Você está na página 1de 4

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR DO PLANTÃ O JUDICIÁ RIO

CRIMINAL DO EGRÉ GIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃ O PAULO.

Advogada, brasileira, casada, advogada devidamente inscrita nos quadros da Ordem dos
Advogados do Brasil – Secçã o de Sã o Paulo, sob o n.º oooooo, vem, com o devido
acatamento e indefectível respeito, à presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 5º,
inciso LXVIII, da Constituiçã o Federal, c.c o artigo 647 e seguintes do Có digo de Processo
Penal, impetrar o presente “writ” de:
“HABEAS CORPUS”
COM PEDIDO DE LIMINAR
em favor do paciente FULANO DE TAL, brasileiro, Rooter e estudante, portador do RG n.º
0000000, regularmente inscrito no CPF sob o n.º 0000000000, filho de Joã o das Quantas e
Maria das Quantas, nascido em 00/00/0000, residente e domiciliado à Rua Tal, n.º 00 –
Jardim Tal – CEP: 00000-000 - Sã o Paulo/SP, diante do patente e manifesto
CONSTRANGIMENTO ILEGAL SEM JUSTA CAUSA E POR FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO
NA MANUTENÇÃO DA PRISÃO CAUTELAR, que está sofrendo por parte da honrada e
digna Autoridade Coatora, a MM. Juíza de Direito da __.ª Vara Crimina da Comarca de
São Paulo/SP, nos autos do Processo n.º _________________, pelos motivos de fato e de
direito adiante, articuladamente, expendidos:
Consoante se infere dos presentes autos, o Suplicante foi preso em 02/03/2020 e autuado
em pretenso flagrante delito pela DD. Autoridade Policial da 10.ª Delegacia de Polícia de
São Paulo/SP, por ter, em tese, infringido o disposto no Artigo 33, “caput” da Lei
11343/06, pelos supostos fatos apresentados pelos policiais que o detiveram.
A defesa apresentou documentos e requereu a Liberdade Provisória no dia 11 de
Março de 2020, no entanto, como o expediente forense se encerrou sem decisão do
juízo de piso no tocante aos pleitos alvitrados, não restou outra alternativa a defesa a
não ser impetrar o presente Habeas Corpus.
PANDEMIA – COVID-19
Considerando que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) emitiu nesta terça-feira
(17/3/2020) recomendação a tribunais e magistrados para adoção de medidas
preventivas à propagação do novo Corona vírus no sistema de justiça penal e
socioeducativo (Recomendação CNJ 62/2020).
Considerando que o CNJ recomendou aos Tribunais e magistrados a adoção de
medidas preventivas à propagação da infecção pelo novo Coronavírus – Covid-19 no
â mbito dos sistemas de justiça penal e socioeducativo.
Considerando o enunciado do Artigo 8.º, inciso I, alínea c Recomendação n.º 62 de
17/03/2020:
I – o controle da prisão seja realizado por meio da análise do auto de prisão em
flagrante, proferindo-se decisão para:
c) EXCEPCIONALMENTE, converter a prisão em flagrante em preventiva, em se
tratando de crime cometido com o emprego de violência ou grave ameaça contra a
pessoa, desde que presentes, no caso concreto, os requisitos constantes do art. 312 do Código
de Processo Penal e que as circunstâncias do fato indiquem a inadequação ou insuficiência
das medidas cautelares diversas da prisão, observado o protocolo das autoridades sanitárias.
Considerando que os centros prisionais, em pouquíssimo tempo, serão
transformados em focos de alastramento de infecção”, uma vez que nã o existe presídio
isolado do mundo. Vivendo em celas sem higiene, espaço ou alimentaçã o adequados e
acesso restrito à á gua, pessoas privadas de liberdade estã o mais sujeitas que a média ao
COVID-19. O risco se aprofunda com apenas 37% dos estabelecimentos prisionais contando
com unidade bá sica de saú de. Assim, os infectados no sistema prisional teriam de ser
atendidos em hospitais da rede pú blica, o que seria mais um fator de sobrecarga.
Considerando que há a possibilidade de evitar maiores prejuízos ao Paciente que está
nitidamente exposto à ter maculados os seus direitos à vida e a saú de por estar submetido
ao encarceramento diante de uma pandemia mundial que se aproxima cada vez mais do
sistema carcerá rio bandeirante.
Considerando à s condiçõ es degradantes que proporcionarã o a propagaçã o em massa da
doença tratada neste pleito é necessá rio em cará ter de urgência a Revogaçã o da Prisã o
