Recife e seus bairros

Nos idos de 1945 existiu no bairro do Derby os concorridos


"footings" nas taxdes-noites de domingo quando os terraços
das mansões ficavam repletos de jovens para apreciarem
aqueles encontros alegres e inicialmente, descompromissados,
assim descrito por "ROSTAND PARAÍSO, no seu "ANTES
QUE O TEMPO APAGUE",2o edição,pag.158: "Para aquele
footing do Derby afluiam os estudantes de nossas escolas
superiores, muitos deles residindo ali perto, na Casa do
Estudante, esses quase doutores, eram bastantes cobiçados e
literalmente caçados por aquelas que se consideravam em
tempo de casar.
O peixe-boi ainda morava no seu tanque no Parque
Amorim e só depois viria para o Derby, onde juntamente
com o coreto e as habituais retretas, seria mais uma atração
daquelas tardes domingueiras. Pôr volta das 17 horas o
"footing" se adensava em volta do coreto e somente após às
19 horas começavam todos a se dispersar atendendo a outros
chamamentos."
O aristocrático bairro do Derby, também era palco de
corridas de carros improvisadas, protagonizadas pôr alguns
jovens da sociedade local destacando-se entre eles ,Aroldo
Fonseca Lima e Luiz Queiroz de Oliveira.
A Praça do Derby, nos dias atuais, está bastante
modificada. As famílias que residiam nos majestosos casarões
,pôr questão de segurança e das modificações urbanas
ocorridas na cidade do Recife, foram para outras localidades,
principalmente, Boa Viagem;
No bairro existe ainda, oriunda da década de 20 do
século passado a igrejinha de Santa Terezinha, hoje sob
a responsabilidade da Capelania da Polícia Militar de
Pernambuco e o prédio sede do Instituto de Pensionistas
dos Servidores do Estado de Pernambuco onde funcionou
em outro prédio, a famosa Maternidade do Derby ao lado da:

190
Carlos Bezerra Cavalcanti

CASA DO ESTUDANTE DE PERNAMBUCO

Em 21 de setembro de 1938, era inaugurada a Casa do


Estudante de Pernambuco que tinha como Presidente Gaspar
Regueira C osta.
O edifício, localizado na esquina das ruas Henrique
Dias e Barão de Goiana, foi projetado pelo arquiteto Jaime de
Oliveira e recebeu grande incentivo do Governador Carlos de
Lima Cavalcanti.
Em seus mais de 60 anos de existência, acolheu muitos
estudantes conhecidos, ludicamente, como "xepeiros", vindos
de vários locais da Região Nordestina, sendo testemunhas
tangíves de momentos de lutas, de alegrias e de tristeza na
vida dos discentes em Pernambuco

HOSPITAL DA RESTAURAÇÃO

O Prédio monobloco de 15 andares do Hospital da


Restauração localizado na Av. Agamenon Magalhães, foi
inaugurado em 1969 e construído a partir de 1967, ainda no
governo de Paulo Guerra, seguindo o projeto do Arquiteto
Acácio Gil Borsoi. O nome RESTAURAÇÃO, no entanto,
nada tem a ver com recuperação de doentes e sim com os
heróis da "RESTAURAÇÃO" PERNAMBUCANA (1645-
1654). Do jeito como a saúde pública brasileira anda "mau das
pernas" e de todo o corpo, temos muitas saudades do "Pronto
Socorro Velho" ali na Fernandes Vieira, que funcionou até a
inauguração do "Restauração". Na realidade, o que deve ser
restaurado mesmo é o antigo atendimento do Pronto Socorro
(sempre pronto para socorrer), quando as ambulâncias fiavam
no pátio esperando serem chamadas para a "ASSISTÊNCIA"
aos pacientes, hoje os "pacientes" lotam o ambulatório e o
pátio, esperando serem "ASSISTIDOS".

191
O Recife e seus bairros

Sobre a pequena história da saúde pública em


Pernambuco, temos ciência de que em 1914, no Governo do
General Dantas Barreto, era criado o Posto de Assistência
Pública que já naquele ano, atendeu a cerca de mil e quinhentos
pacientes e que possuía então um quadro de seis médicos, três
enfermeiros, um escriturário, dois motoristas e dois serventes.
F.m 1923, esse hospital passou a ocupar, provisoriamente,
três alas do edifício do Departamento de Saúde, na antiga Rua
da Boa Vista. A instituição possuía então um quadro de seis
médicos, três enfermeiros, um escriturário, dois motoristas e
dois serventes, e ao ser transferido para o casarão da Fernandes
Vieira, esquina com a Praça Osvaldo Cruz, passou a ser
chamado de "Pronto Socorro do Recife" , com a construção
do "Novo" passaram a chamá-lo de Pronto Socorro Velho.

H ospital da Restauração

192
Carlos Bezerra Cavalcanti

CAPUNGA

Segundo o prof. José Antônio Gonsalves de Mello, em


seu trabalho literário "A CAPUNGA": CRÔNICA DE UM
BAIRRO RECIFENSE:
"A área da atual Capunga emerge para a história na
primeira metade do século XVII, depois da invasão holandesa
de 1630. Como já tivemos ocasião de indicar, em trabalho
publicado em 1947, que o Conde Maurício de Nassau foi
convalescer ali, em 1638, de uma enfermidade se supõe ter
sido a malária, numa grande casa que os invasores haviam
confiscado, situado à margem do Capibaribe. Chamou-a,
por motivos ignorados, de LA FONTAINE, embora não seja
conhecido no bairro qualquer fonte ou olho d'água, que
pudesse ter dado origem ao nome. Nas proximidades da casa
estava situada uma aldeia de índios Tupis ,a qual veio a ser
denominada de aldeia Nassau , atrás da casa, à margem do
rio, havia um enorme viveiro de peixes .Nassau foi, aliás, um
entusiasta do estabelecimento de viveiros às margens do rio e
no seu grande palácio de Friburgo , no extremo norte da ilha
Antônio Vaz, construiu dois deles.
A casa da Capunga a que Nassau chamou de La
Fontaine _ e que os documentos holandeses referem que o
conde usava para seu prazer _ teve, desde 1640, utilização
bem diferente. Por ordem dos diretores da Companhia, foi
ela cedida a um cervejeiro holandês chamado Dirck Dicx
que veio de Haarlen para o Recife, naquele ano, com o fim
de aqui fundar uma fábrica de cerveja. De fato a ordem
dos diretores permitia instalar a fábrica na Aldeia de Sua
Excelência ( o Conde de Nassau), utilizando para tal fim a
casa da Companhia, com o rio e o mais que existisse nas
proximidades e a lenha de que tiver necessidade, tudo pelo
tempo dos seis anos próximos futuro. A cerveja começou a
ser fabricada em abril de 1641, constando ser uma cerveja

193
O Recife e seus bairros

forte; ao que parece, pelo silêncio da documentação, a vida


da nova indústria não foi longe.
Vê-se, assim, que a Capunga pode apresentar como
uma de suas primazias, o fato de que ali nasceu a indústria
cervejeira brasileira; foi ela, com a indústria açucareira, uma
das primeiras do nosso país."
"Graça e Capunga, sob o ponto de vista atual, tem
origem como muitos outros bairros do Recife, ou seja,
no desmembramento de sítios. No caso da Capunga,
não apenas uma, porém duas propriedades deram início
ao antigo povoamento hoje tradicional e aristocrático
bairro, Os dois sítios- O do Gadault e o do Jacobina- foram
loteados respectivamente em 1835 o primeiro e em 1845 o
segundo.
O de Gadault está anunciado no Diário de Pernambuco
de 17 de novembro de 1835: O proprietário do sítio da
Capunga, Nicolau Gadault, pretendé abrir pelo meio do dito
sítio uma estrada de quarenta palmos de largura e dois mil
de comprimento, com saída para o Rio Capibaribe, com 580
palmos em frente do mesmo rio : Por isso convida a todas
as pessoas que quiserem edificar sítios ou prédios, pôr haver
todas as comodidades tanto em frente como em fundos, queira
entender-se com Elias José Martins Pereira..."

194
t
i Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DA GRAÇA

O bairro tem seu nome atrelado à Matriz de Nossa


Senhora da Graça que teve sua pedra fundamental lançada
no domingo 3 de maio de 1857. Conforme José Antônio G. de
Melo (ob. cit.) pg. 279: " A construção (da Igreja)_ custeada
em grande parte pelo doador do terreno (Francisco Carneiro
Machado Rios)_ foi vagarosa e somente em fins de 1872 estava
concluída. O Diário de Pernambuco de 11 de dezembro de
1872 anunciava que, no dia seguinte, às nove horas da manhã,
se procederia a benção solene da nova igreja, bem como das
imagens, tocando durante a cerimônia a banda de música do
Corpo de Polícia...Entretanto, somente em 3 de outubro de
1873 foi efetivado o ato solene de Instituição do Sacramento
na Igreja que desde então passou a ser a Matriz da freguesia.
Concluídos os dois altares laterais, o altar-mor esteve muitos
anos por concluir.
Um colaborador do Diário de Pernambuco de 5 de
outubro de 1884, em artigo intitulado "Arquitetura . da
Matriz da Graça", elogiou a decoração da nave, onde notou
a existência de duas ordens, a coríntia e a compósita. "Aqui
não se encontra essa promiscuidade de omatos que encobre
a pobreza de uma idéia geral, mas a simplicidade helênica,
sóbria e grandiosa". Isso, diz ele, nobilita o " ignorado
executor desse trabalho", fato que também lamentamos, pois
não ficou conservado o nome do autor do projeto da Igreja e
de sua decoração.
Em 22 de julho de 1870 era criada a freguesia de "Nossa
Senhora da Graça da Capunga, que abrangia, não só esse
bairro, como o de Campo Grande.

195
O Recife e seus bairros

Igreja de N. S. da Graça

Foi justamente no final da atual Rua Joaquim Nabuco,


antiga "do Ventura" próximo à Ponte Laserre que vieram ao
mundo dois dos mais ilustres recifenses, o Grande Poeta, tido
como o maior do Brasil, Manoel Bandeira, de quem tratamos
ao dissertar sobre a Rua da União, e o "Cidadão do Mundo"
Josué de Castro que, inclusive, chegou a ser cotado para o
Piêmio Nobel da Paz, um dos primeiros a se preocupar com
a fome e a desnutrição, principalmente com os moradores
dos mangues do Recife, e que ficou imortalizado pelos seus
indefectíveis trabalhos: Geografia e Geopolítica da Fome, mas
que, infelizmente, não foi, e nem é, devidamente reconhecido
em seu país, nem em sua cidade, tendo falecido no exílio, na
França,em 24 de setembro de 1973.

196
Carlos Bezerra Cavalcanti

O nome Capunga, segundo alguns autores, é uma


corruptela indígena que significa "madeira que percutindo,
da som"
De acordo ainda com o Prof. José Antônio (ob. cit.) pg.
273, a denominação CAPUNGA VELHA e CAPUNGA
NOVA aparece em vários documentos em que se vê que o
quarteirão velho principia na ponte pequena na Camboa do
Manguinho ,daí em seguimento até a beira do Rio Capibaribe,
porto denominado de Lasserre, compreendendo toda a Baixa
Verde. O quarteirão da Capunga Nova principia nos Quatro
Cantos, exclusiva daí em seguimento até encontrar a Estrada
do Manguinho, compreendendo toda a Capunga Nova, porto
denominado de Jacobina.
A formação da Capunga, como vimos, teve início com o
desmembramento dos dois sítios, sendo limitado, inicialmente,
pelo eixo apresentado pela Rua Joaquim Nabuco, que se liga
à Madalena pela ponte Prefeito Morais Rego, onde um dos
primeiros prédios foi edificado pelo francês Bemard Lasserre
e que corresponde ao da atual Fábrica E. Lucena, ou Fundição
Capunga, às margens do Rio Capibaribe onde em épocas

197
O Recife e seus bairros

remotas aportavam canoas de carreira e ficou conhecido como


Porto Lasserre e pela Rua das Pernambucanas, em segundo
lugar. Mais tarde surgiu o terceiro, representado pela Rua das
Graças que foi aberto.
Pôr volta do ano de 1900, passava naquela localidade,
a Maxambomba, que entrava no Bairro através do Parque
Amorim e, em seguida, atravessava a linha férrea da Caxangá
e vinha pela Rua Joaquim Nabuco, deixando ótimas casas
de vivenda, até o fim da linha, só tendo a notar a Matriz da
Graça, que fica à direita.

PONTE DA CAPUNGA_______________________
(LESERRE) ; :

Sua construção foi autorizada pela Lei Provincial de


23 de abril de 1883 e foi construída de ferro por conta da
Companhia de Trilhos Urbanos e inaugurada no ano seguinte.
Vários anos depois, no Governo do Prefeito Morais Rego, de
quem herdou o nome, foi construída outra ponte, no mesmo
local, rodoviária e de alvenaria, parcialmente destruída na
cheia de 1966. A bem da verdade, é bom que se diga: todas as
pontes que ligam a Madalena e a Torre, ao Paissandu, Derby
e Graça, respectivamente, chamadas de Prefeito Lima e Castro
(Passagem da Madalena), Estácio Coimbra (Ponte do Derby),
a Morais Rego, que acabamos de citar, além da Ponte da
Torre,são construções novas, surgidas, em sua maioria, com
Plano de Contenção de Enchentes, logo após a grande cheia
de 1975.

HOSPITAL JAYME DA FONTE

Outro importante hospital dessa localidade passou a


funcionar em julho de 1955, "sendo inaugurado por Dona
Avany de Farias, esposa do então Governador General

198
Carlos Bezerra Cavalcanti

Cordeiro de Farias, trata-se do grande sonho do jovem médico


Jayme da Fonte que, ainda acadêmico, havia jurado cuidar
das pessoas, sensibilizado com as queixas de seus pacientes,
inconformados com as condições precárias do atendimento
médico, rompendo, pela primeira vez, no nordeste brasileiro,
o paradigma sobre a qualidade do serviço hospitalar que,
a partir de então, poderia também, ser realizado por uma
instituição privada.
Naquela época a equipe médica do Hospital Jayme da
Fonte já prestava atendimento domiciliar e contava com
um serviço próprio de ambulância com rádio-comunicação.
Outra grande inovação do Dr. Jayme foi instalar nesse bairro
a primeira farmácia do Recife a funcionar 24 horas por dia,
tanto que nem possuía portas". Essa Instituição sempre
esteve, portanto, por assim dizer, " de portas abertas" para a
comunidade recifense.

Dr. Jaym e da Fonte explicando a maquete do hospital à primeira


dama, Dona Avanny Cordeiro de Farias (1955)

199
O Recife e seus bairros

COLÉGIO VERA CRUZ

Fundado em 1931, segundo Maret Eterk, pôr três irmãs e


da família Maranhão Lins, com a posterior integração do irmão
Humberto. O Colégio foi se desenvolvendo graças ao empenho
de toda equipe educativa. Desde a sua fundação funciona
na Av. Rui Barbosa, inicialmente em 6 casas posteriormente
substituídas por prédio construído para fins educacionais. Bem
próximo a esse estabelecimento de ensino encontra-se a:

PRAÇA DO ENTRONCAMENTO

Assim como "Encruzilhada", "Entroncamento"


também era a interseção de vias férreas, no caso dessa Praça,
encontravam-se as maxambombas de três localidades: a do
Arraial, de Dois Irmãos e da Várzea.
No centro da Praça existe uma fonte com coluna de ferro,
em estilo neoclássico. No alto, há uma estátua de mulher e
gárgulas, de onde escoa água...

O entroncamento das maxambombas

A Praça foi inaugurada em 19 de outubro de 1925, na


administração do Prefeito Antônio de Góis, com o nome oficial
de PRAÇA CORREIA DE ARAÚJO. Próximo a ela temos o:

200
Carlos Bezerra Cavalcanti

CLUBE PORTUGUÊS DO RECIFE

Conforme dados em documento subscrito pelo seu Presi­


dente, Carlos Alheiros Costa, o estreitamento das relações da
comunidade luso-brasileira, motivou, em boa hora, a criação
de um grande clube.
Assim, no dia 14 de Dezembro de 1934, às 20:30 horas,
com a ilustre presença do Interventor Carlos de Lima
Cavalcanti, nasceu esse Clube Luso, cujo nome não poderia
ser outro: CLUBE PORTUGUÊS DO RECIFE.
Foi 100 o número de portugueses que fundaram essa
agremiação, entre eles os irmão Joaquim, Albino e Francisco
Queiroz de Oliveira, sendo o seu primeiro Presidente o Sr.
Antônio Gaspar Lages.

Hoje o Clube Português do Recife encontra-se entre


as maiores Instituições Sociais do País, participando, com
brilhantismo singular das festividades juninas e carnavalescas
e revivendo as tradições portuguesas e nordestinas/que a
cada ano se tomam maiores em alegria e freqüência. Outra
área da Graça é também conhecida como:

201
0 Recife e seus bairros

MANGUINHO

A localidade de "MANGUINHO" compreendia a parte


da chamada " Capunga Velha", de que falamos anteriormente
e que iniciava na Ponte da Cambôa do "Manguinho", por
existir ali um pequeno mangue chamado posteriormente de
Alagados de Fernandes Vieira onde, já no inicio do século
passado, era construído, no terreno cedido pelo Comendador
Ernesto AMORIM, o famoso parque que recebeu o nome da
família do então proprietário da área.
Sob o ponto de vista histórico-religioso temos a
origem da localidade no inicio da dominação holandesa em
Pernambuco (1630).
Em 1711, começava a ser edificada a primeira capelinha
que passou a evocar São José do Manguinho.
Em 1759, conforme Escritura de Venda que fizeram o
Sargento-Mor Luís Ferreira Rego e sua esposa Guilherme
Fischer, se vê, comprovadamente, a existência da antiga
capela que passaria por importantes reformas em 1828 e em
1845, quando sediou a Paróquia da Graça, até 1878.
A partir de 13 de fevereiro de 1913, com a demolição
da Matriz do Corpo Santo de São Frei Pedro Gonçalves, a
Irmandade das Almas, que ali funcionava, foi instalada
nesse templo suburbano.As características arquitetônicas
e as dimensões atuais da igreja surgiram a partir de 29 de
Setembro de 1933 com a solene inauguração do novo prédio
que teve como principais responsáveis, além do engenheiro
Domingos Ferreira, o Arcebispo D. Miguel de Lima Valverde,
e o Visconde Jayme da Silva Loyo

PALÁCIO EPISCOPAL

O Palácio Episcopal do Manguinho é a residência oficial


do Arcebispo de Olinda e Recife. Segundo o Pe. Antônio

202
Carlos Bezerra Cavalcanti

Barbosa, ob cit " O prédio foi adquirido pelo Arcebispo Dom.


Sebastião Leme, em 1917, com isso, a residência arquiepiscopal
transferiu-se do Palácio da Soledade. O edifício tem suas
linhas arquitetônicas do final do século XIX.
A entrada possui arcada com cinco vãos, três de frente e
dois laterais. Acima dela há uma sacada com colunas e cinco
janelas que lhe dão acesso à varanda. O interior do palácio
é possuidor de amplas salas e dormitórios acolhedores,
decorados por móveis pesados, lustres de cristal e belas
imagens. O frontão triangular, com suas molduras salientes
protege o imponente brasão arquiepiscopal. Foi nesse palácio
que se hospedou S.S. o Papa João Paulo II, quando visitou
Pernambuco, em 1980"
Em frente desse palácio, encontra-se a cinqüentenária
Casa dos Frios, famoso estabelecimento comercial, que se
notabilizou em vender artigos importados de primeiríssima
qualidade, principalmente uísque, vinhos, presuntos e queijos.
No bairro da Graça, também está localizado o:

COLÉGIO AGNES

Fundado em 16 de agosto de 1904 pôr missionários


presbiterianos da América do Norte, o Colégio Ágnes Eriskine
está situado na Av. Rui Barbosa No.704.
Um pouco mais para o oeste, ainda na Av. Rui Barbosa,
no cruzamento da Rua Amélia, podemos visitar o:

MUSEU DO ESTADO

O prédio dessa importante entidade cultural corresponde


ao antigo solar imperial do Dr. AUGUSTO FREDERICO DE
OLIVEIRA, sobrinho do Barão de Beberibe pai de "Amélia",
nome da rua da esquina do casarão. Esse edifício, com o passar
do tempo, teve outras destinações, como a sede do "Pernambuco
British Club, em 1909, (não confundir com o "Country) e serviu,

203
O Recife e seus bairros

também, como aquartelamento do 2° Batalhão de Caçadores da


Brigada Militar de Pernambuco, nos idos de 1933.
Na entrada do Museu do Estado, há dois grifos de bronze,
com cabeças de águia, corpos de leão e cauda de serpente.
Três lampiões e estátuas de sacerdotisas no jardim, sendo
uma egípcia e as outras duas romanas. Jarrões pôr toda parte.
Aos lados da escadaria, que nos leva ao terraço do Museu,
estátuas de azeivos ou seja, soldados franceses.
Entre as peças mais importantes do acervo museográfico
destacam-se dois painéis procedentes da Câmara de Olinda,
datados de 1709, que representam Batalhas da Insurreição
Pernambucana.
Nessa entidade cultural encontram-se obras de arte
marajoara e algumas peças francesas. Na sua reserva técnica
podem ser localizados vários objetos do maior interesse
para a história Pernambucana, mas que, infelizmente, não
se encontram expostas, prejudicando a divulgação de fatos
referentes às brilhantes efemérides do Leão do Norte.

t?

204
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DA MADALENA

Dona Madalena Gonçalves, casada com Pedro Afonso


Duro, (que de "duro" não tinha nada, pois possuía cinco
grandes propriedades), deu seu nome ao Engenho que,
segundo Pereira da Costa (ob. cit.) "campeava no largo,
hoje denominado Praça João Alfredo, ficando a maquinaria
exatamente no local em que foi construída a estação da
Companhia Ferro Carril e a casa de vivenda dos proprietários,
fronteiramente disposta, corresponde ao belo e vasto prédio
de dois pavimentos, que ali se vê, conhecido, desde muito,
por Sobrado Grande e do qual encontramos menção em um
número inserto no jornal O Cruzeiro, Na.55, de 1829, referente
a uma casa térrea, junto ao portão do sobrado que já foi do
Engenho Madalena, e já com aquela denominação, como
consta de outro anúncio publicado no Diário de Pernambuco
Na. 176 de 1831, oferecendo para alugar o Sobrado Grande da
Madalena e sítio anexo."
Continuando, Pereira da Costa nos diz: "dava caminho
para o Engenho Madalena de João Mendonça, pela estrada real
uma passagem no Rio Capibaribe, acaso situado no local onde
se vê hoje construída a ponte grande, cuja circunstância e o
nome da primitiva proprietária da fábrica deram origem ao de
passagem da Madalena, como ficou conhecida a localidade".
Esse Bairro conservou, através dos tempos, sua condição
aristocrática, nele residindo até 1841, o futuro Conde da
Boa Vista, Francisco do Rêgo Barros, um dos mais brilhante
Presidentes da Província de Pernambuco. Nele também, mais
precisamente num casarão da Rua Benfica, hospedou-se em
1859, Sua Majestade Imperial, Teresa Cristina, que acompanhou
o marido D. Pedro II em sua visita à nossa Capital.
Os limites deste bairro estão nas cercanias da cabeceira da
Ponte Prefeito Lima e Castro (antiga Passagem da Madalena);
segue pela Praça da Bandeira até encontrar a Av. Frei Matias

205
O Recife e seus bairros

Teves, indo em direção À Av. Eng. Abdias de Carvalho, deflete


à esquerda, seguindo até encontrar a Rua João Ivo da Silva;
deflete à direita e segue até atingir a Rua Ricardo Salazar;
daí segue para atingir a Rua Antônio de Sá por onde atinge
a Rua Caratinga, onde deflete à direita, cruza a Av. Caxangá
para alcançar a Rua Visconde de Uruguai por onde prossegue
ao encontro da Rua Dom Manuel da Costa, onde deflete à
direita e segue para a rua Padre Anchieta, por onde atinge
o Rio Capibaribe; desce pelo eixo, lado direito desse rio até
tocar na Cabeceira ponto inicial que é a:

PONTE DA MADALENA

O local da primitiva ponte era chamado de Passagem


da Madalena, por onde se atravessava, de barco, o Rio
Capibaribe entre as atuais localidades de Paissandu e Ilha do
Retiro. O contrato para a sua construção foi assinado em 1870
sendo ela inaugurada em 27 de maio de 1872. Anteriormente,
em seu local existia uma outra muito precária, reminiscente
do Governo de Luis do Rego Barreto. A rigor, a atual ponte
chamada Prefeito Lima e Castro, assim como a da Torre,
são construções novas vindas com as obras do alargamento
do Capibaribe, para o projeto de contenção de enchentes
implantado durante o Governo do Presidente Geisel.

MERCADO DA MADALENA

Famoso pôr sediar em sua parte externa a concorrida Feira


de Passarinhos, esse Mercado começou a ser construído em 6 de
fevereiro de 1925, e recebeu o nome popular de "MERCADO
BACURAU" numa referenda ao pássaro madrugador, uma vez
que fundonava também em horário noturno, atraindo, dessa
maneira, boêmios, ávidos pôr preencherem a noite de forma mais
alegre e pitoresca, na então bucólica paisagem da Madalena.

206
Carlos Bezerra Cavalcanti

Foi inaugurado em 19 de outubro de 1925, pelo


Governador Sérgio Loreto.
Localizado na Rua Real da Torre, abrange 980 m2 de área
construída e conta atualmente com 154 compartimentos. A
parte onde funciona a Administração do Mercado, conserva até
hoje, sua arquitetura original. Teve seu piso reformado em 1960
e pôr volta de 1982 passou pôr uma importante restauração,
naquela ocasião o historiador Vanildo Bezerra Cavalcanti, um
dos boêmios, admiradores do Mercado, descobriu em seu
frontispício um escudo descaracterizado que após paciente
trabalho de pesquisa, descobriu tratar-se do Brasão da cidade
do Recife que, a partir de então, foi restaurado, podendo ser
vislumbrado hoje, na fachada do prédio.
O Bairro da Madalena está ligado ao da Graça ou mais
precisamente à Capunga, pela Ponte do mesmo nome, ao
Derby, pela Ponte Estácio Coimbra e ao Paissandu, pela Ponte
da Madalena, próximo à Praça da Bandeira.
Seguindo a Rua Benfica, com destino ao casarão da
Madalena, vamos encontrar o antigo Largo do Benfica que
a partir de 1961 passou a se chamar de Praça Euclídes da
Cunha, mas que é conhecida popularmente como Praça do
Internacional porque nela está situada a sede do:

CLUBE INTERNACIONAL DO RECIFE

Fundado em 17 de julho de 1885, no 1° andar da casa Ns. 11


do antigo Largo do Corpo Santo, no Bairro Portuário do Recife.
Transferiu-se no final do século XIX para a casa N2. 265 da
Rua da Aurora, vindo, em 1938, para sua atual sede na Madalena.
O Clube, dos mais tradicionais da cidade, promoveu,
durante várias décadas, principalmente na primeira metade
deste século grandiosos bailes e animadas festas carnavalescas.
A partir dos anos sessenta passou a promover o luxuoso
"Bal Masquê", freqüentado pela fina flor da sociedade
pernambucana, trajada a rigor.

207
O Recife e seus bairros

A tradicional festa ocorre no Sábado que antecede o Baile


Municipal, promovido pela Prefeitura, nos Salões do não
menos famoso Clube Português e que representa a prévia da
semana pré-camavalesca.
Durante os anos 60/70, do século passado, eram famosas
as festas nas noites de Domingo, denominadas "Encontro de
Brotos". Começou no apogeu da jovem guarda, nos chamados
anos dourados, quando estava no auge as músicas de Roberto
e Erasmo Carlos, The Goldem Boys, Renato e seus Blue Caps,
The Beatles, entre outros bastante apreciados pela juventude
da época que vestia mini-saias, calças santropez, de cores
berrantes e que hoje representam discretos pais de famílias,
cheios de saudades mas felizes pôr terem sido protagonistas
de animadas festas daqueles "tempos de sonhos".

Ao lado desse clube encontra-se a :

ESCOLA POLITÉCNICA

Segundo o arquiteto Fernando Borba Traços & Feitos,


pág. 132/33 " Em Ia de janeiro de 1913, era inaugurada, em
sessão solene, realizada nas dependências do Colégio Alemão,

208
Carlos Bezerra Cavalcanti

na Estrada de Ponte d'Uchoa, 49 a Escola Polytechnica


de Pernambuco. O nome se inspirava na famosa Escola
Politécnica do Rio de Janeiro, conservado até 1937, quando foi
transformada em Escola Nacional de Engenharia, alcançando
prestigio nacional e internacional. Seu primeiro diretor foi o
professor Ricardo José da Costa Pinto...
Os primeiros Cursos da Escola Politécnica foram os de
Engenharia Civil, com duração de cinco anos, e de Engenharia
de Geógrafos, com duração de três anos...
Somente em 1944 a Politécnica instalou-se em sede
própria, adquirindo a casa que ainda hoje ocupa, na rua
Benfica, n 3 455, de frente para a Praça Eudides da Cunha"

O Antigo P raão do Lucas (M adalena)

Outro Governador do Estado que residiu no Bairro da


Madalena foi o Dr. Manoel Borba, sua casa corresponde
àquela situada ao lado do Clube Internacional do Recife,
onde, posteriormente, funcionou o tradicional Colégio Regina
Pacis, fechado na década de 70.
O casarão foi ofertado ao Governador em nome do povo
Pernambucano em agradecimento à dedicação e à honestidade
desse grande estadista, a exemplo do que aconteceu com o
Conde da Boa Vista, que também foi agraciado com uma bela

209
O Recife e seus bairros

residência, no seu caso localizada, como vimos, na Rua da


Aurora. Na área existem pitorescos e cativantes bares como
"Imprensadinha" que funciona há vários anos na Av. Visconde
de Albuquerque, onde também se localiza a "Costelaria Boi
no Bafo" e os Restaurantes "Flor de Jucá" e "Nossa Casa".
Vale destacar, ainda nesse bairro, pela sua singularidade
e beleza nordestina, a Praça Euclides da Cunha, projetada,
inicialmente pelo Paisagista Roberto Burle Marx e
recentemente restaurada.
Entre as principais artérias do Bairro destacam-se a
Rua Benfica, onde hoje está sediado o Colégio São João, no
único casarão em estilo serraceno da cidade e onde outrora
funcionou a Pensão Landy; Rua Real da Torre, onde se localiza
o Mercado de que já falamos e que liga essa localidade ao
Bairro da Torre; Rua Carlos Gomes, que homenageia o grande
maestro paulista e que nos leva ao:

210
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DO PRADO

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Esse bairro é originado do Prado do Lucas, hoje conhecido


como Prado da Madalena, onde está instalado o Jóquei Clube
de Pernambuco. O nome Lucas está relacionado com uma
família de religiosos que residia no local e pregava na região
a prática da humanidade e da bondade. A denominação serve
também para diferenciar esse de outros prados que existiam
no Recife, no final do século passado, como o Prado do Derby
e o Hipódromo que deram seus nomes às localidades onde
foram instalados.
Grande parte do desenvolvimento do turfe em
Pernambuco deve-se a família Lundgren, que, em Paulista,
criou as melhores parelhas do Estado, sendo Mossoró, o mais
famoso e que chegou a vencer o primeiro Grande Prêmio
Brasil (Rio de Janeiro)

211
O Recife e seus bairros

BAIRRO DA ILHA DO RETIRO

Difícil de ser aceita como bairro e, principalmente, como


ilha, na ultima divisão urbana, essa localidade passou a ser
um dos noventa e quatro bairros de nossa capital. O nome
RETIRO, ( que, segundo Aurélio B. de Holanda, significa:
"lugar para descanso e engorda de gado" ) vem do tempo
em que esta área, então ilhada, com apenas um casarão de
madeira e pouca vegetação recebia os rebanhos de bovinos
vindos do lado do Bongi, pela "Estrada da Boiada", antes de
serem entregues no Matadouro da cidade que, naquela época
(1855/1922), funcionou na Cabanga.
Ai, a partir de 1937, o Sport Clube do Recife passou a
costruir o seu estádio de futebol (primeiro de Pernambuco)
Ultimamente essa localidade passou a ter um grande valor
imobiliário, principalmente com a construção de uma nova
ponte ligando-a à zona sul e do túnel "Chico Cience". Esse
bairro está intimamente ligado ao:

SPORT CLUBE DO RECIFE

Fundado em 13 de maio de 1905 por um grupo de jovens


liderados por Guilherme de Aquino Fonseca, que havia
praticado "FOOT-BALL" na Inglaterra e teve a idéia de
formar uma equipe em Pernambuco.

O SPORT CLUBE DO RECIFE constitui-se hoje num dos


mais importantes clubes esportivos do Brasil, com um invejável
patrimônio distribuído pelos doze hectares de sua Vila Olímpica.
Dotado de infra-estrutura adequada às necessidades do
seu quadro associativo, o Clube dispõe de ampla e moderna
sede social, utilizada, principalmente nas festas carnavalescas,
restaurante de luxo; estádio de futebol com capacidade para
50 mil pessoas dois ginásios cobertos; quadras de tênis e de

212
Carlos Bezerra Cavalcanti

patinação; gigantesco parque aquático; Apart-Hotel com


estrutura de 3 estrelas; colégio de 1° grau com 800 alunos;
garagem de remo e estaleiro móvel, que fabrica barcos para
diversos estados do País. Tem como símbolo um Leão. Seu
lema é "Casá Casá" e as cores, vermelha e preta.
O Sport Clube do Recife é o mais antigo Clube de Futebol
de Pernambuco e o maior detentor de títulos estaduais,
30 (1998), sendo, o campeão brasileiro de 1987. Em 1941,
excursionou pelo sudeste, com uma de suas melhores equipes,
identificada por Mozart Pinto Maranhão:

Em pé: P itota - Furlan (argentino) - Castanheira - Salvador


- M anoelzinho e Zago. Agachados: D jalm a - Ademir Menezes
(artilheiro da Copa de 50) - Pirom bá - Magri (argentino) e Walfred

213
O Recife e seus bairros

O BAIRRO DA TORRE

Limites territoriais: começa na cabeceira da ponte que


tem seu nome e segue em direção à Av. Beira Rio onde
deflete novamente à esquerda alcançando a Rua Padre José
de Anchieta, onde deflete à direita e segue em direção à rua
Dom Manuel da Costa, por onde prossegue até alcançar a Rua
Diogo Álvares, continua até atingir a Rua Souza Bandeira;
deflete à direita seguindo até o Rio Capibaribe, de onde segue
pelo seu eixo, lado direito, até a cabeceira da Ponte da Torre,
ponto inicial.
Como muitos outros, esse bairro é originário de vim
engenho que já existia no século XVII, tendo como primeiro
proprietário, Marcos André.
A denominação Torre é proveniente da "torre" da antiga
capela do Engenho, que manteve a primitiva invocação à
N.S. do Rosário, tomando-se, posteriormente, a Matriz da
Paróquia. A atual igreja foi construída em 1781 e, em 1867,
a então proprietária daquelas terras, Dona Laura Barreto
Campeio, a doou para o cabido de Olinda e Recife, com a
condição de que ela fosse a Matriz daquele subúrbio e que
mantivesse a mesma invocação à N. S. do Rosário. A devoção
por Santa Luzia, principalmente pelos operários das fábricas
ali existentes, devido à imagem daquela protetora dos cegos,
que repousa no centro da igreja, fez com que ela fosse hoje
mais conhecida como "Igreja de Santa Luzia"

214
Carlos Bezerra Cavalcanti

Igreja da Torre vista do Capibaribe (1952)

A povoação nas primeiras décadas deste século (diz


Pereira da Costa) "era cortada de extensas e largas ruas muito
bem alinhadas de boa casaria em geral, com elegantes prédios
e grandes sítios e não pequena população, notando-se ainda
os seus estabelecimentos industriais como fábrica de tecidos,
e de fósforos, usina de açúcar e destilação, olarias mecânicas
e outras que ainda seguem os sistemas da antiga rotina, era
iluminada a gás, e boa viação pública, tanto terrestre como
fluvial e uma linha de bondes elétricos a partir de 1915.
Pôr volta de 1900, segundo depoimento de Murilo Teixeira
antigo morador desse Bairro, foi instalada na localidade uma
fábrica de aniagem, sacos de estopa, pelo seu avô Francisco
Sales Teixeira, anteriormente estabelecido com o mesmo
negócio, na Rua São Jorge, no Bairro do Recife.
No local da antiga fábrica está hoje edificado o moderno
prédio do Super Mercado "Carrefour".
O proprietário da Fábrica veio residir junto a sua
Indústria e para isso comprou um sítio naquele arrabalde e
nele construiu um casarão para residência de sua família.

