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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DR. DES.

PRESIDENTE DO EGRÉGIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ________

Processo nº ________

________ , Advogado, ________ , inscrito na OAB/


________ sob o nº ________ , com endereço
profissional na ________ , vem, respeitosamente,
perante Vossa aExcelência, com fulcro no artigo 5º, inciso
LXVIII, da Constituição Federal, e nos artigos 647 e 648,
inciso I, do Código de Processo Penal, impetrar

HABEAS CORPUS PREVENTIVO


C/C PEDIDO LIMINAR

em favor de ________ , ________ , ________ ,


________ , residente e domiciliado na ________ , por
estar na iminência de sofrer constrangimento ilegal
decorrente de ato do MM. Juiz da xx Vara Criminal da
Comarca de xx, pelas razões de fato e fundamentos:

DOS FATOS

O paciente foi surpreendido, ao tomar conhecimento por meio da


imprensa, de que seu nome estava relacionado na denominada Operação
________ , conduzida pelo Ministério Público Estadual, o que foi, de fato,
confirmado após ter-lhe sido franqueado acesso aos autos do processo nº
________ .

Da leitura dos autos, denota-se que o Ministério Público instruiu


superficialmente a denúncia, com base em ________ , motivando o presente
pedido.

Ocorre que estamos vivenciando uma pandemia, reconhecida pela


OMS em 11 de março, que coloca todo um sistema de saúde em risco de colapso.

As proporções que a doença causada pelo COVID-19 podem atingir


ainda são desconhecidas, levando o Governo federal a decretar Estado de
Calamidade Pública por meio do Decreto Legislativo nº 6, de 2020.

No presente caso é necessária a REAVALIAÇÃO da prisão do Réu,


uma vez que diante de NOVA SITUAÇÃO imposta pela chegada do Coronavírus,
um quadro de extremo risco se apresenta ao requerente.

O paciente é ________ , conforme ________ , portanto,


encontra-se no GRUPO DE RISCO para o COVID-19, o qual passa a ter maior
chance de letalidade no caso de contágio.

Desta forma, a possibilidade de detenção iminente em meio a


grandes aglomerações de presidiários coloca sua vida em alto risco. Razão pela
qual, motiva a presente reanálise.

Cabe ainda destacar a ausência de supressão de instância,


uma vez que, nos termos do Art. 654, §2º do CPP, "Os juízes e os tribunais
têm competência para expedir de ofício ordem de habeas corpus,
quando no curso de processo verificarem que alguém sofre ou está
na iminência de sofrer coação ilegal".

DO CABIMENTO DO HABEAS CORPUS PREVENTIVO

Consoante dispõe a Constituição Federal, em seu art. 5.º, inciso


LXVIII:

"conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer


ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação
em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso
de poder"

No mesmo sentido, dispõe o art. 647, do Código de Processo Penal:

"dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se


achar na iminência de sofrer violência ou coação
ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de
punição disciplina"

Portanto, diante de IMINENTE ato coator pela autoridade


impetrada, consubstanciada em manifesta ilegalidade, tem-se por devido e
cabível o presente pedido.
DA NECESSÁRIA REAVALIAÇÃO DA MEDIDA PUNITIVA - ESTADO
DE CALAMIDADE PÚBLICA

Diante da notória pandemia, as autoridades vem adotando uma


série de medidas para evitar aglomerações sociais e elevar o risco de colapso do
sistema de saúde.

No presente caso, para reavaliação da medida, alguns aspectos


devem ser considerados:

DO GRUPO DE RISCO

Considerando ________ que junta ao presente pedido, tem-se


pelo perfeito enquadramento do Requerente ao Grupo de risco.

A vulnerabilidade a uma doença altamente letal para aqueles


inseridos no Grupo de Risco exige medidas distintas, especialmente quando o
quadro carcerário já potencializa a letalidade do COVID-19 ante o ambiente
propício para a proliferação de doenças frequentes como tuberculose e AIDS.

Conforme texto da Recomendação 062/2020 do CNJ, há descrição


elucidativa daqueles que compõem o grupo de risco:

CONSIDERANDO que o grupo de risco para infecção pelo


novo coronavírus - Covid-19 compreende pessoas idosas,
gestantes e pessoas com doenças crônicas,
imunossupressoras, respiratórias e outras comorbidades
preexistentes que possam conduzir a um agravamento do
estado geral de saúde a partir do contágio, com especial
atenção para diabetes, tuberculose, doenças renais, HIV e
coinfecções;
(...)

E neste sentido, a recomendação é elucidativa:

Art. 4º Recomendar aos magistrados com competência


para a fase de conhecimento criminal que, com vistas à
redução dos riscos epidemiológicos e em observância ao
contexto local de disseminação do vírus, considerem as
seguintes medidas:

I - a reavaliação das prisões provisórias, nos termos


do art. 316, do Código de Processo Penal, priorizando-se:

a) mulheres gestantes, lactantes, mães ou pessoas


responsáveis por criança de até doze anos ou por pessoa
com deficiência, assim como idosos, indígenas, pessoas
com deficiência ou que se enquadrem no grupo de risco;

DA SUPERLOTAÇÃO E AUSÊNCIA DE EQUIPE DE SAÚDE


DISPONÍVEL

A superlotação do presídio ________ não é recente, conforme


________ , pelo contrário, inúmeras medidas já foram adotadas para
minimizar as condições precárias do estabelecimento prisional, inclusive com
ordem de interdição em ________ .

Nesse sentido é a Recomendação nª 62/2020 do CNJ:


Art. 4º (...) I - a reavaliação das prisões provisórias,
nos termos do art. 316, do Código de Processo Penal,
priorizando-se:
(...)

b) pessoas presas em estabelecimentos penais que


estejam com ocupação superior à capacidade, que
não disponham de equipe de saúde lotada no
estabelecimento, que estejam sob ordem de interdição,
com medidas cautelares determinadas por órgão do
sistema de jurisdição internacional, ou que disponham de
instalações que favoreçam a propagação do novo
coronavírus;

Ou seja, diante da superlotação é evidente a total incapacidade em


promover o isolamento de possíveis infectados pela doença.

Inquestionável que estabelecimentos penais que estejam com


ocupação superior à capacidade, e que não disponham de equipe de saúde
suficiente para atender a todos, configura pena de morte ao preso em meio à
pandemia, especialmente pelas condições de saúde do Réu.

DA PRISÃO SUPERIOR A 90 DIAS

A Recomendação nº 62/2020 traz expressa previsão de que os


presos detidos por prazo superior a 90 dias merecem uma reavaliação da prisão
preventiva:

Art. 4º (...) I - a reavaliação das prisões provisórias,


nos termos do art. 316, do Código de Processo Penal,
priorizando-se:
(...)

c) prisões preventivas que tenham excedido o prazo de 90


(noventa) dias ou que estejam relacionadas a crimes
praticados sem violência ou grave ameaça à pessoa;

Desta forma, conforme recomendado pelo CNJ pela


Recomendação nº 62/2020, importante que esta reavaliação leve em conta as
seguintes considerações:

CONSIDERANDO que a manutenção da saúde das pessoas


privadas de liberdade é essencial à garantia da saúde
coletiva e que um cenário de contaminação em grande
escala nos sistemas prisional e socioeducativo produz
impactos significativos para a segurança e a saúde pública
de toda a população, extrapolando os limites internos dos
estabelecimentos;

CONSIDERANDO a necessidade de estabelecer


procedimentos e regras para fins de prevenção à infecção e
à propagação do novo coronavírus particularmente em
espaços de confinamento, de modo a reduzir os riscos
epidemiológicos de transmissão do vírus e preservar a
saúde de agentes públicos, pessoas privadas de liberdade e
visitantes, evitando-se contaminações de grande escala
que possam sobrecarregar o sistema público de saúde;
(...)