Preventiva decretada.
Considerando que no presente caso NÃO HÁ VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA e a
plausibilidade do direito invocado está consubstanciada na inexistência de fundamento
para a manutençã o da prisã o cautelar.
Considerando ainda, nã o obstante aná lise de mérito pendente, bem como decisã o
colegiada, a recente recomendaçã o do Ministro MARCO AURÉ LIO, do STF, na ADPF 347
TPI/DF, em decisã o monocrá tica, face à proliferaçã o da doença conhecida por COVID 19, ou
Novo Corona vírus, de que seja possibilitado pelos Magistrados: “(...) e) substituiçã o da
prisã o provisó ria por medida alternativa em razã o de delitos praticados sem violência ou
grave ameaça; f) medidas alternativas a presos em flagrante ante o cometimento de crimes
sem violência ou grave ameaça; (...)” e ainda considerando o quanto determinado nos
Provimentos e Recomendaçã o acima mencionados, além do contido no Comunicado CG
78/2020 e na Resolução n.º 313 do CNJ, e até que a situaçã o sobre a Pandemia no Brasil,
esteja mais clara, necessá ria a aná lise mais aprofundada da necessidade da custó dia
cautelar.
Considerando que o atual cenário pandêmico passou incólume quando submetido ao
crivo judicial e a prisão preventiva foi decretada mediante lacônica decisão
maculada pela ausência de concreta fundamentação encartada ao presente “writ”,
limitando-se em discorrer acerca da gravidade “in abstracto” do delito.
Considerando que tal medida constritiva nã o mostra-se plausível, porquanto ausentes os
requisitos ensejadores da decretaçã o da prisã o preventiva prevista no artigo 312 do Có digo
de Processo Penal.
Considerando que o periculum in mora é notório e decorre do fato do Paciente estar
preso sem qualquer amparo legal em estabelecimento penal fechado e portanto, evidente o
risco de lesã o, consubstanciado na possibilidade do Paciente experimentar prejuízo
irrepará vel ou de difícil reparaçã o, com o cerceamento de sua liberdade numa situaçã o de
Pandemia – Covid-19.
Considerando que questõ es de mérito nã o mais importam e ademais, o mérito será
debatido em momento oportuno, nã o há que se falar na autoria do crime em tela, eis que,
nã o concorreu para os fatos noticiados na denú ncia em seu desfavor.
Considerando que nessa ocasiã o a defesa apresenta comprovante de endereço e certidão
de nascimento de filhos menores que comprovam residência fixa no distrito da culpa e
família constituída.
Considerando que o trá fico privilegiado é definido pelo artigo 33, pará grafo 4º, da
lei11.343/06, que prevê que as penas poderã o ser reduzidas de um sexto a dois terços
desde que o agente seja primá rio, com bons antecedentes, nã o se dedique a atividades
criminosas nem integre organizaçã o criminosa.
Considerando que, longe de adentrar questõ es meritó rias, NÃO É CASO DE CUSTÓDIA
CAUTELAR já que na pior das hipóteses estamos diante de um tráfico privilegiado
nos termos do § 4.º do Artigo 33 da lei 11343/06 e neste aspecto, impõe-se a
Revogação da Decretação da Prisão Preventiva.
“Ex-Positis”, invocando o sá bio entendimento de Vossas Excelências, aguarda o Paciente,
com serenidade, seja-lhe concedida a ORDEM DE “HABEAS CORPUS” LIMINARMENTE,
para o fim de cessar o CONSTRANGIMENTO ILEGAL SEM JUSTA CAUSA, PELA
PANDEMIA DO COVID-19, O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, O
DIREITO CONSTITUCIONAL À VIDA E A SAÚDE E TODAS AS RECOMENDAÇÕES
MUNDIAIS, PELA FALTA DE SEGURANÇA DO SEU DIREITO À VIDA NO CÁRCERE, PELA
FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO NA MANTENÇA DA PRISÃO CAUTELAR, por advento da
concessã o do benefício da LIBERDADE PROVISÓRIA em favor do Paciente, EXPEDINDO-
SE O COMPETENTE ALVARÁ DE SOLTURA, para que possa ter restabelecida sua liberdade
individual e aguardar o desfecho do processo em liberdade, tudo na forma da mais
escorreita, cristalina e lídima JUSTIÇA !
Subsidiariamente, requer seja aplicada uma ou mais dentre as medidas cautelares
previstas no artigo 318 ou 319, do Có digo de Processo Penal.
Nestes termos,
Pede deferimento.
Sã o Paulo, 23 de Março de 2020.
ADVOGADO
OAB/SP n.º 000000

Você também pode gostar