215
O Recife e seus bairros

Com a transferência para a localidade a esposa do


empresário, normalmente cheio de afazeres, começou
a sentir-se isolada do convívio social haja vista,
principalmente, a localidade se encontrar distante do centro
do Recife, onde somente se poderia chegar, após atribulada
e morosa viagem através de tortuosos caminhos, no meio
do mato, atravessando rios e pegando a maxambomba em
Ponte D'uchoa ou Madalena, eqüidistantes do sítio em
que residia.
Pôr esse motivo o mencionado empresário mandou
construir uma vila operária e o fez junto ao Casarão, mais
precisamente ao lado desse, justamente para dar mais
movimento e dinamismo ao local.
Em seguida e com o mesmo propósito, construiu um belo
prédio, entre o casarão e a Vila e nele fundou, pôr volta de
1910, o Cine Teatro Modelo.
Nessa época, segundo a mesma fonte, a região ribeirinha
da Torre, Cordeiro, e Iputinga possuía várias olarias e
fabriquetas de rapaduras.
A vila que citamos anteriormente, ainda hoje pode ser
visitada, possuindo como antes, suas casas de taipa, meia
parede, porta e janela, situadas na Rua Vitoriano Palhares,
antigo poeta Recifense, onde atualmente funcionam dezenas
de Bares, que recebem seus fregueses, principalmente à noite,
com música, bebidas e comidas regionais.
Atualmente não mais existe o casarão do Sr. Francisco
Sales Teixeira que se localizava, precisamente, no número
1472 da Rua Real da Torre, quase em frente ao solar onde
funciona a Catedral da Seresta.
Alguns anos depois, pôr volta de 1942, foi inaugurado
na então Rua N.S. do Rosário, depois Visconde de Irajá, o ~
Cinema Torre, que vivenciou dias de alegria e de grande
movimentação, até o final dos anos 60, quando a influência
mais marcante e popularizada da Televisão, começou a
desativar, não apenas ele porém todos os cinemas de bairro e,

216
Carlos Bezerra Cavalcanti

posteriormente, coadjuvada pelo vídeo cassete e pêlos jogos


eletrônicos, também os cinemas do centro da cidade.
O Bairro da Torre, após a instalação do Cotonifício (1884),
sofreu grande influência dessa Indústria Têxtil, com intensa
movimentação de operários, indo ou voltando dos turnos de
serviços, orientados pelo apito da fábrica de tecidos, ouvidos,
também nos bairros adjacentes
Próximo à Praça da Torre, junto a um bueiro da antiga
olaria que ainda hoje existe, tínhamos o famoso Campo do
Arte, com seu impecável gramado palco de disputadas peladas
suburbanas, onde se destacavam equipes futebolísticas como
o próprio Arte Clube da Torre, o Cacique, do Zumbi e o
Centro Educativo Operário, do Cordeiro, entre outros. A área
do antigo campo de futebol e suas cercanias abriga hoje a Vila
de Santa Luzia.
Por falar em Santa Luzia, acontece no mês de dezembro,
nesse Bairro, a festa que homenageia a essa Santa. É a mais
importante entre os folguedos populares do local, seu ponto
principal é a Praça da Torre ( hoje denominada Praça Professor
Barreto Campeio, um de seus moradores mais ilustres) o
casarão que lhe serviu de residência se localiza nessa Praça e
já foi sede da Associação Atlética dos Servidores da SUDENE,
também funcionando, posteriormente, como Casa dos Festejos.
A festa de Santa Luzia, acontece no mês de Dezembro.
Houve época em que a Rua Visconde de Irajá ficava toda
iluminada até a Praça da Torre e se construía um arco no
cruzamento com a Rua Pio XII, ocasião em que, a área não
cabia de alegria, onde não faltavam as comidas típicas, os
pastoris e as novenas na Matriz. Festa de rua com o devido
locutor que anunciava no microfone para toda à redondeza:__
"ALÔ, ALÔ, MORADORES DA TORRE E "ADVERTÊNCIA",
ASSIM COMO AS FLÔRES ABREM SUAS PÉTALAS PARA
RECEBER O ORVALHO DA MANHÃ, OUCA ESSA LINDA
GRAVAÇÃO QUE ALGUÉM LHE OFERECE, ASSINADO :
OUVINDO SABERÁS".

217
O Recife e seus bairros

Segundo o Prof. Nelson Gesteira, que veio residir


no bairro em 1947, o local era arejado e aprazível. Na Rua
Regueira Costa, na área hoje ocupada pelo Colégio Martins
Junior, estendia-se um campo aberto onde exista uma vacaria
que abastecia, com leite fresco, toda a redondeza.
Próximo à Praça da Torre, deslocando-se pela antiga
Rua do Taquari ( Conselheiro Theodoro), no sentido da Av.
Caxangá, chegaremos à localidade conhecida como:

218
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DO ZUMBI

O Zumbi era um sítio de propriedade da família


Constâncio Maranhão. Na década de 20 foi arrendado ao
major Pessoa, ficando conhecido como Sítio do Major. Este
passou a alugar o chão, através de cobrança mensal de foro,
aquelas pessoas que ali foram chegando para morar, vinham
em geral da zona rural.
A área tinha muita lama e a maioria dos casebres era de
taipa, cobertos de capim, com chão de barro batido. Não existia
abastecimento d7água, nem energia elétrica e a ocupação do
solo se deu de forma livre e desordenada.
Com a morte do arrendatário, o sítio foi vendido a
Dona Susana. Pôr fim, em virtude de uma lenda que dizia
ter aparecido na área uma assombração (Zumbi) o local ficou
sendo conhecido pôr esse nome.
Durante a duplicação da Av. Caxangá, pôr volta de
1966, o casarão de Dona Susana mudou suas características,
recuando o alto muro e perdendo suas Palmeiras.
Próximo ao Zumbi, nas imediações do Campo do
Cacique, existia o sítio do Berardo e outro chamado "do
Sabiá", onde se estabeleceu a família Valença, destacando-se
os irmãos, compositores e músicos dedicados aos folguedos
populares, como os pastoris e a queima de presépios. Já o Sítio
do Berardo, foi ocupado a partir da década de 1920.
Essa propriedade pertenceu ao senhor Manuel Monteiro,
depois foi arrendada ao Sr. Oscar Berardo, que estabeleceu
no local uma vacaria. Com a morte do proprietário e como
não existisse herdeiros, o Sr. Oscar tomou posse do local que
passou a ser conhecido como Sítio do Berardo.

219
O Recife e seus bairros

BAIRRO DOS AFLITOS

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Limites do Bairro

O transeunte mais atento que passar pela Av. Rosa e Silva


no sentido subúrbio, após atingir as imediações do palacete do
Tenente da Catende (Empresário Antônio da Costa Azevedo), na
esquina com a Rua Amélia, irá encontrar, em frente ao número
773, uma pequena igreja, recentemente restaurada. Trata-se da
Capela de N. S. dos Aflitos, que deu seu nome ao antigo sítio ali
existente e, posteriormente, ao bairro vizinho, uma vez que pela
atual divisão dos bairros, ela se encontra na Graça.
A Capela pertencia ao próprio sítio e foi fundada em
1762. A localidade possuía, no início deste século, mais do
que hoje, belíssimas mansões como a do Tenente da Catende,
a que nos referimos, anteriormente, e o casarão No. 975, que .
abrigava, até pouco tempo, quando foi demolido, a escola
Superior de Relações Públicas e que já pertenceu ao Coronel
José Tavares de Moura, nos idos de 1924, além da atual sede
do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(INCRA), localizada bem próximo ao:

220
Carlos Bezerra Cavalcanti

CLUBE NÁUTICO CAPIBARIBE

Por proposta do remador João Alfarra, foi criado, em


fins do ano de 1898, no antigo Largo do Corpo Santo, nas
imediações do atual Marco Zero, o Clube Náutico Capibaribe,
ainda com o nome de "Recreio Fluvial". O seu registro, no
entanto só viria ocorrer em 7 de abril de 1901, data oficial de
criação do clube, que nessa época passou a ocupar a casa nQ
1 do Cais José Mariano, sua primeira sede, com o objetivo
único da prática do elitizado remo, daí, o seu nome e seu
escudo: dois remos cruzados. Sua segunda sede foi na Rua
da Aurora, próximo ao Cinema São Luís, pôr isso o nome da
Rua Clube Náutico, justamente na esquina daquela casa de
espetáculo. Depois a garagem de seus barcos foi transferida
para as atuais instalações, na mesma Rua, ao lado do seu
rival, o Almirante Barroso.
Só em 1906 é que o NÁUTICO, com um time basicamente
de ingleses, começou a prática de futebol, vindo a ser
campeão pernambucano, pela primeira vez, vinte e oito anos
depois, em 1934, já na fase de profissionalismo.
Suas cores são o vermelho e branco, o símbolo, o Timbu
e o hino o famoso Come e Dorme que destaca o grito de
guerra: N. A. U. T. I. C. O.
Na década de 60, chegou ao inigualável título de hexa-
campeão do futebol Pernambucano. Dispunha, nessa ocasião,
de uma brilhante equipe composta pôr grandes pebolistas
como os irmãos Bita e Nado, Salomão, Ivan, Lula e Laia,
entre outros, que chegaram ao vice-campeonato brasileiro,
em plena era Pelé, tendo vencido o Santos, dentro da Vila
Belmiro, pelo placar de 5x3, com Bita marcando 3 tentos no
goleiro Gilmar.
A Sede Social e o Estádio de futebol estão situados na
mesma área onde uma placa registra na entrada das instalações:
'A pedra fundamental da nova sede foi lançada em 7
de abril de 1950 e inaugurada 3 anos depois, com grande

221
O Recife e seus bairros

empenho de um de seus principais baluartes, o Empresário


Eládio de Barros Carvalho".
O carnaval do Clube Náutico é um dos mais tradicionais
do Recife, com seus fabulosos bailes noturnos e matinês
em sua sede social, onde se destacava, na década de 60, nas
sextas-feiras, as famosas Tertúlias, semelhantes aos encontros
de Brotos aos domingos, no Clube Internacional.
O Clube tem como evento tradicional o Maracatu, depois
Bloco Timbu Coroado que existe desde 1929. Começou
quando um grupo de remadores saia, da garagem de Remo,
para brincar pela Rua da Aurora. Conta a lenda que eles
deixavam o remo de lado, no período momesco e matavam
timbús que apareciam aos montes nas cercanias da garagem,
para fazer "tira gosto" da cachaça carnavalesca.
O Bloco foi crescendo, passòu a desfilar pelas ruas que
circundam a sede social do Clube e se tomou atração oficial
do Carnaval do Recife. Anualmente são escolhidos o Rei e a
Rainha do Timbu Coroado.

Sede do Clube Náutico Capibaribe

Próximo a essa sede está localizado o

222
Carlos Bezerra Cavalcanti

THE BRITISH COUNTRY CLUB

Um clube fechado que teve sua origem no "Tempo


dos Ingleses" que aqüi implantaram os primeiros serviços
públicos. (Iluminação e Transporte).
Essa entidade chegou a possuir um jornal de circulação
interna em língua inglesa e que teve grande relevância durante
a II Guerra Mundial.
O THE BRITISH CONTRY CLUB foi criado em 27 de
abril de 1920 e nesse tempo viu muita coisa acontecer.
"Aquele que foi concebido como clube de campo, daí o
nome "Country", por estar situado na, época, em área
afastada do coração da cidade, hoje está cercado de
luxuosos prédios". O terreno onde foi construído o clube
pertencia ao Náutico.
Seu primeiro presidente foi o inglês William Boxwell, no
entanto o primeiro brasileiro a presidir o clube foi Francisco
Vasconcelos (cinco mandatos), seguido por Arnaldo Lemos
(seis mandatos).

223
O Recife e seus bairros

BAIRRO DO ROSARINHO

Limites do bairro: começa na Rua Teles Júnior, no cruza­


mento com a Av. Santos Dumont seguindo por essa até cru­
zar a Av. Norte, indo até a Rua Salvador de Sá, de onde segue
para a Rua Prof. José dos Anjos; segue pelo Canal do Arru­
da, onde deflete à esquerda e segue para a Av. Engenheiro
Agamenon de Melo Magalães, não confundir com Governa­
dor, Agamenon Magalhães; continua pelo canal ali existente,
atravessa a Ponte do Jacaré, deflete à esquerda e atinge a Rua
Abreu e Lima, segue essa até a Rua Dr. José Maria, onde de­
flete à esquerda e prossegue para o encontro da Rua Capitão
Sampaio Xavier; deflete à direita e prossegue por esta até atin­
gir a Rua Teles Júnior, chegando por esta ao ponto inicial
Em 8 de janeiro de 1852, o Diário de Pernambuco
publicava: "Vende-se o grande sítió das Roseiras, do Major
Joaquim Elias de Moura, defronte a Capela, do Rosarinho,
com casa e sobrado... grande cercado de gado e um pedaço
de mata dentro."
Segundo a pesquisadora Zilda Fonseca, em depoimento
verbal.
O Sítio do Rosarinho pertenceu ao seu trisavô, Coronel
de Milícia Francisco Casado Lima Junior, Cavaleiro da
Ordem de Cristo e também proprietário de outros sítios nas
redondezas; no entanto, a Capela do Rosarinho, como era
chamada, carinhosamente, a Igreja de Nossa Senhora do
Rosário, pertencia ao sítio que recebeu seu nome assim como
a estrada e, posteriormente, o Bairro.
A Igrejinha era de origem do século XVHI, uma vez que
Sebastião de Vasconcelos Galvão, diz que foi encontrada no
local, uma pedra de cantareira de Lisboa, datada de 1706.
A Estrada do Rosarinho era também bastante antiga
obviamente contemporânea à igreja e ao sítio. A sua localização
corresponde hoje ao cruzamento da Av. Norte com a Rua

224
Carlos Bezerra Cavalcanti

Dr. José Maria, onde existe um posto de gasolina próximo a


esquina da atual Rua Fernando César (Edifício Jatobá), onde
antigamente existia o beco do cacunda, haja vista o defeito
físico (Corcunda) de outro proprietário de sítio da redondeza.
Pôr volta de 1850, o sítio do Rosarinho foi vendido a Dona
Ana Francisca Acioly Lins.
Posteriormente, a área da propriedade foi subdividida
e loteada, ficando a Capela abandonada e em ruína até ser
demolida pôr ocasião das reformas urbanas que deram
origem a atual Av. Norte.

PONTE D'UCHOA

O nome desta localidade deve-se ao herdeiro do Engenho


da Torre, Antônio Borges Uchoa que construiu uma ponte
ligando as terras da margem direita da sua propriedade, hoje
bairro da Torre, às da margem esquerda, hoje Ponte D'Uchoa
A área se localiza entre os bairros da Graça, antiga Vila
dos Bancários, (por trás do Museu do Estado), dos Aflitos
e da Jaqueira.
Possui belos casarões, destacando-se entre eles o que
já foi o Internato Pernambucano, (1876) e hoje pertence à
família Batista da Silva, posicionado em frente ao:
Colégio das Damas, educandário fundado pelas Irmãs
seguidoras da Madre Agathe Verhelle da Bélgica, e que teve
como primeira diretora a Madre Loyola Eteyort. Os Colégios
da Comunidade Educativa Damas, fazem opção pôr uma
educação evangélico-libertadora centrada na pessoa de Jesus
Cristo que possibilita a todos serem sujeitos de seu processo
de desenvolvimento individual, comunitário, social e que
contribui para a construção de uma sociedade democrática e
pluralista. Suas escolas estão espalhadas pôr 4 países a saber:
BRASIL, ZAIRE, INGLATERRA E PORTUGAL. O Colégio
Damas do Recife, foi fundado em 1896.

225
O Recife e seus bairros

ESTAÇÃO PONTE D'UCHOA

Hoje, é considerado um monumento histórico, por sinal,


o único, no Recife, que lembra as saudosas "Maxambombas".
O prédio foi mandado construir em 1865 pela Companhia de
Trilhos Urbanos, inicialmente, de madeira, depois, recebeu
estrutura de ferro para sustentação do telhado.
Em 1867, a Estação de Ponte D'Uchoa, como é
popularmente conhecida, passou para a responsabilidade
da Empresa "Brazilam Street Railways". Quase meio século
depois, em 1916, foi incorporada à Pernambuco Tramsways
& Power Company e, em 1968, passaria para a recém criada
Companhia de Eletricidade de Pernambuco (CELPE). Por
volta de 1996 foi restaurada por artífices da Polícia Militar de
Pernambuco que tinha ali instalado um Posto de Policiamento
Ostensivo, posteriormente, desativado.

Estação Ponte D'Uchoa

Os visitantes daquela localidade, além do belo visual


da área, quase totalmente preservada, podem sentar-se em
um dos bancos da pequena Praça da pitoresca Estação Ponte
D'Uchoa, naquele trecho da Av. Rui Barbosa, onde também se
localiza a:

226
Carlos Bezerra Cavalcanti

ACADEMIA PERNAMBUCANA DE LETRAS

Situada na Av. Rui Barbosa NB. 1596, na esquina de Av. Dr.


Malaquias, conceituado Médico cuja família era proprietária
do terreno onde passa esse logradouro e em que outrora existiu
o antigo Campo de Futebol do Sport Clube do Recife, cujas
arquibancadas, de ferro, vieram do Fluminense, em 1919.

Campo da Av. M alaquias

A Academia Pernambucana de Letras, representante


da nossa literatura,foi criada em 26 de Janeiro 1901, pôr
alguns intelectuais, destacando-se entre eles o historiador
F. A. Pereira da Costa, Martins Júnior e Carneiro Vilela, seu
primeiro presidente...

227
O Recife e seus bairros

Segundo Rubem Franca (Monumentos do Recife) "A


Sede da Academia Pernambucana de Letras é um nobre e
harmonioso Solar Vauthier, que pertenceu ao Barão Rodrigues
Mendes. Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN), foi cuidadosamente restaurado
em 1971. O revestimento de azulejos, o pórtico de 3 arcadas,
o frontão, o terraço superior, as janelas - tudo ali são motivos
de encantamento para a vista" mais adiante, retomando pela
Av. Rui Barbosa, encontra-se o:

BAIRRO DA JAQUEIRA__________________

A origem do bairro da jaqueira vem do antigo sítio


que pertenceu ao Capitão Henrique Martins e, depois, ao
abastado comerciante Bento José da Costa, sogro de um
dos heróis da Revolução de 1817, Domingos José Martins.
Era justamente nesse sítio que costumava passar fins-de-
semana o opressor daquela revolução, o despótico Luís do
Rego Barreto e sua vasta comitiva quando ocorriam grandes
banquetes regados a vinho português e, normalmente,
desavenças entre alguns transeuntes e soldados arbitrários
da guarda daquele Governante.
A área do atual e aristocrático bairro tem as seguintes
delimitações, de acordo com a lei municipal nQ16.242 de 1997:
Começa no cruzamento das ruas Antenor Navarro com
a Av. Cons. Rosa e Silva e segue por esta até o início da Rua
Simão Mendes por onde chega à Rua do Futuro; defletindo à
direita e seguindo por esta m a ao encontro da Padre Roma,
contornando logo à esquerda chegando à Rua Muniz Tavares,
abrangendo, portanto, a Praça Fleming e atingindo a Rua
Leonardo Bezerra Cavalcanti, até a Ponte do Vintém (Viaduto
do Carrefour), atingindo o eixo lado esquerdo do Capibaribe
por onde prossegue descendo até o encontro da Rua Antônio
Celso Uchoa Cavalcanti; deflete à esquerda e segue por esta
m a até atingir a Av. Rui Barbosa; deflete à esquerda e segue

228
Carlos Bezerra Cavalcanti

até chegar na esquina da Antenor Navarro onde deflete à


direita e chega ao ponto inicial.

PARQUE DA JAQUEIRA

Principal ponto de referência do bairro, o famoso Parque


da Jaqueira já protagonizou em sua antiga área, importantes
partidas do Campeonato Pernambucano de Futebol e a
FECIN- FEIRA DO COMÉRCIO E DA INDÚSTRIA DO
NORDESTE, depois que saiu da CEASA. O local corresponde
ao antigo Sítio da Capela de N.S. da Conceição das Barreiras.
O terreno do parque abrange cerca de oito hectares e foi
doado aos Governos Estadual e Municipal, pelo Ministério da
Previdência Social, nos idos de 1985, sendo chefe da pasta o
Cel. Jarbas Passarinho, conforme placa afixada no local.
Tendo como principal atração a prática de "COOPER",
caminhadas e de exercícios físicos, dispõe para isso de uma
asfaltagem demarcada que contorna toda a área, pista de
patinação, bicicross e ciclovias.
O parque é todo arborizado, com vários tipos de vegetais
onde se destacam as árvores frondosas que proporcionam
uma paisagem bucólica, pitoresca e bastante salubre para os
freqüentadores do local, que dispõe de vários bancos dispersos
pôr toda sua extensão, mesinhas, brinquedos infantis, o que
motiva a freqüência da criançada alegre, para ali trazida por
seus colégios ou pôr familiares principalmente nos finais de
semana.
O Parque da Jaqueira foi inaugurado em março de 1985
e tem prestado relevantes e acolhedoras opções de lazer aos
seus visitantes.
No seu recinto está localizada e pôr isso mesmo protegida a:

229
O Recife e seus bairros

CAPELA DA JAQUEIRA

Em 8 de janeiro de 1766, resolveu o Capitão Henrique


Martins erguer uma orata sob a égide de Nossa Senhora da
Conceição (das barreiras), no sítio de sua propriedade e residência
situada na Estrada de Ponte D'Uchoa, à margem esquerda do
Capibaribe, pôr escritura pública lavrada nessa data.
Segundo o Pe. Antônio Barbosa, ob cit, "A capela acha-
se decorada no mais fino espírito do erudito estilo barroco.
O altar-mor, no mesmo estilo da capela, encerra a padroeira,
N.S. da Conceição, protegida por um belo nicho, em madeira
dourada, adornado por colunas retorcidas e belos florões.
O forro, a capela-mor, a nave e o coro ostentam belíssimas
pinturas que datam de meados do século XVHI, apresentando
a imagem da virgem da Conceição aureolada por florões e
suas invocações: arca de ouro, torre de marfim espelho de
justiça, estrela da manhã e a coroa da rainha. Belos anjos
sustentam caprichosas guirlandas de flores que ornamentam
a balaustrada...
Enquanto seu exterior é simples, o interior reúne um
verdadeiro tesouro de arte sacra. E decorado com azulejos
raros, que narram cenas da vida de José do Egito. Sobre as
barras existem quadros a óleo que registram o casamento, a
anunciação e a assunção de Nossa Senhora.
O forro, a capela-mor, a nave e o coro ostentam pinturas
de meados do século XVHI, apresentando a imagem da
Virgem da Conceição com suas invocações: Arca de Ouro,
Torre de Marfim, Espelho de Justiça, Estrela da Manhã e a
coroa da Rainha de Todos os Santos.
Um destaque são dois grandes quadros, a óleo sobre !
madeira, representando as imagens de São João Batista, São
Felipe Néri, Santo Antonio e Santo Henrique (imperador
romano). Outro detalhe é um ex-voto onde se vê o Capitão
Henrique Martins deitado na cama, ladeado por sua mulher

230
Carlos Bezerra Cavalcanti

e pelo médico. Ele estava doente, com erisipela, e, segundo


a história repassada ao longo dos séculos, teria recorrido à
Virgem da Conceição, de que era muito devoto, para pedir
cura. Em sinal da gratidão, o capitão doou um quadro, a óleo
sobre madeira, descrevendo a cena...
A sacristia da Capela da Jaqueira tem um pitoresco
lavatório em pedra (estilo oitocentista), com uma típica
torneira de bronze, além de uma cômoda, um crucifixo e
armários simples. Quase toda madeira do coro, as telhas, as
portas principais, dobradiças ferrolhos e fechaduras de ferro
e bronze são as mesmas da construção primitiva. Chama a
atenção também a fachada rústica do pequeno templo, com
portas e janelas almofadadas".
"Em 1944, o IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico
e artístico Nacional - fez o levantamento arquitetônico e o
tombamento da Capela da Jaqueira, considerado um templo
singular por possuir um tríplice telhado." (JC 22/04/94)

231
O Recife e seus bairros

BAIRRO DE SANTANA
Embora não pareça, Santana é considerado um dos
bairros do Recife, ou seja, o Bairro de Santana. A localidade
que já foi importante freguesia era conhecida como "Passo do
Fidalgo", porque ali existia uma passagem pertencente, ao
fidalgo português, Pedro Correia da Silva, primeiro marido de
Dona Anna Paes. O nome Santana, no entanto, é proveniente
da antiga Igrejinha de Santa Ana.

UNIÃO BRASILEIRA DE ESCRITORES________


U.B.E- PERNAMBUCO : I

Entidade cultural das mais importantes do Recife, a


União Brasileira de Escritores, (Sessão Pernambuco), funciona
desde o ano de 1995, na simpática casa da Rua Santana. A
entidade foi criada, no entanto, em 1948, nas dependências do
Sindicato dos Comerciários, na Rua da Imperatriz. Seu nome
primitivo foi Associação dos Escritores do Brasil (AEB) e teve,
de início, além de alguns sócios fundadores como Vanildo
Bezerra Cavalcanti e Carlos Martins Moreira, dois diretores,
um responsável pelas artes, Abelardo da Hora e outro pelas
letras, Aderbal Jurema.
Em 1958, sob a Presidência do jornalista Paulo Cavalcanti,
essa Casa Cultural, que então funcionava na Livraria Modelo,
recebeu sua atual denominação.
No período de 1964 a 1984, por perseguição político-
partidária, a UBE ficou na clandestinidade. Ao ressurgir, no
ano de 1984, passou a funcionar sob a égide da Ordem dos
Advogados do Brasil, OAB-Pemambuco, já sediada na Rua do
Imperador, dali ela passou a funcionar no Espaço Pasárgada,
na Rua da União, de onde, deslocou-se para a sua atual sede
na Rua Santana.

232
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DE PARNAMIRIM

Esse pequenino, mas aristocrático bairro, localizado entre


a Tamarineira, Casa Forte, Monteiro e Casa Amarela, tem seu
nome originado de dois termos tupis que, juntos, significam:
RIACHO, ou seja: Rio Pequeno, PARANÁ MIRIM.
Por volta de 1630/35, era pelo Riacho Parnamirim que
se tinha acesso ao Arraial do Bom Jesus, pôr onde muitas
vezes as lanchas holandesas, foram rechaçadas e obrigadas a
voltarem ao seu reduto no istmo portuário, até que, em 1635,
ajudados por Calabar, conseguiram, pôr fim, conquistar a
principal Fortaleza de Matias de Albuquerque.
No atual Bairro de Parnamirim, que já abrigou suntuosas
mansões, encontram-se luxuosos edifícios e algumas
pequenas Praças, centros comerciais e a edificação mais antiga
hoje existente, HOSPITAL INFANTIL MARIA LUCINDA,
criado com o apoio de um rico português, na década de 20,
do século passado.
Localidade normalmente confundida com outros
bairros, Parnamirim tem os seguintes limites: começa na
Ponte Viaduto do Vintém (Carrefour) e segue pela Leonardo
Bezerra Cavalcante, ao encontro da Av. Dezessete de Agosto,
onde deflete à direita e contorna a Praça Jornal do Commercio
e alcança o pontilhão nesta avenida sobre um canal situado
entre as mas Lemos Torres e General Aguiar, prosseguindo
pela Rua Lemos Torres, até alcançar a Rua Flamengo, onde
deflete à direita alcançando a Rua Dona Rita de Souza;
deflete à esquerda na Rua Samuel Lins, onde deflete à direita
alcançando a Estrada do Encanamento; deflete à direita e
segue para a Rua Ferreira Lopes, onde deflete à esquerda
seguindo para a Rua da Estrala, deflete à direita e prossegue
atravessando a Rua Des. Góes Cavalcanti, em direção à Rua
Albino Meira por onde prossegue até a Rua Padre Roma;

233
O Recife e seus bairros

deflete à esquerda alcançando a Rua do Futuro, deflete à


direita e segue ao encontro da Muniz Tavares, onde deflete
à direita e alcança a Rua Leonardo Bezerra Cavalcanti, por
aonde chega ao Viaduto do Vintém, ponto inicial.
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DA ENCRUZILHADA

"Vinham apitando de longe os trens do Recife, Olinda


e Beberibe e ali se cruzavam. Era um espetáculo curioso e
agradável o encontro dessas três composições. Paravam um
perto do outro de vagões e vagões, olhares, comprimentos,
perguntas frases...
__Hoje não. Domingo irei passar o dia
__Pois não. Teremos uma cavala gorda".
Pôr essa descrição de Mário Sette, no seu
"MAXAMBOMBAS E MARACATUS", 4a ed. , 1981, pag.
208, temos a exata dimensão da importância do local ,
embora o cruzamento inicial correspondesse ao dos trens de

235
O Recife e seus bairros

Limoeiro, com as maxambombas de Olinda e de Beberibe


cujas linhas faziam interseção no ponto onde hoje se cruzam
(Encruzilhada), as Avenidas Norte e João de Barros junto
ao qual ficava a Estação Ferroviária com seu terminal de
passageiros, posicionada em frente ao atual Edifício Montes
Claros, na Av. Norte, demolida pôr ocasião das obras de
alargamento dessa Avenida
O local dessa confluência adquiriu muita importância,
tanto é que no chamado Largo da Encruzilhada, se ramificam
os principais logradouros como as Avenidas João de Barros
e Beberibe, a Estrada de Belém e as Ruas Dr. José Maria e
Castro Alves.
Logo no início da Av. Beberibe, no lado direito, temos
uma estreita via chamada de RUA DA CORAGEM, o nome,
de origem remota, se deve, segundo informações do Vereador
Liberato Costa Júnior, ao fato de existir, na localidade em
tempos pretéritos, um beco esquisito e com muito mato
que, principalmente à noite, era preciso muita coragem para
atravessá-lo.
O Largo da Encruzilhada, que mencionamos
anteriormente, teve sua praça construída em 1923 , pelo
Governo Municipal, sendo um ano depois, inaugurado,
precisamente em 18 de Outubro de 1924, o primitivo Mercado
Público desse Subúrbio, pelo Governador Sérgio Loreto,
exatamente no 2° aniversário de seu Governo, quando
inaugurou várias obras em que destacamos, o Grupo Escolar
Frei Caneca, a grande exposição Comercial e Industrial e
Agropecuária de Pernambuco e o Prédio do atual Quartel do
Comando Geral da Polícia Militar de Pernambuco, que sediou
o evento e que foi ocupado pôr aquela Corporação no ano
seguinte, em 15 de Novembro de 1925.

236
Carlos Bezerra Cavalcanti

O MERCADO DA ENCRUZILHADA

Algumas décadas depois, pôr iniciativa do então Prefeito


Morais Rego, foi o atual edifício do Mercado projetado,
construído e, finalmente, inaugurado, precisamente em 9 de
dezembro de 1950. As solenidades de abertura desse Mercado
Público, contaram com a presença de altas autoridades,
destacando-se entre elas o governador do Estado Dr. Barbosa
Lima Sobrinho, valendo salientar que naquela oportunidade
acontecia nesta capital a semana do Engenheiro, motivo
pelo qual houve, no ato da solenidade inaugural do Prédio
Público, significativa presença de técnicos, oriundos de várias
regiões do País, inclusive do então Presidente do Conselho
Nacional de Engenharia Dr. Morales de Los Rios, que cortou
a fita simbólica.
O atual Mercado Público, localizado na Praça da
Encruzilhada, tem a frente voltada para a Rua Dr. José Maria,
constando de mais de 100 compartimentos, convenientemente
arejados, iluminados e asseados. O piso é de granito artificial,
as paredes são revestidas de azulejos, o que vem facilitar a
limpeza e a conservação do ambiente.
No Largo da Encruzilhada, até meados de 1977, existia um
belo monumento, construído pôr iniciativa e custos do povo
da Encruzilhada, em homenagem ao "JAHU", hidroavião
que no ano de 1927, desceu nas águas do Porto do Recife,
procedente de Gênova, na Itália. Tinha como tripulantes o
Capitão Negrão, Newton Braga e Ribeiro Barros.
No entanto, com as obras municipais que reformaram
o Largo, o Monumento foi, irresponsavelmente, demolido
pela Prefeitura, sem nenhuma argumentação plausível à
comunidade do bairro que o edificou. Naquela oportunidade
também foi demolido um abrigo onde existia uma Mercearia,
salientando-se, pôr sinal, que também existiam outros em
vários pontos da cidade, como na Praça João Alfredo, e no

237
O Recife e seus bairros

cruzamento da Av. Norte com a Rua Dr. José Maria, que


também tiveram o mesmo destino do abrigo da Encruzilhada.

Inauguração do M ercado da Encruzilhada, 09 de Dezembro de


1950, vendo-se os carros da com itiva das autoridades

MONUMENTO AO JAHU

Com cerca de oito metros, constituía-se em uma coluna de


estilo dórico, tendo em seu topo um globo terrestre encimado
por uma ave que muitos pensavam tratar-se de uma águia, que,
nada tem a ver com nossa fauna, e sim de um gavião de penacho.
Na base da coluna, lia-se os dizeres:
Raid Gênova-Santos; À heróica tripulação do Jahu,
homenagem do povo da Encruzilhada.
. Recife, 25-09-1927
O monumento ao "JAHU", como vimos, não mais existe,
colocaram em seu lugar um, outro, também, de belo feitio,

238
Carlos Bezerra Cavalcanti

de autoria do artista Luís Pessoa, numa atitude reparadora


do então Prefeito Roberto Magalhães, tentando remediar o
erro cometido, em gestão anterior. O pássaro que coroava o
monumento "jaz", ao relento, nas dependências do Museu
da Cidade do Recife,(Forte das Cindo Pontas) sem nenhum
registro do que se trata.
Destaca-se, ainda, na Encruzilhada, a Vila do Moinho,
inaugurada pelo interventor Agamenon Magalhães em 3 de
Dezembro de 1940, para moradia de funcionários do Moinho
Recife, construída no local do antigo campo do Encruzilhada
Futebol Clube, um dos mais respeitáveis times de futebol de
subúrbios daquela época.
Na entrada da Vila (Rua Domingos Bastos), onde
foi edificado um prédio de apartamentos, existiu o Clube
do Moinho, famoso pelas suas festas, principalmente as
carnavalescas, até a década de 60.
A Vila homenageia, em duas de suas Ruas (sem saída) os
líderes sindicais Santana de Castro e João Ezequiel, bastante
atuantes nos movimentos operários dos anos 20, no Recife.
No final da Rua Castro Alves, onde existe a Agência do
Banco Econômico, funcionou, até a década de 70, o Colégio
do Professor Aderbal Galvão (Ginásio da Encruzilhada), onde
anteriormente existiu o Instituto Nacional.
Outro Educandário existente no Bairro é o Colégio Olívio
Montenegro, situado em frente à:

IGREJA DE BELÉM

A antiga capela de Nossa Senhora da Conceição foi


construída nas terras do Engenho Belém, em 1609. Era, ainda
uma pequena ermida, de aparência modesta, uma vez que suas
dimensões não passavam de oito metros de fundo por quatro
de largura. Nela, em 2 de fevereiro de 1849, foi depositado,
provisoriamente, o corpo, inerte, do grande mártir e herói
da Revolução Praieira, Desembargador e Deputado Geral,

239
O Recife e seus bairros

Joaquim Nunes Machado e em que, vinte e seis anos depois,


se colocou uma lápide com as seguintes inscrições:

JOAQUIM NUNES MACHADO

No chão defronte com esta lápide


Foi depositado
Aos 2 de fevereiro de 1849
O cadáver do grande pernambucano
Que não pode ter sepultura
Por mão amiga
E no dia seguinte, violentadas as portas
Desta capela
Foi conduzido como troféu de vitória
Para a cidade do Recife,
E, depois de ostentosa vitória
Entregue aos religiosos franciscanos
Admiradores do grande cidadão
Colocaram esta lápide
Aos 2 de fevereiro de 1874
Honra ao herói pernambucano"

Foi nela que, a partir de 7 de fevereiro de 1925, viria


desenvolver seus fecundos trabalhos o Padre João de Araújo
Pedrosa, que ali atuou até 7 de maio de 1945, quando veio
a falecer. Nesse período, a vida religiosa da comunidade
de " Belém da Encruzilhada" teve melhorias fundamentes.
Vejamos o que diz sobre esse assunto Alcindo Pedrosa, em
" Um tempo de memória", pág. 22 a 24: " ... Ao receber a
paróquia, sentiu-se ele como que, motivado por sobrenatural
alento e por uma inspiração divina, que transformaram,
milagrosamente, sua pequenez física, num homem que se
sentia capaz de derrubar aquela capelinha e, no seu lugar,
levantar um suntuoso Templo, com capacidade de abrigar a
população de "Belém da Encruzilhada" e adjacências.