Art. 2º Recomendar aos magistrados competentes para a


fase de conhecimento na apuração de atos infracionais nas
Varas da Infância e da Juventude a adoção de providências
com vistas à redução dos riscos epidemiológicos e em
observância ao contexto local de disseminação do vírus, a
aplicação preferencial de medidas socioeducativas em
meio aberto e a revisão das decisões que determinaram a
internação provisória, notadamente em relação a
adolescentes:

I - gestantes, lactantes, mães ou responsáveis por criança


de até doze anos de idade ou por pessoa com deficiência,
assim como indígenas, adolescentes com deficiência e
demais adolescentes que se enquadrem em grupos de
risco;

II - que estejam internados provisoriamente em unidades


socioeducativas com ocupação superior à capacidade,
considerando os parâmetros das decisões proferidas pelo
STF no HC no 143.988/ES;

III - que estejam internados em unidades socioeducativas


que não disponham de equipe de saúde lotada no
estabelecimento, estejam sob ordem de interdição, com
medidas cautelares determinadas por órgão do sistema de
jurisdição internacional, ou que disponham de instalações
que favoreçam a propagação do novo coronavírus; e

IV - que estejam internados pela prática de atos


infracionais praticados sem violência ou grave ameaça à
pessoa.

Nesse sentido, inclusive, já temos precedentes favoráveis sobre o


tema:

COVID-19 NO ÂMBITO DOS SISTEMAS DE JUSTIÇA


PENAL E SOCIOEDUCATIVO. A internação é medida
excepcional e, ausentes os requisitos do art. 122 do ECA ,
não se acolhe a pretensão ministerial.Hipótese em que o
representado faz uso severo de substâncias psicoativas,
tramitando anterior ação para internação em
estabelecimento terapêutico contra drogadição, com
ordem judicial ao ente público para disponibilização de
local adequado.Caso concreto em que o adolescente,
usuário de substâncias psicoativas, apresenta o
diagnóstico de Transtorno de Conduta. Observância à
novel Resolução nº 62, de 17/03/2020, do
Conselho Nacional de Justiça, que recomenda a
adoção de medidas preventivas à propagação da
infecção pelo novo Coronavírus COVID-19 no
âmbito dos sistemas de justiça penal e
socioeducativo, preconizando a aplicação
preferencial de medidas socioeducativas em meio
aberto e a revisão das decisões que determinaram
a internação provisória. Agravo de instrumento
desprovido.(Agravo de Instrumento, Nº 70084073097,
Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Carlos Eduardo Zietlow Duro, Julgado em: 17-03-2020)

Art. 3º Recomendar aos magistrados com competência


para a execução de medidas socioeducativas a adoção de
providências com vistas à redução dos riscos
epidemiológicos e em observância ao contexto local de
disseminação do vírus, especialmente:

I - a reavaliação de medidas socioeducativas de internação


e semiliberdade, para fins de eventual substituição por
medida em meio aberto, suspensão ou remissão,
sobretudo daquelas:

a) aplicadas a adolescentes gestantes, lactantes, mães ou


responsáveis por criança de até 12 anos de idade ou por
pessoa com deficiência, assim como indígenas,
adolescentes com deficiência e demais adolescentes que se
enquadrem em grupo de risco;

b) executadas em unidades socioeducativas com ocupação


superior à capacidade, considerando os parâmetros das
decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal no
Habeas Corpus no 143.988/ES; e

c) executadas em unidades socioeducativas que não


disponham de equipe de saúde lotada no estabelecimento,
estejam sob ordem de interdição, com medidas cautelares
determinadas por órgão do sistema de jurisdição
internacional, ou que disponham de instalações que
favoreçam a propagação do novo coronavírus;

II - a reavaliação das decisões que determinaram a


aplicação de internação-sanção, prevista no art. 122, III,
do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Razões pelas quais, a reavaliação da prisão é medida cautelar em


nome da saúde pública, conforme já são os precedentes sobre o tema:

Habeas Corpus. Associação criminosa, falsidade


documental e corrupção de menores. Alegação de
ilegalidade do indeferimento do pedido de liberdade
provisória e desnecessidade da prisão preventiva. Presença
de condições subjetivas favoráveis. Desnecessidade da
custódia. Paciente idoso com idade avançada e problemas
de saúde. Agravamento da crise da saúde pública
decorrente da pandemia do COVID-19. Custódia do
paciente que se revela temerária. Crimes cometidos sem
violência ou grave ameaça. Reincidência não comprovada.
Finalidades do processo que podem ser resguardadas com
medidas cautelares alternativas. Ordem concedida. (TJ-SP
- HC: 20273988720208260000 SP 2027398-
87.2020.8.26.0000, Relator: Marcos Alexandre Coelho
Zilli, Data de Julgamento: 23/03/2020, 16ª Câmara de
Direito Criminal, Data de Publicação: 23/03/2020)

Art. 5º Recomendar aos magistrados com competência


sobre a execução penal que, com vistas à redução dos
riscos epidemiológicos e em observância ao contexto local
de disseminação do vírus, considerem as seguintes
medidas:

I - concessão de saída antecipada dos regimes fechado e


semiaberto, nos termos das diretrizes fixadas pela Súmula
Vinculante no 56 do Supremo Tribunal Federal, sobretudo
em relação às:

a) mulheres gestantes, lactantes, mães ou pessoas


responsáveis por criança de até 12 anos ou por pessoa com
deficiência, assim como idosos, indígenas, pessoas com
deficiência e demais pessoas presas que se enquadrem no
grupo de risco;
b) pessoas presas em estabelecimentos penais com
ocupação superior à capacidade, que não disponham de
equipe de saúde lotada no estabelecimento, sob ordem de
interdição, com medidas cautelares determinadas por
órgão de sistema de jurisdição internacional, ou que
disponham de instalações que favoreçam a propagação do
novo coronavírus;

II - alinhamento do cronograma de saídas temporárias ao


plano de contingência previsto no artigo 9º da presente
Recomendação, avaliando eventual necessidade de
prorrogação do prazo de retorno ou adiamento do
benefício, assegurado, no último caso, o reagendamento da
saída temporária após o término do período de restrição
sanitária;

III - concessão de prisão domiciliar em relação a todos as


pessoas presas em cumprimento de pena em regime
aberto e semiaberto, mediante condições a serem
definidas pelo Juiz da execução;

IV - colocação em prisão domiciliar de pessoa presa com


diagnóstico suspeito ou confirmado de Covid-19, mediante
relatório da equipe de saúde, na ausência de espaço de
isolamento adequado no estabelecimento penal;

V - suspensão temporária do dever de apresentação


regular em juízo das pessoas em cumprimento de pena no
regime aberto, prisão domiciliar, penas restritivas de
direitos, suspensão da execução da pena (sursis) e
livramento condicional, pelo prazo de noventa dias;
Art. 6º Recomendar aos magistrados com competência
cível que considerem a colocação em prisão domiciliar das
pessoas presas por dívida alimentícia, com vistas à
redução dos riscos epidemiológicos e em observância ao
contexto local de disseminação do vírus.

