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Inicialmente, a proposta da psicologia social sócio-histórica tem como objetivo

problematizar os processos de subjetivação na vida cotidiana. Zurba (2011) aponta que é


nesse âmbito que se expressa concretamente os processos que compõem a história coletiva e
individual. É nesse campo que se articulam os determinantes que passam a estruturar certas
condições que situam a maneira como os atores sociais irão se localizar efetivamente na
reprodução e na produção de seus modos de existência.
A partir desse ponto de vista, vemos que as dificuldades apresentadas no caso se
expressam de modo persistente naquilo que se refere ao cotidiano da usuária. Ao lado de
outra morbidades como a hipertensão e a obesidade, sob a forma dos signos de medo, insônia
e pensamentos acelerados, reúnem-se esse conjunto de respostas que se vinculam ao cenário
das relações que compõem as linhas do seu contexto social de adoecimento, bem como a
história e os atores atrelados ao seu estado afetivo atual.
Segundo a concepção da ontologia do ser social adotada por Zurba (2011), ao
considerar o sujeito, devemos lê-lo como uma composição dialética que é resultado atual das
interferências do movimento histórico que situam os determinante simbólicos e materiais que
possibilitam certo modos de relações que podem ser realizados dentro do contexto social no
qual está ele está inserido.
Nesse sentido, a usuária atualmente passa por pelo menos dois processos que,
possivelmente, são agentes definidores das condições na qual se arranja o seu processo
sintomático. De um lado, a perda recente da sua genitora, o que supõe o início de um trabalho
de luto e, do outro lado, dificuldades financeiras que a colocam sobre a gerência da situação
de toda a família: de seu marido, agora desempregado, e de seus dois filhos adolescentes.
Vemos que em função desse contexto encontram-se impossibilidades que denunciam a
situação de vulnerabilidade e que os recursos para a superação de tais problemas se mostram
escassos. Dessa forma, o acesso à realização de anseios pessoais, tanto como familiares, estão
restritos dentro de um campo mínimo de possibilidades de atuação no que se refere a sua
situação econômica atual, que por sua vez se vinculam às interferências que atravessam as
condições que dificuldade a sua capacidade de produção de saúde.
Assim, o indício do luto e as exigências com as quais se encontra acometida, atrelados
nesse processo de subjetivação, conduzem a maneira como se irá se produzir e se garante a
manutenção de seus sintomas.
O sintoma, portanto, é tido como o sinal que expressa as diversas linhas que
determinam esse campo de elementos relacionados e constituídos na vida cotidiana. Ao
considerá-lo a partir da dimensão da linguagem, como móvel através do qual o sujeito irá se
realizar e expressar as trocas que mantém com o mundo, mediado pelos significados coletivos
que determinam o modo como irão ser tecidos seus vínculos, os processos saúde-doença
serão concebidos, portanto, como resultado das sínteses dialéticas entre os campos: do
universal em relação ao da singularidade, nos quais podem-se constituir uma condição
particular de respostas determinada na lógica intersubjetiva (Zurba, 2011).
A vida comum tanto como a vida singular estão sendo mediadas por símbolos que
colocam em contato os estados afetivos que desvelam a trama de uma existência concreta e a
maior ou menor capacidade de superação dos dilemas pessoais através dos processos sociais
(Zurba , 2011).
Assim, a dicotomia da divisão mente-corpo se mostra obsoleta, na medida que a
composição do sintoma da usuária abarca diferentes níveis de expressão que é parte de um
conjunto total de relações organizadas ao redor do grupo familiar, das disposições de recursos
e a maneira como podem gerenciar atualmente as dificuldades que encontram no âmbito da
sua existência (Zurba, 2011).
Desse modo, é possível detectar pelas fragilidades situadas na história da usuária ao
longo dessa hipótese, os potenciais desencadeadores dos processos de adoecimento no qual se
encontram os marcos que estabelecem os impasses através dos quais se configura o quadro
atual de suas condições de saúde e os signos de expressão desse conjunto de relações sociais
(Zurba, 2011).

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