240
Carlos Bezerra Cavalcanti

Sem perda de tempo, demolida a capela, fez construir


nos fundos do terreno da mesma um grande galpão coberto
de palhas de coqueiro, e solicitou aos fiéis, tolerância de irem
assistindo aos atos religiosos na pequena palhoça, enquanto
ele, com a graça de Deus, a vontade dos paroquianos e de
todos os bancos, comerciantes e o povo do grande Recife,
construísse uma igreja à altura dos merecimentos do bairro.
... Tudo que lhe era dado, reservava, parte para as férias
dos operários, e parte investia na aquisição do material de
construção.
...Com o passar dos tempos, a Igreja de Belém foi concluída.
A obra estava pronta, faltando, apenas, o acabamento. A
pintura, tanto a externa como a interna, foi acompanhada,
metro a metro, pelo Padre João e assim foi edificada a suntuosa
Matriz de Nossa Senhora de Belém da Encruzilhada.
Vale destacar ainda nesse bairro, em tempos pretéritos, o
inigualável carnaval ali festejado, quando então se interditava
o Largo da Encruzilhada, e os passageiros dos bondes tinham
que fazer baldeação, descendo do transporte, atravessando, a
pé a Praça, para continuar a viagem em outro Bonde da Linha.
Os Blocos, como Madeira e Inocentes do Rosarinho,
Clube das Pás Douradas, Maracatu de Dona Santa vinham se
exibir no Largo, que ficava todo embandeirado e iluminado,
dispondo ainda de palanques, barracas, bares e sistema de
alto-falante pôr onde se ouvia, exclusivamente, a maravilhosa
música Pernambucana, hoje tão esquecida na sua própria terra.
Segundo informações verbais de um antigo morador
desse Bairro, Sr. José Pires, era indispensável o apoio da
sociedade local a esses eventos. Os proprietários de casas
comerciais ajudavam, destacando-se entre elas a Sorveteria
Nevada, em frente ao Cinema Encruzilhada (Bradesco) e a
Padaria Glória, de José Gonçalves. Um dos moradores mais
atuantes e dedicados ao Bairro era, sem dúvida, o Sr. José de Sá
Carneiro, Irmão de Dona Inácia, casada com outro importante
morador do Largo, num Casarão posteriormente demolido

241
O Recife e seus bairros

(Casas Marinho) Sr. Salvador Moscoso, Grão Mestre da


Maçonaria. O casal teve 6 filhas, sendo que, 5 delas, Amélia,
Lucinda (Nenem), Lourdes, Carminha e Carmélia, residem ou
residiram na rua que leva o nome de seu tio e grande defensor
do Bairro, José de Sá Carneiro que junto com outras pessoas
como Aristófanes de Andrade, liderava a organização de
todos os festejos da localidade, inclusive os juninos e natalinos
com os famosos pastoris , onde destacamos o de EROTIDES,
que funcionava num palanque armado num terreno onde,
posteriormente, foi edificado o prédio da Lobrás e a festa de
Belém, no final do mês de agosto.
Cabe salientar, ainda, que nesse Bairro, no local onde
hoje funciona um posto do INSS, entre a Av. Norte e a Rua
Castro Alves, existia um curral, onde eram descarregados dos
trens vindos do interior, gado bovino e suíno, que depois de
certo período de descanso e engorda, seguiam em rebanhos,
pela Estrada de Belém, até o Matadouro de Peixinhos.

242
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DE TORREÃO

íssa pequena área urbana circundada por parte da Av.


Norte, Rua Marechal Deodoro, Av. Agamenon Magalhães
e Rua Othon Paraíso é, hoje, um dos bairros da ZPA H
Seu nome, ao que tudo indica, vem de um antigo Torreão
existente naquela localidade. Área exclusivamente residencial
tem em seu principal núcleo, as margens do largo logradouro
que homenageia o grande educador pernambucano Óthon
Paraíso, genitor de dois grandes vultos de nosso mundo
político e cultural: Ex-Senador, Eng. Murilo e o médico e
escritor Rostand. O nome desse pequeno bairro vem de um
antigo Torreão existente na localidade

243
O Recife e seus bairros

BAIRRO DE CAMPO GRANDE

Quem transitasse pela Estrada de Belém, no sentido


norte, encontraria, a
Antes de atingir "Campo Alegre", a antiga localidade
do Feitosa, hoje englobada pêlos bairros do Hipódromo e
Campo Grande.
Os limites do atual bairro de Campo Grande, são os
seguintes: começa no pontilhão da Tacaruna, segue dividindo
os municípios de Olinda e do Recife, através de uma linha
imaginária no terreno da antiga Fábrica da Tacaruna,
ultrapassa o trecho final da Estrada de Belém, atinge a Av.
Correia de Brito e prossegue por essa até o pontilhão do Canal
do Arruda, seguindo por esse canal até à Rua Prof. Jerônimo
Gueiros, onde deflete à esquerda e alcança a confluência das
ruas Madre Rosa Gatomo e Padre Villemam, seguindo por
essa última ao encontro da Rua Mateus de Tartaruga, onde
deflete à direita alcançando a Rua Marques de Vaependi, onde
deflete à esquerda, alcançando a Rua Prudente de Morais,
defletindo à direita para atingir a Rua Cristóvão Jacques, daí,
dobrando-se à esquerda, chega-se à Rua Marechal Deodoro;
defletindo à direita para alcançar a Rua Othon Paraíso onde,
dobrando à direita, alcança-se a Rua Dom João da Costa,
deflete à esquerda e segue por essa até atingir o trecho final da
Rua das Fronteiras, de onde prossegue até à Av. Agamenon
Magalhães, daí, deflete à esquerda e segue em direção ao
Pontilhão da Tacaruna, ponto inicial.
Segundo Flávio Guerra no seu "Igrejas e Subúrbios
Históricos do Recife", Campo Grande não tem propriamente
uma historiografia calcada em acontecimentos históricos
de relevo, como tantos outros arrabaldes do Recife, é
justamente um dos subúrbios mais novos em sua efetiva
projeção na área metropolitana. E aquilo, que num estudo
sociológico, podemos dar como área marginal, prensada

244
Carlos Bezerra Cavalcanti

entre Recife e Olinda. Atingindo a sua extensão territorial


desde a Encruzilhada, a altura da Igreja de N. S. de Belém
até alcançar as terras da Tacaruna, corruptela indígena que
significa "pedra do buraco negro" (itacoaruna) nas porteiras
que marcam precisamente, o início territorial de Olinda, à
margem direita do rio Beberibe.
Ali funcionou (1896/97), a "Usina Beltrão", de refinamento
de açúcar, pertencente ao empresário Antônio Carlos de
Arruda Beltrão, adquirida, no ano seguinte por Delmiro
Gouveia, que, por falta de apoio governamental, foi obrigado
a fechá-la, logo em seguida. 1
"Inutilizada por longo período (até 1924), o prédio
da Usina Beltrão, já em estado precário, foi adquirido pelo
grupo Meneses. Nasceu nele a Fábrica Tacaruna, grande
indústria têxtil de cobertores. A empresa viveu duas décadas
de prosperidade, depois período difícil, até ser adquirida
(em 1975) pela firma Tecelagem Parahyba do Nordeste S.A.,
mantendo-se até 1980." (Roberto Cavalcanti, in: ANTES-
TEMPOS-DEPOIS, pág. 47.)
Campo Grande foi outra localidade que despertou os
interesses humanísticos do Frei Casimiro. Vendo seu trabalho
consolidado em Santo Amaro esse religioso se voltou para
o vizinho e, não menos necessitado bairro de Campo
Grande, que fazia parte da freguesia de Belém, com sede na
Encruzilhada, habitado por gente pobre que vegetava dentro
dos mangues. Muitos desses habitantes viviam de pequenos
salários da Fábrica Tacaruna. Em volta dessa fábrica, de que
falamos há pouco, se estendiam casebres por todos os lados,
até a estrada que ligava o Recife a Olinda.
Segundo frei José Milton de Azevedo Coelho, em seu
trabalho inédito " Frei Casimiro o apóstolo dos mocambos-
da memória à proficia", pág 119: " À entrada da Ilha de
Joaneiro, pela Santa Cecília, hoje Rua Odorico Mendes, quase
em frente do Clube das Pás, se erguia, em lastimável estado
de conservação, a capelinha de N.S. do Bom Pastor. Outra

245
O Recife e seus bairros

capelinha era a da Irmandade de N.S. da Conceição, toda em


tábua, na confluência das ruas Machado com a Mário Sette.
Em princípios deste século, até o ano de 1925, o seu
principal núcleo urbano era às margens da linha férrea, depois
elétrica,(bonde) que começava no Largo da Encruzilhada e
tomava, na altura da então Capelinha de Belém, o seu destino
principal, projetando-se pela estrada que tem o nome da
antiga capela, até alcançar a Estação de Salgadinho, já na
Marim dos Caetés.
Entre os terrenos de Campo Grande incluem-se os extensos
e planos que se prolongavam no trecho chamado maduro,
em Santo Amaro, até o Município de Olinda, pertencentes
aos Dr. Castro, Capitão Félix Paiva, Campeio, Olinda Pereira
e Costa Soares, além de mais da metade dos mangues que
se estendiam pelas imediações do sítio principal, em Santo
Amaro. Originariamente, esses sítios pertenceram a Dona
Josefa Francisca. Estava compreendida nas terras doadas,
parte do trecho onde se instalaria a Fábrica de Tecidos. Já em
1806, Dona Josefa resolveu doar as suas propriedades a Dom
Antonio Pio de Lucena e Castro que, ao falecer, passou os bens
para o Recolhimento de N. S. da Glória, na Boa Vista. A partir
de 1940 aquela instituição religiosa decidiu lotear e vender
os terrenos, vindo, então, dessa época, o primeiro impulso de
crescimento e a tendência residencial do Bairro.
O Arrabalde de Campo Grande é habitado, praticamente,
pela classe média (baixa). Nele funciona, já há alguns anos, o
Clube Carnavalesco Pás Douradas, na Rua Odorico Mendes.
A origem desse Clube remonta ao final do século XIX,
quando, segundo afirma-se, alguns estivadores, do Porto do
Recife, após descarregarem certa quantidade de carvão, num
dia de Carnaval, saíram pelas ruas, com suas "PÁS" erguidas,
bebendo e frevando.

246
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DO HIPÓDROMO

Até a primeira metade deste século, quem fosse da


Encruzilhada para Olinda, pela Estrada de Belém iria
encontrar três localidades conhecidas, isoladamente.
A primeira era denominada de "FEITOSA", que assim
se chamava em virtude de seu ilustre morador, o Advogado
e Jornalista "MULATO FEITOSA" (Antônio Vicente do
Nascimento Feitosa), um dos cabeças da Revolução Praieira,
que possuía um solar, num sítio da localidade. Era nesse
Sítio, onde, alguns Revolucionários de 1849, se reuniam
sob o pretexto de apanharem água, nrnna grande cacimba,
existente nessa Propriedade e que originou o nome da
velha "Rua da Cacimba", atual Rua Francisco Rolin. Como
vimos, foi, justamente, na Igreja de N. S. da Conceição de
Belém, que os "Praieiros" deixaram, em fuga, o corpo de seu
grande líder Desembargador e Deputado, Nunes Machado,
mártir daquela Revolução, morto em 2 de fevereiro de 1849.

247
O Recife e seus bairros

Junto a antiga localidade do Feitosa, encontra-se o bairro do


"HIPÓDROMO" que tem seu nome oriundo de um prado
que ali funcionou entre 1888 e 1898. Pôr sinal nessa época
estava muito em voga as corridas de cavalo, quando o Recife
possuía, simultaneamente 3 "Prados": o que deu origem ao
nome do Bairro do Derby, de que já tratamos, o "Hipódromo"
de Campo Grande, inaugurado em 30 de setembro de 1888
e o do "LUCAS" o único ainda existente hoje chamado de
"PRADO" da Madalena. O cavalo era responsável, então, pela
maioria dos meios de locomoção, não sendo de se estranhar,
portanto, esse "modismo" que, pôr sinal, não se limitava
apenas aos prados oficiais, existindo também, as "disputas",
aos domingos, em arrabaldes mais afastados como era o caso
do antigo "povoamento" de Beberibe.
Foi no terreno do hipódromo que, em 4 de abril de 1912,
o italiano Gino Santalice, aterrissou o primeiro aeroplano, em
solo pernambucano
O Hipódromo de Campo Grande, como era chamado,
se localizava, justamente, na área da atual Praça Tertuliano
Feitosa, filho do personagem a que nos referimos,
anteriormente.No centro dessé logradouro, comumente
utilizado para a prática de "cooper" e de caminhadas, existe
o Colégio "Clóvis Beviláquia", fundado em 1946, como
Grupo Escolar.
A Vila do Hipódromo, patrocinada pelo IPSEP, núcleo
do atual bairro, foi projetada por João Correia Lima e as suas
mais de 200 casas foram construídas entre 1937 e 1947, por
iniciativa do Interventor Agamenon Magalhães. De acordo
com a lei ns 11.883, de autoria do Vereador Liberato Costa
Júnior, elas não podem ter mais de dois pavimentos e devem
seguir o uso estritamente residencial. As casas, por sua vez,
foram concebidas pelos desenhistas e projetistas, Hélio
Feijó, Hamilton Fernandes e Antônio Baltar. A localidade do
Hipódromo, logo após a inauguração da vila, ficou conhecida
como: "Bairro dos Funcionários Públicos".

248
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DO PINA

O nome da praia e do riacho deve-se ao antigo


proprietário do sítio existente na localidade, e que se
chamava Capitão André Gomes Pina. Essa propriedade
correspondia a uma Ilha e que, juntamente com outra, a
"Do Nogueira", ou do "Cheira Dinheiro", constitui hoje o
aprazível Bairro do Pina, ligado à Cabanga, pelas Pontes
Agamenon Magalhães e Paulo Guerra, dois importantes
Governadores de nosso Estado.
Até o início do século passado, o acesso ao Pina era feito,
exclusivamente, debarco. Somente em 1915 é que foi construída
a primeira viapor sobre as águas dos rios que aMescoam e que foi
improvisada como ponte.
A primeira ponte, propriamente dita, veio com a
construção da Avenida Boa Viagem. Segundo a pesquisadora
Vera Milet ( Jornal do Commercio de 14 de maio de 1991) "
O bairro continuaria com o estigma de ser depositário dos
dejetos da cidade". Talvez, esse tenha sido o ponto principal
para evitar que a especulação imobiliária tomasse conta da
área, como ocorreu com Boa Viagem."
De acordo com a mesma fonte: "na legislação urbanística
do Recife, em 1936, o Pina era o único bairro onde se permitia
a construção de madeira."
Informações de Gilvan Coelho nos dão conta de que "
esse fato se deve, principalmente, à dificuldade de acesso ao
local, que deixava a madeira mais fácil de ser transportada.
Além disso, a construção dessas casas demorava, em média,
uma semana, contra os três meses mínimos, necessários para
a construção de alvenaria
Conforme, ainda, Vera Milet: "Notadamente, existem
nesse pormenor, elementos de muito bom gosto. Apesar
disso, a construção dessas casas estão cada vez mais raras e
em processo de extinção. Os moradores não valorizam esse

249
O Recife e seus bairros

tipo de moradia e preferem uma pequena casa de tijolos a uma


,maior, de madeira (algumas com três quartos sala e terraços.)
O Pina, antigo bairro de gente que vivia do mar, tiradores
de côco e marisqueiros, lugar que já abrigou a colônia de
pescadores, atualmente, em Brasília Teimosa. A princípio os
pescadores moravam perto da Cabanga, comum incêndio que
ocorreu naquela área, eles retiraram-se e vieram se juntar aos
colegas do Pina, formando a Colônia Z-l, numa área aterrada
com areia da atual bacia, antiga Coroa do Passarinho, por
autorização do governador Carlos de Lima Cavalcanti, que
veio a se chamar: Areai novo do Pina, depois transformado
em Brasília Teimosa" (J.C.19/06/89)
A localidade, ou parte dela, era conhecida como Barreta,
haja vista, existir, nos arrecifes, nas proximidades da antiga
Casa de Banhos, uma passagem, pôr onde transitavam as
embarcações, conduzindo açúcar e outros gêneros para os cais
interiores do Recife como: "Da Alfândega", "Do Abacaxi",
"José Mariano", "Do Chupa" e também para o Pina. Essa
passagem foi fechada pôr ocasião das primeiras obras de
melhoramento do Porto.
Na época dos holandeses foi construído no local o:

FORTE DA BARRETA

Em agosto de 1645, após a vitória Pernambucana nos


montes das Tabocas, os holandeses, que sempre tiveram muito
cuidado com a defesa do território conquistado, trataram de
reforçá-la nesse ponto vulnerável, pôr onde poderia chegar, a
qualquer momento, apoio externo às tropas Pernambucanas,
construindo no local, uma fortificação, guamecendo-a com :
200 homens, sob o comando do Capitão Blowen Hoen.
Esse Forte recebeu o nome de "Schoonem Burgh", "Belo
Forte", nalínguaholandesa, porém osbrasileiros, tendo em vista
sua localização, passaram a chamá-lo de "Forte da Barreta",
hoje não mais existente.

250
Carlos Bezerra Cavalcanti

Conta-nos Napoleão Barroso Braga in "Cartas Recifenses"


(1985) que, "antes da construção da primeira ponte do Pina,
pôr volta de 1920, demolida na década de 50, a ligação entre
o centro e aquele Bairro, era feita, através de barcos a remo
ou vela.
Mesmo assim sua praia era freqüentada pôr banhistas
habituais que também realizavam piqueniques, pois os
antigos também davam importância ao lazer. Pra Boa Viagem,
que já despontara com maior "status", o transporte era o trem,
partindo da Estação das Cinco Pontas, no local onde hoje se
ergue o Viaduto, o primeiro implantado no Recife, obra do
Prefeito Geraldo Magalhães de Melo.
... O antigo território pinense, que encantou Maria
Graham, naquele "pic-nic" famoso, teve conquistado ao
mangue, um sub-bairro, o "Bode", paulatinamente coberto
por mocambaria humilde.
Pôr volta de 1915, com o início dos trabalhos de
saneamento básico no Recife à frente o dedicado Engenheiro
Sanitarista Dr. Saturnino de Brito, o Pina e sua praia iriam
sofrer retaliações pôr parte do povo recifense, uma vez que,
a localidade fora "escolhida" para receber as tubulações
que passaram a jogar nas águas daquela praia, dejetos e
água servida da cidade. Desta forma a beleza litorânea ficou
sendo menos visitada pêlos banhistas, haja vista a fama de
insalubridade que passou a ostentar, felizmente, não mais
persistindo nos dias atuais.
O Pina, pelas suas características, sempre foi um
lugar voltado para a vida praieira, pôr isso mesmo, nela se
instalaram, há bastante tempo, dois dos mais tradicionais
bares-restaurantes da área marítima recifense:

OMAXIME'S

Dos mais antigos do gênero, no Recife, localizado na


Av. Comendador Morais ns21.

251
O Recife e seus bairros

A sua inigualável peixada mantém os padrões de


qualidade de quando começou a funcionar, na década de 30,
tendo sobrevivido a marcante II Guerra Mundial, que trouxe
para o seu lado o Cassino Americano, passando a dar mais
movimento a esse estabelecimento, aumentando, pôr algum
tempo, sua freqüência.

BAR/RESTAURANTE PRA VOCÊS

Após completar 60 anos de existência, esse estabelecimento,


pitoresco e tradicional, tem como atrativo os pratos de sua
cozinha de fazer inveja aos mais renomados do Brasil.
Segundo matéria veiculada no Diário de Pernambuco de
16 de abril de 1994, o restaurante começou a funcionar em 1944:
"na época só existia na zona sul o Restaurante Maxime's e a
Churrascaria Mocambo, informa Severino Reis, dono do Prá
Vocês desde 1970, ele começou a trabalhar no estabelecimento
como faxineiro, passou por ajudante de cozinheiro, garçom,
até chegar a dono... Havia um português Almeida que era
garçom do Grande Hotel e tinha um velho amigo, Vieira
da Cunha, rico comerciante, que resolveu construir um bar
e dar para Almeida tomar conta, dizendo: esse bar é p'rá
vocês, explicando a origem do nome do bar.Tem como pratos
mais característicos a peixada Pernambucana, casquinho de
caranguejo, camarão, lagosta e outros frutos do mar.
Funciona de forma mais elogiável e irrepreensível
há várias décadas. Sua principal peculiaridade é prestar
homenagens a pessoas de destaque social, político ou artístico,
a quem são atribuídas nomes de logradouros públicos sendo
as respectivas placas solenemente inauguradas, no salão
do estabelecimento, com os comes e bebes por conta do
homenageado.
Na época da II Guerra os americanos freqüentavam dois
recintos para suas diversões na área do Pina, um era o famoso
Cassino Americano que inclusive iniciou a descentralização da

252
Carlos Bezerra Cavalcanti

prostituição da Zona Portuária do Recife, freqüentado, pelas


classes militares "ianques" de menores graduações (Soldados
e graduados) .O outro era a Boate no recinto isolado da rádio
Pina em que aconteciam os "encontros" de "brasileiras"
previamente "convidadas", com os oficiais americanos.
Nessa parte do Pina, próximo ao chamado BURACO
DA VELHA, foi edificado o IATE CLUBE DO RECIFE, que
funcionava, anteriormente, no início da Rua Visconde de
Irajá, junto à antiga ponte da Torre. Nessa parte do Pina
encontram-se alguns Bares e Restaurantes com características
locais como o CASTELO DOS CAMARÕES e o IMPÉRIO
DOS CAMARÕES.
No Pina, mais precisamente na Av. Herculano Bandeira
que homenageia um de nossos ex-govemadores, encontra-se
a Matriz de Nossa Senhora do Rosário. Outra artéria paralela
a essa primeira é a Av. Antônio de Góis que reverencia
importante Prefeito, nela estão instaladas as sedes da
Delegacia Regional da Polícia Rodoviária Federal e do Clube
Líbano Brasileiro. Esse Bairro, não olvidou o mais importante
historiador de nosso Estado Francisco Augusto Pereira da
Costa, colocando seu nome em um de seus logradouros.
Nele encontramos, ainda o Teatro Barreto Júnior,
instalado na Rua Jeremias Bastos, S/N, inaugurado nos idos
de 1985.
Nessa localidade, também pôr ser praieira, funcionam
vários bares, alguns aqui citados, outros não, uns que ainda
existem, outros não, como as Feijoadas do Leopoldo e do Jaime
(nos moldes antigos) e a Peixada do Lula, das mais famosas
e ainda, a antiga Sorveteria DAQUI com seus picolés com
cobertura de chocolate e que tinha como logotipo uma baiana
beliscando a ponta da orelha num gesto popular de aprovação.

253
O Recife e seus bairros

Vista aérea do Pina (década de 1930), vendo-se, ao fundo, o


m atagal de B oa Viagem

Nesse Bairro, encontra-se, também, um centro de atração


turístico/religioso, trata-se do:

CONVENTO DE SÃO FÉLIX

Nele foi sepultado, em 4 de junho de 1997, o corpo do


grande religioso Frei Damião de Bozzano, nascido na Itália, em 5
de novembro de 1898. Foi batizado pelos pais agricultores, como
Pio Gianotti. Aos 17 anos, emitiu os primeiros votos no Seminário
Seráfico de Amigliano, recebendo o nome de Frei Damião de
Bozzano. Em 1931, chegou ao Brasil como missionário indo
residir no Convento de N.S. da Penha do Recife, de onde partiu
para santas missões em todo o nordeste brasileiro.
A área do Pina dispõe de poucos Hotéis, uma vez
que a maioria deles está na vizinha praia de Boa Viagem,
destacando-se, ai, apenas o PRAIA OTHON HOTEL.

254
Carlos Bezerra Cavalcanti

ENCANTA MOÇA

Encravada entre a Estação Rádio Pina, da Marinha, o Rio


Tejipió e a antiga Fábrica de Ron Bacardi, está a localidade de
Encanta Moça onde, em 15 de março de 1940, foi fundado o
Aeroclube de Pernambuco.
O nome "Encanta Moça", segundo alguns cronistas,
vem de uma lenda contada por pescadores da região que
diziam vislumbrar, em noites de lua cheia, a figura de uma
linda donzela coberta por um véu luminoso que depois se
encantava e se dissolvia como um sorvete.

O BODE

Outra localidade que faz parte do Pina é o Bode, resultado


do aterro de mangue, atividade muito comum no Recife, esta
área foi conquistada do rio, as terras que não tinham dono,
conhecidas como terreno "de" Marinha que, na realidade,
trata-se de um bem da União e não exatamente "da" Marinha
Brasileira, como muitos pensam.
A comunidade do Bode surgiu nos idos de 1926, com
algumas invasores apropriando-se de terras pertencentes à
Santa Casa da Misericórdia. "O núcleo comunitário foi aos
poucos sofrendo um processo de expansão, fazendo com que
cada novo habitante tivesse que tomar da maré o solo que a
cidade lhe negara.
Na fase de implantação da favela, os moradores mais
supersticiosos começaram a espalhar a crença de que, à noite,
um bode mal assombrado aparecia para beber água em uma
cacimba. A assombração logo passou a causar terror, assustando
adultos e crianças, o boato correu e logo o agrupamento
adquiriu o nome do animal conservando-o até hoje.
Frágeis construções de tabuas, cobertas de palha,
serviram de moradia à população do Bode. Desde a fundação

255
O Recife e seus bairros

até os dias de hoje, o panorama permanece quase inalterado,


isto é, com a mesma ausência de infra-estrutura encontrada
pelos pioneiros que ali se radicaram.
No Governo de Agamenon Magalhães a comunidade
passou a ser servida por energia elétrica e, posteriormente, a
COMPESA estendeu suas tubulações até o local.
O saudosismo é uma constante no espírito dos mais velhos
que lembram o tempo em que a comunidade se divertia nos fins
de semana convidando amigos para beber e além de cachaça
lhes ofereciam buchada ou panelada: Aquele era um tempo feliz.
A grande atração e ponto de encontro do Bode é o Qube
Banhistas do Pina, fundado em 1931" (DP de 16 de Junho de 1979.
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DA CABANGA

Ali funcionou, a partir da segunda metade do século XIX,


o Matadouro do Recife, transferido para Peixinhos em 1922.
Foi nesse bairro que o sanitarista Saturnino de Brito, instalou
a primeira Estação de Tratamento de Esgotos da Capital
O nome dessa localidade vem de uma corruptela tupi que
significa "pau torto", devido à vegetação de mangue que ali
ocorria, com muita freqüência, junto com os mocambos, tanto
que a área foi a escolhida para receber uma das primeiras
vilas populares do Recife, inaugurada em 24 de junho de 1939.
Suas casas foram entregues aos funcionários da Diretoria de
Saneamento do Estado.
O Cabanga Iate Clube foi ali instalado em 2 de agosto de
1947, com, apenas, 38 sócios.
Uma atração especial desse bairro é a competição de
remo, com suas regatas na Baia do Pina, às margens do Cais
José Estelita, nome que homenageia o antigo diretor das
Docas, Engenheiro José Estelita. A área já foi chamada de
"Cais do Chupa" nome que ficou por conta do trabalho das
dragas que acabou com a "coroa do passarinho" e deu origem
ao areai de Brasília Teimosa:

Cabanga com seus m ocam bos, em 1921

257
O Recife e seus bairros

BAIRRO DE BRASÍLIA TEIMOSA


Muitos locais ou monumentos têm seus nomes
vinculados a fatos ou pessoas e coisas distantes de onde se
encontram. O caso dessa localidade, não é diferente, deve seu
nome à longínqua Capital Federal, que vivia, na década de 50,
ocupando os noticiários e as conversas populares, Brasília, ou
a "Nova Capi" de Juscelino Kubsticheck de Oliveira.
Na área, surgida do areai, iria ser construído um
aeroporto, posteriormente se pensou em instalar ali, um
campo de tancagem idêntico ao do Brum, que seria então
desativado, mas os depósitos de combustíveis não vieram.
O terreno ficou em litígio, sendo reivindicado pôr várias
instituições e pessoas entre elas a Federação de Caça e Pesca.
Nesse ínterim, o local foi parcialmente invadido. Os
invasores receberam admoestações, mas, teimosamente,
permaneceram na área. A criatividade popular passou a
chamar a invasão de BRASÍLIA TEIMOSA.
Segundo Jaques Cerqueira (D.P. de 7 de Fevereiro de
1988) "Caso o projeto de construção do Aeroporto do Recife,
de autoria~-dó Engenheiro Moraes Rego, datado de 1934,
estivesse dentro dos padrões internacionais de avaliação,
certamente Brasília Teimosa não existiria hoje. Isso porque o
aterro que deu lugar ao popular bairro litorâneo foi feito para
servir de pistas de pouso e decolagem de aviões comerciais.
Acontece que o projeto deu errado e o Areai Novo, como o
aterro era conhecido na época, foi invadido, precisamente, em
15 de fevereiro de 1958".
De acordo com Charles Joseph Fortin, estudioso no
assunto,: "As causas que levaram o projeto de Moraes Rego ao
fracasso, teriam sido três:
1- Os trabalhos de dragagem de um canal anterior dos
arrecifes, foram prejudicados pela quantidade de embarcações
ali naufragadas.

258
Carlos Bezerra Cavalcanti

2- Nenhuma das seis pistas projetadas tinha a extensão


mínima, padrão de mil metros.
3a A área não podia ser expandida, futuramente.
Antevendo o fracasso do projeto, o Governador de
Pernambuco passou a oferecer material para as obras de
construção do Aeroporto do Ibura, cuja implantação atendia
aos apelos dos militares e às pressões da Air France, que
queria operar sua linha regular, ligando Paris ao Recife".
Esvaziados seus planos de construir o Aeroporto do
Recife naquele aterro em julho de 1937, decidiu Moraes Rego
voltar à carga e apresentar um projeto de melhoramentos,
para receber os tanques de combustíveis do Brum.
Dois anos após ter tomado pública sua idéia, Moraes
Rego viu romper um grande incêndio no terminal do
Brum, o que demonstrava a precariedade da segurança dos
tanques. Mas, como a execução das obras, no areai novo,
exigiram engenharia pesada e grandes investimentos, além
de alastrarem-se os combates da II Guerra.
"Entre 1937/51, a única pre-ocupação do terreno ficava
por conta de algumas casas na entrada do aterro.
A forma de loteamento promovida em 1957, pelo
pescador Francisco Alves da Silva, Presidente da Colônia dos
Pescadores Z-l, foi a seguinte: " Já haviam cerca de 100 casas
erguidas na área e a colônia estava revoltada com a invasão.
Diante do quadro, resolveu-se determinar que cada um dos
700 pescadores ligados àquela colônia, receberem 3 terrenos
que seriam ocupados, de forma precária, para venderem os
dois primeiros lotes e, com o dinheiro apurado na transação,
se construíssem casas de alvenaria, de melhor condição.
Os planos, no entanto, não deram certo, apesar do
trabalho de um topógrafo contratado pela colônia para fazer
o traçado das mas.
Em 1957, começou a apropriação maciça da área, até
o fim de março, 80 novas casas foram erguidas. Em abril,
eram mil, em maio, esse número dobrara e outros mil lotes

259
O Recife e seus bairros

eram ocupados, em Junho, a comunidade reunia cerca de


20 mil pessoas. 1 J
...Na época o bairro recém-surgido chamava-se NOVA
BRASÍLIA e só viria mudar o seu nome para BRASÍLIA
TEIMOSA, durante a fiscalização tenaz das autoridades,
contra o procedimento da ocupação ilegal de outros terrenos".

260
Carlos Bezerra Cavalcanti

O BAIRRO DE BOA VIAGEM

261
O Recife e seus bairros

Nas terras doadas por Baltazar da Costa Passos e sua


esposa, Ana de Araújo Costa, através de escritura datada de
6 de Junho de 1707, resolveu o Padre Leandro de Carvalho
construir uma Igreja sob a invocação de Maria Santíssima
e mandou fazer uma imagem com o título de Boa Viagem
para que os pescadores, nas viagens pelos mares, tivessem os
sucessos almejados.
Os limites atuais do bairro são os seguintes: inicia na Rua
Tomé Gibson e se estende para o sul até os limites do Recife com
Jaboatão dos Guararapes. Para o lado oeste, segue pela Tomé
Gibson até o cruzamento com a Domingos Ferreira, onde deflete
à esquerda e segue até a Rua Térdo Soares de Aquino; deflete
à direita até o rio Pina, seguindo por este até à confluênda com
o Rio Jordão, prosseguindo pelo eixo do lado direito até cruzar
a ponte existente na Av. General Mac Arthur e prossegue pelo
canal até encontrar a Rua Dês. José Neves, por onde prossegue
até a Rua Barão de Tefé onde deflete à direita e segue por esta até
a Rua Eládio Ramos; deflete à direita e segue por esta até a Rua
Adauto C. Leal; deflete à esquerda e segue até a Rua Dr. Luiz
Correia de Oliveira; deflete à direita e segue até a Rua Capitão
Vicente da Mota; deflete à esquerda e segue até cruzar a Av. Sul,
atinge a Rua dos Tijolos, seguindo por esta até a Mascarenhas
de Morais, onde deflete à esquerda e prossegue até atingir o
pontilhão sobre o Rio Jordão e segue dividindo os munidpios do
Recife e Jaboatão onde deflete à esquerda e segue pela av. Beira
Mar prosseguindo pela Av. B. Viagem até encontrar, novamente
a Rua Tomé Gibson, ponto inidal.

CAPELA DE BOA VIAGEM

A Capela de Boa Viagem, portanto, deu o nome não só


à bela praia, como, também a todo o Bairro de Boa Viagem.
Sua construção é de estilo barroco, seu interior passou, com
o tempo, pôr várias reformas, encontrando-se, justamente

262
Carlos Bezerra Cavalcanti

por esse motivo, bastante descaracterizado. Dispõe, contudo,


de belas imagens sacras, como a de N. S. de Boa Viagem, de
Santana, de São José, de Santo Elesbão (em madeira), de São
Benedito, de São Gonçalo do Amarante e do Senhor Morto.
O altar-mor da sacristia é fruto do precioso trabalho do
mestre José Pereira

A igrejinha de B oa Viagem

A Capela de Boa Viagem, portanto, deu nome não apenas


à bela praia como a todo este aprazível bairro praieiro.
Em meados do século XIX(1859,) essa localidade, até então
isolada, viria ter o seu primeiro impulso de progresso com a
inauguração do primeiro trecho da Estrada de Ferro do São
Francisco (Recife-Cabo), quando recebeu sua pequena estação
que veio até nossos dias e que se localizava na parte final da atual
Rua Barão de Souza Leão, chamada naquela época de "Estrada
de Boa Viagem" porque era através dela que os viajantes, de
carruagem, chegava até ao antigo Largo da Igrejinha.