Nesse sentido já são os precedentes sobre o tema:

Habeas corpus. Prisão civil. Execução de Alimentos.


Acordo de parcelamento descumprido. Natureza alimentar
do débito não alterada. Último mandado de prisão não
executado. Admissibilidade da coerção imposta. Ordem
denegada, mas convertida excepcionalmente a prisão em
regime domiciliar, conforme orientação do E. STJ, diante
do atual quadro de enfrentamento da pandemia do vírus
Covid-19. (TJSP; Habeas Corpus Cível 2039195-
60.2020.8.26.0000; Relator (a): Augusto Rezende; Órgão
Julgador: 1ª Câmara de Direito Privado; Foro de Caieiras -
1ª Vara; Data do Julgamento: 05/12/2011; Data de
Registro: 08/04/2020)

Ao chegar o tema ao STF, a orientação é de que o Juízo de primeira


instância reavalie a matéria, mesmo com decisões já proferidas, em observância
às orientações do CNJ:

Decisão: Trata-se de petição incidental nos autos do


agravo regimental no habeas corpus. Aduz a requerente
que há fato novo. Afirma que ante a pandemia do Covid 19
foi concedida Tutela provisória incidental na arguição de
descumprimento de preceito fundamental 347 Distrito
Federal, que em seu item b, perfeitamente se enquadra ao
caso da Paciente.” Alega que a paciente padece de doença
cardíaca e tem mais de sessenta anos. É o relatório.
Decido.(...). Quanto à pandemia provocada pelo COVID-
19, frise-se que o Plenário do STF na ADPF 347, de
relatoria do Ministro Marco Aurélio, negou referendo à
medida liminar, nos termos do voto do Ministro Alexandre
de Moraes. Dessa forma, a análise deverá ser feita
caso a caso segundo a Recomendação n. 62/2020
do Conselho Nacional de Justiça. Ante o exposto, não
conheço do pedido, mas determino ao Juízo de
primeiro grau que reavalie a prisão preventiva da
paciente, à luz da recomendação n. 62/2020 do
CNJ, consideradas as peculiaridades do caso concreto.
Publique-se. Comunique-se e arquivem-se os autos.
Brasília, 24 de março de 2020. Ministro Gilmar Mendes
Relator Documento assinado digitalmente. (STF - TPI HC:
178663 SP - SÃO PAULO 0033576-31.2019.1.00.0000,
Relator: Min. GILMAR MENDES, Data de Julgamento:
24/03/2020, Data de Publicação: DJe-072 26/03/2020)

Nesse sentido, corroboram os precedentes sobre o tema:

PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. delito


do art. 318 do Código Penal. PEDIDO DEsubstituição do
regime prisional de início de cumprimento da pena para o
aberto. PEDIDO DE concessão da prisão domiciliar.1. A
decisão impugnada, proferida no âmbito do Pedido de
Liberdade Provisória n. 5001857-49.2020.4.03.6119,
reconheceu a incompetência do Juízo da 6ª Vara Federal
de Guarulhos (SP) para apreciar quaisquer incidentes
relativos ao regime de cumprimento de pena, com base na
Súmula n. 192 do Superior Tribunal de Justiça, que
determina que cabe ao Juízo das Execuções Penais do
Estado a execução das penas impostas a sentenciados pela
Justiça Federal.2. A mesma decisão impugnada
determinou a expedição de guia de execução definitiva. De
acordo com as informações prestadas pela autoridade
impetrada, em 17.03.20, foi encaminhada Guia de
Recolhimento Definitiva para a Vara de Execução Penal da
Comarca de Bauru (SP), a qual foi distribuída sob o n.
0002253-82.2020.8.26.0026, Unidade Regional de
Departamento Estadual de Execução Criminal DEECRIM
3ª RAJ - Bauru/DEECRIMUR3, Controle VEC
2020/004903, conforme extrato processual anexado (ID
n. 127263001, fls. 18/20).3. Considerando a declaração
pública de situação de pandemia em relação ao novo
coronavírus pela Organização Mundial da Saúde - OMS,
em 11.03.20, assim como a Declaração de Emergência em
Saúde Pública de Importância Internacional da
Organização Mundial da Saúde - OMS, em 30.01.20, a
Declaração de Emergência em Saúde Pública de
Importância Nacional - ESPIN veiculada pela Portaria no
188/GM/MS, em 04.02.20, e o previsto na Lei n. 13.979,
de 06.02.20, que dispõe sobre as medidas para
enfrentamento da emergência de saúde pública de
importância internacional decorrente do novo
coronavírus, bem como que grupo de risco para infecção
pelo novo coronavírus - Covid -19 compreende "pessoas
idosas, gestantes e pessoas com doenças crônicas,
imunossupressoras, respiratórias e outras comorbidades
preexistentes que possam conduzir a um agravamento do
estado geral de saúde a partir do contágio, com especial
atenção para diabetes, tuberculose, doenças renais, HIV e
coinfecções", o Conselho Nacional de Justiça editou a
Recomendação n. 62/2020.4. Cotejando-se a possibilidade
de concessão de prisão domiciliar em relação a todas as
pessoas presas em cumprimento de pena em regime
aberto e semiaberto, prevista no art. 5º, III, da
Recomendação CNJ n. 62/2020, com a idade avançada do
paciente, que conta com 73 (setenta e três) anos (ID n.
126849844), e a sua condição de saúde atual, como
hipertenso e diabético, que o classifica como integrante do
grupo de risco e pode se agravar a partir do contágio, pelo
novo coronavírus - Covid -19 (ID n. 126849837), reputo
adequada a concessão da ordem de habeas corpus para
que cumpra pena em prisão domiciliar, expedindo-se o
contramandado de prisão, só podendo ausentar-se de sua
residência com autorização judicial, e devendo a
autoridade impetrada ser informada de eventual mudança
de endereço.5. Ordem de habeas corpus concedida para
que cumpra pena em prisão domiciliar, expedindo-se o
contramandado de prisão, só podendo ausentar-se de sua
residência com autorização judicial, e devendo a
autoridade impetrada ser informada de eventual mudança
de endereço. (TRF 3ª Região, 5ª Turma, HC - HABEAS
CORPUS - 5005991-46.2020.4.03.0000, Rel.
Desembargador Federal ANDRE CUSTODIO
NEKATSCHALOW, julgado em 07/04/2020, Intimação
via sistema DATA: 14/04/2020)

Portanto, diante do perfeito enquadramento fático à situação


emergencial, requer ________ .

DA PRESCRIÇÃO

Preliminarmente, pelo que se depreende dos autos, entre a decisão


administrativa e o recebimento da denúncia transcorreu mais de ________
anos.

