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É notório que fazer justiça com as próprias mãos não se constitui o melhor caminho para

solucionar os conflitos sociais vigentes. Dentre inúmeros fatores de extrema relevância, destacam-se
o descrédito de boa parte da população no sistema judiciário e na Polícia, bem como a sensação de
insegurança e de impunidade presentes na sociedade brasileira. Logo, mudar esse cenário é uma
necessidade, e não um fato opcional.
Em primeiro plano, é preciso refletir sobre o atual cenário de insegurança, de violência e de
lentidão do sistema judiciário brasileiro. Nessa perspectiva, a precariedade das condições de
trabalho das polícias, assim como a demora em julgar os casos encaminhados ao judiciário têm
contribuído para que haja um descrédito por certa parcela da população nas instituições
responsáveis por garantir a paz e a segurança dos cidadãos. Desse modo, a solução encontrada por
muitos foi a criação de um júri popular. Prova disso são os denominados “justiceiros”, os quais
assumem o papel da polícia e da justiça, caçando, sentenciado e penalizando os que cometem
crimes e infrações. Destarte, além de não ser nada contributivo à ordem social, fazer justiça com
próprias mãos configura-se como uma prática ilegal, uma vez que somente compete às autoridades
constituídas pelo Estado aplicar medidas punitivas.
Torna-se relevante observar, ainda, que tomar decisões precipitadas gera consequências
drásticas a indivíduos e a todo tecido social. Nesse diapasão, os “justiceiros” aplicam “penas” que
vão de amarrar suspeitos em postes à execução sumária de pessoas. Pode-se mencionar, por
exemplo, o caso de Fabiane Maria de Jesus, moradora do Guarujá, no litoral paulista, a qual foi
confundida com uma sequestradora de crianças e linchada até a morte por centenas de pessoas
enfurecidas. Fatos como esse provam que fazer justiça por conta própria está na contramão do que
preconiza o Estado Democrático de Direito, que têm o contraditório e a ampla defesa como garantias
constitucionais. Dessa maneira, é inadmissível que a sociedade retroceda e considere como normais
as barbáries que são cometidas por aqueles que procuram agir conforme as suas próprias leis.
Evidencia-se, diante disso, que assumir a função que cabe aos órgãos competentes não é a
solução para o combate à criminalidade e à violência. Portanto, é indispensável que a sociedade civil
organizada fiscalize e reivindique dos governantes melhorias na área da segurança pública e no
sistema judiciário, por meio de manifestações e encontros com representantes políticos. Ademais, é
importante que a mídia e as plataformas digitais divulguem que os “justiceiros” também cometem
crimes, de acordo com a lei. Assim, o respeito aos direitos humanos e a construção de uma
sociedade mais justa e pacífica não seria mais utopia, mas uma realidade nacional.

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