263
O Recife e seus bairros

Em tomo de 1906, o Bairro possuía apenas cerca de 60


casas. Foi, porém, com a construção da Avenida Beira Mar,
em 1924, no Governo de Sérgio Loreto, que o bairro começou,
realmente, a se desenvolver, embora ainda de forma
modesta. Por volta de 1915, começou a transitar naquela
avenida os bondes elétricos que utilizavam as duas mãos do
logradouro.
Até os anos de 1950, no entanto, Boa Viagem permaneceu
como local de veranistas e de alguns pescadores. A Beira
Mar, nome
antigo da atual Avenida B. Viagem, tinha em toda a sua
extensão não mais que 200 casas.
De lá para cá, muita coisa mudou, com a inauguração da
Ponte Agamenon Magalhães (1953), ligando o Pina à Cabanga
e, conseqüentemente, a outras áreas do Recife, Boa Viagem
estaria mais perto de todos nós. No entanto, segundo crítica
da época:" ela ficou porém para trás, perdida na memória
de muitos; aquela Boa Viagem da retreta de domingo, das
casas só para veraneio, do bonde que a brisa do mar tomava
mais lento e preguiçoso; aquela tranqüilidade dos chamados
banhos salgados, depois banhos de mar, depois banhos
de águas mornas, em piscinas naturais; aquela praia que
acabava, praticamente, no terminal da igrejinha, no terreno de
João Cardoso Ayres, local do " Boa Viagem Praia Club" e dos
jogos de tênis, onde , em 1954, o Empresário Luís Dias Lins
construiu o famoso Hotel Boa Viagem, de nível internacional,
com 100 apartamentos com vista para o mar.

264
Carlos Bezerra Cavalcanti

Praia de B oa Viagem vendo-se o H otel e, ao seu lado direito, o Bar


e Restaurante " Tio Pepe".

Somente por volta de 1957 é que a área veio receber os


primeiros arranha-céus, como eram chamados os precursores
dos atuais espigões, elementos hoje tão comuns em nossa
paisagem urbana. O primeiro deles a ser concluído foi o
"Califórnia", projeto do Eng. Acácio Gil Borsoi e o "Acaiaca"
obra de Delfim Amorim, ambos em 1958, já o Holiday, embora
tenha se iniciado em 1957, só foi inaugurado posteriormente.

265
O Recife e seus bairros

Edifício Califórnia

Essa visão progressista, segundo o arquiteto Fernando


Borba, foi uma decorrência do que aconteceu, na época, em
Copacabana, em termos sociais urbanos, antevendo-se algo
semelhante para a bucólica praia recifense, incentivando as
primeiras construções de prédios dessa localidade.
Nessa época os banhistas já eram em número
considerável, na ainda bucólica Praia de Boa Viagem.
Entre os casarões do bairro destaca-se, na Av. Boa
Viagem, um em forma de Castelo (Castelinho), e anterior a:

CASA NAVIO

Conhecida por alguns como "Casa do Navio", foi


construída pelo Empresário Adelmar da Costa Carvalho e
inaugurada justamente em 6 de Fevereiro de 1946. Segundo
Napoleão Barroso, o citado "empresário não queria construir
apenas uma casa navio e sim um transatlântico, réplica do
"Queen Elizabeth". Pôr causa das críticas de sua mulher e
de seu Arquiteto Hugo Azevedo Marques, construiu, ao

266
Carlos Bezerra Cavalcanti

invés de um transatlântico, um Iate. A casa era perfeitamente


equipada, sala de reuniões, suítes, quartos, cinema, salão
de jogos, restaurante e até uma cabine de comando, com
todos os equipamentos originais de navio. Hospedaria de
Governadores, Ministros nacionais e estrangeiros, industriais
e até o Presidente J. K. Foi filmada pela Metro Golden Meyer
de Hollywood para figurar em um filme e virou cartão postal,
sendo demolida, em 1981, para dar lugar ao edifício ns 4.000
da Av. Boa Viagem.

Casa Navio

Nos anos 40, Boa Viagem tinha suas peculiaridades como


nos conta o escritor e médico Rostand Paraiso, em seu livro
"Antes que o Tempo Apague" Pags. 155 e 156:

267
O Recife e seus bairros

"Aos domingos, pela manhã, tínhamos o hábito de "pegar"


uma praia. Em geral, íamos a Olinda, nas proximidades do
Carmo, ou à Boa Viagem, naquele trecho compreendido entre
o Pina e o circular. As outras praias mais distantes e de difícil
acesso, eram inviáveis para quem não possuía carro. E não
eram muitos que, naquela época, tinham esse privilégio.
Para irmos à Boa Viagem, tomávamos o bonde que,
após atravessar a Ponte do Pina antiga, nos deixava em plena
Avenida, à beira mar. Ali, a mão era dupla, os bondes indo
até o circular e dali voltando, os trilhos sendo separados
pelos refúgios centrais cuja principal finalidade parecia ser
a de abrigar os postes que, em forma de T, sustentavam as
luminárias e, também, a rede de energização dos Bondes.
Fazendo pouso na casa do meu tio Arnaldo, que morava no
ne 3000, de frente para o mar, dali eu tomava o caminho da
praia e me juntava aos amigos para os habituais jogos de Vôlei
e de Futebol. Essas eram também grandes oportunidades
para os namoros, na maioria, pouco duradouros, namorico
de veraneio, já que, naquela época, ninguém residia
permanentemente em Boa Viagem, que era considerada muito
distante para moradia. Suas casas simples ou suntuosas, eram
ocupadas apenas nos fins de ano, para a temporada de verão,
que se iniciava em Dezembro ou Novembro e ia até o fim das
férias escolares.
Era no fim do ano que as famílias começavam a chegar e
nós ficávamos atentos, observando as casas serem ocupadas,
uma a uma, algumas sendo. ansiosamente esperadas pôr
terem garotas bonitas è simpáticas que eram sucesso entre
a turma jovem. O fim da temporada marcava, também o da
grande maioria daqueles namoros que quando iniciados, já se
sabia, duraria apenas o veraneio, cada um voltando, depois, a
seus afazeres habituais e às suas residências, distantes umas
das outras.
O "quente" era o Corta-Jaca, área que havia recebido
essa denominação ainda nos tempos em que era Governador

268
Carlos Bezerra Cavalcanti

de Pernambuco Carlos de Lima Cavalcanti, que ali tinha


uma bela casa a beira mar. Além do cargo que por si só já
justificava o grande número de bajuladores ao seu redor e daí
o nome de Corta-Jaca, dizia-se haver outra razão para aquela
permanente corte em tomo do Governador: sua filha Risoleta,
jovem, bonita e ainda solteira, a atrair atenções dos principais
partidos da cidade.
Concorridos jogos de voleibol, quando os times eram
divididos de forma a que os casais jogassem juntos, a garota
levantando para o namorado, dessa forma tentando consolidar
a paquera.
Gostosas serenatas de fins-de-semana, quando a vigilância
não era tão rigorosa já que delas ficavam encarregadas as
próprias primas e irmãs elas também com seus namorados;
serenatas encerradas às primeiras horas da madrugada,
ao som de músicas que nos deixavam já saudosos (Maria
Betânia, Adios Pampa Mia ...) principalmente quando o fim
da temporada estava se aproximando.
Inesquecíveis peladas de futebol, pôr trás do Aeroclube,
quando ainda cedo, antes que o sol esquentasse, nos
reuníamos para dividirmos os times, o pior ia sempre para o
gol, ou para a ponta esquerda e ai se juntavam a nós, vindos de
memoráveis farras, ainda insones, Hugo da Peixe e o cronista
locutor, compositor e, acima de tudo, boêmio, Antônio Maria.
Era com lágrimas nos olhos que nos despedíamos, ao
fim da temporada, daqueles amigos que conosco haviam
compartilhado de tantos e tão agradáveis momentos. Faziam
planos de nos reunir novamente, no ano seguinte, mas nem
sempre o destino permitiria que isso acontecesse...".
Nos anos 60, o Bairro ainda era misto de residencial e
de boêmia nos movimentados " TIO PEPE", em frente ao
Hotel Boa Viagem, que já citamos, ou em boates como o
"SAMBURA", entre outras.
Posteriormente, três fatores vieram se somar aos atrativos
para o aumento da demanda imobiliária do bairro:

269
O Recife e seus bairros

Primeiro:_ As cheias do Rio Capibaribe eml966, 70 e 75,


que atingiram, drasticamente, residências de aristocráticos
bairros ribeirinhos (Casa Forte, Pamamirim, Santana, Jaqueira,
Torre, Madalena, Espinheiro, Graça, entre outros)
Segundo:_ O crescimento desenfreado da criminalidade
urbana, ainda mais constante e ameaçadora, tomando as
casas totalmente vulneráveis à atual conjuntura.
Terceiro:_ O diminuto espaço territorial do Recife, com
apenas 209 Km2, que impõe, principalmente nas áreas mais
valorizadas, o crescimento vertical.
O grande impulso de desenvolvimento do bairro,
nos moldes atuais, começou, portanto, na década de 70
aumentando cada vez mais com o surgimento de outros
hotéis como o RECIFE PALACE, o MAR HOTEL, o HOTEL
SAVARONI, o INTERNACIONAL LUCSSIM HOTEL, o
JPM TURISMO HOTEL, o VILA RICA e o IDEALY HOTEL
todos de 4 estrelas além de muito' outros de 2 e 3 estrelas
espalhados pelo bairro, assim como restaurantes de frutos
do mar que é o caso do BARGAÇO, Av. Boa Viagem ns 670,
COSTA BRAVA, na Rua Barão de Souza Leão ns698 ou de
cozinha internacional como o "AQUARIUS" na Rua dos
Navegantes na157 , o "LE BUFFET", na Rua do Hospício
n s 147/149 e o LE FONDUE na Av. Cons. Aguiar ns3.500 e
outros de cozinha Italiana, Portuguesa, Japonesa e regional
como "CASA DE PEDRA" na Av. Boa Viagem, 4.520,
DANADO DE BOM, na Rua José Lopes e CASA MARINA
na Av. Cons. Aguiar e o:

SHOPPING CENTER RECIFE

Em 7 de outubro de 1980, na presença do Governador


do Estado e futuro Vice-Presidente da República Marco
Maciel, foi inaugurado o Shopping Center Recife, um projeto
pioneiro em todo o norte/nordeste brasileiro e que depois
de várias ampliações é um dos maiores da América Latina,

270
Carlos Bezerra Cavalcanti

com mais de 460 lojas satélites, 6 lojas âncora, 4 praças de


alimentação e cinco mil vagas no estacionamento.

Inauguração do Shopping

Boa Viagem possui excelente infra-estrutura receptiva,


dispondo de grande quantidade de hotéis e restaurantes,
como vimos, e também de inúmeros bares e casas de
"SHOWS", feiras de arte e artesanato, na praça da capela,
agências de viagens, e locadoras de veículos. É uma das
áreas mais desenvolvidas do país, tendo uma população que
supera vários municípios do Estado e a maior arrecadação de
impostos por bairro.
"Seu mar é calmo e convidativo. As piscinas naturais que
aparecem em quase toda extensão proporcionam mergulhos
gostosos e tranqüilos. A areia é alva e fina. A paisagem é de
coqueiros e céu azul. Barracas de coco, iluminação especial para
banhos noturnos, passeios de barcos e jangadas, compõem as
atrações e serviços de uma das mais requisitadas e belas praias
do País" (Guia Turístico Pernambuco Welcome pag. 47)

271
O Recife e seus bairros

SETÚBAL _________ ___


Na antiga localidade de Boa Viagem, estendendo-se para
o lado sul, até Barra de Jangada, existiam alguns entrepostos
de abastecimento aos viajantes, chamados, popularmente de
"VENDAS", uma delas tem seu nome lembrado, até hoje:
"VENDA GRANDE", outra, pertencia ao português Antônio
Fernandes Setúbal, nome da área que é tida por muitos como
um bairro recifense.

COQUE ____________________________ _
Para alguns, "COOK", essa palavra inglesa, que significa
cozinhar, é responsável pela origem do atual nome da
localidade conhecida popularmente como "COQUE".
Na área existiam o Gasômetro, que fornecia gás para os
românticos lampiões, a Estação Central, de onde partiam e
chegavam os trens, e uma Usina Termelétrica, todos usando
o "CARVÃO - COOK" que vinha para o local pelo cais do
Rio Capibaribe ou do "Gasômetro", como era conhecido que,
após ser queimado era jogado nas redondezas, resultando
daí, o nome do bairro. No entanto não devemos aceitar essa
versão como única verdade, existe outra,mais consistente,
que vê como origem da localidade o sobrenome de "Gaspar
Coque", ali estabelecido com uma olaria e terras anexas a ela,
em época bem mais remota.
A área era revestida com vegetação de mangue e
vegetação frutífera (coco, pitanga, manga, existindo, também
no local, bastante cajueiros, como se chamava o local junto do
Hospital Português). _
Com o crescimento da população, a ocupação
desenvolveu-se, livremente, ao longo da linha férrea.
No entanto, segundo informações locais, as primeiras
habitações da área localizavam-se num pequeno Engenho de
propriedade do Barão Correia de Araújo.

272
Carlos Bezerra Cavalcanti

Atualmente, a estrutura da rede urbana apresenta-


se de forma desordenada com ruas tortuosas, becos e
bifurcações. Parte da comunidade foi beneficiada com obras
de urbanização municipal, quando a localidade foi dividida
em 2 setores; sendo servida pelo METROREC através da
Estação Joana Bezerra. Está estrategicamente posicionada, nas
proximidades do Viaduto do mesmo nome, margeada pela
Rua Imperial.

BAIRRO DE MANGUEIRA

Depois do Coque, no sentido leste-oeste, iremos encontrar


a localidade de Mangueira, já próximo ao Campo do Jiquiá.
O arrabalde é servido também pelo METROREC e seu nome
é proveniente, obviamente, da fruta mais conhecida e mais
comum nas terras recifenses, a famosa mangueira.

273
O Recife e seus bairros

BAIRRO DA MUSTARDINHA
Nas terras pertencentes ao Sr. Andrade, próximas à localidade
de IPIRANGA, em Afogados, plantava-se muitas verduras e
hortaliças, destacando-se, entre elas a semente de mostardeira,
que serve de condimento ou como medicamento nervulsivo.
O proprietário dessas terras e seus herdeiros acabaram
p ô r . assimilar o nome MUSTARDA, encontrando-se entre
eles um remanescente que viveu até nossos dias e que era
apelidado de Manuel Mustardinha.
Localizada entre Afogados, Bongi e Novo Prado, a
Mustardinha é um Bairro de habitações modestas, com esgoto
a céu aberto e quase nenhuma rua calçada.
Na via principal, Manuel Gonçalves da Luz, encontra-se
o prédio da antiga Fábrica de Rádio e Televisões ABC, onde
outrora funcionou o Cinema do Bairro, ao lado da Igreja que
invoca N. S. de Pompeia, fundada em 1925 e que passou pôr
sua última reforma em 1982.
Entre os anos 50 e 60, o Bairro vivenciou a típica vida
dos arrabaldes recifenses, onde funcionava o Cinema Aliança,
com suas sessões noturnas e matinês aos domingos, seu salão
de bilhar, seus Clubes de futebol, com os encontros dançantes
nos finais de semana, ao som dos alto-falantes.

274
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DO BONGI

Bem próximo ao Bairro da Mustardinha encontra-se a


localidade conhecida como Bongi. Não temos registro sobre
a origem do nome desse subúrbio, achamos, no entanto, que
a origem da denominação da área está ligada à "MUGIR" de
bois, uma vez que a Estrada Velha do Bongi, era anteriormente
conhecida como Estrada das Boiadas, pôr onde passavam as
manadas que, por sua vez, iam pastar na Hha do Retiro, como
vimos, ao tratar daquela localidade.
Vale salientar, no entanto, que, segundo "Silveira
Bueno" no seu Dicionário-Tupi-Guarani o termo BONGI é
uma corruptela indígena que quer dizer "rio barulhento",
no entanto, para o grande jornalista e historiador Mário
Melo, o termo, que vem originalmente de BONG + Y, quer
dizer, água torta ou rio que faz curva, embora não haja nas
imediações percurso de qualquer rio e sim de pequenos
córregos, o que não invalida a hipótese do mencionado
pesquisador.
O Bongi recebeu mais importância como bairro, a partir
de algumas deliberações dos Governos Federal e Estadual,
como a instalação, em suas proximidades, da Sub-Estação da
Companhia Hidrelétrica do São Frandsco-CHESF, encarregada
do fornecimento de energia elétrica para todo o Nordeste,
inaugurada em 15 de janeiro de 1955, no munidpio baiano
de Paulo Afonso que, por sua vez, tem, em seu nome, uma
homenagem ao sertanista Paulo Viveiros Afonso, estabeleddo
naquela região com uma fazenda de gado entre os séculos XVI
e XVn, a construção da Vila dos Ofidais da Polida Militar, do
Regimento Misto Dias Cardoso, na Av. General San Martin que
ali se instalou em 16 de Outubro de 1965, vindo da Exposição
de Animais no Cordeiro e do l s Batalhão de Trânsito que teve
suas obras inidadas em 1983, possuindo 3.151 m2 de área
construída. Os trabalhos de construção dvil ficaram a cargo

275
O Recife e seus bairros

dos artífices da própria Corporação, sob o comando do Cap.


PM Engenheiro Paulo Morais.
Ao lado direito do Quartel do Regimento Dias Cardoso
temos as espaçosas instalações da Empresa Pernambucana de
Pesquisa Agropecuária -IPA cujo nome oficial ao ser criada
em 12 de março de 1935 e inaugurado em 7 de Setembro do
mesmo ano, era Instituto de Pesquisas Agronômicas.
Teve como primeiro Presidente o Dr. Álvaro Barcelos
Fagundes, sendo Secretário de Agricultura o Dr. Paulo
Carneiro, na gestão do Interventor Carlos de Lima Cavalcanti.

276
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DE SAN MARTÍN

issa localidade recebeu o nome de seu principal


logradouro. A atual Av. General San Martin, militar argentino
responsável, junto com Simon Bolívar, pela libertação de
grande parte da América Espanhola. A Avenida começa na
Caxangá. Inicialmente aquela artéria estendia-se somente até
o cruzamento da Rua da Lama (Gomes Taborda). No entanto,
um velho ônibus, com uma tabuleta escrita: "San Martin",
aos poucos, foi dando nome por onde passava, em pontos
das localidades do Bongi e de Boa Idéia. Desta forma, aquele
coletivo, ao adentrar os arrabaldes, levava também o nome
daquele herói libertador, batizando, assim, um novo bairro.

2 77
O Recife e seus bairros

BAIRRO DE CASA FORTE

Segundo Flávio Guerra "Velhas Igrejas e Subúrbios


Históricos" Recife, 1970 - pag. 195: "O Velho Engenho
sucessivamente chamado de Jerônimo Gonçalves, Isabel
Gonçalves, mais tarde de Dona Ana Paes, ou também Tourlon,
Nassau, de With é hoje Casa Forte, denominação que lhe foi
dada desde 1645".
A denominação de Casa Forte, portanto, é devido ao
conflito de 17 de Agosto de 1645, quando as dependências
do Engenho foram ocupadas pelas tropas holandesas,
comandadas pôr Henrique Huss e que haviam sido rechaçadas,
há duas semanas, no Monte das Tabocas.
Naquela ocasião o engenho serviu de Fortificação para
os holandeses, uma vez que sua proprietária, Dona Ana Paes,
inicialmente casada com o Capitão Pedro Correia da Silva, que
morreu bravamente em 1630, defendendo o Forte São Jorge,
contraiu matrimônio com o Capitão holandês Guilherme de
With, alto representante da Companhia das índias Ocidentais.
Em 17 de Agosto ( denominação da principal Avenida
daquele Bairro) de 1645 foi deflagrada, naquele Engenho,
uma fragorosa contenda onde, mais uma vez, saiu vitorioso
o Exército Pernambucano, heroicamente comandado pelo
Sargento-mor (Major) Antônio Dias Cardoso.
"A derrota custou aos flamengos, nada menos, que 37
mortos, muitos feridos e 332 prisioneiros, inclusive quase
toda a fina flor da oficialidade flamenga, fato que provocou
uma atemorização entre os invasores, determinando o
arrasamento, pôr eles, das casas do Recife, das árvores do
Parque Maurício, e a retirada, urgente, das tropas dos Fortes
de Sergipe, São Francisco e Porto Calvo e transferência para
garantia da Praça Central do Recife e adjacências.
Até fins de 1693, permaneceu a propriedade de Casa
Forte como patrimônio do Estado Português. Nesse ano,

278
Carlos Bezerra Cavalcanti

a 28 de Novembro, os herdeiros de Guilherme de With,


firmaram em Haia, com o embaixador português, um tratado
de indenização, no sentido de receberem o quanto lhes cabia
como herdeiros do lado paterno da referida propriedade. E no
Brasil voltava ela ao domínio dos remanescentes de Dona Ana
Paes, a esta altura já falecida", (mesmo autor e obra, pag. 194).
O atual bairro de Casa Forte tem sua área limitada pela
avenidas 17 de Agosto e Marechal Rondon estendendo-se até
a Estrada do Encanamento. Seu ponto mais importante e que
lhe serve de referencial, é a Praça da Vitória Régia, localizada
justamente no antigo Largo descampado, onde ocorriam as
festas de Natal e Ano Novo. A Praça, popularmente conhecida
como Praça de Casa Forte, é circundada pôr belas mansões.
No meio, um lago onde se vislumbram algumas espécies
de plantas aquáticas. O Jardim foi projetado pelo Paisagista
Roberto Burle Marx. Nessa praça, precisamente no casarão n.B
454, residiu o Dr. Osvaldo Lima, grande líder político e pai
do Deputado, Acadêmico e Ministro da Agricultura de João
Goulart, Osvaldo Lima Filho.
Já no n.e388 morava o irmão do Dr. Osvaldo, Padre Donino
da Costa Lima cuja residência corresponde à Casa Paroquial
ao lado da qual ele construiu uma Escola que tem seu nome e
onde lecionou por vários anos a dedicada Professora Iracema
(Ceminha) da Costa Lima, sua irmã e que, por sua vez, residia
no n.9 365 daquele logradouro. Já na casa n.B426, foi morador,
por alguns anos, o conceituado Professor Dácio Rabelo.

279
O Recife e seus bairros

Igreja de Casa Forte (foto recente)

O logradouro passou, na primeira metade deste século,


pôr duas importantes reformas, a primeira, na gestão de
Antônio de Góis em 1933 e a segunda, ainda na mesma
década (1937), na Administração de Novais Filho. É nessa
Praça, que há cerca de 20 anos, no mês de Novembro, ocorre
a Festa da Vitória Régia. Nessa oportunidade ela fica toda
iluminada e contornada por barracas onde não faltam os
folguedos e as comidas e bebidas típicas. A festa é realizada
com a participação de religiosos do bairro, do pároco e de
Rotarianos, que têm sua sede naquele logradouro onde
também está situada a:

IGREJA DE CASA FORTE

A primitiva Capela que antecedeu a atual, remonta


da época do próprio Engenho. Com o tempo e a falta do
merecido esmero, foi, aos poucos, caindo em ruínas, ao ponto

280
Carlos Bezerra Cavalcanti

de necessitar de urgentes reparos, o que veio acontecer em 6


de Novembro de 1672
Em 1810, segundo informações de Flávio Guerra, ob.
dt. "O Padre José Inádo Ribeiro de Abreu e Lima- O célebre
Padre Roma, da Revolução de 1817, adquiriu a Casa Grande
do Engenho e reformou-a levantando uma aprazível casa de
vivenda que posteriormente abandonada, sendo comprada, em
1907, pelas Irmãs francesas da Congregação da Sagrada Família,
fundada pela Madre Maria de Rolt, que depois de uma grande
reforma, ali instalaram um Colégio para meninas. A capela foi
também abandonada e ficou totalmente em ruínas, em 1865 suas
imagens foram depositadas na Matriz de N.S. da Saúde do Poço
da Panela, até o ano de 1909. Neste ano o Bispo Metropolitano,
D. Raimundo da Silva Brito, determinou que se procedesse a
restauração do templo, sendo ele sagrado em outubro de 1911,
depois de reparado, como Igreja Matriz da Paróquia da Casa
Forte e sob a invocação do Sagrado Coração de Jesus
O templo atual, em estilo gótico, representa uma das mais belas
e importantes igrejas de bairro do Recife. O projeto arquitetônico é
de autoria do arquiteto pernambucano Rodolfo lima.

VILA SECULAR

"Na Estrada das Ubaias, uma simpática vila, habitada por


uma única família, chama a atenção de visitantes. A história
do Conjunto Residencial Osvaldo Figueiredo teve início há
uns cem anos, quando o ourives Isidoro Figueiredo comprou
dez mil metros quadrados de terra. "Ele morava no casarão,
que ainda existe. Depois, construiu no quintal uma casa para
cada um dos 13 filhos", diz Clóvis Figueiredo, neto de Isidoro
e filho de Osvaldo. O casarão fica na entrada da vila, protegida
por um portão que cria um condomínio particular. "O lugar é
muito agradável, ficou mais quente depois da construção de
um prédio na parte de trás, mas não temos queixas". (JC de 9
de março de 2008)

281
O Recife e seus bairros

CLUBE ALEMÃO

Até pouco antes da entrada do Brasil na II Guerra


Mundial (1943), o Clube Alemão de Pernambuco (Deutsche
Klub Pernambuco) estava localizado na casa na 30 da Rua
Visconde de Irajá, na Torre.(quase na cabeceira da ponte)
Com as depredações e perseguições de brasileiros a
tudo que representasse os países do Eixo no segundo conflito
universal (Alemanha, Itália e Japão), esse clube foi forçado a
fechar suas portas.
Com o passar dos tempos e dos efeitos daqueles combates,
os germânicos puderam, então, reabrir o seu aprazível clube
social, desta feita, próximo ao bucólico Bairro de Casa Forte.
Nos dias de hoje, portanto, alemães e alguns privilegiados
brasileiros podem usufruir de suas instalações, numa bela
área situada na Estrada do Encanamento.

282
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DO POÇO DA PANELA

Quem hoje visitar o bairro do Poço da Panela, com seus


casarões sombrios suas ruas estreitas, algumas ainda com
calçamentos de pedras rústicas, dificilmente poderá avaliar
o que representava o antigo arrabalde, para a sociedade
recifense, em meados do século XIX até o início do anterior...
A famosa festa do Poço, a mais importante de todas
nos subúrbios, quando a localidade se embandeirada e não
faltavam as bandas de música, as missas, e quermesses . Os
sermões, as barracas, os fogos, as prendas...

283
O Recife e seus bairros

A sua história, é protagonizada, principalmente, pelo Dr.


José Mariano e sua esposa, Dona Olegarinha, também ferrenha
defensora do abolicionismo e que foram responsáveis diretos
por dois fatos relevantes para a história de Pernambuco e do
Brasil. A defesa e acolhida de escravos em sua casa no Poço
que tantas vidas libertou e o nascimento de Olegário Mariano
Carneiro da Cunha o 3S príncipe dos poetas que assim se
refere ao bairro.

POÇO DA PANELA

Num recanto bucólico e sombrio


Onde atenua a marcha o grande rio
À sombra de recurvas ingazeiras
Batem roupas, calejadas, lavadeiras
Trago ainda nos olhos; é bem ela,
A passagem do Poço da Panela
A Igreja, a casa grande, as gameleiras
E ao fundo o pátio verde e as ribanceiras
Que afagavam num lúbrico arrepio
O corpo adolescente e alvo do rio
Do outro lado dos manguezais - capinzais
Da olaria e do sítio dos Morais.

IGREJA DO POÇO DA PANELA

O mesmo Capitão Henrique Martins, proprietário do sítio


e que mandou construir a Capela da Jaqueira foi, também, o
responsável pela construção da Igreja de N.S. da Saúde, no
Poço da Panela, agradecendo as melhoras de sua esposa, dona
Ana Clara, que se encontrava doente. O fato aconteceu em 1770.
"Em 1830 deu-se a instalação da igreja como Matriz do
distrito do Poço da Panela, criada em 31 de julho de 1817,sendo
o seu primeiro vigário o Padre Antônio Francisco Monteiro.

284
Carlos Bezerra Cavalcanti

Em 1840 o Franciscano Frei José de S. Jacinto, então vigário,


reconstruiu o templo, dando-lhe maior proporção e melhor
presença e mais adequada conformação interna, como ainda
hoje a conhecemos". Ib. Idem pag. 220.
Segundo o Padre Antonio Barbosa, ob. cit., "o estilo
arquitetônico dessa igreja é colonial, de estrutura pesada,
como era costume no século XVH[. O interior do templo é
simples, não ostentando a importância do exuberante barroco.
A capela-mor, com altar e sua padroeira,obedece a um estilo
austero e sóbrio. A nave da igreja é modesta e o forro é simples,
pendendo dele um belo lustre de cristal."
A origem do nome "Poço da Panela", segundo Pereira da Costa
em seu Arredores do Recife, pág. 11: deu-se da seguinte forma.
"Ressentia-se a localidade da falta de água potável, cujos
moradores iam buscá-la à distância não pequenas, uns no
Monteiro, outros em Casa Forte, quando, em um dos sítios que
parte do Chacon e segue para o povoado, à margem esquerda,
na curva da mesma estrada, cujos terrenos formam um suave
declive que vai ter ao rio, descobriu-se uma abundante
vertente. Fez-se, então ali, uma escavação, para se formar
um poço regular e no fundo do qual se colocou uma grande
panela de barro e daí chamá-lo o vulgo Poço da Panela, que se
tomou extensivo a toda redondeza.

285
O Recife e seus bairros

BAIRRO DO MONTEIRO

Entre essa localidade e Casa Forte, encontram-se as


terras do antigo Engenho Monteiro, limitavam-se com as
do Engenho Apipucos, Casa Forte e Beberibe e ao sul, com
o rio Capibaribe.
É do nome do último proprietário "Francisco Monteiro
Bezerra" que veio a denominação: Monteiro para a localidade.
Segundo ainda a mesma fonte: "Era na bela e aprazível
povoação do Monteiro, onde o Governador Caetano Pinto de
Miranda Montenegro (1804-1817) costumava passar o verão,
ou a festa, como se diz entre nós, apesar do novo termo;
veranear, vem dessa época uns versos do poeta popular,
vulgarmente conhecido pôr Camões, recitados em uma festa
que ali houve, e a que assistira o referido Governador, dos
quais destacamos estes".

"Uns procuram com dinheiro


a festa que lhe convém
Mas é certo, quem o tem,
Só passa bem no Monteiro"

É hoje nessa localidade que encontramos o :

MUSEU DO HOMEM DO NORDESTE

Originário do antigo Museu do Açúcar, criado ■pôr


resolução do Presidente do Instituto do Açúcar e do Álcool
(I A A) Gomes Maranhão com o objetivo de documentar os
fatos importantes da cultura açucareira do Brasil. Funcionou
inicialmente no Rio de Janeiro, e foi, pôr algum tempo, objeto
de disputa entre São Paulo e Pernambuco. Veio finalmente
para o Recife, tendo em vista, principalmente, a importância

286
Carlos Bezerra Cavalcanti

do Leão do Norte no ciclo econômico do Açúcar, responsável


pelo progresso regional da época e de grande influência,
ainda hoje, na vida econômica Nordestina.
Para o Museu foi construído prédio próprio, amplo,
no qual funcionavam, no térreo, duas salas de exposição
temporária e no primeiro andar, a Biblioteca, a Tipografia, a
Secretaria, o Gabinete do Diretor e a Sala do Conselho.
Segundo Joselice Jucá, o edifício do Museu do Açúcar foi
circundado pôr jardins orientados em sua concepção pelo
Agrônomo Pardono de Andrade Lima. No Jardim interno,
entre as variedades de cana existentes, está o monumento
idealizado pôr Aluísio Magalhães, formado por uma mó vertical
procedente da Vila da Rainha, que remonta do Século XV e a
mó horizontal, do Engenho Camaragibe, em Pernambuco.
As peças do Museu, em grande parte, foram adquiridas
através de compras realizadas no país e no exterior. Destaca-
se, entre elas, um açucareiro de ouro maciço da Birmânia, além
de vários outros objetos testemunhas de épocas passadas,
evidendando detalhes tecnológicos e agrícolas, não apenas do
Nordeste, mas de toda a história do açúcar, no Brasil e no mundo.
Nessa casa cultural podem ser vislumbradas medalhas,
gravuras da época de Nassau e grande quantidade de
fotografias que retratam a oligarquia rural açucareira.
Esse acervo foi enriqueddo com a chegada de várias fotos
do Recife Antigo que pertenceu a valiosa coleção de Benído Dias.
Posteriormente o acervo do museu aumentou ainda mais
com doações de belíssimas peças, realizadas pôr famílias de
usineiros da região.
O Prédio do antigo Museu do Açúcar, hoje Museu do
Homem do Nordeste, está localizado na Avenida 17 de
Agosto, nele podem ser vislumbrados, ainda: o carro de boi,
um arado de pau, a maquete do terminal açucareiro, tapeçaria
de Jovelino, pratos, fruteiras, xícaras, talheres, coador, (Lula,
Fedora, Manuel Bandeira), cerâmica, imagens, azulejos,
bengalas, rótulos de aguardente, móveis e instrumentos para

287
O Recife e seus bairros

castigar escravos. Ao lado direito desse museu, no prédio na


2187 da Avenida 17 de Agosto, está localizado o antigo casarão
que pertenceu a Francisco Ribeiro Pimenta Guimarães, onde
funcionou o Hospital Magiot.
O Bairro do Monteiro, como outros arrabaldes ribeirinhos,
viveu seu apogeu no século passado, fazendo parte, inclusive,
de alguns romances como "A EMPAREDADA DA RUA
NOVA, de Carneiro Vilela- Recife 1984 pag. 305:
"A povoação do Monteiro, naquele ano de 1862, mostrava
o aspecto brilhante de um arrabalde em plena efervescência
de festa. As famílias mais gradas da cidade para ali haviam
mudado a sua residência temporária e enchiam aquelas
paragens com o ruído de suas alegrias, as alegrias dos seus
divertimentos cordiais e repetidos. Primavam entre todas,
a família Cavalcanti e arrastada pôr ela, a de Jaime Novais.
Josefina estimulada pelo exemplo de sua amiga, atirava-se a
todo o pano na vida elegante e ruidòsa que levava a formosa
senhora de Engenho."