De acordo com o inciso V do art. 109 do Código Penal, a prescrição


da pena superior a ________ , que não excede a ________ , ocorre em
________ .
Ademais, considerando que o Réu é maior de 70 (setenta), o prazo
prescricional deve ser reduzido pela metade, nos termos do art. 115 do Código
Penal, ou seja, para ________ .

Assim, considerando o lapso temporal entre a consumação do ato


e o recebimento da denúncia, tem-se a configuração da prescrição da
pretensão punitiva estatal, conforme precedentes sobre o tema:

CRIME TRIBUTÁRIO. Exame do mérito prejudicado


em razão da prescrição da pretensão punitiva
retroativa. Crime supostamente cometido antes da
reforma parcial de 2010, que alterou a disciplina da
prescrição. Penas definitivas para a acusação de 2 anos de
reclusão. Consumação do crime tributário que, segundo a
Súmula Vinculante 24, se dá na data do lançamento
definitivo, não da inscrição do débito na dívida ativa, esta
consequência daquele. Decurso de mais de quatro
anos entre a decisão administrativa final e o
recebimento da denúncia. Irrelevante o atraso de
cerca de um ano entre o lançamento definitivo e a
inscrição na dívida ativa. Recursos prejudicados. Extinção
da punibilidade decretada. (TJSP 0005353-
93.2010.8.26.0576, Relator: Otávio de Almeida Toledo,
10ª Câmara Criminal Extraordinária, Data de Publicação:
11/10/2017)

Esse entendimento é ressaltado no julgamento do REsp 543.913-


RO, Primeira Turma do STJ, no voto proferido pelo Ministro Luiz Fux ao
destacar:

"Após o decurso de determinado tempo, sem a promoção


da parte interessada, deve-se estabilizar o conflito pela
via da prescrição, impondo segurança jurídica aos
litigantes, uma vez que afronta os princípios
informadores do sistema tributário a prescrição
indefinida."

Ademais, importa destacar que a Súmula 106 não pode ser


interpretada de forma absoluta, de modo a permitir o que ocorreu nestes autos,
que o exequente permaneça indefinida e passivamente no aguardo da
movimentação do feito.

AUSÊNCIA DO PERICULUM LIBERTATIS

Nos termos do art. 321 do CPP, "ausentes os requisitos que


autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade
provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319
(...)".

Ou seja, a prisão preventiva será mantida SOMENTE


quando presentes os requisitos e não for cabível a sua substituição
por outra medida cautelar, conforme clara redação do Art. 282, §6 do CPP.

No entanto, não há nos autos do processo, qualquer elemento a


evidenciar a manutenção da prisão preventiva. Afinal, a gravidade abstrata do
delito não ostenta motivo legal suficiente ao enquadramento em uma das
hipóteses que cabível se revelaria à prisão cautelar. (CPP, arts. 282 e 312)

A prisão preventiva tem caráter cautelar diante da manutenção das


circunstâncias que a fundamentam, previstas no Art. 282 do CPP:
Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título
deverão ser aplicadas observando-se a:

I - necessidade para aplicação da lei penal, para a


investigação ou a instrução criminal e, nos casos
expressamente previstos, para evitar a prática de
infrações penais;

II - adequação da medida à gravidade do crime,


circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado
ou acusado.
(...)

§ 5º O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes,


revogar a medida cautelar ou substituí-la quando
verificar a falta de motivo para que subsista, bem
como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a
justifiquem.

§ 6º A prisão preventiva somente será determinada quando não for cabível a


sua substituição por outra medida cautelar, observado o art. 319 deste Código, e
o não cabimento da substituição por outra medida cautelar deverá ser
justificado de forma fundamentada nos elementos presentes do caso concreto,
de forma individualizada.

Tais requisitos devem estar presentes não somente no ato da


prisão, mas durante todo o lapso temporal de sua manutenção.

Todavia, considerando que a prisão ocorreu a mais de ________


meses, não permanece qualquer risco à investigação ou instrução criminal,
desfazendo-se qualquer periculum libertatis que pudesse
fundamentar a continuidade da prisão, conforme leciona o STJ:

"Sabe-se que o ordenamento jurídico vigente traz a


liberdade do indivíduo como regra. Desse modo, antes da
confirmação da condenação pelo Tribunal de Justiça, a
prisão revela-se cabível tão somente quando
estiver concretamente comprovada a existência
do periculum libertatis, sendo impossível o
recolhimento de alguém ao cárcere caso se
mostrem inexistentes os pressupostos
autorizadores da medida extrema, previstos na
legislação processual penal." (HC 430.460/SP, Rel.
Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA
TURMA, DJe 16/04/2018)

Trata-se da aplicação do princípio da provisionalidade, conforme


desta respeitável doutrina, de forma esclarecedora:

"Nas prisões cautelares, a provisionalidade é um


princípio básico, pois são elas, acima de tudo,
situacionais, na medida em que tutelam uma situação
fática. Uma vez desaparecido o suporte fático
legitimador da medida e corporificado no fumus
commissi delicti e/ou no periculum libertatis,
deve cessar a prisão. O desaparecimento de qualquer
uma das "fumaças" impõe a imediata soltura do
imputado, na medida em que é exigida a presença
concomitante de ambas (requisito e fundamento) para
manutenção da prisão." (LOPES JR, AURY. Direito
Processual Penal. 15ª ed. Editora Saraiva jur, 2018. Versão
Kindle, P. 12555)
Ou seja, os "indigitados fundamentos de cautelaridade devem ser
apreciados sob o signo temporal, devendo ser atuais
independentemente de se tratar de novo decreto de prisão ou de
restabelecimento de prisão há muito revogada, seja em virtude da
ausência dos requisitos do artigo 312 do Código de Processo Penal,
seja em virtude da ausência de fundamentação idônea" (AgRg no REsp
1.195.873/MT, Rel. Min. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA
TURMA).

Afinal, a conversão em prisão preventiva seria cabível somente


diante dos requisitos dos arts. 312 e 313 do CPP:

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como


garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal ou para assegurar a
aplicação da lei penal, quando houver prova da
existência do crime e indício suficiente de autoria e de
perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.

Art. 313. Nos termos doArt. 312 deste Código, será


admitida a decretação da prisão preventiva:

I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de


liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos;

II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em


sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto
noInciso I do Caput do art. 64 do Decreto-Lei nº 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal;
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar
contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou
pessoa com deficiência, para garantir a execução das
medidas protetivas de urgência;

Situações que não estão mais presentes no presente quadro., uma


vez que não há indícios de que o acusado em liberdade ponha em
risco a instrução criminal, a ordem pública ou risco à ordem
econômica.

Portanto, considerando que ausentes os requisitos que pudessem


motivar a conversão em prisão preventiva, não subsistem motivos à
manutenção da prisão cautelar, conforme precedentes sobre o tema:

HABEAS CORPUS. DROGAS. PRISÃO PREVENTIVA.


AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. ILEGALIDADE
FLAGRANTE. ORDEM CONCEDIDA. PRISÃO
REVOGADA. RESSALVADA A POSSIBILIDADE DE QUE
NOVA CUSTÓDIA VENHA A SER DECRETADA, SE
APONTADAS RAZÕES CONCRETAS. 1. As instâncias
ordinárias, in casu, não indicaram fatos concretos
aptos a justificar a segregação cautelar do
paciente, estando a decisão fundamentada apenas em
conjecturas e na gravidade abstrata do tráfico de drogas, o
que configura nítido constrangimento ilegal. No caso, a
quantidade de droga apreendida (4 mudas de
maconha e 885 g de maconha) não constitui
elemento concreto a evidenciar a periculosidade
do paciente para o fim de justificar a
determinação da prisão cautelar. 2. Desde 11/5/2012,
após o Plenário do Supremo Tribunal Federal declarar,
incidentalmente, a inconstitucionalidade de parte do art.
44 da Lei n. 11.343/2006, a saber, da que proibia a
concessão de liberdade provisória nos casos de tráfico de
drogas, a fundamentação calcada nesse dispositivo
simplesmente perdeu o respaldo. De acordo com o
julgamento da Suprema Corte, a regra prevista no referido
art. 44 da Lei n. 11.343/2006 é incompatível com o
princípio constitucional da presunção de inocência e do
devido processo legal, dentre outros princípios. Assim,
para se manter a prisão, imprescindível seria a
presença de algum dos requisitos do art. 312 do
Código de Processo Penal, o que não ocorreu no
caso. 3. Ordem concedida, confirmando-se a liminar,
para garantir ao paciente o direito de responder ao
processo em liberdade, salvo se por outro motivo estiver
preso e ressalvada a possibilidade de haver nova
decretação de prisão ou a aplicação de uma das medidas
cautelares previstas no art. 319 do Código de Processo
Penal, caso se apresente motivo concreto para tanto. (STJ
- HC: 401830 MG 2017/0127983-6, Relator: Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Data de Julgamento:
18/09/2018, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação:
DJe 07/11/2018)

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE ENTORPECENTES.


PRISÃO EM FLAGRANTE CONVERTIDA EM
PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM
CONCEDIDA. 1. Sabe-se que o ordenamento jurídico
vigente traz a liberdade do indivíduo como regra. Desse
modo, antes da confirmação da condenação pelo Tribunal
de Justiça, a prisão revela-se cabível tão somente quando
estiver concretamente comprovada a existência do
periculum libertatis, sendo impossível o recolhimento de
alguém ao cárcere caso se mostrem inexistentes os
pressupostos autorizadores da medida extrema, previstos
na legislação processual penal. 2. Na espécie, ao
converter a prisão em flagrante em preventiva,
deteve-se o Juízo de piso a fazer ilações acerca da
gravidade abstrata do crime de tráfico, a
mencionar a prova de materialidade e os indícios
de autoria, a supor a fuga do distrito da culpa e a
invocar a quantidade do entorpecente apreendido,
o que, na hipótese específica dos autos, não
constitui motivação suficiente para a segregação
antecipada, sobretudo porque não há falar, no caso, em
apreensão de elevada quantidade de droga, já que
encontradas com o paciente 20 porções de cocaína, com
peso líquido de 26,9g (vinte e seis gramas e nove
decigramas). 3. Habeas corpus concedido. (STJ - HC:
458857 SP 2018/0171330-9, Relator: Ministro ANTONIO
SALDANHA PALHEIRO, Data de Julgamento:
09/10/2018, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação:
DJe 26/10/2018)

EMENTA: EMBARGOS INFRINGENTES - LESÃO


CORPORAL E AMEAÇA - DECRETAÇÃO DA PRISÃO
PREVENTIVA - IMPOSSIBILIDADE -
EXCEPCIONALIDADE DA PRISÃO CAUTELAR. No
processo penal brasileiro a prisão cautelar, antes do
trânsito em julgado, deve ser entendida como medida
excepcional, sendo cabível exclusivamente quando
comprovada a sua real necessidade, pautando-se em fatos
e circunstâncias do processo, que preencham os requisitos
previstos no artigo 312 do Código de Processo Penal.
Ausentes os requisitos do artigo 312 do Código de Processo
Penal, não há como se decretar a prisão preventiva. (TJ-
MG - Emb Infring e de Nulidade: 10433150282450002
MG, Relator: Maria Luíza de Marilac, Data de Julgamento:
10/04/2018, Data de Publicação: 20/04/2018)
HABEAS CORPUS. REVOGAÇÃO DA PRISÃO
PREVENTIVA. A prisão sem condenação é medida
excepcional, devendo ser imposta, ou mantida, apenas
quando houver prova da existência do crime, indício
suficiente de autoria e, ainda, forem atendidas as
exigências dos artigos 312 e 313, ambos do Código de
Processo Penal. Decisão que carecedora de
fundamentação, não sendo possível inferir necessidade de
garantia da ordem pública, da ordem econômica, a
conveniência da instrução criminal e tampouco a exigência
da prisão do paciente para garantir a aplicação da lei
penal. (TJ-SP 20325049820188260000 SP 2032504-
98.2018.8.26.0000, Relator: Kenarik Boujikian, Data de
Julgamento: 09/04/2018, 2ª Câmara de Direito Criminal,
Data de Publicação: 13/04/2018)

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS.


LIBERDADE PROVISÓRIA. POSSIBILIDADE. A
gravidade do crime em abstrato, por si só, não pode
fundamentar prisão preventiva, sob pena de séria violação
aos mais basilares princípios constitucionais. Caso em que
nada no fato concreto ou nas circunstâncias pessoais do
paciente poderia justificar a alegação de que sua soltura é
um perigo concreto à ordem pública, assim como nada
indica que possam prejudicar a instrução criminal ou
eventual aplicação da lei penal. ORDEM CONCEDIDA.
UNÂNIME. (Habeas Corpus Nº 70077105138, Segunda
Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz
Mello Guimarães, Julgado em 12/04/2018).

Por se tratar de requisitos indispensáveis para a condução da


prisão em flagrante para preventiva, não há motivos para a manutenção da
prisão em flagrante.
Motivos pelos quais, requer o provimento do presente pedido de
liberdade provisória.

AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO

Dispõe o Art. 93, inc. IX da Constituição Federal claramente que


"todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, (...)".

No mesmo sentido o art. 5º, LXI dispõe que "ninguém será preso
senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária competente (...)".

Ocorre que a decisão que determinou a prisão preventiva, limitou-


se a argumentar com base na gravidade em abstrato do delito, mediante a
repetição dos dispositivos legais e a utilização de fórmulas retóricas que, em
tese, serviriam para qualquer situação, vejamos:

________

Afirmações genéricas e abstratas não são, portanto, suficientes


para justificar a custódia preventiva, especialmente diante das condições
pessoais favoráveis do paciente e da baixa gravidade da conduta.