288
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DO ESPINHEIRO

A área que corresponde hoje ao bairro do Espinheiro,


era conhecida como Matinha, uma vegetação relativamente
densa onde não faltavam os espinheiros.
Limites: começa no cruzamento da Av. Agamenon
Magalhães com a Av. Norte, segue por esta avenida até o
encontro com a João de Barros por onde deflete à esquerda até
atingir a Conselheiro Portela, seguindo por esta até o encontro
da Rua Santo Elias, onde deflete novamente à esquerda até
atingir a Rua do Espinheiro, deflete à direita seguindo por
esta rua, cruza a Rua Amélia e segue até a Rosa e Silva, deflete
à esquerda ao encontro da Rua da Hora, atingindo a Rua São

289
O Recife e seus bairros

Salvador, daí atinge a Av. Agamenon Magalhães deflete à


esquerda e prossegue por esta avenida até o ponto inicial.
Pôr um anúncio de 17 de Dezembro de 1836, veiculado no
Diário de Pernambuco, em que se vendia um sítio indo pela
Estrada de João de Barros, defronte ao beco do Espinheiro,
com uma pequena casa de taipa, se tem notícia da origem
do nome dessa localidade, primitivamente chamada, como
vimos de Matinha e depois "Beco do Espinheiro". A mesma
dedução também pode ser feita sobre o tempo de existência
desse povoado, notando-se que o mesmo ainda não existia,
nos idos de 1836.
A antiga Estrada, hoje Av. João de Barros, recebeu todo o
apoio e dedicação do ferreiro João de Barros Correia, casado
com uma descendente de Jerônimo de Albuquerque que foi
de grande importância para a localidade, hoje entrecortada
pôr aquele logradouro, que tem seu nome, pôr imposição da
própria comunidade da área.
O Bairro do Espinheiro teve sua valorização em termos
urbanos e residenciais a partir dos loteamentos dos sítios,
bastante freqüentes, nas áreas periféricas do Recife de outrora.
Nas primeiras décadas do sécülo passado, a localidade,
ainda bucólica, representava um dos mais importantes Bairros
Recifenses onde começavam a se multiplicar os casarões da
classe média alta, daquela época.
O médico Rostand Paraiso, foi uma das privilegiadas
pessoas que residiu nesse aprazível bairro e a ele se refere,
em artigo publicado no "Jornal do Commercio", Caminhos
Percorridos (4), da seguinte forma:
"Ginásio Leão XM, no Espinheiro, Av. João de Barros, pôr
onde transitava, na década de 40, o bonito e prateado, Bonde
Zeppelin, que serviu o bairro do Espinheiro e fazia ponto terminal
na esquina da Conselheiro Portela, com a Carneiro Vilela, onde
o motomeiro descia e invertia o sentido da banana, aguardava
alguns minutos e recomeçava o trajeto em linha única até o fim
da Rua da Hora onde, invariavelmente, já se encontrava, à sua

290
Carlos Bezerra Cavalcanti

espera, outro bonde que se revezava com ele no atendimento


à população do elitizado subúrbio. No ponto havia um relógio
na parede, ao qual o motomeiro, sem qualquer pressa, pôr estar
dentro do horário, dava corda, registrando o momento de sua
passagem. Era ali onde a linha de mão única que era, se tomava
dupla e era ainda o motomeiro que usando uma alavanca,
guardada no próprio bonde, deslocava a " agulha" do trilho,
permitindo, assim que o bonde, penetrasse no desvio".
Nesses idos já existia, vindo até início da década de 70, o
Cine Espinheirense, que se localizava na Rua 48, tendo uma
entrada secundária através da Avenida João de Barros.

BAIRRO DA TAMARINEIRA

Notícia veiculada no Diário de Pernambuco de 5 de


Outubro del882, nos dava conta da existência do SÍTIO DA
TAMARINEIRA que começava a lotear suas terras situadas
nas proximidades da atual Estrada Velha de Água Fria.
Foi nessa época que teve início a construção do Hospital
de Alienados, que foi finalmente inaugurado em 10 de Janeiro
de 1887, sendo para ele transferidos os doentes mentais do
Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Olinda.
Os pacientes mais perigosos, no entanto, permaneceram
no hospital olindense.
Aos poucos, o pé de tamarina, nome popular de
tamarindo, foi sendo associado ao local e, também ao hospital
de alienados, dessa forma, Tamarineira, não significava
apenas o bairro localizado entre Espinheiro, Arruda, Aflitos,
e Parnamirim, como também local de alienados; assim,
termos como: "saiu da Tamarineira!" tem o mesmo efeito de
"Pinei", no Rio de Janeiro. No entanto, o belo e aristocrático
bairro, antigamente conhecido como Cruz das Almas", não
representa apenas o Hospital, nele se vislumbram belas
mansões, principalmente, no início da Estrada Velha de Água
Fria, mas vejamos o:

291
O Recife e seus bairros

HOSPITAL PSIQUIÁTRICO DA TAMAJRINEIRA

Pôr volta de 1900, esse Centro Hospitalar, construído em


um terreno de 91 mil metros quadrados, era assim descrito
pôr Barbosa Vianna, no seu Livro, Recife, Capital do estado
de Pernambuco, pags. 105 el07:
"É um edifício moderno com regulares acomodações ao
fim a-que se destina.
Consta de quatro pavilhões, sendo o central com cento e
quarenta e seis metros distante da entrada pública, é destinado
à administração, medindo trinta metros e meio de frente sobre
cinco de fundos.
Na retaguarda fica o pavilhão destinado à cozinha è
cômodos relativos, de um só pavimento, com as mesmas
dimensões do pavilhão principal.
De um para outro pavilhão há um espaço de 620m fechado
pôr pequeno muro e portão de ferro, formando um grande
pátio ajardinado, para recreio dos alienados mais tranqüilos...
...Todo edifício é suprido pôr água encanada e serviços
de esgotos, tendo dependências externas como necrotério,
lavanderia, estábulos, etc.
No último dezembro de 1899 era de 408 o número de
alienados recolhidos de 38 o pessoal do estabelecimento".
Pôr essas considerações é fácil deduzirmos o valor e
a seriedade com que os governos de antigamente tratavam
as pessoas necessitadas de atenção médico-psiquiátrico, em
Pernambuco.
Já a Vila dos Comerciários, neste mesmo bairro^ foi
construída com os recursos do Instituto de Aposentadoria da
Classe ( IAPC) e inaugurada em 1942, com 486 casas.
O Bairro da Tamarineira tem em suas cercanias o Colégio
Rosa Gatomo, Ruas General Abreu e Lima, Prof. José dos Anjos,
Guimarães Peixoto, Hospital Correia Picanço, em homenagem
ao Grande Médico Pernambucano, Patrono da Medicina

292
Carlos Bezerra Cavalcanti

Brasileira, Rua Albino Meira e o Hospital da Tamarineira que,


por sua vez tem em seu nome uma homenagem ao seu grande
mentor, o Médico Ulysses Pernambucano de Mello

BAIRRO DE PONTO DE PARADA

Esse pequeno bairro fica localizado entre Rosarinho,


Arruda e Encruzilhada, seu nome deve-se à Maxambomba da
linha de Beberibe que ali fazia um "PONTO DE PARADA".
A área é entrecortada pela Av. Beberibe e se situa bem
próximo ao Arruda, outra pequena localidade pôr onde passa
o canal do mesmo nome . Teve, durante muitos anos, como
principal ponto de referência, a famosa "Padaria do índio"
que possuía em sua marquise, um silvícola com arco e flecha.

293
0 Recife e seus bairros

BAIRRO DO ARRUDA

O nome é proveniente do antigo comerciante Manuel


Inácio de ARRUDA, estabelecido no local, com uma Mercearia
e que morava em frente à mesma. Esse Bairro tem característica
eminentemente residencial, e possui fortes vínculos com o
SANTA CRUZ FUTEBOL CLUBE que dispõe na área grande
Estádio de Futebol conhecido nacionalmente como "Mundão
do Arruda", além da Sede Social que, juntos se constituem,
no maior patrimônio de um Clube Sódo - Esportivo em
Pernambuco. O time é conhecido como: "Tricolor do Arruda",
sendo o mais popular do estado. Suas cores inicialmente
foram, o preto e o branco, só depois, para diferendar do
Flamengo (pernambucano), adotou, também o vermelho,
possuindo, portanto, as cores dos seus rivais: Náutico e
Esporte, ao mesmo tempo. O símbolo do time é a cobra coral.
As suas dependências são exageradamente denominadas de
REPÚBLICAS INDEPENDENTES DO ARRUDA.

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Carlos Bezerra Cavalcanti

Possui o 3a Estádio de Futebol particular do Brasil. Foi


inaugurado em 4 de junho de 1972, com o jogo sem gols,
contra o Flamengo, nessa ocasião o "mais querido" formou
com: Detinho; Ferreira; Sapatão; Rivaldo e Cabral (Botinha);
Erb e Ludano; Cuíca (Beto), Fernando Santana (Zito), Ramon e
Betinho, Técnico Evaristo Macedo, sendo o árbitro da partida
Sebastião Rufino Ribeiro.
O Santa Cruz instalou-se no Arruda em 1937, num
espaço que era ocupado pelo Centro Esportivo Tabajara.
Sua fundação, no entanto, data de 3 de Fevereiro de 1914,
numa casa da Rua da Mangueira na 2, próxima ao Pátio de
Santa Cruz, no Bairro da Boa Vista, daí a origem de seu
nome. Seu primeiro jogo aconteceu na antiga Campina do
Derby, que venceu de 7x0 e, nesse tempo, era conhecido
como: "Time dos Meninos".

295
O Recife e seus bairros

BAIRRO DE ÁGUA FRIA


No itinerário da Av. Beberibe, existe o lugar denominado
"Água Fria". Alguns moradores da área atribuem a origem
desse nome ao fato de haver existido no local, hoje ocupado
pelo Largo de Água Fria, um menino que vendia cocada, e
fornecia água em uma quartinha, considerada pelos viajantes
da maxambomba, que fazia parada no local, uma água fria,
que amenizava o calor dos dias ensolarados.
No entanto, essa versão não faz sentido, pois temos notícia
do Sítio de Água Fria, já nos idos de 1836, quando os transportes
coletivos ainda nem existiam, muito menos passando pôr essa
localidade; uma vez que a maxambomba só passou a trafegar a
partir de 14 de maio de 1871 e até mesmo os ônibus de Soley ou
seja, as carruagens ou diligências, só começaram a ser usadas
no Redfe, como transporte de linha, em 1841.
O Sítio de Água Fria tem seu nome atrelado ao Riacho
da Água Fria que nasce no Poço da Panela, sendo um dos
afluentes da margem direita do Beberibe e que passa na
localidade denominada, justamente pela temperatura de seu
manancial, de "Água Fria"
Segundo José Antônio Gonsalves de Mello em Um
Mascate e o Recife 2- Ed. 1981, Pag. 46:
"O Padre congregado Inácio da Silva, autor, ao qual
parece, de uma "Notícia que dão os Padres da Congregação
desde sua erecção", escrita em. 1757, refere que o Padre João
Duarte do Sacramento fundando em 1662, um recolhimento
para padres seculares na Ermida de Santo Amaro da Água
Fria, situada nas proximidades de Olinda..." (grifos nossos)
Essa localidade no início do século dezessete, no tempo
dos Flamengos, segundo a mesma fonte, era chamada
"Estância de Leonardo Froés"

296
Carlos Bezerra Cavalcanti

Largo de Água Fria, início ão século passado, venâo-se a


M axam bom ba e um chapéu de sol que existiu no local

BAIRRO DO PORTO DA MADEIRA

Localizado às margens do Beberibe e oriundo de um


pequeno porto madeireiro do início do século passado, Santo
Antônio do Porto da Madeira é hoje um dos bairros do Recife.
Faz limite com Cajueiro, Água Fria, Fundão, Beberibe e com o
Município de Olinda.
Seu principal logradouro é a Ladeira do Sapoti onde
na esquina com a Avenida Beberibe está localizado o Bar/
Restaurante "Cantinho da Dalva" inaugurado em 6 de
agosto de 1955 pelo fã incondicional daquela "estrela" Mário
Francelino. Segundo reportagem de Cleide Alves no JC de 30
de setembro de 2007:" no local desse famoso restaurante, havia
um pequeno museu com fotografias de Dalva de Oliveira,
discos autografados e roupas usadas por aquela artista...
Parte do acervo se perdeu. As fotografias mais antigas
precisam ser restauradas estamos fazendo réplica das roupas,
as originais viraram pano de chão", lamenta Fátima Almeida

297
O Recife e seus bairros

que arrendou o bar. Nos tempos aureos a casa abria as portas


para "shows" de própria D alva, de Pery Ribeiro, seu filho,
de Herivelto Martins, seu ex-esposo, Cauby Peixoto, Alternar
Dutra e outros cantores de fama nacional.
Área do bairro é de litígio entre os Municípios do Recife
e Olinda e tem, entre seus filhos mais ilustres, o Ex-Senador,
Chefe de Polícia e Tabelião, João Inácio Ribeiro Roma que aí
nasceu, em 12 de março de 1912. Costumava dizer: "Nesse
tempo, Porto da Madeira e Beberibe pertenciam a Olinda, de
modo que eu nasci e me registrei como olindense. Deixei de
ser paraibano, nasci em Olinda, mas o lugar onde eu nasci
passou para o Recife, então, hoje, sou como o Arcebispo . de
Olinda e Recife".

BAIRRO DO ALTO JOSÉ DO PINHO


Mais uma vez a criatividade popular vem tentar justificar
o nome uma localidade recifense. Segundo versão do povo,
José do Pinho era um seresteiro que não dispensava o seu
violão (pinho). O nome do bairro, no entanto, se deve ao antigo
proprietário daquela área, o Senhor José do Pinho Borges.

298
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DE AFOGADOS

Um dos poucos redutos que o Recife dispunha para


ajudar Matias de Albuquerque, durante a Invasão Holandesa,
foi construído pelo próprio General, no passo do Rio dos
Afogados, na passagem da ilha de André de Albuquerque,
atual Bairro de São José.
O local era de grande relevância estratégica, uma vez
que, próximo a ele, bifurca o Rio Capibaribe, possibilitando ao
invasor, fácil penetração na região açucareira da Zona da Mata.
Os batavos, preocupados com a importância tática da
localidade, construíram, o FORTE PRÍNCIPE GUILHERME,
cujo nome homenageia o Príncipe de Orange, parente de
Nassau, que reinava, entre os holandeses.
Para dar-lhe acesso a quem vinha das Cinco Pontas, os
batavos construíram mais uma ponte que ficaria conhecida como:

PONTE DOS AFOGADOS

Esta ponte feita sobre o braço do rio Capibaribe,


denominado dos Afogados, servia ao Forte Príncipe Guilherme
e era estratégica por ser o único acesso importante para Zona
da Mata onde se produzia grande quantidade de açúcar.
Foi construída Herman Hegenau, e tinha trinta braças de
comprimento pois esta era a largura do rio entre o dique e o
Forte Guilherme. Ao que tudo indica, foi feita em menos de
cinco meses. Iniciados os trabalhos em 4 de julho de 1644, em 3
de dezembro do mesmo ano estava concluída. Seis anos depois
(1650) foi arrastada por uma grande cheia que estourou o dique.
Logo providenciaram sua recuperação sendo encarregado dos
serviços o major Comelis Beijar e Wonter Faloo. " Nova Ponte
dos Afogados - informa ainda José Antonio Gonsalves de
Mello, em Tempo dos Flamengos, - que deveria medir 120 pés,
foi aumentada pelo construtor, passando a ter 134 pés"

299
O Recife e seus bairros

D. Pedro II, em sua visita a Pernambuco (Novembro de


1859), relata que o mencionado Forte era também chamado
dos Afogados ou do Piranga ( Barro Vermelho), cuja origem
vinha de um lugar assim denominado.
Segundo documento Flamengo de 1637, identificado
pôr Pereira da Costa ( ob. cit. Vol. VII) "constava o Forte de
4 pontas, com outros tantos bastiais e se localizava numa
excelente posição, que assim, não só ocupava o livre trânsito
para a Várzea e toda a terra do interior, como defendia a
passagem da ilha de Santo Antônio, para os Afogados".
O referido documento diz ainda o seguinte sobre o Forte
Príncipe Guilherme ou dos AFOGADOS, como chamavam
nossa gente ( ob. cit.).
"O Forte está situado em uma planície, na sua parte
mais elevada, dominando assim o campo, até onde o canhão
pode alcançar. Para o lado do nordeste, tem fossos fundos
e o solo é mais alto, pelo que o inimigo pode aproximar-
se por meio de aproches. E necessário que esse Forte seja
cercado de uma contra escarpa, pois não sendo assim, falta-
lhe a fortaleza. É construído de uma terra singular que no
verão, quando seca, é tão dura como pedra e no inverno,
como hoje, é mole como argamassa, sulcando-o às águas de
modo que é necessário grande dispêndio para repará-lo e
conservá-lo".
Conforme ainda Pereira da Costa ( ob. cit.) na sua origem
as terras dos Afogados estavam compreendidas na sesmaria
de uma légua de terra doada a Jerônimo de Albuquerque pelo
Donatário Duarte Coelho.
"...no começo do século XVII, contava, já a povoação, com
várias casas de habitação e em meados do mesmo século era
esta a sua feição, de acordo com Loreto Couto, escritor coevo:
___para a parte sul se alargaram os moradores do Recife,
em uma deliciosa planície chamada o lugar dos Afogados (
grifo nosso), a que se vai por uma formosa calçada (estrada
empedrada), que principia aos pés da fortaleza das Cinco

300
Carlos Bezerra Cavalcanti

Pontas, onde fundaram um arraial que se compõe de trezentas


e tantas moradas com uma igreja dedicada ao Espírito Santo e
um recolhimento de donzelas ..."
Na mesma época havia na povoação um curtume de sola,
ou fábrica de atanados, que funcionava já em 1746.
Por provisão régia de 6 de Dezembro de 1817 foi
desmembrada a povoação dos Afogados do termo e jurisdição
da cidade de Olinda, e mando que ficasse pertencente a Vila
do Recife.
A este tempo já era a Igreja de N. S. da Paz capela curada,
vinda dos anos de 1785, quando foi substituída a Irmandade
da sua invocação até que teve o predicamento de Matriz com
a criação da Paróquia, em 1837.
Afogados tem também sua tradição histórica sendo
palco de memoráveis episódios na Guerra dos Mascates, na
Convenção de Beberibe, na Revolução de 30 e na Intentona
Comunista de 1935.
Em sua importante obra "Pemambucanidade" Nilo
Pereira assim se reporta a esse último acontecimento:
___ " Uma página de heroísmo pernambucano foi a
resistência à Intentona Vermelha em 1935. Foi simplesmente
indescritível o heroísmo com que agiu a Polícia Militar de
Pernambuco que honrou as suas tradições lutando de peito
aberto obstinadamente, sobre tudo no Largo da Paz, até a
total rendição dos Revolucionários".
Afogados, no início deste século, como nos diz Pereira
da Costa(ob.dt.)era uma grande e bela povoação de vida
animadíssima e recursos próprios, com duas estações de caminho
de ferro e uma linha de bonde elétrico e com grande população..."
A origem da denominação dessa localidade é a mais
remota entre os arrabaldes recifenses uma vez que, antes
mesmo da presença Duartina em Pernambuco, o colonizador
Pero Vaz Couto, escrevia em seu diário de navegação em 7 de
fevereiro de 1531, que sete homens tinham se afogado na barra
do Recife. Já na época holandesa essa parte do Rio Capibaribe,

301
O Recife e seus bairros

ou dos Cedros, era registrada na cartografia como : "Fluvius


Afogadorum" (Rio dos Afogados).
Énestalocalidadequeseencontraavilapopularmais antiga
do Recife, a Vila de São Miguel,(Liga Mista dos Proprietários),
construída em 1934, por iniciativa no Interventor Carlos de
Lima Cavalcanti. A medida daquele administrador visava
inibir e, em longo prazo, extinguir a mocambaria da capital
pernambucana, proibindo a construção, reconstrução e ate a
licença para consertos de mocambos, uma vez que esse tipo
precário e insalubre de moradia havia se tornado verdadeiras
fontes de renda para pessoas que cobravam aforamento da
terra e de aluguéis de mocambos por elas construídas para
exploração imobiliária. _
Pôr volta de 1797, no Governo de D. Thomas Jose de
Melo, eram concluídas as obras do aterro dos Afogados que
ligava a Campina do Taborda a essa promissora localidade,
próximo a atual Fábrica da Alimonda Irmãos, na cabeceira da
Ponte de Afogados.
B r falar em ponte, em Afogados existe outra muito mais
famosa chamada de MOTOCOLOMBÓ, ligando a localidade ao
Bairro da Imbiribeira. O nome dessa Ponte, segundo informações
verbais, se deve ao fato de se vender no local mocotó e lombo,
modificado depois para MOTOCOLOMBO. Por volta de 1696,
essa ponte, é bom frisar, já era chamada de "Botô Colombo"
A Igreja de N. S. da Paz tem em sua frente um
aprazível Largo que representa a área mais concorrida do
Bairro, nele, ou próximo a ele, até a década de 60, podíamos
assistir as sessões dos Cinemas Central, Capricho, São
Jorge, Eldorado e Pathé.
O famoso "Bola Sete", com cerca de 10 mesas de sinuca e
2 de bilhar, é ainda hoje, uma presença concreta que observa
o movimento comercial e diversional da área.
Duas localidades desse Bairro já foram famosas, em
tempos pretéritos:

302
Carlos Bezerra Cavalcanti

PIRANGA

Conforme Pereira da Costa, em Arredores do Recife


pag. 123, "Piranga era um lugarejo encravado na Povoação
dos Afogados, e situado passando o pontilhão do caminho
de ferro central, a esquerda da Estrada dos Remédios, indo
a povoação pela Praça da Paz e assim muito próximo à
situação em que se via o Forte, à margem direita do rio,
junto a ponte, até onde chegavam as terras da propriedade
de Sebastião de Carvalho".

Existia também na área uma localidade chamada:

REMÉDIOS

A Estrada dos Remédios (Pereira da Costa IBIDEM pag.


125) "Foi construída em 1857. Nela, antigamente, havia, de
certa altura por diante, um caminho estreito, sem regular
alinhamento e de difícil trânsito, porquanto só dava passagem
com a maré vazia, quando secavam os alagadiços e isto mesmo
com algumas dificuldades. A sua extensão é de 2.423 metros
tem três pontes, sendo uma de ferro com lastro de madeira
e três bombas. Esta estrada liga dois importantes centros de
população, Madalena e Afogados..."
A denominação de Remédios, dada a Estrada, vem da
primitiva Capela sob a invocação de N. S. dos Remédios,
que existia na localidade. Foi justamente nessa Estrada que
funcionou a famosa:

303
O Recife e seus bairros

F Á B R IC A D E D IS C O S R O Z E M B L IT

3recisamente em 11 de junho de 1954, era fundada


pelo Empresário José Rozemblit estabelecido com a famosa
"Casa de Discos Bom Gosto" , na Rua da Aurora, ao lado da
Sorveteria Gemba, a primeira fábrica de discos e gravadora
fora do eixo Rio -São Paulo, suas instalações foram os amplos
galpões às margens da Estrada dos Remédios, em Afogados e
chegou a dominar 22% do mercado fonográfico nacional.
Segundo o grande entusiasta da música e do "folk-
lore" Pernambucano Renato Phaelante: "Em 1953, Rosemblit
convidou o Maestro Nelson Ferreira, pedindo-lhe para
selecionar dois frevos dos melhores naipes de compositores
locais, para gravá-los e assim, tomaram-se destaque do
carnaval do ano seguinte quando foram gravadas as
composições "Come e Dorme" (Hino do Náutico) frevo de
m a do próprio Nelson Ferreira e o frevo-canção Boneca, do
maestro José Menezes e do jornalista Aldemar Paiva. Este
último na voz de Claudionor Germano"
Pioneira na fabricação de discos, pela "Etiqueta Mocambo",
dedicava-se aos gêneros tradicionais como samba-enredo,
ciranda, maracatus e, principalmente o frevo, como vimos, e
aos nossos compositores, intérpretes e arranjadores, além de
Nelson e José Menezes como: Capiba, Irmãos Valença, Duda
e Claudionor Germano, entre outros e até cantores nacionais,
entre eles, Nora Ney e Jorge Goulart que gravou a " Cabeleira
do Zezé", sucesso do carnaval de 1964.
Embora de origem russa, Rozemblit (rosa de sangue),
nasceu no Recife e aqui foi o grande empreendedor cultural,
sempre acreditando na música pernambucana e com toda a -.
força e a pujança, a ele, tão peculiares, resistiu, até onde pode
(1983), à cheia de 1975 e à invasão das grandes empresas de
interesses multinacionais.

304
Carlos Bezerra Cavalcanti

Fábrica Rozem blit

Também nessa localidade é digno de destaque o:

CLUBE SARGENTO WOLFF

Uma das mais importantes entidades recreativas de


nossos bairros é o simpático Clube Sargento Wolff, com
desempenho marcante na vida social do Recife, uma vez que
congrega, em seus quadro social, Subtenentes e Sargentos, da
Ativa e da Reserva do Exército, lotados no Grande Recife.
O nome dessa Instituição é uma justa homenagem ao
Sargento Max Wolff Filho, paranaense da Força Expedicionária
Brasileira, nascido em 29 de julho de 1911 e morto em Montese,
na Itália, em 14 de fevereiro de 1945. O Clube dispõe de sede
própria, localizada desde 1957 no Bairro dos Afogados,
ocupando um quarteirão circundado pelas Ruas Sargento
Wolff, Cel. Alfredo Duarte, Joinvile e Pistóia.

305
O Recife e seus bairros

___BAIRRO DO JIQUIÁ______________________

A oeste do Bairro de Afogados, no caminho de Tejipió,


existe uma localidade chamada, antigamente de Passo âe Santa
Cruz áo Jiquiá.
Sua denominação vem de vim riacho do mesmo nome que
passa na localidade sendo, também, uma corruptela indígena
que, neste caso, quer dizer Y-IQUIA, o que entre os índios
significa aproximadamente, cesto ou covo de apanhar peixes
ou aves.
Notícia de Sebastião de Vasconcelos Galvão, no seu
"Dicionário Chorographico Historico e Estatítisco de
Pernambuco — Vol. IH pág. 26, anuncia:
"Em nove de novembro de 1645, dá-se o combate do
engenho Giquiá (sic), na estrada Tegipió (sic) e freguesia de
Afogados. Acolá — apesar da traição de Hoogstracten, que se
vendeu aos holandeses e a quem os chefes dos nossos tinham
entregado o comando de um corpo de 280 estrangeiros, como
ele mercenários, aos serviço da restauração, — são derrotados
os inimigos que se retiram com a perda de 102 homens entre
mortos e feridos."
Segundo a pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco,
Semira Adler Vainsencher, em Revista da Associação
Comercial de Pernambuco, pag. 21:
"A demarcação judicial das terras do Jiquiá — local onde
havia, primeiramente, um engenho de açúcar -— foi procedida
pelo ouvidor Jorge Camelo, no dia 12 de outubro de 1598, e
efetuada em atenção a uma carta de sesmaria, conferida pelos
donatários da capitania, que deduziu o começo daquele feudo
açucareiro em cerca de dois quilômetros de Afogados.
Contudo, existem referências de que o fidalgo madeirense
Francisco Berenguer de Andrade, foi o verdadeiro fundador da
localidade. Em 1639, ele teria tomado parte de um movimento
de rebeldia contra o governo holandês, juntamente com Pedro

306
Carlos Bezerra Cavalcanti

da cunha Andrade (senhor de engenho na Várzea). Felipe Pais


Barreto(senhor do morgado do Cabo) e João Carneiro Maria
(senhor do engenho Ipojuca), entre outros. Antes da invasão
holandesa, Berenguer teria vendido a fábrica de açúcar (e
grande parte de suas terras) a Antônio Fernandes Pessoa,
filho de um abastado colono que possuía, ainda, o engenho
Sibiró, em Ipojuca. Este último conseguira aumentar bastante
o perímetro de sua propriedade, através da anexação, por
meio de compra, das terras de João Gonçalves Carpinteiro e
de Jerônimo Pais (senhor do engenho Casa Forte), assim como
de outras terras que herdara do seu pai.
Devido à importância estratégica do engenho, porém,
local muito disputado durante o período da invasão holandesa,
Antônio Fernandes vê-se obrigado a retirar-se com a família
para Ipojuca, deixando Jiquiá, em 1637, em completo abandono,
ou, como se dizia: de fogo morto. Somente em 1654, com o fim
da guerra contra os holandeses, o engenho pôde ser reparado
dos danos sofridos e ter os seus trabalhos reiniciados.
Na ocasião, é construído um trapiche de embarque
de açúcar, junto à própria foz do rio Jiquiá, para servir de
acostagem de pequenos barcos que traziam mercadorias
para os diversos engenhos e povoações das proximidades.
O trapiche servia de ponto de embarque de açúcar,
madeiras, e outros gêneros de comércio que se destinavam
à praça do Recife. Servia ainda de depósito ou para a
recepção dos gêneros que chegavam de outros engenhos
e povoados das imediações. Um grande cruzeiro de
mármore granítico existia também em frente ao Passo,
bem como um sobrado de vivenda (dos proprietários do
Passo) e várias casa de moradores.
Alguns anos depois, com a morte de Antônio Fernandes
e de sua esposa, a filha deles - Ana de Luís da Silva - herdou
as terras, mas decide vendê-las ao capitão Antônio Borges
Uchoa, o que é feito em uma escritura lavrada no dia 3 de

307
O Recife e seus bairros

março de 1657. a localidade, na época, chamava-se Engenho


de santo Antônio do Jiquiá.
Passados cerca de cinqüenta anos, conforme consta
de uma vistoria judicial feita no ano de 1705, os irmãos
Álvaro e Antônio Barbalho Uchoa aparecem como legítimos
proprietários do engenho, seguindo-se a esse Antônio correia,
capitão mor da vila do Recife. Na ocasião, o engenho Santo
Antônio do Jiquiá pertencia à freguesia da (Várzea ?), sendo
uma moderna fábrica movida por animais.
Outra iniciativa a construção de uma grande armazém
de açúcar (e de outras mercadorias), chamado Passo de Santa
Cruz do Jiquiá, que garantia o abastecimento da população
suburbana, contribuiu para dar uma grande projeção à região,
embora não pertencesse ao proprietário do engenho e das
terras de Jiquiá.
Jiquiá toma-se uma bela e animada povoação, com vários
sítios de cultura, uma importante propriedade rural situada
nas imediações de Afogados, por onde passavam trens e
circulavam bondes elétricos, (início do século XX)
Do Passo, por sua vez, constituído na época como
Vínculo, ou Morgado, a notícia mais antiga que se tem é o
testamento do Padre João de Lima Abreu, falecido em 1697,
que dizia:
Declaro que entre os mais bens que possuo é o maior o Passo
ãe Santa Cruz do Jiquiá,.com todos os seus pertences e logradouros,
com o qual instituo três capelas de missas, as quais se dirão por minha
alma em cada ano e estas dirão meus sobrinhos, filhos de minha irmã
Grada Gomes, etc., etc. (Guerra, 1970, p.203).
Após o falecimento do padre, a propriedade passa á ter
o vínculo de seis administradores, coagidos judicialmente a
prestar contas de suas administrações. O último administrador -
foi Vicente Ferreira de Meira Lima.
O governador Luís do Rego Barreto, no ano de 1819,
objetivando construir uma estrada geral para o centro, até

308
Carlos Bezerra Cavalcanti

Santo Antão - hoje Vitória de Santo Antão -, passando por


Jaboatão, já determinara, inclusive, o aterro da estrada do
Jiquiá. Em 1829, havia uma grande olaria na Cambôa do
Jiquiá, com porto e embarque. Suas terras forneciam o barro
para a fabricação de telhas e tijolos. E uma lagoa de água doce
fornecia a água para os amassadores.
Somando-se a isso, a lei Imperial de 1835, decretando a
extinção dos Vínculos e Morgados, ocorre a distribuição dos
bens e das terras, entre vários co-senhores, e a propriedade decai.
Até o próprio cruzeiro de granito é completamente
abandonado. Por acidente, ele é encontrado em 1868, fora
do seu pedestal e coberto por uma espessa vegetação. Um
dos missionários do povoado, seguido pelo povo, conduz em
procissão o cruzeiro para Afogados. Lá, erguido sobre um
pedestal em frente à Igreja Senhora da Paz, ele permanece até
hoje. Portanto, excetuando-se a fonte documental existente,
esse é o único vestígio palpável da existência de Jiquiá."
Em dias atuais, o local ficou mais conhecido como campo
do Jiquiá, porque na década de 30 recebeu a instalação de uma
torre para a atracação dos dirigíveis, ficando conhecida como:

TORRE DO ZEPPELIN

Atualmente resta a Torre, "uma estrutura piramidal em


treliças de ferro com altura de 19 metros, cujo bico de atracação
alcançava o dobro, graças a uma espiga telescópica que podia
ser alçada" (Fernando Borba, Diário de Pernambuco A-2, 4
de Novembro de 1994). "O local de pouso dos dirigíveis no
Recife era uma planície onde foram montadas as instalações
apropriadas, como uma usina de gás e pavilhão de passageiros
e visitantes, com capacidade para 100 pessoas, dotado de bar,
sala de imprensa, cozinha, refeitório, dormitório de tripulantes,
estação de rádio, etc. O equipamento principal era a Torre de
Atracação, destinada a fixar no solo o dirigível". - "A atual Torre
objeto do tombamento, é a única existente no mundo e veio

309
0 Recife e seus bairros

substituir uma primitiva instalada quatro anos após a primeira,


sendo maior e mais aperfeiçoada".( Mesmo autor, Viagem à
Estética do Tempo) O primeiro pouso do Zeppelin no Brasil,
ocorreu em Pernambuco, em 22 de maio de 1930.

O G raff Zeppelin atracado no Campo do Jiquiá.

O Bairro de Afogados tem como principais artérias


urbanas a Estrada dos Remédios e a Rua São Miguel que nos
leva às antigas fabricas da Souza Cruz e Yolanda, junto da
saudosa Gafieira "PEDRA NO SAPATO".
As festas juninas, carnavalescas e natalinas, no Clube
Motocolombo, no Largo da Paz, os Mercados Públicos, as festas
no Ferroviário Futebol Clube, são ou foram, personagens que
nos deixam os olhos AFOGADOS em lágrimas de saiidade.

310
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DO IPSEP

Vila do IPSEP, ou seja, Vila do Instituto de Pensão dos


Servidores do Estado de Pernambuco, construída na década
de quarenta para os funcionários públicos estaduais na área
localizada entre a Imbiribeira e o Caçote.
Nesse bairro encontram-se várias ruas com nomes de rios
como "Ipojuca", "Maranhão", Tororó", "Tocantins", "Doce",
"Amazonas", "Bonito" e "Jordão, entre outros.

311
O Recife e seus bairros

BAIRRO DA IMBIRIBEIRA

O antigo Sítio da Imbiribeira, já existente no tempo


dos holandeses, foi chamado durante algum tempo de:
"Passagem dos Tocos" e corresponde hoje a um dos grandes
Bairros do Recife, o da Imbiribeira, que se estende da Ponte
Motocolombo, no extremo sul de Afogados, às confrontações
do Pina e Boa Viagem, até a Praça do Aeroporto dos
Guararapes, Vila do IPSEP e Vila da SUDENE.
Foi nesse Bairro ( no antigo Sítio da Fazenda) que,
pôr determinação do General de Ferro, Floriano Peixoto,
se verificaram as execuções de marinheiros envolvidos no
episódio do final do século XIX que ficou conhecido na História
do Brasil como "Revolta da Armada", mais precisamente,
num paiol que fora convenientemente construído e fechado
em contorno por alta muralha de alvenaria e que tinha no
centro do terreno a casa da guarda, com outra anexa para a
residência do oficial comandante. A propriedàde dispunha,
ainda, de uma cacimba, pomar, horta e um grande capinzal.
As sentenças foram realizadas na manhã de 22 de
Novembro de 1893, sendo vítimas cinco marujos do Cruzador
Paraíba, ancorado do Porto do Recife.
Na madrugada do dia 14 de Janeiro de 1894, também no
pátio desse paiol, era sumariamente executado o Sargento do
Exército Silvino de Macedo.
Anos depois, segundo Pereira da Costa "Anais
Pernambucanos vol. IV, pág.331, foram piedosamente exumados
os despojos das vítimas daquelas duas execuções capitais e
depositadas em um Mausoléu na Igreja Matriz dos Afogados...".
"Sobre a lâmina de mármore que sela o depósito vê- --
se gravada essa inscrição: "Jazigo perpétuo dos Fuzileiros
da Imbiribeira Guardião Manoel Pacheco; João Batista de
Oliveira, Eusébio Athanásio, Américo Virgílio. Inácio Antônio
Quaté (16 anos) Pernambuco. Ex-Sargento Silvino Macedo-14

312
Carlos Bezerra Cavalcanti

de Janeiro de 1894 - Direito do Coração - Exhumados do


Campo de Imbiribeira por autorização do Ministro da Guerra.
11-01-1901. O nome da localidade Imbiribeira é proveniente
de uma espécie botânica de grande porte, chamada Embira da
família das Myrtáceas que fornece ripas para as cobertas das
casas e que era abundante na região assim chamada desde os
primórdios de seu surgimento.
O vocábulo Imbiribeira, segundo Pereira da Costa, ( ob.
e vol. cits.) e de origem indígena "encontramos que vem de
Eimbir rasgar, lascar, e Yo, madeira, que perfeitamente se
harmoniza com a extração das ripas tiradas do seu lenho,
lascado em tiras, como escreve Almeida Pinto, descrevendo
a planta".
O Bairro atualmente é entrecortado pela Av. Mascarenhas
de Morais, que homenageia o comandante da FEB Força
Expedicionária Brasileira, na II Guerra Mundial.
No local pode ser admirada a beleza da única lagoa
natural do Recife, chamada de:

LAGOA DO ARACÁ 3

Na primeira metade do século XVII, na época do


domínio holandês em Pernambuco (1630/54), essa lagoa já era
registrada na cartografia flamenga com o nome de "Lagoa do
Pilar" e fazia parte do então chamado "Sítio do Araçá".
Em homenagem à história dessa localidade a lagoa
acabou recebendo a denominação do antigo sítio e tem em
seu contorno o Loteamento N.S. do Pilar que abrange uma
área total de 12 hectares e limita-se ao Norte e Oeste com
o Rio Tejipió, que alimenta a Lagoa, à Leste com a Estrada
da Imbiribeira (ou Av. Mascarenhas de Morais) e com o Rio
Jordão e, ao Sul, com uma área alagada que dispões de um
pequeno resquício de Mata Atlântica.
Em dezessete de Dezembro de 1994, o então Prefeito
do Recife, Jarbas Vasconcelos inaugurou o Parque Ecológico

313
O Recife e seus bairros

Lagoa do Araçá, com a urbanização e paisagismo dessa


lagoa, posteriormente, novos melhoramentos vieram: dois
parques infantis, um mini-campo de futebol, uma quadra
poli-esportiva, área de jogos de mesa, pista de skate, local
para prática de ginástica ao ar livre, pista de Cooper, dois
mirantes, quatro quiosques, um núcleo de Segurança Pública
da Polícia Militar.
O projeto do Parque é de responsabilidade dos
Arquitetos Adolfo Jorge Cordeiro e Ana Amélia de Oliveira
e da paisagista Fátima Farias. Mas, tuna coisa é certa: se esse
parque pudesse falar, estaria agradecendo, em alto e bom tom,
aos seus principais benfeitores: Maria de Lourdes Tenório,
Alexandre Mauromates, Nair Luzia e Maria Nogueira ( em
memória), Benedito da Costa Lima, Bruno Fittipaldi, Eudoro
Pires, João Costa Brito, Maria das Dores Ribeiro Lins, Marva
Rodrigues Silva, Quiterinha Galvão Lima Menelau, Regina
Maria Figueiredo Travassos, Reinaldo de Oliveira Tenório
Júnior e Vera Lúcia de Castro.

Panoram a da Lagoa

GERALDÃO

Com uma partida de FUTSAL entre o Náutico e o


Fluminense do Rio de Janeiro, realizada em 12 de novembro
de 1970, o Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães abria

314
Carlos Bezerra Cavalcanti

oficialmente seus portões para o público. Era o início de


uma era hegemônica do esporte amador em nosso estado,
quando Pernambuco, após ser campeão brasileiro de
voleibol masculino e feminino na modalidade infantil,
em 1971, repetiu o feito, agora na modalidade Juvenil,
com as meninas (Nara, Marilda e Ignácia, entre outras)
posteriormente convocadas para a Seleção Nacional, pelo
técnico pernambucano Ednilton Vasconcelos.
O moderno ginásio construído na Estrada da Imbiribeira
foi entregue para a população recifense pelo então Prefeito
(1969/70) Geraldo Magalhães, de quem herdou o nome.
Durante os seus 37 anos de existência foi testemunha
de muitos episódios e eventos de grande relevância no
cenário esportivo e diversional como Campeonatos Mundiais
de Basquete, de Voleibol e de Futebol de Salão, além de
espetáculos como o "Holiday On Ice" e o "Balé Bolshoi", entre
muitos outros.
Nos dias de hoje, o Geraldão não vive seus melhores
momentos, nem Pernambuco, suas belas campanhas, porém
como um lampejo de esperança, depois de um grande
marasmo esportivo, conseguiu ser (2007) Campeão Brasileiro
(invicto) de Futebol de Salão, Subl7, graças ao competente
time dirigido pelo jovem e promissor técnico Vanildo Neto.

O G era ld ã o

315
O Recife e seus bairros

BAIRRO DE AREIAS
Limita-se com os Bairros da Estância, do Caçote, do
LPSEP, da Imbiribeira, do Barro, de Jardim São Paulo e das
Vilas Tamandaré, e Cardeal Silva. Nesse bairro está localizado
o maior complexo habitacional da America Latina, trata-se do
Conjunto Residencial Inez Andreazza, com vinte e três blocos
e cerca de 2.464 apartamentos.
Areias tem seu nome devido ao terreno arenoso em que
foi edificada a Vila das Lavadeiras, no Governo de Agamenon
Magalhães(1941). É nesse Bairro que funcionou a Fábrica da
Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro (SANBRA).
Servido pôr linha do METROREC, tendo, inclusive, uma
importante estação desse moderno transporte, a Estação
Wemeck. O nome dessa Estação, no entanto, nada tem a
ver com o Bairro, uma vez que homenageia o Engenheiro
Ferroviário Edgar Wemeck.

BAIRRO DA ESTÂNCIA________________ _
Originário de uma propriedade rural, Engenho Estância,
a localidade corresponde, hoje, a um dos 94 bairros do Recife
e tem como padroeira a Protetora dos cegos, Santa Luzia. Os
primeiros investidores da área que construíram 200 casas
foram os senhores José Augusto Alves de Paula e André de
Melo, posteriormente homenageado com o seu nome ém.uma
das ruas do local.

316
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DE JARDIM SÃO PAULO

A denominação desse bairro é proveniente do antigo


engenho São Paulo, construído por volta de 1554 pelo
português Francisco Carvalho de Andrade, casado com Dona
Maria Tavares Guardez.
Esse engenho foi um dos primeiros a funcionar em
Pernambuco, onde eram também fabricados artefatos e armas
de guerra, foices, machado, chuchos e paus tostados usados
no combate aos holandeses, principalmente nos Montes das
Tabocas. Em suas terras, em dias mais recentes, foi criado
o Loteamento Jardim São Paulo, que, finalmente, batizou o
bairro. V

BAIRRO DO CAÇOTE

Localizado entre os atuais bairros de Areias e IPSEP, a


antiga propriedade do " Caçote", ou uma parte dela, chamada
" Caçotinho", pertenceu ao comendador Francisco Queiroz
de Oliveira. O nome caçote, no entanto, é proveniente de
um espécie de sapo, encontrado, freqüentemente, em áreas
alagadas e em volta de poços ou cacimbas.
Por pitoresca e oportuna, transcrevemos, abaixo, uma
poesia do poeta paraibano, o sertanejo Zé da Luz:

A CACIMBA
Tais vendo aquela cacimba
Lá na beira do riacho
Em riba da ribanceira
Que fica assim por debaixo
De um pé de tamarineira ?
Pois um magote de moça
Quase toda manhãzinha
Forma assim aquela tuia

317
O Recife e seus bairros

Na beirada cacimbinha
Pra tomar banho de cuia

Eu não sei por que razão


As águas dessa nascente,
As águas que ali se vê
Tem um gostinho diferente,
Das águas de se bebê

As águas da cacimbinha
Tem um gostinho mais mió
Nem é salgada nem insossa
Tem o gostinho do suó
Dos suvaco dessas moça

Quando eu subo na cacimbinha


Que espiu a minha cara
E a cara tomo a espiá
Desejo, pra que negá ?

Desejo sê um CAÇOTE,
Com os olhos desse tamanho
Pra vê aquele magote
De moça tomando banho.
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DO BARRO

Assim como o Bairro de Areias teve seu nome originado


do solo de seu território, a localidade do Barro deve sua
denominação ao " Barro" vermelho, nela existente. Segundo
Pereira da Costa (Arredores do Recife, pag. 41): em 1839,
habitantes desse lugar, então constituído por um simples
quarteirão, edificaram uma pequena casa de taipa e nela
colocaram uma imagem de N.S. da Conceição e, já no natal
daquele ano, o Padre José Antônio da Silva, celebrava, na
capelinha a primeira missa da localidade.
Em 1851, o cidadão Antonio Correia Maia, ajudado
por moradores da área, passou a construir, em alvenaria,
num terreno doado pelo senhor Manoel Joaquim do Rego

319
O Recife e seus bairros

Albuquerque a atual igreja do bairro, que teve sua sacristia,


inaugurada em 1869.
A Freguesia da Conceição do Barro foi criada pelo
arcebispo Dom. Sebastião Leme, em 1915, sendo desmembrada
de Afogados, a quem pertencia. n
O povoado do Barro, inicialmente Barro Vermelho ,
situado à margem da Estrada Central da Vitória e Gravata,
vem daquela época com a construção do primeiro lance
da referida estrada, que teve começo em 1836, a partir da
povoação dos Afogados, terminando em Areias. Pertencia,
então a povoação a paróquia dos Afogados, cuja sede fica a
cinco quilômetros ao sul.
... As terras da povoação do Barro pertenciam ao Engenho
Peres, proximamente situado, e que era de propriedade do
Coronel Manuel Joaquim do Rego Albuquerque, doador o
terreno da igreja, como vimos.
Extinto aquele Engenho, desde muito, ficou a grande zona
da fábrica encravada em uma povoação denominada Peres,
situada, assim, entre a do Barro aquém, e a de Tejipió, alem.
O Engenho Peres foi fundado em fins do seculo XV1L por
José PERES Campeio, fidalgo português, tronco da família
dos seus apelidos, vindo daí a denominação da fabrica
mantida pela povoação". ,
Foi na localidade do Barro que os Judeus, através do
Centro Israelita de Pernambuco, construíram o seu cemiteno,
fundado em 5 de abrÜ de 1927 e inaugurado em 2 de junho do
mesmo ano.

320
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DO CORDEIRO

Na área existiu o Forte do Arraial Novo do Bom Jesus,


símbolo da resistência e epicentro das tropas vitoriosas nas
memoráveis Batalhas de 1648 e 1649, nos Montes dos Guararapes,
pôr ocasião da Insurreição Pernambucana, que culminou com a
rendição dos invasores, em 27 de Janeiro de 1654.
No local do Forte o Instituto Arqueológico Histórico e
Geográfico Pernambucano (I A H G P) mandou erguer um
monumento com uma cruz, em homenagem a esse reduto e
seus heróis, ficando o local conhecido como "cruzeiro do forte".
Segundo Pereira da Costa no seu " Arredores do
Recife", em 20 de Agosto de 1616 houve a nomeação régia
do Coronel Ambrósio Machado para o cargo de Capitão Mor
do Rio Grande do Norte, que o desempenhou até meados
de 1619 em face da nomeação do seu substituto Bernardo da
Mota, a três de março. Dos atos de seu Governo nada consta.
Ambrósio Machado era naturalmente, possuidor de
um grande trato de terra situado no extremo sul da ilha de
Antônio Vaz, ou Santo Antônio, nas vizinhanças da Campina
do Taborda, em frente ao Forte das Cinco Pontas e onde havia
uns poços de que se proviam d'água moradores do povoado,
chamados cacimbas do Ambrósio e que existiram até nossos
dias, no sítio chamado de Bairro Baixo e que desapareceram
com a construção do grande prédio da antiga Fábrica Caxias,
fronteira ao citado forte.
Do engenho de Ambrósio Machado, que abandonado
pelo seu proprietário, caiu em ruínas, se fazia a travessia
do rio de um lado, sendo então conhecido o passo por onde
se praticava, por passagem de Ambrósio Machado e o da
margem oposta por passagem de Jerônimo Paes, do nome
do Senhor de Engenho de Casa Forte.
Confiscado o engenho de Ambrósio Machado pelos
holandeses e vendido a um particular da sua gente; dada a

321
O Recife e seus bairros

Albuquerque a atual igreja do bairro, que teve sua sacristia,


inaugurada em 1869.
A Freguesia da Conceição do Barro foi criada pelo
arcebispo Dom. Sebastião Leme, em 1915, sendo desmembrada
de Afogados, a quem pertencia.
O povoado do Barro, inicialmente "Barro Vermelho",
situado à margem da Estrada Central da Vitória e Gravatá,
vem daquela época com a construção do primeiro lance
da referida estrada, que teve começo em 1836, a partir da
povoação dos Afogados, terminando em Areias. Pertencia,
então a povoação a paróquia dos Afogados, cuja sede fica a
cinco quilômetros ao sul.
... As terras da povoação do Barro pertenciam ao Engenho
Peres, proximamente situado, e que era de propriedade do
Coronel Manuel Joaquim do Rego Albuquerque, doador do
terreno da igreja, como vimos.
Extinto aquele Engenho, desde muito, ficou a grande zona
da fábrica encravada em uma povoação denominada Peres,
situada, assim, entre a do Barro aquém, e a de Tejipió, além.
O Engenho Peres foi fundado em fins do século XVH por
José PERES Campeio, fidalgo português, tronco da família
dos seus apelidos, vindo daí a denominação da fabrica
mantida pela povoação".
Foi na localidade do Barro que os Judeus, através do
Centro Israelita de Pernambuco, construíram o seu cemitério,
fundado em 5 de abril de 1927 e inaugurado em 2 de junho do
mesmo ano.

320
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DO CORDEIRO

Na área existiu o Forte do Arraial Novo do Bom Jesus,


símbolo da resistênda e epicentro das tropas vitoriosas nas
memoráveis Batalhas de 1648 e 1649, nos Montes dos Guararapes,
pôr ocasião da Insurreição Pernambucana, que culminou com a
rendição dos invasores, em 27 de Janeiro de 1654.
No local do Forte o Instituto Arqueológico Histórico e
Geográfico Pernambucano (I A H G P) mandou erguer um
monumento com uma cruz, em homenagem a esse reduto e
seus heróis, ficando o local conheddo como "cruzeiro do forte".
Segundo Pereira da Costa no seu " Arredores do
Recife", em 20 de Agosto de 1616 houve a nomeação régia
do Coronel Ambrósio Machado para o cargo de Capitão Mor
do Rio Grande do Norte, que o desempenhou até meados
de 1619 em face da nomeação do seu substituto Bernardo da
Mota, a três de março. Dos atos de seu Governo nada consta.
Ambrósio Machado era naturalmente, possuidor de
um grande trato de terra situado no extremo sul da ilha de
Antônio Vaz, ou Santo Antônio, nas vizinhanças da Campina
do Taborda, em frente ao Forte das Cinco Pontas e onde havia
uns poços de que se proviam d'água moradores do povoado,
chamados cacimbas do Ambrósio e que existiram até nossos
dias, no sítio chamado de Bairro Baixo e que desapareceram
com a construção do grande prédio da antiga Fábrica Caxias,
fronteira ao citado forte.
Do engenho de Ambrósio Machado, que abandonado
pelo seu proprietário, caiu em ruínas, se fazia a travessia
do rio de um lado, sendo então conhecido o passo por onde
se praticava, por passagem de Ambrósio Machado e o da
margem oposta por passagem de Jerônimo Paes, do nome
do Senhor de Engenho de Casa Forte.
Confiscado o engenho de Ambrósio Machado pelos
holandeses e vendido a um particular da sua gente; dada a

321
O Recife e seus bairros

restauração de Pernambuco, em 1654, foi incorporado aos


bens da Coroa, pela Fazenda Real e de fogo morto como
ficou o Engenho, foi uma parte de suas terras adquirida pelo
Capitão João Cordeiro Mendanha, que militou na Guerra da
Restauração, desde seu início, como ajudante de ordens do
Chefe João Fernandes Vieira e no qual fundou ele um grande
partido de cana. .
Tempos depois, segundo a mesma fonte, toi _a
propriedade arrematada em hasta pública pelo Capitão
José Camelo Pessoa, Senhor do Engenho Monteiro e a qual
constava então, não só do aludido partido de cana, como
de mais dois sítios, que em outros tempos pertenceram a
Dona Isabel Cardoso e ao Capitão João Nuries Vitória, que
militava na Guerra contra os holandeses o que tudo consta
da respectiva escritura lavrada a 16 de Novembro de 1707,
ficando assim essas terras do extinto Engenho Ambrósio
Machado incorporadas às do Monteiro, até que em fins do
século XVII, obtendo-as Sotero de Castro, por compra feita
aos proprietários do referido engenho, fundou um outro a que
deu o nome de Cordeiro em homenagem ao citado Capitão
e também agricultor João Cordeiro Mendanha , e como já
então era conhecida a localidade. Decorre também daí o
nome de passagem do Cordeiro, a que primitivamente tinha
o do originário proprietário "AMBRÓSIO MACHADO".
A localidade, que constitui hoje um Bairro bastante
aprazível, mantém o tradicional nome de CORDEIRO .
Possuindo os limites que se ve na planta.
A Igreja da paróquia atualmente Matriz do Cordeiro,
invoca São Sebastião e foi fundada em 1900. Está localizada
próximo ao início da Av. General San Martin, às margens da
Av. Caxangá (maior reta urbana do Brasil), onde tambem
encontramos a:

322
Carlos Bezerra Cavalcanti

EXPOSIÇÃO DE ANIMAIS

Toda a área desse parque e adjacências pertenceu ao


empresário Cláudio Brotherwood, homenageado com o
nome da rua que liga o Cordeiro aos Torrões. O nome oficial
do Parque é Professor Antônio Coelho, ficou conhecido
como Parque de Exposição de Animais, pôr sediar, durante
mais de 50 anos, a tradicional Festa de Exposição de Animais
e Produtos Derivados, conhecida, popularmente, como
Exposição do Cordeiro. Nela são expostos os melhores
exemplares de gado da região nordestina, além de máquinas
e implementos agrícolas.
A festa se prolonga por quase 10 dias no final de
Novembro, dispondo de shows artísticos, com músicas
regionais, comidas típicas, bebidas, vaquejada e outras
atrações do folclore da Região.
Na imensa área ocupada pelo Parque com
aproximadamente 12 hectares, funciona a sede da Secretaria
de Agricultura. Durante outros meses do ano são realizadas
outras festas no recinto, como a Feira dos Municípios,
Exposições de Cavalos Manga Larga e Campolina, além
de outros eventos invariavelmente ligados à bucólica vida
sertaneja.
Os Bovinos e os Eqüinos são lembrados, através de
esculturas em alguns pontos do Parque, um belo monumento
ao Zebu e outro ao cavalo "Mossoró" (o primeiro campeão
do Grande Prêmio Brasil, oriundo do Haras Maranguape,
em Paulista.).
No Bairro do Cordeiro, em frente ao Pátio do Mercado
(feira livre), foi edificado o:

323
O Recife e seus bairros

HOSPITAL GETÚLIO VARGAS_______________ _

Conhecido inicialmente como hospital do IAPTEC, está


localizado no inicio da Av. General San Martin . Funciona
atualmente como vim dos Hospitais de Emergência do Recüe.
Sua construcão foi iniciada no Governo do Presidente Eurico
Gaspar Dutra e concluída no seguinte, ou seja na segunda
gestão de Getulio Vargas de quem herdou o nome.
Vivendairios,nesseBairro,boa parte danossa inesquecível
juventude, motivos pelo qual, os tempos pretéritos nos deixam
muitas saudades. Os cinemas "Cordeiro", próximo ao antigo
Beco do Correio e o "Brasil" , quase defronte à Exposição de
Animais, ambos na Av. Caxangá.
No calçamento da Rua D. José Pereira Alves, Rua da
Pradnha" (a única calçada do Bairro, nos idos de 1962), pôr
isso mesmo apelidada de "Rua Calçada" existiam as peladas de
futebol com bolas de borracha "arranca unha ,_no trecho entre
as casas de dois Ludanos, Gaguinho e Tarzan coinddentemente,
residêndas de dois Desembargadores, Drs. Artur e Adauto.
Nessas partidas de futebol sobre os paralelepípedos da rua, os
carros, ao transitarem naquele trecho, tinham o efeito de uma
máquina fotográfica, pois nas suas passagens, os peladeiros,
como era de praxe, tinham que ficar imóveis, nas mesmas
posições em que se encontravam, como nas brincadeiras de
"MANDRACK", pois, não sendo assim, alguns se benefidavam
com a situação, avançando, matreiramente, para o gol, (pena
esses tempos também não terem parado). ^
Na Pradnha da Rua "Calçada", também se jogava
futebol, com um detalhe, que a barra não ficava de frente
para o goleiro, que nesse caso nem existia, porém de lado,
entre o poste e uma árvore, já na beira da rua. No centro do
improvisado campo, existe ainda hoje, como testemunha
tangível, uma palmeira, muitas vezes, involuntariamente,
trombada pelos peladeiros menos atentos.

324
Carlos Bezerra Cavalcanti

Nessa rua e na sua paralela, (Francisco Vita) moravam


conhecidos jornalistas e célebres intelectuais como: Cláudio
Tavares,Mauro Mota, Reinaldo Câmara pai de dois desses
peladeiros (Ricardo e Roberto); Paulo França Pereira, (genitor de
Sílvio e Saulo); Vanildo Bezerra Cavalcanti, do qual descendo,
juntamente com meus irmãos Antônio, Alice, Marilda, Aroldo
e Vanildinho, os dois últimos, também peladeiros.
Na Travessa Firmino de Barros, onde, naquele tempo,
terminava a Rua Pais Cabral, residia o seu "Xando",
funcionário do Departamento de Produção Animal, pai do
Dr. José Muniz Tavares, atual Procurador Geral da Justiça e de
Ednaldo Tavares o (moçada dos bastidores da Rede Globo).
Em Dezembro, anualmente, no Shambaril do Daniel, na
Av. Caxangá, esses cordeirenses promovem uma reunião de
confraternização com outros companheiros daquela época
como: Hélio Coutinho (bolinha), os irmãos Júnior, Marcelo
(banana) e Carlos Lago, Canhoto, ex-craque do Santa Cruz,
Zé Batista, (Peru), Chico Negromonte (palavrada) e seus
irmãos João e Mário (chorão), Deputado Federal pela Bahia,
Enilson, Carlos (oncinha), João do Osso, Jayme, Anderson,
Wilhams, Anderson Balila, Catedrático da UFPe e Edinilton
Vasconcelos, consagrado técnico de voleibol feminino e
muitos outros, jovens cinqüentões.
O grupo é chamado de "Turma da Pradnha", cujo lema
é: EU ERA FELIZ E SABIA.
Era justamente nas proximidades do atual Bar de Vado,
antiga Mão de Vaca, quando a Av. Caxangá dispunha apenas
de uma faixa de rolamento e, portanto, de mais espaço para
a Festa de rua, que funcionava a parte externa da Exposição
e que começava uma semana antes da interna e onde não
faltavam, as paqueras, (responsáveis por "irresponsáveis"
e descomprometidos namoros, alguns transformados em
casamentos), ao som de "A Namorada que Sonhei" ou de "Essa
Noite eu Queria que o Mundo Acabasse", a Roda Gigante,
as Barracas de Cachorro Quente, os Bares desmontáveis, as

325
O Recife e seus bairros

Roletas, os Tiro ao Alvo e outros atrativos que aumentavam


nas saídas das sessões do Cine Brasil. Também no Cordeiro, na
área mais próxima do bairro da Iputinga, situa-se a localidade
conhecida como BOM PASTOR: com uma praça onde se pode
praticar caminhadas, e o Presídio do Bom Pastor que deu o
nome a área do bairro. Esse presídio serve de cárcere feminino,
sendo dirigido pôr religiosas, embora faça parte da SUSIPE -
Superintendência do Sistema Penitenciário de Pernambuco.

326
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DOS TORRÕES

O nome dessa área, segundo alguns moradores mais


antigos, deve-se ao fato de existirem na região, algumas
hortas, onde se plantavam macaxeira e batata doce, que ao
serem colhidas, ficavam os "torrões" de terra.
Nos limites dosbairros de Torrões e Cordeiro encontramos
a pracinha que recebeu o nome do precursor das lutas pela
melhoria de condições do Arraial Novo, já na década de 1960,
quando o local era enlameado e, à noite, servia de covil pára
homens e animais e, na claridade do dia, tomava-se um grande
depósito de lixo que margeava o saudoso campo do Quinze.
Assim, de acordo com a lei Municipal ns 15.473/90, assim, ela
que está localizada na parte central do Largo do Forte, foi
inaugurada com o nome de Vanildo Bezerra Cavalcanti, em
noite festiva pelo então Prefeito Gilberto Marques Paulo. Ao
redor dessa pracinha está o solo sagrado do:

ARRAIAL NOVO DO BOM JESUS

Logo após as fragorosas vitórias dos brasileiros contra os


invasores, no Monte das Tabocas, em 3 de agosto de 1645 e
em Casa Forte, duas semanas depois, as tropas locais, agora
mais motivadas, começam a se aquartelar nas matas do
engenho de Ambrósio Machado, no atual bairro do Cordeiro
fazendo surgir na localidade um aquartelamento que ficaria
conhecido em nossa história como Arraial Novo do Bom Jesus,
inaugurado já no primeiro dia do ano de 1646 com salvas de
tiros de canhões tomados do inimigo em Porto Calvo. Esse
local foi o epicentro das deliberações tomadas pelos nossos
"restauradores" e de onde saíram e para onde retomaram
os contingentes vitoriosos nas primeira e segunda batalhas
realizadas nos Montes Guararapes. Nesse local, após ser
ferido mortalmente na primeira batalha (19 de abril de 1648),

327
O Recife e seus bairros

faleceu em 9 de maio daquele ano o bravo Dom Antônio


Felipe Camarão, sendo sepultado na parte externa da Igreja
da Várzea.
Após acendrados trabalhos de pesquisas realizados em
1867, o Instituto arqueológico elegeu essa localidade como
o Base de Operações do Exército Restaurador, mandando
erguer em seu louvor, no ano 1872, uma coluna comemorativa
com a seguinte inscrição: A q u i se lev an tou em 1648 a
fo r t a le z a ã o N o v o A r r a ia l do B o m Jesu s...E m 1867 o In stitu to
A rc h eo lo g ic o P ern am bu can o verificou o logar, co m to d a a
a u ten ticid a d e, e m an d ou lev a n ta r e s ta m em ória. O p resen te
h o n ra e g lo r ific a a o s b en em érito s d o p a s s a d o "
Posteriormente, em 1917, foi ali afixada uma placa de
mármore que registra: Construída por iniciativa do General
João Joaquim Batista Cardozo, auxiliado pelo Dr. Manoel
Antônio Pereira Borba, essas novas homenagens, não obstante
as animalescas atitudes de alguns predadores, podem ser
vislumbradas por algum visitante mais atento e interessado.

Monumento aos Heróis da Insurreição colocado pelo


IAHGP (1872)

328
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DA IPUTINGA

Conforme Barbosa Vianna, no seu livro "Recife, Capital


do Estado de Pernambuco: "Iputinga chamou-se primeiro,
Ipueira segundo se verifica de documento, sendo um
vocábulo indígena empregado relativamente aos lugares de
Campos que se enchem d'água no inverno, conservando-o
por algum tempo: vem de 1= água e Puera, que foi; depois
passou a chamar-se Iputinga, vocábulo Tupi, composto,
segundo Batista Caetano, de IPOHU (dando-se a contração
para Ipu) alagadiço, pântano ou sumidouro d'água, TINGA,
Branco, significando ainda, conforme Pompeu, terreno de
várzea, onde passam, ou correm águas, formado de Barro
Branco, espécie de Massapê."
O Bairro da Iputinga que se localiza ao norte de Bomba
Grande, é entrecortado pela Av. Caxangá "é nele que
residem ou têm seus atelieres inúmeros artistas de valor, ...
A Iputinga é também uma das localidades mais importantes
e históricas da Cidade. Sua demarcação atual esta localizada
nas antigas terras da Várzea do Capibaribe, que compreendia
os Engenhos São João, Santo Antônio e do Meio. Todos eles
pertenceram a João Fernandes Vieira."
Na Iputinga, onde parte de sua área era conhecida como
"Bebedouro", estão ou estiveram situados os Colégios Pio XII
e Padre Dehon e ainda a Igreja que invoca N. S. da Conceição,
localizada na Av. Caxangá próximo a entrada de Monsenhor
Fabrício, localidade que recebeu o nome do religioso e
educador e está situada junto ao:

329
O Recife e seus bairros

CAIARA
Localizada, geograficamente, às margens do Rio
Capibaribe e próximo a Av. Caxangá, estende-se ao norte
pela Rua Leal de Barros, ao sul, pela Av. Caxangá, a leste
pela Rua José Cruz Pinheiro, a oeste, pela Rua Santa Lúcia, a
sudoeste, pela Rua Cordilândia e a noroeste, pela Rua Barão
da Soledade, sem cortada pela Estrada do Caiara.
O nome da localidade é proveniente do dono do sítio que
se chamava " Seu Caiara", denominação que em tupi quer
dizer: queimado pelo sol, haja vista que o mesmo era acaboclado.
Em 1910 já havia moradores na região, que era desprovida
de qualquer infra-estrutura, isso até 50 anos atrás, quando
a área foi loteada.Em 1956 chegou iluminação pública e em
1962, abastecimento d'água.
Próximo ao Caiara, quase às margens do Rio Capibaribe,
existe ainda hoje.

O CASARÃO DO BARBALHO

"O Clube do Cupim fazia qualquer acordo para libertar


os escravos.
Às vezes era tão grande o número de escravos para serem
enviados ao Ceará que a casa de Dona Olegarinha no Poço
da Panela, não suportava, sendo necessário alguns deles se
instalarem na outra margem do rio Capibaribe, no Casarão do
Sítio do Barbalho, no atual bairro da Iputinga, na residência
do Juiz de Direito Manoel do Rego Melo e Dona Ciçone
Melo, pais do grande defensor de Pernambuco o jornalista e
historiador Mário Melo, nascido naquele casarão, na segunda
metade do século passado".
De arquitetura bastante sóbria , o Sobrado do Cordeiro,
como também é conhecido o Casarão, apresenta características
neoclássicas, construído em alvenaria e tijolo. .

330
Carlos Bezerra Cavalcanti

Atualmente, no primeiro andar do prédio, funciona uma


escola, a Escola Municipal Casarão do Barbalho, inaugurada
em 1995, na primeira gestão de Jarbas Vasconcelos, na
Prefeitura do Recife. Descaracterizando o prédio, uma enorme
antena parabólica, sequer disfarçada, dificulta a tomada de
fotografias daquele sítio histórico.
O resto são ruínas. Não há muros, não há qualquer
tratamento dado aos seus arredores. O capim cresce solto. Os
animais pastam livremente, procriando nos dias de inverno
dentro do próprio casarão. Alguns peladeiros jogavam
futebol, num campinho ao lado e uma placa que, errada e
teimosamente, informa "Engenho Barbalho", que foi sem
nunca ter sido, pois se tratava do Sítio do Barbalho e não de
Engenho. A denominação do casarão e muito remota pois
é proveniente da família Barbalho Uchoa, descendente de
Antônio Borges Uchoa, herói da Insurreição Pernambucana
de quem já tratamos ao abordarmos a "Ponte d'Uchoa".
Por algum tempo, nos idos de 1930, ali funcionou um
curtume conhecido como "Curtume do Barbalho".

331
O Recife e seus bairros

BOMBA GRANDE

Quem vem pela Av. Caxangá, logo depois da Exposição


de Animais, encontrará Bomba Grande. A pequena localidade
que dispõe de um modesto Mercado Público e do famoso
Bar e Restaurante típico CHAMBARIL DE DANIEL, na Av.
Nossa Senhora da Saúde, onde também se encontram a Igreja
Evangélica do local e a sede da Associação dos Colecionadores
de Carros Antigos, tem seu nome relacionado a uma "BOMBA
GRANDE", só que não se trata de um instrumento de sucção,
nem muito menos, de um material explosivo e sim de um
bueiro da antiga linha de trem Caxangá, na passagem do
riacho "Cavouco", que pôr sua vez, significa, segundo Aurélio
Buarque de Holanda: escavação aberta para alicerce de uma
construção.
O riacho "cavouco" nasce e corre no Bairro da Várzea,
indo derramar no Rio Capibaribe, pela margem direita, já
no Cordeiro.

332
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DO ENGENHO DO MEIO

Antes da invasão Flamenga, já existia o Engenho do Meio,


assim chamado por se localizar entre duas outras fábricas de
açúcar. Pertencia, nessa época, ao português de origem judaica
STACHOUWER, posteriormente, foi o Engenho comprado
por João Fernandes Vieira.
A Casa Grande do Engenho do Meio se localizava nos
limites da atual Cidade Universitária, próximo à Praça
existente na Avenida que liga a Reitoria ao Prédio da Faculdade
de Ciências Humanas.
Nos limites desse Bairro existe um núcleo de habitações
que recebeu o nome de Roda de Fogo, em alusão a uma novela
da Rede Globo, assim intitulada. Próximo a essa localidade,
separada pelos viadutos da BR, no Anel Rodoviário, existia,
há pouco tempo, a Central de Abastecimento Sociedade
Anônima (CEASA), hoje CEAGEPE, que recebe gêneros
agrícolas de todas as regiões do Estado, negociando-os para
a área do Grande Recife. Foi nas instalações dessa Central,
então chamada de CANESA, que funcionaram as Ia e 2-
FECIN (FEIRA DO CAMÉRCIO E DA INDÚSTRIA DO
NORDESTE), idealizada pelo Jornalista Vanildo Bezerra
Cavalcanti e realizada em 1966 / 67, pelo Publicitário Vicente
Silva, através da Vicar Publicidade Ltda.
A FECIN, marcou época em Pernambuco, sendo a maior
Feira do gênero, de que se tem noticia no Nordeste Brasileiro.
Funcionava nos meses de Dezembro e Janeiro, possuindo
um dos maiores Parques de Diversões do Brasil, do "Capitão
Tony" (globo da morte), vindo de São Paulo. Dispunha, ainda,
de Teatro, com atrações de outros centros do pais, bares,
restaurantes, diversões variadas, como corridas de "Karts"
e "Mini Carros" e, sua razão principal de ser, inúmeros
"stands", com representações da Indústria e do Comércio
Nacionais, distribuídos pôr vários pavilhões da Feira.

333
O Recife e seus bairros

No seu encerramento, no ano de 1967, ocorreu um dos


maiores bingos já vistos em Pernambuco, com recorde de
público. Naquela ocasião, foram disputados 24 veículos
automotores, incluindo-se, entre eles, 2 Automóveis
"Galaxie", lançados naquele ano pela Indústria Nacional,
além de 2 Caminhões e 2 Automóveis "Esplanada", também,
recém-lançados.
Essa Feira, posteriormente, passou a funcionar na área
do atual Parque da Jaqueira e depois deixou de existir.
Também no Engenho do Meio, na área mais próxima do
bairro da Iputinga, situa-se a localidade conhecida como BOM
PASTOR : com uma praça onde se pode praticar caminhadas,
e o Presídio do Bom Pastor que deu o nome a área do bairror
Esse presídio serve de cárcere feminino, sendo dirigido pôr
religiosas, embora faça parte da SUSIPE - Superintendência
do Sistema Penitenciário de Pernambuco.
O bairro recebeu, na década de 70, duais importantes
instituições: a Escola Técnica Federal de Pernambuco, na
época dirigida pelo Prof. Rômulo Lacerda e outra entidade
de ensino, depois desativada e reativada em nova edificação,
construída para tal fim, o Colégio Militar do Recife, fundado
em 25 de março de 1960, no Casarão da antiga Escola de
Medicina, no Derby.