Sobre o tema, insta consignar posicionamento majoritário no


Superior Tribunal de Justiça:

"Não é demais lembrar que no nosso ordenamento


jurídico a prisão provisória é exceção, a regra é a
liberdade (RHC n. 17.105/SP...). É por isso que
caracteriza constrangimento ilegal e enseja a imediata
libertação do acusado a prisão decretada sem
fundamentação concreta, sem a demonstração da
imprescindibilidade da medida extrema, com base nas
hipóteses excepcionais do art. 312 do CPP." (RHC
94.861/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, QUINTA TURMA, DJe 18/04/2018)

"(...) Considerando-se, ainda, que ninguém será preso


senão por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária competente, bem como que a fundamentação
das decisões do Poder Judiciário é condição absoluta de
sua validade (Constituição da República, art. 5º, inciso
LXI, e art. 93, inciso IX, respectivamente), há de se exigir
que o decreto de prisão preventiva venha sempre
concretamente motivado, não fundado em meras
conjecturas." (RHC 94.872/RS, Rel. Ministro ANTONIO
SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
10/04/2018, DJe 16/04/2018)

"Para ser compatível com o Estado Democrático de


Direito - o qual se ocupa de proteger tanto a liberdade
quanto a segurança e a paz públicas - e com a presunção
de não culpabilidade, é necessário que a decretação e a
manutenção da prisão cautelar se revistam de caráter
excepcional e provisório. A par disso, a decisão judicial
deve ser suficientemente motivada, mediante análise da
concreta necessidade da cautela, nos termos do art. 282,
I e II, c/c o art." (HC 434.342/SP, Rel. Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
10/04/2018, DJe 16/04/2018)
No presente caso, configura nítida ilegalidade a decisão que se
resume a indicar a necessidade de "preservação da ordem pública" sem indicar
elementos bastantes a demonstrar o risco da manutenção do agente em
liberdade.

Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar ao doutrinar sobre o


tema, destacam sobre a nulidade de decisão que deixa de apontar
pormenorizadamente as condições fáticas permissivas à medida preventiva:

"O art. 315 do CPP exige fundamentação no despacho que


decreta a medida prisional. Tal exigência decorre
também do princípio constitucional da motivação das
decisões judiciais (art. 93, IX, CF). O magistrado está
obrigado a indicar no mandado os fatos que se
subsumem à hipótese autorizadora da
decretação da medida. Decisões vazias, com a simples
reprodução do texto da lei, ou que impliquem meras
conjecturas, sem destacar a real necessidade da medida
pelo perigo da liberdade, não atendem à exigência
constitucional, levando ao reconhecimento da ilegalidade
da prisão." (Távora, Nestor; Alencar, Rosmar Rodrigues.
Curso de direito processual penal. 11ª Ed. Salvador:
JusPODIVM, 2016, p. 925).

É inquestionável que a exigência de fundamentação das decisões


judiciais, mais do que expressiva imposição constitucional (art. 93, IX), reflete
uma poderosa garantia contra eventuais excessos do Estado-Juiz, em proteção
ao direito do contraditório e ampla defesa.

Trata-se de posicionamento pacificado no Superior Tribunal de


Justiça que deve ser observado:
HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA.
FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. ARGUMENTOS
GENÉRICOS. GRAVIDA DE ABSTRATA.POUCA
QUANTIDADE DE DROGAS. CONDIÇÕES PESSOAIS
FAVORÁVEIS. REVOGAÇÃO DO DECRETO PRISIONAL.
MEDIDAS CAUTELARES. NECESSIDADE E
ADEQUAÇÃO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. 1. (...)
2. O exame de ofício do constrangimento ilegal indica que
o decreto prisional carece de fundamentação idônea. A
privação antecipada da liberdade do cidadão acusado de
crime reveste-se de caráter excepcional em nosso
ordenamento jurídico, e a medida deve estar embasada em
decisão judicial fundamentada (art. 93, IX, da CF), que
demonstre a existência da prova da materialidade do
crime e a presença de indícios suficientes da autoria, bem
como a ocorrência de um ou mais pressupostos do artigo
312 do Código de Processo Penal. 3. Caso em que o decreto
que impôs a prisão preventiva ao paciente não apresentou
qualquer motivação concreta, apta a justificar a
segregação, tendo se limitado a abordar, de modo
genérico, a necessidade de garantia da ordem pública e a
gravidade abstrata do delito. 4. A necessidade de garantia
da ordem pública e a gravidade abstrata do delito,
dissociadas de quaisquer elementos concretos e
individualizados que indicassem a necessidade da rigorosa
providência cautelar, não constituem fundamentação
idônea para justificar a medida extrema, especialmente
diante das condições pessoais favoráveis do paciente e da
quantidade de substância entorpecente apreendida (1,53
gramas de cocaína). Constrangimento ilegal configurado.
5. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de
ofício para revogar o decreto prisional do paciente, sob a
imposição das medidas cautelares diversas da prisão
previstas no art. 319, incisos I e IV, do Código de Processo
Penal, cuja regulamentação será feita pelo Juízo local, sem
prejuízo da fixação de outras medidas cautelares ou da
decretação de nova prisão, desde que devidamente
fundamentada. (HC 440.869/SP, Rel. Ministro
REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,
julgado em 10/04/2018, DJe 17/04/2018)

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DO RECURSO


PRÓPRIO. NÃO CONHECIMENTO. TRÁFICO ILÍCITO
DE ENTORPECENTES. PRISÃO PREVENTIVA.
PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS. AUSÊNCIA DE
MOTIVAÇÃO CONCRETA. FUNDAMENTAÇÃO
INIDÔNEA. QUANTIDADE NÃO EXPRESSIVA DE
DROGA (43,36G DE ENTORPECENTES).
CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO.
HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM
CONCEDIDA DE OFÍCIO. MEDIDAS ALTERNATIVAS
PERTINENTES. 1. (...) 2. A privação antecipada da
liberdade do cidadão acusado de crime reveste-se de
caráter excepcional em nosso ordenamento jurídico (art.
5º, LXI, LXV e LXVI, da CF). Assim, a medida, embora
possível, deve estar embasada em decisão judicial
fundamentada (art. 93, IX, da CF), que demonstre a
existência da prova da materialidade do crime e a presença
de indícios suficientes da autoria, bem como a ocorrência
de um ou mais pressupostos do artigo 312 do Código de
Processo Penal. Exige-se, ainda, na linha perfilhada pela
jurisprudência dominante deste Superior Tribunal de
Justiça e do Supremo Tribunal Federal, que a decisão
esteja pautada em motivação concreta, vedadas
considerações abstratas sobre a gravidade do crime, bem
como a imprescindibilidade da segregação cautelar. 3. Na
hipótese, o decreto de prisão preventiva não apontou
qualquer dado concreto, à luz do art. 312 do Código de
Processo Penal, a respaldar a restrição da liberdade do
paciente, limitando-se a fazer referência à presença dos
requisitos previstos no Código de Ritos, sem ressaltar,
contudo, qualquer aspecto relevante da suposta conduta
perpetrada pelo paciente que demonstre o efetivo risco à
ordem pública, à instrução criminal e à futura aplicação da
lei penal. 4. Fez-se simples menção à gravidade abstrata
do fato, à natureza hedionda do delito e aos males gerados
para a sociedade em razão da traficância. Além disso,
referem-se as decisões à grande quantidade de
entorpecentes, afirmativa que não se coaduna com as
circunstâncias descritas nos autos, em que o paciente e a
corré foram flagrados com 30,9g de cocaína e 12,46g de
maconha, sendo que somente esta última substância
estaria na posse do paciente. 5. (...). 6. Habeas corpus não
conhecido. Ordem concedida de ofício para determinar o
relaxamento da prisão cautelar do ora paciente, salvo se
por outro motivo estiver preso, sob a imposição das
medidas cautelares diversas da prisão previstas no art.
319, I e IV, do CPP. (HC 436.672/SP, Rel. Ministro
REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,
julgado em 10/04/2018, DJe 17/04/2018)

Motivos pelos quais devem conduzir ao imediato relaxamento da


prisão, por notória nulidade da decisão imotivada.