334
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DA CIDADE UNIVERSITÁRIA

O nome CIDADE UNIVERSITAJRIA se deve ao fato de, no


local, estarem instaladas várias Faculdades da Universidade
Federal de Pernambuco, fato esse consumado após o projeto
de Lei ns. 159 / 1947, apresentado pelo então Deputado, ex-
presidente da Academia Pernambucana de Letras, Luiz
Magalhães de Melo.
Naquela ocasião, de acordo com o artigo primeiro
daquele dispositivo, criava-se um adicional de 0,10% sobre
o imposto de vendas e consignações, destinado a criação
do novo campus. Na mesma oportunidade foi proposta e,
posteriormente, nomeada, a Comissão para a escolha do local
e do projeto de construção do empreendimento.
Durante a década de 50, as obras foram sendo
desenvolvidas e, paulatinamente, inauguradas. A Cidade
Universitária, começaria a merecer, então, sua denominação.
Já no final dos anos 50, início dos 60, a área começou
a receber as primeiras Faculdades, quando para ela se
transferiram a Faculdade de Medicina, a Faculdade de
Filosofia e Ciências Humanas, com seus Cursos de Geografia
e História, entre outros, a Faculdade de Arquitetura que
pôr sua vez é vizinha da Faculdade de Engenharia, ambas
transferidas do Bairro da Boa Vista, sendo que, a primeira veio
de um casarão da Avenida Conde da B. Vista e a Segunda,
da rua do Hospício, do prédio nQ371, onde posteriormente
também se instalou a Faculdade de Administração, até se
transferir, da mesma forma, para esse bairro, aonde, mais
adiante, também vieram quase todas as Faculdades da UFPe,
com exceção da sesquicentenária Faculdade de Direito, que
permaneceu na sua Imponente sede na Praça Adolpho Cime.
Posteriormente o Campus foi ajardinado, teve seu
sistema viário pavimentado em concreto, onde na década de
60 se disputavam corridas de carros com pilotos locais, como

335
O Recife e seus bairros

G.G. Bandeira e Quinzinho, e outros mais famosos, vindos de


São Paulo, como os irmãos FITIPALDI (Wilson e Emerson)
À noite, sem a rotineira vigilância da Polícia Militar, eram
realizados os "pegas"
Na Cidade Universitária, foram também instaladas:
Bibliotecas, Restaurantes, Casas de Estudantes (masculino e
feminino), Ginásio de Esportes, Parque Aquático, Campos de
Futebol e de Atletismo, Laboratórios, Hospital das Clínicas,
entre outras entidades necessárias ao perfeito funcionamento
daquele complexo de Ensino Superior.
Uma das ultimas construções ali inauguradas, foi
o moderno edifício da Reitoria, localizado em frente a
um dos viadutos da BR. 101 e ao Lado do grande prédio
da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
(SUDENE).

336
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DA VÁRZEA

Segundo Pereira da Costa (Arredores do Recife, pags.


133 /34) "As terras da Várzea foram as primeiras que se
repartiram por diversos colonos, logo em começo da povoação
de Pernambuco, na primeira metade do século XVI, entre as
quais figurava um grande lote concedido a Diogo Gonçalves,
auditor da gente de guerra da Capitania, que reunidamente
as de Casa Forte e Beberibe, também a ele doadas, constituíam
uma grande data em cada uma das quais levantou o referido
Auditor três engenhos, tendo o da Várzea do Capibaribe, a
denominação de Santo Antônio, padroeiro da sua Capela.
Anos depois, no tempo do governo do segundo donatário
, Duarte Coelho de Albuquerque (1560-1572), já as terras
da Várzea estavam adiantadamente povoadas e cultivadas,
porquanto quando se refere o historiador seiscentista Fr.
Vicente do Salvador, na expedição militar que partiu de Olinda,
naquela época, contra os índios que ocuparam as terras do
Cabo de Santo Agostinho, tomou parte a gente da Várzea do
Capibaribe comandada pelo fidalgo alemão Cristóvão Lins,
casado com uma pernambucana de distinta família."
Aumentando e desenvolvendo-se, consideravelmente, na
localidade foi se formando um núcleo de povoação na parte
mais central, a margem direita do rio Capibaribe, na qual, pela
sua crescente importância, foi depois criada uma freguesia,
sob a invocação de N. S. do Rosário, padroeira da Capela do
Povoado, construída pelos seus habitantes, e cuja instituição
vem dos primeiros anos do século XVII, uma vez que assim já
menciona o livro Razão do Estado do Brasil em 1612."
O nome, portanto, da localidade é oriundo de sua situação
geográfica, pôr tratar-se de uma área plana, baixa e ribeirinha
(VARZEA), localizada à margem direita do primeiro trecho
recifense do Rio Capibaribe.

337
O Recife e seus bairros

Na Matriz paroquial do Bairro foram sepultados os


restos mortais do herói Dom Antônio Felipe Camarao
morto no Arraial Novo do Bom Jesus, em consequencia de
ferimento sofrido na primeira Batalha dos Guararapes, em 19
de Fevereiro de 1648. . ,
Segundo a mesma fonte, pags. 141 / 42, a Igreja da Varzea
"cuia construcão primitiva remonta a épocas longmquas foi
modernamente reconstruída em 1868-1872, pelo vigário Joao
Batista da Silva, notando-se ainda internamente, os vestigJos
de sua ornamentação antiga, principalmente nas obras de tcdh
que foram aproveitadas, o Templo e de boa aparência, bem
disposto e de sofrível ornamentação. No tempo do Imperado
Pedro II eozou de título honorífico de Imperial Matriz de N. S.
do Rosário da Várzea, concedido pelo Imperador ao aceitar o
título de Juiz perpétuo da mesma Igreja, o que foi comunicado
a Presidência da Província por aviso do Ministério do Impeno
Hp 21 de Setembro de 1854.
Em 1849, foi organizada a irmandade do S. S. Sacramento
que aprovou o respectivo compromisso em mesa de 7 de
Outubro, tendo depois as suas componentes aprovaçoes
legais. Foi instalada com um pequeno patrimomo constante
de uma data de terra com 1.217 palmos de frente aforada a
r a z ã de cem réis por palmo.
o ■Rncárin
Tem a povoação mais duas Igrejas, a de N. S. do Ros
dos homens pretos e a de N. S. do Livramento t e t o m
Pardos a cargo de suas respectivas irmandades. Antigas de
proporções 4 * ™ * de medíocre arquitetura
quanto internamente, situadas ambas na Praça da Matnz, nada
consta sobre a época em que foram construídas. Parece-nos
porém, que a do livramento é mais antiga, porque em 1811
tinha já incorporada a sua irmandade, com seu competente
compromisso aprovado em mesa geral e 2 de maio, sendc. sua
instituição confirmada por Carta Regia de 23 de Janeiro de 1816
A paróquia tem um cemiteno publico municipal
localizado bem próximo à Cidade Universitária que foi

338
Carlos Bezerra Cavalcanti

fundado em 1867 e aberto a inumação, no ano seguinte.


No Bairro da Várzea existe hoje, o "Atelier" de Francisco
Brennand, um dos mais importantes artistas contemporâneos
do país, que desenvolve inigualáveis trabalhos de cerâmica
em sua oficina nas terras do antigo Engenho São João.
Foi nessa localidade, mais precisamente nas terras do
Engenho São João, de Fernandes Vieira, que foi combinada a
insurreição pernambucana que teve como conjurados os mais
importantes habitantes de Pernambuco. Naquela ocasião,
foi proposto que o movimento rebentaria em 24 de junho e
a senha para deflagrá-lo seria a palavra "AÇÚCAR". Após
a Batalha das Tabocas ( 3 de Agosto de 1645) os holandeses
foram até o Engenho de Fernandes Vieira, ali localizado e
para intimidar as tropas brasileiras, seqüestraram Dona Izabel
de Góis Mulher de Antonio Bezerra, Dona Luiza de Oliveira,
casada com Antonio Lopes de Madeira e Dona Antonia
Bezerra, esposa de Francisco Berenguer e sogra de Fernandes
Vieira que foram levadas para o Engenho de Casa Forte (Ana
Paes) onde estavam aquartelados os inimigos.

339
O Recife e seus bairros

BAIRRO DE CAXANGÁ

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Á re a : 2 ,4 quilôm etros q uad rad os

( População: 6 .6 6 7 h abitantes

A origem da denominação Caxanga, segundo alguns


autores, diverge. Para uns, é a corruptela indígena que quer
dizer "Mata que se espalha", para outros, essa corruptela
significa "Mata da Madrinha "ou ainda "Mata da Madrasta .
No início era as terra do Engenho Caxangá, depois,
com a valorização dos banhos de rio, (hidroterapia) e dos
veraneios em épocas das férias de final de ano e ainda, da
"Maxambomba, o lugar ficou famoso chegando mesmo a dar
o nome à ponte que existia no local da atual Ponte Duarte
Coelho, na Boa Vista.
A Estação de Caxangá, terminal de uma das linhas terreas
mais importantes daquele trem urbano, (MACHINE PLJMP),
teve como um de seus encarregados, na segunda metade do
século passado, o futuro Empresário e progressista, Delmiro
Augusto da Cruz Gouveia.

340
Carlos Bezerra Cavalcanti

Para que se possa aquilatar a importância social e religiosa


desse povoado nesses idos, transcrevemos, parcialmente,
abaixo, notícia veiculada no Diário de Pernambuco de
Dezembro de 1886:
"No povoado de Caxangá, a meia noite de 24 para 25
do corrente, haverá uma missa solene na respectiva capela as
expensas dos moradores dali, e dos passadores das festas que
para ali foram. Na tarde noite do dia 24 tocará uma banda de
música e serão largados diversos balões. Após a missa será
queimado fogo de artifício. O povoado será iluminado".
Pessoa que ouviu a Missa do Galo e presenciou a festa
natalina desse povoado enviou ao Diário de Pernambuco, a
seguinte missiva:
"Não me recordo de ter passado uma festa igual. A bela
povoação de Caxangá estava caprichosamente preparada para
receber os visitantes nessa ocasião, a rua principal estava toda
iluminada, arvorando-se, em cada casa, o seu contingente
de lanternas volantes de cores várias, semelhando mistos
batalhões reunidos, para um só triunfo. E assim foi Caxangá
pelo garbo com que solenizou o aniversário do nascimento
do Salvador. Em um coreto a Banda de Música do Corpo de
Polícia pr'a ouvir a espaços belíssimos, peças de seu importante
repertório, tudo ali era atraente. A meia noite em ponto, num
altar "ad-hoc" um sacerdote celebrou a missa, assistindo ao
ato mais de 2 mil pessoas. Seguindo-se um lindíssimo fogo
artificial que fez honra ao artista mestre. Antes e depois, em
muitas casas tiveram lugar reuniões dançantes para jovens;
para velhos (digo mal) para os homens sérios teve lugar a
Voltarete."
Por essa época, Caxangá representava um dos arrabaldes
mais progressistas do Recife. Já em 1883 existia o "HOTEL
FRANCÊS DE CAXANGÁ", junto a Estação da Ferrovia, com
aposentos grandes e arejados, independentes e confortáveis
almoços, jantares e ceias, com banheiro especial para banhos
no rio e comida alemã (chucrute), aos domingos.

341
0 Recife e seus bairros

Banheiros de Caxangá

No Bairro de Caxangá se encontra hoje o:

CAXANGÁ GOLF COUNTRY CLUB

Fundado em 7 de outubro de 1928, pelo inglês George


Litlle, funcionário da "Great Western" e alguns compatriota,
teve como primeiro Presidente, G. G. Griffin Williams.
Sua denominação original era "The Pernambuco Golf
Club", em 1944, passou a chamar-se "Caxangá Golf Country
Club" e três anos depois, em 22 de março de 1947, inaugurou
sua atual sede, com um luxuoso sarau dançante.
Na entrada do Clube vê-se, no pórtico, um brasão onde se
lê Primvsinter Pares"" O primeiro entre os seus pares".
Pode ser ali observada grande pista de hipismo que
homenageia Nassau. ,. T
No salão de festas e restaurante, existem dois pameis: Jogo
de Gude, de Lula Cardoso Ayres e o outro de autoria de Severino
Goulart: "Casa Grande do Engenho Poeta", antiga propriedade
rural que existiu no local desse Clube de Campo Inglês.

342
Carlos Bezerra Cavalcanti

Sede do Caxangá G olf Country Club no dia de sua inauguração

A Avenida Caxangá, ou sua equivalente, se chamava,


Estrada do Paudalho e teve seu primeiro lance construído em
1842, que partia do Largo da Madalena. Essa via de acesso
foi a principal responsável pelo progresso da localidade,
diminuindo o tempo que se gastava para se ir do centro do
Recife, até aquele arrabalde.
Em Caxangá tivemos a Primeira Ponte Pênsil do Brasil,
projetada e construída pelo Engenheiro Francês Louis Vauthier,
que decidiu pela construção de uma ponte pênsil (suspensa),
dizendo: "com os necessários cuidados ela chega, ao menos
a cem anos". No entanto, 24 anos depois de construída, essa
ponte era arrastada pela cheia do Capibaribe (1869)
A antiga Igreja da localidade foi erguida, como Capela, pelo
Cônego Francisco Pereira Lopes e invoca São Francisco de Paula.
De acordo com Pereira da Costa( Anais Pernambucanos.
Vol. DC, pag. 508)
"Arruinando-se depois a Capela, foi convenientemente
reparada pêlos moradores da localidade, que instituíram uma
irmandade só, a invocação de seu padroeiro o qual já estava
incorporado em 1852."

343
0 Recife e seus bairros

Notícia publicada no Diário de Pernambuco nos da conta


que no dia 13 de Fevereiro de 1887, foi celebrada a festa de São
Francisco de Paula, na Capela de Caxangá, com missa solene
às 10:00 horas do dia, à noite ladainha, a tarde teve lugar um
sorteio de flores e prendas.
Conforme ainda o mesmo autor: no final do século
passado, presumivelmente, a localidade era reconhecida por
todos como uma situação amena e salubre, banhada por um
rio de' águas límpidas, puras e correntes, gozando de um
clima agradável e da abundância das produções do solo,
de uma grande fertilidade. Foi assim o nascente povoado
progressivamente desenvolvendo-se, de sorte que, dentro de
poucos anos, ja apresentava um belo aspecto e oferecia pelos
seus recursos próprios, uma vida animada e cômoda."

O PALACETE DE CAXANGÁ__________________

O antigo Palacete n.e 5.666 da Av. Caxangá que pertenceu


ao Coronel Camilo Pereira Carneiro foi criminosamente
demolido em 1988, tendo sofrido sérias avarias pelos efeitos da
cheia de 1975 e o conseqüente abandono. Segundo preciosas
informações constantes no pedido de reconstrução desse
imóvel feito pelo proprietário em 9 de agosto de 1919 ao qual
foi anexada sua planta assinada pelo Mestre de Obra José
Ramos da Silva, o palacete constava então de um pavimento
térreo que dispunha de uma sala de visitas, ocupando toda a
largura do prédio, seguida de uma saleta e de um toalete. Após
a sala de jantar, um longo corredor central, onde se situavam,
de um lado, a copa, o banheiro, um WC e um depósito, do
outro lado, dois quartos, dois toaletes, o hall dai escada e a
rouparia.
Ladeavam o prédio dois amplos terraços apoiados em
sete colunas, sendo o acesso feito por dois lances de escada.
Duas portas e nove janelas, de cada lado, no térreo e no andar
superior, arejavam a parte interna.

344
Carlos Bezerra Cavalcanti

A fachada principal compunha-se no térreo e no


andar superior de uma larga porta ladeada por duas janelas
sendo que nesse a porta abria diretamente para tuna sacada
artisticamente entalhada." (DP de 31 de julho de 1988)

Palacete do Cel. Camilo Pereira Carneiro (final da Caxangá)

345
O Recife e seus bairros

BAIRRO DE SÍTIO DOS PINTOS

A área onde esta localizado esse pequeno e desconhecido


bairro recifense corresponde à parte da antiga localidade
de "Macacos" que desfrutava, inclusive de uma estação da
Estrada de Ferro do Trem de Limoeiro. .
O bairro se limita com o Município de Camaragibe e
com Caxangá e Dois Irmãos. Na primeira metade do seculo
passado o Sítio dos Pintos era um matagal com alguns
casebres e estreitos caminhos. Os sucessivos desmatamentos
e invasões reduziram a vegetação e aumentaram a^populaçao
para mais de cinco mil pessoas segundo o Censo de 2000.

346
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DE CASA AMARELA

Limites do bairro: Começa no pontilhão da Av. Norte no


pontilhão do canal da Av. Prof. José dos Anjos, cruza o canal
do Vasco da Gama até a Rua Guimarães Peixoto, onde deflete
à direita e cruza a Estrada do Arraial, alcança a Rua Dês. Góes
Cavalcante, por onde segue até a Rua da Estrala, onde deflete
à direita seguindo para atingir a Rua Ferreira Lopes, onde
deflete à esquerda em direção à Estrada do Encanamento;
deflete à direita para atingir o trecho final da Estrada do
Arraial, onde deflete à esquerda seguindo para a rua Eurico
Chaves, por onde deflete à direita e encontra a Rua Maracá;
deflete à direita e segue até atingir a Rua Santa Izabel; deflete à
esquerda percorrendo um pequeno trecho desta rua até atingir
a Rua Piracanjuba; deflete à direita e segue até a Rua Iguatama:
deflete à esquerda e segue por esta rua até voltar a atingir a
Av. Eurico Chaves, onde deflete à direita e segue até encontrar
a Av. Norte: nesta avenida deflete à direita para seguir na
direção subúrbio-ddade, até o Largo do Muniz, onde deflete à
esquerda e depois à direita seguindo até a Rua Bugari; deflete
novamente à direita, por onde retoma à av. Norte, onde deflete
à esquerda e prossegue até o ponto inidal. Origem: No século
XIX a localidade denominada popularmente de "Arraial",
passou a ser recomendada para a cura de doenças devido ao
bom clima que possuía. Nessa época, chegava ao Recife, o rico
Português, Comendador Joaquim dos Santos Oliveira, que se
encontrava doente do pulmão, sendo aconselhado a residir na
área, tendo construído uma casa que mandou pintar de ocre
(amarelo vivo) que deu nome ao bairro.
O processo de crescimento e ocupação do Bairro de Casa
Amarela é palco de muitas histórias, lutas, conquistas, festas,
alegrias, dor, e participação. Casa Amarela foi sendo ocupada
no Século XVH" (quando ainda se chamava ARRAIAL,)
observação nossa.

347
O Recife e seus bairros

SÍTIO TRINDADE

Popularmente conhecido como Sítio (da) Trindade,


o local, em período mais recente, pertenceu à família de
Trindade Peretti e, originalmente, corresponde ao Arraial
do Bom Jesus, reduto que resistiu heroicamente, por cinco
anos (1630/35) e poucos recursos, às incursões das tropas
holandesas.
A área foi desapropriada em 1952 e passou por
importantes reformas na segunda gestão do prefeito
Pelópidas Silveira(1955/58), tomando-se de utilidade pública,
com 6,5 hectares de área verde, possui, em sua parte central,
um belo chalé de fins do seculo XXX. Tombado pelo Instituto
de Preservação Histórica Nacional (IPHAN), foi classificado
na categoria de conjunto paisagístico, em 17 de julho de 1974.

MERCADO PÚBLICO _

Casa Amarela, a exemplo de Afogados, possui dois


Mercados Públicos, um novo e outro velho.
O novo, construído nas proximidades do primeiro, foi
inaugurado em 17 de abril de 1982.
O Mercado velho tem um dado curioso, digno de registro.
A estrutura metálica que compõe seu arcabouço é a mesma do
antigo Mercado de Caxangá, que foi desmontada e trazida de
bonde, pela Construtora Borrione.
Foi pomposamente inaugurado em 9 de novembro de
1930, com banda de música e presença do Interventor Carlos
de Lima Cavalcanti e do Prefeito Francisco Costa Maia.
Está localizado na Rua Padre Lemos, na parte mais
movimentada do bairro, possui 817 m2 de área construída,
com 12o compartimentos, sendo 60 internos, 60 externos.
A localidade dispõe, ainda de um Cemitério que fica no
Alto de Santa Isabel. Mais para Oeste, temos o:

348
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DA MANGABEIRA

"Escadarias, becos e morros dominam a paisagem


do pequeno Bairro da Mangabeira, Zona norte da Capital
Pernambucana. A área, às margens da Av. Norte, faz limite com
outros pequenos bairros: Bomba do Hemetério, Tamarineira,
Arruda, Casa Amarela e Alto José do Pinho.
A capela na Rua da Mangabeira, é coração do bairro
tem seu nome no chamado pé de mangaba (mangabeira) que
batizou primeiro a rua e depois todo o bairro que tem suas
atividades sociais concentradas no SESC de Casa Amarela,
que não obstante o nome está nos limites da Mangabeira. (JC
de 30 de março de 2008)

349
O Recife e seus bairros

BAIRRO DO MORRO DA CONCEIÇÃO

No século XVII, durante o domínio holandês em


Pernambuco,(1630/54) o local hoje conhecido como Morro
da Conceição era chamado de "Monte Bagnuolo", por ter
sido ocupado pelo General Italiano, a serviço dos donatários
da Capitania Duartina, o Conde Francisco de Bagnuolo,
substituto de Matias de Albuquerque no primeiro período
batavo em terras brasileiras. ^
Posteriormente, já no início do seculo vinte, a area tinha o
nome de Morro da Bela Vista e pertencia à Freguesia do Poço
da Panela, depois do Arraial e, posteriormente, ao Bairro de
Casa Amarela, de quem se desligou, após a nova modificaçao
urbana, em 1988.
Para entendermos melhor a atual conjuntura ^dessa
localidade é preciso nos valermos de algumas informações do
Professor Luiz Delgado em seu artigo veiculado no Jornal do
Commerdo de 18 de novembro de 2004, quando_ele diz: "Em
1874, era fundada, no Recife, a Congregação de São Vicente de
Paula, e seu integrantes, já no primeiro aniversário dessa criaçao,
por sugestão do Padre Arsène Vuillemin fizeram uma romaria,
no dia de Todos os Santos, (1Qde Novembro) de 1875.0 destino
dos devotos foi, no entanto, a Igreja do Monte, em Olinda, saindo
os confrades redfenses, a pé, a partir de Santo Amaro. ^ ,
Em 1904, nas comemorações do cinqüentenário do
dogma da Imaculada conceição ( prodamado por Pio IX e
espantosamente confirmado quatro anos depois nas aparições
de Lourdes) o Bispo dom Luís Raimundo da Silva Brito
mandou erigir um monumento para receber a imagem de
N S da Imaculada Conceição (Concebida sem mácula, sem
pecado) no então chamado " Morro da Bela Vista", ficando os
laboriosos Vicentinos com os encargos desse empreendimento:
fizeram gestão para conseguir o terreno no alto do "Morro" que
seria doado pela família dos proprietários e organizaram uma

350
Carlos Bezerra Cavalcanti

campanha para a arrecadação de fundos com vistas à confecção


da Imagem daquela Santa que teve como principal gestor o
Presidente dos Vicentinos Dr. Carlos Albertro de Menezes.
Para inaugurar o santuário aquele bispo pediu ainda aos
Vicentinos que fizessem uma romaria com novo itinerário que
teria um novo destino: a parte alta do Morro que viria a ser
chamado "(da Conceição) há, portanto, mais de um século,
como vimos,foi ali instalada, por iniciativa do Arcebispo (Dom
Luís) Raimundo Brito a imagem da Imaculada Conceição,
confeccionada na França, pela Maison RAFFL, de Paris, possui
três metros e setenta e oito centímetros, tem estrutura de ferro,
e pesa 1.806 quilos. O monumento todo em estilo gótico,
difícil de ser encontrado no Brasil e que acolhe a imagem
da Virgem, é de autoria do engenheiro Lafayette Bandeira
e foi construído em cimento armado, com coroamento em
lantemim e flecha. Um detalha curioso é que a imagem de
N.S. da Conceição, procedente da Europa, como vimos, veio
do cais do porto para o sopé do então Morro da Boa Vista,
em um vagão do trem de Limoeiro que transitava pela linha
férrea do trem de Limoeiro, onde foi aberta, posteriormente,
a Av. Norte, e conduzida, festivamente, até o alto do morro,
nos ombros de estivadores das DOCAS, acompanhados pelos
Vicentinos, autoridades e pelo povo, em geral. O percurso
vencido na subida da imagem corresponde, hoje, ao da Rua
(ladeira) do Morro da Conceição. A igreja construída ao lado
do monumento data de 1906.
Algumas décadas depois, por volta de 1940, com o
excedente dos moradores dos antigos mocambos que não
foram contemplados com casas das Vilas de Santo Amaro,
e, por esse motivo, paradoxalmente, expulsos daquela
área, aconteceu uma espécie de invasão por parte daqueles
desafortunados que começaram a construir, nos terrenos mais
planos, os primeiros casebres da localidade, confeccionados
de taipa, barro e cobertos de capim, ou seja, surgiam, assim,
novos "mocambos", que, ao contrário do objetivo do "Serviço

351
O Recife e seus bairros

Social", não foram erradicados, porém, apenas, transferidos


para a periferia da capital.
No entanto, é preciso frisar que, muitas vezes, a falta
de documentação escrita nos faz lançar mão de informações
verbais que, de certa forma, são até mais ricas em detalhes
como é o caso de depoimentos de moradores antigos daquela
área que vivenciaram os primeiros tempos do morro ,
cheios de dificuldades e problemas como é o caso de Dona
Dada (1919) Eglatina Costa Mendes e de Leônidas Pinto
de Almeida, entusiasta do morro e integrante de blocos ^da
localidade como: "Lira da Mocidade , Águia de Ouro e
da "Galeria do Ritmo", fundada em 15 de Novembro de
1962, bem como das informações manuscritas do Senhor
Manoel Januário que, além de conviver muitos anos com a
comunidade local, exerceu, por mais de 3 décadas, o cargo de
Fiscal da Prefeitura do Recife, com farta experiência, portanto,
nos problemas urbanos e nas precariedades dos serviços
públicos. E ele nos conta:
"Na década de 1950, parte do antigo Bairro de Casa
Amarela, que compreendia o Morro da Conceição, os Altos da
Favela, do Mandu, de Santa Isabel, do Eucalipto, da Esperança,
José Bonifácio, a Macaxeira, Vasco da Gama, Nova Descoberta,
Brejo, Sítio Grande, Córrego do Euclides, e até o antigo Alto
da Foice, atual N. S. de Fátima, viveu seu apogeu político/
administrativo, principalmente no Governo do General
Cordeiro de Farias, de quem era muito amigo, o Vereador, de
saudosa memória, Romildo José Ferreira Gomes que nesses anos
difíceis em que nem todo pobre votava, conseguiu os principais
serviços para a base urbana e mira- estrutura de grande parte
dessa área então totalmente esquecida, trazendo,com muito
esforço e perseverança, calçamento, posteação elétrica de
madeira, escola pública, centro social, diretorio, com serviços
médicos, odontológicos, cursos profissionalizantes e a
construção de 5 chafarizes para abastecimento d'água que, até
então, era paga aos donos de cacimba (Atravessadores).

352
Carlos Bezerra Cavalcanti

Outro antigo morador da localidade, Terêndo Joaquim


da Silva ali residente desde 1962, dá seu depoimento em
matéria do JC de 23 de Setembro de 2007 à Jornalista Cleide
Alves: "ao longo dos anos a comunidade recebeu uma série de
investimentos. Hoje, as ruas são pavimentadas e a população
conta com escadarias e água nas torneiras, mas nem sempre foi
assim, as ladeiras eram enlameadas. Em tempos de chuva, antes
de ir trabalhar subia com latas d'água para abastecer a casa."
A festa dedicada à Nossa Senhora da Conceição,
padroeira do Reino de Portugal, e, talvez, por isso mesmo,
bastante cultuada no Brasil, tomou-se cada vez mais popular
e, efusivamente, comemorada, sendo o seu dia ( 8 de
Dezembro), feriado municipal, e os festejos, tanto do ponto
de vista religioso, como profano, feericamente celebrados
pelo povo recifense e particularmente pelos moradores do
"Morro" e dos bairros das proximidades como Casa Amarela,
Nova Descoberta, Vasco da Gama, Alto do Mandu, Arruda,
Água Fria, Brejo, Macaxeira, Encruzilhada e tantos outros.
No ano de 2004, a Comunidade do Bairro do Morro da
Conceição tinha muito que comemorar, a situação era outra
com incontáveis melhorias, e, o mais importante, o Centenário
da Vinda da Santa, os cento e trinta anos da fundação da
Irmandade de São Vicente de Paula e o Sesquicentenário do
dogma da Imaculada Conceição, que deu inído a tudo
Com a nova divisão dos bairros o Morro da Conceição
ficou assim delimitado: começa no cruzamento da Rua São
Bartolomeu com a Av. Norte seguindo por esta até atingir a
rua Bugari, onde deflete à direita seguindo em direção à Rua
Joaquim Teixeira por onde alcança o largo Dom Luiz, onde
deflete à direita e segue para a Rua Dois de Fevereiro, daí deflete
mais uma vez à direita e segue pela Rua Córrego do Ouro por
onde prossegue até atingir a Rua Córrego do Euclides, para
atingir a Rua córrego do Bartolomeu, onde deflete à direita e se
encaminha para a Av. Norte, ponto inidal.

353
O Recife e seus bairros

BAIRRO DO VASCO DA GAMA

"Caracterizado pela presença de área de morro, Vasco


da Gama tem uma das maiores densidades demográficas do
Recife, 18.507 habitantes por quilômetro quadrado, segundo
o recenseamento de 2000..
Limita-se com Brejo de Beberibe, Morro da Conceição,
Casa Amarela, Nova Descoberta e Alto José Bonifácio.
Como todas as localidades da área tem muitos problemas de
serviços públicos. A principal diversão social do bairro fica
por conta dos encontros na sede do Clube do 13 que existe há
58 anos e foi fundado por Sebastião Coelho de Araújo, numa
homenagem ao Treze de Campina Grande, sua terra natal. A
localidade ainda dispões de do Teatro Lobatinho, construído
em forma de castelo, por iniciativa do artista José Dias de
Melo, há 28 anos.

354
Carlos Bezerra Cavalcanti

Outra característica do "Vasco", como o local é chamado


popularmente, é a presença de vários templos religiosos.
Além das capelas e da Matriz, cujo padroeiro é São Sebastião.
" (JC de 12/08/2007). O nome dessa localidade é proveniente
do grande navegador português que descobriu o caminho
marítimo para as índias e que foi homenageado com uma
Avenida na área que hoje tem seu nome, ou seja, o Bairro de
Vasco da Gama, assim como os de Paissandu e San Martin,
herdou o nome de sua principal via urbana.
No Vasco da Gama encontra-se o Córrego do Eucalipto,
já próximo à localidade do:

355
O Recife e seus bairros

BAIRRO DE NOVA DESCOBERTA

"Localizado na Zona Norte do Recife, Nova Descoberta


tem a paisagem marcada por morros e abriga população de
baixa renda" (Jornal do Commercio de 17/02/08)- Cleidè Alves.
Sua área cinge em seus limites o Córrego do Boleiro
onde, em 29 de abril de 1996 o deslizamento de um barranco
provocado pelo estouro de parte da tubulação de águas
pluviais da COMPESA que resultou no desabamento de
dezenas de casas e na morte de onze pessoas.
O Bairro de Nova Descoberta, assim como o seu vizinho,
o Vasco da Gama tem sua denominação atrelada ao seu
principal logradouro que o recorta em quase toda sua área, a
Rua Nova Descoberta que, por sua vez, também faz alusão ao
navegador português que, como sabemos, fez a DESCOBERTA
do caminhos marítimo para as índias.

ALTO DE SANTA TEKEZINHA

Conforme reportagem de Cleide Alves no Jornal do


Commercio de 6 de abril de 2009: "O Alto Santa Terezinha faz
parte dos morros da Zona Norte do Recife, integra a Bacia do
Beberibe e é uma área de risco de deslizamento de barreira.
É vizinho da Linha do Tiro, Alto José do Pinho, Bomba do
Hemetério, Água Fria e do Alto José Bonifácio.
Apesar de estar localizado numa região de morro, o Alto
Santa Terezinha não é um bairro de difícil acesso. A Avenida
Aníbal Benévolo, que corta toda a comunidade, é asfaltada,
há escadarias e o lugar é atendido por nove linhas de ônibus.
No entanto, toma-se escondido pela falta de sinalização. Para
se chegar lá, depois que se sai da Avenida Norte, na altura do
bairro da Tamarineira, é preciso pedir informações nas mas.

356
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DA MACAXEIRA

A Macaxeira teve seus tempos áureos quando a Fábrica


(Cotonifído) de propriedade do industrial Othon Bezerra de
Melo funcionava, movimentando toda a localidade e adjacêndas.
Atualmente, existe, junto à BR. 101 Norte, o Terminal
Rodoviário que recebeu o nome da localidade que, pôr sua
vez, deve sua denominação ao antigo Engenho Macaxeira,
tendo em vista o plantio diversificado dessa raiz, na área,
desde os tempos dos holandeses.

BAIRRO DO ALTO JOSÉ BONIFÁCIO

O local da praça prindpal do Alto José Bonifádo está


vinculado com a origem do atual bairro e ocupa o lugar do antigo
Campo do Onze Brasil, depois chamado de Onze Belmonte.
A ocupação desse trecho do Recife, segundo matéria da
Jornalista Cleide Alves, veiculada no Jornal do Commercio:
" teve início com o aluguel de lotes no princípio do século
passado. Duas famílias eram as principais proprietárias das
terras da região, a de Roberto Rosa Borges Marinho e a de
Ilíquido Barros."
Segundo informações da Marcos Vila Nova, na mesma
matéria: "a denominação do bairro teve origem nos idos de 1960,
quando Roberto Rosa Borges organizou um jogo de Futebol, no
Campo do Onze, para marcar a despedida de um amigo chamado
José Bonifádo que estava se mudando para o Rio de Janeiro.
Na época, a principal rua da comunidade era identificada
como Rua do Boi por causa da vacaria da Bomba do Hemetério,
que se embrenhava até a Linha do Tiro.

357
O Recife e seus bairros

BAIRRO DO ALTO DO MANDU


O Alto do Mandu constitui-se num dos inúmeros morros
que formam a parte alta do antigo Bairro de Casa Amarela,
situado próximo as margens do Rio Capibaribe, tem como
área vizinha, ao sul, o bairro do Monteiro, ao Norte os bairros
da Macaxeira e do Córrego do Jenipapo, a Oeste Apipucos
e a Leste o Morro da Conceição e o Alto de Santa Isabel,
que citamos anteriormente. Segundo depoimentos de antigos
moradores da Região, o nome do Alto decorre do apelido
do antigo proprietário das terras, que se chamava Manuel
(Mandu) do Rego Barros.
A época provável do início do povoamento do Alto
do Mandu é a década de 20. Em 1950 a área já estava
povoada.
Hoje os proprietários das terras desse bairro são, o Estado,
na área que circunda o reservatório d'água, inaugurado
em 1926, a família Marinho, na área do chamado Alto do
Monteiro e a família Souza Leão, do resto do Alto., além de
alguns moradores da localidade.
A ocupação do Alto parece ter uma motivação, além da
facilidade de se obter o terreno ainda que pagando foro; a
proximidade da área, como vimos, com a Fábrica da Macaxeira,
verdadeira responsável pelo progresso da região, onde cerca
de 90% dos moradores trabalhavam. O início do povoamento
dessa localidade está portanto bastante vinculado à Fábrica
de Tecidos, hoje, como tantas outras em nosso Estado, parada.
Próximo à Macaxeira iremos encontrar a localidade
conhecida como.

358
Carlos Bezerra Cavalcanti

A localidade teve como um de suas primeiras edificações,


o "Stand" de Tiro da Brigada Militar de Pernambuco, em
1940, em terras de um sítio que servia de invemada para a
cavalhada dessa secular Corporação.