DOS BONS ANTECEDENTES, ENDEREÇO CERTO E EMPREGO FIXO

Não obstante a preliminar arguida, importa destacar que o Réu é


________ , trata-se de pessoa íntegra, de bons antecedentes e que jamais
respondeu a qualquer processo crime conforme certidão negativa que junta em
anexo.

Possui ainda endereço certo na ________ , onde reside com


sua família nesta Comarca, trabalha na condição de ________ na empresa
________ conforme comprovantes em anexo.

DOS PROCESSOS CRIMINAIS SEM TRÂNSITO EM JULGADO

O princípio da presunção da inocência faz com que o réu não possa


sofrer consequências penais ou extrapenais em decorrência de processos
criminais em curso.

Logo, a ausência de trânsito em julgado de eventuais ações penais


passa a ser um argumento na defesa do reconhecimento de bons antecedentes
do réu, para fins de dosimetria da pena, conforme expressamente previsto no
CPP:

Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo


necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse
da sociedade.

Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe


forem solicitados, a autoridade policial não poderá
mencionar quaisquer anotações referentes a
instauração de inquérito contra os requerentes.

Portanto, a simples existência de inquéritos policiais ou processos


criminais sem trânsito em julgado, não podem ser considerados como
antecedentes criminais para qualquer fim, conforme já sumulado pelo STJ:

Súmula STJ 444 - É vedada a utilização de inquéritos


policiais e ações penais em curso para agravar a
pena-base.

Sobre o tema, o STF já se pronunciou em Recurso Extraordinário


com repercussão geral declarada, ao afirmar que "A existência de
inquéritos policiais ou de ações penais sem trânsito em julgado não
podem ser considerados como maus antecedentes para fins de
dosimetria da pena". (RE 591054)

O Art. 5º, inciso LVII da Constituição Federal traz expressamente


a garantia de que ninguém será considerado culpado antes do trânsito em
julgado de sentença condenatória.

Desta forma, para efeito de aumento da pena somente podem ser


valoradas como maus antecedentes decisões condenatórias irrecorríveis, sendo
impossível considerar, para tanto, investigações preliminares ou processos
criminais em andamento, mesmo que estejam em fase recursal.

Sobre o tema, cabe destacar os precedentes do STJ:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. DOSIMETRIA DA PENA.
ANTECEDENTES CRIMINAIS. INQUÉRITOS E
PROCESSOS EM CURSO. TEMA 129/STF. 1. As ações e
inquéritos penais em andamento não são hábeis a validar a
fixação da pena-base além do piso legal, por intermédio da
valoração prejudicial das circunstâncias judiciais
elencadas no art. 59 do CP, em respeito ao princípio da
inocência. 2. "Ante o princípio constitucional da não
culpabilidade, inquéritos e processos criminais em curso
são neutros na definição dos antecedentes criminais" (RE-
RG 591.054, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno,
julgado em 17/12/2014, publicado em 26/2/2015 - Tema
129/STF). Agravo regimental improvido. (AgRg no RE no
AgRg no HC 392.214/RS, Rel. Ministro HUMBERTO
MARTINS, CORTE ESPECIAL, julgado em 07/03/2018,
DJe 23/03/2018)

Sobre o tema, a jurisprudência acompanha este entendimento:

PENAL. PROCESSO PENAL. APELAÇÃO. ROUBO


"SIMPLES". CONDENAÇÃO. RECURSO DA DEFESA.
Recurso visando, em preliminar, ao reconhecimento de
nulidades, e, no mérito, à absolvição por falta de provas ou
à mitigação da pena (fixação da base no mínimo e
alteração do regime inicial para o semiaberto), com
pedido, ainda, de concessão de liberdade provisória.
Parcial pertinência. 1. Prejudicado pedido de concessão de
liberdade provisória com o julgamento do presente
recurso. Legitimidade, de todo o modo, de execução
definitiva da pena em face da concretização do duplo grau
de jurisdição na esteira de recente jurisprudência do C.
STF (HC 126.292/SP, de 17/02/2016 e MC nas ADCs 43 e
44, de 05/10/2016). 2. Nulidades inexistentes. A) Ilicitude
na prova de autoria não detectada. A despeito de ilegal
condução coercitiva, a elucidação de autoria partiu de
denúncia anônima, confirmada a suspeita depois de
efetuado reconhecimento (fotográfico e de pessoa, ambos
"Positivo"), surgindo, portanto, de fonte independente.
Art. 157, do CPP. B) Inexistente violação ao princípio da
judicialização das provas. Policiais que descreveram com
precisão a dinâmica da investigação, não se limitando, ao
reverso do colocado, a ratificar o que fora afirmado na fase
inquisitiva. Existência, ademais, de outras provas
incriminadoras (confissão e relatos da vítima)
regularmente produzidas em juízo. Nulidades inexistentes.
3. Condenação legítima. Acusado que, simulando estar
armado, subtraiu bens da vítima que caminhava em via
pública. Integral admissão em juízo. Confirmação da
confissão pela prova judicializada. Inviável absolvição.
Idoneidade das provas, quais sejam, da confissão judicial
(comprovando, no caso, a prática da infração), bem como
das declarações da vítima e dos testemunhos dos policiais
(confirmando aquela). Precedentes. 3. Imperiosa
fixação da base no mínimo. Na sentença, foram
valorados, sob a pecha de "maus antecedentes",
processos em trâmite, sem sentença e um com
trânsito em julgado posterior, mas em que fora
declarada a extinção da punibilidade pela
prescrição da pretensão punitiva. A existência de
inquéritos policiais ou de ações penais sem
trânsito em julgado não pode ser considerada
como maus antecedentes para fins de dosimetria
da pena. Entendimento firmado, pelo C. STF, no
RE 591054 SC, com repercussão geral
reconhecida. Súmula nº 444, do C. STJ. Retorno
ao mínimo. 4. Inviável alteração do regime determinado
para início de expiação da aflitiva. Apesar de se cuidar de
roubo "simples", em tese, inicialmente, possível de
determinação de cumprimento da pena mais brando, a
escolha pelo fechado se mostra mais adequada, para que a
pena surta suas devidas finalidades, quando o crime é
cometido mediante simulação de porte de arma, aspecto
este que demonstra maior ousadia e periculosidade do
agente, extraíveis, também pelo fato de a subtração ter
ocorrido em via pública, local não ermo, portanto,
Reincidência específica que, ademais, impõe, de todo o
modo, determinação de início de cumprimento em regime
fechado (não incidência da Súmula de nº 269, do C. STJ).
Inteligência do art. 33, §§ 2º e 3º, do CP. Situação que
tornou inaplicável, no caso, o disposto no artigo 387, §2º,
do CPP, porque irrelevante, para aquele objetivo, quantum
imposto e, por consequência, eventual tempo de prisão
provisória. Parcial provimento, na parte não prejudicada e
afastadas as nulidades. (TJSP; Apelação Criminal
0011724-21.2018.8.26.0050; Relator (a): Alcides Malossi
Junior; Órgão Julgador: 8ª Câmara de Direito Criminal;
Foro Central Criminal Barra Funda - 28ª Vara Criminal;
Data do Julgamento: 25/04/2019; Data de Registro:
29/04/2019)

REVISÃO CRIMINAL. SENTENÇA CONTRÁRIA À


PROVA DOS AUTOS. ABSOLVIÇÃO. AFASTADA.
ROUBO. PALAVRA DA VÍTIMA. ESPECIAL VALOR
PROBANTE. CONTINUIDADE DELITIVA.
IMPOSSIBILIDADE. CONTUMÁCIA. DESPROVIMENTO.
UNÂNIME. 1. Tese absolutória rejeitada em virtude do
arcabouço processual fundado nos depoimentos prestados
pelas vítimas dos delitos de roubo, pois em crimes deste
jaez a palavra da vítima têm especial valor
probante.Precedentes.2. Conquanto os delitos praticados
pelo réu sejam da mesma espécie, praticados contra
distintas vítimas, mas com idêntico modus operandi, em
curto espaço de tempo e dentro da mesma comarca, não
há como aplicar o favor legal quando se constata que não
se tratam de crimes continuados e sim de inegável e
deslavada contumácia delituosa. 3. Ao reconhecimento da
continuidade delitiva não basta que se façam presentes os
requisitos objetivos (mesmas circunstâncias de tempo,
lugar e modo de execução) é imperioso que se demonstre a
unicidade de desígnios, que se estabeleçam liames entre os
crimes praticados em sequência tal que permita admitir a
ficção de que os demais delitos são a continuação do
primeiro.4. O requerente, entre os meses de abril e julho
do ano de 2005, praticou isoladamente vários crimes de
roubo na localidade, de forma que os excertos
demonstram que o Réu faz do crime de roubo à mão
armada um meio de vida, um modo de auferir dinheiro.5.
Constata-se que o réu trata-se de delinquente habitual, de
modo que sua contumácia impede que seja amparado pela
benesse da continuidade delitiva, pois verifica-se que as
condutas perpetradas são independentes, com desígnios
autônomos em condições de tempo distintas e isoladas, de
forma que caberia à espécie o concurso material e não a
continuidade pretendida. Precedentes.6. Continuidade
delitiva afastada. À unanimidade de votos.PENA. ART. 59,
CP. REDIMENSIONAMENTO. VETORES DO MOTIVO E
CIRCUNSTÂNCIAS. VALOR NEGATIVO AFASTADO.
UNÂNIME. MAUS ANTECEDENTES. MANTIDOS. STF:
RE 591054/SC REPERCUSSÃO GERAL AFASTADA E
INTELIGÊNCIA DA SÚM. 444 DO STJ AFASTADA. POR
MAIORIA DA TURMA. 7. Pena reduzida, à unanimidade,
ante o reconhecimento da ausência de fundamentação
legal na análise das circunstâncias do art. 59 do CP, dos
motivos e das circunstâncias do crime, todavia, por
maioria, a Turma afastou a incidência do entendimento
sufragado pelo pleno do STF quando do julgamento
realizado no RE 591054/SC, com repercussão geral
reconhecida, em foi assentada a tese de que "A existência
de inquéritos policiais ou de ações penais sem trânsito em
julgado não podem ser considerados como maus
antecedentes para fins de dosimetria da pena", afastando,
consequentemente, o escólio já sedimentado pelo STJ na
Súm. 444, vencido o Relator. 8. Habeas corpus concedido
ex officio, à unanimidade de votos, para estender a ação n.
661/2006 a redução aqui procedida, resultando em cada
uma delas a pena de 06 (seis) anos e 08 (oito) meses de
reclusão. (Revisão Criminal 499848-10001228-
35.2018.8.17.0000, Rel. Fausto de Castro Campos, Seção
Criminal, julgado em 28/03/2019, DJe 11/06/2019)
A doutrina ao lecionar sobre a matéria, esclarece:

"no âmbito penal, em particular, por conta da edição da


Súmula 444 do STJ. ("É vedada a utilização de inquéritos
policiais e ações penais em curso para agravar a pena-
base"), somente se podem considerar as condenações, com
trânsito em julgado, existentes antes da prática do delito"
(NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal -
Vol. 1 - Parte Geral - Arts. 1ª a 120 do Código Penal, 3ª
edição. Rio de Janeiro: Forense, 2019.)

Portanto, quaisquer inquéritos ou processos criminais sem


trânsito em julgado, não podem ser considerados para fins de antecedentes.

As razões do fato em si serão analisadas oportunamente, no devido


processo legal, não cabendo, neste momento, um julgamento prévio que
comprometa sua inocência, conforme precedentes sobre o tema:

EMENTA: HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO E


FURTO QUALIFICADO TENTADO. PRISÃO
PREVENTIVA. SUBSTITUIÇÃO POR MEDIDAS
CAUTELARES ALTERNATIVAS MENOS GRAVOSAS.
POSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE VIOLÊNCIA OU
GRAVE AMEAÇA. PACIENTE PRIMÁRIO, DE BONS
ANTECEDENTES E COM RESIDÊNCIA FIXA.
ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. - A prisão
preventiva é medida excepcional que deve ser decretada
somente quando não for possível sua substituição por
cautelares alternativas menos gravosas, desde que
presentes os seus requisitos autorizadores e mediante
decisão judicial fundamentada (§ 6º, artigo 282, CPP)- No
caso, considerando a ausência de violência ou
grave ameaça e, ainda, as condições pessoais
favoráveis do paciente (primariedade, bons
antecedentes e residência fixa), a substituição da
prisão por medidas diversas mais brandas revela-
se suficiente para os fins acautelatórios
almejados. (TJ-MG - HC: 10000180115032000 MG,
Relator: Renato Martins Jacob, Data de Julgamento:
15/03/2018, Data de Publicação: 26/03/2018)

Neste sentido, Julio Fabbrini Mirabete em sua obra, leciona:

"Como, em princípio, ninguém deve ser recolhido à


prisão senão após a sentença condenatória transitada
em julgado, procura-se estabelecer institutos e medidas
que assegurem o desenvolvimento regular do processo
com a presença do acusado sem sacrifício de sua
liberdade, deixando a custódia provisória apenas
para as hipóteses de absoluta necessidade."
(Código De Processo Penal Interpretado, 8ª edição, pág.
670)

À vista do exposto, requer-se a consideração de todos os


argumentos acima com o deferimento do presente pedido.

DO PEDIDO

À vista do exposto, requer-se a V. Exa. que seja concedida ao


Paciente a ordem, concedendo a ordem de habeas corpus preventivo,
impedindo qualquer coação ou restrição da liberdade ao paciente, a fim de ver-
se processado em liberdade.
Termos em que, pede deferimento.

________ , ________ .

________

ANEXOS

1. Prova do endereço fixo

2. Prova dos bons antecedentes

3. Procuração

4. Cópia dos documentos que comprovam a iminência do ato coator

5. Cópia dos fundamentos completos do processo e decisões

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