359
O Recife e seus bairros

Inauguração do Stand de Tiro da Brigada Militar


(18 de novembro de 1940)

O nome do bairro decorre do afluente do Rio Beberibe


que passava pela localidade chamado " Riacho dois Unidos"
que nascia na chã da piaba; na Freguesia do Poço da Panela
Posteriormente, já na segunda metade deste século, foram
instalados ali, a Companhia de Cães da PM, um Presídio e a
Fábrica Minerva.

360
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DO CÓRREGO DO JENIPAPO


Segundo Cleide Alves, em matéria veiculada no JC de
13 de abril de 2008 : "O Córrego do Jenipapo, zona norte da
cidade, é formado por morros, em sua maior parte. O lugar
faz limites com Guabiraba, Brejo da Guabiraba, Macaxeira,
Apipucos, Nova Descoberta e Dois Irmãos. A comunidade é
carente de áreas públicas de lazer e, ao contrário do que o
nome possa sugerir, não há pés de jenipapo na área.
A história da urbanização do Córrego do Jenipapo é
recente. Moradores apontam com facilidade o primeiro
imóvel que teve água encanada no bairro, 41 anos atrás. Era a
casa do finado Totó...
A escadaria era um sonho a ser conquistado. As rasas
eram de taipa. As melhorias vieram aos poucos, conforme
Esmeralda da Conceição. Cada prefeito ou governador fez
uma coisa. A primeira obra foi a colocação de energia elétrica
e a último, a chegada da água, recorda. Ela vive no Córrego
do Jenipapo há 56 anos, quando migrou de Limoeiro (Agreste
pernambucano) para o Recife com a família. Naquele tempo,
era tudo mato e quatro casas perdidas. O bairro mudou muito,
para melhor, declara."

___ BAIRRO DO BREJO DA GUABIRABA

O nome desse pequeno bairro é de origem indígena e se


refere a uma planta que quer dizer WA'BI "ao comer", vegetal
da família das borigenáceas muito freqüente naquele lugar.

361
O Recife e seus bairros

BAIRRO DE BEBERIBE

Beberibe é um pitoresco lugar, com grande e aprazível


mata banhada pelo rio que lhe deu o nome.
Sobre a origem dessa referencia há várias versões entre as
quais a de Paulo Nogueira que atribuiu o nome ao ajuntamento
das palavras indígenas "vela bipe" que quer dizer lugar onde
cresce a cana.
O Padre Luís de Montoio já dizia que o significado vem de
BEBIJIBE, e quer dizer voar em bando, referindo-se aos pássaros
que se reuniam às margens do rio voando depois em bandos.
E ainda Alfredo de Carvalho que atribuiu o nome específico ao
termo Tupi IABEBIER-Y, rio da raias ou peixes chatos.
Em qualquer das hipóteses, todas elas aliás sujeitas a
modificações ortográficas pelo uso da corruptela , tem como
resultado o nome atual de Beberibe."
De acordo com a mesma fonte, "em 1639 já aparecia como
proprietário das terras o Coronel Jacinto de Freitas da Silva,
fidalgo da casa real, nascido em 1580".

362
Carlos Bezerra Cavalcanti

Durante o Governo de Luís do Rego, foi em Beberibe


que se verificou a maior atividade das Forças que levantaram
o movimento contra aquele Capitão General, revolta que
culminou com a derrota do último governador Português,
em Outubro de 1821, quando naquelas matas foi assinada
a célebre Convenção de Beberibe, que deu a Pernambuco a
condição de primeira Província independente de Portugal.
Nesse Bairro, justamente em sua Praça principal, foi
erguido um monumento a esse feito denominado de:

MONUMENTO À CONVENSÃO

Construído de cimento polido, com cerca de 8 metros de


altura esculpido pôr Abelardo da Hora.
Na coluna existem 5 datas a saber:
1654 (Restauração Pernambucana); 1710 (Guerra dos
Mascates) 1817 (Revolução Pernambucana); 1821 (Convenção
de Beberibe)1822 (Independência do Brasil).
Na parte inferior do monumento encontram-se 3
estátuas, uma delas representa um homem escrevendo sobre
uma mesa, entre dois outros, atrás do monumento, 3 soldados
com espada e escudo, um índio, um branco e um negro.
Na base arredondada uma placa:
Neste pedaço de terra do Brasil os heróis da Convenção
de Beberibe deixaram uma herança maior às gerações futuras
o marco do pioneirismo da nossa Independência em 5 de
Outubro de 1821,homenagem do Recife, nas comemorações
do Sesquicentenário da Independência do Brasil.
Segundo informações colhidas em "MONUMENTOS
DO RECIFE", de Rubem Franca, pag. 268, "na Praça da
Convenção (localizada no terminal de Beberibe), há duas
casas tidas como as que serviram às reuniões dos políticos
daquele episódio :a d e n 8 125, totalmente descaracterizada e a
de ns 131 que conserva seu aspecto original."

363
O Recife e seus bairros

BAIRRO DA BOMBA DO HEMETÉRIO


A Bomba do Hemetério, está situada na zona Norte do
Recife. Conforme artigo publicado no Jornal do Commercio
de 26 de Outubro de 1997, é mais conhecida, hoje, pôr ser a
localidade onde estão situadas as sedes da Nação Maracatu
Elefante e da Tribo Canindé do Recife, agremiações seculares
que representam a cultura popular pernambucana. Não
há origem comprovada, porém os moradores mais velhos
atribuem a denominação a um antigo morador da área de
nome Hemetério, que detinha o poder da água em uma
comunidade em uma comunidade mal servida do produto.
Por volta de 1924, toda área era conhecida como A lto dã
A legria e pertencia ao Arruda.
'"todo mundo ia pegar água na bomba de seu Hemetério,
a notícia foi se espalhando e o lugar ficou com esse nome".
Diz Isidoro Cavalcanti Cruz, um comerciante que mora há 70
anos no Bairro.
A história é confirmada pôr Rômulo Falcão de Souza,
outro morador antigo, que ainda se lembra onde ficava o local.
As crianças do bairro repetem essa história, que é passada de
pai para filho.
Pôr haver emprestado seu nome ao Bairro, eu hoje não
sofre mais com falta d'água como antigamente, seu Hemetério
é o grande homenageado no Carnaval pêlos conterrâneos.
Os moradores da localidade confeccionaram um boneco
gigante representando o antigo morador, que assim continua
presente na comunidade, passando pelas ruas e arrastando o
povo nos três dias de festa.

364
Carlos Bezerra Cavalcanti

ALTO DO PASCOAL

Grande parte dessa localidade pertenceu ao Sr. Pascoal


Savine, italiano, natural de Nápoles, que veio para o Brasil
com cerca de 20 anos de idade. Residiu, durante vários anos,
no Bairro do Arruda, mais precisamente nas proximidades
do alto que, hoje, tem seu nome, na Rua São Bento, onde
construiu várias casas. Foi próspero comerciante, no Recife,
além de imóveis de aluguel, possuía, também, criação de
gado, açougue e mercado. Faleceu em 1905.

CAMPINA DO BARRETO

Essa área, antes de ser uma campina, era um sítio de


coqueiros e mangueiras que pertencia ao português conhecido
como "Seu Barreto".
Esse lusitano, no início, chegava a exportar as frutas
colhidas no seu sítio. Com o tempo, no entanto, ele começou
a criar gado e a desmatar a sua propriedade, plantando nos
lugares de coqueiros e mangueiras, capim para sua nova
atividade (pecuária), surgindo, então, no lugar, uma campina
que, hoje, tem seu nome.

CHÃO DE ESTRELAS

A mesma fonte diz o seguinte sobre essa localidade:"criada


a apenas 15 anos, a comunidade de Chão de Estrelas tem um
nome que suaviza a história de luta dos moradores. A terra
conquistada com muita negociação, poderia Ter sido batizada
de Vila DNOS, Vila Walter Luna, Vila Manuel Batista ou Vila
Marco Maciel. Homenagem às pessoas que contribuíram para a
desapropriação do terreno e construção das casas de alvenaria.
As primeiras sugestões não agradaram aos moradores
mais antigos da comunidade. Nas discussões, alguém se

365
O Recife e seus bairros

lembrou dos caçadores que exploravam a área e dependiam


apenas da luz das estrelas, pois não havia iluminação pública.
Essa ainda era a situação do novo bairro que não possuía
energia elétrica nem água encanada.
Para consolidar a democracia que sempre existiu na
conquista da área,..., as sugestões foram colocadas em regime
de votação. Venceu "Chão de Estrelas". O chão simboliza
a nossa luta árdua e as estrelas eram nossa única fonte
de iluminação, diz a Diretora do Centro de Organização
Comunitária do Bairro, Josineide Andrade.

366
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DO FUNDÃO
Muitas localidades do Recife eram chamadas de Fundão,
no Bairro da Boa Vista, pôr exemplo, tinha uma área, no século
XIX que era assim denominado.
O atual Bairro do Fundão tem esse nome em virtude do
termo "fundão" ,que quer dizer: "lugar deserto e longínquo".
Vale salientar, no entanto, que a área era pouco habitada e
longínqua, não apenas em relação ao Centro do Recife mas,
principalmente, com referência ao arrabalde de Beberibe, a
quem pertencia. O maior ponto de referência dessa localidade
é a famosa (BARRIGUDA) que fica na Rua Coronel Urbano
de Sana que, por sua vez, homenageia o Oficial da Polícia
Militar, ex-Comandante Geral daquela corporação.

BAIRRO DE CAJUEIRO

O lugar tem sua origem em um loteamento que recebeu


o nome de uma árvore da família das anacardiáceas,
muito comum em terrenos arenosos do litoral nordestino,
responsável pêlos suculentos "cajus".
O sítio e depois o loteamento pertenceram ao Senhor
Sebastião Salazar, que era também arrendatário do Matadouro
de peixinhos, Chefe da Limpeza Pública e nome de um das
principais ruas dessa localidade, que possui uma bela Igreja,
sendo um bairro, tipicamente residencial.

367
O Recife e seus bairros

BAIRRO DA LINHA DO TIRO

A localidade conhecida hoje como Linha do Tiro, está


situada entre os Bairros de Dois Unidos, Vasco da Gama,
Cajueiro e Beberibe a quem pertencia, uma vez que, foi
justamente nas terras do Major Joaquim José Antunes, que
seu núcleo surgiu., tendo o fato ocorrido da seguinte forma,
segundo notícia divulgada no Diário de Pernambuco de 15 de
junho de 1887: "O Esmo Sr General Comandante das Armas,
depois de percorrer diversos pontos dos arrabaldes dessa
cidade a fim de escolher o local para uma Linha de Tiro (grifo
nosso) encontrou anteontem, em Beberibe, no Engenho do
Sr. Major Antunes, um trecho de terreno que se presta para-
o estabelecimento da linha. Tendo ontem mesmo procurado
o Major Antunes, obteve permissão para executar qualquer
trabalho que seja necessário para Tê-lo em condições em
condições de servir para o exercício de Tiro. É tão importante o
serviço que se vai prestar a guarnição do Sr. General Clorindo,
instruindo os seus comandados no tiro ao alvo, quanto o do
Sr. Major Antunes permitindo que seja a linha estabelecida
em terras de seu Engenho, sem ônus algum para o estado".
Já em 23 de Janeiro do mesmo ano, começaram os
exercícios.
O Major Antunes está muito ligado à história de Olinda,
de onde foi vereador e prefeito, e a quem, em sua época,
pertencia a localidade de Beberibe e seus arredores.

368
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DE PASSARINHO
A origem do nome desse pequeno bairro que pertence a
terceira Região Político Administrativa (RPA Dl) vem de uma
ave, mais precisamente do Riacho do Passarinho, que nasce na
Chã das Piabas (Poço da Panela) e corta a Mata do Passarinho,
uma reserva florestal cercada desde o ano de 2.000. Sua área
possui 11 hectares e está situado entre os bairros olindenses
de Caixa D'água e Águas Compridas.
Segundo matéria veiculada no Jornal do Commercio,
sobre os bairros do Recife, sem dar o devido crédito :
"Entidades ligadas ao Candomblé e ao meio ambiente,
defendem a oficialização e regulamentação dos cultos na
reserva florestal que é, na realidade, trata-se de um trecho da
Mata Atlântica reconhecida, oficialmente, como lugar sagrado
do Candomblé".
Considerada de utilidade pública, a área foi
desapropriada pelo decreto municipal n.Q057 de 12 de maio
de 1998. Levantamento botânico revelou a presença na mata
de 25 espécies de árvores características da mata atlântica. Há
cajá, dendê, favinha, imbaúba, ingá, jacarandá, louro, pau-
santo, murici, oiti, sucupira e visgueiro.
A unidade de conservação é uma das 40 reservas
ecológicas criadas em 1987 criadas no Grande Recife, pelo
Governo Estadual. (JC 26/11/2011).

369
O Recife e seus bairros

BAIRRO DO BREJO DO BEBERIBE


O Brejo do Beberibe, situado na zona Norte da cidade,
entre os bairros de Passarinho, Dois Unidos, Vasco da Gama,
Nova Descoberta e Brejo da Guabiraba, tem como principal
característica ser um celeiro que abastece várias outras
localidades com mudas de plantas, principalmente de fícus,
pingo-de-ouro e coqueirinho.

BAIRRO DE PEIXINHOS

Praticamente dentro dos "quintais" de Olinda esse


pequeno bairro tem seu nome originado do Riacho de
Peixinhos que nasce em seus limites

370
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DO IBURA

Seu nome, segundo Silveira Bueno, é uma corruptela


indígena que quer dizer "Fonte de Água", mais precisamente,
Y= água e bura= que brota, que arrebenta, borbulha.
No século passado, as terras dos atuais bairros do Ibura,
de cima e de baixo, pertenceram ao engenho do mesmo nome,
que ficou de fogo morto.
No início de seu governo, ou interventoria, Agamenon
Magalhães fundou no Ibura, tuna fábrica de farinha
panificável e uma cooperativa de plantadores de mandioca.
Em seguida, construiu uma vila para os trabalhadores dessas
instituições. Aquele núcleo de trabalho e de recuperação
econômica desenvolveu-se de tal forma, com seus próprios
lucros e rendimentos, que o interventor teve que fazer uma
escola para dar instrução a mais de 100 crianças, filhas dos
operários daquela fábrica.
A Escola Granja, com seus pinteiros, parques de criação
e de cultura agrícola, foi inaugurada em 19 de abril de 1943,
justamente no mesmo ano em que o Brasil ingressou na
II Guerra Mundial. Naquela ocasião, o antigo "Campo do
Ibura", futuro "Aeroporto dos Guararapes", receberia grande
incentivo de progresso, com a presença de tropas norte-
americanas naquele campo de pouso.

AEROPORTO DOS GUARARAPES

Esse Aeroporto teve, portanto, origem na Base Militar,


edificada pelos Ianques para servir de apoio às Forças Aliadas
nesta parte do mundo, no segundo conflito mundial.
Na época as instalações civis eram extremamente simples
e destinadas a atender ao importante movimento comercial.
A então Estação de Passageiros, ainda existe em meio às
edificações do Parque de Material Aeronáutico do Recife.

371
O Recife e seus bairros

A denominação hoje de AEROPORTO INTERNA


CIONAL DOS GUARARAPES, foi promulgado por intermédio
da lei 1.909 de 21 de julho de 1953. O nome Guararapes,
contudo , já lhe fora atribuída pelo decreto Governamental
de 21 de julho de 1948, numa clara homenagem ao próprio
povo pernambucano, sobre os Montes Guararapes.
O campo do IBURA muito serviu á aviação comercial
brasileira, porquanto foi importante ponto de apoio ao
tráfego doméstico e, sobretudo internacional. Com o fim da
II Guerra incrementou-se o tráfego aéreo em todo mundo.
As "acanhadas" instalações do Ibura logo se tornaram
obsoletas necessitando de reformas que a adaptassem a
novo conjuntura aérea.
Urgia a construção de um novo terminal de passageiros e
um grande pátio de manobras para aeronaves que começou a
ser construído a partir de 1950, ao lado oposto das instalações
militares, sendo finalmente inaugurado em 18 de janeiro de
1958, concebido dentro dos mais modernos padrões vigentes
na sociedade brasileira de então.
A primeira aeronave a utilizar o novo Aeroporto (novo pátio
de aeronave e terminal de passageiros), foi um DC-3b da Real
Aerovias do Brasil, conduzindo o então Presidente Juscelino.
O AEROPORTO DOS GUARARAPES está situado
em ponto estratégico da rota Brasil-Europa segunda escala
obrigatória dos bravos equipamentos da época, com menor
autonomia de vôo.
Atualmente o AEROPORTO DOS GUARARAPES, em termos
de volume de tráfego aéreo, é o primeiro do Nordeste, o quarto do
país e é capaz de receber os maiores aviões de linha comercial.
Situado a apenas alguns minutos do centro do Recife e
da aprazível praia de Boa Viagem, dispõe de um terminal
de 24.000 m2 com ar refrigerado. Suas instalações abrigam
diversas lojas e serviços necessários para melhor servir a
viajantes de todos os Estados do Norte e Nordeste, além
daqueles com destinações internacionais.

372
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DA VILA DA COHAB

O Bairro da Vila da COHAB se originou do primeiro


Conjunto Habitacional construído em 1966, pela Companhia
de Habitação de Pernambuco, de quem herdou o nome. Sua
área é toda entrecortada por pequenos córregos e localizada
em região de morro.
As vilas que compõem o atual bairro que acolheram, de
início, alguns desabrigados da enchente ocorrida no Recife
naquele ano, foram idealizadas pelo engenheiro Henrique
Guimarães e pelo Prefeito da cidade, Dr. Augusto Lucena.

373
O Recife e seus bairros

BAIRRO DO JORDÃO

O Jordão fica situado nos limites do Recife com o


município de Jaboatão dos Guararapes. O nome da localidade
é proveniente do Rio Jordão que nasce nas redondezas e vai
desaguar no estuário do Pina, antes de separar os Bairros da
Imbiribeira e de Boa Viagem.
O Bairro é tipicamente residencial e teve seu crescimento
semelhante ao de seu vizinho, o Ibura. Surgiu por volta de
1950, com a construção da primeira Vila Popular, com cércade
120 casas construídas pelo Serviço Social Contra o Mocambo,
no Jordão de Baixo. Já o Jordão do Alto teve sua origem
alguns anos depois, na década de sessenta, com um projeto
de construção apoiado pelo Governo Americano (USAID), no
tempo do Presidente Kennedy. Uma pequena feira onde os
trabalhadores das construções e os primeiros moradores da
localidade se abasteciam, deu início às primeiras atividades

374
Carlos Bezerra Cavalcanti

econômicas da área cedida, em parte, pelo Deputado Newton


Carneiro. O principal logradouro do Bairro é a Avenida Maria
Irene que no início, em época de chuva, era um verdadeiro
lamaçal, com poças d'água semelhantes a pequenos lagos.
Finalmente, na segunda gestão do Prefeito Augusto Lucena,
ela foi asfaltada.
O Recife e seus bairros

BAIRRO DE APIPUCOS

Por escritura datada de 5 de Dezembro del577, uma


parte das terras do Engenho Monteiro foi vendida a André
Gonsalves, que então criou o Engenho Apipucos.
O nome precede à própria colonização portuguesa
sendo de origem tupi, Apé=puc que significa encruzilhada
de caminhos, embora alguns prefiram traduzir o termo como
caminho que bifurca. E justamente nessa antiga bifurcação
ou encruzilhada, que está situada a praça principal do bairro.
Esses caminhos, tinham o seguinte itinerário : um descia para
o Rio Capibaribe e o outro vinha da mata de Dois Irmãos.
No final do século XVII alguns engenhos bengüês, corn
a implantação do sistema de Usinas ou Engenho Centrais,
começaram seus declínios o que aconteceu com o Engenho
Apipucos de propriedade, nessa época, de João do Rego Barros.
A partir da primeira metade do século passado, com o
surgimento da chamada hidroterapia a localidade recebeu seus
primeiros veranistas. As famílias mais abastadas da capital em
virtude da insalubridade e do calor recifense, refugiavam - se,
pôr alguns meses (Novembro/Fevereiro), no bucólico e aprazível
Apipucos, onde iriam receber a brisa suburbana e refrescaram
- se nas águas do açude existentes na localidade. Nessa ocasião
surgiram na área chácaras, sítios e até alguns hotéis.
Pôr volta de 1847 um morador do então povoado,
comerciante Cláudio Dubeaux, implantou a primeira rede de
transporte coletivo da cidade, as carruagens, depois chamadas
ônibus do Cláudio..
O núcleo inicial do povoamento ocorreu em volta da
capelinha que existiu no local onde hoje se encontra a Igreja ;-
de Nossa Senhora das Dores que segundo Manuel Heleno, no
livro "MEU ROMÂNTICO APIPUCOS - Recife, 1994"página
58: ... passou a pedir uma cura a fim de atender os ofícios
da fé. Este demorou a chegar, mas no final do século XIX, a

376
Carlos Bezerra Cavalcanti

comunidade foi contemplada com a vinda do inaciano Padre


Thomas P. Digmam. Este irlandês ligado ao colégio Nóbrega,
representou uma feliz escola, que satisfez aos paroquianos.
Pôr essa época formou-se um grupo protetor da capelinha,
composto pôr nativos e anglicanos católicos, orientados
pelo jesuíta Digmam. Eles realizaram obras meritórias, quer
filantrópica, quer de proteção ao patrimônio do burgo. Este
grupo teve passagem cristã.
Apipucos então viveu períodos áureos, no início do
século XX, desfrutando de magnífica natureza e de sua gente
ordeira e crente...
Notícia publicada no Diário de Pernambuco de 13 de
Fevereiro de 1886 nos dá conta de que naquele ano, após
duas décadas de interrupção, celebrava-se a Festa de N. S.
das Dores, constando de missa solene, ladainha, às 7 horas da
noite e sermão...A tarde, no largo da igreja houve cavalhada e
outros folguedos populares tocando na ocasião duas bandas
de música.
Nesse bairro, considerado um dos mais tradicionais
da cidade,o paisagista Roberto Burle Marx passou parte
de sua infância, ali também viveu pôr 42 anos o sociólogo
Gilberto Freire, na casa onde hoje funciona fundação que
tem seu nome.
Nessa localidade também residiu o grande visionário
Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, que ousou enfrentar os
interesse da cúpula política pernambucana e o poderio das
multinacionais, sendo assassinado no município de Pedras,
nas Alagoas, em 1917.
A Vila Anunciada, onde residiu aquele empresário, foi
posteriormente adquirida pelo anglicano HERR CHENKER
e está hoje sob os cuidados da Fundação Joaquim Nabuco.
Nas proximidades também funcionam várias repartições da
FUNDAJ onde se encontra, inclusive, um espaçoso auditório,
os departamentos de Iconografia e de documentação,
biblioteca e cinemateca da Fundação.

377
O Recife e seus bairros

Nesse bairro dispomos atualmente do Seminário dos


Irmãos Maristas, onde se destaca o :

"MONUMENTO A CHAMPAGNAT"

Esse religioso francês foi um dos criadores da Irmandade


Marista, que fundou os Colégios São Luís e Marista, aquino Recife.
O monumento é de bronze: o beato com três crianças e no
pedestal uma placa de cada lado.
V.J.M.J.(VIVA JESUS MARIA JOSÉ) bem aventurado
Marcelino Champagnat (1789-1840)
1955- Os fundadores da Província. Homenagem dos ex-
alunos (1903)
12-IV-1953- Tudo a Jesus pôr Maria/Província reconhecia
aos venezianos.
1903-12.IV.1953.

MEMORIAL MAEISTA

Um círculo museográfico com fotos, textos e objetos,


funciona no Bairro, na Rua Torquato Neto, na 318. Nele
podem ser admiradas peças raríssimas, como um relicário,
com fragmentos de osso, que pertenceu a Champagnat (um
dos três exemplares existentes no mundo).
Também nele se encontram expostos hábitos religiosos
dos irmãos Marista, com ofício de cor preta, que passaram a
ser usados em 1828, e muitas outras peças identificadas com a
história daquela Irmandade.
Segundo Reportagem do Diário de Pernambuco de 18 de
agosto de 1997, os Maristas atuam em 76 países. No Brasil, só não
estão presentes em Mato Grosso, Amapá e Roraima. Eram, nessa
época 600 irmãos, 6.800 professores, 102.300 alunos, 65 escolas, 35
obras sociais, 3 universidades, 4 editoras, 7 estações de Radio è 3
emissoras de televisão, evangelizando as comunidades que atende.

378
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DE DOIS IRMÃOS


O Engenho Dois Irmãos, que não mais existe, foi erguido
nas terras da propriedade conhecida como Apipucos, na
primeira metade do século passado, pêlos irmãos Antônio e
Tomás Lins Caldas, co-senhores dessas, terras pôr herança
paterna e, vulgarmente, conhecidos pelos apelidos domésticos
de Toné, o primeiro e Coló, o segundo.
De acordo com o grande historiador Pereira da Costa,
"Arredores do Recife," pag. 74:
"Num dia festivo da botada do Engenho, recitou um
poeta popular uns versos de saudação aos irmãos Toné e Coló,
seus proprietários, que, por oportuno, consignamos este que
foi comunicado por um dos seus descendentes:

Viva seu Toné


E seu Coló também;
Viva os dois Irmãos
Que se querem bem.

No final do século XIX, segundo o mesmo autor, "o


arrabalde era um dos mais belos e pitorescos da cidade. Nos
domingos, principalmente, grande era o número de pessoas
que o procuravam para gozar as delícias do seu soberbo
panorama, onde uma vegetação abundante, talvez a de mais
exuberância dos trechos de natureza viva que emolduram
os arrabaldes suburbanos do Recife. Atrai maravilhas ao
espectador. De fato as perspectivas para quem demanda
aquele arrabalde, tem uma variedade e uma sucessão de
imprevistos admiráveis."
A área verde que caracteriza essa localidade e lhes dá
peculiaridade e clima agradável e corresponde a 3,4 Km2 do
total de 5,8 Km2 de todo o bairro é considerada unidade de
conservação pelo governo Estadual. Graças a essa medida que

379
O Recife e seus bairros

visava, principalmente, a proteção do manancial hidrográfico


o espaço natural serve de refúgio para a fauna e proporciona
aos quase três mil habitantes da localidade um ambiente
salubre e uma paisagem bucólica distante do "progresso"
urbano. Os moradores mais antigos do local relembram em
uma reportagem do JC de 10 de janeiro de 2008: " na primeira
metade do século passado, o lugar que abriga hoje a Praça
Faria Neves, Vereador e tio do Poeta, (observação nossa) era
um largo cheio de jurubebas e gitiranas. Tinha uns caminhos
estreitos que levava à avenida Caxangá. As casas era então
cobertas de palha e ficavam aonde hoje é a pista.
Em 1932, na Interventoria de Carlos de Lima Cavalcanti,
as melhorias tiveram início, com a construção da Vila Operária
para os funcionários da Diretoria de Saneamento do Estado.
Posteriormente, em 1956, já na segunda gestão do Prefeito
Pelópidas Silveira o largo foi aterrado, dando-se início à
construção da atual praça inaugurada no ano seguinte, esse
logradouro, ou mais precisamente os seus jardins foram
projetados pelo Paisagista Roberto Burle Marx e dispõe de
uma área de 8,6 mil metros quadrados".
Ontem, em maiores proporções que hoje, os visitantes
eram mais freqüentes, principalmente aos domingos, pois, sem
televisão, vídeo cassete, jogos eletrônicos e "shopping centers",
a sodedade se lembrava da natureza os pais, numa vida
familiar mais intensa e partidpativa, levavam, quase sempre, a
criançada para os passeios no:

HORTO DE DOIS IRMÃOS

Em 1916 ocorreu a primeira tentativa de preservação


da localidade com a criação desse horto florestal pelo então
governador Dantas Barreto, instalando-o numa área de 16
hectares que pertenceu ao antigo Engenho Dois Irmãos.

380
Carlos Bezerra Cavalcanti

Foi administrado pelo Prefeito Municipal até 1935 quando


passou para a responsabilidade do recém criado Instituto de
Pesquisa Agrônomas ( IPA).
No Sábado, 14 de janeiro del939, nele foi instalado o
jardim Zoobotânico de Dois Irmãos, em solenidade que
contou com as presenças do ecológico Vasconcelos Sobrinho
seu primeiro diretor, do Secretario da Agricultura, Apolônio
Sales, o interventor Agamenon Magalhães e do Prefeito
Novaes Filho.
Nas décadas de 40 e 50 era um dos locais mais freqüentados
pelas famílias pernambucanas que nele costumavam fazer
"pic-nic" nos dias ensolarados de domingo.
O Horto de Dois Irmãos, que funciona há 60 anos,
continua sendo motivo de alegria da garotada e de boas
recordações dos mais velhos. Aliás, foi nessa área do atual
horto que existiu um pequeno povoado justamente por causa
do volumoso lago conhecido como "Manancial do Prata",
que tem seu nome atrelado ao fato de uma rica senhora, Dona
Branca Dias, residente naquelas imediações, ter jogado toda
a sua prataria no lago quando foi perseguida pela Inquisição,
quando visitou esta capitania.
Nesse lago, a partir de 1847, começou a funcionar a
Companhia do Beberibe, responsável pelo abastecimento
d'água do Recife. A sede dessa companhia, hoje extinta,
funcionou em um dos chalés dos proprietários do antigo
Engenho Dos Irmãos.

381
O Recife e seus bairros

O Antigo Chalé

MUSEU DE CIÊNCIAS NATURAIS

Segundo, ainda, Rubem Franca ( ob. cit. Pag. 290) "É


interessante, didático e instrutivo ". (grifo nosso).
"fruto das coletas e dos trabalhos de paciência e da
abnegação do taxidermista (pessoa que empalha animais)
autodidata, que é o Sr. Petrônio Machado Cavalcanti.
Criado em 1973, o Museu tem mais de 2.000 peças. Visitá-
lo é tomar uma excelente aula de história natural. É aprender
um mundo de coisas sobre equinodermes, artrópodes, répteis,
insetos, fósseis, conchas e minerais."
No Bairro de Dois Irmãos encontramos, ainda as:

___ FACULDADES DE AGRONOMIA E_____________'


VETERIN^ R IA

Das mais tradicionais do Nordeste, as Faculdades de


Agronomia e Veterinária, fundadas em 1913, hoje fazem parte
da Universidade Federal Rural de Pernambuco, juntamente
com os Cursos de Zootecnia e Engenharia de Pesca, entre
outros, funcionam em espaçoso e aprazível prédio, já nos
limites do Recife, ligadas a final da Av. Caxangá (Ponte

382
Carlos Bezerra Cavalcanti

Presidente Castello Branco), pela estrada conhecida como


"VOLTA AO MUNDO

383
O Recife e seus bairros

BAIRRO DE TEJIPIÓ

B5r volta de 1645, nas vésperas do Combate de Casa Forte,


a tropa que veio da Bahia, sob o comando do Mestre de Campo
André Vidal de Negreiros, acampou na Fazenda Tejipió.
Segundo Pereira da Costa (Arredores do Recife, pag. 127)
foi nessa Fazenda que Fernandes Vieira tinha já ocultado o
capitão. Antônio Dias Cardoso, que também viera da Bahia,
com um reforço em auxílio da Insurreição Pernambucana
e de onde partiria para a memorável jornada das Tabocas,
cujas glórias, em grande parte lhe cabem, pêlo seu heroísmo
na perfídia peleja.
Tejipió foi, na sua origem, uma grande propriedade
rural, na qual havia um Engenho de fabrico de açúcar,
situado a margem esquerda do rio do mesmo nome e pêlo
qual descia para o Recife, em pequenos barcos todo o açúcar
fabricado, acondicionado em caixas de madeira, como então
se praticava e permaneceu ainda pôr vários anos, até que
foram substituídas pôr sacos de algodão...
... Com o desenvolvimento do povoado, veio a fundação
de uma Capela, em meados do século XVH, sob a invocação
de N. S. do Rosário, situada a margem da Estrada que corta
de leste a oeste..."
Para Teodoro Sampaio, Tejipió ou Tegipió, parece
alteração de Tejupió, corruptela de Teyju-piog, raiz de teju.

384
Carlos Bezerra Cavalcanti

BAIRRO DO SANCHO

Segundo Napoleão Barroso (ob. cit. Pag. 225):


"O estabelecimento da Estação da antiga "Great
Western" propiciou o crescimento do Bairro do Sancho, de
terras elevadas, clima salubre, onde casas confortáveis, foram
construídas em grandes sítios como as do Vilachan, Colaço
Leite, Pessoa, Gibson e outros. A Capela de São João, hoje
Matriz, na antiga Avenida Dias Martins, depois mudada para a
Av. Padre Ibiapina, foi construída pelas mencionadas famílias,
tendo à frente Francisco Ferreira Vilachan, comerciante de
charque da Rua da Praia, depois joalheiro, cujo filho Heitor é
o mais antigo morador do Bairro."
O nome de Sancho, no entanto, é herdado do dono do
antigo sítio que se chamava João Ribeiro Sanches.
Na época da II Guerra Mundial os americanos ocuparam
as obras do futuro "Hospital do Sancho" nele instalando uma
casa de repouso para convalescência de militares.
Com o final da 13 Guerra Mundial esse hospital passou a
ser utilizado no tratamento de doentes com tuberculose.
A localidade representa uma da mais longínquas do
Recife, se limitando com o:

385
O Recife e seus bairros

BAIRRO DO CURADO
Nesta área existe um pequeno complexo industrial com
as fábricas de sorvetes "MAGUARI-SORVANE", de tintas
"CORAL", de lâmpadas "PHILIPS", entre outras, além
do moderno prédio do Quartel do Comando Militar do
Nordeste, estrategicamente instalado no Horto Florestal do
Curado e dos Centros de Formação da Polícia Militar e do
Corpo de Bombeiros
O nome dessa localidade é também proveniente do
antigo proprietário do Engenho, de sobrenome "CURADO"

BAIRRO DO COQUEIRAL
Esse subúrbio surgiu no início dos anos 40, quando ainda
era um sítio e algumas pessoas provenientes da zona rural
resolveram ali se instalar, mediante pagamento de foro ao
proprietário da terra. O local, sendo de difícil acesso, o único
meio de transporte para se chegar a ele era o cavalo e foi
justamente montando um que, passava nas redondezas o:

386
Carlos Bezerra Cavalcanti

CAVALEIRO

O nome é reminiscente da época do antigo Engenho, que


em meados do século passado pertencia a Francisco Casado
da Fonseca, a propriedade foi desmembrada do Engenho
Santana, onde existe ainda hoje a capela e o casarão.
Cavaleiro assim como Coqueiral, são arrabaldes servidos
pelo METROREC, possuindo, ambos, uma Estação bastante
movimentada.

TOTÓ

Segundo a jornalista Cleide Alves, no Jomal do


Commercio de 2008, este é o menor bairro do Recife tem
apenas 0,14 quilômetro - o equivalente a dois Parques da
Jaqueira - quadrado de área e faz parte da Zona Especial de
Interesse Social (Zeis) Cavaleiro. Totó, na Zona Oeste, é o tema
da 27- reportagem da série sobre os bairros da cidade, iniciada
dia 16 de julho passado. Limita-se com Curado, Coqueiral
e Sancho e com o município de Jaboatão dos Guararapes.
Elevado à categoria de bairro do Recife desde 1988,
Totó fazia parte de Tejipió e foi desmembrado pelo decreto
municipal nQ14.452..
O lugar, onde viviam dois mil duzentos e sessenta e cinco
habitantes, em 2000, registra perda de população, de acordo
com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)."
(o nome da localidade, segundo informações de moradores
antigos, é proveniente do apelido de um dos primeiros
proprietários de terrenos naquela área.)

387
Carlos Bezerra Cavalcanti

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JORNAL DO COMMERCIO - Edições de domingo -
Reportagem "de Olho nos Bairros" - Cleide Alves
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VILELA, Cameiro-A Emparedada da Rua Nova -Recife-1974
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391

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